quinta-feira, 31 de maio de 2018

DE VOLTA AO QUARTO-ILHA OU OBRIGADO, MÃE


16h19. Cigarro fumado, volto da varanda para o meu quarto-ilha devidamente perfumado e limpo pela fantástica faxineira. Falta só colocar o som. Vou de The Clash, como havia prometido. Em modo aleatório.

16h22. Pronto. “Let’s Go Crazy” do “Sandinista”. É muito bom estar no quarto-ilha limpo. Meu reino revigorado. Não sei por que cargas d’água a fantástica faxineira colocou o joystick do PS3 aqui ao lado do computador, a primeira coisa que me veio à cabeça foi jogar Deus Human EX.

16h30. Estou sem saber o que dizer. Vou revisar o outro post e publicar.

17h33. Revisei, publiquei e divulguei. E isso me deixou de baixo astral porque eu sei que ninguém vai ler, muito menos ler na íntegra o que escrevo. Eu escrevo para ninguém, esse é o mais triste destino das palavras, não encontrar outros olhos. Outros olhares. É um esforço grande que faço para não dar em nada. Desmotiva às vezes. Mas não esmoreço, sigo com minhas palavras. Simplesmente não há outra alternativa para mim. Ou é isso ou o tédio absoluto, prefiro isso. Pode não ser nada, mas é melhor do que nada de fato. Esse é o meu tudo. Sem as palavras não saberia viver, levar a vida, aguentar a vida, então me seguro nas palavras com todas as forças da minha vontade, mesmo que sejam para ninguém. É decepcionante isso de escrever e não ser lido. Mas se é o que me cabe, que posso eu fazer? Eu produzo muito, não há cristão que aguente ler tudo. Tanto é que para dar vazão a minha produção, posto alguns dos meus textos nos blogs capilares. Talvez esse vá para algum deles. Sei lá. Sei que vou pegar mais Coca e fumar um cigarro. Nossa, me sinto mais inútil que de costume agora com as baixas visualizações do meu blog. É quem nasceu para ser medíocre, relegado a mediocridade está. Estou.

18h02. Fui fumar um cigarro e lembrei que minha mãe me agradece com frequência, qualquer mínimo ato, então vou falar uma coisa para ela. Mãe, obrigado por respeitar as minhas escolhas de vida por mais que não as compreenda, que eu sei que não compreende. Obrigado por me dar a liberdade de me exercer no mundo da forma que eu acredito e que me convém. Obrigado por não me cobrar resultados que não posso dar nem expectativas que não posso cumprir. Obrigado por aceitar a pessoa difícil que eu sou e cada vez mais me torno. Obrigado por nunca desistir de mim, por mais que eu não seja o filho que você sonharia em ter. Obrigado por me deixar no meu canto, fazendo as minhas coisas, quais sejam, escrever e ouvir música. Obrigado por acreditar no meu sonho de ter um livro publicado. Obrigado por todo o suporte que você me dá, por nunca esquecer de mim, por mais que fosse bom para você esquecer um pouquinho de mim e se focar em você. Obrigado por não me cobrar uma interação maior com o mundo que eu não posso dar. Estou trabalhando isso na terapia. Obrigado por me amar incondicionalmente apesar de todas as condições sui generis em que me coloco. Obrigado por sempre estar atenta e vigilante, mas não precisa exagerar nisso, pois paranoia não leva ninguém a lugar nenhum. Obrigado por ser tolerante e estar sempre aberta ao diálogo. Obrigado por respeitar o meu silêncio e a minha ausência perante o mundo. Estou trabalhando isso na terapia também. Obrigado por todo o carinho que tem por mim, não sei nem se o mereço. Obrigado por tudo isso e não se engane, eu sinto, eu percebo, eu sei de como é difícil para você lidar com alguém como eu, tão completamente diferente de você e da maioria dos mortais. Eu confesso que sou bastante excêntrico nos meus atos e escolhas, para dizer o mínimo, e entendo que você não entenda, mas acho admirável, a verdadeira prova de amor que você poderia me dar – e me dá – que é me aceitar apesar de todos esses pesares. Obrigado por isso, sou eternamente grato. Sobre o livro ele é o meu maior sonho, a minha realização profissional e como pessoa. É o evento mais fundamental da minha vã existência, um divisor de águas na minha vida. Por isso penso tanto sobre isso. Gostaria muito que ele fosse publicado por mérito, com uma mãozinha do meu tio para levá-lo à apreciação da editora da qual é conselheiro. Amaria se Raimundo Carrero me mandasse suas opiniões acerca da obra, seria o que me validaria como escritor, o que não me considero, até o presente momento eu sou apenas um blogueiro de meia tigela que não é lido por quase ninguém como citado acima. Queria muito ser validado por quem de direito como escritor e isso ocorreria se alguma editora decidisse publicar o meu livro ou se Seu Raimundo me desse a sua bênção. Não creio que essa última vá acontecer, mas, quando finalmente a minha amiga revisora me entregar a primeira revisão, mandarei um e-mail para ele, não quero nem saber, aí vai ter dado tempo suficiente para ele ter lido o livro. Estou cansado de ouvir The Clash. Acho que vou colocar Björk, que eu sei que você odeia, hahaha. Bem, mãe, queria dar uma dimensão da importância do livro para mim. Ele simplesmente é a minha validação como pessoa, é a prova que a minha passagem pela vida não foi em vão, que não sou um completo inútil, frustrado e fracassado. O livro, este, “O Diário do Manicômio”, que é o único que tenho, publicado seria o ápice da minha existência, me sentiria pela primeira vez desde a infância de bem comigo mesmo, satisfeito em ser quem eu sou, me achando uma pessoa meritória de estar no mundo e de usufruir todas as benesses que me são outorgadas. O livro seria a confirmação que a minha escolha de vida não foi em vão, um desperdício como agora e sempre me afigurou. Bem, não sei como deixar mais claro quão fundamental para mim, para a minha autoestima, para a minha paz e contentamento comigo mesmo, a publicação dessa obra e não outra é para mim. Mas não quero eu mesmo bancar a publicação, isso não é meritório, isso é egolatria. Eu quero-o aprovado por quem de direito, que alguém ou alguma editora julgue o livro passível de publicação para que ele tenha alguma validade para mim. Se Raimundo Carrero me dissesse que gostou, que é válido ser publicado, eu poderia até pensar numa publicação própria, pois já me sentiria válido como escritor tendo sido aceito por um dos grandes da literatura pernambucana. Não acredito que isso se dará, infelizmente, então só posso contar com o meu tio para facilitar a entrada nas diversas editoras possíveis a obra revisada para apreciação e torcer para alguma decidir publicar. É o único caminho. São os únicos caminhos que me são válidos. Obrigado por ler essas palavras idiotas, mas sinceras. Kisses.

18h56. Ter escrito tudo isso me deixou tenso e temendo a reação da minha mãe. Mas joguei aberto e sincero com ela. Dei a real importância que o projeto tem para a minha vida. Ele é a validação da minha vida, uma razão, uma justificativa para a minha existência. Que de outra forma será apenas um grande desperdício de recursos do universo. Preciso fumar um cigarro com uma Coca cheia de gelo para relaxar.

19h08. Sabe de uma coisa? Cansei de esperar pela resposta do escritor. Vou revisar e postar isso e mandar o link para minha mãe e para ele. Não sei como mamãe responderá ao que escrevi muito menos Raimundo Carrero. Se ler. Mas precisava botar para fora.

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