19h26. Já estou aqui embaixo com o meu amigo da piscina. Ele
comenta da situação, da crise, que se fala em guerra, que milhares de galinhas
já morreram por falta de alimento. Ele é o meu atualizador sobre a realidade,
uma parte interessante dela, as pegadinhas de João Kleber são só um exemplo.
Ele está tomando Coca e vendo o celular enquanto escrevo. Quem sabe não me
mostre mais um vídeo interessante hoje.
19h47. Meu amigo da piscina explora os meus amigos de
Facebook agora que ele está no aplicativo.
19h58. O que você ensina ao papagaio ele nunca esquece. 70
milhões de aves morreram por falta de ração (segundo o Facebook) e o governo
não está nem aí, que se foda (segundo o meu amigo da piscina). Uma pontuação
interessante. Contei do meu sonho. Meu amigo da piscina pesquisou na internet.
Mas não lembro o resultado, eu tive para mim que brigar com o pai e fazer as
pazes significa pouco esforço para alcançar o objetivo e o objetivo que tenho
mais imediato é o livro.
20h50. Fiz um breve histórico da minha vida e como o tempo
com a Gatinha foi uma ilha de tranquilidade, alegria, intimidade, felicidade no
caos que era a minha existência, agora para o meu amigo da piscina.
Um saco plástico dura milhares ou milhões de anos, será que
haverá arqueólogos especializados em plásticos no futuro? O que iam pensar de
um coroa ouvindo “Firework” de Kate Perry sozinho na piscina? Acho que me
teriam por gay, não como assexuado como me afiguro. Um assexuado ouviria
“Bastards” de Björk. Que é o que rola aqui agora, depois de Kate Perry. Estou
digitando só com uma mão pois estou fumando o último que tenho aqui embaixo.
Passei por uma experiência diferente do meu cotidiano, ir à farmácia. Tirei até
uma foto.
O que me impressionou mais no passeio? As ruas vazias e
principalmente a enorme burocracia digital para efetivar a compra dos remédios.
Não sei se porque remédios controlados, só sei que demorou, passei mais de dez
minutos no balcão até me dirigir ao caixa. A Coca estava muito refrescante. Há
pouca. Mais dois copos e meio, eu acho. É o suficiente. Nossa, me coloquei como
assexuado. Vou me colocar como o quê? Punheteiro? Nem a isso chego, pois não há
coisa mais esporádica que a masturbação na minha vida, às vezes passa mais de
semana sem que o faça. Não nego a sexualidade, mais não a busco com a
voracidade dos demais e, por falta de interesse e competência, não a pratico.
Depois de tanto tempo encalhado passei a quase que temer o intercurso sexual.
Não acho isso saudável do ponto de vista social, mas me sinto tranquilo e
favorável desta forma. Me falta muito mais a intimidade de casal, o namoro, a
companhia, as conversas, se pudesse ficar nisso e esporadicamente ser
necessário sexo estaria de ótimo tamanho para mim. Se bem que por mim poderia
chupar a garota todos os dias se ela quisesse. O faria com prazer e, acredito,
competência, além de sincero desejo. É a atividade mais erótica que acho. Minha
segunda namorada, quando se viu farta de mim, me tratou como lixo, me usou como
objeto sexual uma vez. E me fez de palhaço outras tantas. Quando me lembro que
ficou dando em cima de outro cara na minha frente enquanto dançava bêbado Depeche
Mode no Downtown... eu bebia desbragadamente nessa época, bebia para me
embebedar valendo, de vomitar. Como vomitei nesse dia perto da cabine
telefônica inglesa que havia lá, em cima de uma grade de bebidas vermelha,
possivelmente cerveja. Ela trocou telefones com o cara e disse que era só por
amizade. E eu aceitei isso. Curioso, hoje em dia acho que ficaria muito mais
puto com a pessoa, foi um comportamento promíscuo, vulgar e passei por um papel
constrangedor como namorado. Mas passou. Houve muitos momentos bonitos. Como
termos perdido a virgindade juntos e apaixonados. Mas eu fui muito canalha com
ela também. Eu mereci todos os seus atos de vingança e mereceria mais, se bem
que soube depois que até gaia eu levei. É a vida. Eu ter transformado aquele
ser tão inocente e puro numa pessoa capaz de fazer isso, é muita crueldade da
minha parte. Ela não merecia se transformar, espero que momentaneamente,
naquilo que se transformou para descontar em mim todas as frustrações que lhe
causei. Se eu teria uma coisa para dizer a ela? Sim, e sempre tive, me desculpe
por tudo o que lhe fiz, todo o mal que lhe causei, eu mereço ir para o inferno
pelo que fiz na sua vida. Sei que você nunca vai me perdoar, mas eu precisava
pelo menos pedir perdão. Era isso o que eu diria. Não digo que ela não agiu de
forma incorreta comigo, mas se o fez foi motivada e corrompida pelo que fiz,
ademais eu sei das minhas culpas, e essa era a forma de lidar com elas, a forma
que eu sinto mais válida. Ficção. Eu digo isso para ela e acrescento, se você
carregar alguma culpa saiba que eu te perdoo do fundo do meu coração. Acho que ambos
precisamos disso. Ela me abraça e fala no meu ouvido “eu sempre te amei e
sempre vou te amar”. Eu respondo, e eu acho que nunca te amei de verdade. Mas
fui feliz com você, tivemos nossa intimidade e nossa felicidade, isso é o que
vale, as dores não importam. Eu perdi minha virgindade com você, foi um momento
belo, pois estávamos apaixonados e em paz um com o outro, foi a realização de
um sonho para mim. Um dos maiores sonhos, perder a virgindade não com uma puta,
sem sentido outro que perder a virgindade em si, mas algo muito maior, com
afeto, sentimento, insegurança, desejo, curiosidade, descoberta, cuidado,
paixão, felicidade, ainda éramos felizes nessa época e adorava transar contigo,
foi a mulher com quem mais desejei transar e que mais prazer sexual me deu na
vida. E a com quem mais transei, no meu auge físico, muito bom. A mais erótica
foi a com quem te traí e não houve penetração só sarro, aprendi um monte. Foi
ardente demais, ela era uma mulher ardente, pelo menos à época. Espero que
continue sendo, para a felicidade de seu marido. Vocês duas casadas, com
filhos, ao que me consta, e eu aqui sozinho escrevendo na piscina do prédio
onde a maior parte dessa história se desenrolou. Onde a maior parte da minha
vida se desenrolou e onde deixarei ainda grande parte, eu espero. Aí contam os
votos de longevidade da minha mãe. Estava vaporando o Vaporfi e pensando no meu
amigo da piscina. É uma das únicas pessoas que indaga de mim, que quer ouvir as
minhas histórias, usa a mesma estratégia que usa com as mulheres, joga o papo e
me deixa discorrer e ouve, com atenção. É ótimo. E me mostra coisas novas. Me
lembrei do Manicômio, do que narrei no “Diário do Manicômio”, pois é, o trato
como obra, o que eu disse ser o ápice da narrativa para o meu primo urbano.
Estava me lembrando, mas confesso que não me lembro muito, lembro mais porque
discorri sobre aquilo do que porque vivenciei. Mas que seja, a minha memória
não é das melhores e embora seja um episódio marcante, não o marcaria como um
dos ápices da minha existência, pelo contrário, talvez esteja entre os pontos
mais baixos, mas essa competição é difícil, já estive muito baixo na minha
vida, a verdade é essa. Por isso que está no nível médio, sem grandes
felicidades, grandes emoções, mas fazendo o que gosto, às vezes nesse momento
especial com o meu amigo da piscina, às vezes apreciando como um matuto-cibernético
uma farmácia, seguro dentro do meu verdejante condomínio. Ouvindo Björk,
tomando o restinho de Coca-Cola, o que posso eu pedir mais da existência? Eu sei.
E posso. E peço. Um livro e um grande amor. Um amor tão grande que impossível.
Que não há realidade que se equivalha, nem provavelmente a sonhada. Sei lá, sei
que estou feliz porque as duas são mães felizes, com avós felizes, por estar
aqui me lembrando delas, duas mulheres que marcaram de forma indelével a minha
vida, duas mulheres excepcionais. Eu já tive muita sorte no amor. A última
cartada que guardo para o sentimento, jamais darei ou foi esta, apostar no
impossível e viver de impossível. Não me incomoda o impossível agora. Ele até
me conforta. Pois permanecerá desejável e amável até o final da minha vida.
Isso se a Singularidade não se der. Me entregarei ao que acontecer primeiro. E
aposto minhas fichas na Singularidade. Hahaha. Ainda bem que mamãe me permite
ficar aqui até altas horas agora. O texto está fluindo tão bem e tão profundo,
estou gostando. Pelo menos não estou descrevendo as ações, embora tenha
colocado o último copo de Coca e vá dar umas baforadas no Vaporfi. Antes
coloquei o título no post, gostaria muito de postá-lo no Profeta, pelo menos
uma parte. Acho que não ofendo ninguém com isso, só se a mim mesmo.
22h38. Tirei umas fotos das cadeiras para ilustrar o post,
mas me lembrei que a foto que vai aparecer primeiro é a da farmácia, mas talvez
isso cause um estranhamento positivo no leitor. Como é que uma coisa tem a ver
ou vai dar na outra? Eu realmente não sei. O que sei é que sem medicamentos eu
acho que já teria caído em depressão há muito tempo. Sou dependente de alguns,
o de dormir pelo menos eu sou. Dalmadorm. Talvez se houvesse um desmame eu não
tivesse insônia. Não sei e pouco se me dá. A pena é que acho que eles afetam a
minha memória e não lembro dos sonhos, só se dormir demais, o que nunca é
possível, pois durmo tarde. Mas falando de amores. Amei demais, de me sentir
100% feliz, três vezes, com a minha primeira namorada, com a Gatinha, no começo
da paixão era enlouquecido por ela, achava a coisa mais linda do mundo. Me
encantavam profundamente as duas. A terceira, você vai ter que ler o “Diário do
Manicômio”. Hahaha. Será que em publicando um livro se torna mais fácil
publicar o segundo? Tenho um projeto que talvez dê um livro. Se eu me tornasse
bem vendido, pode ser que se concretizasse, mas não acho que serei bem vendido.
Não acho nem que conseguirei ser publicado. Meu sonho último com esse livro?
Ser publicado, com prefácio ou orelha de Raimundo Carrero, ser vendido com
destaque na Cultura na área de lançamentos, com as cintas provocantes em volta
do livro ou dos livros. Ou dos primeiros deles. Quem sabe uma resenha na Veja
ou qualquer lugar mais nobre. E que vendesse bem, a ponto de desejarem um
segundo. Aí, este poderia ser o meu projeto. Seria um desfecho interessante
para a minha história literária. Não sei se alcançaria o sucesso do anterior,
mas seria curiosíssimo vê-lo concretizado. Com as ilustrações que imagino para
a frente e o verso. Seria uma coisa muito peculiar de se acontecer. Minha vida
seria coroada como uma das mais abençoadas da existência. Mas tudo isso é
ficção, estou viajando muito longe. Nada disso vai acontecer. Valeria todas as penas
se acontecesse. Só não valeria perder a curatela, só se o livro vendesse tão
bem que eu pudesse fazer o meu pé de meia. O que não ocorrerá. Novamente
sonhando. Não me custa nada e nesse momento nem incomoda. Estou na piscina do
meu prédio ouvindo Björk enquanto crianças sentem medo numa zona de guerra. E
eu querendo mais que isso, para quê? Para me sentir válido como pessoa? Não é
muito pouco diante de tudo o que possuo? É tão ou mais importante do que tudo o
que possuo, tanto que estou disposto a abrir mão de uma parte importantíssima
de tudo isso para realizar o meu sonho. Talvez a parte mais preciosa. O
respeito das pessoas, a aceitação das pessoas, inclusive das mais queridas. Só
me sobrará a Gatinha, talvez os meus amigos mais chegados. Seria como uma bomba
para a minha família. Principalmente materna. Nossa, mesmo assim eu queria
muito me sentir realizado comigo mesmo, válido como pessoa, a despeito do que
todos os que lerem o livro ou ouvirem falar pensem de mim. Eu sei o que sou. Eu
saberei que sou válido. Que não fracassei como ser humano. Por mais que disso
decorra um fracasso social sem tamanho. Eu comigo mesmo me sentirei satisfeito.
Nossa, como espero que a revisão ajude a dar uma cara mais de livro ao que foi
relatado. Mas se estiver meia-boca e vender, não tem problema. Hahaha. Isso se
for publicado. Mas como posso pedir tanto enquanto há pessoas trocando tiros,
gente sendo torturada, gente fazendo o que não quer fazer, gente se humilhando,
gente passando fome, gente sentido dor, dor aguda, do corpo ou da alma. E eu
aqui na maior tranquilidade do mundo. Sem Coca, é verdade, mas com verde, ao ar
livre. Num recanto de paz cravado no meio do cimento da cidade. Eu sou muito
abençoado como disse à fantástica faxineira e ela concordou. Eu sou comprovadamente
abençoado. A própria existência se manifestou dizendo isso para mim hoje. Eu o
percebo, todas as benesses. E mesmo assim acho a vida incompleta sem deixar
realização alguma. Por isso preciso desesperadamente que o livro seja
publicado. Para dizer a mim mesmo que fiz a minha parte, eu contribuí com o que
tinha de mais sincero para o mundo. Eu não queria fazer lançamento, comigo
assinando livros, mas encararia essa empreitada.
23h25. Mamãe fica me mandando mensagens, isso me
desconcentra completamente. Mas é uma boa mudança. Daqui a pouco o computador
vai alertar que está com a baixa bateria. Este post eu tenho que colocar no
Profeta. Estou achando diferenciado. Estou tratando as coisas de peito mais
aberto, eu diria. Me entretém bastante. Não sei se ao leitor. Creio que
coloquei um título chamativo, falar de amor sempre atrai a atenção. Eu creio.
Principalmente a feminina. Novamente, eu creio. Não sei nada das estatísticas
do amor, sei senti-lo apenas. De uma forma totalmente minha, mas o sinto. Por
ser tão minha vai causar estranhamento nos demais. Pelo menos essa é a minha
expectativa. E ela é de uma recepção negativa. Mas, repito, prefiro me sentir
válido como pessoa. Queria muito me sentir válido como escritor. Mas isso
dependeria de Seu Raimundo ou de ser aceito por alguma editora. Já repeti isso
demais aqui. Cansei. Acho que vou mandar o link desse post para Seu Raimundo.
Mostrar a ele o que escrevo cotidianamente. Sem falsa modéstia, estou achando
esse post interessante. E dá uma dimensão da importância do livro. Da forma
mais clara possível. Tenho tempo para pensar. Se mando ou não. Sobre o que mais
poderia dizer? O vigia da noite passou agora por trás de mim. Poderia se fosse
um pouco mais ousado pedir para tirar um selfie
com ele. Mas nesse caso minha ousadia não vai tão longe. Ou vai? Não sei se ele
gostaria de ter a foto divulgada na internet. Não sei, talvez não se
incomodasse. Não descobrirei. Não me sinto inclinado a isso.
23h41. Fui e ele concordou. Algo tão impossível para mim
realizado! Tanto é que começou a chover. Hahaha. Estou feliz comigo mesmo por
ter tirado essa foto. Eu não, ele, pois minha unha não permitia que eu
fotografasse, não consegui. Ele deixou eu colocar no meu blog! Liberado, então.
Acho que ele se sentiu prestigiado, é um dos funcionários mais antigos do
condomínio. Nós temos uma história mesmo que distantes, cada um em seu papel,
mas, ao mesmo tempo, muito próxima e, principalmente, uma relação muito
duradoura. Conheço ele há mais tempo que a maioria das pessoas do meu círculo
social. Nunca tinha parado para me dar conta disso. Sem dúvida um post
interessante. Ainda chuvisca. Já daria para eu ir para casa, mas esperarei um
pouco mais. Tenho medo que a inspiração desapareça se interromper o fluxo. O
mais curioso dessa nossa relação é que eu nem mesmo sei o seu nome. Isso é
quase um desacato com uma pessoa que faz parte da minha vida há tanto tempo.
Preciso perguntar à minha mãe, acho que seja Edimilson, mas não sei de onde
esse nome me veio. Acho que não é. Mas para mim é algo que começa com “e” e
termina como “on”. Vou tentar ver com mamãe. A bateria vai chiar dentro em
breve. Ou com o meu amigo da piscina.
23h52. Estou dando umas baforadas no Vaporfi ouvindo
“Hyperballad”. Computador chiou. Vou subir.
0h31. Estou aqui em cima de volta ao quarto-ilha. Acho que o
nome dele é Nivaldo! Tenho quase certeza. Mas não confio muito nas minhas
certezas. Principalmente quando dizem respeito a nomes. Escrevi um parágrafo no
meu outro projeto, o do segundo livro que não vai haver. Já coloquei e tomei os
remédios, falta só o de dormir que vou segurar um pouco, pois quero aproveitar
esse agora. Eu estou completamente satisfeito com a vida nesse momento. Isso é
tão raro em mim. Fico desconfiando se não estou tendo um leve surto de mania.
Mas a pessoa estar bem consigo uma vez na vida não significa toda vez isso.
Acho tolice perder meu tempo pensando isso. O melhor é aproveitar que estou
assim e me dizer assim. Há um problema, só tenho cinco cigarros para amanhã e
meu amigo vai muito provavelmente pedir um. Será ozzy. Não sei o que faça, é me
virar com o que tenho e fumar Vaporfi. Estou em dúvida sobre mandar esse texto
ou não para o escritor. Algo em mim agora diz que não, que não devo importunar
ele. Algo me diz que sim, que agora tanto faz, visto que ele não vai ler o
livro mesmo. Não vou redundar sobre esse assunto e ficar cheio de “ e se”.
Amanhã decido depois que revisar o outro texto e postar. É, esse já é o segundo
que produzo hoje, o anterior não está de todo ruim, mas estou achando esse mais
legal. Nossa tomei um copo de Coca gelada num gole só agora, que delícia, que
alívio. Estava com a goela seca.
0h44. Peguei o Vaporfi e me enviei a foto da farmácia que
havia esquecido.
0h45. O que posso mais dizer? Que tenho vontade de tomar
banho com o chuveiro a 42 graus? Que preciso tomar o Dalmadorm e que o farei
assim que acabar esse parágrafo? Que ainda não comi hoje? Minto. Comi duas
almôndegas do almoço e mais comerei quando a fome dos remédios se der. Tudo
isso são futilidades. E acho que me fazem passar meio que por doente mental. Eu
tenho uma doença. Transtorno bipolar. Os remédios a controlam. Ou assim quero
crer. Gostaria que a minha vida fosse sempre com o astral de hoje, mas hoje é
um dia sui generis. Por isso a suspeita de mania. Mas todos merecem dias
felizes. Principalmente aqueles que raramente os têm. Mas não sou uma dessas
pessoas, minha existência é agradável. Penso em um ser humano que nada comeu
hoje e nada terá para comer e que não sabe se comerá amanhã. Isso é a condição
de mais gente do que é justo no mundo. Não deveria haver ninguém em tal
situação. A humanidade tem suas bizarrias mesmo. Isso me machuca. Ter tanto por
mera obra do acaso-destino, sem merecimento, sem necessidade. Eu não passo por
necessidades. As necessidades que eu passo são fúteis. E tenho como supri-las
todas. A necessidade mais imperiosa sem dúvida é a de cigarros. Mas até para
isso eu tenho paliativo, o Vaporfi. Foi muito bom o encontro com o meu amigo da
piscina hoje, é muito raro ter alguém para me escutar. Aos poucos ele vai
conhecendo a minha história e o que me tornei. Ele me perguntou se eu já tomei
remédios para me lombrar. Eu contei-lhe do dia que me deram por engano um
Neosine de 100 mg, remédio que nunca havia tomado na vida e que passei três
dias de cama, tive ataques de sonambulismo, não conseguia andar em linha reta,
não conseguia levar o copo de leite até a boca de tão tonto que estava, ele
perguntou se foi legal. Eu disse que foi horrível. Não queria passar pela
experiência de novo. Não foi a pior das experiências que já passei, mas
certamente não foi uma lombra legal. Não sei nem porque conto isso aqui, parece
que quero me gabar de algo que não tem valor intrínseco nenhum, se muito faz é
me desmerecer. Parece que voltando ao quarto-ilha o eu crítico começa novamente
a emergir. O mundo cor de rosa onde teria dois livros publicados parece cada
vez mais distante. Não importa, se sonhei, sonhei. E sonho e continuarei
sonhando, enquanto esperança houver. Morta essa, mata-se o sonho. Serão perdas
dolorosas as dos meus dois maiores sonhos. Mas não morrerei por conta disso. O
menino que tem os pais fuzilados na sua frente não morre, por que eu haverei de
morrer? Ou pior, o pai que tem os filhos assassinados. Isso sim é frustração e
dor de verdade. Eu falo de um prazer meramente do espírito que não se
realizará. Não me realizarei como pessoa e pode-se sobreviver com isso. É uma
existência mais sofrida e medíocre, mas suportável. Que curioso, acabo de
receber uma mensagem que diz, “De uma coisa podemos ter certeza: de nada
adianta querer apressar as coisas. Tudo vem a seu tempo, dentro do prazo que
lhe foi previsto. Mas a natureza humana não é muito paciente...” o texto é
grande e espírita, agora que cliquei no link li ele todo. E me deixou na dúvida
quando tratou de sinais. Como saberei interpretá-los? Será que isso é um sinal
para não repartir este texto com Raimundo Carrero? Ou é um sinal de que devo
reparti-lo? Não sei interpretar sinais. Ele termina com, “Lembre-se que o
universo sempre conspira a seu favor, quando você possui um objetivo claro e
disponibilidade para o crescimento. Joanna de Ângelis”. O que intuo é que ainda
não seja o momento, como respondi à pessoa que me mandou a mensagem. Quando
receber o texto revisado, eu envio. Com um link para esse post específico, pois
acho que dá uma dimensão bem clara da importância da apreciação da obra pelo
velho escritor. Simplesmente quero me sentir um ser humano válido pelos padrões
do meu pai. E ele só me julgaria escritor, eu só me julgaria escritor, se
alguém que julgasse meritório considerasse o que escrevi com qualidade para ser
publicado. Não sei o que a incrível revisora vai dizer, mas a sensação que tive
é que ela vai dizer que tem boas e más notícias. Mas não vou entrar numa
expectativa infundada a respeito disso. Nossa, como queria que ainda houvesse
bolo, é a fome batendo. Não vai haver, tenho quase certeza. Vou ver e tomar o
Dalmadorm.
1h25. Havia uma diminuta fatia de bolo que me foi mais do
que o suficiente, tomei o Dalmadorm. Vou fumar o meu último cigarro da noite e
botar o boiler para 42 graus para tomar um logo banho quente enquanto os
recursos hídricos da Terra ainda o permitem.
1h35. Fumei o cigarro e botei mais um copo de Coca para mim,
o banho pode esperar um pouco. Estão falando em racionamento do gás do prédio
devido à greve dos caminhoneiros. E minha mãe disse que cortarão o gás à noite.
É preciso aproveitar. Há pessoas com visão de mundo tão diferente da minha.
Isso é fascinante e, às vezes, chocante. Mas geralmente fascinante. A
pluralidade da humanidade talvez seja sua característica mais marcante. A
pluralidade da Natureza. Nenhum ser é completamente igual ao outro, inclusive
os de mesma espécie, mas o homem por ser o bicho mais complexo do ecossistema e
ter um cérebro mais evoluído é plural de forma mais integral. Ou não. Fico na
dúvida. Acho que, pensando melhor, não, pois cada aranha escolhe onde vai tecer
a sua teia, por exemplo. Nossa, isso parece até ditado japonês! Hahaha. Estou
me divertindo muito desenvolvendo esse post, por isso ele seja tão original
perante os outros. Ademais conto coisas mais interessantes que de costume e
outras as coloco da forma mais clara de que sou capaz. Ou do que me é devido no
momento. O Dalmadorm acho que já começa a surtir os seus efeitos, pode ser
psicológico, mas me sinto mais esvaziado e sonolento. Acho que vou botar um som
para ouvir. Coloquei os remix de Björk para “Dull Flame of Desire”, confesso
que não está me agradando tanto quanto a original. É uma desconstrução completa
da música. Agora entrou um pouco da melodia. Aposto que já-já pira de novo. Não
disse? A bateria já carregou. A desconectei. Aumentar a vida útil dela me
interessa muito. Principalmente para essas minhas peregrinações à piscina.
Quando a Coca acabar, vou tomar o banho. Sétima página já, tenho que terminar nela,
como é o meu padrão atual. E preciso dormir. E me alimentar. Um pedacinho de
bolo não foi suficiente. Vou primeiro jantar, depois tomo o banho.
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