12h13. Mamãe fez café para mim. Coisa boa. Excelente. O Hulk
com a iluminação perfeita do dia. Comecei bem esse novo amanhecer. Amanhecer,
não, começo à tarde já. Vou pegar mais café. A moça do ateliê de pintura
começou uma comunicação por e-mails comigo. O que é legal e interessante. Mas
queria receber os e-mails da moça da editora e de Seu Raimundo. Quando
despertar mais, eu respondo o e-mail da moça do ateliê.
12h27. Adoro o número 27. Então sempre que o acaso o
apresenta, eu tento me apoderar dele. Por que 27? Acho que era dia do
aniversário de namoro com minha segunda namorada. Desde então colou na minha
cuca. Hoje o número transcende esse significado. Se tornou algo maior, um ícone
para mim e me salta aos olhos sempre que aparece. Sempre vejo com um bom sinal,
embora não acredite de fato nisso. Mas me alegra quando cruzo com um 27 por aí
pela existência. Coisa besta, né? Eu sou uma pessoa muito besta? Já fui mais, o
convívio com malandros me tornou menos inocente. Vi uma jovem mulher magérrima,
muito grávida, pedindo dinheiro. Provavelmente viciada em crack. É uma visão
que ao mesmo tempo que me choca me enche de compaixão e dúvidas. Que fará do
bebê? Como a natureza consegue ser tão persistente em gerar vida apesar das adversidades?
Quais sãos as perspectivas dessa mulher que tão jovem e tão grávida ganha a
vida de esmolas? Será que a maternidade vai lhe aprumar a vida ou vai abandonar
a criança com alguém ou alguma instituição? Especulações me surgem aos
borbotões, mas soluções não as diviso. Ainda bem que não nasci mulher. Nossa, é
outra coisa da qual sou muito grato. É um fardo pesado demais ser mulher. Ser
mãe. A sociedade de alguma forma, ao meu ver, exige muito mais da mulher do que
do homem. Cobranças culturais mesmo. Cuidar do corpo, da aparência, das vestes,
ser mãe, fazer festa de 15 anos, casar, as pressões e expectativas sociais são
muitas. São exigidas mais que os homens, em mais áreas. E ainda tem a danada da
menstruação todo o mês e carregar um negócio na barriga e botá-lo para fora. Eu
que não curto muito sangue e menos ainda dor, não curtiria nem um pouco esses
dois eventos transcorrendo com o meu corpo. Em uma palavra, não nasci para ser
mulher. Fora que os homens devem ficar urubuzando e azucrinando as mulheres a
todo e qualquer momento com os seus joguetes baratos de sedução. Sei não. Só
sei que ser mulher é uma barra que não dá para mim. Parabéns a você que é
mulher e consegue se apoderar e empoderar dessa situação. Admiro demais as
mulheres. Há homens notáveis também, mas as mulheres me despertam mais
admiração e carinho. Talvez até porque seja homem. Mas principalmente por ser
homem e ter a percepção elencada acima. Ainda tem o eterno problema de
banheiro. Esse é um problema que não diviso a mágica que fazem, mas deve ser um
processo complicado. Imagino em Olinda durante o Carnaval. Que osso. Acho que
não vou mais para Carnaval em Olinda. Por mais que possa ficar confortavelmente
sentado em frente à casa do grande Albertão, não me apetece nem isso. Passei o
dia de carnaval desse ano lá a digitar no celular. E ainda noiado de algum
maloqueiro dar o bote no aparelho. É certo que vi uma menina bastante apetitosa
(e devidamente acompanhada), mas não foi e não é suficiente. O problema é a
sensação de que estou perdendo algo que todo mundo está aproveitando ficando em
casa. Parece que há uma energia que me draga para o Carnaval, nem que seja por
um dia. É estranho isso, acho que é o movimento de manada. Vou para ter certeza
de que não é a minha praia, não importa quantas vezes já tenha tido essa
confirmação. Certamente é um comportamento contraditório meu. Acho que o
Carnaval é o pior lugar para ser mulher do mundo. No entanto elas vão e se
divertem sei lá como. Sem elas não seria a mesma coisa. Acho que nem iria. Mas
não avanço para cima de nenhuma embora reze a lenda que de que estão mais
suscetíveis a esse tipo de approach durante os festejos de Momo. Nunca me
aventurei nesse sentido. Aliás, se me aventurei a interagir com desconhecidas
que encontro no meio da noite dez vezes foi muito. O máximo que consegui foi o
contato de Facebook. E ambas foram frias e evasivas comigo. Que seja. Já estou
acostumado, até demais, com a solidão. Embora ame e admire as mulheres, nada
sei de como conquistá-las. E já vivi o meu quinhão de amor, quero crer. Ainda
tenho amor para dar, mas é uma planta murcha hoje em dia. Não me sinto
realmente com disponibilidade para me entregar a uma relação. Teria que ser
algo muito especial e interessante mesmo. Afora que sou esteticamente muito seletivo
por mais que a estética não tenha sido especialmente generosa comigo. Sim, já
me sinto desperto o suficiente para responder à minha amiga do ateliê de
pintura.
13h44. Respondi. Ela me perguntou com o que trabalhava e seu
eu gostava do meu trabalho. Falei da minha condição de aposentado e que passava
os dias a escrever. Mandei até uma foto da minha área de trabalho para ela.
Espero que se divirta com o e-mail. Hoje está um dia quente, estou com o ar
condicionado ligado e não estou com frio. Hoje vou castigar um pouquinho mais
no ar. Geralmente sou tão poupador em relação a isso, pelo menos um diazinho eu
tenho direito. Se mencionei o livro para a minha amiga do ateliê? Claro, ué? Eu
disse que minha vida era escrever, tinha que falar do livro. Por falar nele,
recebi o e-mail da moça da editora que disse que eu posso mandar um comprovante
de residência em nome da minha mãe! Está tudo resolvido! Basta indicar isso no
e-mail. Enviarei hoje. “Landlady” toca a primeira de muitas vezes hoje. Nossa,
desejei muito ouvir essa música quando da minha última recaída. Por sinal,
alguma coisa aconteceu durante o dito ato que o meu iPod morreu. Não tenho
coragem de tentar caminhar sem ele. Espero que mamãe libere a verba para eu
adquirir outro na viagem para a Alemanha. Tem uma Apple Store na praça principal
de Munique. Se lá não vender, vai ser ozzy. Não sei nem se fabricam ainda, mas
espero que sim.
14h10. Parece que não. Só modelos muito mais avançados que
não me interessam, parecem celulares, queria aquela coisa pequenininha de uso
intuitivo a qual estava acostumado. Acho que vou ter de aprender a usar o
Spotify para ouvir música pelo celular, embora ache que isso seja um chamariz
de ladrão do caramba. Também nem sei se voltarei a caminhar. Não tenho a mínima
inclinação para isso. Não há motivação. Não há nada no meu mundo no momento que
requeira que eu ande. Estou de boa com o meu bucho e estabilizei o meu peso. De
boa, é exagero, mas não vejo uma razão para perdê-lo. Saúde não conta, não sou
neurótico com isso. Para ser sincero sou bastante relaxado e desleixado com a
saúde. Talvez porque tenha a saúde de um touro não me preocupe com ela.
14h32. Estou conversando com o meu amigo cineasta. Ele me
sugere ver “Um Lugar Silencioso”. Está instigando as meninas do nosso grupo a
irem comigo. Minha amiga psicóloga e minha amiga diretora. As que estão no
epicentro do meu dilema com o livro. Nossa, chega me dá um frio na barriga só
de pensar. Que posso encontrar com elas e que não poderei mencionar o livro
para elas. Espero que a notícia ainda não tenha chegado aos seus ouvidos. Mas
acho que se mencionarem, eu direi que não sei se vou publicar especial e
principalmente por causa delas. Da reação delas às minhas verdades. Do meu medo
de perder as amizades delas. Da reação de seus maridos. Ozzy. Não quero pensar
nisso agora. Se um dia, porventura vierem me perguntar do livro, direi isso a
elas. Eu espero. Não gosto de omitir coisas das minhas amigas. Queria que a
pergunta pelo livro viesse no grupo de WhatsApp. Prefiro esse distanciamento
para contar-lhes dos meus receios. É bem mais difícil para mim ao vivo. Mais
pesado e não sei qual será a reação delas. Se tiver que pôr tudo às claras
mesmo. Bom, elas não vão ao cinema mesmo, nem vão me ver sem a presença do meu
amigo cineasta, então vou ter tempo para preparar a minha alma para este
fatídico momento. Seria tão bom que elas soubessem de antemão, para não se
sentirem tão traídas. Bom, seja como a vida se apresentar. Se me perguntarem do
livro, abrirei o jogo para elas. E elas que me crucifiquem logo, aí o que o
resto do mundo achar pouco se me dá. O problema maior está nas minhas duas
amigas mais queridas, empatadas com a Gatinha. São as três melhores amigas do
sexo feminino que tenho. Ser execrado por duas delas me faria muito mal. Talvez
e só talvez por serem psicólogas compreendessem o meu lado. Mas acho tão
difícil. Beirando o impossível. A não ser que conte logo antes e lhes prepare a
alma. Bom, se o livro chegar a seus ouvidos e me questionarem sobre ele,
abrirei o jogo, está decidido. Se elas compreenderem, ótimo. Se não, vai ser
dureza. “Landlady” novamente. Será que você que lê meu blog já ficou com
curiosidade de ouvir essa música do U2? A menciono paulatinamente, pode ser que
você fique curioso. Acho linda, mas pode não agradar os ouvidos de gosto mais
refinado. É uma canção de gratidão à mulher amada. Mas a melodia é o que me
cativa. Embora a letra não seja das piores. Novamente sugiro quem possui
Spotify e todas as músicas a alguns toques de distância que ouçam essa. Nem que
seja para saber do que tanto falo. A primeira parte da música é melhor que a
segunda. O calor hoje está de lascar, liguei o ar de novo. Isso talvez indique
chuva a caminho. Nossa, Seu Raimundo virou uma assombração para o meu juízo.
Seu silêncio me angustia. Queria uma mensagem que fosse, para o bem ou para o
mal. Nenhuma mensagem é torturante. Mas meus amigos disseram que pode levar
meses. Meses de expectativa? Me parece algo excruciante, mas acho que a coisa
vá esfriando dentro de mim com o passar do tempo. Quando fizer um mês, mando
uma mensagem para ele. Ou não. Melhor não. Deixar de aperrear o pobre senhor
que não tem pena de mim. Se ele respondesse que estava lendo, eu ficaria mais
tranquilo. Aliás ficaria superfeliz. Mas parece não ser o caso. Parece mais
descaso, em verdade. Mas não sou um grande autor, não levo a vida de um autor
consagrado para saber como organiza seu tempo e se dá a devida importância a
escritos enviados por terceiros.
15h14. Não vou ficar remoendo esse assunto uma vez mais. O
que tiver que ser, será. Não sei quantas vezes já escrevi essa frase, mas não
consigo pensar em outra. Talvez, só o que me resta é aguardar. Pelo menos hoje
mando o texto para o concurso. Uma etapa a mais. Pena que o resultado só saia
em novembro. É esperar. Mas não ganho, porque tem um critério que é valorização
da cultura brasileira ou algo do gênero que o meu texto não contempla. Logo
levar um zero num dos quatro ou cinco critérios de nota, detona a minha
colocação. Não espero ganhar. Aliás, é claro que um brotinho de esperança
sempre existe, mas não me importa de fato ganhar esse concurso. Me importa
muito mais a apreciação que Seu Raimundo poderia fazer da minha obra. Isso
conta muito mais que vinte mil reais. Se bem que ter a obra publicada pela editora
seria o bicho. Ganhar o concurso também significaria que a minha obra é
meritória. Não tinha pensado por esta via. Acho que porque encasquetei com Seu
Raimundo. O problema é esse, que não trato de nada da cultura brasileira. A não
ser que achem que a realidade de um manicômio privado seja um traço cultural
brasileiro. Hahaha. Nada podia estar mais distante do que é pedido no edital.
Por sinal, se você estiver lendo isso e tiver uma obra prontinha para enviar,
tem até o dia 17 de maio para fazê-lo, o processo é bem simples e todo digital,
só precisa imprimir e assinar duas folhas e escanear alguns documentos (e as
ditas folhas assinadas). Mandar tudo num só PDF e pronto, torcer. O link é
esse: https://www.cepe.com.br/concursos/premio-cepe-nacional-de-literatura-e-premio-cepe-nacional-de-literatura-infantojuvenil-
, tem três categorias no prêmio nacional, romance, contos e poesia; há ainda um
concurso de literatura infanto-juvenil, mas aí nem vi o edital porque não é a
praia do meu livro. Sei que na categoria romance pode ser uma obra
autobiográfica, caso da minha. Se se interessar não deixe acessar. E, além de
ter o livro publicado, você pode arrematar 20 mil reais. É bem legal, por isso
acho que a concorrência será ferrenha. Mas vou mandar, já está pronta e sem
destino certo a minha obra, não me custa absolutamente nada, e fica um gostinho
bom de estar participando. Veja o edital, o que vai ser aferido como nota para
o livro, etc. Quem não arrisca não petisca, já se dizia antes de eu nascer.
15h35. Mamãe está dormindo bastante. Será que não dorme bem
à noite? Só posso crer que seja isso. Ou se condicionou a dormir à tarde. O que
for melhor para ela está bom para mim. Ah, escrevi o texto para o próximo
domingo com duas vozes bem diferentes. Ficou curioso. Uma foi mais solene e
distante, outra foi mais intimista e carinhosa. Interessante, o texto me pegou
em dois momentos diferentes de alma. Gosto mais da segunda parte que da
primeira, mas colocarei as duas.
15h38. Estou com uma vontade danada de fumar um cigarro, mas
vou enganar com Vaporfi. O café acabou, migrei para a Coca. Às 16h27 vou fumar
um cigarro com um copo de Coca com bastante gelo. Até lá, só no Vaporfi.
Preciso levar a xícara quando da minha empreitada tabagista. Talvez acrescente
ainda mais coisas ao texto do domingo, se me vier algo. Mas acho que está bom
como está. Parece que minha mãe acordou. Acordou e veio me convidar para ir a
Boa Viagem com ela para comprar cortina para a minha irmã PE. Me conte fora
dessa. Sair do meu quarto-ilha e enfrentar o oceano de ferozes carruagens
metálicas para comprar cortinas é no mínimo bastante desagradável. Estou
ficando disléxico mesmo. Sim, vou revisar o outro texto para postar.
16h44. Em teoria estou participando do concurso. Mandei o
e-mail com a inscrição, pelo menos. Mas acho que revelo o meu nome em terminado
momento do livro o que me desclassificará. Tenho que mandar de novo. Droga.
Pelo menos me lembrei.
17h10. Localizei os dois locais onde mencionava o meu nome e
troquei pelo meu pseudônimo. Ainda bem que me lembrei dos dois lugares. Depois
pedi para procurar meu nome pelo arquivo e só haviam sido as duas vezes que
recordava. Mandei de novo e pedi para descartarem a primeira inscrição. Mas é
certo que não valorizo a cultura brasileira em sua diversidade e pluralidade.
Nesse quesito já é zero. “Landlady”. Está entregue. Se passar pela burocracia
do edital, minha obra será lida por alguém que entende do traçado. Mesmo que
não ganhe, com um zero em uma das categorias a serem avaliadas, dificilmente
ganharei. Mas num mundo de sonhos, apesar disso, pode ser que quem quer que
leia ache a obra meritória de publicação e sugira à editora que publique mesmo
que fora do concurso. Simplesmente ridículo. Hahaha. Como a troco de nada,
sonho. Meu deus. Hahaha. Vamos ver se passa pelo menos pela burocracia. Espero
que o arquivo tenha ido inteiro. Se tiver, alguém vai ter muito trabalho para
ler ou talvez, por preguiça, descarte a minha inscrição. Bom, ganhar eu não
vou. O importante é competir. É mais um pezinho na realidade que minha obra
galga. Não é lá um grande passo, mas é passo mesmo assim. O negócio é se jogar
e ver o que rola. Já procurei outros concursos, sem sucesso. Esse é o único que
calhou certinho para mim. Pelo prazo e por aceitar livros autobiográficos.
Geralmente só contam obras de ficção. Bom, esse assunto já deu o que tinha que
dar. Ou receberei um e-mail dizendo que a minha obra foi desclassificada por
alguma irregularidade burocrática, ou só saberei em novembro do resultado. É
tempo demais. Vixe. Mas eu já sei que não vou ganhar porque não atendo a um dos
critérios de avaliação fundamentais. Sobre o que falar? Agora me faltou
assunto. Vou publicar o post anterior. Se bem que outro no dia seguinte ao que
publiquei. É overdose. Vou esperar um dia. Já com dois posts engatilhados. Que
ozzy. Minha produção é maior do que o leitor dá conta. Hahaha. Eu acho que vou
publicar e não vou divulgar. Não gosto de ficar amontoando posts, jogo-os ao
mundo e quem quiser que leia. Só acho que não divulgarei esse último para não
ficar tão ostensivo. Ou então publico e divulgo, não custa nada mesmo.
17h53. Publiquei e divulguei, que seja, não estou ofendendo
ninguém com isso, eu acho. Só poluindo o Facebook. Confesso que estou mais
desencanado de Seu Raimundo. Acho que é a euforia de ter botado meu livro no
concurso. Euforia é uma palavra forte demais, mas um contentamento, algo bom,
que preenche a alma e que já-já passa.
18h05. Botei um líquido do Vaporfi que tem um cheiro muito
ativo, está incensando o quarto. Que seja, já foi. Se minha mãe achar o cheiro
estranho dou uma baforada na cara dela para provar. Vi que as normas para
enviar um original à editora do concurso são mais complicadas que as do
concurso. É necessário imprimir o original em duas vias. Só isso já me morga.
Mas se não rolar o concurso eu tento por esta via. Mas acho que o meu conteúdo,
pelo uso de drogas, fere os padrões editoriais da dita. Que seja. Talvez acabe
por publicar sozinho. Sei lá. Vamos ver o que a vida irá me trazer. Certamente
esse prêmio eu não ganho. É pensar em outras vias. Meu contato na Livrinho de
Papel Finíssimo estava online e não falou comigo. Então ou entro em contato
diretamente com a editora ou falo com o amigo do meu amigo cineasta. Sei lá.
Quero saber como o meu amigo, que também está por publicar um livro, fez ou
está fazendo ou fará para viabilizar o seu. Prefiro esperar por esse evento e
ver o que acontece. Estou curioso para ler a sua obra. Taí um livro que lerei.
Com muita curiosidade. O líquido original da Vaporfi me desce muito melhor que
o chinês que comprei. Mas é muito mais caro também. Pelo menos não me dá crise
tosse, pena ter escolhido um sabor tão ruim. Meu quarto está incensado, o
cheiro domina. E parece que ele sacia a minha vontade de fumar mais que o
outro. Não estou com vontade nenhuma de fumar agora. O outro até do prazo de
validade já passou. E tenho mais 500 ml do chinês sabor cereja. Nem abri ainda
e já faz tanto tempo que comprei que deve ter saído da validade também. Provavelmente
não deve ter muito gosto, como o de tabaco que comprei antes e que é o que
normalmente uso não tem. Tanto melhor. Mas foi bom ter dado uma variada com um
líquido de mais qualidade. “Landlady”. Quando acabar, vou pegar outro copo de
Coca. Será que a incrível revisora já chegou à parte delicada do livro? Bom, se
não chegou não tardará. Acho eu, nem me lembro. Sei que acho que preciso dar
uma enxugada no texto. Ou não. Não aguento nem olhar para ele. Esperar a
incrível revisora me mandar suas sugestões iniciais. Para fazer a primeira
releitura. Foi Frankenstein mesmo para o concurso. Eita, vou alterar a capa do
livro para que o título fique mais baixo para caber a suposta faixa.
18h54. Que saco, só tinha o arquivo editável em Photoshop.
Gostei com o título mais embaixo ficou mais legal do que onde estava. E cabe a
tal faixa com o slogan no meio. Desde que ela tenha 5 cm de altura. O que vi
que dá para colocar os slogans. Sonhar custa realmente muito pouco. Realizar já
são outras cifras. Por falar em cifras e economia. As faixas ou cintas poderiam
ser impressas num arquivo, uma embaixo da outra, grudadas e cortadas depois, já
sairia mais barato e aí poderia colocar mais títulos dessa forma. Uns cinco.
Boa ideia. Acho que vou acabar publicando por mim mesmo. Não vejo muita
possibilidade de publicar de outra forma. Mas tentarei. Tenho todo o tempo do
mundo.
19h30. Mandei um contato para a Editora 34 e para a Editora
Saraiva. A Companhia das Letras só recebe originais a partir de outubro, quando
espero estar com o meu livro redondo. Mas quer saber, acho que o Marinheiro
estava certo, é uma obra impublicável. Não vou conseguir convencer ninguém a
publicar as minhas sandices. O que posso fazer estou fazendo. Não acredito que
receberei respostas dessas editoras, mas pelo menos estou tentando. A internet
me possibilita, eu vou atrás.
19h43. Cansei de procurar, me canso fácil atualmente. Mas
busquei as que lembrava e mandei para as que podia mandar. Ou seja, duas. Vou
acabar imprimindo na UFPE, se me permitirem. Permitiram vovô, mas ele foi
professor da UFPE. Acho que vou acabar com o amigo do meu amigo cineasta. Acho
que vou acabar abandonando o projeto. Depois de falar para deus e o mundo.
Seria um papelão. Mas é um direito que me assiste. Minha mãe acha que tenho
escrito demais. Ela tem razão, mas não vejo outra motivação para levar os meus
dias adiante. A escrita é tudo o que tenho. Se me privar dela, nada me restará.
Não tenho paciência para a televisão ou para os games. Não gosto de ler. Não
gosto de exercícios. Só gosto disso. De me dizer em palavras. Por que me tornei
assim me escapa. Mas fui escolhendo ou escolhido para trilhar esse caminho. Se
a minha escrita de nada vale para ninguém, que seja. Ela me compraz em si
mesma. O ato encerra em si a recompensa. O prazer está muito mais em dizer do
que em ser lido. Até porque já está mais do que comprovado de que poucos me
leem. E continuarão sendo poucos se continuar a escrever assim. E só assim sei
escrever. Ou só assim desejo escrever. E a vida é mais prazerosa quando se faz
o que se deseja. Pelo menos eu acho assim. Eu me sinto assim e não vejo
perspectiva de mudança. Ainda bem que as minhas amigas diretora e psicóloga não
leem o meu blog. Acho que mencionei que o meu receio maior em relação à
publicação desse livro são elas. Mas vejo muitas outras pessoas me condenando.
A maioria delas.
20h08. Fui fumar um cigarro. Sei lá o que as pessoas vão
achar, cada cabeça é um mundo. Não quero falar disso agora nem aqui. Estou meio
para baixo. Meio desacreditando que o meu livro vá ser publicado. Que toda essa
energia depositada nesse propósito será em vão. Vamos ver quando pegar a
primeira revisão da incrível revisora e conversar com ela, como me sentirei. A
vontade que tenho é confessar logo às minhas amigas o tal segredo do livro e me
ver logo livre desse dilema, mas acho que estou sendo ansioso, como agora me é
de costume. Colocarei assim, então, se me perguntarem do livro, abrirei o jogo
para elas e que julguem como lhes convier. Está decidido, mas pedi ao outro
integrante do grupo, meu amigo cineasta, que não mencionasse nada para ninguém.
Sei lá como essa notícia vai se espalhar agora que trato abertamente do projeto
aqui. Mas acho que meus amigos não leem. Essa bateria do Vaporfi, a prateada,
está morrendo. Esquentando muito. Temo até que exploda na minha mão ou coisa do
gênero. Acho que está chegando a hora de aposentá-la e inaugurar a última
bateria que me resta. O que mais poderia dizer? Nada se resolve da noite para o
dia, o livro está na revisão. Será revisado. Até aí tudo bem. Depois decido que
destino dou a obra revisada. Pelo visto não vai ser com a Livrinho de Papel
Finíssimo. Ouvi o barulho de chaves caindo no chão, mas não dou certeza. Será
que meu padrasto chegou? Será que estranhou o cheiro do Vaporfi? Bom, saberei
no seu devido tempo. Meu pensamento dá mais uma volta e chega a incógnita que é
Seu Raimundo. Meu padrasto definitivamente chegou. Ouvi a porta do seu quarto.
Deve ter estranhado o cheiro. Não duvido. E não duvido achar ser coisa outra,
maconha, por exemplo. Ou que estou fumando cigarro no quarto. Não entende nada
disso. Vou me poupar o estresse
E não mais usarei o líquido da Vaporfi. Mas agora não dá
mais para trocar e preciso tê-lo caso seja interpelado pela minha mãe. Agora é
relaxar e fumar com esse sabor mesmo. Não há muito a ser feito no momento. Já
entro na sétima página, espero encerrar nela. E migrar para o Desabafos do Vate
onde posso redundar mais sem incomodar ninguém. Pobres leitores. Tenho pena de
você que leu isso até aqui. Minhas ruminações incessantes em relação a um dos
meus grandes sonhos. Grandes sonhos são assim, abarcam toda alma. E eu me
coloco inteiro, mesmo que inseguro, para pleitear sua consecução. Tentei duas
editoras hoje e mandei o livro para um concurso. Está de bom tamanho para um
dia, que seria ordinário de outra forma. Mas gosto de dias ordinários também,
desde que haja o que dizer. Havendo o que dizer e estando todos bem me sinto
pleno. Ju me vem à cabeça, me dizendo para relaxar em relação ao meu projeto. A
vontade que tenho é cortar o que puder do texto sem que ele perca a sua
essência. Não sei se conseguirei. O máximo que consegui foi eliminar duas
páginas de 234. Hahaha. “Landlady”. Se conseguisse cortar até ficar com 200, eu
me daria por satisfeito. Talvez o texto ficasse mais ágil, mais palatável. Não
sei se consigo. Só se omitir acontecimentos. Não sei se isso é válido. A
repetição é uma característica do internamento. Vou esperar minha amiga
revisora me apresentar a primeira revisão. E conversar com ela. Enquanto isso,
deixa como está. Não vou mexer numa coisa que já entreguei para ela revisar,
seria um desrespeito com o seu trabalho. Esperar é a melhor solução.
Ultimamente tenho esperado mais do que de costume. Mas se é assim que a vida se
me afigura, aceito de bom grado. Do melhor grado que sou capaz. Ainda não perdi
a esperança em Seu Raimundo, faz pouco mais de uma semana que o enviei o texto.
Pode estar lendo nas horas vagas, vou dar esse voto de confiança a ele. O meu
tio, infelizmente, não se manifestou. Coisas da vida. Talvez tenha achado o
conteúdo polêmico demais, sei lá. Poderia pelo menos me aconselhar a não
publicar, mas simplesmente silenciou. Quando tiver a obra definitivamente
revisada, o texto pronto, envio para ele de novo. Só como uma forma de cortesia
de dizer no hard feelings. Minha tia,
leitora assídua do meu blog deve estar curiosíssima para ler o que escrevi.
Hahaha. Talvez nunca se concretize, tia. Não crie grandes expectativas, é um
texto longo e chato. E mostra o quanto o seu sobrinho pode ser podre. Pelo
menos foi assim que me senti em determinados momentos do livro. Minha mãe
chegou e questionou o fato de eu ainda estar escrevendo. Acho que toco nesse
tópico da escrita no texto para o domingo que vem. Se bem me lembro falo disso
e apelo para a compreensão dela. Na parte mais intimista do texto. Quando acho
que abri mais o meu coração para ela. Não sei se agradará, mas fiz o melhor que
podia, estou medianamente satisfeito com o resultado. Falar de mãe é tão
difícil. Ainda mais numa relação como a nossa, de um histórico como o meu. Do
qual o descrito no “Diário do Manicômio” é só uma fração. A batalha foi longa e
árdua, para os dois. Espero que essa guerra tenha chegado ao fim. Que não haja mais
batalhas a serem travadas. Que finalmente encontremos paz. Depende só de mim.
Me sinto seguro. Como jamais estive. Isso me dá uma sensação muito boa. Foi
preciso passar por tudo que passei para chegar a esse ponto e perceber que o maior
barato é viver a vida como a levo, do jeito que gosto. A escrever, escrever e
escrever. Sonhando com uma publicação que não sei se virá ou não. Se verei
validade nela ou não. Não acho que o que escrevi é literatura, coisa de quem
domina realmente o português, mas foi o escriba que havia disponível no
Manicômio. Não havia outro. E não mais haverá, eu creio. Eu tenho muita
esperança disso. De não voltar a ser internado por conta de cola nunca mais.
Essa história já deu o que tinha que dar. E roubar o que tinha de me roubar.
Antes de pensar em imprimir, preciso abrir o jogo com as minhas amigas, eu
acho. Talvez não. Eventualmente essa história do livro vai chegar aos ouvidos
delas. Aí será o momento para a franqueza. Mas sem precipitações. Vamos deixar
as águas rolarem. Eu... tudo sempre eu. É o que tenho de objeto para descrever
e dissecar, me perdoem. É esse o meu ofício, é isso que venho fazendo desde que
acordei até o presente momento, 21h05. Tudo bem que houve interrupções, mas
estas me custaram no máximo duas horas. O resto do tempo foi aqui de frente
para o Word me dizendo e dizendo dos meus sonhos e acabei de entrar na oitava
página, então fico por aqui e vou para o Desabafos do Vate. Ou qualquer outro
canto que não o Profeta. Está bom para o coitado do leitor até aqui. Obrigado
pela atenção! :)
Nenhum comentário:
Postar um comentário