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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

ESVAZIAMENTO




17h50. Sinto que estou morrendo. Sei que a cada dia morro 24 horas, mas não falo disso, tampouco dos dentes que caem ou das dores do corpo, falo da morte de quem sou, da minha identidade, do esvaziamento do eu. Cada dia há mais nada em mim, fico mais oco, mais insensível, as vontades vão rareando e se tornando murchas, é como se o processo de demência começasse e o percebesse claramente por estar sempre tão atento a mim. Talvez seja isso, a demência avançando lenta e incessante, chegando mais cedo do que supunha, pois supunha viver coisas que ainda estão por vir com a alma plena. Alma me falta e com ela os sentimentos se embotam e isso me frustra, me assusta. Pode ser um sentimento ilusório que crio para me enganar ou mascarar coisa mais profunda e mais feia que a cara feia e velha da demência. Não sei, foi esse pensamento de que cada dia o que eu sou diminui que trouxe da terapia e que me trouxe até esse momento de pô-lo no papel eletrônico. Já pus. Preciso fumar e tomar Coca gelada. Talvez esteja apenas subnutrido e isso me traga apatia. Apatia: esse é o maior sintoma do que eu sinto. Por mais que tenha tido um momento intensamente luminoso quando senti por um lampejo o que julgo ser o sentimento de amor paternal pelo meu sobrinho mais velho. Foi muito forte e intenso, um empatia superior, uma admiração e um orgulho singulares, um afeto gigantesco e diferente de todos os afetos que já senti. Tão forte que assustador.

18h15. Não queria, entretanto, ter uma alma tão agitada e irrequieta quanto a da minha cunhada. Um eterno desassossego um perene desejo de estar em movimento, se ocupando. Não tenho essa urgência de viver, ou de viver em urgência, fujo disso, quero paz e mais do que paz quero amar. Prefiro a calmaria, mas odeio o tédio tanto quanto o estresse, minha sanidade está toda nas palavras, feitas mais de luz do que vento, como diria o poeta. Se pudesse agradeceria ao meu sobrinho por tudo o que me ensinou. Pensando bem, acho que não faz mal agradecê-lo por isso. Vamos ver para onde a minha (pouca) alma se inclina. Estou com medo de Blanka, desejo sua nudez logo no começo do encontro, pois acho convidativa e encorajante. Talvez ela fique desconfortável com o fato a priori, mas espero que se acostume rapidamente com a condição. Talvez se me fizer nu e mostrar a mediocridade do meu pênis pequenino e murcho, ela se sinta mais à vontade. É justo que exija a minha nudez em troca da sua, me verei sem alternativa senão aderir. Talvez não faça exigência alguma apenas se faça nua. Queria que ela sentisse necessidade de mim, que eu conseguisse criar essa necessidade nela. A verdade é que tudo me assusta, me tornei uma criança de 41 anos encolhida em seu quarto de brinquedos que escreve para se sentir válido. O que não deixa de ser irônico pois o que eu escrevo não vale nada para outro(a) além de mim. Minha mãe disse ontem que meu irmão é uma pessoa melhor do que eu. Tal colocação, por mais que concorde com ela, assim posta com todas as letras pela minha mãe, me fere. O que posso fazer senão aceitar e seguir sendo o pior dos três? A resposta é nada. Esse nada que me invade e me preenche e me domina. Esse nada que é como a noite chegando e engolindo o dia dos meus dias.

18h54. Voltei um pouco mais otimista levado pela felicidade da minha mãe e de Maria por terem meu irmão e família aqui. Felicidade que compartilho, mas que, me isolando aqui, desperdiço a oportunidade de usufruir. Mas por ora sinto a necessidade de estar aqui.

19h32. Fui convocado a chamar um Uber para a fantástica faxineira. Acho que vou tirar um cochilo para ver se ao despertar volto uma pessoa diferente da que foi dormir.

22h40. Acordei e todos já se retiraram. Tomei meus remédios e não sei se eles me darão sono ou fome, pois comi o restinho das linguiças toscanas fritas que deixaram para mim em cima do fogão. Não vi nada dentro da geladeira que parecesse comida para mim. Estou bebendo guaraná, a Coca acabou. Faith No More não está agradando, vou tentar minha sorte na roleta do modo aleatório do Spotify. The Cure, muito melhor. Vou zanzar pela internet enquanto há atividade no maravilhoso mundo dos bonecos.

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10h34. Acordei há algum tempo, mas só agora me sinto suficientemente desperto para escrever aqui. Minha alma continua meio desalinhada de mim e nesse desencontro não me sinto num todo bem. Alguma coisa me falta ou está em excesso. Acordei tendo em mente a comparação que mamãe fez entre eu e meu irmão, me marcou como ferro quente no gado, indelével. Se tivesse que fazer a escolha de Sofia mamãe não teria muita dúvida. Ou dúvida sequer. Não importa, eu mesmo já o sabia, meu irmão é uma pessoa iluminada, eu tenho meu lado negro, nigérrimo e um passado da mesma cor ou ausência completa desta. Ultimamente eu cometi alguns deslizes, meu irmão é antiderrapante, então não há nem como querer alcançá-lo, nem é do meu intento. Já foi, mas desisti. Cansei de me comparar a meu irmão, pois não há comparação. Ele é limpo, puro, eu sou sujo e impuro. E cada um que se aceite do jeito que é. E tente ser aceito do jeito que é.

11h43. Estou meio intrigado/chateado com o meu irmão, pois ele disse que não faz diferença para ele se eu for com ele deixar Maria em Natal ou não. Se a minha presença é indiferente para ele, que seja, vá sozinho. Hoje não estou de muito bom humor. Ademais, Maria disse uma coisa que faz sentido, eu me sentiria cansado para sair com Blanka na sexta. Acho que vou deixar de frescura e passar um tempo com a minha família na sala. Antes, entretanto, café e cigarro.

11h59. Não consegui. Olhei para a cena e não vi lugar para mim. Estava completa com a minha ausência. Não sei o que quero da vida hoje, tenho a alma agoniada. Talvez seja café em demasia. A pizzaria abriu, tenho que esperar minha mãe dar uma pausa na curtição com os sobrinhos para pedir-lhe o dinheiro para as Cocas. Terei que ir consertar o meu dente quebrado na dentista às 16h, preciso preparar a minha alma isso. Minha alma está amplamente desamparada, desmotivada e agoniada, estou desconfortável em ser nesse estado e nessas condições. Vou tentar me aproximar da família uma vez mais, não posso ficar aqui alimentando e remoendo angústias existenciais.

12h29. Fui à sala e deixei-me ficar observando aqueles seres existirem ocupados com o que se ocupavam e minha presença pouca diferença fez ou eu não quis me intrometer no que faziam, pois nada me interessava de fato. Peguei o dinheiro com a minha mãe para as Cocas. Falta-me ânimo para ir. Mas vou. Agora.

13h09. Cruzei com a minha tia-vizinha duas vezes nessa minha ida à pizzaria, achei que meu irmão me tratou com desdém, a verdade é que estou muito sensível a tudo o que tange o meu irmão depois do comentário da minha mãe. Mas acho que ele foi meio rude comigo. Por duas vezes já. O melhor é ficar aqui no quarto se sou tão dispensável para ele. Em todos os âmbitos da minha vida eu sou dispensável. Quase inconveniente. Ou deveras inconveniente. Sei lá e pouco se me dá. Aliás fere para caralho, mas eu suporto, se foi isso que escolhi e se é assim que encaram as minhas escolhas. Não quero conflito.

13h21. Respirei fundo e fui questionar se o meu irmão estava com raiva de mim, ou cansado de mim. Ele disse que não e que meu complexo de inferioridade estava ozzy. Me sinto melhor. Talvez a rudeza venha da sua exaustão, não de um enfado com a minha pessoa. De toda sorte não estou em paz comigo mesmo e não sei por que isso se dá. Pensei em dormir, mas lembrei que tenho a dentista logo mais. Eu estou com medo de encontrar com Blanka, me sinto muito distante dela, sem intimidade suficiente. Hoje estou trancado dentro de mim, avesso ao mundo e às pessoas. Estou como já disse agoniado, perturbado por algo que não tem, nome ou definição, ou causa que eu reconheça.

13h55. Hoje só estou dando bola fora, ofereci o meu quarto para a família do meu irmão dormir no ar condicionado e sem marteladas e minha oferta foi amplamente rejeitada. Que seja. E é. Sigo em frente, pois não há outra direção a seguir. O melhor é permanecer recluso aqui no quarto e não atrapalhar ninguém, pois a mim me parece que é a única utilidade que possuo. Não gosto de me sentir inútil, mas é exatamente o que sou. Acho que preciso de um filho para me sentir útil e verdadeiramente importante para alguém. Para sentir o que senti pelo meu sobrinho, no lapso supracitado, indefinidamente. Tenho medo. Já estou acostumado a ser inútil. É um sentimento forte demais o amor por um filho, assusta, intimida, me rouba de mim. Deixa para lá. Minha própria mãe rejeita a ideia de eu ser pai. Me acha incapaz disso. Sou realmente visto e posto como inútil. Dói, mas é muito mais fácil viver assim. Prefiro a vida fácil e a dor eu tiro no papel, já sofri dores colossalmente maiores, essa de não prestar para nada é café pequeno. Deveria estar celebrando, mas estou triste. Meu amado irmão está aqui com a sua amada família, vou ver Blanka provavelmente na sexta. O problema não está fora, mas dentro de mim. Acho que vou comer para ver se melhora. Sinto que meus sentimentos estão muito ligados ao que se passa no meu estômago e há dias não me alimento bem.

14h58. Comi e isso me deu vontade de dormir, mas está quase na hora de ir ao dentista. Saco. Vou tomar mais Coca e fumar mais um cigarro. Depois banho e dentista.

17h03. Voltei do dentista onde encontrei uma colega de CAPS e de internamento no Manicômio, altamente lentificada (ou dopada) de remédios. Vendo o estado dela, relembrando de todos os adultos com dificuldade de adequação à realidade tal como se dá, refleti sobre a minha atual situação e me vi muito bem. Meu problema era (e ainda é) que não gosto de ser adulto, das responsabilidades e obrigações e burocracias e hierarquias e estresses e pressões e cobranças que a vida adulta implica ou implicou para mim. Entretanto, precisava arrumar alguma forma de ganhar dinheiro sem me submeter a nada disso. Após tentar fugir da vida adulta e da depressão profunda me afundando na cola e tentativas de suicídio, depois de vários internamentos criei um histórico clínico que me permitiu pleitear e conseguir ser considerado civilmente incapaz, ou seja, me livrar de tudo que odiava em ser adulto e ainda ter direito a parte pensão do meu pai através da curatela. Com renda garantida e a certeza de que nunca mais me verei só no mundo, fiz do meu quarto o meu mundo e das palavras a minha ocupação. Tomo várias medicações, é verdade e também é verdade que elas têm os seus efeitos colaterais, mas não sofro mais, posso ser a eterna criança, com direito até a coleção de bonecos. Redescobri a felicidade de existir perdida na juventude. É claro que isso faz de mim uma pessoa esquisita que ocupa um lugar que não é facilmente compreensível para a sociedade, visto que é uma condição nova e singular para muitos, senão todos, essa de velha infância que vivo. E agora quero incluir na minha vida uma pessoa adorável e para lá de peculiar que minha mãe terá muita dificuldade, como demonstrou e demonstra, de aceitar que é Blanka. Minha psicóloga, Ju, quer tentar me fazer mais adulto respeitando as minhas limitações e fobias com essa condição, aliás, minto, acho que isso sou eu quem quer alcançar. Ela só quer que eu viva uma vida feliz da maneira que eu achar mais conveniente. O lado negativo é que carrego culpas enormes, que nem sempre são tão grandes e muitas vezes nem são verdadeiras. Ela quer acabar com esse autossadismo essa mania que eu tenho de me rebaixar e me ferir e me punir. Quando a noite é minha e todos dormem, as culpas dormem também. Por isso vou dormir agora para ter o máximo possível de madrugada para mim.

19h27. Me deparei com a minha limitada, pois a estou achando bastante limitada no momento, realidade e me veio misto de leve angústia e tédio. Vai ver que enquanto dormia sonhava com searas mais amplas. Pensei num microconto de ficção científica, mas estou com preguiça de transcrevê-lo. Tinha a ver com carros autônomos, viagem no tempo e choque de realidade. Vou contar. Vou não, não agora. Agora estou sem disposição de muita coisa. Só sei que não quero voltar a dormir. E agora que percebi que estou na quarta página. Não sei se a teoria da velha infância tem algum fundamento ou é só uma crença que tenho, de que aproveitei tudo de ruim que me aconteceu na vida e reverti a meu favor, toda a dor e sofrimento existencial transformados em liberdade do sistema em que estou inserido. Liberdade quase total, pois o sistema invade meu quarto-ilha pela internet, pela rede elétrica, pelos bonecos, pelas próprias paredes que me encerram do sistema, mas só entram as partes dele que me interessam. Só uso do sistema o que necessito e me apraz e raríssimas vezes o que outros necessitam que eu faça. Ninguém precisa de mim, à exceção da minha mãe, a manifestação inteligente do sistema que gerencia a minha vida. Criei um vínculo de dependência com ela. E ainda me dói ter ouvido que sou pior que o meu irmão. E sempre vou ser. Ou a parte do sempre em que eu existir organizado como esse ser que digita mazelas e amor para ninguém. Um idiota, tão idiota que ousa falar de sistema. Se falo preciso definir o que é sistema. Acho que sistema é o conjunto de ações, construções e invenções concretas e abstratas do formigueiro humano que chamamos de civilização. Inclusive dos ditos não-civilizados. Sei lá, entende?   

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

FATOS MISTURADOS COM FICÇÃO

O acaso-destino às vezes me fere os olhos e agride a alma. Tão dignos ou indignos quanto eu. Por quê?

22h32. Os filhos do meu irmão jogaram até agora há pouco PS3 aqui no quarto. Não consegui escrever e continuo com um profundo mau-humor. Descontei no meu irmão, coitado. Ninguém me merece e eu não mereço ninguém. Blanka não deu mais sinal de vida, minha mãe nutre um repúdio por ela que beira o ódio. Hoje mamãe me machucou bastante com as armas que eu mesmo entreguei a ela.

22h49. Abracei o meu irmão e pedi perdão, hoje foi um dia indispensável que não precisava ter existido. Percebi o quanto da minha independência tive de ceder para não odiar a vida. E hoje ela foi odiosa em tudo o que me importa. Magoar o meu irmão, onde já sei viu? Alguém que só quer meu bem e a quem só quero bem. Precisava botar um pouco dessa coisa preta dentro de mim para fora e palavras não eram suficientes. Não estão sendo nem serão. Ainda bem que vou encontrar com Ju na quinta. Estou sem sono a internet está uma merda e eu estou uma merda. O que pode acontecer a mais para foder com o meu ânimo? Vou comer para ver se me bate o sono.

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13h19. Meu irmão e sua trupe acaba de partir para Porto. Blanka me respondeu. Não sei se conseguiremos travar um diálogo hoje. Não queria encontrar o meu amigo da piscina. Gostaria que Blanka lesse o meu post anterior do Natal dos Barros e mesmo assim quisesse levar adiante a nossa história. Ainda estou na ressaca da raiva que senti ontem. Vou fumar.

13h50. Não sei o que acontece com mamãe. Com tudo se cansa, parece-me meio deprimida, contrariada com a vida. Certamente não está sentindo a felicidade que ter meu irmão e netos aqui deveria lhe proporcionar. Acho que vou dormir, não estou com paciência para as palavras ou para a internet ou para coisa alguma. Sinto-me eu mesmo cansado e sonolento. Acho que é falta de cafeína, mas não estou disposto a fazer café agora. Quando acordar. É, acho que vou deitar.

19h21. Fui ao supermercado com mamãe para que sacasse dinheiro e repuséssemos o estoque de Coca. Ansiei voltar ao meu quarto-ilha e me imaginar aqui ouvindo música, digitando, tomando Coca recém comprada no ar condicionado me fez sentir necessidade disso tudo e satisfação. Agora que estou aqui posso dizer que me sinto muito bem aqui, entretanto, preciso de mais um cigarro.

19h41. Estou com certo torpor mental, mas não muito. A raiva profunda e rubra que senti ontem agora é vestigial. Não gosto de guardar mágoas, são dos pesos emocionais mais desnecessários que conheço. As pessoas só estão tentando satisfazer os seus egos ou deixar a consciência mais leve. Nossa, já estou com vontade de fumar outro cigarro e repor a Coca. Vou esperar. Minha prima, irmã caçula do meu primo-irmão vai levar o meu Wii U para Sampa, não sei quando o verei novamente. Talvez nunca. E isso não me incomoda muito. Dei o meu Nintendo Switch para os meus sobrinhos hoje. Me incomodou menos ainda. Descobri que gosto dos meus sobrinhos, tenho afeto por eles, especialmente pelo mais velho, acho que vai ser o que vai sofrer mais na vida. Em dois minutos vou pegar Coca e fumar. A luz que mamãe mandou colocar no quarto-ilha melhorou muito a visualização do teclado, mas me desagradou por ser branca, fria, impessoal, hospitalar. Preferia amarelada, gosto quando o mundo assume tonalidades âmbar. Nada que não possa ser mudado quando da reforma.

20h16. Conversei com mamãe a respeito das minhas opiniões sobre a nova iluminação e ela disse que o eletricista ainda vem aqui e que compraria luzes amarelas para substituir essas.

20h24. Meu amigo da piscina me chamou para descer e conversar. Não tenho como dizer não. Ou me falta a dureza de coração para tanto.

22h12. Foi bom. Meu amigo da piscina chamou s Singularidade de ficção como Jules Verne. Quem me dera meu trabalho “A NOVÍSSIMA RELIGIÃO” aqueles doze tópicos e as condições em que me vieram o tornassem um clássico da ficção científica do século XI. A probabilidade de haver vida em outros planetas é grande e a probabilidade que evoluam a ponto de desenvolver tecnologia é grande. Me deu vontade, depois de uma série de pensamentos, de ouvir Landlady do U2, pelos motivos lembrados, emergiu da minha memória pedindo para ser tocada.

Pensando no universo, a dimensão tempo é a mais forte porque ela força as demais a se expandirem, metaforicamente como alguém sopra um balão e faz ele inflar e se dilatar, o espaço seria a superfície do balão, mesmo assim a matéria tende a se agrupar por afinidade química e quanto mais pesados grupamentos, com mais massa, também pelo efeito da gravidade. Por que elétrons orbitam os núcleos dos átomos, eu também não sei, sei que o universo tende à entropia e mesmo assim a matéria se organiza pelo acaso-destino de forma inteligente e complexa capaz de gerar formas de aproveitar de forma mais inteligente a energia, de forma a aproveitá-la da forma mais eficiente e produtiva possível. Eu tive outra viagem, quando entidades que se alimentam de luz através das suas peles vítreas, porém elásticas, imortais, decidem deixar de existir, eles vão para um quarto totalmente escuro e lá ficam até a energia do seu corpo acabar, o que lhe dá muito tempo para pensar sobre o assunto e mudar de ideia. Seria é bastante tedioso, talvez uma cama que drenasse energia e a consciência fosse cessando de existir, como cair no sono, só que nesse caso na inexistência. Os mais jovens correriam para fazer o upload das memórias visto que o ancião deve ter muitas experiências para repartir.

23h30. Acessar a consciência do ancião seria como despir a alma e vestir outra. Assim me parece ser o processo de reencarnação. O eu permanece mas todo o resto do ser está em branco quando nasce. Cada alma escolhe da forma que lhe parecer mais adequada ou que é capaz de se “vestir”. Mas e se for um processo aleatório, como aparenta ser? Embora haja padrões, o que significa que há organização em meio ao caos e se há organização há tendência à inteligência. Tudo o que está organizado pode ser compreendido dadas a inteligência e a experiência necessárias.

23h42. Tem vezes que eu acho que tenho a vida que pedi a Deus, exatamente como imaginei que seria. Blanka está inclusa nisso. Sabe qual é o seu problema, Blanka? Você foi acostumada a ter e depois foi privada disso o que tornou a sua qualidade de vida pior, de uma maneira que você não gostou, então você valoriza demais o deus dinheiro, a capacidade de ter, se submete a algo que talvez lhe agrade, talvez não para ter mais, prefere do que pedir aos pais, privados que são e mesmo assim proveem todo o necessário, mesmo assim quer poder ter futilidades e quer ter logo. É quase um vício. Fui longe agora. Saiba que eu lhe aceito assim se não vier querer extrair isso de mim. Acho que vou comer mais. FIM DA FICÇÃO?

Die-Cut Ghosts Night


0h05. Se tivesse que escolher três estátuas para ficar, ficava com o Hulk, a Harley Quinn provavelmente, se ela tiver saído como esperado, e a Die-Cut, que certamente sairá como esperado. Se fosse escolher cinco, eu pegava a Red Sonja e a Babydoll. Se tivesse que escolher sete, o Surfista Prateado faux bronze da Bowen e aí a próxima, eu fico na dúvida, entre a Chun Li ou a Hatsune Miku, mas em verdade acabei de ver uma que certamente levaria: o Man-Thing da Bowen, pra mim o Surfista é mais fraco que ele. Ele é perfeito. Incrível. Uma das mais preciosas será a Little Mei, por ser, além de rara, feita e produzida por um cara em casa, no Japão e será pintada por Daisy à mão e com pintura personalizada e cuja pintura do vestido eu vou pedir para que ela me surpreenda e se possível me maravilhe. “Surprise me. If possible, amaze me” é o que escreverei para ela em 2020 quando espero pedir a mamãe para pintar os dois últimos kits tenho lá, visto que já vou dar a entrada para ela das duas figuras que ela encomendou de artesãos chineses a serem lançadas no terceiro e quarto trimestres de 2019. Ela já gastou o dinheiro dela em meu nome, não posso dar o calote. Aí com essas duas encomendas já a ela e mamãe regulando o meu gasto com bonecos, merecidamente, não posso comprar nada de novo esse ano. A que vem no terceiro trimestre é a Die-Cut, a minha número dois, eu sou apaixonado pela figura, completamente apaixonado. O Hulk só fica em primeiro porque já é uma parte importante da minha vida e não para de me fascinar, sua sensação de movimento, muito difícil de transmitir em uma estátua que é a cabeça, os ombros e pequena parte do peitoral, portanto desmembrada, mas a mim parece que avança na direção que olha. Queria mantê-lo sempre nessa posição que está, mas se vier alguém conhecer o quarto, fica baixo para ver e de costas para quem entra, a não ser que seja uma criança, como pude perceber com os meus sobrinhos, que demonstraram pouco interesse pela obra que me causa tanto encanto com a sua anatomia totalmente irreal, mas que de alguma forma parece extremamente harmoniosa com o todo, para mim uma obra-prima, deram o trabalho perfeito ao escultor perfeito, visto que nenhuma dos seus outros bustos me impressionaram, seu estilo, nas minha opinião atingiu a expressão mais perfeita e adequada no Hulk. Não queria nunca mudá-lo daí e desta altura de onde olho, mas acho que vou fazê-lo, em prol do visitante. Mas vou colocar uma base que gira para colocá-lo na posição ideal para mim quando não houver visitantes. Enquanto escrevo olho longos estantes para a figura. Sabe a ideia louca que me deu? No display do Batman Branco (tomara, tomara que a MoAF não venha cobrar os descontos-mutreta que apliquei neles através de um defeito no seu sistema) colocar à sua frente, de um lado, a caveira-coração e do outro, o esquerdo, dois negócios de colocar vela, com uma preta e uma vermelha. Para parecer um altar meio satânico, ficaria muito escroto. Poderia pôr o cânio-coração em cima de um prato de sobremesa, acho que caberia, acho que vou fazer isso. Hahahaha. Ah, e botar a caixa de feitiços que meu padrasto sugeriu comprar para enviar com as estátuas de umbanda/quimbanda que vendia no eBay, mas para as quais o público desapareceu.




1h14. Fui fumar e me veio à cabeça que o melhor filme de ficção científica que eu já vi foi 2001: Uma Odisseia no Espaço, seguido por Matrix e Interestelar. E o meu gênero favorito é ficção científica, houve boas nessa década, que tratam de assuntos que me agradam, em especial quando fala de alguma inteligência artificial e mais especialmente quando trata de inteligências que não são do mal, mas até Terminator 5 me agrada e Matrix me agrada muito, só acho que nos fundiremos à máquina por vontade própria uma vez que tenhamos a possibilidade de experimentá-la. O homem é atraído pela tecnologia, bem, a maioria. Meu pai não era. Os Barros, homens, da geração deles não são ou eram, o mais ligado acho que é o meu terceiro tio, que mora em Natal, mas nem esse o é muito. Valorizar a tecnologia é desvalorizar o humano? Depende, eu acho. Experiências virtuais são alienantes? Ou desumanizantes? O que é a realidade? Não é aquilo que existe e tanto existe que é percebido por nós com os nossos limitados sentidos? Então tudo o que percebemos com os sentidos é real? Inclusive a realidade virtual cuja única materialidade que tem são pixels acesos numa tela, tudo o que existe é luz e som (na verdade um grande caminho, repleto de tecnologias e mão-de-obras de vários segmentos foi preciso ser percorrido e continua a ser para que esse mundo em cima do mundo se manifeste)? Eu acho que tudo o que existe é real, mesmo que em forma de código lido e gerado por máquinas movidas a eletricidade. Não acredito no além, mas acredito no inconsciente coletivo. Acho que já o acessei algumas vezes. Acho que já atingi o nirvana uma vez. Acho muita coisa, como podem perceber e o que busco é só receber todos os bonecos e uma namorada. E que meu quarto-ilha possa acolher todos eles de forma agradável. Quando penso em namorada só penso em Blanka. Mas é difícil ter esperanças a não ser que no dia 27 ela me seja recíproca. Se dia 27 houver. Dia 27 é hoje! Meu deus. Ainda bem que tenho Ju logo mais.

“01:54 - Hoje é dia 27. Você pega os resultados das provas e...? De toda sorte, que seja um dia bom de ser vivido por você. E por mim, por que não?”

1h55. Postei para Blanka. Vamos ver qual resposta virá, se alguma.

1h58. Nossa, pensei em um bocado de coisa agora mas estou com preguiça de escrever vou tentar sintetizar em pequenas frases: sobrinhos no mar Porto, poético, belo; um guioza frito por preferência da dama; não vou dar meu cartão pra você, Mário!; bonecos que levaram a isso, todos valeram a dura pena que espero que um dia se reverta, afinal, só tenho os meus kits para pintar. Posso fazer dois por ano, como presente de aniversário e Natal. Sei lá. Queria ter R$ 250, R$ 300 para sair com Blanka, quando motel ou restaurante, cinema com lanche, balada. Certamente vai ser muito mais barato que os bonecos. Tudo isso se a miúda muda vingar. Mamãe não a quer dentro do prédio, então nada de aniversário do meu irmão para ela. Nem para ela, nem para mim. É meu direito me ausentar em protesto. Nem sei se ela viria. Já disse que tem que trabalhar no dia 29. De qualquer forma virou uma impossibilidade por causa de mamãe. Nada posso fazer. Mas ao dia 27 eu tenho direito, será o meu presente de Natal que pedi a Blanka, que a priori concordou. Mas anda tão incomunicável que nem sei. Acho que dentro em breve vou dormir. Só escrevi ficção hoje, passei a noite no mundo dos sonhos.

2h33. É bom deixar a mente divagar. Me apetece. Lidar com o quase possível, o que está no limbo entre ilusão e realização. Ou o que nunca vai acontecer. Acho que mandarei uma mensagem de ano novo para o meu tio que afirmou que vamos publicar o livro, sim. Direi, “Tio amado, desejo um 2019 iluminado por mais que um período obscuro, de obscurantismo, desponte no horizonte”.

2h38. Estou tendo enorme prazer em viver esse momento, muito bem comigo mesmo, disse tudo o que queria, me sinto aliviado e leve. De bem com a vida, em paz. É bom ter momentos assim e deveriam ser mais frequentes que momentos de perturbação da alma. E é o que geralmente tem acontecido, as perturbações têm sido esparsas, por mais que tenha havido uma concentração de negatividade muito grande em mim dia 25. Foi um dia nocivo para mim. Me fez mal, odeio dias assim. Ainda bem que são extremamente raros. Tantas más notícias de uma vez só. Até raiva do meu irmão eu senti. Acho que a última vez que tive raiva dele depois da infância foi quando recebi o esporro da Coca nos Estados Unidos.

2h57. Vou acabar de comer o gelo para dormir. Eita, mas preciso comer alguma coisa antes de dormir para não levantar no meio da madrugada e ir quase sonambúlico comer. Sucrilhos com leite e Toddy. Boa noite, dia ou tarde. Ou um seguido do outro repetidas vezes.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

INFELIZ NATAL


Vários pensamentos surgiram e evaporaram no processo de publicação e divulgação do meu post anterior. Tudo o que quero hoje é ficar no meu quarto-ilha escrevendo e navegando na internet. Tudo o que preciso estou tentando conquistar ou está planejado. Adoraria que tudo corresse conforme os meus desejos. Mas a vida não é assim, eu tenho que a fazer assim e ainda há coisas que escapam ao meu poder. O que independe de mim é o que depende de terceiros. Eu só reino absoluto no quarto-ilha, aqui me sinto dono do mundo, do meu mundo, da parte que me cabe dele. Não preciso de mais espaços, eu espero. Afinal, todos os meus bonecos têm que caber aqui. Começo a duvidar se isso é possível. Penso em Blanka com certo desprendimento. O encontro do dia 27 vai ser crucial, se correr como o projeto. O do dia 29 seria crucial por outra razão, o encontro com a minha mãe. Se é que ela vai descer. Não tenho muito o que dizer, não encontro nada em mim que precise ser verbalizado. Temo que minha mãe tente impedir tais encontros. Ela demonstrou essa intenção. Ela não tem o direito. Eu quero fazer uma coisa que deixaria essa noite mais interessante. Acho que vou fumar um cigarro. Olhar os dedos da Little Mermaid quebrados é um tanto desolador, espero que a Gatinha opere a sua mágica. Espero tanto quanto que eu e Blanka rompamos o bloqueio do toque no dia 27.

20h59. Sou outro do que deixou essa cadeira para fumar. Isso é bastante interessante. Tive pensamentos romântico-calientes com Blanka. Não vai se dar dessa forma, creio. Pensar nisso me incomoda um pouco agora. Por isso fizemos a combinação no encontro anterior. Para que incômodos como esse tenham menor probabilidade de emergir. Penso em levar o computador para escrever enquanto ela dorme. Talvez compre o Viagra, só por via das dúvidas. Às vejo acho que achamos ou o acaso-destino nos ofereceu o companheiro perfeito um para o outro.

21h07. Pensei na festa do meu irmão agora com um misto de vergonha e prazer com a ideia. Nem incluí Blanka ou mamãe na equação. Mas quando as incluo não consigo prever o resultado. Não faço a mínima ideia. Acho que vou pedir a mamãe os remédios, comer e ir dormir. Não. Internet primeiro.

21h16. Vi o anjo “Querumbeck” na frente da prefeitura capixaba. Me indaguei como tais coisas viralizam. Já me sugeriram o YouTube ao invés do blog. Não me vejo nesse papel. Seria ainda mais tedioso para o público. Até que adquirisse desenvoltura para falar sem ler, nossa, acho até impossível isso acontecer. Aliás, o eu de agora repudia a ideia de me tornar “youtuber”. Prefiro blogueiro fracassado mesmo, me sinto mais realizado e me dá muito mais prazer me escrever do que me dizer. “Feita mais de luz que de vento, palavra”. Se bem que com Blanka me narrei bastante, fui bastante eloquente. Nossa, agora estou com medo do nosso encontro no dia 27. Sei que isso vai passar, há quatro dias para me acostumar. Será que as mulheres têm o desejo inato de terem suas vaginas preenchidas por algo, será que há um interesse inato pelo pênis? Não sei nem nunca vou saber, o que sei é que os órgãos sexuais sempre despertaram a minha curiosidade, desde pequeno. Vou fumar um cigarro.

22h06. Já tomei os remédios. Eu poderia ficar com mamãe enquanto ela cozinha, me limito a fazer um pouco isso a cada Coca que pego e cigarro que fumo. A internet voltou ao seu normal vigor. Ou pelo menos não está insuportavelmente lenta. Isso é bom. Melhor seria beber esse copo de Coca e ir dormir.

22h11. Já está tarde, preciso do cigarro saideiro para ir dormir. E precisarei acordar cedo para ir ao Natal dos Gonçalves, que pretendo narrar ainda nesse blog. Eu não narrei propriamente o dos Barros, mas não era o que o eu que chegou em casa ontem pedia. A probabilidade de as bonecas não chegarem quebradas de forma irrecuperável soltas dentro de uma mala é pequena. Acho que a chance de sucesso aumenta se forem envoltas em roupas e se as partes soltas venham num “tapauer” acolchoadas por esponja dentro da minha mochila. Percebi que mãos são especialmente frágeis.

22h29. Passei menos tempo com mamãe, fui me despedir dizendo que iria dormir agora, mas não sinto sono. Entretanto, acho que se deitar na cama adormeço. As mãos de Blanka são lindas, macias e seu carinho é delicado, quase um não tocar. Isso me agrada sobremaneira. A primeira vez que toco a pessoa desejada costuma ser a mais apaixonada e aproveitada de todas, a rotina diminui isso. Eu acho, nem lembro. Com cada namorada aconteceu de forma diferente, eu acho. As poucas namoradas. Já preciso fumar outro cigarro com Coca, aí nem volto para cá, vou direto me deitar.

2h43. Não consegui dormir até agora. Vou fazer isso agora.

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0h41. Nem todos chegam lá. Poucos são os que se contentam com o que têm e geralmente os quem têm menos são os mais contentes. Eu cheguei lá, se conseguir consolidar uma relação com Blanka. É difícil e contra todas as expectativas, mas não é impossível. Eu já flertei muito com o impossível e sei que cara tem. Eu chegarei lá, ou irei além de lá se eu e Blanka quisermos um ao outro, se fizer sentindo para ambos ficarmos juntos. Isso ainda não descobrimos. Mas falo que Blanka é para além de lá porque sou contente com o que tenho e estou mais em paz com o que sou. Já aprendi a viver sem dar e receber o carinho de uma mulher, por mais que esse vazio se faça.

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7h05. Acordei de 3h30 e não consegui mais dormir, mergulhei no maravilhoso mundo dos bonecos e lá fiquei até agora. Fiz uma pesquisa para Daisy da YetiArt, o ateliê chinês onde mando pintar meus kits, a respeito do valor de moedas de réis brasileiras, depois ela me contou que foi porque comprou uma faca que vinha decorada com duas moedas de réis. Fui fumar e botei um café para fazer, a Coca está acabando. Estou com bonecas na cabeça. O receio que tenho é de que não caibam no meu quarto. Espero que a arquiteta dê um jeito nisso, tenho esperanças. A minha caveira-coração já está na alfândega brasileira. Deve vir algum custo alfandegário para eu pagar. Queria dividir meu quarto no que tange as bonecas em secções: Batman, bonecos de 1/4 e 1/5 homens (poderia haver uma de monstros), bonecas de 1/4 [MB1] femininas, toy art mais videogames e minha coleção de PVC. Fora os meus CDs, filmes, games, livros, HQs e pôsteres. Acho que quero demais. Eu sempre quero demais. Acho a tarefa difícil, mas não impossível. Não tenho tantos bonecos grandes assim. Também não tenho poucos, sou um colecionador nível médio, pelo menos é o que posso aferir olhando as coleções de outros membros da comunidade. E o que vem para Recife fica, pois as caixas são jogadas fora, não há como vender ou enviar. Dos três bonecos que o meu irmão trouxe, as duas mais importantes vieram quebradas nos lugares mais improváveis, o que é melhor do que os prováveis. Espero que a Gatinha dê um jeito, só acredito nela para consertar as peças. Vou tomar um café com cigarro.

7h38. Ontem foi o Natal dos Gonçalves, minha família materna. Foi alegre, interagi o que pude e até almocei um pouco. Minha mãe me perguntou a diferença entre o Natal dos Barros e aquele, não soube o que dizer, pois os vejo cada vez mais parecidos, o mesmo distanciamento ou aproximação cada dia mais se equivalem, o carinho que tenho por ambas as famílias cada vez mais se equipara. Curioso sentir isso acontecer e um tanto triste pelo lado dos Barros, embora lá ainda me coloque e troque mais abertamente que com os Gonçalves. Lá, Blanka foi aceita, inclusive por meu primo-irmão e meu irmão que sabem de toda a história.

9h50. Minha mãe acordou e me disse que cancelou o meu cartão de crédito e que não aceitaria Blanka tal como é. Ou seja, arruinou meus sonhos de ter o quarto que sempre desejei e de ter a garota que se adequa perfeitamente às minhas necessidades atuais. Começou bem o meu dia, né? Arruinou minhas fontes de felicidade de uma patada só. O que ela não sabe é que o cartão dela é o secundário tanto na Sideshow quanto no PayPal e não tive coragem de lhe dizer. Estou me sentindo muito para baixo. Quero muito ter esse pernoite com Blanka, mas só posso tê-la se tiver dinheiro e só tenho dinheiro se mamãe me provier. Não sei se vai fazê-lo. Nossa, não imaginaria nunca que a curatela me traria até esse momento de sepultar os meus desejos mais queridos. Vida de merda. Tudo por causa da minha fobia ao estresse do trabalho. Por isso sofro esses abusos de autoridade. Concordo que o cartão veio alto esse mês. Não virá nos subsequentes, pelo menos não tão alto. Acredito que, no máximo, metade do que veio esse mês. Só falta o truque do MoAF que apliquei três vezes não funcionar. Mesmo assim não vai chegar ao valor desse mês. Não sei o que fazer da minha vida agora. Ouvindo U2 Songs Of Experience. Costumava me lembrar a liberdade que eu tenho, mas hoje fui amplamente tolhido dela. Só me restam as palavras, isso é muito pouco. Só isso até o final dos meus dias? Quando pensei que a minha felicidade estava se encaminhando para a sua completude, minha mãe ceifa tudo. Caralho nem as palavras eu tenho, minha mãe entrou no quarto e me censurou com chantagem emocional.

12h14. Estou com a cabeça mais fria, conversei mais calmamente com mamãe e chegamos a um entendimento, pelo que entendi, manterá o seu cartão até março e me dará dinheiro para sair com Blanka no dia 27. O meio-termo. Mesmo assim me sinto mal, ainda há raiva e frustração dentro de mim. É certo que gastei excessivamente durante a Black Friday, é certo que Blanka tem peculiaridades que desagradariam qualquer sogra do mundo. O que acho equivocadas são medidas extremas sem uma conversa ao menos. Tudo me foi imposto goela abaixo logo que mamãe acordou. Aliás já me veio com o cartão cancelado. Mal sabe ela que estava tratando com Ju justamente em assumir o controle que admiti ter perdido durante a Black Friday e em como com autocontrole se conquista mais liberdade. E que sentia prazer em reassumir o controle, me dava uma sensação de empoderamento, admitir que passei dos limites e restabelecê-los. Quanto a Blanka, eu e Ju conversamos que tivemos um começo bastante complicado e que a gente tem que viver para ver se vale a pena para ambos essa relação que se constrói. Não posso construí-la sozinho, nem estou disposto a isso. Meu irmão deu com a língua nos dentes a respeito do celular e fodeu a mim e a Blanka de verde e amarelo com mamãe. Esse dia de Natal está sendo uma merda. Só porrada, o acaso-destino tirando onda e botando para foder em mim, eu mereço, nada é imerecido e tudo veio de uma vez. Que seja. É a vida e segue. Mandei para Blanka o link do post anterior, no qual lhe dou a alternativa de desistir de mim, se lhe for mais conveniente. Nossa, me sinto muito mal. Acho que voltarei à solidão hoje, se é para tudo dar errado, que dê tudo de uma vez. Colho o que semeei e fico de mãos vazias em relação ao que não consegui cultivar, o afeto de Blanka. É a vida e segue até que um dia essa condição inútil para com a minha morte. Não me importaria de morrer hoje. Odeio sofrimento e estou sofrendo. Foda-se tudo, foda-se eu. Vou fumar um cigarro com Coca e me deitar ou ir comprar a porra das Cocas e os sorvetes. Caralho, estava numa paz tão grande, me sentindo bem. É nenhuma. Foda-se. Seja lá a porra como a porra for.

12h55. Nossa, como estou transtornado, não sei como voltar ao meu equilíbrio. O tempo é senhor de todas as coisas. Pelo visto o estigma que carrego é maior do que imaginava, meu irmão contar da buceta do celular por achar que eu não estava agindo como uma pessoa normal, mas sim como um doente. Ou sei lá por que caralho de motivo me deixa ainda mais puto. Me faz pensar que realmente somos todos egoístas até a medula, meu irmão preferiu satisfazer seu ego e o da minha mãe. É justo entre o santo e sua mãe ou o doente fracassado e a puta quem é a dupla mais merecedora de ter os egos saciados? Não há sombra de dúvida. E eu repito, foda-se, o tempo há de me tirar desse estado. Fazia tempo que não ficava tão injuriado. Que sentimento nojento e desprezível e como me envenena. Me seduz com seus olhos de serpente. Foda-se. Foda-se. Foda-se. E ainda vou ter que ir comprar sorvete, caralho. Foda-se. Vou comprar esse caralho de buceta de sorvete.

13h55. Os supermercados estavam fechados, só havia a loja de conveniência do posto e o sistema estava fora, então foi bom mamãe me dar em dinheiro, pois cartões não eram aceitos. Comprei as porras dos sorvetes e os refrigerantes. Minha mãe disse que meu irmão falou do celular sem querer. Há muito tempo já. Atos falhos, sei bem o que significam. Foda-se. Essa raiva não dura para sempre. Só não quer passar. Dá vontade até de dormir para ver se melhora. Eu estou com uma agressividade dentro de mim que desconhecia. Não gosto de quem sou no momento. Acho que muitos botões negativos foram apertados ao mesmo tempo hoje. Muitas frustrações e agressões. Todas merecidas, talvez isso seja o que mais doa, estar errado. Mas comprei a merda do celular com o dinheiro obtido através das vendas do eBay. E a porra da Blanka não dá sinal de vida. Nossa, estou muito exasperado, a raiva é corrosiva e parece que inebria, infecta a alma e a deixa encarnada, os nervos à flor da pele, para eu mandar tomar no cu falta uma gota. Por mim passava essa porra de Natal no meu quarto, não quero ver ninguém, pois sei que estou um poço de negatividade. A vontade é de gritar e humilhar alguém. É uma vontade negra e amaldiçoada, por isso preferiria me ausentar, para não maltratar ninguém. Destratar ninguém.

14h18. Acabei de ser sarcástico com Blanka. Porra, que desprezo do caralho. Puta que o pariu. Quem falar comigo hoje, neste estado emocional em que me encontro, é bem passível de ouvir algo desagradável. Ninguém merece isso. Eu sei o quanto é ruim, já passei por isso mais vezes do que gostaria. Decidi. Vou fumar um cigarro e me deitar.

17h37. Acordei, mas ainda estou ressabiado, incrível. Nada de Blanka até agora, acabo de ver. Não consegui falar com o meu irmão adequadamente. Não falei com ninguém a não ser com a minha cunhada. Os meninos assistem TV na sala, ignorantes de que ganharão o Nintendo Switch. Será o único lado bom do meu dia. Queria não carregar esse ressentimento no peito, mas ele insistiu em não me abandonar. Preciso de outro cigarro. Aparentemente mamãe nada disse sobre o motivo do meu comportamento pouco afetuoso. Toca Orange Sky a música que meu irmão dedicou a nós três, irmãos. Quando será que as palhaçadas e brincadeiras de pais perdem a graça para os filhos? Se é que perdem.

18h50. Os meninos, os dois filhos mais novos do meu irmão, em breve estarão jogando Minecraft aqui no meu PS3. Mal sabem que ganharão o Nintendo Switch. Nossa, meu astral ainda está ruim. Blanka também não deu notícias, talvez a carta lhe oferecendo liberdade do nosso compromisso tenha dado a ela a oportunidade de que precisava para me abandonar, sei lá. Do futuro sei tão pouco, nunca esperaria a carga pesada que recebi hoje de manhã, meu peito ainda está dorido. Mas já entrei na quinta página. Vou revisar e postar. Que venha o que o acaso-destino trouxer.


terça-feira, 4 de dezembro de 2018

NECA, BLANKA E DAISY


6h50. Estou preocupado com Blanka e sua mãe. Ela ficou de me mandar notícias assim que a mãe voltasse da operação e ainda não o fez. A operação estava marcada para 15h de ontem e era simples, segundo ela. Não sei o que pensar.

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21h19. Estava nauseado, passei o dia inteiro assim e até tentei induzir o vômito durante o banho para ir a Ju, que não veio, até que mamãe me deu há alguns minutos um milagroso remédio com gosto de cereja. Também estava com o corpo mole e ainda estou, mas já fiquei muito tempo deitado e ainda mais tempo sem escrever. Cruzei com Seu Hélio quando voltava de Ju, e ele me pareceu muito mais enrugado que da última vez que o vi, pensei comigo que o tempo é lento e gracioso no início e veloz e cruel no final. Antes de Ju, conheci um serzinho muito especial, resultado das minhas andanças pelo Tinder, Neca, uma garota de 18 anos que encontrei na pizzaria em frente de casa mesmo, onde havia ido comprar Coca, tudo o que consumimos lá, visto que não tinha dinheiro para pagar-lhe uma pizza. A conversa foi boa, aprendi um pouco sobre candomblé e a sua diferença para a umbanda e ainda mais para a quimbanda. Mencionei que antigamente vendia bonecos da religião para os gringos no eBay, mas que o mercado minguou de forma inexplicável e desisti da empreitada. Falei um pouco sobre a minha vida, sobre a festa de 15 anos da minha prima caçula, das internações, da curatela e essas peculiaridades que há na minha vida. Ela ouviu a tudo e concluiu, apesar desse tudo, que eu era uma pessoa boa, que deveria me amar mais. Mas disse que eu era sum ser bonito e levantou a minha bola. Foi um encontro feliz para ambos eu creio. Curiosamente, enquanto esperava o Uber de Neca chegar, Blanka finalmente contatou-se comigo, justificou seu desaparecimento por conta do celular e que estava se conectando comigo através do da mãe. Disse que voltaria a se comunicar à tarde e não o fez até o presente momento. Não sei o que pensar, o que intuir do seu comportamento. Sinto-me desrespeitado, isso é fato. Sinto que ela não nutre nenhuma preocupação comigo, portanto, nenhum afeto. Sinto que só se fará mais presente após o dia 22 por uma razão que me desagrada, mas é quando a janela de tempo se abre para romper a couraça e construir algum afeto. Não sei se serei bem-sucedido. Gostaria muito de ser. Acho que é possível alcançar a alma boa que tem. Que eu acredito que tenha. Ela parece estar online no Instagram e não me manda notícia sequer. Sempre há a possibilidade de a namorada estar lá. Mas não resisti e mandei uma pergunta a ela. Foda-se também, disse que ia falar comigo à tarde. Toda vez que diz “já, já” demora mais de um dia para responder. Isso é desrespeito. Se não pode cumprir não promete. Estou com raiva agora. Não gosto do sentimento e não gosto de tê-lo causado por Blanka, disso é o que menos gosto. Vou fumar um cigarro para desopilar. O enjoo está voltando. Quando mamãe e meu padrasto forem dormir, vou induzir o vômito de novo. Acho que só botando para fora o que quer que seja eu ficarei aliviado. Prometi a Neca lhe passar o endereço desse blog, mas acho que só devo fazer isso escrevendo um post em que ela apareça. Não é todo dia que alguém me compara com o anjo, palavra que só vejo bem aplicada se relacionada a meu irmão. Falei do meu irmão para Neca, do ser iluminado que é e de como se sinto pequeno em todos os sentidos perto dele. Ela disse que eu não devo me comparar a ninguém, mas hábitos são difíceis de morrer, por mais que eu tenha chegado à conclusão, no meu segundo livro, que nunca vai ser publicado, de que eu sou assim e ninguém tem nada com isso. Infelizmente às vezes tal convicção me abandona e recaio em velhos comportamentos.

23h03. Me deixei perder no maravilhoso mundo dos bonecos para ver se desanuviava da falta de comunicação de Blanka. Resultou na seguinte mensagem, que não sei quando ela lerá:

22:59 - Você não pode imaginar como se comprometer a falar comigo e não fazer me deixa ansioso e desapontado contigo...

23h05. Infelizmente Neca, apesar de ser um amor de pessoa, não faz meu tipo (nem eu creio que faça o tipo dela), Blanka é a minha aposta para um relacionamento aberto e a alagoana para uma semana de curtição. Queria usufruir das duas dessa maneira, mas sou escravo da disponibilidade e do interesse delas. Da alagoana não sei, me pareceu indecisa sobre a minha proposta mas disse que tentaria me contatar quando o “boy” viajasse (pois é, há um “boy” na jogada, eu só arrumo coisa complicada). Confesso ainda estar com raiva de Blanka. Ela poderia se comunicar agora à noite comigo. Não é possível que sua mãe tarde tanto a dormir. Lembro que disse que o pai as visitava no hospital e ficava até as 23h, então há ainda uma réstia de esperança em mim. Minha esperança não raro me machuca, especialmente com garotas. Não sei se quero mais do que devo ou mereço, mas creio que não. Sei que primo por garotas jovens, a juventude me atrai sobremaneira, como já disse e redisse aqui. Nunca sairia com uma mulher da minha idade, me sentiria inseguro, com medo mesmo e não me excitaria. Acompanhar uma ninfa envelhecer ao meu lado me parece uma ideia muito mais agradável e honestamente bem-vinda. Conversei com Ju sobre as minhas inseguranças e desconfianças a respeito de Blanka, sobre supor que nem tudo que ela diz é verdade. Não sou de guardar mágoas, mas fico magoado com a desatenção e o desprezo. Quem é que não fica? Especialmente vindos da pessoa com quem se quer construir um complicadíssimo relacionamento? Eu sei que sempre estarei em segundo lugar, mas nem sei se esse posto agora me pertence, eu pareço não pertencer de fato à vida dela, se o faço é como uma obrigação ou problema. Ainda há a história de ter provas até o dia 17 de dezembro, bem dizer em cima do Natal dos Barros, o que significa, em teoria, que não poderemos nos ver antes. Queria encontrá-la pelo menos uma vez antes do evento para tentar ter vínculos um pouco mais fortes, mais íntimos, sermos menos desconhecidos. Os remédios da noite, que já tomei, começam a me dar a larica noturna. Hoje resistirei, pois sinto ainda leve enjoo e acho uma experiência detestável vomitar sólidos, se for para vomitar que vomite líquidos apenas. Não estou com muita vontade ou cabeça, ou conteúdo para escrever. Acho que vou fumar um cigarro, repor a Coca e viajar mais um pouco pelo maravilhoso mundo dos bonecos, sempre atraente, sempre uma sadia distração, desde que não gaste nada. Vou lá. O encontro com Neca ainda encontra eco na minha cabeça. Vou fumar o meu penúltimo Marlboro.

23h38. Fumei e resolvi voltar para cá. Espero que Blanka vá ao Natal dos Barros ao menos e que seja bem acolhida lá. Seria também nos 15 anos, mas a vida complicou tudo. Ela nada me respondeu no Instagram, embora a sua foto esteja com a bolinha verde. Isso me põe bastante chateado. Não sei lidar com garotas, não sei esperar e às vezes acho que espero demais. Acho que espero demais de Blanka, talvez o que eu deseje ela não possa oferecer, embora tenha dito que poderia, que estava disposta e disponível a isso. Quero ver quando e se entrar em contato comigo, o que ela vai dar como justificativa. Sempre há uma. E cada vez menos creio nelas. Talvez o melhor fosse desistir, mas algo em mim insiste. Está decidido, se ela não puder ir ao Natal dos Barros eu acabo o que nem sequer chegou a começar. Não gosto de me sentir ludibriado e esse é o sentimento mais recorrente na nossa relação. Caso haja o encontro no dia 22 vou cobrar dela que nem mentiras grandes nem miúdas têm espaço na nossa relação. Que ela precisa se desabituar delas, pelo menos quando tratar comigo. Sei que estou sendo repetitivo, mas esse blog tem muito a função de desabafo. Então o faço. Vou para o mundo dos bonecos guardando ainda uma esperança de comunicação dela pelo Tinder.

5h06. Passei esse tempo todo mergulhado no maravilhoso mundo dos bonecos. Coincidentemente, Daisy da YetiArt, o ateliê chinês que tem três figuras minhas para serem montadas e pintadas, entrou em contato comigo, dizendo que no terceiro quarto desse ano teria brecha para pintar uma das minhas figuras, se eu desse a entrada agora. Estou esperando o invoice, vai ser o meu presente de Natal e aniversário para mim mesmo.

5h14. Vou fumar e vou dormir.

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12h39. Tico e Teco ainda estão meio desencontrados. Não sei como minha mãe vai processar esse gasto extra da pintura do meu kit, mas o tempo é senhor de tudo. Se a ira vier, ela há de passar, como tudo passa nessa vida. Vou tomar mais café e fumar mais um cigarro.

12h51. Estou de volta. Neca me vem à cabeça, é tão bom encontrar alguém que me dá valor, que vê coisas boas em mim. Faz bem para a alma, eleva o espírito e me faz sentir mais válido no mundo. Há coisas nessa vida que o dinheiro não compra, que a vida oferece de graça. Ou rouba. Certamente a reação de mamãe ao saber do valor do cartão vai me roubar a paz e a tranquilidade. Só de projetar a sua reação já me sinto desconfortável e intranquilo. Mas acho que suportar toda a sua ira e ter a minha coleção completa vale a pena. Só há figuras maravilhosas, do meu ponto de vista, na coleção. Meu quarto se transformará num pequeno e aconchegante museu, ou assim espero. Esse é o meu sonho, pelo menos. Sobre Daisy e a YetiArt, pretendo mandar pintar uma figura por ano, pois a pintura customizada é algo caro, das coisas mais caras que há no maravilhoso mundo dos bonecos. Blanka ainda não deu sinal de vida e isso machuca. Tentarei entender as limitações que a impedem, se me parecerem plausíveis. Sei que não posso exigir de ninguém receber a atenção que estou disposto a dar. Eu tenho muito tempo livre, tenho-o quase todo para mim, não estou com a minha mãe no hospital nem com o celular quebrado.

15h34. Blanka se comunicou comigo, conversamos e conversaremos mais quando ela acabar de lavar as roupas. Ela sonha em conhecer a minha casa. Isso é bom. Mostra que ela pensa em algo a longo prazo. Falei da alagoana e ela perguntou se isso mudava algo entre nós, eu disse que não, que por ela eu tinha afeto e pela alagoana era algo meramente sexual.

19h21. Conversei com Blanka até agora e combinamos de ter outro encontro antes do dia 22, provavelmente no sábado, dia 15, após o trabalho dela. Se ela arrumar alguém para ficar com a mãe, talvez logo nesse próximo sábado. Quem me dera, por mais que me dê medo, um frio na barriga, parece algo forçado para ela, eu sinto. Precisamos quebrar essa barreira, entretanto. Esse é o momento em que desacredito de toda a construção que fiz. Não posso desanimar quando chega a hora de colher os frutos. É idiota, para dizer o mínimo. O mais difícil eu já fiz.

19h42. Eis o que mandei para ela há alguns minutos:

“19:34 - Esse nosso encontro me deixa com um turbilhão de sentimentos: ansiedade, excitação, curiosidade, vergonha, receio, esperança, uma salada mista emocional. Hahaha.”

E a terceira página acabou e eu vou ter que lidar com esse turbilhão de sentimentos e encarar o desafio de construir afeto, de ultrapassar a couraça emocional que Blanka veste. Vou fumar, pegar Coca, revisar e postar. E me preparar para o esporro da minha mãe quando vir a conta do cartão. Nossa, fortes emoções hoje.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

RESSIGNIFICAÇÃO DO EU



[16:59, 11/15/2018] Primo-irmão: Os problemas: 1) você é adicto, o que implica dizer que apesar de você se encontrar em abstinência, você pode reativar a adicção - vide as vezes em que recaiu na cola depois de passar um tempo bebendo (baile do Chapolin); 2) você é curatelado, o que faz com que você não responda legalmente por si no caso de algo acontecer com você, sendo essa responsabilidade delegada à sua cuidadora (mãe)
[16:59, 11/15/2018] Primo-irmão: São esses os problemas reais
[17:00, 11/15/2018] Primo-irmão: Ou seja, não me refiro ao relacionamento com a garota, pois acho isso saudável. Me refiro à essa autonomia que você almeja que inclui a bebida no meio, saca?
[17:14, 11/15/2018] Mário Barros: Entendo. E diria que o estigma de adicto está hoje muito mais na cabeça dos que me cercam que na minha. E nunca cheirei cola por causa de birita. Você deve estar confundindo as bolas. O processo da cola é todo outro. Não vou nunca pôr os pés num armazém, por exemplo, pois isso me traz memórias eufóricas, da mesma forma nunca vou beber em Boa Viagem porque Boa Viagem me lembra crack. Há coisas a evitar, mas creio que tivemos uma noite tranquila e sem intercorrências no último sábado. Sei que para conquistar a confiança com a história de vida que eu tenho fazendo sombra e assombrando vai ser difícil. Até você que tem a mente aberta tem dificuldade em acatar o meu reposicionamento social. Como disse vou seguir com segurança e tranquilidade, plantando coisas boas para colhê-las quando a época da colheita se fizer.
[17:18, 11/15/2018] Mário Barros: Me sinto mais maduro e mais seguro comigo mesmo do que jamais estive. Estou aprendendo a me respeitar e me dar ao respeito, é um processo que está sendo mais doloroso do que supunha, mas aceito a dor, ela vai passar e ficar no passado como todas as dores muito maiores que já passei.
[17:19, 11/15/2018] Mário Barros: O que é bom permanecerá, as conquistas são para a vida.

17h40. Hoje tive, além desse debate, outro com a minha mãe, inclusive incluindo Blanka e me confesso emocionalmente abatido. São batalhas que têm que ser travadas, para me colocar no mundo da forma que eu acho válida e que é estranha aos demais por ser nova, mais autônoma e confiante. Não tenho medo, acredito nas minhas escolhas e estou seguro delas. Aos poucos, à revelia, contragosto e estranhamento de muitos eu vou delimitando o meu novo espaço, o espaço que quero agora ocupar. É um processo lento e sofrido, de conflitos e contestações, mas que estou disposto a enfrentar. A impressão é de que as pessoas ao meu redor julgam ter mais certeza a respeito do que sou do que eu mesmo. E tentam me enquadrar num molde que não reconheço mais como meu. Ao meu lado, por ora, apenas Ju. Mamãe, tenho certeza, nutre preconceito em relação a ela, pois eu estou deixando de ser a pessoa encolhida em mim mesmo e abrindo as minhas asas, me permitindo o novo, deixando mais vida entrar na minha alma. Nesse processo é necessário dizer o que ninguém gosta de ouvir: não. O “não” se faz necessário para estabelecer os limites do novo eu. Minha mãe é a que mais sofre com a transformação, acomodada que estava com o Mário “só sins”. Ela tenta me coagir esfregando na minha cara que é minha curadora, mas muita calma aí, ser curatelado não significa ser escravo das vontades e expectativas alheias. Se há vontades e expectativas que eu tenho que perseguir são as minhas. Como serei feliz de outra forma, como me sentirei um indivíduo independente de outra forma? É fato que nunca serei um indivíduo independente como um todo por causa da minha condição jurídica de incapaz civil, porém posso ser mais independente do que sou e sinto necessidade disso. Falo isso e a criança dentro de mim fica com medo, teme sair da zona de conforto. Mas já saí dela com Blanka ou com o Tinder antes disso ou com o porre na Vila Edna. Extrapolei limites inesperados para os demais. Alarguei as minhas possibilidades. Meu primo-irmão me ofereceu um alento agora.

[17:34, 11/15/2018] Primo-irmão: Entendo. E apesar de não confiar, eu aposto algumas fichas
[18:34, 11/15/2018] Mário Barros: Eu também te entendo e essas poucas fichas são valiosíssimas para mim. O sentimento que tenho por cada uma delas é de gratidão. Por apostar que eu posso me ressignificar e sair do lugar em que me coloquei por tempo demais. A mudança de postura gera desconforto natural nos demais, pois o novo é imprevisível, repleto de incertezas. Mas sei que o que eu busco é o melhor para mim, não estava preparado para a resistência dos que me cercam, mas compreendo e seguirei da forma mais pacífica que posso de maneira a amenizar ao máximo tais conflitos, embora certo de que eles vão haver. Você bem sabe que quando uma pessoa assume um novo papel social, todos ao redor são obrigados a se readequar também para que o novo papel possa ser exercido em sua plenitude. Não busco grandes revoluções, mas elas são hiperdimensionadas aos olhos alheios pelo nigérrimo passado que possuo. Perseverança e calma são as palavras de ordem agora, eu creio. Tentar entender o outro para que ele possa me entender. Novamente obrigado pelas fichas, espero que sejam as primeiras de muitas. Agora, vá curtir a vida, amado primo!

18h40. Uma oportunidade de um evento surgiu e não sei o que esperar a respeito dele. Fui convidado à Vila Edna e consentiram que eu levasse Blanka nesse domingo. Fiz a proposta a ela certo de que só receberei resposta quiçá amanhã. Eis o que escrevi para ela:

16:10 - Tranquilo, Bi. Aproveite.
16:16 - Domingo, das 16h às 19h o mais tardar vai ter um encontro na casa dos pais de umas amigas minhas, são gente da melhor qualidade, o astral é sempre muito bom. Gostaria imenso que você me acompanhasse. Pense com carinho na proposta. Acho que você vai gostar. Depois nos falamos. Saudades.
17:51 - É um local frequentado só por pessoas próximas, mas eles abriram uma exceção para você, por respeito a mim. São uma parte importante da minha vida, são como uma segunda família, e queria repartir isso com você, seria um momento muito especial para mim.

18h47. Gostaria muito que ela se disponibilizasse a ir. Ao mesmo tempo isso me enche de medo e receio, pois é duplamente novo. Será a primeira vez que sairemos como um casal e não sou um casal com ninguém há dez anos. E será a primeira vez que esse casal – de idades inusitadas – encara a realidade, o julgamento de pessoas muito estimadas por mim. Estou apavorado com o que construí para mim (e para Blanka) ao mesmo tempo que acho que é um desafio necessário, essencial, para ambos. Será difícil, mais difícil do que encontrar com a turma do meu primo-irmão, por exemplo, mas estou disposto a enfrentá-lo, acho que precisamos nós dois desse choque de realidade que espero não traga nenhuma animosidade para conosco. Não creio nisso. Mas a criança dentro de mim chora desesperada por ser muito, mas muito além do que julga confortável. Acho que todos os envolvidos estão meio desconfortáveis e apreensivos pois é novo para todos. A criança em mim torce para que Blanka não possa ir. Eu que sou indissociável da criança, mas que estabeleço limites para ela, também estou tomado de receios. O homem em mim, entretanto, acha que tem o direito de tentar ser feliz com uma garota de 19 anos de idade que consentiu em repartir uma parcela da vida dela comigo. E não tem vergonha de ela ser mais humilde, da nossa diferença de idade e quaisquer dessemelhanças ou discrepâncias que possam haver entre nós, visto que a discrepância maior é que eu sou um homem e ela é uma mulher, a diferença maior e mais significante é essa e essa nunca impediu nenhum casal de construir afeto, cumplicidade e intimidade, de erigir uma relação que se torna mais ampla e mais sólida a cada nova interação. Como dito, não me incomoda em nenhum aspecto que a nossa relação seja aberta, me dou satisfeito por tê-la quando se nos for possível. Mas tudo não passa ainda de um rascunho de palavras trocadas pelo anjo casamenteiro do século XXI, o Tinder. Não sabemos se durará um dia, uma semana, dez anos. Não sabemos nem se sobreviverá a esse possível primeiro encontro como casal na Vila Edna. A verdade é que tudo é novo para nós dois e que vamos descobrir juntos até onde estarmos juntos vai nos levar.

20h02. Fui comprar Coca e voltei e já contei que estou com uma paquera para o meu tio-vizinho e para o pessoal da pizzaria, anunciando o que nem de fato é. O que de fato nem sei se vai ser. Pode ser que ela mude de ideia daqui para domingo. Quando uma coisa é tão airosa assim, tão impalpável assim, todas as possibilidades ficam escancaradas com suas bocarras, das mais felizes às mais nefastas. Cheek To Cheek toca. “Heaven I’m In Heaven”. Confesso que quando estamos conversando pelo Tinder eu me sinto assim. Mas quando vem para o plano do real fico intranquilo. É uma mudança radical na minha vida (isso é a criança falando). É o que eu passei dez anos esperando que se realiza do jeitinho que eu sempre sonhei (isso é o adulto falando). Os dois são eu. Os dois estão certos, mas a fala do adulto é confortante enquanto a da criança me perturba. Uma confortável perturbação no espírito. Lembrei a Blanka que seria o nosso primeiro encontro como casal ou seja lá como pode ser chamada a nossa relação. Nossa, até nisso eu fujo dos padrões. Ponto totalmente fora da curva, mas que como a estatística mostra é tão pertinente e parte do conjunto de pontos como qualquer outro, talvez tenha propriedades diferenciadas e talvez isso não seja uma coisa ruim. Para mim não é.

20h50. Passei um tempo olhando a internet e volto aqui sem os temores infantis que me dominavam, trago agora uma esperança boa e amiga de que vai tudo dar certo. Que tudo o que me faltava na vida vai dar certo. Posso me decepcionar tremendamente. Ela pode dizer que não pode vir. Que mudou de ideia em relação a mim. Como disse, tudo pode ser, inclusive ser bom. Afinal são pessoas que respeitam pessoas, todos os envolvidos nesse possível encontro do domingo. Senão irei só e pouco, menor, ao encontro e mesmo assim será feliz, creio eu.


21h04. Fui fumar um cigarro e me distanciei um pouco de toda essa problemática e me lembrei que terei meu quarto reconfigurado para abrigar a minha linda, aos meus olhos, coleção de bonecos. Quero me deixar embebido nisso por enquanto. A Rebel Terminator (que é a cara de Natalie Portman, na minha opinião) terminará de ser paga de forma abrupta e brutal em fevereiro, com parcelas altas e uma sobretaxa pelo lançamento antecipado de lascar. O Azure Dragon depende da Gantaku me contatar com os custos de envio para o Brasil para ver se tenho grana no PayPal para ele. Os bonecos que vendi não renderam o esperado. Sempre que ouço Resto do Mundo fico deprimido e sem compreender porque eu mereço tanto se meu coração não tem a pureza dos de muitos miseráveis. Não há como entender porque não há explicação é tudo obra do acaso-destino que não é guiado pela justiça, a justiça é uma abstração humana, um ideal que ela não consegue alcançar e os Estados falham em outorgar a seus cidadãos. Eu sou um abençoado e agradeço sempre por isso, minha gratidão só encontra equiparação à culpa que tenho por não produzir nada de válido e útil à sociedade e me beneficiar de tudo o que de melhor há nela, de tudo o que me agrada, especialmente agora que tenho o que vou ousar chamar de uma namorada. É uma palavra forte e carregada de um significado que uma relação tão frágil não suporta ostentar. Vamos ver o que o tempo, esse senhor surpreendente, vai fazer de nós antes de voltarmos ao nada de onde viemos. Vou revisar e postar isso. Estou com sono. Vou dormir.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

DIA DE TERAPIA OU TROUXA



14h54. Hoje é dia de Ju. Acordei com um  astral bom, dormi muito, sonhei. Acordei e  decidi  que  hoje não vou mandar nenhuma mensagem  para a garota do Instagram. Isso me faz  bem pois me liberta da ansiedade de uma resposta e não a  sufoco com o excesso de mim. Acho que ambos saímos ganhando. A fantástica  faxineira  a  achou  linda, talvez  tenha  razão. Mostrarei a  Ju, óbvio.  Por  mim repartia com  todo mundo, mas acho que é como gravidez, só se anuncia passados os meses de  risco. Ademais não gosto de contar vantagem. Até porque não tenho do que contar vantagem. E  provavelmente  nada terei, mas a  esperança  é maior que o derrotismo. O acaso-destino me  ofereceu essa oportunidade, farei o que estiver ao meu alcance  para  concretizá-la em fato. 15h04. Preguiça de tomar banho. De 15h15 eu vou. Pode  ser que chegue tarde. Não chegarei, sempre espero uns 20 minutos, meia hora  por  Ju.  Queria  tirar um  selfie com ela para postar no Instagram, acho que ela  não vai concordar. Também  não sei se tenho coragem de pedir. Vamos  ver onde a  existência me leva. 15h09. Vou tomar  mais um  café com cigarro e tomar banho.

17h38. Voltei, como se faz óbvio. Pedi a  foto, mas  Ju não curtiu a ideia. O que ficou  na minha cabeça foi a  concepção dela de que  a  vida é cíclica, confesso que não vejo dessa  forma,  a encaro como uma tortuosa estrada rumo ao desconhecido, mas gostaria muito de apreender esse  conceito de  ciclos. Até entendo que  revisitemos  velhos conceitos com novos olhares, mas  não vejo a  vida passando pelos mesmos lugares, realmente não compreendo  a  ideia  e não gosto de  não compreender algo. Ju achou que as minhas projeções a respeito  da garota do Instagram são negras demais. Eu diria que são realistas. Estou me coçando  para mandar um “oi” para ela, mas não o farei. Só um boa noite, que quero tornar uma tradição, o que para mim já é. Adoraria  que  ela puxasse papo, mas não vai ser o caso,  tenho certeza.  Apesar de  todo o desprezo, eu tenho  uma  convicçãozinha, frágil, mas  firme,  de que  vou conquistá-la. Não sei bem  como, acho que fazendo o que  faço, sendo eu. Acho também que esgotei as  possibilidades  que me apeteciam  no Mario Odyssey,  já posso dar o meu videogame  com  mais tranquilidade para os meus sobrinhos. Eu definitivamente não  tenho paciência com  crianças,  interajo por  obrigação. Nossa,  ainda  bem  que não sou pai. Não sei se  fosse um  filho meu irromperia dessa condição um  interesse gratuito e  genuíno pela  figurinha e,  provavelmente,  a depender de mim  apenas,  nunca saberei. Estou perdendo o jeito com  as  palavras,  acho que é Instagram   demais. O que mais decorreu da terapia? Vejamos, começamos a olhar para a relação com a minha mãe. Ju achou  que eu estabeleci um limite quando mantive  o pacote de cigarros  que  comprei à revelia da minha genitora. Ela  acha  que eu preciso estabelecer mais limites, não ser tão dependente. Assumir responsabilidades que me  deixam mais livres. Liberdade igual a responsabilidade,  não há como fugir disso. E nem  todas as responsabilidades são chatas, nem tudo em  ser adulto é desagradável. Leva  ainda algumas sessões para eu me aceitar como adulto, para eu enxergar como quero ser adulto. Acho que a  garota do Instagram  é mais adulta que eu. Hahaha. Na  verdade, nem  acho engraçado,  me  envergonha  e  diminui  tal visão e  o pior: não destoa da  verdade. Discutimos ainda a  respeito de sexo, em como acho uma  coisa  secundária, exagerada em  demasia pela  sociedade. Não tenho essa fixação, essa  obsessão pelo orgasmo  que  os demais homens todos compartilham. Disse-lhe que  a sensação do orgasmo me lembra  a  de uma  supermijada, é como se me aliviasse de alguma necessidade fisiológica e  que  depois me  bate  um desânimo,  um  sentimento de esvaziamento, uma  dormência emocional que nunca  me agradou. Adoro entretanto  chupar uma mulher,  acho algo profundamente excitante  e prazeroso. O coito em si,  a  penetração me  é menos interessante. Sei que no clima tórrido eu me  entregaria e  penetraria, como o farei se a oportunidade se der. Acho que namorar comigo seria uma  experiência nova para a garota do Instagram. Diferente pela  diferença de  idade. Acho que descobriríamos coisas muito interessantes sobre a vida  um com  o outro. Acho que o resultado seria maior que a soma das  partes. Mas  por enquanto  isso é um  projeto só meu.

19h29. As horas  voam. Hoje foi dia de  cuidar da  mente, amanhã  vai ser dia de cuidar do resto, tosar, cortar  unhas,  levar o computador no conserto.  A  Coca aqui de casa acabou. Vou começar a  minha  dieta de café e água a partir de  hoje,  quero ver se o bucho não diminui.

19h35. Comuniquei à minha  mãe da minha  decisão  e, surpreendentemente, não encontrei oposição. Ela vai fazer  café para mim.  Comuniquei-lhe também  da  cafeteira  que receberei da minha  tia. Espero conseguir manter essa “dieta” e  rezo para o meu estômago aguentar.

19h41. A tecla  de espaço está cada vez pior, às vezes não reconhece o espaço dado. Ozzy. Nossa,  estou escrevendo muito mal. Ozzy  vezes dois. Queria que já fosse  hora de mandar a mensagem para a garota do Instagram. Há uma pequena probabilidade de ela responder algo, puxar um papo. Acho que não vai, mas sei o que vou mandar: um coração, depois “Good night. Sweet  dreams”, depois uma  rosa vermelha, se rosas  vermelhas houver entre os emoticons. Nossa, namorar é tão bom, como sinto  falta. Como queria  que  tivesse chegado a  hora. Depois de  uma  década. O tempo e minha incompetência têm  sido cruéis e até agora não cessaram de ser.

20h11. Mamãe fez  o café. Delicioso. Vou tentar comer salada hoje quando bater a  fome  dos remédios. A tecla de espaço está realmente nas últimas, espero que haja conserto para  isso.  E que seja barato.  Espero que o cara  não invente que precisa  trocar o teclado todo para me  explorar. Seria perfeito que ele  resolvesse  o problema enquanto eu cortava o  cabelo. Vamos ver como a coisa se dará. Não estou a fim de  falar  nisso,  queria  era bater  um papo com  alguma  das garotas cibernéticas, mas tenho que relaxar quanto a  isso. Estou  fumando desbragadamente. O café chama, pede por cigarro. Vou segurar um pouco. Breeders  rolando no som, cai bem. Acho que meu astral melhora sobremaneira  com  café. A  garota  do Instagram já sabe  como eu sou,  a minha cara, o meu  corpo,  sabe  que  não sou muita coisa  fisicamente. Sabe bastante da  minha  vida também. De mim, de como penso e  sou. Dela, sei apenas da  aparência, que muito me agrada e algumas coisas mais. Acho que vou fumar outro cigarro,  a  vontade  bateu de  novo. Não,  vou  segurar mais  uma vez, na próxima cedo.

20h35. Detesto  essa  minha mania de foco, por assim dizer,  quando eu encuco com uma  ideia  é quase impossível tirá-la  da cabeça. E  encuquei com  a garota do Instagram. Ela nem  faz  muito o meu tipo,  mas acho que ela é gente  boa, uma  pessoa do bem. E é o que  de mais concreto tenho afetivamente.  É muito pouco, mas me  agarro como posso a isso. Colorblind  do Counting Crows, achado do meu amado irmão. Uma de suas bandas  prediletas. Quando essa  música acabar,  vou  pegar café e  fumar. Queria muito que a  garota do Instagram  topasse me encontrar. Essa semana. Hahaha.

20h57. Mandei  uma mensagem  para  a  Gatinha  pedindo um  encontro para consultoria em  sedução. Quando preciso ela está off-line. Vive conectada,  viciada no celular que é. Bom, que seja. Quem sabe na quarta. Poderia conhecer o seu apartamento em BV. Ah, mas ela  trabalha. Nem rola dia de  semana, só se for à noite. O  custo foi alto, mas  me libertei da obrigação do trabalho,  sem  abrir mão  de ter  uma remuneração  vitalícia.

1h17. Conversei com a  Gatinha  e ela  disse  que vacilei várias  vezes na conversa com a  garota do Instagram, além de suspeitar de  que é um perfil  fake. Não creio nisso,  mas  admito que  exagerei na dose  com  a garota do Instagram. Eu e minha língua grande.  Pedi  desculpas  a  ela,  vamos ver no que isso resulta amanhã. O negócio é ter paciência, não ser tão afoito. Se  é que ainda haverá negócio.

2h13. Pedi para fazer as  pazes  antes de eu ir dormir. Vou esperar  mais meia hora e depois caminha.  O anjo do Tinder gostou  das últimas  mensagens que mandei. Acho que  não  receberei resposta  hoje.

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14h03. Hoje, está conversando comigo, pelo menos até agora.

14h16. Parece que voltou  o silêncio.

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15h07. A Gatinha  suspeitou do perfil da garota  do Instagram e estava certa. Tremendo papel  de palhaço eu  fiz. Fiquei muito puto. Quando chamei ela para um encontro, ela – ou  ele – deixou de me  seguir. Reportei como spam e  agora o seu nome nem  aparece nas buscas. Acho que  deve  ter  me bloqueado. Foda-se. Agora para me provar mais  idiota  do que  já sou, vou  propor  ao anjo do Tinder, talvez a  garota mais linda que eu já vi, que seja a  minha namorada  virtual. Só para eu ter o gostinho muito leve  de  que estou namorando. Não existe  limite para a minha  babaquice. E nem sei se ela  vai aceitar. Eu gosto dela,  tem sido legal  conversar e aconselhar, mas sei  que, aos 21, seus pais  jamais aceitariam que ela namorasse um coroa. Mas uma  brincadeira virtual, poder tratar  com carinho  uma  garota, mesmo que só através  de palavras, é  melhor do que o platonismo  puro.  Levei o meu computador  para o conserto e o cara disse que teria que trocar o  teclado todo  e que nenhum fornecedor dele  tinha do meu modelo (obviamente, é um modelo americano) e a  sugestão  foi procurar no Mercado Livre ou comprar um  teclado USB para acoplar. Como  acho que  não vou achar no ML,  vou ter  que apelar para o teclado extra,  que não sei como caberá  na minha bancada. Ozzy. Vi uma manifestação de Rodrigo Amarante contra Bolsonaro e a quase totalidade dos comentários foi defendendo o candidato. Espantoso. Acho que  a probabilidade de tê-lo como presidente  é real. Me confesso curioso.

15h43. Eu não sei  o que  faça da minha afetiva. Tudo o que vejo são becos  sem saída. Não há luz no fim do meu  túnel. Estou  desanimado.  E acho que vou desinstalar  o Tinder. Não me  leva a lugar nenhum. Acho que o anjo do Tinder não vai aceitar a  minha  proposta. Se  aceitar,  confesso que  ficarei  feliz com essa migalha virtual. Virtual é um pouquinho mais real que o que  não existe  ou  não pode ser.


16h17. Minha mãe  me mandou um  áudio de uma jovem mulher defendendo Bolsonaro.  Assutador. Cheio de generalizações  e totalmente cego para todas as atrocidades contra  a democracia e os direitos  humanos que ele  representa. Bom, se  é  isso que o Brasil  quer,  o Brasil  terá. Se minha mãe, que é uma  pessoa esclarecida,  fecha  os olhos para a ameaça, realmente, acho que não há mais nada a fazer.  Eu sinto dentro de mim, como se emanasse  no  ar, nas  ondas do inconsciente  coletivo, que  ele vai ganhar. E acabou a  terceira  página.               

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

DIA DE TERAPIA

1h17. O subterfúgio. Nem muito nem tão pouco. Sabe qual o álbum duplo eu colocaria como melhor depois do Álbum Branco? Mellon Collie & The Infinite Sadness, do Smashing Pumpkins. Talvez para parecer descolado eu colocasse em terceiro o London Calling do The Clash, mas tenho que admitir minha pobreza musical e meu gosto pessoal e colocar Rattle & Hum do U2, antes até do Álbum Branco. Certamente foi um dos discos que mais ouvi na vida, em vinil ainda, na minha primeira adolescência, época mais marcante da minha formação musical, onde mantive o que gostava do que meu pai colocava e buscava novos sons. Os meus sons. O Rattle & Hum é uma pedra basilar dessa formação, toda a ideia que o encarte me passava da banda, com suas fotos em preto e branco, toda a experiência que o vinil me proporcionava, além de ser um filme que assisti no cinema e no cartaz dizia “a maior banda do planeta”. Eu pensava que a banda maior do mundo era o A-Ha à época. A experiência de assistir aquele filme no cinema foi marcante para mim, tanto que até hoje assisto, tive em VHS, em DVD e agora tenho em Blu-Ray e acho que nunca vou passar à definição posterior ou posteriores. Quero que a minha TV dure a vida toda. Por sinal fiquei de botar Mellon Collie para ouvir. Vou fazê-lo. 

1h32. Porra, botei o último disco deles para escutar e a primeira música é invocada. Ouxe, a segunda parece a primeira, pesadona, deu uma acalmada, estou gostando. Devo ser um dos poucos. Estou achando bom. Como experiência musical nova. Muito válido. Vou fumar um cigarro. A terceira é fraca.

1h49. Estou de volta, pensava sobre o post de bonecos que publiquei agora à noite. Não vai ter muitas visualizações, eu assumo. Ah e enquanto fumava me deu vontade de jogar Call of Juarez. Acho que vou fazer isso.

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13h42. Novo dia com Ju, o que sempre é bom. Não sei se vou aceitar o convite de ir ao restaurante nessa quarta. Descobri que estou sem superlikes no Tinder, acabou-se o meu poder. Pelo menos dei para as garotas mais belas que encontrei. Ainda está passando o mesmo disco de Smashing Pumpkins desde ontem. Ainda bem que tenho algum tempo para preparar o meu espírito para mais um encontro com Ju. Há bastante café, a irmã da fantástica faxineira está aqui hoje a ajudá-la. Não se parece em nada com ela. Suponho que seja uma irmã mais velha. O anjo do Tinder não deu match em mim. Espero que dê.

14h07. Dentro em breve tenho que estar pronto para Ju. Às 15h vou tomar banho. Ainda há tempo. Acho que a diferença de idade irá assustar o meu anjo. Que seja. A vida é assim. Existe o preconceito de idade, como eu tenho preconceito de idade em relação a garotas. Me arrependo apenas de não ter lido o seu perfil.

14h28. Fui fumar mais um cigarro. Vou dar um tempo maior entre este e o próximo, não me desceu bem. O café também não está descendo de forma pacífica, gerando certo desconforto. Nada comparado ao que me causou no dia da sensação de morte, mas acho que vou dar uma desacelerada também. Estou com a minha cabeça feita de que não irei ao restaurante com Ju essa semana. Não me sinto disposto ou preparado para isso. Odeio quando me falta assunto, me bate um pequeno desespero. Um “o que é que eu vou fazer agora da minha vida?” que não me agrada de forma alguma. Tal sentimento tem me assolado cada vez mais frequentemente. Meu alento nesse momento é que dei os superlikes para as pessoas certas, pelo menos esteticamente. Alento bobo de uma empreitada sem sentido. Acabou o café. Estou relutante em pegar mais. Acho que talvez apele para um copo de Coca com muito gelo e mais um cigarro. Como disse em algum momento, nalgum post, depois de um longo hiato eu publiquei no blog de bonecos e o post está com mais de 500 visualizações. Dificilmente alcançará mil. Mas sigamos torcendo. O dono da XM, a empresa sobre a qual escrevi, elogiou o meu post e achou que foi positivo para ele (para a XM) isso talvez alavanque as visualizações um pouco. Acho que vou pegar essa Coca com cigarro. 14h43. Dezessete minutos para me aprontar. E o teclado insiste em colocar espaçamentos duplos. Que irritante.

14h51. Um copo de Coca e nove minutos até a entrada no banho. É interessante que, à medida que a hora se aproxima, uma resistência em mim vai crescendo como uma onda. Mas sei que estarei lá em Ju às 16h. Lá é um espaço para ser eu mesmo. Eu tenho que introjetar que eu posso ser eu mesmo em qualquer lugar. Mas nenhum me é tão acolhedor, compreensível e amigável quanto diante de Ju. É certo que ela vê o mundo de um modo um tanto mais espiritualizado, por assim dizer, que eu, mas isso é o de menos. Ela valoriza demais a conexão corpo espírito e eu sou bruto demais para tais sensibilidades. Três minutos me separam do banho. A Coca já se foi. O que mais queria? Que a última que dei superlike me curtisse de volta e pudéssemos nos amar. Malditos espaçamentos duplos. Não sei como escrevi tanto desde que acordei. E não disse nada. Hahaha. É o meu espaço, é a minha vida, o meu ofício, que seja assim.  Também não achei o texto do blog de bonecos legal, mas estão lendo. É curto e cheio de imagens. 15h. Hora de tomar banho, enfrentar o mundão e Ju.

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PÓS-TERAPIA

Ju me deu um dever de casa. Ela disse que eu o fizesse independentemente do blog, mas a desobedecerei nesse quesito, pois em nada mudará o que quero dizer se escrever aqui ou numa folha em branco. Não me incomoda que minha mãe ou quem quer que seja leia. Não busco causar impressão, apenas deixar as minhas a respeito de mim e da existência que me cerca. A tarefa consiste em elucubrar a respeito de dois postais que montei durante a sessão, respondendo a três perguntas. Por mais que não esteja com a mínima disposição de fazer isso, o farei. Acho que estou com uma resistência sobrecomum em relação ao que me é imposto de fora, o que não parte de mim. Mas vamos lá.





Quando olho a imagem

Eu vejo... Um autorretrato, uma pessoa que não consegue enxergar o óbvio, que a existência é bela e está aí para ser aproveitada o mais plenamente possível, não para ser desperdiçada trancado dentro de um quarto escrevendo caraminholas. Os braços de metal, mostram com a eloquência de mil palavras a dificuldade que tenho para enxergar a vida de forma positiva. A boca com musculatura constrita é similar à minha própria nos meus piores momentos.

Eu sinto... um profundo dissabor, uma desesperança, sinto que a minha situação é insolúvel e isso dói, pois não sei quanto tempo suportarei isso. Sinto que sou eu que estou fazendo isso comigo e que não sei parar de fazer. Sinto que estou condicionado demais para que qualquer mudança seja possível. Me sinto mal, fracassado, tendo tudo e fracassando de posse disso. Sinto que sou um covarde que se apieda de si mesmo e não consegue sair desse papel de coitadinho. Otário. Burro. Ser odioso e mesquinho e débil.

A imagem me aconselha a...  me matar, pois não há solução para o meu caso. Mas não vou seguir o seu conselho. Não quero e não consigo. Há algo que ainda me prende à existência, há eventos por vir que mantém o interesse em enfrentar esse infortúnio que é ser eu. Por exemplo, ter o meu quarto remodelado com todas as minhas figuras expostas. Ela também me diz que eu não tenho força para retirar as traves diante dos meus olhos e que isso não é possível, não para mim que não possuo força para dobrar canos de ferro. Se fosse me dar um conselho construtivo seria o de que eu estou olhando para a direção errada.





Quando olho a imagem

Eu vejo... o buraco negro e insólito em que me meti e que talvez só consiga sair dele quando for tarde demais, quando estiver velho demais, quando muito pouco me restar, quando a minha qualidade de vida já estiver comprometida. Pelo menos ainda me resta a esperança de sair. Hahaha. Mas tenho a sensação que só conseguirei fazer isso aos 45 do segundo tempo, desperdiçando um bocado de vida boa para ser vivida. Eu vejo que estou perdido, completamente perdido na floresta escura em que me meti, não sei mais sair dela. Desacreditei quase que completamente que saia. Deposito minhas esperanças em coisas absurdas como ayahuasca e uma namorada.

Eu sinto... que sou um merda, que alcançou tudo o que buscou e não se contenta com isso, alguém que reclama de barriga cheia, um ingrato com a existência, um ser deprimente com uma existência inútil. Sinto que me odeio. Sinto um profundo desânimo em relação ao futuro, em relação ao dia de amanhã. Eu sinto que tudo me agride e machuca como se tivesse me tornado hiperfrágil ou hipersensível. Tudo que não seja estar no meu quarto protegido e comigo mesmo me causa desconforto. Sinto que estar no meu quarto muitas vezes me causa desconforto também, mas mais suportável. Sinto que me fechei para o novo. Que o mundo está morto para mim, pois nada nele, a não ser jovens e belas mulheres, me interessa. Sinto que escolhi sofrer, mas não sei por que optei por essa escolha. Não sei por que me punir. Acho que por acreditar que tenho mais do que mereço e isso não me parecer justo, me martirizo e me apego ao que me prometi fazer, que foi escrever. Sinto a necessidade urgente de me dizer e de onde vem essa necessidade me é misterioso. Se não me disser, melhor desistir de tudo. Me sinto mal, perdido, pesado, velho, gordo, alienado, sinto que a hora de me abandonar já chegou há muito tempo, mas me agarro a essas palavras para me manter vivo.

A imagem me aconselha... a desistir pois nunca vou sair das brenhas em que me meti. Ou, sendo mais otimista, me aconselha a ter paciência e respeitar o meu ritmo. O meu ritmo me incomoda, a inércia é enorme, colossal. Me sinto burro por não conseguir progredir e sair da porra da floresta. Antes tarde do que nunca, a imagem me consola. Bem, assim espero, imagem.

18h59. Pronto. Dever de casa cumprido, com o máximo de sinceridade de que sou capaz, agora vou fumar um providencial cigarro com Coca bem cheia de gelo que eu mereço esse agrado depois de um desabafo tão indigesto.


19h09. Interessante. Depois que botei tudo para fora me sinto melhor. E a terceira página acabou. Vou escanear as imagens para postar.