terça-feira, 25 de dezembro de 2018

INFELIZ NATAL


Vários pensamentos surgiram e evaporaram no processo de publicação e divulgação do meu post anterior. Tudo o que quero hoje é ficar no meu quarto-ilha escrevendo e navegando na internet. Tudo o que preciso estou tentando conquistar ou está planejado. Adoraria que tudo corresse conforme os meus desejos. Mas a vida não é assim, eu tenho que a fazer assim e ainda há coisas que escapam ao meu poder. O que independe de mim é o que depende de terceiros. Eu só reino absoluto no quarto-ilha, aqui me sinto dono do mundo, do meu mundo, da parte que me cabe dele. Não preciso de mais espaços, eu espero. Afinal, todos os meus bonecos têm que caber aqui. Começo a duvidar se isso é possível. Penso em Blanka com certo desprendimento. O encontro do dia 27 vai ser crucial, se correr como o projeto. O do dia 29 seria crucial por outra razão, o encontro com a minha mãe. Se é que ela vai descer. Não tenho muito o que dizer, não encontro nada em mim que precise ser verbalizado. Temo que minha mãe tente impedir tais encontros. Ela demonstrou essa intenção. Ela não tem o direito. Eu quero fazer uma coisa que deixaria essa noite mais interessante. Acho que vou fumar um cigarro. Olhar os dedos da Little Mermaid quebrados é um tanto desolador, espero que a Gatinha opere a sua mágica. Espero tanto quanto que eu e Blanka rompamos o bloqueio do toque no dia 27.

20h59. Sou outro do que deixou essa cadeira para fumar. Isso é bastante interessante. Tive pensamentos romântico-calientes com Blanka. Não vai se dar dessa forma, creio. Pensar nisso me incomoda um pouco agora. Por isso fizemos a combinação no encontro anterior. Para que incômodos como esse tenham menor probabilidade de emergir. Penso em levar o computador para escrever enquanto ela dorme. Talvez compre o Viagra, só por via das dúvidas. Às vejo acho que achamos ou o acaso-destino nos ofereceu o companheiro perfeito um para o outro.

21h07. Pensei na festa do meu irmão agora com um misto de vergonha e prazer com a ideia. Nem incluí Blanka ou mamãe na equação. Mas quando as incluo não consigo prever o resultado. Não faço a mínima ideia. Acho que vou pedir a mamãe os remédios, comer e ir dormir. Não. Internet primeiro.

21h16. Vi o anjo “Querumbeck” na frente da prefeitura capixaba. Me indaguei como tais coisas viralizam. Já me sugeriram o YouTube ao invés do blog. Não me vejo nesse papel. Seria ainda mais tedioso para o público. Até que adquirisse desenvoltura para falar sem ler, nossa, acho até impossível isso acontecer. Aliás, o eu de agora repudia a ideia de me tornar “youtuber”. Prefiro blogueiro fracassado mesmo, me sinto mais realizado e me dá muito mais prazer me escrever do que me dizer. “Feita mais de luz que de vento, palavra”. Se bem que com Blanka me narrei bastante, fui bastante eloquente. Nossa, agora estou com medo do nosso encontro no dia 27. Sei que isso vai passar, há quatro dias para me acostumar. Será que as mulheres têm o desejo inato de terem suas vaginas preenchidas por algo, será que há um interesse inato pelo pênis? Não sei nem nunca vou saber, o que sei é que os órgãos sexuais sempre despertaram a minha curiosidade, desde pequeno. Vou fumar um cigarro.

22h06. Já tomei os remédios. Eu poderia ficar com mamãe enquanto ela cozinha, me limito a fazer um pouco isso a cada Coca que pego e cigarro que fumo. A internet voltou ao seu normal vigor. Ou pelo menos não está insuportavelmente lenta. Isso é bom. Melhor seria beber esse copo de Coca e ir dormir.

22h11. Já está tarde, preciso do cigarro saideiro para ir dormir. E precisarei acordar cedo para ir ao Natal dos Gonçalves, que pretendo narrar ainda nesse blog. Eu não narrei propriamente o dos Barros, mas não era o que o eu que chegou em casa ontem pedia. A probabilidade de as bonecas não chegarem quebradas de forma irrecuperável soltas dentro de uma mala é pequena. Acho que a chance de sucesso aumenta se forem envoltas em roupas e se as partes soltas venham num “tapauer” acolchoadas por esponja dentro da minha mochila. Percebi que mãos são especialmente frágeis.

22h29. Passei menos tempo com mamãe, fui me despedir dizendo que iria dormir agora, mas não sinto sono. Entretanto, acho que se deitar na cama adormeço. As mãos de Blanka são lindas, macias e seu carinho é delicado, quase um não tocar. Isso me agrada sobremaneira. A primeira vez que toco a pessoa desejada costuma ser a mais apaixonada e aproveitada de todas, a rotina diminui isso. Eu acho, nem lembro. Com cada namorada aconteceu de forma diferente, eu acho. As poucas namoradas. Já preciso fumar outro cigarro com Coca, aí nem volto para cá, vou direto me deitar.

2h43. Não consegui dormir até agora. Vou fazer isso agora.

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0h41. Nem todos chegam lá. Poucos são os que se contentam com o que têm e geralmente os quem têm menos são os mais contentes. Eu cheguei lá, se conseguir consolidar uma relação com Blanka. É difícil e contra todas as expectativas, mas não é impossível. Eu já flertei muito com o impossível e sei que cara tem. Eu chegarei lá, ou irei além de lá se eu e Blanka quisermos um ao outro, se fizer sentindo para ambos ficarmos juntos. Isso ainda não descobrimos. Mas falo que Blanka é para além de lá porque sou contente com o que tenho e estou mais em paz com o que sou. Já aprendi a viver sem dar e receber o carinho de uma mulher, por mais que esse vazio se faça.

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7h05. Acordei de 3h30 e não consegui mais dormir, mergulhei no maravilhoso mundo dos bonecos e lá fiquei até agora. Fiz uma pesquisa para Daisy da YetiArt, o ateliê chinês onde mando pintar meus kits, a respeito do valor de moedas de réis brasileiras, depois ela me contou que foi porque comprou uma faca que vinha decorada com duas moedas de réis. Fui fumar e botei um café para fazer, a Coca está acabando. Estou com bonecas na cabeça. O receio que tenho é de que não caibam no meu quarto. Espero que a arquiteta dê um jeito nisso, tenho esperanças. A minha caveira-coração já está na alfândega brasileira. Deve vir algum custo alfandegário para eu pagar. Queria dividir meu quarto no que tange as bonecas em secções: Batman, bonecos de 1/4 e 1/5 homens (poderia haver uma de monstros), bonecas de 1/4 [MB1] femininas, toy art mais videogames e minha coleção de PVC. Fora os meus CDs, filmes, games, livros, HQs e pôsteres. Acho que quero demais. Eu sempre quero demais. Acho a tarefa difícil, mas não impossível. Não tenho tantos bonecos grandes assim. Também não tenho poucos, sou um colecionador nível médio, pelo menos é o que posso aferir olhando as coleções de outros membros da comunidade. E o que vem para Recife fica, pois as caixas são jogadas fora, não há como vender ou enviar. Dos três bonecos que o meu irmão trouxe, as duas mais importantes vieram quebradas nos lugares mais improváveis, o que é melhor do que os prováveis. Espero que a Gatinha dê um jeito, só acredito nela para consertar as peças. Vou tomar um café com cigarro.

7h38. Ontem foi o Natal dos Gonçalves, minha família materna. Foi alegre, interagi o que pude e até almocei um pouco. Minha mãe me perguntou a diferença entre o Natal dos Barros e aquele, não soube o que dizer, pois os vejo cada vez mais parecidos, o mesmo distanciamento ou aproximação cada dia mais se equivalem, o carinho que tenho por ambas as famílias cada vez mais se equipara. Curioso sentir isso acontecer e um tanto triste pelo lado dos Barros, embora lá ainda me coloque e troque mais abertamente que com os Gonçalves. Lá, Blanka foi aceita, inclusive por meu primo-irmão e meu irmão que sabem de toda a história.

9h50. Minha mãe acordou e me disse que cancelou o meu cartão de crédito e que não aceitaria Blanka tal como é. Ou seja, arruinou meus sonhos de ter o quarto que sempre desejei e de ter a garota que se adequa perfeitamente às minhas necessidades atuais. Começou bem o meu dia, né? Arruinou minhas fontes de felicidade de uma patada só. O que ela não sabe é que o cartão dela é o secundário tanto na Sideshow quanto no PayPal e não tive coragem de lhe dizer. Estou me sentindo muito para baixo. Quero muito ter esse pernoite com Blanka, mas só posso tê-la se tiver dinheiro e só tenho dinheiro se mamãe me provier. Não sei se vai fazê-lo. Nossa, não imaginaria nunca que a curatela me traria até esse momento de sepultar os meus desejos mais queridos. Vida de merda. Tudo por causa da minha fobia ao estresse do trabalho. Por isso sofro esses abusos de autoridade. Concordo que o cartão veio alto esse mês. Não virá nos subsequentes, pelo menos não tão alto. Acredito que, no máximo, metade do que veio esse mês. Só falta o truque do MoAF que apliquei três vezes não funcionar. Mesmo assim não vai chegar ao valor desse mês. Não sei o que fazer da minha vida agora. Ouvindo U2 Songs Of Experience. Costumava me lembrar a liberdade que eu tenho, mas hoje fui amplamente tolhido dela. Só me restam as palavras, isso é muito pouco. Só isso até o final dos meus dias? Quando pensei que a minha felicidade estava se encaminhando para a sua completude, minha mãe ceifa tudo. Caralho nem as palavras eu tenho, minha mãe entrou no quarto e me censurou com chantagem emocional.

12h14. Estou com a cabeça mais fria, conversei mais calmamente com mamãe e chegamos a um entendimento, pelo que entendi, manterá o seu cartão até março e me dará dinheiro para sair com Blanka no dia 27. O meio-termo. Mesmo assim me sinto mal, ainda há raiva e frustração dentro de mim. É certo que gastei excessivamente durante a Black Friday, é certo que Blanka tem peculiaridades que desagradariam qualquer sogra do mundo. O que acho equivocadas são medidas extremas sem uma conversa ao menos. Tudo me foi imposto goela abaixo logo que mamãe acordou. Aliás já me veio com o cartão cancelado. Mal sabe ela que estava tratando com Ju justamente em assumir o controle que admiti ter perdido durante a Black Friday e em como com autocontrole se conquista mais liberdade. E que sentia prazer em reassumir o controle, me dava uma sensação de empoderamento, admitir que passei dos limites e restabelecê-los. Quanto a Blanka, eu e Ju conversamos que tivemos um começo bastante complicado e que a gente tem que viver para ver se vale a pena para ambos essa relação que se constrói. Não posso construí-la sozinho, nem estou disposto a isso. Meu irmão deu com a língua nos dentes a respeito do celular e fodeu a mim e a Blanka de verde e amarelo com mamãe. Esse dia de Natal está sendo uma merda. Só porrada, o acaso-destino tirando onda e botando para foder em mim, eu mereço, nada é imerecido e tudo veio de uma vez. Que seja. É a vida e segue. Mandei para Blanka o link do post anterior, no qual lhe dou a alternativa de desistir de mim, se lhe for mais conveniente. Nossa, me sinto muito mal. Acho que voltarei à solidão hoje, se é para tudo dar errado, que dê tudo de uma vez. Colho o que semeei e fico de mãos vazias em relação ao que não consegui cultivar, o afeto de Blanka. É a vida e segue até que um dia essa condição inútil para com a minha morte. Não me importaria de morrer hoje. Odeio sofrimento e estou sofrendo. Foda-se tudo, foda-se eu. Vou fumar um cigarro com Coca e me deitar ou ir comprar a porra das Cocas e os sorvetes. Caralho, estava numa paz tão grande, me sentindo bem. É nenhuma. Foda-se. Seja lá a porra como a porra for.

12h55. Nossa, como estou transtornado, não sei como voltar ao meu equilíbrio. O tempo é senhor de todas as coisas. Pelo visto o estigma que carrego é maior do que imaginava, meu irmão contar da buceta do celular por achar que eu não estava agindo como uma pessoa normal, mas sim como um doente. Ou sei lá por que caralho de motivo me deixa ainda mais puto. Me faz pensar que realmente somos todos egoístas até a medula, meu irmão preferiu satisfazer seu ego e o da minha mãe. É justo entre o santo e sua mãe ou o doente fracassado e a puta quem é a dupla mais merecedora de ter os egos saciados? Não há sombra de dúvida. E eu repito, foda-se, o tempo há de me tirar desse estado. Fazia tempo que não ficava tão injuriado. Que sentimento nojento e desprezível e como me envenena. Me seduz com seus olhos de serpente. Foda-se. Foda-se. Foda-se. E ainda vou ter que ir comprar sorvete, caralho. Foda-se. Vou comprar esse caralho de buceta de sorvete.

13h55. Os supermercados estavam fechados, só havia a loja de conveniência do posto e o sistema estava fora, então foi bom mamãe me dar em dinheiro, pois cartões não eram aceitos. Comprei as porras dos sorvetes e os refrigerantes. Minha mãe disse que meu irmão falou do celular sem querer. Há muito tempo já. Atos falhos, sei bem o que significam. Foda-se. Essa raiva não dura para sempre. Só não quer passar. Dá vontade até de dormir para ver se melhora. Eu estou com uma agressividade dentro de mim que desconhecia. Não gosto de quem sou no momento. Acho que muitos botões negativos foram apertados ao mesmo tempo hoje. Muitas frustrações e agressões. Todas merecidas, talvez isso seja o que mais doa, estar errado. Mas comprei a merda do celular com o dinheiro obtido através das vendas do eBay. E a porra da Blanka não dá sinal de vida. Nossa, estou muito exasperado, a raiva é corrosiva e parece que inebria, infecta a alma e a deixa encarnada, os nervos à flor da pele, para eu mandar tomar no cu falta uma gota. Por mim passava essa porra de Natal no meu quarto, não quero ver ninguém, pois sei que estou um poço de negatividade. A vontade é de gritar e humilhar alguém. É uma vontade negra e amaldiçoada, por isso preferiria me ausentar, para não maltratar ninguém. Destratar ninguém.

14h18. Acabei de ser sarcástico com Blanka. Porra, que desprezo do caralho. Puta que o pariu. Quem falar comigo hoje, neste estado emocional em que me encontro, é bem passível de ouvir algo desagradável. Ninguém merece isso. Eu sei o quanto é ruim, já passei por isso mais vezes do que gostaria. Decidi. Vou fumar um cigarro e me deitar.

17h37. Acordei, mas ainda estou ressabiado, incrível. Nada de Blanka até agora, acabo de ver. Não consegui falar com o meu irmão adequadamente. Não falei com ninguém a não ser com a minha cunhada. Os meninos assistem TV na sala, ignorantes de que ganharão o Nintendo Switch. Será o único lado bom do meu dia. Queria não carregar esse ressentimento no peito, mas ele insistiu em não me abandonar. Preciso de outro cigarro. Aparentemente mamãe nada disse sobre o motivo do meu comportamento pouco afetuoso. Toca Orange Sky a música que meu irmão dedicou a nós três, irmãos. Quando será que as palhaçadas e brincadeiras de pais perdem a graça para os filhos? Se é que perdem.

18h50. Os meninos, os dois filhos mais novos do meu irmão, em breve estarão jogando Minecraft aqui no meu PS3. Mal sabem que ganharão o Nintendo Switch. Nossa, meu astral ainda está ruim. Blanka também não deu notícias, talvez a carta lhe oferecendo liberdade do nosso compromisso tenha dado a ela a oportunidade de que precisava para me abandonar, sei lá. Do futuro sei tão pouco, nunca esperaria a carga pesada que recebi hoje de manhã, meu peito ainda está dorido. Mas já entrei na quinta página. Vou revisar e postar. Que venha o que o acaso-destino trouxer.


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