Vários pensamentos surgiram e evaporaram no processo de
publicação e divulgação do meu post anterior. Tudo o que quero hoje é ficar no
meu quarto-ilha escrevendo e navegando na internet. Tudo o que preciso estou
tentando conquistar ou está planejado. Adoraria que tudo corresse conforme os
meus desejos. Mas a vida não é assim, eu tenho que a fazer assim e ainda há
coisas que escapam ao meu poder. O que independe de mim é o que depende de
terceiros. Eu só reino absoluto no quarto-ilha, aqui me sinto dono do mundo, do
meu mundo, da parte que me cabe dele. Não preciso de mais espaços, eu espero.
Afinal, todos os meus bonecos têm que caber aqui. Começo a duvidar se isso é
possível. Penso em Blanka com certo desprendimento. O encontro do dia 27 vai
ser crucial, se correr como o projeto. O do dia 29 seria crucial por outra
razão, o encontro com a minha mãe. Se é que ela vai descer. Não tenho muito o
que dizer, não encontro nada em mim que precise ser verbalizado. Temo que minha
mãe tente impedir tais encontros. Ela demonstrou essa intenção. Ela não tem o
direito. Eu quero fazer uma coisa que deixaria essa noite mais interessante.
Acho que vou fumar um cigarro. Olhar os dedos da Little Mermaid quebrados é um
tanto desolador, espero que a Gatinha opere a sua mágica. Espero tanto quanto
que eu e Blanka rompamos o bloqueio do toque no dia 27.
20h59. Sou outro do que deixou essa cadeira para fumar. Isso
é bastante interessante. Tive pensamentos romântico-calientes com Blanka. Não vai se dar dessa forma, creio. Pensar
nisso me incomoda um pouco agora. Por isso fizemos a combinação no encontro
anterior. Para que incômodos como esse tenham menor probabilidade de emergir.
Penso em levar o computador para escrever enquanto ela dorme. Talvez compre o
Viagra, só por via das dúvidas. Às vejo acho que achamos ou o acaso-destino nos
ofereceu o companheiro perfeito um para o outro.
21h07. Pensei na festa do meu irmão agora com um misto de
vergonha e prazer com a ideia. Nem incluí Blanka ou mamãe na equação. Mas
quando as incluo não consigo prever o resultado. Não faço a mínima ideia. Acho
que vou pedir a mamãe os remédios, comer e ir dormir. Não. Internet primeiro.
21h16. Vi o anjo “Querumbeck” na frente da prefeitura
capixaba. Me indaguei como tais coisas viralizam. Já me sugeriram o YouTube ao
invés do blog. Não me vejo nesse papel. Seria ainda mais tedioso para o público.
Até que adquirisse desenvoltura para falar sem ler, nossa, acho até impossível
isso acontecer. Aliás, o eu de agora repudia a ideia de me tornar “youtuber”.
Prefiro blogueiro fracassado mesmo, me sinto mais realizado e me dá muito mais
prazer me escrever do que me dizer. “Feita mais de luz que de vento, palavra”.
Se bem que com Blanka me narrei bastante, fui bastante eloquente. Nossa, agora
estou com medo do nosso encontro no dia 27. Sei que isso vai passar, há quatro
dias para me acostumar. Será que as mulheres têm o desejo inato de terem suas
vaginas preenchidas por algo, será que há um interesse inato pelo pênis? Não
sei nem nunca vou saber, o que sei é que os órgãos sexuais sempre despertaram a
minha curiosidade, desde pequeno. Vou fumar um cigarro.
22h06. Já tomei os remédios. Eu poderia ficar com mamãe
enquanto ela cozinha, me limito a fazer um pouco isso a cada Coca que pego e
cigarro que fumo. A internet voltou ao seu normal vigor. Ou pelo menos não está
insuportavelmente lenta. Isso é bom. Melhor seria beber esse copo de Coca e ir
dormir.
22h11. Já está tarde, preciso do cigarro saideiro para ir
dormir. E precisarei acordar cedo para ir ao Natal dos Gonçalves, que pretendo
narrar ainda nesse blog. Eu não narrei propriamente o dos Barros, mas não era o
que o eu que chegou em casa ontem pedia. A probabilidade de as bonecas não chegarem
quebradas de forma irrecuperável soltas dentro de uma mala é pequena. Acho que
a chance de sucesso aumenta se forem envoltas em roupas e se as partes soltas
venham num “tapauer” acolchoadas por esponja dentro da minha mochila. Percebi
que mãos são especialmente frágeis.
22h29. Passei menos tempo com mamãe, fui me despedir dizendo
que iria dormir agora, mas não sinto sono. Entretanto, acho que se deitar na
cama adormeço. As mãos de Blanka são lindas, macias e seu carinho é delicado,
quase um não tocar. Isso me agrada sobremaneira. A primeira vez que toco a
pessoa desejada costuma ser a mais apaixonada e aproveitada de todas, a rotina
diminui isso. Eu acho, nem lembro. Com cada namorada aconteceu de forma
diferente, eu acho. As poucas namoradas. Já preciso fumar outro cigarro com
Coca, aí nem volto para cá, vou direto me deitar.
2h43. Não consegui dormir até agora. Vou fazer isso agora.
-x-x-x-x-
0h41. Nem todos chegam lá. Poucos são os que se contentam
com o que têm e geralmente os quem têm menos são os mais contentes. Eu cheguei
lá, se conseguir consolidar uma relação com Blanka. É difícil e contra todas as
expectativas, mas não é impossível. Eu já flertei muito com o impossível e sei
que cara tem. Eu chegarei lá, ou irei além de lá se eu e Blanka quisermos um ao
outro, se fizer sentindo para ambos ficarmos juntos. Isso ainda não
descobrimos. Mas falo que Blanka é para além de lá porque sou contente com o
que tenho e estou mais em paz com o que sou. Já aprendi a viver sem dar e
receber o carinho de uma mulher, por mais que esse vazio se faça.
-x-x-x-x-
7h05. Acordei de 3h30 e não consegui mais dormir, mergulhei
no maravilhoso mundo dos bonecos e lá fiquei até agora. Fiz uma pesquisa para Daisy
da YetiArt, o ateliê chinês onde mando pintar meus kits, a respeito do valor de
moedas de réis brasileiras, depois ela me contou que foi porque comprou uma
faca que vinha decorada com duas moedas de réis. Fui fumar e botei um café para
fazer, a Coca está acabando. Estou com bonecas na cabeça. O receio que tenho é
de que não caibam no meu quarto. Espero que a arquiteta dê um jeito nisso,
tenho esperanças. A minha caveira-coração já está na alfândega brasileira. Deve
vir algum custo alfandegário para eu pagar. Queria dividir meu quarto no que
tange as bonecas em secções: Batman, bonecos de 1/4 e 1/5 homens (poderia haver
uma de monstros), bonecas de 1/4 [MB1] femininas,
toy art mais videogames e minha coleção de PVC. Fora os meus CDs, filmes,
games, livros, HQs e pôsteres. Acho que quero demais. Eu sempre quero demais.
Acho a tarefa difícil, mas não impossível. Não tenho tantos bonecos grandes
assim. Também não tenho poucos, sou um colecionador nível médio, pelo menos é o
que posso aferir olhando as coleções de outros membros da comunidade. E o que
vem para Recife fica, pois as caixas são jogadas fora, não há como vender ou
enviar. Dos três bonecos que o meu irmão trouxe, as duas mais importantes
vieram quebradas nos lugares mais improváveis, o que é melhor do que os
prováveis. Espero que a Gatinha dê um jeito, só acredito nela para consertar as
peças. Vou tomar um café com cigarro.
7h38. Ontem foi o Natal dos Gonçalves, minha família
materna. Foi alegre, interagi o que pude e até almocei um pouco. Minha mãe me
perguntou a diferença entre o Natal dos Barros e aquele, não soube o que dizer,
pois os vejo cada vez mais parecidos, o mesmo distanciamento ou aproximação
cada dia mais se equivalem, o carinho que tenho por ambas as famílias cada vez
mais se equipara. Curioso sentir isso acontecer e um tanto triste pelo lado dos
Barros, embora lá ainda me coloque e troque mais abertamente que com os
Gonçalves. Lá, Blanka foi aceita, inclusive por meu primo-irmão e meu irmão que
sabem de toda a história.
9h50. Minha mãe acordou e me disse que cancelou o meu cartão
de crédito e que não aceitaria Blanka tal como é. Ou seja, arruinou meus sonhos
de ter o quarto que sempre desejei e de ter a garota que se adequa perfeitamente
às minhas necessidades atuais. Começou bem o meu dia, né? Arruinou minhas
fontes de felicidade de uma patada só. O que ela não sabe é que o cartão dela é
o secundário tanto na Sideshow quanto no PayPal e não tive coragem de lhe
dizer. Estou me sentindo muito para baixo. Quero muito ter esse pernoite com
Blanka, mas só posso tê-la se tiver dinheiro e só tenho dinheiro se mamãe me
provier. Não sei se vai fazê-lo. Nossa, não imaginaria nunca que a curatela me
traria até esse momento de sepultar os meus desejos mais queridos. Vida de
merda. Tudo por causa da minha fobia ao estresse do trabalho. Por isso sofro
esses abusos de autoridade. Concordo que o cartão veio alto esse mês. Não virá
nos subsequentes, pelo menos não tão alto. Acredito que, no máximo, metade do
que veio esse mês. Só falta o truque do MoAF que apliquei três vezes não
funcionar. Mesmo assim não vai chegar ao valor desse mês. Não sei o que fazer
da minha vida agora. Ouvindo U2 Songs Of
Experience. Costumava me lembrar a liberdade que eu tenho, mas hoje fui
amplamente tolhido dela. Só me restam as palavras, isso é muito pouco. Só isso
até o final dos meus dias? Quando pensei que a minha felicidade estava se
encaminhando para a sua completude, minha mãe ceifa tudo. Caralho nem as
palavras eu tenho, minha mãe entrou no quarto e me censurou com chantagem
emocional.
12h14. Estou com a cabeça mais fria, conversei mais
calmamente com mamãe e chegamos a um entendimento, pelo que entendi, manterá o
seu cartão até março e me dará dinheiro para sair com Blanka no dia 27. O
meio-termo. Mesmo assim me sinto mal, ainda há raiva e frustração dentro de
mim. É certo que gastei excessivamente durante a Black Friday, é certo que
Blanka tem peculiaridades que desagradariam qualquer sogra do mundo. O que acho
equivocadas são medidas extremas sem uma conversa ao menos. Tudo me foi imposto
goela abaixo logo que mamãe acordou. Aliás já me veio com o cartão cancelado.
Mal sabe ela que estava tratando com Ju justamente em assumir o controle que
admiti ter perdido durante a Black Friday e em como com autocontrole se
conquista mais liberdade. E que sentia prazer em reassumir o controle, me dava uma
sensação de empoderamento, admitir que passei dos limites e restabelecê-los.
Quanto a Blanka, eu e Ju conversamos que tivemos um começo bastante complicado
e que a gente tem que viver para ver se vale a pena para ambos essa relação que
se constrói. Não posso construí-la sozinho, nem estou disposto a isso. Meu
irmão deu com a língua nos dentes a respeito do celular e fodeu a mim e a
Blanka de verde e amarelo com mamãe. Esse dia de Natal está sendo uma merda. Só
porrada, o acaso-destino tirando onda e botando para foder em mim, eu mereço,
nada é imerecido e tudo veio de uma vez. Que seja. É a vida e segue. Mandei
para Blanka o link do post anterior, no qual lhe dou a alternativa de desistir
de mim, se lhe for mais conveniente. Nossa, me sinto muito mal. Acho que
voltarei à solidão hoje, se é para tudo dar errado, que dê tudo de uma vez.
Colho o que semeei e fico de mãos vazias em relação ao que não consegui
cultivar, o afeto de Blanka. É a vida e segue até que um dia essa condição
inútil para com a minha morte. Não me importaria de morrer hoje. Odeio
sofrimento e estou sofrendo. Foda-se tudo, foda-se eu. Vou fumar um cigarro com
Coca e me deitar ou ir comprar a porra das Cocas e os sorvetes. Caralho, estava
numa paz tão grande, me sentindo bem. É nenhuma. Foda-se. Seja lá a porra como
a porra for.
12h55. Nossa, como estou transtornado, não sei como voltar
ao meu equilíbrio. O tempo é senhor de todas as coisas. Pelo visto o estigma
que carrego é maior do que imaginava, meu irmão contar da buceta do celular por
achar que eu não estava agindo como uma pessoa normal, mas sim como um doente.
Ou sei lá por que caralho de motivo me deixa ainda mais puto. Me faz pensar que
realmente somos todos egoístas até a medula, meu irmão preferiu satisfazer seu
ego e o da minha mãe. É justo entre o santo e sua mãe ou o doente fracassado e
a puta quem é a dupla mais merecedora de ter os egos saciados? Não há sombra de
dúvida. E eu repito, foda-se, o tempo há de me tirar desse estado. Fazia tempo
que não ficava tão injuriado. Que sentimento nojento e desprezível e como me
envenena. Me seduz com seus olhos de serpente. Foda-se. Foda-se. Foda-se. E
ainda vou ter que ir comprar sorvete, caralho. Foda-se. Vou comprar esse
caralho de buceta de sorvete.
13h55. Os supermercados estavam fechados, só havia a loja de
conveniência do posto e o sistema estava fora, então foi bom mamãe me dar em
dinheiro, pois cartões não eram aceitos. Comprei as porras dos sorvetes e os
refrigerantes. Minha mãe disse que meu irmão falou do celular sem querer. Há
muito tempo já. Atos falhos, sei bem o que significam. Foda-se. Essa raiva não
dura para sempre. Só não quer passar. Dá vontade até de dormir para ver se
melhora. Eu estou com uma agressividade dentro de mim que desconhecia. Não
gosto de quem sou no momento. Acho que muitos botões negativos foram apertados
ao mesmo tempo hoje. Muitas frustrações e agressões. Todas merecidas, talvez
isso seja o que mais doa, estar errado. Mas comprei a merda do celular com o
dinheiro obtido através das vendas do eBay. E a porra da Blanka não dá sinal de
vida. Nossa, estou muito exasperado, a raiva é corrosiva e parece que inebria,
infecta a alma e a deixa encarnada, os nervos à flor da pele, para eu mandar
tomar no cu falta uma gota. Por mim passava essa porra de Natal no meu quarto,
não quero ver ninguém, pois sei que estou um poço de negatividade. A vontade é
de gritar e humilhar alguém. É uma vontade negra e amaldiçoada, por isso
preferiria me ausentar, para não maltratar ninguém. Destratar ninguém.
14h18. Acabei de ser sarcástico com Blanka. Porra, que
desprezo do caralho. Puta que o pariu. Quem falar comigo hoje, neste estado
emocional em que me encontro, é bem passível de ouvir algo desagradável.
Ninguém merece isso. Eu sei o quanto é ruim, já passei por isso mais vezes do
que gostaria. Decidi. Vou fumar um cigarro e me deitar.
17h37. Acordei, mas ainda estou ressabiado, incrível. Nada
de Blanka até agora, acabo de ver. Não consegui falar com o meu irmão
adequadamente. Não falei com ninguém a não ser com a minha cunhada. Os meninos
assistem TV na sala, ignorantes de que ganharão o Nintendo Switch. Será o único
lado bom do meu dia. Queria não carregar esse ressentimento no peito, mas ele
insistiu em não me abandonar. Preciso de outro cigarro. Aparentemente mamãe
nada disse sobre o motivo do meu comportamento pouco afetuoso. Toca Orange Sky a música que meu irmão
dedicou a nós três, irmãos. Quando será que as palhaçadas e brincadeiras de
pais perdem a graça para os filhos? Se é que perdem.
18h50. Os meninos, os dois filhos mais novos do meu irmão,
em breve estarão jogando Minecraft aqui no meu PS3. Mal sabem que ganharão o
Nintendo Switch. Nossa, meu astral ainda está ruim. Blanka também não deu
notícias, talvez a carta lhe oferecendo liberdade do nosso compromisso tenha
dado a ela a oportunidade de que precisava para me abandonar, sei lá. Do futuro
sei tão pouco, nunca esperaria a carga pesada que recebi hoje de manhã, meu
peito ainda está dorido. Mas já entrei na quinta página. Vou revisar e postar.
Que venha o que o acaso-destino trouxer.
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