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terça-feira, 22 de janeiro de 2019

UMA TARDE NO MEIO DA EXISTÊNCIA (CENSURADO)





15h38. Preciso ligar para o restaurador e a bateria do meu celular arreou. Assim que puder ligá-lo, entrarei em contato com o meu salvador.

15h54. O celular dele está desligado ou fora da área de cobertura. Landlady, do U2. Liberdade. Nossa, que calor. Tomando café ainda. Ainda bem que não estou preso ao calor, tenho ar, um luxo pequeno-burguês que faz toda a diferença em momentos como esse. Sou um abençoado, ao contrário do menino com fome na frente da farmácia. Ele foi amaldiçoado pela ignorância e pela miséria decorrente dessa. Acredito que o restaurador não virá mais hoje.

16h19. Ele não virá hoje, disse que amanhã vem, cola tudo e vê se alguma vai necessitar de pintura. Preciso comunicar isso a mamãe e pedir dinheiro para as Cocas e os adesivos das letrinhas, estou me perdendo no teclado porque quase todas as letras estão apagadas. Eu estou muito curioso a respeito do texto que produzi ontem em condições sui generis. Não acho que terei coragem de repartir com o meu padrasto. Nem sei se cairia bem a minha mãe ler. Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiooouuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuurrrrrrrrrrrrrrr.mmmmmmmmmmmmmmmm

16h37. Colei as letras repetidas acima, já facilitam bastante. Descolarão com o tempo, mas é a melhor solução que tenho à disposição no momento. Comuniquei que o restaurador só poderá vir aqui amanhã, colará as peças e verá se é necessária alguma pintura o que acho não ser o caso. Esse post está chato, eu estou chato hoje, visto que o texto é um espelho de mim. Blanka viajou, não sei quando volta. Só sei que apenas se comunicará comigo quando isso acontecer. Vou tentar comprar Coca agora.

17h08. Acabo de voltar da pizzaria, onde sou sempre muito bem recebido e atualmente me perguntam acerca do meu blog, o que dá um sentido superior à minha existência e ao ofício ao qual desejei me dedicar. Se eles soubessem a importância que isso tem para mim. Mas não quero que leiam por obrigação, para agradar um impessoal cliente. Deixa ser como será. Acho que vou revisar o post anterior. Não, não sinto disposição para isso. A preguiça me domina quase à imobilidade. Não quero me deitar, dormi bem, muito bem por sinal, sem episódios de sonambulismo. Achei que os bifes à rolê que comi ontem tinham gosto de Norcola. Não sei o que se deu com o meu paladar. O molho estava divino, mas não aguentei comer os bifes todos por causa do nauseante sabor da minha droga de preferência. Comi por fome e por tê-los colocado, três, no meu prato. O quarto e último foi para a geladeira. Sinto minha cabeça meio oca hoje. Sem substrato para colocar nessa página. Vou pegar mais Coca gelada para colocar no meu copo. Está tão gelada que o gelo não derrete como de praxe. É a melhor forma de tomar Coca, gelada e cheia de gelo.

17h32. Estou com um desassossego na alma uma vez mais, estou com dificuldade de escrever e nada mais me interessa. É como se estivesse elétrico demais, mas uma eletricidade estática, de quem só quer ficar parado a cismar. Se posso escrever as cismas aqui por que não fazê-lo? Pensei no casal da Vila Edna e no que pensarão de mim se enfrentarem as mais de 200 páginas do Diário do Manicômio. Será que isso transformará a nossa relação? Mostro o que há de pior e mais distorcido em mim no texto. O que de mim foge aos ditames sociais, os ferindo muitas vezes. Penso no meu tio e na inação dele em relação à publicação da obra. Talvez seja o acaso-destino decidindo por mim o meu futuro. Estou agoniado, mas não sei com o quê. É um sentimento chato e sem sentido. Acho que vou trocar U2 por Caetano.

17h41. Livro rolando. Me transporta para Lisboa, especialmente para o Novotel e a Portuguesinha. Vou ao banheiro.

17h52. Migrei para o café. Está ótimo. E parece que a minha existência toda se encaixou com a mudança de bebida.

17h58. Estava conversando com o meu primo-irmão sobre mulheres e futuro, longo prazo mesmo. De ele assumir a minha curatela e vir morar comigo nas Ubaias. Com Blanka e Dande e quiçá o meu padrasto, conforme ficção ou realidade alternativa à qual me dediquei ontem com um sorriso nos lábios. É muito divertido projetar um futuro ideal e ir encaixando as peças à medida que os desejos brotam. Não sei se publique o post anterior, pode ser chocante demais para a minha mãe. Século XXI demais. Acho que ela condenaria ou condenará todo o conteúdo. Não importa, me divertiu o exercício.

18h06. Meu primo-irmão me respondeu:

[17:55, 1/22/2019] Mário Barros: Se você ainda estiver solteiro quando minha mãe se for, te convido para repartir as Ubaias comigo. Pensei muito sobre isso ontem.
[17:57, 1/22/2019] Mário Barros: E eu realmente não sei o que ocorre afetivamente com você. É um mistério para mim.
[18:03, 1/22/2019] Primo-Irmão: Poderia ser uma boa. Mas não pense na morte dela não
[18:05, 1/22/2019] Mário Barros: Não, foi um exercício que fiz ontem. Não quero que ela morra. Será a perda mais irreparável da minha vida.
[18:07, 1/22/2019] Primo-Irmão: Isso. Pense nela vivendo até mais de 100 anos 😊

18h08. Vou responder.

[18:08, 1/22/2019] Mário Barros: É um prospecto que me agrada. :)
[18:09, 1/22/2019] Mário Barros: Tomara que a medicina evolua a esse ponto.

18h09. Vou pegar café e fumar.

18h19. O que eu mais quero da vida nesse momento? Estar exatamente aqui fazendo isso. Acho que não há prova maior de sucesso. Quantas vezes os demais experimentam essa sensação? Por quanto tempo? Essa sensação me toma na maior parte dos meus dias, na maioria das horas do meu dia. Eu me considero quase que plenamente realizado. Há ainda realizações que me faltam. Mas tenho paciência para esperar o tempo certo. Se o tempo for rebelde e não me trouxer o que espero, não me frustrará em demasia, desde que me seja garantido o direito de permanecer aqui fazendo isso. Com coca, café e cigarro.

[18:24, 1/22/2019] Primo-Irmão: Daqui pra lá e evolui
[18:24, 1/22/2019] Primo-Irmão: Se não for ela a passar dos 100, vai ser a gente
[18:25, 1/22/2019] Mário Barros: Acredito piamente nisso e muito mais, como você sabe. Minha religião...

18h27. Quando mamãe despertar, pegarei o contato da arquiteta para tentar botar as engrenagens da existência para girar em direção à realização do meu maior sonho material, a reforma do banheiro e do quarto. Sonho com isso há muito tempo.

[18:30, 1/22/2019] Primo-Irmão: A ciência, né?
[18:33, 1/22/2019] Mário Barros: É. A evolução das tecnologias nas diversas áreas. Evolução exponencial, como vem se dando.  Até o surgimento da Inteligência artificial capaz de se auto-evoluir, ou melhor, o surgimento da supraconsciência terrestre. Questão de fé, como a vinda do messias.

[18:35, 1/22/2019] Primo-Irmão: Entendi. É o caminho da ciência então
[18:36, 1/22/2019] Mário Barros: É, é a ciência como religião e redentora do ser humano. Uma fé, infundada como qualquer outra. :P
[18:37, 1/22/2019] Mário Barros: Ou fundamentada como qualquer outra.

18h38. Não estou com paciência para internet e o maravilhoso mundo dos bonecos hoje, só encontro disposição para a escrita. Esse papo com o meu primo-irmão, que começou com o cansaço de três gozadas, está deveras interessante, pois, como o meu amigo da piscina e até por causa dele, peguei gosto por pregar a minha fé. Vou fumar. Preciso de uma pausa para sentir falta de estar aqui.

18h57. Tirei uma foto das garrafas de água sanitária, pois acho um produto interessante, visto que provavelmente letal se ingerido. Meu irmão me mandou uma mensagem. Respondi algo que o deixará chateado correlato com a mensagem que ele enviou. É interessante ter a suposta morte tão acessível dentro de casa. Mas seria uma morte tão dolorosamente excruciante que nem me atrai. Ademais, não quero morrer. Minha vida nunca esteve melhor. Há até a distante possibilidade de Blanka. Há a possibilidade de sexo com Blanka, por mais que me sinta intimidado a esse respeito. É algo chato em mim, esse medo de meter. Espero que Blanka me ajude a superar isso quando do meu presente de Natal. Desejo muito a sua nudez e me enroscar na sua nudez. Apreciar com todos os sentidos possíveis a sua nudez, me embriagar nela. Me esfregar na sua nudez, lambê-la, apalpá-la, alisá-la, cheirá-la, beijá-la. Ah, como o desejo da sua nudez me é promissor. Tudo depende de nós, mais de mim, nos entregarmos corporalmente. Uma vergonha, um receio me toma agora em relação a isso, não sei porque essa frescura em relação a isso que é das melhores coisas de ser bicho homem. Acho que vem dessa minha postura de ser só racional, desumanamente racional e tocar só as teclas desse teclado USB.




19h15. Tirei foto do teclado. Vou beber mais um café com cigarro. Talvez Coca e cigarro. Amo a minha mãe. Estou com saudade dela agora. Se estiver acordada quando passar declararei meu sentimento por ela e lhe darei um beijo cheio de carinho. Carinho infinito, de alma toda. Esse Gmail do celular é uma merda, não envia as fotos, é de lua. Às vezes o faz superrápido, noutras, simplesmente não o faz. Nossa, me lembrei! Tirar a bateria do notebook. Putz, deixei por dias, desde Areias, conectada ao computador, que vacilo. Vou satisfazer as minhas necessidades orais.

19h36. Tudo em mim pedia por Coca, mas a parte desobediente de mim me serviu café, o resto da garrafa. Tomei, fumei e agora tenho Coca com muito gelo ao meu lado. Enquanto a irmã da fantástica faxineira, que trabalha também aqui em casa, sonha em viajar, eu sonho em permanecer aqui e começar um novo post sob um estado alterado de percepção, uma ótica diferente sobre a existência. Sempre me apraz sobremaneira. E este post acabou, poderia fazer isso imediatamente, já me permito e sinto confiante para tanto, mas antes, vou pegar as fotos com o cabo USB do celular, visto que os e-mails não chegaram, revisar e postar isso. Só não sei se divulgue, é um post tão inútil.

20h06. Acabei de revisar e redimensionar as imagens. A ironia é que quando acabei de redimensionar a segunda, ambas puxadas pelo cabo USB, os e-mails chegaram. Que celular escroto. Recebi um comentário no post anterior, relativo a foto da privada, foto deveras íntima. Foi engraçado.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

BLANKA, BLANKA, BLANKA, BONECOS E PERMANÊNCIA


Página em branco, mente idem. Cigarro e café. Preciso.

13h46. Blanka me mandou mensagens dizendo que iria fazer prova, espero nova comunicação hoje à tarde.

14h13. O mundo conspira para que eu escreva, mas não sei que palavras colocar no papel. Estou com medo de não conseguir fazer sexo (ainda, espero) com Blanka quando do nosso próximo encontro. Sexo tornou-se uma coisa problemática para mim. Amo as preliminares, me acovardo da penetração, acho que seja trauma do desempenho pífio na minha primeira e única ficada. Aliás, na minha segunda ficada com a mesma pessoa. Segunda e última devido exatamente ao meu desempenho ou falta de desempenho. Não sei como superar esse medo de fracasso e me entregar sem neuroses ao ato com Blanka. Ela me atrai, ela me desperta afeto, ela tem tudo para que funcione. Ou quase tudo. Eu não sinto a chama do tesão ardendo por ela como sinto pela alagoana. A alagoana realmente mexe com os meus hormônios, é algo animal, que me dá uma excitação que quase não reconheço como minha embora seja deveras minha. Mas não sei se a alagoana vai topar a nossa semana de curtição e Blanka foi a pessoa que meu peito escolheu para cultivar afeto. Quase tenho vontade de não ter o encontro antes do Natal com medo de fracassar sexualmente. Mas não vou correr, é o que quero para a minha vida, é onde invisto todas as minhas energias, preciso resolver isso. Preciso encarar, sem medo de ser feliz. Se o fracasso vier, virá. Pode não vir também, posso ficar excitado. Vou comprar um Viagra. Só por garantia. Juro. Pelo menos é uma muleta psicológica. Vou fazer um exame para estudar o meu sono, engraçado é que ele possui um questionário sobre os meus hábitos durante o sono. Como poderei eu responder tal questionário se não sei o que faço quando estou dormindo? Um dos questionários mais sem lógica que eu já vi. Mamãe que respondeu, pois tem mais propriedade para tratar do assunto do que eu. Vou fumar e repor o café. Acho que é a última ou penúltima xícara.

14h41. Volto com a cabeça repleta de Blanka. Uma mistura de sentimentos bons e ruins que advém, creio eu, da mudança que ela representa. Acabou de me mandar mensagem, disse que a mãe não sai hoje, que fala comigo à noite e, mais importante, inusitado e inesperado, disse que estava com saudade de falar comigo. Não consigo crer, mas não posso me desmerecer tanto a ponto de desacreditar de um gesto de carinho dedicado a mim. Talvez seja sincero, talvez seja a colheita chegando ou já aqui, quem há de saber? O negócio é seguir em frente. Talvez ter mencionado a volta da alagoana tenha a deixado insegura, lhe dado um leve medo de me perder. O que já seria uma grande proeza da minha parte, causar-lhe esse tipo de receio. Há quanto tempo uma garota por quem esteja romanticamente interessado não diz que está com saudade de mim? Nem lembro. Afinal, quando estava com a Gatinha, não havia tempo para grandes saudades. E quando houve, eu recaí na cola, aproveitando sua ausência. O que apagou qualquer traço de saudade em decepção, frustração e raiva, porque a Gatinha era e é esquentada.




15h40. Quase escrevo em inglês agora! Hahaha. Estava perdido no maravilhoso mundo dos bonecos. A palavra saudade ainda ecoa em mim. Sou muito carente, admito, e coisas assim me tocam por mais que as aceite com certa desconfiança. Ou não as aceite e mesmo assim não deixem de me impactar. Vamos ver como falará comigo à noite. E tenho ainda a tarde inteira para esperar. Acho que vou navegar no mundo dos bonecos, bem que eu poderia receber o e-mail de que o crânio-coração chegou ao Brasil. Mas encantado mesmo eu estou com a peça que, com a ajuda de Daisy da YetiArt eu adquirirei. Queria abrir a página para namorá-la um pouco, mas tenho medo de enjoar. Adoro, é um passatempo, namorar as imagens das figuras que tenho, mas que estão em pre-order ou na casa do meu irmão. Falando ainda em bonecos, antes de partir de fato para esse universo, estou com certa ansiedade em relação ao truque da MoAF funcionar ou não. Se não funcionar, vou pleitear pelo menos metade do desconto ou um reembolso integral do valor gasto. Comprei o Superman e torrei todo o meu dinheiro do PayPal por causa do desconto. Não consegui resistir aos 30% off oferecido pelo site que usei em uma peça que não estava na promoção, mas que, por um defeito do site consegui, incluir o desconto. Fiz isso com duas peças. Numa obtive 25%, o Batman branco, na outra, como mencionado, o Superman, 30%. Agora me lembrei, aproveitei o desconto uma terceira vez em duas peças proibidas também, obtendo 25% de desconto, mas acho que essas passarão despercebidas. Ao todo economizei mais de 500 dólares que, caso tenha que pagar, serão um golpe duríssimo. Economizei é forma de dizer, pois acabei foi gastando todo o meu dinheiro do PayPal nessas promoções. Vou pegar Coca e ir para o maravilhoso mundo dos bonecos, fazer hora para falar com Blanka.

17h53. O maravilhoso mundo dos bonecos está um pouco silencioso agora, resolvi voltar para cá, acho que fui rude com Blanka em meus comentários, duvidando da sinceridade da sua saudade de falar comigo.

23h38. Pelo visto meus comentários não foram tão infundados assim. Até agora nada de Blanka. Eu me sinto o perfeito palhaço. Como pode? Como pôde? A vontade de botar um fim nisso me vem até a garganta. Para mim já é escrotice.

1h13. Foi eu postar um desaforo para ela e ela me responder, não sei se foi coincidência, só sei que tivemos uma pequena discussão, mas tudo acabou em paz. Discussões fazem parte, é como um se afina ao outro, como disse a ela no post que deixei para ela ler amanhã. Não sei se aguento muito mais tempo acordado. Foi uma delícia passar a tarde no maravilhoso mundo dos bonecos. Vou voltar para lá. Estou sem o que dizer aqui, a não ser que há colecionadores muito mais descontrolados que eu e que poucos acreditam que eu tenha abandonado o hobby mesmo, que estou satisfeito com a minha coleção. A única peça que desejo eu jamais poderei ter que é Batman Sanity da XM. É completamente inviável pelo preço e logística. Troquei o Azure Dragon pela pintura de um custom kit feita pela YetiArt, achei mais válido. Faltam ainda duas figuras minhas a serem pintadas lá. Mas ficarão para o final do ano que vem, quiçá 2020, visto que ela tem muitos trabalhos a fazer, a lista de espera é grande. Blanka me veio à mente de assalto, suas palavras duras calaram profundamente em mim, me senti egoísta e insensível. Embora ache que se não tivesse me manifestado ela não teria respondido, não sei. Pode ter sido a mais pura coincidência. Coincidências acontecem. Vou para o mundo dos bonecos.

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14h50. Acordei há algum tempo e há algum tempo estou conversando com Blanka. Ela não ficou com raiva do meu piti ontem e talvez até entendesse o meu ponto de vista se lesse este texto, mas não vou forçá-la a isso. Entretanto tentarei causar a tentação para que o faça. Se ela voltar a me responder. Pedi uma pausa para o café e cigarro.

15h04. Ela parou de se comunicar, talvez o médico tenha chegado lá ou qualquer outra coisa. Vou aproveitar para mais café e cigarro. Fiz a propaganda do blog, by the way.

15h43. Blanka parou de se comunicar comigo. Mandei mensagem para o meu amigo cineasta para combinarmos a nossa ida ao lançamento do livro do nosso amigo. Até agora ficou firmado de 18h45 na Rua da Amizade (nome sugestivo para tal encontro) e de lá irmos andando para o local do evento. Preciso cortar as unhas da mão. Estou com preguiça agora, quando a fantástica faxineira acabar de arrumar o meu quarto eu corto, até porque o cortador está lá.

16h35. Cortei as unhas, nada de Blanka e denunciei a presença de uma baratinha à fantástica faxineira. É o máximo que consigo fazer: denunciar; não tenho coragem de eu mesmo lhe roubar da existência, por mais que o resultado seja o mesmo. Coisa idiota. O livro do meu amigo chama-se Permanência e segundo ele trata da “impermanência”, confesso que não entendi direito, mas quiçá, se tiver coragem de ler a obra, eu compreenda do que se trata. Há um clipe rolando no Instagram com uma mulher de vermelho, solitária, em diversas situações, com trilha assinada pelo meu primo urbano, eu suponho. O livro está tendo um pomposo lançamento via Instagram, pelo menos. Não sei no Facebook, pois estou ultimamente conectado na minha conta do maravilhoso mundo dos bonecos. Sei que o meu amigo escritor fez o seu melhor e é tudo de uma fineza e bom gosto que me causam inveja. Livro de capa dura, preço bastante acessível, trinta reais, me desperta até a vontade que o meu tio me venha com a boa notícia da publicação do meu. Não virá. Fui vítima de promessas vazias, estou começando a me acostumar com elas, mas não desacredito da humanidade por causa disso, cada um oferece o que é capaz de oferecer e toma tudo o que pode tomar, é da natureza humana e, novamente, não desacredito dela, acredito que estamos progredindo, respeitando mais uns aos outros e à nossa mãe natureza. Há os brutalizados por força das circunstâncias, talvez haja aqueles que nasçam com o gênio ruim, aliás, tenho certeza que esses há, visto que sou um deles e reprimo o que posso para me aceitar como pessoa. Várias vezes, entretanto, meu lado ruim me escapa e sai para o mundo, mas me confesso cada vez menos dado a tais arroubos, a alma serena com a maturidade, que a mim chega parcialmente, em uns aspectos e não em outros, mas como um todo, assumo que amadureci e é boa tal assunção, pensei que nunca a alcançaria. O tempo corre...

17h03. Me perdi das minhas ideias lendo as novas mensagens de Blanka, a mãe teve alta e vai ter que entrar deitada em casa. Escrevi uma declaração para ela que, infelizmente, não posso publicar aqui. Minha mãe acha que ela é uma oportunista a me fazer de trouxa, eu prefiro acreditar que ainda há humanidade em seu coração. Não sei, me imaginar com ela me traz ansiedade e medo. Principalmente insegurança sexual. Acredito que a situação com a ficante de anos atrás somada à minha baixa auto-estima tenham resultado nisso. Blanka sexualmente me agrada, mas sinto como se não fosse capaz de ter uma ereção com ela. Até porque não é a penetração o que quero no momento, quero usufruir do seu corpo de todas as formas, menos dessa. É tão estranho e incomum e não estou sabendo lidar com isso. Acho que o jeito é aceitar essa incapacidade momentânea, pedir-lhe paciência até que me sinta sexualmente seguro com ela para que a coisa aconteça. Não adianta me forçar a algo que meu ego não está preparado para oferecer. Os fracassos com a minha ficante me assombram terrivelmente. Sempre fui sexualmente inseguro, aliás, desde a minha terceira namorada. O bloqueio começou nessa época. Fato é que penetração não me interessa muito, me interessa muito pouco em verdade. E vou deixar esse papo para lá porque preciso me aprontar para o lançamento de Permanência. 17h33. Tomar uma Coca com cigarro e me aprontar.

1h55. Acabei de mandar para Blanka:
01:55 - E ligar a minha vida à sua. Isso é tão precioso, pena que poucos veem sua beleza, a beleza de tal acontecimento. Só eu posso mensurar o que eu passei e o que eu desejo, só eu preciso relevar o que eu preciso relevar. Muitos achariam muito. Ser sempre o segundo, Dande sempre em primeiro? Não me importa e não me interessa. Estamos aqui tentando ser felizes. Se a sua felicidade é ter Dande como a pessoa que atravessa a couraça sem restrição, que é sua pessoa mais importante, que seja. A minha felicidade está em ser o segundo, ou de oferecer uma experiência nova, boa e válida para nós, que tenhamos prazer um com a companhia do outro, se pudermos fazer o outro um pouco mais feliz e experiente, porque a troca de experiências vai ser rica para ambos os lados, que a mudança venha, enfrentarei qualquer preconceito. Porque não são meus e não me atingem. Sou maior que eles. Desculpe me perdi escrevendo. Vou postar isso no blog, mudando os devidos nomes.

1h57 – Agora eu vou fumar um cigarro e talvez comer alguma coisa. Esqueci de dizer que estar com ela é melhor que meu dia enfurnado num quarto a escrever. Ou tão bom quanto, bom de formas completamente diferentes. Vou lá fumar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

HOJE É DIA DE CAMINHADA



13h25. Vou nessa  aventura ideológica  que é a  caminhada das mulheres contra Bolsonaro. Assisti ontem The  Purge e tomei como uma crítica, um hipérbole social, interessante, principalmente nesses tempos de extremismo. Os dois lados estão cegos, admito. Eu acho que ainda consigo manter um pouco  da minha imparcialidade e ver qualidades e defeitos em ambos e  os defeitos da extrema direita, na minha opinião, em muito superam as suas qualidades. Os defeitos da esquerda são grandes também, mas não agridem os direitos adquiridos no Brasil. Mas não vou falar de política, por mais que  vá praticar um gesto político,  porque me falta embasamento para dar opiniões. Mandei uma mensagem para a garota do Instagram perguntando se  ela  vai, mas tenho certeza de que ela não vai me  responder. Talvez tenha lido o post anterior e me achado um freak. Sei lá. Sei que de 15h ou 16h  parto para o Derby, para dar a minha singela contribuição à democracia do Brasil. Não posso votar, participar da passeata  é o que eu posso fazer, então farei. Preciso de um copo de  Coca bem  gelado. Acabei de tomar uma garrafa  de café  ouvindo o meu padrasto dando sua visão política, embora ele se diga  indeciso, sinto que  tem uma  inclinação por Bolsonaro no segundo turno. Acha que os demais poderes o vão controlar. Sei lá. Estou pensando na garota do Instagram,  acho que  ter repartido os post tenha  a  assustado. Se ela leu. Não sei se mereço tanto empenho de sua parte. Gostaria de me  orgulhar dela.  Não vai ser o caso. Ela visualizou a minha mensagem  e certamente não vai responder. Vou botar o meu celular para carregar.

14h27. Mandei algumas mensagens  a  incentivando a  ir e como sei que não haverá resposta, coloquei o meu celular para carregar para poder chamar o Uber na volta. Liguei  para a minha tia agora e ela disse que sairá  às  15h, que a gente se encontrasse  no Derby. Dificilmente os encontrarei,  mas vamos ver no que  é que dá. Minha tia pareceu apressada, agoniada.  Estranho. Vou me  arrumar em breve,  quando o meu celular carregar. Acho que não vou tomar banho. Tomo quando voltar para  não perder tempo. Vou fumar um cigarro com Coca.

14h55. Começo a pensar que essa passeata é sem sentido, pois em  nada alterará o  resultado  das eleições  para  o segundo turno. Se ambos os lados estão cegos e com visões bastante definidas do que querem, não vai mudar  nada. Apenas  demonstra o engajamento político de  cada um. Talvez isso mude a  cabeça de um  indeciso ou outro, mas nada que altere o quadro eleitoral. De qualquer forma eu vou  para cumprir  o meu papel  cívico. E de  repente encontrar amigos e família. Não sei se Bolsonaro ganhar as manifestações  democráticas contra o seu regime serão toleradas. Acho que serão, a  não ser que  ele dê um golpe. Mas acho que  ele não tem intelecto para tanto. Nem força política  suficiente. E  provavelmente  não vá ganhar. Me entristece o PT no governo mais uma vez, mas não me amedronta como ter a extrema direita  governando.

15h22. Perdi a carona  do meu tio-vizinho, que ozzy. Soubera eu que ele ia,  teria me organizado melhor. Senti ele incomodado comigo também. Será que alguma coisa  decorreu que eu não estou sabendo? Ou é só neurose  da minha  parte? Preciso me aprontar para ir. O danado do celular não carrega. Acho que vou com  a carga em que está  mesmo. Meu tio comentou que vai ser foda mais quatro anos de PT e roubalheira, que Bolsonaro tinha estacionado  e  a rejeição a ele aumentado. Bem, vou-me. Adeus quarto-ilha. Ou até breve.

-x-x-x-x-

13h49. A passeata foi massa. Largamente apartidária, que acho que era a proposta,  com muito mais mulheres que homens, o que também era a proposta, e encontrei pessoas muito queridas lá. Reitero que o impacto eleitoral dela vai ser nulo,  mas me senti cumprindo um dever cívico, já que não voto. Era o mínimo que poderia fazer. Voltei caminhando com  um casal de  amigos até sua casa e passei lá uma  tempo, revi Lia, a cadela labrador preta  deles,  o animal que mais curto na Terra, e passei a maior parte do tempo brincando com  o caçula, até que desenrolei direitinho. Foi um dia muito bom de ser vivido. Recebi elogios da pintura que postei no Instagram e o incentivo para retomar os pincéis, o que me intimida mais do que motiva.  E a tela em branco que tenho aqui em casa é muito grande, se fosse uma menor,  talvez pegasse algum dia para tentar. A arquiteta mandou resposta e orçamento para mamãe, mas esta não me  deu muitos detalhes.

14h25. Converso com o meu amigo cineasta, está preocupado com  o cenário político. Participou da marcha em  São Paulo, onde mora. A garota do Instagram começou eloquente e se calou. Nem viu as minhas novas mensagens ainda. É  ter paciência e esperança. Tenho conversado mais com o anjo do Tinder do que com a garota do Instagram e confesso que isso me põe confuso.

14h39. Hoje não estou para  o maravilhoso mundo dos bonecos, ter tentado mergulhar nele me causou desgosto até pelos meus bonecos, não foi legal. Mandei um  vídeo de uma senhora bem idosa e negra dando um  depoimento contra Bolsonaro para o grupo da minha família  materna, um ninho de direita. Isso me divertiu. Trela. Hahaha. Acho que vou trocar o “hahaha”  por “lol”. É petulante, mas também me  parece menos que o “hahaha”. Vou mandar uma mensagem para o anjo do Tinder dizendo que estou com saudades. Vou dizer menos, vou dizer “saudadezinha”. Mandei a velhinha contra Bolsonaro para ela e disse  da saudadezinha. Vou deixar os espaçamentos duplos. Preciso resolver isso. Vou falar com mamãe. Ela disse que conhece quem conserta.

15h28. O celular pisca, mensagens  do Instagram aparentemente. Quem será?

15h36.  Foi o anjo do Tinder, ela fala comigo mais que a garota do Instagram. Isso tudo é tão estranho e novo para mim. Esses vínculos cibernéticos com desconhecidas. Meu deus, me deu um frio na  barriga de pensar na publicação do livro. Mas  acho que não vai acontecer. Acho que  meu tio não se dará ao trabalho. Bom, pode  ser o período eleitoral. Tenho que me convencer que não vou ter trabalho nenhum publicado em papel. Mas  sou um homem  que vive de áridas esperanças. Ah, essa espera por respostas me chateia. Vou escrever que é o melhor que faço. O anjo do Tinder ontem se ofereceu para ser o meu cupido com a garota do Instagram. Parece que tenho chance. A garota do Instagram tem uma ideia  bem clara de  quem eu sou. E disse que poderia me  dar uma chance. Não acredito que seja capaz, mas tentarei de tudo. Interessante é que com essa minha ocupação cibernética fico sem muita disposição para escrever aqui. Parece que eu estou vivendo mais a vida estando lá que escrevendo aqui. Lá eu vivo a  vida em companhia esparsa de  duas desconhecidas,  há diálogo, não monólogo. Diálogo é algo mais cheio de vida que a escrita solitária.

16h15. Amanhã será o dia de cuidar de mim, levarei o computador no conserto, cortarei as  unhas e apararei cabelo e  barba. Minha tia está dando uma cafeteira, eu acho que vou pegar. Estou pensando em substituir a Coca por café e água para ver se o meu bucho diminui. Nossa  como queria engatar  um conversa com  a garota do Instagram.

16h28. Não sei o que escrever, minha vida agora passou a ser esperar por resposta de duas figuras que não dão a mínima para mim. Esses espaçamentos duplos também me irritam profundamente. A ansiedade por algum  sinal de vida me faz fumar mais.

16h57.  Me  bateu o niilismo que me acomete às vezes quando fumo cigarro. Tudo o que faço  parece sem sentido ou utilidade, o que escrevo, essas relações cibernéticas que não levam a nada. Eu acho que nesses momentos eu me aproximo da verdade como realmente  é. Não sei, nunca soube, nem nunca saberei como vender o meu peixe. E isso,  infelizmente, é mais essencial que a  essência da coisa em si,  sejam os meus textos, seja eu mesmo. O marketing é mais importante que o produto. Eu que trabalhei com publicidade deveria saber disso melhor que ninguém. Minha incompetência me  inviabiliza. Acho que vou apagar o Tinder. Aquilo não me leva a lugar nenhum.  O que faz mais sentido, que me parece mais real no momento é o videogame,  isso é irônico, até contraditório  e, sem dúvida, deprimente. Eu vivo de aspirações e sonhos que não se ancoram na realidade,  o que me entristece. Tudo porque não sei fazer  marketing pessoal.

17h35. Guardei as louças, botei gelo para fazer, comi um  pouco do chinês que mamãe pediu, fumei um cigarro e a minha descrença permanece. Será que estou fazendo o melhor da minha  vida? A intangibilidade, a falta de materialidade das coisas em que invisto o meu tempo me  incomoda. O anjo do Tinder visualizou a minha recomendação musical – The Joshua Tree,  do U2 – e nada comentou.

20h10. Estou de mau-humor e a causa disso me  veio com uma clareza óbvia, as coisas que mais quero, o livro e um amor  não dependem de mim para  se materializar. Eu  faço o meu melhor,  eu me  esforço e tento, eu planto, mas nada colho. É frustrante. Talvez  não seja o  tempo da colheita ainda. Sei lá e quem sabe? Vamos ver  se, a respeito do livro,  depois da corrida  eleitoral,  o meu tio se manifesta. Tenho ainda a vaga possibilidade de  mandar o texto para uma editora em março do ano que vem. Pelo menos agora a sensação de frustração tem  causas sólidas. Estou agindo sem  obter resultados. Não sei vender o meu peixe.

22h39. Escrevi um monte para a  garota do Instagram  agora,  foi brotando e eu fui colocando, colocando, colocando. Nossa, me sinto exausto, carga emocional forte desgasta.


23h01. Antes de o celular descarregar ainda vi um novo post dela  no Instagram, fofo e engraçado. Ela é a garota dos  meus  sonhos, pena  que a  realidade seja acordado. Quem me  dera a  dissertação que fiz lhe  tocasse  em  algum ponto. Acho que  é melhor perder as  esperanças... O chato é que as danadas acabam  sempre me encontrando. Só desisto com um fora. E tenho dito. Mostrei o vídeo a  mamãe  e ela  achou a garota do Instagram bonitinha. Eu também acho ela bonitinha e  tenho a impressão de que não é ordinária. Mas  não tenho certeza sobre essa segunda parte. Queria muito que  desse certo. Mas  não vai dar. Sei lá o que vai acontecer. Cenas  do próximo capítulo. Amanhã é um novo dia da minha  batalha. E  não vou poder cuidar de mim como desejava. Amanhã é dia de  cuidar da cuca  com  Ju.  Havia  esquecido completamente. Revisar e postar.   

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

INSTAGRAM



11h58. Depois de um longo hiato, produtivo hiato, em que escrevi o meu segundo livro (bem, quase todo, falta o capítulo de fechamento), estou de volta ao lugar primeiro das minhas palavras. Me impressiona como a vida, mesmo a minha, é dinâmica. Várias coisas aconteceram. Uma delas foi que conheci a garota do Instagram e, entre trancos e barrancos, pois ela demora séculos para me responder, temos construído um diálogo. Fazia muito tempo, nem sei quanto, que não conversava tanto com uma garota que me interessasse afetivamente. Desde a portuguesinha. Mas a portuguesinha veio me revelar depois que namorava e que morava com ele. Agora, talvez tolamente, vejo a garota do Instagram como a luz no fim do túnel da minha solidão e queria me tornar a luz de sua vida. Por sinal, ela está conversando comigo agora. Entre trancos e barrancos. O meu teclado está com um problema de espaçamentos duplos, a tecla de espaço está com defeito. Aqui nesse post é mais fácil consertar, mas no livro, decidi que vou mantê-los, para acrescentar uma camada extra de autenticidade à narrativa. Como conheci a garota do Instagram? Ela começou a me seguir no aplicativo, eu a achei bonitinha e não sabia se a conhecia, então, tendo descoberto que o Instagram tem chat, iniciei um papo com ela para ver se me lembrava de quem se tratava. Não nos conhecíamos. Estamos no quarto dia desde o primeiro contato. Já nos conhecemos um pouco.

12h40. Fui fumar e nada da resposta dela. É assim. Espera sofrida, que a mim demonstra a falta de interesse dela pela minha pessoa e que finjo não ver dessa forma. No mais, mandei a versão revisada do Diário do Manicômio para o meu tio intermediar com as editoras e mandei também para o pai da Vila Edna – pois é, criei coragem para voltar lá depois de mais de ano, creio – e temo pela receptividade que o texto terá para uma família tão querida. É o primeiro teste de fogo da reação do público. Espero não macular a relação. Se macular foi uma escolha consciente que eu fiz. Quero me reconhecer escritor de fato, não de blog. Segurar o objeto livro contendo as minhas palavras nele. Ainda estou na dúvida se o meu tio fará a parte dele, mas me agarro nessa esperança. Deixei o capítulo final do novo livro, que intitulei de Eu Sou Assim e Ninguém Tem Nada Com Isso Ou Mário Odyssey, para depois, pois abri todos esses arcos e acho que deixá-los sem conclusão é um desserviço com o hipotético leitor. Sigo à espera de uma sugestão de música maravilhosa por parte da garota do Instagram. Estou curioso para conhecer os seus gostos musicais. Estou um pouco cansado da lista 6, vou colocar a discografia de Björk para tocar em modo aleatório. Aliás não vou. Vou continuar ouvindo a seleção de Björk da lista 6, tem o Utopia que sempre me relaxa.

13h37. O meu amigo da piscina está fazendo um pão e me chamou para experimentar quando estiver pronto. A garota do Instagram não deu mais sinal de vida, estou começando a me acostumar com seus longos silêncios. Ficava ansiosíssimo, não mais. Se é assim que a existência se mostra para mim, tenho que relaxar e aproveitar. Melhor tê-la dessa forma fugidia em minha vida que ser jogado de volta à solidão. Contei a ela que voltei a escrever o blog e que poderia mandar o link caso estivesse interessada. Minha mãe está com alguma doença, gripe, virose, sei lá, que ataca a garganta e a deixa mole. Está descansando no quarto. Creio que não seja nada de grave, embora ela já fale em pneumonia. Ela descobriu que eu compro cigarros por fora e cortou os Marlboros que me dava dia sim, dia não.

14h17. Ainda nenhuma resposta da garota do Instagram. Mamãe entrou aqui no quarto para me alertar que, quando a voz melhorar, vai querer ter uma conversa comigo. Tal comunicado me deixa com um desconforto interior porque ela tem uma cabeça muito diferente da minha. Ah, no processo de composição do novo livro passei por uma profunda transformação existencial. O título do livro reflete e sintetiza isso. Saí da sombra do meu pai e do meu irmão, deixei de me comparar aos outros, me meço por mim mesmo,  aceito os meus defeitos,  os acolho e  tento mudar os que consigo, os que me incomodam.

15h41. Estive com o meu amigo da piscina e seu contundente bolsonarismo. Acabei de mandar uma mensagem para a garota do Instagram. Achei que mandei bem. A mensagem foi dada em quatro partes, cada uma visando criar uma emoção diferente, me surgiu de um impulso e do tempo que tenho para pensar cada mensagem. A princípio pensei em colocar apenas “seu silêncio é eloquente...”, então concluí que tinha que seguir adiante e o complemento foi pipocando na minha cabeça, inclusive o emoticon de fechamento. Pois bem, crio o drama com a primeira frase, curiosidade com a segunda (“Sabe o que ele diz?”), com  a terceira apresento um fato inegável (“Que eu não pertenço às suas prioridades cibernéticas”). E no final a alegre surpresa: “Ainda.” com um emoticon muito contente de si, muito tranquilo e muito confiante. Que é como me sinto no momento. Acho que a minha mãe está deprimida, não está gostando de existir, não acha que está levando uma vida feliz, como se tivesse dado um “cansou” nela. A vontade que tem é ficar em casa descansando da vida inteira de trabalho e a impossibilidade disso a está deixando doente. Isso pode ter aflorado porque eu parei de dar “trabalho” e ela teve oportunidade de olhar para si e seus conflitos emergiram. A idade também tem lhe pesado muito e sido muito severa. Eu e meu amigo da piscina tivemos divergências ideológicas a respeito do bolsonarismo.

[15:44, 9/28/2018] Mário Barros: Não percamos a amizade por questões ideológicas, apenas discordamos em alguns aspectos. Ademais a minha opinião é baseada em muito pouco conhecimento (que não pretendo expandir).

16h20. Estou pensando na garota do Instagram. Isso tem alguns traços de paixão, mas não é paixão ainda, não é hora, não está nem perto. Sabe o que eu projeto, que não sei se conseguiria aplicar realmente, por ser ousado demais? Que, caso nos encontrássemos na passeata, eu pudesse andar de mãos dadas com ela por alguns momentos. Há quantos anos não sonho em andar de mãos dadas com uma garota? Uma garota pela qual eu tenha sincero interesse? Nossa, nem sei. Quem ainda me dá algum carinho é a Gatinha. Bom, nada disso vai acontecer, é só ficção. Outra ficção que criei enquanto fumava era dar a um dos alunos da minha mãe a ideia de organizar um evento surpresa de despedida, quando da sua aposentadoria, com todos os alunos dela e os professores no auditório e coquetel depois. Fazia uma quotinha no departamento para que todos contribuíssem para a consecução do evento, que não seria caro, a estrutura está toda lá. O auditório tem inclusive o nome do meu pai. Seria massa se meu padrasto terminasse o discurso com: “...e além disso é o amor da minha vida”. Eu estaria presente, claro. FIM. Acho que não tenho coragem de jogar a ideia para o aluno. Mas acho que mamãe gostaria dessa manifestação da existência. Talvez gostasse de saber que eu fui o mentor. Vou pensar no caso. Sei lá, pegar o e-mail do cara, ou mesmo falar com o meu padrasto. Será que consigo? Seria uma atitude positiva da minha parte. Acho que poderiam até ex-alunos virem. Tive uma ideia! Vou mandar um e-mail com esse trecho do texto para o meu padrasto.

16h52. Mandei. Cutuquei a existência. Não sei no que isso vai resultar. Espero que em nada negativo. Agora fiquei apreensivo.

16h59. Fiz, está feito, não há volta. A vida não tem ctrl + Z. Por isso não me arrependo de tentar o meu máximo para conquistar a garota do Instagram. Demorou tanto para eu achar uma garota que merecesse ser a minha namorada, nos meus seletivos critérios, e o acaso/destino me apresenta a garota do Instagram. Uma garota encantadora pelo que tudo indica por dentro e por fora. Uma garota que posso conhecer com calma, para que a nossa relação se construa aos poucos para que eu vá me acostumando e me preparando para mudança que é ter uma parceira para encarar e usufruir a vida. Que possa dormir ao meu lado. Nossa, como sinto falta disso. Ter o ser amado ali confiando o seu sono a mim, acordar no meio da noite e ter alegria de vê-la. É uma existência provida de mais sentido, de mais alegria, de mais intimidade, mais cumplicidade, mais afeto, de mais admiração. Claro, morro de medo de isso vir a acontecer de fato. Seria uma mudança muito radical do status quo que agora impera em minha, por mais que positivo, radical. Eu precisaria readequar a minha vida para comportar uma nova pessoa, minha vida social seria mais agitada, mas respeitando os meus limites. Muitos programas ela poderia fazer sozinha, eu suponho, pois os faz hoje. Eita, outra ficção! Estou ficcional hoje. Hahaha. Vou fumar e encher o refil de Coca Zero.

17h23. Minha mãe e meu pai, parece que o meu padrasto veio depois, junto com outros professores agora decanos, fundaram o DQF da UFPE, fizeram a revolução e evolução do ensino de química da universidade, tenho muito orgulho dessa conquista deles.

17h28. O ar estava me deixando com frio. Desliguei. E pensar que até a semana passada eu nem sabia que Instagram tinha chat. Realmente a vida tem cada uma. Tenho que me conscientizar que nunca vou namorar a garota do Instagram. Mas essa ficha ainda não caiu.  Ainda há uma renitente esperança em meu peito. E vou insistir até que se prove inviável. Ou que outro milagre desses aconteça. Não tenho nada a perder, ela me diverte quando resolve falar, o que se prova extremamente raro (ela falar, digo). Estou aprendendo a relaxar com isso. Confesso que sou um aprendiz medíocre e ansioso. Eu não sei jogar o jogo de seduzir, eu só consigo ser eu mesmo. Vou postar como imagem deste post o quadro que pintei e recebeu uma quantidade razoável de elogios no Instagram. Pois é, estou assíduo do programa como jamais fui. Por que será? E além da garota do Instagram há o anjo do Tinder, que me serve de conselheira. Em verdade a encontrei primeiro e ela me levou à outra, por me fazer ver o Instagram, este me informar de que uma nova garota havia começado a me seguir e eu decidir investigar quem era. O acaso/destino agiu de uma forma muito singular. Sobre o anjo do Tinder? É uma garota lindíssima que entrou no aplicativo só para tirar onda, me pegou e tentou me fazer de otário, mas a desmascarei. Passei-lhe um sermão e nos tornamos amigos de Instagram, por assim dizer. Sempre quer saber em que pé anda a minha interação com a garota do Instagram. Nossa, estou cansado de escrever a palavra Instagram. Acho que esse vai ser o título do post.


17h54. A terceira página está quase acabando. E nada de resposta da garota. Até o anjo do Tinder já veio falar nesse ínterim, perguntar como andavam as coisas. Acho que a minha mensagem para a garota do Instagram ficou redonda, mas quando publicar isso vou postar o link do Profeta para ela. E daí me segurarei até que ela fale, senão tento amanhã de novo. Entre ficar só escrevendo aqui e ouvindo música, me comunicar em pílulas com a garota do Instagram é uma ótima adição à minha rotina, se eu não ficar com ansiedade. Seria uma  história para contar aos nossos  netinhos que nos encontramos pela primeira vez  numa passeata histórica, de um momento histórico do país, mostraria que tínhamos ideais políticos e poderíamos explicar contra o que lutávamos: contra a militarização do país, a favor das minorias e da  base da pirâmide social, pelos direitos constitucionais invioláveis, pelos  direitos  humanos como um todo, para prevenir que alguém completamente despreparado assuma o controle do Brasil e com o apoio dos militares sabe-se lá engendrar o quê. É muito perigoso um homem incompetente, reacionário, que incita o ódio no poder. Enfim, seria legal, bem legal que nos encontrássemos lá. Sua presença valorizaria muito mais a pessoa que é para mim por estar demonstrando que ela se valoriza e se mobiliza como mulher e cidadã num momento tão extremo. Eita, entrei na quarta página, vou revisar e postar.

domingo, 9 de setembro de 2018

QUADRO

18h02. Tentei revisar a revisão do livro, mas não suportei fazer por muito tempo.

18h15. Deixe-me estar na internet e não me agradei do maravilhoso mundo dos bonecos. Antes me agradava muito. Meu amigo da piscina me chamou para ir à casa dele. Disse que iria pensar. Minha mãe certamente virá aqui antes de ir ao restaurante. Falarei com ela sobre a ideia. Ela talvez me motive. Eu não tenho motivação por mim mesmo. Não estou bem. Isso, sentir-me assim, não é normal. Droga de cabeça cheia de caraminholas. Me vejo numa situação sem saída. Estou passando muito tempo sozinho a remoer as minhas neuroses. É um ciclo que se autoalimenta.

18h25. Meu amigo da piscina quer vir aqui jogar videogame. Acho que vou concordar com isso e ir um pouco mais além. Não estou com vontade. Mas é algo que acrescenta mais do que rouba. E vai deixá-lo feliz. Uma boa ação. Vou fumar um cigarro. Eu não mereço existir, mas inexplicavelmente existo. É algo que não faz muito sentido para mim.

19h42. Mamãe vai voltar a ler esse blog, coisa mais curiosa. Acabo de volta da casa do meu amigo da piscina onde ele me incentivou a fazer um curso, me disse que eu deveria ter levado o curso de pintura até o final para só aí, tendo estudadas as técnicas todas, ou as do gosto do professor, eu desenvolveria a minha. O que ele não entendeu é que eu já tinha a minha própria técnica. A que eu fazia sem técnica alguma só por prazer e pela experiência adquirida com a prática. A parte da minha vida em que pintei mais foi durante um internamento no Raid. Foi quando vendi o meu primeiro quadro, o que causou o desligamento do comprador, um sociólogo que fazia um estudo lá, da instituição de forma bastante dura. Ele aprendeu da forma mais difícil e clara que não se pode dar dinheiro a viciados em estado de fissura. Bom, nessa época eu era um eu muito mais seguro e de bem com a vida, é como se eu tivesse realmente envelhecido em espírito. Ou tenha encontrado o meu verdadeiro espírito. Mas não acredito nisso. Um espírito válido é um que gosta e está em harmonia com a existência. Como a existência é muito caótica eu me agarro a esse computador onde tenho quase controle total (a internet é indomável e são muitos). Em breve o meu amigo da piscina deve surgir aí e mostrarei a pintura que fiz no centro da sala. Chamo de “Virgem” e pintei durante a fase de internamentos do Raid e continuei pintando quando saí, e estava a pintar o quadro no momento em que meu pai morreu. Então é um quadro com muitas vivências atreladas, mas saiu um quadro alegre, mesmo e apesar das situações. Eu acho às vezes que causei a morte do meu pai por estar produzindo algo que ele achava válido e ele se viu pela primeira vez menor que eu, mais adoecido do que eu e tal constatação, quando somada a todas as outras, aos remédios com bebida... acho que morreu sufocado no próprio vômito. Eu nada ouvi pois estava na varanda pintando e ouvindo música muito contente de mim. Enquanto no banheiro trancado ele tinha a convulsão fatal.

20h13. Fui tomar uma Coca e fumar um cigarro. Meu pai é um ser mítico para mim. Um ser sobre-humano, inalcançável ou pelo menos essa era a ideia que vendia de si e a qual comprei integralmente. Como todo o ser humano, com a convivência nos seus últimos anos de solidão, percebi falhas estruturais, mas nada que o fizesse viver em desacordo com os seus iluminados valores. Sofria bastante para imprimi-los sobre a Terra, mas era a sua missão pessoal ser o melhor. Pelo menos eticamente e profissionalmente. Com as mulheres, acho que nunca levou muito jeito e parece que herdei tal defeito. Herdei os defeitos todos e nenhuma das qualidades. Meu amigo acabou de mandar uma mensagem dizendo que não vem. Bem, vou apagar todas as luzes da sala, que havia ligado para mostrar o tal quadro que me trouxe à relação que tenho com meu pai. Vou tirar uma foto para postar. Vocês vão achar uma merda. Hahaha.





20h31. Estou me sentindo bem, tranquilo. Uma pausa no sofrimento existencial. Me sinto bem estando só em casa no momento, sinto que meu reinado se expande à toda a área comum do apartamento. Vou pôr Arisen My Senses. Vou não, a sequência de Björk que vem depois dessa música muito me agrada. Acho que vou tomar um banho. Bem quente.

20h48. Mudei de ideia por enquanto. Vou fumar outro cigarro e ver se daí a coragem de tomar banho ressurge. Deixaria a minha mãe feliz. E vou fumar na escada para não poluir o corredor.

20h59. Minha mãe acaba de telefonar. Disse que não vai poder pegar o carro para dirigir e, portanto, não haverá Cocas, isqueiro ou lanche. Trará um prato do japonês para mim e me financiará para que compre os refrigerantes, espero que na pizzaria. Estou com vontade de fumar mais um cigarro antes de eles chegarem. Não sei bem por quê. Acho que é porque é um cigarro mais livre. Eu peso às costas da família, mas ela também pesa às minhas. Estou tranquilo e acho que o que vou fazer é tomar banho mesmo. Vou à pizzaria de banho tomado, que mal há nisso? Vou fumar e tomar banho, pronto.

21h34. Acabei de voltar da escada, estava fumando. Eles chegaram. Estava pensando ao me olhar nu no espelho em como a minha vida seria diferente se tivesse menos cérebro e mais pau. Certamente não teria conseguido alcançar o status de célula praticamente autônoma do sistema, de alcançar o meu sonho profissional de escrever. Seria alguém que ainda estaria acorrentado às engrenagens da máquina, adequado ao sistema, com emprego, profissão, esposa, filhos. Seria completamente outro. Acho que a minha tacada de mestre, o meu momento de maior genialidade foi reverter todas as merdas, todos os equívocos, todos os excessos, todo o meu rastro de autodestruição em algo que me garantisse a liberdade para exercer esse ofício. O que se passa atualmente é que percebo que isso se prova insuficiente e que me tornei talvez excessivamente autônomo socialmente a ponto de ter dificuldade severa ou de faltar disposição sincera de me socializar. Daqui a pouco minha mãe vai me chamar para tomar os remédios. Que são o que me impede de cair em depressão de fato, na minha opinião. Amanhã terei um desafio para o qual não me sinto nem minimamente preparado. Só teria disponibilidade, eu acho, para conviver com as filhas da minha tia, mas, pensando na minha tia, não me parece tão difícil interagir com ela também. Com certo esforço me socializo com os demais, mesmo que breve e superficialmente. Pintei no quadro que deu início a esse post lágrimas que resisti derramar no funeral do meu pai. Só as chorei muito depois, quando de uma recaída pesada de cola que me deprimiu profundamente. Foi necessário ir a tal extremo para chorar a morte dele, enjaulado no Manicômio, sem ninguém para me oferecer ombro ou consolo. Foi a última vez que chorei e ainda me lembro quão libertador o choro pode ser, como serve como unguento para a alma. Sei que teria muito o que chorar nas atuais condições, mas lágrima não me vem. As lágrimas são quando as máscaras caem, quando toda a dor se mostra plena e é expiada ou expelida. Pelo menos temporariamente. Acredito que melhor as chorar que prendê-las, mas não consigo fazer de outra forma, não sei me fazer chorar. Acho que me tornei emocionalmente frio demais em relação à morte. Talvez por me ser uma coisa secretamente desejada. Acho que só falo asneiras, isso sim.

21h56. Me perdi na internet por alguns poucos minutos. É uma pausa necessária, um alienamento de mim. Tomei também alguns refrescantes goles de Coca e isso me pôs mais em paz e satisfeito com a minha existência. A vontade de fumar um cigarro me toma e vou ceder a ela, dessa vez fumando no hall, visto que meu padrasto não mais sairá de casa e no hall posso beber Coca e fumar sem sujar o chão, além de espiar a noite do bairro pela janela. Vou-me lá.

22h19. Estou empanzinado pela comida que mamãe trouxe, enorme quantidade de arroz. Fumei dois cigarros, um antes e outro após a refeição. Tudo o que falam ou que o meu padrasto assiste é sobre o atentado a Bolsonaro. Me deu certo enjoo por alguns momentos a comida. Já tomei os remédios. Não sei se tardo aqui, pois, como disse iremos à Porto amanhã cedo. Não sei se leve o computador. O pen drive certamente levarei. Acho que levarei tudo. Já é quase de praxe que fique escrevendo em meio à família, o que chega a ser um acinte social, mas é o que posso oferecer em troca da minha nula presença. Queria que mamãe lesse este post, não sei por quê. Escrevo pensando nela mais das vezes. Algo daqui quero comunicar, não sei precisar qual ou quais partes, mas não me incomodaria que começasse a sua leitura do blog por esse post. Tomaria pé rapidamente do que vai em mim. Não de todo, mas mais revelarei quanto isso se fizer presente na minha cabeça. Quero divulgar esse blog no Facebook também. Acho-o, como dizer, diferenciado em relação aos dois últimos que escrevi. Não tenho nada no momento a acrescentar, então vou dar um pulo no ciberespaço.

22h57. Estava perdido na internet. Vou fumar um cigarro já com o pensamento em ir dormir. Resistirei ainda, entretanto.

23h05. Fumava e pensava em algo que não é meu e que mesmo assim é muito meu. Irrealidades. Sonhos que a alma em vão sonha.

23h09. Chega uma hora em que me dá um enfado de viver de lascar.

23h13. Acabei de ver o Tinder e nada. E nada da única garota real que me curtiu simultaneamente. Acho que era real. A outra que reportei como fake começou a me seguir no Instagram, pedi para seguir ela de volta, mas ela – ou ele, fiquei nessa dúvida – precisa me dar permissão. Quero mergulhar mais profundamente nessa história, estou curioso. Ver se me aproximo dos fatos. Se fosse realmente a garota que está na foto e me desse bola, seria quase que a concretização de um sonho. Deve haver algo de errado. E é isso que quero descobrir. Meu ar não está gelando o suficiente. Não quero ir para a cama. Não quero nada, voltou o meu desinteresse pela minha existência. Não acredito que haja “tampa para toda panela” como popularmente se diz. Não há luz no fim do meu túnel. Terei que fazer a volta e andar tudo de novo em direção à saída. Eis o que não me disponho a fazer. Tenho um plano de anos, fadado ao fracasso completo e absoluto, do qual não quero abrir mão. E a coisa mais saudável seria descartar tudo. É só perda, só resulta em perda. Se essa garota me aceitar, a do Instagram que era do Tinder, vou pedir para ter uma conversa privada com ela. Estou realmente curioso. Pelo menos é algo que desfoca um pouco de mim, que abre para o outro, aponta para outra direção. Me ocupa a mente sem ter que mergulhar em mim.

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Hoje é domingo, 13h33, não escrevi ontem pois fui a Porto e não tive disposição. Dormi cedo. Levei meu computador, mas não usei, achei que, da maneira em que a mesas foram colocadas, seria insensível demais da minha parte me alienar da companhia da família escrevendo. Foi bom, ouvi muito mais que falei, mas participei, estava presente à reunião. Minha tia me achou mais gordo, o que me incomodou, mas que é um fato e que não sei como reverter. Só se cortasse a Coca Zero, é a única coisa que pode estar me engordando. Relutei um pouco hoje em voltar para as palavras e a página acabou. Vou revisar, publicar e divulgar. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

THE KILLING OF A SACRED DEER






18h23. Antes de ler o review da portuguesinha, o que estou morrendo de curiosidade de fazer, afinal foi ela que me incentivou vivamente a ver o filme que dá título a esse post, eu vou escrever as minhas impressões.

Bem, é um filme onde todos os personagens são estranhamente contidos emocionalmente, o que cria um clima psicologicamente tenso. Todos são frios, há um distanciamento emocional que beira o surreal. Tal estado de ânimo se reflete nas excelentes interpretações. Mesmo a ira e o desespero acontecem de uma forma quase racional o que faz todo o filme parecer estranho. É definitivamente um filme estranho que gera um constante desconforto, um inexplicável incômodo. Os acontecimentos e certas atitudes e reações dos personagens também são surreais. É um filme que não tem intenção de explicar, deixando nas mãos do espectador decidir sobre quais são as motivações dos personagens em relação a determinados eventos, bem como os eventos em si e onde a verdade reside. Para um brasileiro como eu, acredito que a coisa toda pareça ainda mais estranha por sermos um povo afetivamente mais quente, eu creio. Destaca-se dentre todos, Martin (Barry Keoghan), numa magistral atuação do jovem ator, cuja escolha para o elenco deve ter sido meticulosa. Aliás, tudo nesse filme reside na direção e atuação, visto que o roteiro em sim é vago, intencionalmente vago. Certamente é um daqueles filmes que fica na cabeça após tê-lo assistido. Nisso, a portuguesinha tinha razão. Se você quiser ler seu ponto de vista acerca da obra, clique aqui, que é o que vou fazer agora.

18h55. Ela foi mais longe do que eu em todos os aspectos, mas, ei, ela é a crítica cinematográfica e faz disso o seu hobby ou segunda profissão, tal qual faço com os bonecos, cujo blog vai muito bem e o tomo às vezes como a minha principal obra. Preciso reiniciar a máquina, o filme – que assisti com mamãe na TV da sala – está no pen drive onde todos os meus arquivos estão salvos e este não está sendo reconhecido pelo computador o que me põe preocupado. Tive que salvar o que agora escrevo na área de trabalho. Vou reiniciar a máquina para ver se ao fazer isso ela reconhece novamente o dispositivo. Tomara!

19h26. Funcionou! Graças. Vou assistir com mamãe agora “Avengers: Infinity War”, nada mais contrastante. Dessa vez vou salvar no HD externo. Não quero comprometer o meu precioso pen drive.

22h34. Acabei de assistir, uma megadose de entretenimento hollywoodiano da melhor qualidade, poucos são os momentos para recuperar o fôlego. Gostei bastante, um dos melhores filmes da Marvel. Até o vilão, embora computadorizado, presta. Só a teoria dele é que não tem o menor sentido, visto que seres vivos se reproduzem. E pensar que tudo não funcionou por causa da ira de um coração partido. Como a mensagem é muito cifrada, creio não estar dando um odioso spoiler. Estou saciado de filmes no momento. Um não poderia ser mais diferente do outro. Ambos foram experiências interessantes e satisfatórias. Fico curioso em relação a como será o próximo filme da Marvel. Se dará sequência a esse “Infinity War”. Os roteiristas terão de ser muito mirabolantes, mas no mundo dos quadrinhos tudo é possível. Muito filme de um só vez me cansa mentalmente. Amanhã tenho o aniversário do meu primo para ir. Não posso deixar de comparecer até pelo combinado com o meu amigo redator.

23h02. Vou me dedicar um pouco ao maravilhoso mundo dos bonecos.

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23h35. Acabei de chegar do aniversário do meu primo-irmão. Interagi razoavelmente e conversei sobre isolamento – o meu, no caso – com o nosso amigo filósofo (e psicólogo) e ele me lançou a questão: “mas você quer interagir com as pessoas?” Fiquei perplexo que realmente não tinha muito interesse em interagir com a maioria das pessoas. Raras são aquelas que me deixam realmente confortáveis e cujo relacionamento não requer (muito) esforço da minha parte. Perguntaram se eu estava virando misantropo (o que eu aprendi hoje significar o repúdio/rejeição à humanidade). Disse que amava a humanidade e que a achava fantástica. Tal constatação da minha falta de vontade em interagir me deixou um tanto cabisbaixo, triste e preocupado. Já na piscina do meu prédio tentando espantar o desconforto com a minha postura introvertida frente ao mundo, em especial em relação aos meus amigos, a única coisa que me trouxe algum contentamento foi a aquisição da boneca da Rebel Terminator. Patético.

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14h02. Acordei num baixo-astral, não sei por quê. Acho que por causa da pergunta do amigo filósofo-psicólogo que me calou tão fundo e cuja conclusão a que cheguei não me agradou nem um pouco. Também a conclusão que meus amigos são sexualmente confiantes e que eu vivo numa hesitante negação em relação a esse assunto tão crucial para a humanidade desde sempre. Além do mais todos pareciam estar se divertindo mais do que eu, vendo mais sentindo naquilo do que eu. Também estavam bebendo. Posso contar isso como um fator, mas não o determinante. Fato é que o meio social, se posso chamar assim, onde me sinto mais confortável hoje em dia é a comunidade de bonecos. Parece que o efeito socializante da viagem está passando. E isso me preocupa, mas me preocupa mais o desinteresse pelo social. Não preciso, não sinto necessidade de muitas pessoas, queria ter apenas uma a qual dedicar a minha atenção e energia emocional, uma namorada. Até a palavra me assusta. Estou tão fora de forma que vivo a sentir câimbras se me curvo ou me dobro mais do que o normal. Não tenho a mínima motivação para fazer algo a respeito, entretanto. Eu tenho o alento de que todos os meus problemas estão dentro da minha cabeça. Às vezes penso que é o pior lugar para estarem. Pelo menos eles inexistem para além de mim e isso me agrada. Desagrada o fato de não saber e não ter esperanças de solucioná-los. Deposito toda a minha expectativa numa pessoa que não existe em minha vida e que não vai haver da forma que as coisas andam e vão. Amanhã tenho Ju, estou receoso de encontrá-la ao mesmo passo que estou desejoso de que ela me traga alguma luz.

15h00. Me causa admiração como existem opiniões bem formadas acerca das coisas, eu alienado de tudo que sou, sei cada vez menos das coisas, a vida vai se tornando à medida que o tempo passa cada vez mais misteriosa, por mais que tenha visto mais dela. As certezas de outrora se esfarelam esmagadas pela cruel marcha que me empurra para a morte. Do meu amigo que morreu tive praticamente a confirmação que sucumbiu ao inferno existencial que o rodeava. Pelo menos não estou mais no inferno existencial, talvez me encontre no purgatório, o que me é suportável mesmo que incômodo. Quando penso em quem gostaria de encontrar não me vem ninguém possível. Apenas Ju. Acho que estou com uma espécie de ressaca social. Também me incomoda a falta de vontade de fazer coisas outras que não sejam atreladas ao meu notebook e à escrita. Não sei porque o meu universo de interesses se tornou tão restrito. E compreendo menos ainda por que há uma parte de mim que se agrada disso. Que se sente totalmente confortável e completo com apenas isso. E não é parte pequena, é a maior parte de mim, o que para mim é óbvio, senão seria impelido à mudança. Não é o que ocorre. A portuguesinha não comentou o meu post anterior que foi praticamente todo dedicado a ela, sinto que desperdicei palavras, mas isso – desperdiçar palavras – é a minha especialidade. Assim como desperdiçar a minha energia emocional. Sinto cada vez menos as emoções. Tenho que me conformar que só tenho como alento as palavras e o recém redescoberto maravilhoso mundo dos bonecos. A incrível revisora ainda não me mandou a versão revisada do livro maldito.

19h48. Estou de volta pro meu aconchego, fui visitar a minha avó. Amo. A cabeça não está com a clareza de outrora, mas, apesar de muito ligada ainda a vovô, está ótima para a idade que ostenta. A incrível revisora mandou o livro revisado e enxuto. Resta-me agora reler a coisa toda, mas não estou com a mínima disposição. Há um desejo de fazê-lo, entretanto, para enviar ao meu tio e ver o que pode fazer com o material.

20h19. Respondi o e-mail da incrível revisora. Ela é o máximo, o e-mail foi extenso e demonstra a pessoa formidável que é. Ouvindo “Você é Minha” lembrei-me do que mamãe comentou no carro a respeito de “Sacred Deer”, disse para dizer a você, portuguesinha, que o filme é bom, pois ela conseguia se lembrar do filme todo, o que não aconteceu com “Infinity War”. Me sinto menos miserável do que quando acordei. Isso é bom. Essa mania de viver a me martirizar, embora meio inevitável, muito cristalizada, não faz bem à alma. A sensação que tenho é como se a vida estivesse em carne viva e qualquer mínimo movimento me causasse sofrimento, por isso continuo o mais imóvel que posso. Tornei-me hipersensível e me acovardei, aninhado na mesma posição. Por mais que quando me abra ao novo, geralmente me faça bem. Como a viagem. Não fui por opção, mas por falta desta, e revelou-se ser uma experiência sui generis, encantadora, onde encontrei uma pessoa que ainda permanece viva e vívida na minha cabeça.

22h27. Me perdi nas infinitezas de momentos alegres do Instagram. Tudo é belo, lindo e maravilhoso. Me sinto menor diante de tanta felicidade. Não tenho sorrisos para capturar, nem momentos para compartilhar. Talvez este, do aniversário do meu primo-irmão. Risos posados para a foto.

eu estou lá no fundo, no meio.



22h40. Fui fumar um sempre bem-vindo cigarro. Esta terceira página custa a acabar. Da foto acima presume-se uma vida social ativa e alegre da minha parte. Quem me dera. Sempre soube rir em fotos, um superpoder que eu tenho. Hahaha. Acho que Caetano vai estar indelevelmente ligado à portuguesinha na minha psique. Curiosa essa curva do acaso/destino.

0h27. Um cara que adicionei como amigo, um desconhecido (adiciono vários, todos desconhecidos, no meu alter ego criado para lidar com o maravilhoso mundo dos bonecos, visto que não conheço ninguém que colecione o que eu coleciono e, pelo que vejo nas comunidades do Facebook,  há muitos como eu, é o assunto do meu próximo post lá, em termos), o cara surgiu no Messenger agora e essa conversa se desenrolou:

hey welcoem thanks for the add
how do u do
🙂?


I'am fine. And you, how it's your life in the other side of the screen?

do u have instagram please?

No, I don't. But even if I had why would a give to a person I just met?

lol
nice work

How's that?
Why your profile only have police news? I love the question on your avatar, by the way. You work at Abbot Publishing. What do you publish?

0h42. Curioso. Há pessoas estranhas como eu. Ou era um perfil falso e o cara queria fazer um scam comigo. Sei lá, ele parou de falar. Não deixa de ser um evento cibernético interessante e surpreendente. Acabou-se a terceira página. Foto que eu peguei no perfil do nosso amigo. Bem que poderia surgir um bloco do carnaval de Olinda chamado os zumbis onde os integrantes se vestiriam e se maquiariam de acordo.



A frase no avatar dele era “if sand is little pieces of sand then are rocks big pieces of sand?” Com um velociraptor desenhado ao fundo. Duas fotos que achei interessantes e que parecem ser obra do interlocutor:






Xau.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

VIROTE E UM DUVIDOSO SEMPRE DA PORTUGUESINHA




                               Qwq433 <- Fantástica faxineira – ou acaso – deixando sua marca no meu texto ao limpar o meu computador.

9h55. Coloquei “Livro” de Caetano, trilha sonora da portuguesinha, disco que costumava ouvir no quarto 401 do Novotel enquanto escrevia e pensava nela. Penso nela agora. É um pensamento dos mais agradáveis. E inútil. Mas os meus bonecos são completa e inteiramente inúteis e nem por isso os aprecio menos. A existência tem coisas que aprecio. Ainda bem. Não dormi desde ontem. Decidi emendar para ver se organizo um pouco mais o meu horário de sono, embora ache que não vá funcionar. Meu cérebro não está funcionando com capacidade total, mas meu astral é ótimo. Prefiro assim que o contrário. Nossa, quando me lembro da portuguesinha tão cheia de vida e de aspirações, espetáculo tão bonito de se ver, além de ser uma moçoila bastante encantadora esteticamente, da cabeça aos pés, passando pelas lindas mãos, sou tomado por um carinho profundo. E inteligente, raciocínio rápido, língua afiada, senso de humor, profissionalismo, um exemplo de gente. Apaixonante é a palavra, tanto é que a coisa se deu como se deu comigo. Mas eu tenho uma carência abismal. Isso faz parte do fato de ela continuar a inundar os meus pensamentos. Que inunde, que transborde. Quero apreciar esse sentimento torto nesse momento em que tenho e não tenho sono. Já estou na quinta xícara de café forte. Ela tem um lar, a portuguesinha. Como eu tive com a Gatinha. Não posso nem tenho capacidade de usurpar-lhe essa divinal conquista. Contento-me com as migalhas que ela me joga aqui e acolá num post ou outro. “Você é Minha” toca. É a música-tema dela. Nada poderia estar mais distante da realidade, mas a realidade é que eu ouço a música e lembro dela. Lembro do sorriso maroto-simpático-acolhedor dela ao me trazer a Coca cheia de gelo logo que cheguei ao A Bicicleta antes mesmo que a pedisse. Nunca me esquecerei. Detalhes. Detalhes são importantes em algumas circunstâncias. Ela, você, sabe muito bem disso, atenta que é a todos eles. Nossa, foi bom ter virado a noite. É como se pensando menos eu fosse mais leve e mais feliz. Eu penso demais, racionalizo demais. Eu nunca vou beijar a portuguesinha, mas cheguei a abraçá-la com um pouco mais de afeto, com afeto mesmo diria, da segunda vez, na despedida para um bem possível sempre. Da primeira vez foi um abraço receoso, tenso e formal. Detalhes. Não sei porque eles me vêm nessas condições mentais. Ela me abraçou soltamente e distante em ambas as ocasiões, abraço profissional-amigável. Mas a rosa que lhe dei disse sem que precisasse ler o bilhete ou esse blog que carregava algo além de gratidão, algo mais denso e mais íntimo. Não que a gratidão não possua densidade. A minha gratidão por tudo o que tenho é incessante e chega a me torturar por não compreender porque eu sou merecedor de tantas bênçãos. Não há razão. Talvez seja o prêmio por suportar tão completa solidão. Que não sei extinguir. Quando tento, dá em nada, ou em comentários esporádicos no meu blog que me acalentam a alma e me fazem sentir sei lá o quê. Só sei que é bom.

10h44. Fui falar de você, portuguesinha, para a fantástica faxineira e falei da minha vida afetiva e sexual praticamente nula há dez anos. Ela disse que eu era muito exigente e eu concordei e disse que isso me atrapalhava deveras. Falei da boneca e a expliquei em todos os seus detalhes. Além de ser exigente, não sei ser gente perto de uma mulher que me atrai, pareço um menino acanhado, eu sou um menino tímido e acanhado perto das mulheres que me encantam. Para quebrar o gelo só sendo desenrolada como você, portuguesinha, foi no nosso último dia. Parabéns por me fazer sentir confortável, depois que me recuperei da ousadia que foi lhe presentear. A vida é cheia de surpresas. Você foi a melhor surpresa em muito tempo. Recebi um WhatsApp de uma pessoa muito querida, que me quer aparentemente igual bem, e que irá me odiar caso o meu livro seja publicado. Por sinal ao reativar o WhatsApp e comunicar aos meus contatos que tinha novamente acesso ao aplicativo, uma colega veio me perguntar do livro. Quando disse que era impublicável, ela brincou chamando de “proibidão”. Achei a alcunha divertida e pertinente, é como chamam os funks que exaltam o tráfico e o crime no Rio. Eu cheguei a comprar um CD de proibidão quando lá estive com a Gatinha, mas não sei por onde anda, meus CDs estão no limbo desse apartamento cheio de obscuras gavetas e armários. Quando da possível reforma, tentarei localizá-los todos. Gosto dos meus CDs. Na Alemanha comprei os dois últimos CDs da discografia oficial de Björk que me faltavam, mesmo os tendo disponíveis no Spotify. Joguei dinheiro fora, eu sei. Mas mais vale um gosto que dois vinténs, já dizia o meu carbonizado pai, que agora habita o meu armário. Meu pai tem vindo muito à tona nos meus pensamentos ultimamente, acho que por causa da entrevista da Gatinha, outra que também se faz bem presente nos últimos textos acho que por ter tido com ela há tão pouco e ter sido bom e saudável para ambos, até onde eu sei. É triste pensar que não mais terei o imenso prazer de dormir ao lado de alguém que ame. Não faço por onde e nada tenho a oferecer a uma companheira. Nada tenho a oferecer a você, portuguesinha. Não chego a unha do dedo do pé do seu “namorido”, tenho plena convicção disso. Tenho todo o amor do mundo dentro de mim mas todo o resto me falta. Não quero descambar para a autodepreciação. “Você é Minha” toca outra vez. “Mas naquele tempo eu não sabia que isso é que dissiparia a treva em que o amor lançou meu coração”. Quem me dera haver um “isso” para mim que eu não saiba. Não adianta, vivo de enganos, mas me agrada mais a minha vida com os comentários seus do que sem eles. Sem eles, seria mais doído, mais completamente e claramente só. Estou pensando na boneca que encomendei. A beleza, ah, a beleza... está no olho de quem vê. Aos meus olhos a beleza capaz de me encantar é rara. Meus olhos já viram tanto que se tornaram cegos para o ordinário, tem que ser extraordinário, como um detalhe de um vestido não vulgar que sugere o seio e a nudez de forma singela e delicada, sem extravagância; como uma enorme mariposa com a qual tive a sorte de me deparar um dia desses; como todas as nuvens densas. As nuvens me encantam. São um espetáculo épico e gratuito. Nada é maior e mais magnífico que o céu tomado por densas nuvens durante o pôr-do-sol. E não nos custa nada apreciar, apenas o ímpeto de fazê-lo. A natureza como a vejo é encantadora. Por mais que possua um lado cruel, na injusta hierarquia da cadeia alimentar. Abençoado sou por estar no topo dela, salvaguardado de toda miséria no meu quarto-ilha onde o meu egoísmo e egolatria predominam. Onde me protejo de tudo e de todos. Me fecho para novas possibilidades por livre e espontânea vontade. Eu não consigo me entender. Eu me faço sofrer. Acho que sou masoquista. Não me sinto merecedor. De nada. De menos que nada. Eu sou um ser nulo para a sociedade. Não gosto de pensar no que penso a meu respeito. Machuca. E a pergunta de Ju ecoa, para que me serve isso? Para que me serve me ter por tão pouco? Por algo negativo, corrompido, doente, covarde, inútil e preguiçoso? Não sei, mas sei que essas qualidades negativas todas me cabem, encaixam perfeitamente na mina autoimagem. São uma síntese da minha autoimagem. Eu me nego. Me renego. Sei lá por quê. Eu não espero nada de bom de mim. Nem quero fazer nada de bom, só se a oportunidade se oferecer e não requerer muito esforço. Vou beber Coca e fumar.

12h28. Você me respondeu, portuguesinha! Disse-me, como bem sabe (mas o leitor desconhece), que sempre estará aqui a ler. Que coisa pequena para você e tão grande para mim, como é a diferença de tamanho entre os textos que trocamos. Ou que eu te ofereço e você aceita. Não sei se por pena, provavelmente por isso, creio, visto que carinho acho que você acharia uma palavra exagerada para a sua motivação. Você não tem carinho por mim, bem sei. Como poderia, lendo o que escrevo? Sonho, mas com os pés firmes no chão. Carinho suporia uma carência de mim, um afeto, por mínimo que fosse, um bem querer que não tem sentido me conhecendo tão a fundo como você me conhece através dessas palavras. Definitivamente não tenho essa importância na sua vida. Você me lê por pura piedade de psicóloga. Se é que existe tal coisa, mas creio que exista, pois você me lê. “Você é Minha” acabou de tocar uma vez mais.

12h56. Será que alguém lê os horários que encabeçam os meus parágrafos? Eu nunca leio quando reviso. Acho que ninguém o faz. É uma informação desnecessária que insisto ou me habituei a enumerar. Nossa, estou com muito sono. Acabei de entrar na terceira página. A palavra “sempre” me traz uma garantia, uma gostosa sensação de companhia de quem realmente quero a companhia. Estou hiperbolizando as coisas para variar. Se eu não gosto de mim e elenco todas as razões pelas quais chego a essa conclusão, dando provas mais do que concretas desse desgosto e da minha incapacidade de mudar, por que quem lesse, por que você, teria impressão diferente da que tenho a meu respeito? Uma amiga bastante religiosa, (tornou-se assim com os anos e o é há vários), disse que “todos somos falhos, perfeito só Deus.” Há os mais falhos que a média e há os menos falhos. Não aguento, vou dormir um pouco, estava cochilando aqui. Preciso me deitar e deixar de ser eu por algumas horas.

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12h29. Não aguentei ontem e dormi, fui acordado para a arrumação do quarto pela fantástica faxineira, que provavelmente terá a sua carteira profissional assinada quando mamãe se aposentar, tal como sugeri ser o mais digno a se fazer, jantei uma gordurosa bisteca de porco e voltei a dormir até as 11h de hoje. Tive sonhos e, como sempre, envolviam muitos personagens, a maioria, pessoas da minha juventude aqui nas Ubaias, culpo a solidão por tais onirismos tão populosos. Mas não guardo detalhes do que sonhei, só a certeza da presença e aparição de uns e outros. Deixei esse texto refletindo sobre qual a razão de a portuguesinha ler as minhas postagens e dizer que sempre lerá. Elucubrei se era um traço de carinho ou “piedade de psicóloga”. Continuo ficando com a segunda opção, pois não vejo razão para a primeira ainda mais me revelando como sou. Sei que minha mãe adoraria a ter como nora, pois a adorou como pessoa. Minha mãe, ao contrário de mim, ainda guarda a esperança que me envolva em novo enlace afetivo. Com 41 anos e sendo tão seletivo, precisando de alguém que julgue encantadora para me arrebatar a alma, acho difícil. Me resignei à companhia dos meus bonecos. Como dormi muito, estou especialmente disposto hoje. Quem sabe não encare um filme (hoje estou mais para filme que videogame)? Veremos. A terceira página está quase no fim, a portuguesinha já deve estar no hotel a iniciar o seu último dia de labuta na semana e eu sigo ouvindo “Livro” de Caetano.

13h09. Que prazer tomar um café fumando um cigarro e observando este ensolarado início de tarde de sol brasileiro. É um sol diferente do que aparece do outro lado do oceano, mais quente, mais dourado, mais alegre. A portuguesinha agora deve estar distribuindo sua exuberante personalidade de forma gentil a pessoas que a veem como uma funcionária a servi-los. Cegos, veem tão pouco. Se bem que o clima informal do A Bicicleta meio que nivela as interações, mas há sempre aqueles que não entram em tal clima. Queria muito que ela conseguisse um estágio, é uma pena como portugueses encaram a psicologia, com tamanho preconceito, ademais parece que há uma resistência dos veteranos a darem espaço para os novatos, só posso crer nisso para que a portuguesinha, tão qualificada e tão determinada e apaixonada pela profissão, não tenha conseguido ainda o tão sonhado ingresso na OPP. Isso não a impede de se impor plena na vida. Ela tem segurança e não tem medo de desafios. O estágio é um detalhe importante? É, é um sonho para ela, como pude aferir, mas, como também pude aferir, ela lida muito bem com a situação como se dá e segue adiante abarcando a vida a generosas colheradas. A terceira página acabou. Vamos ver se a piedade de psicóloga me renderá um novo comentário. Hahaha.

P.S.: acabei de ver no Instagram e acho que cabe perfeitamente, além de ser genial.

“Como já foi dito:
O amor e a tosse
não podem ser disfarçados.
Nem mesmo uma pequena tosse.
Nem mesmo um pequeno amor.”
Anne Sexton