13h25. Vou nessa
aventura ideológica que é a caminhada das mulheres contra Bolsonaro.
Assisti ontem The Purge e tomei como uma crítica, um
hipérbole social, interessante, principalmente nesses tempos de extremismo. Os
dois lados estão cegos, admito. Eu acho que ainda consigo manter um pouco da minha imparcialidade e ver qualidades e
defeitos em ambos e os defeitos da
extrema direita, na minha opinião, em muito superam as suas qualidades. Os
defeitos da esquerda são grandes também, mas não agridem os direitos adquiridos
no Brasil. Mas não vou falar de política, por mais que vá praticar um gesto político, porque me falta embasamento para dar
opiniões. Mandei uma mensagem para a garota do Instagram perguntando se ela
vai, mas tenho certeza de que ela não vai me responder. Talvez tenha lido o post anterior
e me achado um freak. Sei lá. Sei que
de 15h ou 16h parto para o Derby, para
dar a minha singela contribuição à democracia do Brasil. Não posso votar,
participar da passeata é o que eu posso
fazer, então farei. Preciso de um copo de
Coca bem gelado. Acabei de tomar
uma garrafa de café ouvindo o meu padrasto dando sua visão
política, embora ele se diga indeciso,
sinto que tem uma inclinação por Bolsonaro no segundo turno.
Acha que os demais poderes o vão controlar. Sei lá. Estou pensando na garota do
Instagram, acho que ter repartido os post tenha a
assustado. Se ela leu. Não sei se mereço tanto empenho de sua parte. Gostaria
de me orgulhar dela. Não vai ser o caso. Ela visualizou a minha
mensagem e certamente não vai responder.
Vou botar o meu celular para carregar.
14h27. Mandei algumas mensagens a
incentivando a ir e como sei que
não haverá resposta, coloquei o meu celular para carregar para poder chamar o
Uber na volta. Liguei para a minha tia
agora e ela disse que sairá às 15h, que a gente se encontrasse no Derby. Dificilmente os encontrarei, mas vamos ver no que é que dá. Minha tia pareceu apressada,
agoniada. Estranho. Vou me arrumar em breve, quando o meu celular carregar. Acho que não
vou tomar banho. Tomo quando voltar para
não perder tempo. Vou fumar um cigarro com Coca.
14h55. Começo a pensar que essa passeata é sem sentido, pois
em nada alterará o resultado
das eleições para o segundo turno. Se ambos os lados estão
cegos e com visões bastante definidas do que querem, não vai mudar nada. Apenas
demonstra o engajamento político de
cada um. Talvez isso mude a
cabeça de um indeciso ou outro,
mas nada que altere o quadro eleitoral. De qualquer forma eu vou para cumprir
o meu papel cívico. E de repente encontrar amigos e família. Não sei
se Bolsonaro ganhar as manifestações
democráticas contra o seu regime serão toleradas. Acho que serão, a não ser que
ele dê um golpe. Mas acho que ele
não tem intelecto para tanto. Nem força política suficiente. E
provavelmente não vá ganhar. Me
entristece o PT no governo mais uma vez, mas não me amedronta como ter a
extrema direita governando.
15h22. Perdi a carona
do meu tio-vizinho, que ozzy. Soubera eu que ele ia, teria me organizado melhor. Senti ele
incomodado comigo também. Será que alguma coisa
decorreu que eu não estou sabendo? Ou é só neurose da minha
parte? Preciso me aprontar para ir. O danado do celular não carrega. Acho
que vou com a carga em que está mesmo. Meu tio comentou que vai ser foda mais
quatro anos de PT e roubalheira, que Bolsonaro tinha estacionado e a
rejeição a ele aumentado. Bem, vou-me. Adeus quarto-ilha. Ou até breve.
-x-x-x-x-
13h49. A passeata foi massa. Largamente apartidária, que
acho que era a proposta, com muito mais
mulheres que homens, o que também era a proposta, e encontrei pessoas muito
queridas lá. Reitero que o impacto eleitoral dela vai ser nulo, mas me senti cumprindo um dever cívico, já
que não voto. Era o mínimo que poderia fazer. Voltei caminhando com um casal de
amigos até sua casa e passei lá uma
tempo, revi Lia, a cadela labrador preta
deles, o animal que mais curto na
Terra, e passei a maior parte do tempo brincando com o caçula, até que desenrolei direitinho. Foi
um dia muito bom de ser vivido. Recebi elogios da pintura que postei no Instagram
e o incentivo para retomar os pincéis, o que me intimida mais do que
motiva. E a tela em branco que tenho
aqui em casa é muito grande, se fosse uma menor, talvez pegasse algum dia para tentar. A
arquiteta mandou resposta e orçamento para mamãe, mas esta não me deu muitos detalhes.
14h25. Converso com o meu amigo cineasta, está preocupado
com o cenário político. Participou da
marcha em São Paulo, onde mora. A garota
do Instagram começou eloquente e se calou. Nem viu as minhas novas mensagens
ainda. É ter paciência e esperança.
Tenho conversado mais com o anjo do Tinder do que com a garota do Instagram e
confesso que isso me põe confuso.
14h39. Hoje não estou para
o maravilhoso mundo dos bonecos, ter tentado mergulhar nele me causou
desgosto até pelos meus bonecos, não foi legal. Mandei um vídeo de uma senhora bem idosa e negra dando
um depoimento contra Bolsonaro para o
grupo da minha família materna, um ninho
de direita. Isso me divertiu. Trela. Hahaha. Acho que vou trocar o “hahaha” por “lol”. É petulante, mas também me parece menos que o “hahaha”. Vou mandar uma mensagem
para o anjo do Tinder dizendo que estou com saudades. Vou dizer menos, vou
dizer “saudadezinha”. Mandei a velhinha contra Bolsonaro para ela e disse da saudadezinha. Vou deixar os espaçamentos
duplos. Preciso resolver isso. Vou falar com mamãe. Ela disse que conhece quem
conserta.
15h28. O celular pisca, mensagens do Instagram aparentemente. Quem será?
15h36. Foi o anjo do
Tinder, ela fala comigo mais que a garota do Instagram. Isso tudo é tão
estranho e novo para mim. Esses vínculos cibernéticos com desconhecidas. Meu
deus, me deu um frio na barriga de
pensar na publicação do livro. Mas acho
que não vai acontecer. Acho que meu tio
não se dará ao trabalho. Bom, pode ser o
período eleitoral. Tenho que me convencer que não vou ter trabalho nenhum publicado
em papel. Mas sou um homem que vive de áridas esperanças. Ah, essa
espera por respostas me chateia. Vou escrever que é o melhor que faço. O anjo
do Tinder ontem se ofereceu para ser o meu cupido com a garota do Instagram.
Parece que tenho chance. A garota do Instagram tem uma ideia bem clara de
quem eu sou. E disse que poderia me
dar uma chance. Não acredito que seja capaz, mas tentarei de tudo. Interessante
é que com essa minha ocupação cibernética fico sem muita disposição para
escrever aqui. Parece que eu estou vivendo mais a vida estando lá que
escrevendo aqui. Lá eu vivo a vida em
companhia esparsa de duas desconhecidas, há diálogo, não monólogo. Diálogo é algo mais
cheio de vida que a escrita solitária.
16h15. Amanhã será o dia de cuidar de mim, levarei o
computador no conserto, cortarei as
unhas e apararei cabelo e barba.
Minha tia está dando uma cafeteira, eu acho que vou pegar. Estou pensando em substituir
a Coca por café e água para ver se o meu bucho diminui. Nossa como queria engatar um conversa com a garota do Instagram.
16h28. Não sei o que escrever, minha vida agora passou a ser
esperar por resposta de duas figuras que não dão a mínima para mim. Esses
espaçamentos duplos também me irritam profundamente. A ansiedade por algum sinal de vida me faz fumar mais.
16h57. Me bateu o niilismo que me acomete às vezes
quando fumo cigarro. Tudo o que faço
parece sem sentido ou utilidade, o que escrevo, essas relações
cibernéticas que não levam a nada. Eu acho que nesses momentos eu me aproximo
da verdade como realmente é. Não sei,
nunca soube, nem nunca saberei como vender o meu peixe. E isso, infelizmente, é mais essencial que a essência da coisa em si, sejam os meus textos, seja eu mesmo. O
marketing é mais importante que o produto. Eu que trabalhei com publicidade
deveria saber disso melhor que ninguém. Minha incompetência me inviabiliza. Acho que vou apagar o Tinder.
Aquilo não me leva a lugar nenhum. O que
faz mais sentido, que me parece mais real no momento é o videogame, isso é irônico, até contraditório e, sem dúvida, deprimente. Eu vivo de
aspirações e sonhos que não se ancoram na realidade, o que me entristece. Tudo porque não sei
fazer marketing pessoal.
17h35. Guardei as louças, botei gelo para fazer, comi
um pouco do chinês que mamãe pediu,
fumei um cigarro e a minha descrença permanece. Será que estou fazendo o melhor
da minha vida? A intangibilidade, a
falta de materialidade das coisas em que invisto o meu tempo me incomoda. O anjo do Tinder visualizou a minha
recomendação musical – The Joshua Tree, do U2 – e nada comentou.
20h10. Estou de mau-humor e a causa disso me veio com uma clareza óbvia, as coisas que
mais quero, o livro e um amor não
dependem de mim para se materializar.
Eu faço o meu melhor, eu me
esforço e tento, eu planto, mas nada colho. É frustrante. Talvez não seja o
tempo da colheita ainda. Sei lá e quem sabe? Vamos ver se, a respeito do livro, depois da corrida eleitoral,
o meu tio se manifesta. Tenho ainda a vaga possibilidade de mandar o texto para uma editora em março do
ano que vem. Pelo menos agora a sensação de frustração tem causas sólidas. Estou agindo sem obter resultados. Não sei vender o meu peixe.
22h39. Escrevi um monte para a garota do Instagram agora,
foi brotando e eu fui colocando, colocando, colocando. Nossa, me sinto
exausto, carga emocional forte desgasta.
23h01. Antes de o celular descarregar ainda vi um novo post
dela no Instagram, fofo e engraçado. Ela
é a garota dos meus sonhos, pena que a
realidade seja acordado. Quem me
dera a dissertação que fiz lhe tocasse
em algum ponto. Acho que é melhor perder as esperanças... O chato é que as danadas
acabam sempre me encontrando. Só desisto
com um fora. E tenho dito. Mostrei o vídeo a
mamãe e ela achou a garota do Instagram bonitinha. Eu
também acho ela bonitinha e tenho a impressão
de que não é ordinária. Mas não tenho
certeza sobre essa segunda parte. Queria muito que desse certo. Mas não vai dar. Sei lá o que vai acontecer.
Cenas do próximo capítulo. Amanhã é um
novo dia da minha batalha. E não vou poder cuidar de mim como desejava.
Amanhã é dia de cuidar da cuca com
Ju. Havia esquecido completamente. Revisar e postar.
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