terça-feira, 30 de outubro de 2018

BEBI



18h43. Ontem tomei um porre e foi muito bom, precisava extravasar toda a tensão política que havia em mim e o que emergiu foi amor, um amor puro, concentrado e irrestrito. A Vila Edna é o meu santuário. Uma amiga definiu ainda melhor, uma palavra ainda mais significativa, mas que agora me escapa. Lembro que achei a colocação dela bonita. Achei todas as pessoas muito lindas – e são pessoas magníficas – que me pareceram mais belas pela embriaguez. Conversei, expus sem me expor ao ridículo.

19h54. Tive acesso a informações de diferentes segmentos. Vi o discurso de Bolsonaro, me impressionou o grau de religiosidade do discurso e deixou muita coisa no ar. Vamos ver no que vai dar. Vi também um rumor de que uma nova versão do Switch seria lançada. Do resto, não me lembro.

20h37. Estava conversando com o meu amigo de Lisboa. Ele fez severas críticas ao comportamento do meu amigo da piscina que, desde que achou que eu mandei um vírus para ele, nunca mais falou comigo. Mamãe veio ter uma “conversa” comigo porque leu o post anterior a esse. Veio com fúria, autoritarismo, ameaças e xingamentos, pobre codependente autoritária que é. Tentarei relevar. É apenas uma pessoa tentando viver da melhor forma que sabe e que viu seu status quo ameaçado porque tomei um porre ontem. Não sei por que lê isso, se o que sou a desagrada. Foda-se, continuarei levando a minha vida da forma que me apraz, estou de consciência tranquila e cada vez mais sei dos meus passos. Cada vez menos coisas são em vão, me apego aquelas que tem mais significado e significância para mim. Fui a Ju hoje e falar da forma como ela me trata e me enxerga é um alívio. É como um unguento para os insultos à minha individualidade e minha liberdade que ouvi. Foda-se. Não pensei que o lema do meu amigo de Lisboa calaria tão profundamente em mim e encontraria eco no meu sentir. É a mãe que eu tenho, que não se trata e que me vê como uma criança. Há o lado bom e o lado ruim disso e se ela é codependente é porque de alguma forma alimento isso. Estamos debatendo, eu e Ju, como me tornar mais independente, romper essas correntes umbilicais que me prendem à minha mãe e eu me exercer com maior liberdade no mundo. Uma liberdade que vá para além dessa tela, desse quarto, uma liberdade que desaprendi a achar necessária e da qual não sinto falta. Talvez essa falta de necessidade de liberdade seja o que me impeça de ver benesses em cortar esses laços.

21h36. Conversei mais um pouco com o meu amigo de Lisboa. Ele está passando por uma fase difícil, mas tem planos para superá-la. Imagino que a solidão seja imensa. Odeio solidão. Nunca me dei bem com ela. Com esse estar sozinho no mundo. Se bem que faz tanto tempo que não experimento e o eu que experimentou a solidão era completamente outro em circunstâncias completamente diversas e adversas que não sei como encararia a solidão de fato hoje. Dificilmente a liberdade me levaria novamente à cola. Pois é a solidão implica, na minha cabeça, inevitavelmente em liberdade e responsabilidade. Não me dou muito bem com responsabilidade, sou meio alérgico ao bicho que faço da responsabilidade, assumo apenas aquelas que me são inevitáveis. Assumo a responsabilidade pelos meus atos. Há coisas que quero fazer, mas esperarei. Tudo a seu tempo. A paciência é uma virtude cada vez mais rara nos dias de hoje onde o imediatismo impera, são tempos impacientes, urgentes. Me veio novamente o discurso de Bolsonaro, ele salientou diversas vezes a democracia. Isso foi bom. Vamos ver na prática. Não estou com muito saco para escrever agora, o tédio que há muito não me apoquentava resolveu me tomar quando revi rapidamente as alternativas que tinha. A que mais me agradou foi fumar um cigarro. É o que farei.

22h01. Minha mãe foi até a escada onde eu fumava para dizer que estava “muito triste comigo, muito triste...”. Eu disse que era recíproco, o que não é bem verdade, estou com raiva e impressionado com como um texto pode ser interpretado de várias maneiras diferentes. Não sei o que acrescentar. Sei que a raiva vai passar (da minha parte) e que essa energia ruim que esse sentimento me traz ira evanescer. Acho um sentimento nocivo. Entendo toda a sua função evolutiva e da necessidade dele para certas mudanças, até mudanças que visem o equilíbrio entre poderes, embora seja usado mais para sobrepujar, mas não gosto de carregar raiva ou medos desnecessários. Vou ligar o ar e tentar me reconectar ao momento. Acho que vou botar um Cure para rolar. Cai bem. E vou fumar outro. Só para relaxar e me desligar dessa vibe negativa disparada pela minha mãe dessa. Eu a amo, mas às vezes ela consegue ser... sei lá. Muito, muito inconveniente e chata. Consegue quebrar completamente a minha paz de espírito.

22h24. Where The Birds Always Sing, do Cure tem a letra bem interessante, fico bem impressionado com a minha capacidade de compreendê-la. Acabou. Não quero me apegar às músicas e essa que passa não me apetece muito, não sei nem se conheço. Acho que não. Não posso dizer no que estava pensando, é meu demais para esse blog. Preciso de alguma privacidade, né? Todos querem ter um lado privado que não repartem por vergonha do julgamento social. Algo íntimo demais, talvez. Eu não tive esse tipo de medida no Diário do Manicômio e aprendi com isso. Nossa, nem acredito que o casal da Vila Edna vai lê-lo. Me deu uma sensação muito ruim em relação a isso agora, nossa. Um medo e uma vontade de impedir e não ser capaz muito forte. Eu não preciso dessa exposição, não faz mais sentido para mim. Bom é a vida e segue. O acaso-destino com a minha ajuda deu nisso. É assumir responsabilidades e pelos atos e arcar com as consequências. Mas não iria deduzir que falar que tinha feito um livro impublicável despertaria nele a curiosidade de lê-lo. Leeloo. Vou fumar enquanto uma das músicas que mais ouvi na vida passa, “Pictures Of You”.

22h45. Nossa, ser sincero às vezes dói.

[21:26, 10/29/2018] Mário Barros: Cleto, infelizmente não poderei ir amanhã. Grato pela compreensão. Boa semana pra ti.
[22:17, 10/29/2018] Cleto Campos: Vamos remarcar?
[22:45, 10/29/2018] Mário Barros: Honestamente, Cleto, eu desisti. Me perdoe. Desejo toda sorte do mundo pra você, você é uma pessoa superpositiva. Foi um prazer.

23h04. Pronto. E dei um crush em uma vendedora que gosta de beber. Fiquei imaginando os desdobramentos disso. O choque de realidades, inevitável. A chamaria para o Relaxe o Bigode aqui do outro lado da rua. Pagaria a conta, mamãe me daria o cartão. E aí, se rolasse, haveria três alternativas, combinarmos de marcar um segundo encontro. Ou a gente ir beber na piscina do meu prédio até mamãe ir dormir para a gente poder subir. Ou a gente ia para um motel com o cartão, eu poderia fazer isso e acho que mamãe preferiria. Mas isso só aconteceria se o clima esquentasse no bar. Ela só tem 21, mas pela foto aparenta ter mais. Não é nenhuma beldade, não sei porque eu dei o crush acho que achei o cabelo e o corpo dela bonitos. E a idade suposta. Acho que mais do que por ser o auge da beleza da mulher e me intimidar menos, é pela impossibilidade que dou esses likes. Insinuar desejo para alguém que não me achará desejável pela idade.

23h35. Estava me alimentando. Acho menos bestial do que dizer “comendo”. Me ocorreu uma ficção, ei-la: com o armamento da população por Bolsonaro, cidadãos ultraconservadores formam grupos de extermínio, intitulam-se “Faxineiros do Capitão” e, encapuzados e motorizados com veículos de placa fria, saem matando por aí bandido, traficante, mendigo, usuário e daí para gays e prostitutas é um pulo. FIM. Ah, certos grupos seriam formados por policiais ou com policiais como membros. FIM MESMO.

23h41. “To Wish Impossible Things” uma das minhas prediletas do Cure. “Catch” outra que é fofa, muito doce. Pulei para outra que gosto muito: “The Loudest Sound”. Acho que daqui a pouco vou me retirar. Essa frase me deu um alívio, acho que estou precisando dormir, o sono de ontem não me recuperou. Comer, fumar e dormir.

0h14. Vou acabar o copo de Coca para me deitar. Espero que durma. Acho que vou. A vida é tão interessante, até para mim que uso o meu tempo quase todo diante desse computador.

-x-x-x-x-

11h39. Tico e Teco ainda estão se reativando. Nada demais aconteceu, minha mãe acordou carinhosa e me preparou um leite. Estou com sono e uma leve dor de cabeça, nada demais, resistirei aos dois. Não sei o que fazer do meu dia pois não encontro palavras em mim. Lembro de Portugal porque a Portuguesinha me respondeu o comentário do Instagram. Mas não queria estar lá agora no momento, estou bem aqui no centro do meu mundo, o melhor lugar para se estar. Estou achando que vou dormir mais um pouco. Vou tentar um cigarro com Coca antes.

11h59. Estou um pouco mais desperto, mas continuo sem ânimo para atravessar esse dia. Vou dar uma olhada na internet.

12h10. Nada de interessante. Lembrei de uma coisa que não me cabe contar aqui, pois não me diz respeito, mas que me deixou triste. Um possível rompimento de um casal que tinha tudo para dar certo. Não gosto de rompimentos. Extrapolei as possibilidades e pensei no que se daria se eu me tornasse o companheiro da figura, visto que já fui apaixonado por ela. O Hulk fica incrível sob a luz do meio-dia. Acho que não daria certo, não sou homem suficiente para ela. É preciso ter uma boa dose de raça e paciência para enfrentar tal relação, é uma pessoa de personalidade forte e exigente, portanto demandante. Não sei se teria essa disponibilidade ou as habilidades necessárias para suprir tais demandas. Nem sou mais apaixonado por ela. O que é primordial. Se fosse, talvez ainda valesse o esforço. Ainda bem que não estou mais. Aliás, quando qualquer possibilidade de romance se aproxima da realidade, logo me retraio e rejeito. Medo, medo de dar certo, de dar o próximo passo, justamente o passo na direção que mais me interessa, do fim da solidão. Faz tanto tempo que estou imerso nela que desaprendi o que é estar com alguém e o prospecto de estar com alguém me assusta. Não sei como curar isso.

13h10. O Facebook ainda está na ressaca das eleições. Eu? Estou curioso com o futuro. Muito curioso. Minhas expectativas são todas negativas (ou quase todas), mas creio que será educativo para o brasileiro. Nossa, ainda estou com sono. Que diabos... Acabou a terceira página.  

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