Eu sou um alienado político e mesmo nessa condição estou
preocupado com o destino do país, em o quanto estamos atrasados em noções
basilares de cidadania e direitos humanos. O que o país quer parece ver é
sangue e castigo para todos os que fujam aos padrões “cristãos” de normalidade.
Sejam corruptos, sejam traficantes, sejam gays.
14h57. Não estou com paciência de escrever. Estou com
paciência para escrever para o anjo do Tinder.
15h38. Hoje realmente não encontro inspiração. Estou com a
cabeça tomada pela situação política do país. Acho que não tem volta, que
Bolsonaro se elege, embora ainda haja os que resistam, vamos ver como será a
próxima pesquisa de intenção de votos.
17h51. Estou no Facebook e o ambiente está muito politizado.
Estou com medo.
-x-x-x-x-
13h57. Acordei e a primeira coisa que me veio à mente foi o
anjo do Tinder, em segundo lugar o segundo turno. Já mandei o meu “oi” para o
meu anjinho. Sei que ela não vai me responder. Minha vida afetiva é árida como
o Saara. O pior é que não encontro motivação para escrever. Queria encontrar
com alguma amiga para conversar. Também não vai se dar. Vou tentar me agarrar e
puxar palavras de dentro de mim, é o que me resta. Minha mãe me mandou a capa
da Istoé que obviamente se posicionou a favor de Bolsonaro, isso me entristece
muito. Mas aceitarei suas desculpas se aquele ser ganhar a eleição. Não duvido
que feche o congresso. E corte uma das pernas do tripé democrático para caminhar
livre com as suas. Vou fumar.
14h52. Fumei, voltei, olhei o Instagram tomado por mensagens
políticas que dão a dimensão de como esse pleito pode ser trágico para o país.
Não se fala em outra coisa. Eu queria falar de amor nesses tempos de ódio, mas
a verdade é que quem eu quero não me quer e me despreza, sou algo sem a menor
importância em sua vida, quando ela é a coisa mais importante na minha. Vai ver
que a minha sina é mesmo a que tracei para mim e que também não vai se dar, mas
aparentemente o acaso-destino quer me empurrar para levar o projeto a cabo.
Parece que uma pesquisa das intenções de voto vai sair hoje.
15h29. A acabei de ver que Bolsonaro vai se esquivar dos
debates até o dia 18. Muito esperto. Mas pelo menos de dois vai participar, se
não houver nenhuma “piora” no seu quadro. Vou ver se o anjo do Tinder viu as
minhas mensagens de hoje. Não. Acho que vou jogar Uncharted: 3 em 3D.
16h21. Deu um bug no jogo que travou o console. É incrível
como jogos não me cativam mais, não me encantam, me entendiam na maior parte do
tempo com suas mecânicas limitadas e repetição de eventos. O último que
realmente me encantou foi o Mario Odyssey
e ouso dizer que será o último, embora esteja nos meus planos esmiuçar a ampla
coleção de jogos de PS3 e o não tão farto acervo do Wii U.
18h56. Meu padrasto disse que é matematicamente impossível
Bolsonaro perder as eleições. Bom, isso me deixa profundamente abatido. Não sei
o que será do país. Da democracia. Espero que esta sobreviva. Não sei de onde o
meu padrasto tirou essa previsão, mas se há uma pessoa bem informada é ele.
21h58. Estive com o meu amigo da piscina. Ele falou do museu
de Brennand. Brennand, acabo de perceber, representa dois notáveis diferentes, duas
marcas pernambucanas. Ele me incentivou vivamente a ir. Mandei uma mensagem
para o anjo dizendo: “eu quero que você me veja como um igual”. Depois de
elucubrar o que ela interpretaria dessa frase, acabei de mandar: “Reflita.
Estarei esperando”. Da primeira mensagem que mandei, pensei na frase (ainda não
decidi a redação exata): “eu só quero que você me veja como igual”. E fazer um
layout que a transforme numa marca. Na minha cabeça é isso que todo mundo quer.
Se eu estivesse correto, as camiseterias virtuais – a brasileira e a mundial
que eu conheço – aceitariam a minha inscrição, especialmente no Brasil, nesse
momento político, é uma posição política, é o se colocar no lugar do outro,
pedir que o outro aceite você como você o aceita, um igual. É assim que eu
aceito as outras pessoas. Ou me esforço para fazer. Bom, pensei que a camisa –
uma versão em português e a outra em Inglês – seria um enorme sucesso e que
minha marca se espalharia pelo mundo. Obviamente estou sendo hiperbólico aqui.
Mas vou tentar botar esse plano em prática, anyway.
23h01. Vi agora na TV um videogame cujo protagonista é
Bolsonaro onde ele extermina com chutes e socos aparentemente bandidos que os
vem atacar e que deixam um cocô quando morrem. E tem todo um texto no início levantando
a bola do Bolsonaro. Não acredito que a publicidade tenha chegado a tanto. Tudo
é possível. Vou fazer as camisas. Posto aqui.
1h06. Pronto, acabei de postar na brasileira e na
internacional. Veremos se aprovam, postarei a internacional aqui porque tem um mockup que eles pedem para fazer, então
fica mais bonitinho.
-x-x-x-x-
14h49. Apenas um voto na internacional, na brasileira é o
pessoal da camiseteria que decide que artes serão produzidas, não há voto. Foi
um rompante de otimismo achar que seriam aceitas. Coisas da vida. Mandei o mockup para o anjo do Tinder e ela nem
viu. Viu agora.
15h39. Mandei algumas mensagens para o meu anjo. Não
resisti. Nem vejo por que resistir. Sigo a minha vontade. Vou fumar.
15h53. O anjo me respondeu! Vamos ver se além do “Oii” virá
algum diálogo. Tenho minhas dúvidas.
18h30. Nesse intervalo todo de tempo ela só me mandou mais
uma resposta. Não resisti e mandei mensagens que misturaram crítica política
com bom humor.
23h22. Escrevi mais algumas coisas para o anjo que, pelo
visto, não pensou muito sobre a frase “quero que você me veja como um igual”, e
mandei o novo layout da camiseta, já que ela não entendeu o anterior. Veja
abaixo, ficou realmente muito mais compreensível:
23h27. Antes de escrever o parágrafo acima, fumei o melhor
cigarro do dia, realmente degustado, o tempo pareceu se dilatar para que eu o usufruísse.
Vou fumar outro, a noite pede.
23h39. Vim pelo corredor escuro do apartamento escuro
pensando que tinha um monte de coisas para fazer, mas em verdade só tenho uma:
deitar algumas palavras aqui. Tenho que botar os remédios e comer, mas ambos
ficam para depois, pensei em perguntar ao anjo se ela lê os posts do meu blog
que reparto com ela. Vou perguntar.
23h46. Acabei escrevendo bastante. Disse que voltaria a
escrever sobre ela. Ela é perfeita, na minha opinião. Se meu tipo platônico de
mulher se materializasse em gente seria ela. É ela. Sei de todas as barreiras
que terei que enfrentar, ela ainda mais que eu.
Postei com letras garrafais no Facebook: Agora entendi tudo:
Bolsonaro é o palhaço Tiririca da campanha presidencial (sem querer desmerecer
o último). Aí minha cunhada questionou:
(ela): como assim?
(eu): O voto de contestação, do em qualquer um menos neles.
Mas você está certa em questionar: isso virou um fenômeno de fanatismo cego e,
o pior, violento. Como um país impregnado desse fanatismo vai pegar e manusear
armas? Pode ser que corra tudo bem, mas acho difícil e assustador.
(eu): O voto de indignação e desilusão com o sistema.
Político especialmente.
Eita, ela respondeu!
(ela): sim, sim. Em outros tempos ele jamais conseguiria
tantos votos. Eh o momento de total frustracao da populacao por conta de tanta
corrupcao e crise financeira dos ultimos anos. Eu concordo com quem diz que nao
podemos reeleger o PT depois de tudo que aconteceu. Mas dai a eleger Bolsonaro?
Eu nunca pensei que eu diria isso um dia, mas desta vez vejo mais sentido no
voto em branco.
Vou responder que é uma opção.
0h07. Voltando ao anjo. Eu acho que o preconceito de idade
entre nós, diminui com os anos. Acredito que se ela tiver 25, isso diminui
tremendamente. Ela estará mais madura para enfrentar situações sociais difíceis
que advenham da nossa relação. Se eu estou disposto a esperar quatro anos por
ela? Eu já passei dez na solidão, espero tranquilamente mais quatro anos para
ver meu anjo dormindo na minha cama e poder amá-la enquanto dorme. Adoro ver a
mulher amada dormindo, é poético para dizer o mínimo. Vou fumar mais um
cigarro.
0h18. Fiquei em divagações sobre o anjo, pensei que não
posso casar nem no civil, nem no religioso, mas que isso não impediria uma
festa parecida com um casamento para celebrar um aniversário de sete anos de
união. Haveria troca de anéis e tudo. Se ela gostasse e sonhasse com essas
coisas. A mim não me faz a mínima diferença, acharia até muito esquisito protagonizá-la
ao lado dela. Entretanto, se ela estivesse radiante e feliz, eu estaria feliz e
ela estaria ali para me proteger ou me conduzir pela valsa social do evento.
Mas seríamos sempre namorados que é o estágio mais belo da relação. Nossa
viajei agora. O anjo sabe por quê.
0h27. Entro na terceira página do post, mas antes vou fumar
mais um cigarro. Eles têm me trazido conteúdo no tempo de reflexão que duram. E
sonhar é tão baratinho, anjo.
0h40. Eu não sei se publique a foto, mas prometi ser honesto
e sincero com o meu anjo. Leve em consideração que a dose foi reforçada em dois
comprimidos pela doutora minha mãe. Se eles fodem o meu cérebro, não sei, sei
que me sinto bem com eles e assim as coisas seguem. Eu sou assim e ninguém tem
nada a ver com isso. Continuo sendo o eu que sou apesar de tomar remédios
diariamente. Bom, à foto.
0h45. Ah, o anjo não sabe da missa o terço. E é melhor que
não saiba por ora. Saberá se o Diário do
Manicômio for publicado, o que não será. Então, por ora estou tranquilo.
Mas talvez a conversa surja. Sei lá. Ou não. Torceria pelo não. Ela não deve
ler isso aqui mesmo. Eu não tenho essa relevância na vida dela. Ela nem viu as
minhas mensagens ainda. Talvez nem as veja hoje. Ou não antes de a minha
bateria arrear, está em seis por cento. Não importa realmente, importa que ele
me leia e continue me lendo por quatro anos. Que pensamento mais absurdo, mas
não menos absurdo que namorá-la aos 21. Isso para muitos seria escandaloso e
não sei se ela teria maturidade e independência de caráter dos pais para
enfrentar a minha presença em sua vida. E eu nem rico sou. Vivo de uma pensão
que é metade do salário do meu pai. Por isso, voltando ao devaneio da festa,
ela teria de ser modesta, pois minha mãe será dentro em breve professora da
Federal aposentada. A não ser que os pais do anjo sejam mais abastados, o que
talvez sejam. Não sei, parecem estar no mesmo patamar financeiro que nós,
talvez um pouco acima, mas não muito. Que saudade do meu anjo. É um sonho em
que considero investir quatro anos da minha vida. Mas sempre ficando abertos
para possibilidades, como ela vai e deve estar, é muita vida para ela quatro
anos. Num período fabuloso da existência, que não deve ser desperdiçado, tem
que ser desbravado, vivido plenamente. Aos 25 já se viveu a maior parte das
revoluções e descobertas. Já se tem uma identidade separada dos pais, mais
solidificada. É o momento perfeito para enfrentarmos a vida juntos, se
realmente existir a sementezinha de relacionamento que julgo existir e que
cativo diariamente. É o meu passatempo-investimento mais prazeroso. Vou botar o
nome desse post “Untitled” em
homenagem a uma música do The Cure que acho maravilhosa e que postarei no vídeo
abaixo.
1h15. Vou é botar para ouvir agora. Eita, vi o Álbum Branco dos Beatles e resolvi
ouvir. Ouvi Haddad tocando ao violão uma canção desse disco hoje, a mais linda,
Black Bird, num vídeo hoje. É um
álbum genial, um dos melhores produtos da música de massa do mundo.
1h27. Escrevi uma mensagem de boa noite para o anjo; pois é,
sou tolo assim. E me dá prazer trata-la bem. Seria ainda melhor que ela me tratasse
da mesma forma, mas talvez não seja a hora.
1h44. Talvez essa hora não chegue, mas viro a cara para essa
possibilidade, acredito que meu esforço vai ser recompensado, pois só ofereço o
bem e acredito que fazer bem gere bem. Posso estar enganado porque a existência
não conhece a justiça e a justiça dos homens não alcança esse âmbito das
relações humanas. Isso é individual (ou dual) e totalmente subjetivo de ambas
as partes. Eu me satisfaço fazendo a minha parte, estando lá por ela. Ela não
está lá por mim. Gosto de crer que não ainda. O disco é divino. Me transporta
para a infância e para época da faculdade, a um amigo em especial, que continua
especial até hoje, meu amigo redator. Encomendei para lhe dar de presente o
vinil comemorativo de cinquenta anos do Yellow
Submarine com o submarino estampado no disco. Quando vi, não resisti.
Deixei de comprar o Lego do Yellow Submarine por ser muito caro, não deixei
passar essa oportunidade. Espero que ele goste. Acredito que sim, portanto o
ato.
2h02. Fui dar uma olhada na Internet e baixei a foto dos
comprimidos, tratei a imagem e evitei olhar política. Tive a minha dose disso. Acho
que os meses que separam Bolsonaro da posse seja essencial – e espero que
suficiente – para esfriar os ânimos da nação. Que o rearmamento da população
seja um processo demorado. Preferia que não existisse. Mas um cara que afirma
que todos os filhos aprenderam a atirar com armas verdadeiras aos cinco anos de
idade e isso lhe soar natural e nobre, em vez de uma abominação social, sei
não. Espero estar sendo profundamente pessimista sobre o prognóstico desse
senhor dominar o país. Escrevi dominar por ato falho, mas acho que esse é o
plano dele. É como ele vê a coisa toda, o seu governo. Soube que pensou em
nomear Alexandre Frota para ministro da cultura. É surreal. Estamos vivendo um
circo do absurdo. Novamente, espero estar sendo pessimista.
2h42. Sobre o meu anjo o que posso mais dizer? Nada, no
momento. Está na penúltima música do disco e só posso achá-lo genial, não há
outra palavra para descrever. Definidor e definitivo para tudo o que esteve e
está por vir. Como Medúlla de Björk.
Só que este último é tão diferente e tão completo em sua proposta que qualquer
coisa derivativa dele parecia plágio.
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