sexta-feira, 12 de outubro de 2018

UNTITLED

Eu sou um alienado político e mesmo nessa condição estou preocupado com o destino do país, em o quanto estamos atrasados em noções basilares de cidadania e direitos humanos. O que o país quer parece ver é sangue e castigo para todos os que fujam aos padrões “cristãos” de normalidade. Sejam corruptos, sejam traficantes, sejam gays.

14h57. Não estou com paciência de escrever. Estou com paciência para escrever para o anjo do Tinder.

15h38. Hoje realmente não encontro inspiração. Estou com a cabeça tomada pela situação política do país. Acho que não tem volta, que Bolsonaro se elege, embora ainda haja os que resistam, vamos ver como será a próxima pesquisa de intenção de votos.

17h51. Estou no Facebook e o ambiente está muito politizado. Estou com medo.

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13h57. Acordei e a primeira coisa que me veio à mente foi o anjo do Tinder, em segundo lugar o segundo turno. Já mandei o meu “oi” para o meu anjinho. Sei que ela não vai me responder. Minha vida afetiva é árida como o Saara. O pior é que não encontro motivação para escrever. Queria encontrar com alguma amiga para conversar. Também não vai se dar. Vou tentar me agarrar e puxar palavras de dentro de mim, é o que me resta. Minha mãe me mandou a capa da Istoé que obviamente se posicionou a favor de Bolsonaro, isso me entristece muito. Mas aceitarei suas desculpas se aquele ser ganhar a eleição. Não duvido que feche o congresso. E corte uma das pernas do tripé democrático para caminhar livre com as suas. Vou fumar.

14h52. Fumei, voltei, olhei o Instagram tomado por mensagens políticas que dão a dimensão de como esse pleito pode ser trágico para o país. Não se fala em outra coisa. Eu queria falar de amor nesses tempos de ódio, mas a verdade é que quem eu quero não me quer e me despreza, sou algo sem a menor importância em sua vida, quando ela é a coisa mais importante na minha. Vai ver que a minha sina é mesmo a que tracei para mim e que também não vai se dar, mas aparentemente o acaso-destino quer me empurrar para levar o projeto a cabo. Parece que uma pesquisa das intenções de voto vai sair hoje.

15h29. A acabei de ver que Bolsonaro vai se esquivar dos debates até o dia 18. Muito esperto. Mas pelo menos de dois vai participar, se não houver nenhuma “piora” no seu quadro. Vou ver se o anjo do Tinder viu as minhas mensagens de hoje. Não. Acho que vou jogar Uncharted: 3 em 3D.

16h21. Deu um bug no jogo que travou o console. É incrível como jogos não me cativam mais, não me encantam, me entendiam na maior parte do tempo com suas mecânicas limitadas e repetição de eventos. O último que realmente me encantou foi o Mario Odyssey e ouso dizer que será o último, embora esteja nos meus planos esmiuçar a ampla coleção de jogos de PS3 e o não tão farto acervo do Wii U.

18h56. Meu padrasto disse que é matematicamente impossível Bolsonaro perder as eleições. Bom, isso me deixa profundamente abatido. Não sei o que será do país. Da democracia. Espero que esta sobreviva. Não sei de onde o meu padrasto tirou essa previsão, mas se há uma pessoa bem informada é ele.

21h58. Estive com o meu amigo da piscina. Ele falou do museu de Brennand. Brennand, acabo de perceber, representa dois notáveis diferentes, duas marcas pernambucanas. Ele me incentivou vivamente a ir. Mandei uma mensagem para o anjo dizendo: “eu quero que você me veja como um igual”. Depois de elucubrar o que ela interpretaria dessa frase, acabei de mandar: “Reflita. Estarei esperando”. Da primeira mensagem que mandei, pensei na frase (ainda não decidi a redação exata): “eu só quero que você me veja como igual”. E fazer um layout que a transforme numa marca. Na minha cabeça é isso que todo mundo quer. Se eu estivesse correto, as camiseterias virtuais – a brasileira e a mundial que eu conheço – aceitariam a minha inscrição, especialmente no Brasil, nesse momento político, é uma posição política, é o se colocar no lugar do outro, pedir que o outro aceite você como você o aceita, um igual. É assim que eu aceito as outras pessoas. Ou me esforço para fazer. Bom, pensei que a camisa – uma versão em português e a outra em Inglês – seria um enorme sucesso e que minha marca se espalharia pelo mundo. Obviamente estou sendo hiperbólico aqui. Mas vou tentar botar esse plano em prática, anyway.

23h01. Vi agora na TV um videogame cujo protagonista é Bolsonaro onde ele extermina com chutes e socos aparentemente bandidos que os vem atacar e que deixam um cocô quando morrem. E tem todo um texto no início levantando a bola do Bolsonaro. Não acredito que a publicidade tenha chegado a tanto. Tudo é possível. Vou fazer as camisas. Posto aqui.

1h06. Pronto, acabei de postar na brasileira e na internacional. Veremos se aprovam, postarei a internacional aqui porque tem um mockup que eles pedem para fazer, então fica mais bonitinho.




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14h49. Apenas um voto na internacional, na brasileira é o pessoal da camiseteria que decide que artes serão produzidas, não há voto. Foi um rompante de otimismo achar que seriam aceitas. Coisas da vida. Mandei o mockup para o anjo do Tinder e ela nem viu. Viu agora.

15h39. Mandei algumas mensagens para o meu anjo. Não resisti. Nem vejo por que resistir. Sigo a minha vontade. Vou fumar.

15h53. O anjo me respondeu! Vamos ver se além do “Oii” virá algum diálogo. Tenho minhas dúvidas.

18h30. Nesse intervalo todo de tempo ela só me mandou mais uma resposta. Não resisti e mandei mensagens que misturaram crítica política com bom humor.

23h22. Escrevi mais algumas coisas para o anjo que, pelo visto, não pensou muito sobre a frase “quero que você me veja como um igual”, e mandei o novo layout da camiseta, já que ela não entendeu o anterior. Veja abaixo, ficou realmente muito mais compreensível:





23h27. Antes de escrever o parágrafo acima, fumei o melhor cigarro do dia, realmente degustado, o tempo pareceu se dilatar para que eu o usufruísse. Vou fumar outro, a noite pede.

23h39. Vim pelo corredor escuro do apartamento escuro pensando que tinha um monte de coisas para fazer, mas em verdade só tenho uma: deitar algumas palavras aqui. Tenho que botar os remédios e comer, mas ambos ficam para depois, pensei em perguntar ao anjo se ela lê os posts do meu blog que reparto com ela. Vou perguntar.

23h46. Acabei escrevendo bastante. Disse que voltaria a escrever sobre ela. Ela é perfeita, na minha opinião. Se meu tipo platônico de mulher se materializasse em gente seria ela. É ela. Sei de todas as barreiras que terei que enfrentar, ela ainda mais que eu.

Postei com letras garrafais no Facebook: Agora entendi tudo: Bolsonaro é o palhaço Tiririca da campanha presidencial (sem querer desmerecer o último). Aí minha cunhada questionou:

(ela): como assim?

(eu): O voto de contestação, do em qualquer um menos neles. Mas você está certa em questionar: isso virou um fenômeno de fanatismo cego e, o pior, violento. Como um país impregnado desse fanatismo vai pegar e manusear armas? Pode ser que corra tudo bem, mas acho difícil e assustador.
(eu): O voto de indignação e desilusão com o sistema. Político especialmente.

Eita, ela respondeu!

(ela): sim, sim. Em outros tempos ele jamais conseguiria tantos votos. Eh o momento de total frustracao da populacao por conta de tanta corrupcao e crise financeira dos ultimos anos. Eu concordo com quem diz que nao podemos reeleger o PT depois de tudo que aconteceu. Mas dai a eleger Bolsonaro? Eu nunca pensei que eu diria isso um dia, mas desta vez vejo mais sentido no voto em branco.

Vou responder que é uma opção.

0h07. Voltando ao anjo. Eu acho que o preconceito de idade entre nós, diminui com os anos. Acredito que se ela tiver 25, isso diminui tremendamente. Ela estará mais madura para enfrentar situações sociais difíceis que advenham da nossa relação. Se eu estou disposto a esperar quatro anos por ela? Eu já passei dez na solidão, espero tranquilamente mais quatro anos para ver meu anjo dormindo na minha cama e poder amá-la enquanto dorme. Adoro ver a mulher amada dormindo, é poético para dizer o mínimo. Vou fumar mais um cigarro.

0h18. Fiquei em divagações sobre o anjo, pensei que não posso casar nem no civil, nem no religioso, mas que isso não impediria uma festa parecida com um casamento para celebrar um aniversário de sete anos de união. Haveria troca de anéis e tudo. Se ela gostasse e sonhasse com essas coisas. A mim não me faz a mínima diferença, acharia até muito esquisito protagonizá-la ao lado dela. Entretanto, se ela estivesse radiante e feliz, eu estaria feliz e ela estaria ali para me proteger ou me conduzir pela valsa social do evento. Mas seríamos sempre namorados que é o estágio mais belo da relação. Nossa viajei agora. O anjo sabe por quê.

0h27. Entro na terceira página do post, mas antes vou fumar mais um cigarro. Eles têm me trazido conteúdo no tempo de reflexão que duram. E sonhar é tão baratinho, anjo.

0h40. Eu não sei se publique a foto, mas prometi ser honesto e sincero com o meu anjo. Leve em consideração que a dose foi reforçada em dois comprimidos pela doutora minha mãe. Se eles fodem o meu cérebro, não sei, sei que me sinto bem com eles e assim as coisas seguem. Eu sou assim e ninguém tem nada a ver com isso. Continuo sendo o eu que sou apesar de tomar remédios diariamente. Bom, à foto.




0h45. Ah, o anjo não sabe da missa o terço. E é melhor que não saiba por ora. Saberá se o Diário do Manicômio for publicado, o que não será. Então, por ora estou tranquilo. Mas talvez a conversa surja. Sei lá. Ou não. Torceria pelo não. Ela não deve ler isso aqui mesmo. Eu não tenho essa relevância na vida dela. Ela nem viu as minhas mensagens ainda. Talvez nem as veja hoje. Ou não antes de a minha bateria arrear, está em seis por cento. Não importa realmente, importa que ele me leia e continue me lendo por quatro anos. Que pensamento mais absurdo, mas não menos absurdo que namorá-la aos 21. Isso para muitos seria escandaloso e não sei se ela teria maturidade e independência de caráter dos pais para enfrentar a minha presença em sua vida. E eu nem rico sou. Vivo de uma pensão que é metade do salário do meu pai. Por isso, voltando ao devaneio da festa, ela teria de ser modesta, pois minha mãe será dentro em breve professora da Federal aposentada. A não ser que os pais do anjo sejam mais abastados, o que talvez sejam. Não sei, parecem estar no mesmo patamar financeiro que nós, talvez um pouco acima, mas não muito. Que saudade do meu anjo. É um sonho em que considero investir quatro anos da minha vida. Mas sempre ficando abertos para possibilidades, como ela vai e deve estar, é muita vida para ela quatro anos. Num período fabuloso da existência, que não deve ser desperdiçado, tem que ser desbravado, vivido plenamente. Aos 25 já se viveu a maior parte das revoluções e descobertas. Já se tem uma identidade separada dos pais, mais solidificada. É o momento perfeito para enfrentarmos a vida juntos, se realmente existir a sementezinha de relacionamento que julgo existir e que cativo diariamente. É o meu passatempo-investimento mais prazeroso. Vou botar o nome desse post “Untitled” em homenagem a uma música do The Cure que acho maravilhosa e que postarei no vídeo abaixo.





1h15. Vou é botar para ouvir agora. Eita, vi o Álbum Branco dos Beatles e resolvi ouvir. Ouvi Haddad tocando ao violão uma canção desse disco hoje, a mais linda, Black Bird, num vídeo hoje. É um álbum genial, um dos melhores produtos da música de massa do mundo.

1h27. Escrevi uma mensagem de boa noite para o anjo; pois é, sou tolo assim. E me dá prazer trata-la bem. Seria ainda melhor que ela me tratasse da mesma forma, mas talvez não seja a hora.

1h44. Talvez essa hora não chegue, mas viro a cara para essa possibilidade, acredito que meu esforço vai ser recompensado, pois só ofereço o bem e acredito que fazer bem gere bem. Posso estar enganado porque a existência não conhece a justiça e a justiça dos homens não alcança esse âmbito das relações humanas. Isso é individual (ou dual) e totalmente subjetivo de ambas as partes. Eu me satisfaço fazendo a minha parte, estando lá por ela. Ela não está lá por mim. Gosto de crer que não ainda. O disco é divino. Me transporta para a infância e para época da faculdade, a um amigo em especial, que continua especial até hoje, meu amigo redator. Encomendei para lhe dar de presente o vinil comemorativo de cinquenta anos do Yellow Submarine com o submarino estampado no disco. Quando vi, não resisti. Deixei de comprar o Lego do Yellow Submarine por ser muito caro, não deixei passar essa oportunidade. Espero que ele goste. Acredito que sim, portanto o ato.

2h02. Fui dar uma olhada na Internet e baixei a foto dos comprimidos, tratei a imagem e evitei olhar política. Tive a minha dose disso. Acho que os meses que separam Bolsonaro da posse seja essencial – e espero que suficiente – para esfriar os ânimos da nação. Que o rearmamento da população seja um processo demorado. Preferia que não existisse. Mas um cara que afirma que todos os filhos aprenderam a atirar com armas verdadeiras aos cinco anos de idade e isso lhe soar natural e nobre, em vez de uma abominação social, sei não. Espero estar sendo profundamente pessimista sobre o prognóstico desse senhor dominar o país. Escrevi dominar por ato falho, mas acho que esse é o plano dele. É como ele vê a coisa toda, o seu governo. Soube que pensou em nomear Alexandre Frota para ministro da cultura. É surreal. Estamos vivendo um circo do absurdo. Novamente, espero estar sendo pessimista.


2h42. Sobre o meu anjo o que posso mais dizer? Nada, no momento. Está na penúltima música do disco e só posso achá-lo genial, não há outra palavra para descrever. Definidor e definitivo para tudo o que esteve e está por vir. Como Medúlla de Björk. Só que este último é tão diferente e tão completo em sua proposta que qualquer coisa derivativa dele parecia plágio.

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