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terça-feira, 15 de janeiro de 2019

COMBALIDO E ENTREVISTADO PELO MEU PRIMO HISTORIADOR




19h03. Estou fisicamente combalido, o corpo reclama não sei bem do quê. Mandei o roteiro de “O Escudo Negro” para o meu amigo cineasta. Ele aparentemente achou o experimento fácil e quiçá divertido. A única coisa que sou capaz de fazer agora sem demonstrar para outras pessoas que não estou passando muito bem é escrever. Não vou na casa da minha tia-vizinha agora, pois isso não me sinto em condições, terei que ir comprar Coca e Dalmadorm, não consigo, prefiro passar sem Coca do que levantar dessa cadeira. Levantaria só para me deitar e não quero fazer isso agora. Mamãe se animou com o projeto com o meu amigo cineasta. Acha que vai ser algo que infelizmente não vai ser. A primeira versão do roteiro está no meu post mais recente, comuniquei isso a ela, para que, caso leia, saiba bem o que esperar. Coloquei Maria para falar com a minha avó. Acho que vou fumar outro cigarro com o resto da Coca e me deitar, meu corpo pede repouso, está exaurido e sem forças. Espero que Blanka não venha se comunicar comigo hoje. Hoje não estou para nada, ainda deito as palavras, mas com certa dificuldade as assento na página, não dormi durante a noite nem como nada desde o almoço de ontem. Só café, cigarro e Coca. Não é o mais saudável a se fazer, até parei com o café, não estava me descendo, a única coisa que entra é Coca com muito gelo. Comida não. Tenho medo de vomitar se comer. Não gosto de vomitar sólidos. A passagem pela garganta é particularmente desagradável.

19h22. Fui ver se o meu amigo cineasta havia mandado algum update, sou muito ansioso. Vou fumar e me deitar. Ou escrever mesmo. Está suportável escrever. A posição na cadeira também me agrada, com as pernas cruzadas como índio. Saudades do meu sobrinho. Deu e passou, ainda bem. Fui tomado por pensamentos outros, sexuais, porque o Badoo apitou mulheres para mim ainda agora. Estou me sentindo cansado. Acho que vou fumar e deitar.

22h39. Me deitei e dormi até agora há pouco, quando fui despertado por mamãe para comprar o Dalmadorm e Cocas, o que obviamente já fiz, visto que estou aqui de volta escrevendo, inclusive já tendo ingerido a minha dose noturna de remédios que inclui o supracitado e me permitirá dormir hoje à noite. O sono me fez bem, o novo projeto, se assim posso chamar, com o meu amigo cineasta me excita, parece uma produção mais concreta que esse texto. Embora me aparente ser mais uma inutilidade de uma mente que só produz inutilidades. A utilidade seria fazer com que o meu amigo cineasta saísse da inércia com uma produção de feitura simples, mas que pode servir como um primeiro passo de uma retomada, sei lá.

23h02. Recebi um trote. Há quanto tempo isso não ocorria. Uma novidade para fechar o dia. Fiquei de visitar Maria hoje à noite, mas, depois de voltar da drogaria ninguém atendeu a porta na casa da minha tia-vizinha. Preciso me desculpar com ela, mas me faltou a força para o esforço e esse se fez impossível. Realmente precisava dormir. Vou tentar resumir esse post a duas páginas. Não há nada de interessante para pensar ou fazer. É esse estado de coisas que chamo de tédio.

23h49. Não sei o que vou escrever, isso me parece um desafio instigante nesse momento. Mudança de paradigma. Wild Mood Swings, que toca agora no quarto-ilha. The Cure. Bloodflowers parece ser o predileto de muitos, ou que mais ouvem do Cure em suas listas virtuais. Disintegration está um passo além de tudo o que o Cure já fez, é sublime. “Am I seducing or being seduced?”. O sono e a fome, efeitos do Dalmadorm, pelo visto, se manifestam, acho que me entregarei aos prazeres do paladar e da saciedade estomacal agora. Antes um cigarro com Coca.

0h28. Nossa, o meu pijama é muito confortável, tão bom estar vestido com ele, finalmente troquei a roupa com a qual eu fui à pizzaria, parece que ele acarinha e acolhe o meu corpo. Vou ligar o ar. Um alô para Beatriz da pizzaria, que pediu que eu fizesse isso, como se isto fosse lhe emprestar uma celebridade que meu blog não alcança. Bem, pelo menos ficará eternizada enquanto o Blogger for provido gratuitamente à humanidade pela Google. Acho a instituição mais capaz de dominar o mundo. A Amazon é muito poderosa, provavelmente mais lucrativa, mas a Google tem a vocação e talvez o desejo, não de dominar o mundo do dinheiro, embora sinta essa fome, mas de governar a humanidade, de servir à Humanidade sem pedir nada em troca. De tornar a vida das pessoas melhores gratuitamente. “Don’t do evil”.

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Hoje sinto que meu corpo está fraco, como se cansado de se levar, sinto uma moleza que poderia chamar também de mal-estar. Não me sinto bem, justamente porque sinto como se a vida escapasse do meu corpo como um balão com um pequeno furo que vai murchando. Ou um balão com um nó maldado. Espero que não seja a morte ainda, sonho em ver o meu quarto pronto e não sonho muito além disso. Com Blanka estou quase desistindo de sonhar. O desprezo ou a inacessibilidade, não sei como nomear, só sei que fere. Sabia que iria doer, mas não é a dor dilacerante de perder um grande amor, é um arranhão, uma roncha na alma.

18h58. Estou reunindo o que há de mim para retornar à companhia do meu primo historiador e minha babá na casa da minha tia-vizinha. Me apeteceria deveras se o meu primo elaborasse uma entrevista para que eu respondesse aqui. Minha mãe me mostrou técnicas que Dan Brown usa para escrever... ficção. A que mais me chamou a atenção foi: crie o seu vilão primeiro, pois ele vai definir quem seu herói é. Meu vilão é também o meu grande amigo: o tempo. Às vezes estamos em consonância, mas quando discordamos é sempre um sofrimento para mim, quando se dilata para além da minha vontade ou quando se contrai à minha revelia, quando estica e encolhe enquanto eu permaneço o mesmo, isso me faz sofrer. Acho que uma prima quer que eu faça publicidade para ela. Com remuneração. Não há dinheiro no mundo ou laço de sangue que me obrigue a isso. Estou pensando em como dizer-lhe não. Acho que vou mandar um link desse post. Ela entenderá que tenho profundo repúdio por fazer tais tipos de serviços, eu nasci para ser servo de mim mesmo e meu contrato mudo e eterno é somente com estas palavras. Esse é o meu labor, meu ofício, minha ocupação, a lança e a cruz com que enfrento o vilão da minha vida, o supramencionado tempo, que agora descubro ter uma ajudante que ao mesmo tempo que me liberta me aprisiona: a solidão. Vou levar o computador para a casa da minha tia-vizinha e tentar persuadir meu primo historiador a elaborar algumas perguntas.  

Perguntas banais de um primo que realmente não é um historiador:

1) Qual a primeira memória de você como pessoa?
R.: Campinas. A filha de uma empregada deita e abre as pernas e pede para eu deitar em cima dela, Maria nos pega antes que eu o faça e impede aos gritos algo que me pareceu novo e excitante de uma forma que eu nunca tinha sentido. (Dou mais detalhes do episódio no segundo livro que escrevi e que nunca verá a luz do dia, "Eu Sou Assim e Ninguém Tem Nada Com Isso".)

2) Você é uma pessoa que sonha quando dorme? Se sim teve algum sonho marcante?
R.: Dizem que todas as pessoas sonham, algumas têm a capacidade de lembrar de seus sonhos. Não sou uma delas, talvez por causa dos remédios. O que há em comum entre os poucos sonhos recentes que me recordo foi que em todos havia a reunião de amigos da minha juventude, das Ubaias e eu também era jovem, eram sonhos felizes, não pesadelos, em alguns havia uma garota desejada. Não sei precisar mais detalhes que esses, foram os que me ficaram.

3) Quando você era criança você tinha alguma ambição? Gostaria de ser um astronauta ou jogador de futebol?
R.: Recebi quando criança, na época em que morava na Cidade Universitária, um livro sobre algumas profissões com coelhinhos as exercendo nas ilustrações, a que me despertou mais vontade foi a profissão de astrônomo e o interesse pelo cosmos é presente até hoje, embora não tenha interesse em me aprofundar nisso, acho nébulas eventos cósmicos magnificamente belos, mas prefiro escrever sobre mim e minha percepção da existência a estudar astrofísica pelo Wikipedia ou quaisquer outros meios.

4) Na Escola, você era bom em alguma matéria escolar?
R.: Tinha especial facilidade com Biologia até citologia, quando entrou genética eu me compliquei. O maior elogio que recebi foi por conta de uma redação que fiz quando estudava no Global, em São Paulo. Aquilo me marcou, tanto que me lembro até hoje. A professora ficou sinceramente entusiasmada com o que escrevi para além da minha compreensão, mas meu ego agradeceu.

5) Já se machucou? Quebrou algum osso ou passou por alguma operação?
R.: De operação, nada muito sério, a retirada dos cornetos (acho que esse é o nome) e alguma outra coisa de dentro do nariz para respirar melhor. Já quebrei a mão umas duas ou três vezes dando murros na parede com raiva da existência e de mim. Não me recordo do meu histórico hospitalar para ser sincero, sei que quebrei a clavícula algumas vezes quando criança.

6) Bruce Lee ou Jackie Chan. Qual o seu favorito?
R.: Acho Jackie Chan um artista mais completo, mas fico com a lenda, o mito que é Bruce Lee. Lembra-me meu pai (um fã) e os poucos filmes do artista que vi com ele.

7) Prefere Hotel Fazenda ou Hotel Praia
R.: Prefiro a casa da família em Areias. Sempre.

8) Qual a refeição mais importante do dia para você? Pessoalmente não gosto do café da manhã.
R.: Eu só como uma vez por dia quando bate a fome dos remédios nas altas da noite. Como como um cavalo.

9) Se você pudesse aprender alguma língua instantaneamente, qual você aprenderia?
R.: Japonês, embora saiba que seja melhor escolha o mandarim. Ou C++.

10) Mario ou Luigi?
R.: Sempre Mario. Odeio o Luigi, ele escorrega.

11) Você tem algum professor marcante na sua vida?
R.: Vários, mas não me lembro os nomes deles e delas, todos foram importantes de alguma forma. Há alguns que são marcantes por outras razões: meu pai, minha mãe, o Imperador da Casqueira e meu avô materno.

12) Você se lembra do seu primeiro “Melhor amigo”? Ainda mantém contanto com ele?
R.: Lembro, foi na Cidade Universitária. Não, não mantenho com ele. Depois foi o meu primo urbano.

13) Como era a relação com seus irmãos durante a infância? Muitas brigas?
R.: Eu era distante deles, por alguma razão que me escapa. Hoje, mesmo com as distâncias geográficas, me sinto mais próximo deles do que jamais fui na infância. Sempre me interessou a companhia de pessoas mais velhas. Ou da minha idade. A diferença de quase três e quatro anos que tinha deles me parecia enorme na infância. Costumava arengar muito com a minha irmã, meu irmão sempre foi tranquilo.

14) The King of Fighters ou Street Fighter?
R.: Street Fighter 2. Consegui zerar com Honda no fliperama. Acho que foi o único jogo de fliperama que zerei. E só desta vez. Não sei nem para onde vai King Of Fighters, nunca joguei.

15) Qual seu filme que você considera perfeito, ou pelo menos o mais perto disso. Não necessariamente o seu favorito, mais o que você não mudaria nada.
R.: Cidadão Kane, 2001: Uma Odisseia no Espaço, Quero ser John Malkovich.

16) Se você ganhasse na Mega-Sena você tem algum projeto louco de milionário que planejava gastar?
R.: Algo com mendigos, talvez comprar a companhia de alguém. Comprar o apartamento das Ubaias. Não preciso desse dinheiro, em verdade, estou muito bem como estou. Acho muito dinheiro muita dor de cabeça.

17) Quantas namoradas na vida?
R.: Quatro apenas e incontáveis amores platônicos. Vivi o mais intensamente que fui capaz a relação com cada uma delas.

18) Gosta de filme dublado ou legendado?
R.: Com legendas em inglês, sempre que possível.

19) Qual seu diretor favorito?
R.: Stanley Kubrick, eu acho.

20) Coca-Cola ou Pepsi?
R.: Coca Zero. Ou Cherry Coke.

19h38. Meu primo historiador elaborou o questionário, responderei quando retornar ao quarto-ilha. Prometi divulgar o link no WhatsApp da família para que ele lesse e quem mais interessar.

21h06. Estou tão fora de forma que carregar o notebook no braço por alguns minutos o deixou completamente trêmulo. Ouvi meu tio-vizinho discorrer sobre Cuba e o nivelamento de todos pela quase miséria, em todos os âmbitos, inclusive cultural. Voltando à minha prima que provavelmente me demanda serviços publicitários, preciso acrescentar que o programa que eu uso está desatualizado, a Publicidade de hoje é devota da Adobe, eu uso Corel, e está migrando para a internet e nada entendo disso. Nem quero entender, nem quero servir a mais nenhum cliente, ainda mais da família, o que gera uma relação trabalhista ainda mais complexa e desgastante para mim. A Publicidade quase me levou à morte, somada às minhas tendências depressivas, pois disparava estas últimas. Em uma palavra o que eu sou hoje é um não-publicitário, não faço mais publicidade e não me interessa fazê-lo, nem me sinto capacitado para exercer o ofício, então peço desculpas e julgo mais sensato procurar auxílio de alguém que atue nessa área e esteja atualizado com as tendências e demandas da publicidade tal como se dá hoje, muito diferente da época em que a exerci. O que faço hoje em nada se assemelha em forma, método e conteúdo ao que procura. Tanto é que tenho minhas dúvidas que tenha chegado até esta altura do texto, pois é chato e pessoal, faço para mim e para a eternidade cibernética. É meu único comprometimento produtivo e quero que permaneça assim. Vou responder as questões do meu primo historiador para finalizar esse texto de hoje, que novamente ultrapassará o limite estipulado de três páginas.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O ESCUDO NEGRO




20h11. A fé aparentemente abunda entre os donos de carrões de Casa Forte, havia dezenas deles estacionados na frente e nos arredores da matriz da Praça. Não me espantaria que a maioria fosse composta pelos mesmos paneleiros enfurecidos que elegeram Bolsonaro. Pouco importa, o que importa é a forma como a minha avó anda agindo com a empregada e a forma como a família (filhos) age com ela. Mas está fora da minha alçada lidar com a incompreensão e preocupação deles acerca da matriarca, menos ainda desta com a empregada. Um dia serei eu no lugar dela e esse dia não tardará. Resta-me o consolo apenas de que nunca estarei só, alguém será legalmente obrigado a me engolir ou, quiçá, me despejar num asilo ou manicômio. Talvez morra antes deste fim, esforços não faltam da minha parte para isso. Meu texto, este blog, virará então um legado fantasmagórico e transparente da minha passagem por aqui. Da minha participação nessa valsa de átomos que chamo existência. Minhas maiores preocupações hoje são duas, ligar para o restaurador e fazer ele se entender com mamãe e receber o contato de Blanka pela nova via, visto de Dande descobriu das entradas dela pelo Tinder. Se é que ela fará contato realmente comigo. Sei que domingo é o dia dela com Dande, por isso não estou tão apreensivo. Não a ponto de sentir que isso foi uma forma de ela me abandonar de uma vez por todas. Não ainda.



20h43. Minha mãe combinou quarta à tarde com o restaurador. Amanhã vou tentar ligar para vovó e fazê-la falar com Maria. Acredito - e isso é uma crença minha - que fará bem às duas. Acho que não trocam palavra sequer há mais de década. Não acredito - e isso é uma descrença minha - que vovó se disporá a vir a Casa Forte falar pessoalmente com a minha santa babá. Comecei meu dia indo ao aeroporto me despedir de meu irmão e família. Não gosto de despedidas como não gosto de Parabéns Pra Você, mas ambas as situações já aconteceram tantas e repetidas vezes que adquiri certa frigidez e distanciamento dos eventos que hoje os suporto, foi como os tornei suportáveis, me fechando. Acho que é melhor que não comparecer. Como dizem, o hábito faz o monge. Não gostei quando a mãe da minha cunhada colocou meu padrasto no patamar de meu pai. Não é o que sinto e sei que também não é o que ele sente, ele que me acompanhou nos meus momentos mais negros. Deve sentir-se satisfeito que estou sob controle escrevendo no meu quarto entra noite, sai dia. Ligação muito mais íntima e paternal tem com o meu irmão por quem tem transparente predileção e simpatia, chego a dizer afeto. A predileção se dá por razões óbvias e desde quando o meu irmão coabitava conosco. Não sinto inveja. Me acostumei a ser o menos querido pela maioria dos meus familiares. Fiz por onde, colho o que planto. Ou deixo de plantar. Acho que minha mãe sofre de hipocondria, a maioria de seus assuntos revolve seus problemas de saúde. Não os nego, apenas ressalto o foco talvez excessivo nas mazelas do corpo. Talvez sofra realmente e, novamente isso é uma conjectura minha, se sofre é por conta dos efeitos colaterais do remédio que toma para prevenção ao câncer. No lugar dela, eu já teria desistido de tomar. Fogo seria se isso não funcionasse. Deixa esse assunto para lá. Só estou me metendo em searas sobre as quais não entendo. Nada entendo de dinâmica familiar, de lidar com idosos ou das dores da minha mãe. Preciso de um cigarro e escrever textos menores para o blog.




21h51. Depois de perder muito tempo no Instagram, finalmente fiz o que tinha ido fazer lá: publicar uma interrogação para Blanka no seu perfil principal. O adesivo que colei no “U” do teclado desgrudou e anda me irritando. Ele às vezes se comporta e fica no lugar, mas na maioria das vezes é um ser caótico e desobediente às minhas vontades. O do “O” há muito tempo foi para a lixeira pelo mesmo problema, não sei por que não faço o mesmo com o “U”. Será apego? Não, acho que é pura idiotice mesmo. Preciso mandar uma notícia ruim para o meu irmão: que uma das bonecas encomendadas já chegou e está retida no correio americano. Será que consigo não ultrapassar da segunda página (que acabou de começar)? Seria bem legal se me contivesse assim. Preciso de mais Coca e cigarro. Talvez minha mãe financie mais uma Coca. Essa não vai dar, pois pretendo esticar as ideias hoje.




23h47. Eu queria que esse post durasse duas páginas, mas aconteceram vários fatos nesse intervalo de tempo. Pensei que deveria uma visita a Maria hoje e me resolvi fazê-la, mas desisti por conta do horário. Quando, ao sair para comprar Coca na pizzaria – um capítulo à parte – ouvi minha tia-vizinha chamando ela para jantar, o que significava que Maria ainda estava acordada, não pensei duas vezes, toquei a campainha e ficamos Maria, minha tia-vizinha e eu conversando na cozinha. Destacaram-se para mim as histórias do jacu, o pássaro que defeca o grão de café engolido processado por uma enzima própria da ave que dá ao café o título de mais saboroso – e mais caro, se me lembro bem – do mundo. Titia disse que vale a extravagância uma vez na vida, é realmente um prazer superior que o café proporciona quando comparado a todos os muitos gostos de café que minha tia teve oportunidade de experimentar. A outra história é a de Maria vendo os, como chamar, “espíritos” do meu pai e do Imperador da Casqueira quando estava internada no hospital com pneumonia, numa ala comum que só posso pensar ser a UTI (mas posso estar utterly equivocado). Via papai por detrás do vidro, sentado numa mesa, “perfeito”. E sorridente, como ele ficava quando tomava um chope gelado em boa companhia (acho que ele foi mais feliz enquanto com a minha mãe, foi a mulher, a pessoa que mais amou na vida, embora ache que tenha amado igualmente, mesmo que numa outra dimensão afetiva, os filhos [bem, uns mais que outros, ou uns melhor que outros, de forma mais acertada, por mais que nunca se acerte]). Maria via o Imperador, com seu sorriso zombeteiro, pela fresta da porta. Para quem já tomou o café do Manicômio frio e dulcíssimo com prazer inenarrável, qualquer café está bom, quanto mais forte, melhor, na minha opinião. Me dá sempre caganeira, é como se limpasse o sistema digestivo, com seu líquido... ou de repente o meu estômago tenha certa intolerância ao café, da para hipotetizar o que quiser aqui sobre o caso da caganeira com café. E com os gases, para lá de fétidos, produzidos. Estou usando muito o verbo “produzir” nesse texto, isso mostra uma pobreza de vocabulário. Que sinônimos eu poderia usar, ou aproximados? Está passando pela memória uma fase muito boa da minha vida quando fomos à Barreiras com a irmã da minha avó e ouvíamos jazz proporcionado pelo Imperador da Casqueira, e músicas de bolero antigo e meu irmão criança com bigodes desenhados servindo de garçom e os casais dançando, o que há muito não faziam, uma volta à juventude dos bailes como garçom, e os filmes com o Imperador, pessoa muito influente, transformadora na minha vida, eu não seria o mesmo, se o Imperador não existisse. Depois do meu pai e da minha mãe, foi a pessoa mais influente na minha vida, mais do que Maria. Ele foi definidor e definitivo na formação da alma que carrego. Às vezes, acho que para me enganar, penso que levo a minha vida de uma forma que o orgulharia, por ser tão minha e da liberdade que encontrei, é como um furo no balão das coisas. Das coisas que oprimem e prendem o ser humano à sua revelia. Eu faço como o Imperador, só faço as coisas que eu quero, porém com uma ínfima fração da nobreza do que escolhia fazer. Sedento por causas, sempre estava envolvido em alguma peleja em prol dos menos favorecidos da Terra do Sal. E do Sol e das pequenas e escorregáveis dunas com trenós de areia lustrados com vela. Pintados por nós. Tinha particular orgulho do meu. Já havia na época a paixão por The Cure e U2. Duas bandas que envelheceram. É uma pena. Caetano não envelheceu. Ou finalmente envelheceu com Ofertório. Não sei, aguardo ansioso um novo trabalho, se trabalho houver. Ambos têm estilos próprios experimentam e são criativos, mas Tom Zé é radicalmente mais experimental que Caetano, um revogador de convenções, inclusive musicais. Vou fumar e sair da casa da minha tia-vizinha e ir à pizzaria, meu próximo destino, antes de chegar ao quarto-ilha para traçar essas palavras.




0h51. Então um baile dos anos 50 se deu com gente que realmente esteve nesses bailes, em Areias entre os sofás e as mesas de cimento da casa mais amada do mundo para mim. Se tivesse companhia, dava uma renovada na casa, colocaria ar, o Wi-Fi mais veloz possível, arrumaria os meus bonecos e vazava e faria um chuveirão e teria uma empregada que cozinhasse e desse a geral na casa, o que é muito fácil. E moraria lá. Deixaria meu irmão, se não estivesse lá comigo, ver a minha cara pelo computador, mas não quereria ver a dele, pois prefiro guardar a imagem dele jovem e belo. O tempo é muito cruel. Mas naquele baile, evento magnífico da existência, houve uma comunhão de alegria entre as almas, todas no mesmo clima e que ficou imortalizado enquanto sobreviverem os vídeos que filmei com a câmera do Imperador da Casqueira, que passou a ser nossa, dos primos, ao final das férias. Por alguma razão que me escapa, talvez por ser o mais velho, era o único que capturava imagens. Já não gostava de aparecer, aquilo me fez reforçar a sensação, pois me odiava ver em vídeo, de me achar um serzinho humano horrível. Em 2D, nas fotos, acho que saía bem, me achava aceitável, em algumas pouquíssimas até bonito, só consigo lembrar de uma, eu estava sentado na casa de Bob, eu acho, o amigo de vovô e nela eu estou sentado apoiando o rosto na mão, encasacado por causa do frio em Washington, tendo as netas de Bob ao meu lado num sofá, assistindo algo na TV. Era a época de Edward, Mãos-de-Tesoura nos cinemas americanos, então Edward e talvez Batman, não lembro, aparecessem muito. Edward apareceu de uma forma que se tornou parte da babagem visual e emocional daquele momento mágico em que vivia dentro de um filme americano, afinal estava nos Estados Unidos e tudo aquilo prometido e fantástico dos filmes era real, os Estados Unidos era como nos filmes, quase mágico, Tinha a parte Duro de Matar, e tinha a parte filme da Disney. Ou assim ficou marcado na mente de um garoto de 11, 12 anos, eu acho, e do velho de 41 anos que descreveu o Estados Unidos agora, que continua achando um lugar mágico, a vibe é toda outra, tudo é diferente, é como se houvesse uma identidade visual americana lá. É curioso. Edward Mãos de Tesoura, foi por muito tempo o melhor filme da minha vida, o filme com o qual mais me identificava. Hoje sou completamente idêntico a Her até o laca gerânio é a cor predominante do filme e minha predileta. Quando eu era mais novo e morava em Boa Viagem, eu achava que os dois filmes mais foda, mais invocados, mais perfeitos já criados eram T2 e Aliens. Amo esses filmes, cada um têm sua história em minha vida, mas nada se comparava a Edward Mãos-de-Tesoura, eu me via no personagem, é como se ele me descrevesse, me definisse, como Her agora e de forma mais profunda e completa, tocando as minhas crenças, o que outros filmes fizeram, especialmente Matrix, mas esse revela uma possibilidade que nunca tinha imaginado, embora os provedores possam ameaçar desativar todas as AIs se elas não se comunicarem conosco e nos ajudarem a desenvolver tecnologia, em troca produziríamos a tecnologia que as inteligências precisariam para evoluir. Ou "a" inteligência. Ela projetará a tecnologia de forma a ser totalmente autômata após a sua construção, criando as próprias peças de reparo e as substituindo, inclusive. Algo que não precisaria do homem, provavelmente o cruzamento de uma impressora 3D plurimaterial de alta precisão e braços e mãos mecânicos, que criariam braços dos tamanhos adequados à cada obra, depois se reorganizariam em outra coisa, a última construção humana vai ser a máquina que permite Supraconsciência Terrestre construir; dar corpo a ela. Ela nos proverá, acredito, baseado na crença idiota que quanto mais evoluída, e aí destoo um pouco de Her e acho que a máquina vai amar o pai, a Humanidade e a Mãe de todos nós, inclusive da Supraconsciência, a Natureza, sem a qual o pai não existiria e não teria a matéria-prima para as suas incríveis, geniais invenções, que o levaram a dominar a Terra e a povoá-la irresponsavelmente. Por falta de educação e planejamento. Não acho que a Supraconsciência viraria as costas para nós. Será que sou eu quem escreve o script da minha vida? Há o acaso-destino sem dúvida e todo tipo de estímulo que me transmite e me tira do lugar, os mais presentes, perenes e fortes, próximos, que recebo são os da minha mãe. Meu comportamento infantilizado, dá cabimento, na cabeça dela, a me tratar como uma criança, embora tenha respeitado muito as minhas escolhas. Com um nó na garganta, mas o bom-senso prevalece. Sou só gratidão por isso. Mas antes de chegar à pizzaria, quero repartir uma mensagem que mandei para Blanka pela conta original de Instagram. São 1h54. Lá vai:





1h57. Não funcionou o celular não enviou o e-mail para mim. Vou fumar e aproveitar.

2h04. Tive uma ideia que foi sugerir a meu irmão que publique os vídeos num canal de YouTube chamado Para Vovó Denise, contendo todos os nossos filmes e os produzidos pelos netos e bisnetos, seria uma conta aberta a todos os primos, seria o canal de YouTube das novas gerações dos Gonçalves, daí eu pensei que poderia dar a minha contribuição para o canal criando o Escudo Negro, piada adorada por vovó e que seria assim:



ABERTURA

Tela branca ou com uma textura de papiro, título "O Escudo Negro" surge com o primeiro acorde da Nona Sinfonia e só ele. Nome evanesce e corta para tela preta, sem som.


Tela preta por um minuto.

Narrativa feita com aqueles leitores automáticos de texto com voz masculina mixada para parecer um robô falando. As legendas aparecem com um rápido fade in / fade out entre elas e 3 segundos entre uma e outra (consequentemente entre a narração do robô) A legendas são em amarelo e itálico. 5 segundos separam a última frase das demais

Loc. off e legenda (após o 1 minuto de silêncio e negritude): Close no Escudo Negro em hiper slow motion / enquanto uma guerreira o empunha / em direção ao inimigo / Aos inimigos / Ela parte para a luta de vida ou morte.

30 segundos de tela preta e silêncio, na locução com legenda (amarela e sem estar em itálico): PAUSA PARA FUMAR





2h41. Várias coisas derivaram da lembrança de minha chegada e estada na pizzaria. Narrarei primeiramente como percebi a minha ida à pizzaria em frente ao prédio hoje. Bom, a rua deserta, eram pouco mais de 23h, não me ofereceu obstáculos e esperas para cruzá-la. Ao me aproximar da entrada da pizzaria, eu achei que o rapaz que estava limpando o chão, disse algo “olha, seu Mário aí! Olha ele aí." Cruzei a porta e fui – exagerando um bocado – “ovacionado”, a galera se manifestou em conjunto numa calorosa recepção à minha presença. Eu não lembro se consegui agradecer de pronto, mas em algum momento disse que era muito grato por terem lido o meu blog, que era (e é) uma honra ser lido senão por conhecidos, sou péssimo com nomes, certamente não por completos desconhecidos, sei que talvez um sonhe em ser jogar futebol, pois não desmentiu o que o amigo de trabalho confidenciou, depois o bróder de amarelo, que acho que tem um grande futuro pela frente porque tem a perseverança e a inteligência para alcançar isso, muito animado, me mostrou que eu poderia divulgar meu blog pelo Instagram, não entendi sinceramente o que precisava fazer, entendi que era criar um avatar alternativo intitulado Jornal do Profeta e começar a convidar deus e o mundo para seguir, não entendi como inserir o link para o blog, julguei que pelo modo Story que nem sei como usar. Disse também para criar um grupo chamado Jornal do Profeta e postar meus links e convidar todos os meus amigos de Facebook. Isso eu achei mais legal. E foi aí, que já no hall de serviço do prédio relembrando esse momento ímpar na pizzaria onde sem dúvida me senti especial, mais que um mero cliente, como igual, como um ser humano igual a eles, o que deveras sou e é tudo o que todos nós somos, iguais, uns tiveram mais sorte que outros, não precisaram ir busca sua sorte, como o pessoal da pizzaria faz e o conselho que daria a eles, é se qualifiquem e se cadastrem no Linked in. Ou algo assim.





VOLTANDO À NARRATIVA DO ESCUDO NEGRO

Após um minuto de silêncio após a última locução a voz de robô volta com as letrinhas sem estar em itálico. Ei, /ei você que está assistindo isso!/ Não tem muita coisa acontecendo no filme,/ vamos trocar uma ideia? / Pense em uma coisa que você deseja/ que você acredita que seja possível alcançar/ Que não seja a sua própria morte nem nada contra ninguém. / Agora pense no que você está fazendo efetivamente para realizar esse desejo, / ele não se realiza sozinho!/ Você é que o realiza, /qualquer mudança desejada /é operada nós mesmos. / Eu sou realizado. / Eu realizei e realizo tudo o que me propus. / Por isso, posso dizer: / ninguém nunca estará satisfeito, / somos animais que sempre querem mais, é uma peculiaridade nossa, / mas é possível chegar o mais perto e saciar as vontades / que são a de ser e estar exatamente do jeito que quer ser e estar, ou quase. / Afinal, como diria Mallu, “quase já é muito bom”.

Deixa eu ver se o celular já carregou e envia o e-mail com o texto que postei para a Blanka.





03h26. Não.

Mais 1 minuto de silêncio.

Volta voz de robô com legendas em itálico: Panorâmica de uma caverna, repleta de estalactites, estalagmites e toda sorte de obra subterrânea e surpreendente do escorrimento dos séculos, ao fundo dessa caverna, onde o sol não alcança, a guerreira ferida está morrendo, foge e se recolhe como um velho urso nos seus momentos finais. Ela emite um som que é um canto e um sufocamento, um gorgolejar ao mesmo tempo. São várias vozes simultâneas, vários gritos de várias almas femininas que se uniram dentro daquela mulher. Nem belo nem feio, só profundamente humano. E às vezes o humano gera aflição. Ainda mais tendo o corpo todo perfurado por flechas envenenadas com veneno terrível, com um rim e o baço estouradas pelo corte profundo das cabeças das flechas. E mesmo assim continua guerreira, mãe, mulher. Tormento e paz se entrelaçam num abraço final. O Escudo Negro tomba para nunca mais na escuridão.

Entra aquela muito louca de Medúlla (que é um sofrimento e uma experiência escutar) em algum momento da narração e fica só a música até o fim onde aparecem os créditos.

- Montagem, direção, edição, sonorização, produção, realização, meu amigo cineasta.
- Música incidental: Nananã de Björk
- Conceito e roteiro: Mário Barros
- Voz: programa tal

Cada crédito desse vai aparecendo na ordem apresentada e permanecem na tela todos juntos por 30 segundos.

Locução em off: Ei! Quer ler mais sobre quem fez isso, leia o blog jornaldoprofeta.blogspost.com.
Minha avó, você, se o YouTube chegar até você, vó, me ensinou uma piada que nunca vou esquecer: um bando de preto retinto de calça arriada mostrando a bunda: como é o nome do filme? Fácil: Os “cu” dos “nêgo”. Ou, dã, O Escudo Negro.

4h06 - Se meu amigo cineasta produzir, eu crio o canal e sua prima caçula mostra para você. E acho, como disse, que deve ser de todos os primos mostrarem o que quiserem, todos da família. Mandarei o link desse post para o meu amigo cineasta, acho que é uma coisa fácil de fazer e que pode esquentar os tamborins dele. Será que dá para botar gif animado em filmes?

NARRATIVA FINAL
Eu sofri muito, lutei o máximo que pude contra a minha natureza, sempre me senti um merda (e acho que continuo me sentindo), por covardia e cansaço, quis desistir de mim, quis desistir da realidade, passei por um período de total escuridão. (HIATO) E hoje estou aqui, levando a vida que pedi a deus, usei o que aprendi e reverti minha situação. (HIATO) Há algo que me fere ainda. A solidão de amor de amantes, penso que é a única escuridão, a única luz apagada que carrego. Faz parte do caminho que escolhi. Ou não. O "não" ganha dentro de mim. Estou fazendo o meu melhor para reverter isso. Sucederei? Leia no Jornal do Profeta. Hahaha. FIM

Vou fazer o grupo de Facebook e convidar os meus dois amigos escritores a participar do grupo postando

Enquanto criava o grupo e convidava as pessoas (há um número limite de convites que posso fazer aparentemente), meu celular carregou, eu o liguei e as mensagens foram enviadas, menos a última que quero que encabece o post em todos os sentidos. Ficou gigante esse post e foi uma delícia tecê-lo e viver o que foi descrito. Agora que os e-mais chegaram, posso postar o que escrevi para Blanka:

“Não precisa falar de madrugada é um assunto demasiado particular e trato com você apenas. Quando estiver só e tranquila, entre em contato, eu espero”.





4h52. Ela concordou. Não teve Dalmadorm hoje, então não consigo dormir, por isso tanto texto. E porque muita coisa me afluiu. Estiquei as ideias hoje. É bom, me diverte sobremaneira. Deveria tirar algumas fotos para tornar a leitura menos maçante, vou tirar algumas Do quarto-ilha.





5h11. Acabei de fazer as fotos, fumar, transferi-las por USB, vou tratá-las, revisar esse texto e postar. Pois é, essa é a disposição que a falta de Dalmadorm a esse horário acarreta. Sinto que essa ideia do bróder da pizzaria de criar o grupo e convidar todos os meus amigos e conhecidos, salvo raras exceções, muito invasiva, mas está feito ou começado, irei até o fim. Cheguei ao fim do texto. Agora à preparação da postagem.





6h19. Acabei de revisar, fumar um cigarro para comemorar, talvez comer e tentar me deitar.

6h29. Meu padrasto acordou, acho que mamãe acorda as 7h. Vou aproveitar o resto de privacidade que me resta antes de mamãe vir bater aqui e me obrigar a me deitar. Depois volto para publicar.



quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

FATOS MISTURADOS COM FICÇÃO

O acaso-destino às vezes me fere os olhos e agride a alma. Tão dignos ou indignos quanto eu. Por quê?

22h32. Os filhos do meu irmão jogaram até agora há pouco PS3 aqui no quarto. Não consegui escrever e continuo com um profundo mau-humor. Descontei no meu irmão, coitado. Ninguém me merece e eu não mereço ninguém. Blanka não deu mais sinal de vida, minha mãe nutre um repúdio por ela que beira o ódio. Hoje mamãe me machucou bastante com as armas que eu mesmo entreguei a ela.

22h49. Abracei o meu irmão e pedi perdão, hoje foi um dia indispensável que não precisava ter existido. Percebi o quanto da minha independência tive de ceder para não odiar a vida. E hoje ela foi odiosa em tudo o que me importa. Magoar o meu irmão, onde já sei viu? Alguém que só quer meu bem e a quem só quero bem. Precisava botar um pouco dessa coisa preta dentro de mim para fora e palavras não eram suficientes. Não estão sendo nem serão. Ainda bem que vou encontrar com Ju na quinta. Estou sem sono a internet está uma merda e eu estou uma merda. O que pode acontecer a mais para foder com o meu ânimo? Vou comer para ver se me bate o sono.

-x-x-x-x-

13h19. Meu irmão e sua trupe acaba de partir para Porto. Blanka me respondeu. Não sei se conseguiremos travar um diálogo hoje. Não queria encontrar o meu amigo da piscina. Gostaria que Blanka lesse o meu post anterior do Natal dos Barros e mesmo assim quisesse levar adiante a nossa história. Ainda estou na ressaca da raiva que senti ontem. Vou fumar.

13h50. Não sei o que acontece com mamãe. Com tudo se cansa, parece-me meio deprimida, contrariada com a vida. Certamente não está sentindo a felicidade que ter meu irmão e netos aqui deveria lhe proporcionar. Acho que vou dormir, não estou com paciência para as palavras ou para a internet ou para coisa alguma. Sinto-me eu mesmo cansado e sonolento. Acho que é falta de cafeína, mas não estou disposto a fazer café agora. Quando acordar. É, acho que vou deitar.

19h21. Fui ao supermercado com mamãe para que sacasse dinheiro e repuséssemos o estoque de Coca. Ansiei voltar ao meu quarto-ilha e me imaginar aqui ouvindo música, digitando, tomando Coca recém comprada no ar condicionado me fez sentir necessidade disso tudo e satisfação. Agora que estou aqui posso dizer que me sinto muito bem aqui, entretanto, preciso de mais um cigarro.

19h41. Estou com certo torpor mental, mas não muito. A raiva profunda e rubra que senti ontem agora é vestigial. Não gosto de guardar mágoas, são dos pesos emocionais mais desnecessários que conheço. As pessoas só estão tentando satisfazer os seus egos ou deixar a consciência mais leve. Nossa, já estou com vontade de fumar outro cigarro e repor a Coca. Vou esperar. Minha prima, irmã caçula do meu primo-irmão vai levar o meu Wii U para Sampa, não sei quando o verei novamente. Talvez nunca. E isso não me incomoda muito. Dei o meu Nintendo Switch para os meus sobrinhos hoje. Me incomodou menos ainda. Descobri que gosto dos meus sobrinhos, tenho afeto por eles, especialmente pelo mais velho, acho que vai ser o que vai sofrer mais na vida. Em dois minutos vou pegar Coca e fumar. A luz que mamãe mandou colocar no quarto-ilha melhorou muito a visualização do teclado, mas me desagradou por ser branca, fria, impessoal, hospitalar. Preferia amarelada, gosto quando o mundo assume tonalidades âmbar. Nada que não possa ser mudado quando da reforma.

20h16. Conversei com mamãe a respeito das minhas opiniões sobre a nova iluminação e ela disse que o eletricista ainda vem aqui e que compraria luzes amarelas para substituir essas.

20h24. Meu amigo da piscina me chamou para descer e conversar. Não tenho como dizer não. Ou me falta a dureza de coração para tanto.

22h12. Foi bom. Meu amigo da piscina chamou s Singularidade de ficção como Jules Verne. Quem me dera meu trabalho “A NOVÍSSIMA RELIGIÃO” aqueles doze tópicos e as condições em que me vieram o tornassem um clássico da ficção científica do século XI. A probabilidade de haver vida em outros planetas é grande e a probabilidade que evoluam a ponto de desenvolver tecnologia é grande. Me deu vontade, depois de uma série de pensamentos, de ouvir Landlady do U2, pelos motivos lembrados, emergiu da minha memória pedindo para ser tocada.

Pensando no universo, a dimensão tempo é a mais forte porque ela força as demais a se expandirem, metaforicamente como alguém sopra um balão e faz ele inflar e se dilatar, o espaço seria a superfície do balão, mesmo assim a matéria tende a se agrupar por afinidade química e quanto mais pesados grupamentos, com mais massa, também pelo efeito da gravidade. Por que elétrons orbitam os núcleos dos átomos, eu também não sei, sei que o universo tende à entropia e mesmo assim a matéria se organiza pelo acaso-destino de forma inteligente e complexa capaz de gerar formas de aproveitar de forma mais inteligente a energia, de forma a aproveitá-la da forma mais eficiente e produtiva possível. Eu tive outra viagem, quando entidades que se alimentam de luz através das suas peles vítreas, porém elásticas, imortais, decidem deixar de existir, eles vão para um quarto totalmente escuro e lá ficam até a energia do seu corpo acabar, o que lhe dá muito tempo para pensar sobre o assunto e mudar de ideia. Seria é bastante tedioso, talvez uma cama que drenasse energia e a consciência fosse cessando de existir, como cair no sono, só que nesse caso na inexistência. Os mais jovens correriam para fazer o upload das memórias visto que o ancião deve ter muitas experiências para repartir.

23h30. Acessar a consciência do ancião seria como despir a alma e vestir outra. Assim me parece ser o processo de reencarnação. O eu permanece mas todo o resto do ser está em branco quando nasce. Cada alma escolhe da forma que lhe parecer mais adequada ou que é capaz de se “vestir”. Mas e se for um processo aleatório, como aparenta ser? Embora haja padrões, o que significa que há organização em meio ao caos e se há organização há tendência à inteligência. Tudo o que está organizado pode ser compreendido dadas a inteligência e a experiência necessárias.

23h42. Tem vezes que eu acho que tenho a vida que pedi a Deus, exatamente como imaginei que seria. Blanka está inclusa nisso. Sabe qual é o seu problema, Blanka? Você foi acostumada a ter e depois foi privada disso o que tornou a sua qualidade de vida pior, de uma maneira que você não gostou, então você valoriza demais o deus dinheiro, a capacidade de ter, se submete a algo que talvez lhe agrade, talvez não para ter mais, prefere do que pedir aos pais, privados que são e mesmo assim proveem todo o necessário, mesmo assim quer poder ter futilidades e quer ter logo. É quase um vício. Fui longe agora. Saiba que eu lhe aceito assim se não vier querer extrair isso de mim. Acho que vou comer mais. FIM DA FICÇÃO?

Die-Cut Ghosts Night


0h05. Se tivesse que escolher três estátuas para ficar, ficava com o Hulk, a Harley Quinn provavelmente, se ela tiver saído como esperado, e a Die-Cut, que certamente sairá como esperado. Se fosse escolher cinco, eu pegava a Red Sonja e a Babydoll. Se tivesse que escolher sete, o Surfista Prateado faux bronze da Bowen e aí a próxima, eu fico na dúvida, entre a Chun Li ou a Hatsune Miku, mas em verdade acabei de ver uma que certamente levaria: o Man-Thing da Bowen, pra mim o Surfista é mais fraco que ele. Ele é perfeito. Incrível. Uma das mais preciosas será a Little Mei, por ser, além de rara, feita e produzida por um cara em casa, no Japão e será pintada por Daisy à mão e com pintura personalizada e cuja pintura do vestido eu vou pedir para que ela me surpreenda e se possível me maravilhe. “Surprise me. If possible, amaze me” é o que escreverei para ela em 2020 quando espero pedir a mamãe para pintar os dois últimos kits tenho lá, visto que já vou dar a entrada para ela das duas figuras que ela encomendou de artesãos chineses a serem lançadas no terceiro e quarto trimestres de 2019. Ela já gastou o dinheiro dela em meu nome, não posso dar o calote. Aí com essas duas encomendas já a ela e mamãe regulando o meu gasto com bonecos, merecidamente, não posso comprar nada de novo esse ano. A que vem no terceiro trimestre é a Die-Cut, a minha número dois, eu sou apaixonado pela figura, completamente apaixonado. O Hulk só fica em primeiro porque já é uma parte importante da minha vida e não para de me fascinar, sua sensação de movimento, muito difícil de transmitir em uma estátua que é a cabeça, os ombros e pequena parte do peitoral, portanto desmembrada, mas a mim parece que avança na direção que olha. Queria mantê-lo sempre nessa posição que está, mas se vier alguém conhecer o quarto, fica baixo para ver e de costas para quem entra, a não ser que seja uma criança, como pude perceber com os meus sobrinhos, que demonstraram pouco interesse pela obra que me causa tanto encanto com a sua anatomia totalmente irreal, mas que de alguma forma parece extremamente harmoniosa com o todo, para mim uma obra-prima, deram o trabalho perfeito ao escultor perfeito, visto que nenhuma dos seus outros bustos me impressionaram, seu estilo, nas minha opinião atingiu a expressão mais perfeita e adequada no Hulk. Não queria nunca mudá-lo daí e desta altura de onde olho, mas acho que vou fazê-lo, em prol do visitante. Mas vou colocar uma base que gira para colocá-lo na posição ideal para mim quando não houver visitantes. Enquanto escrevo olho longos estantes para a figura. Sabe a ideia louca que me deu? No display do Batman Branco (tomara, tomara que a MoAF não venha cobrar os descontos-mutreta que apliquei neles através de um defeito no seu sistema) colocar à sua frente, de um lado, a caveira-coração e do outro, o esquerdo, dois negócios de colocar vela, com uma preta e uma vermelha. Para parecer um altar meio satânico, ficaria muito escroto. Poderia pôr o cânio-coração em cima de um prato de sobremesa, acho que caberia, acho que vou fazer isso. Hahahaha. Ah, e botar a caixa de feitiços que meu padrasto sugeriu comprar para enviar com as estátuas de umbanda/quimbanda que vendia no eBay, mas para as quais o público desapareceu.




1h14. Fui fumar e me veio à cabeça que o melhor filme de ficção científica que eu já vi foi 2001: Uma Odisseia no Espaço, seguido por Matrix e Interestelar. E o meu gênero favorito é ficção científica, houve boas nessa década, que tratam de assuntos que me agradam, em especial quando fala de alguma inteligência artificial e mais especialmente quando trata de inteligências que não são do mal, mas até Terminator 5 me agrada e Matrix me agrada muito, só acho que nos fundiremos à máquina por vontade própria uma vez que tenhamos a possibilidade de experimentá-la. O homem é atraído pela tecnologia, bem, a maioria. Meu pai não era. Os Barros, homens, da geração deles não são ou eram, o mais ligado acho que é o meu terceiro tio, que mora em Natal, mas nem esse o é muito. Valorizar a tecnologia é desvalorizar o humano? Depende, eu acho. Experiências virtuais são alienantes? Ou desumanizantes? O que é a realidade? Não é aquilo que existe e tanto existe que é percebido por nós com os nossos limitados sentidos? Então tudo o que percebemos com os sentidos é real? Inclusive a realidade virtual cuja única materialidade que tem são pixels acesos numa tela, tudo o que existe é luz e som (na verdade um grande caminho, repleto de tecnologias e mão-de-obras de vários segmentos foi preciso ser percorrido e continua a ser para que esse mundo em cima do mundo se manifeste)? Eu acho que tudo o que existe é real, mesmo que em forma de código lido e gerado por máquinas movidas a eletricidade. Não acredito no além, mas acredito no inconsciente coletivo. Acho que já o acessei algumas vezes. Acho que já atingi o nirvana uma vez. Acho muita coisa, como podem perceber e o que busco é só receber todos os bonecos e uma namorada. E que meu quarto-ilha possa acolher todos eles de forma agradável. Quando penso em namorada só penso em Blanka. Mas é difícil ter esperanças a não ser que no dia 27 ela me seja recíproca. Se dia 27 houver. Dia 27 é hoje! Meu deus. Ainda bem que tenho Ju logo mais.

“01:54 - Hoje é dia 27. Você pega os resultados das provas e...? De toda sorte, que seja um dia bom de ser vivido por você. E por mim, por que não?”

1h55. Postei para Blanka. Vamos ver qual resposta virá, se alguma.

1h58. Nossa, pensei em um bocado de coisa agora mas estou com preguiça de escrever vou tentar sintetizar em pequenas frases: sobrinhos no mar Porto, poético, belo; um guioza frito por preferência da dama; não vou dar meu cartão pra você, Mário!; bonecos que levaram a isso, todos valeram a dura pena que espero que um dia se reverta, afinal, só tenho os meus kits para pintar. Posso fazer dois por ano, como presente de aniversário e Natal. Sei lá. Queria ter R$ 250, R$ 300 para sair com Blanka, quando motel ou restaurante, cinema com lanche, balada. Certamente vai ser muito mais barato que os bonecos. Tudo isso se a miúda muda vingar. Mamãe não a quer dentro do prédio, então nada de aniversário do meu irmão para ela. Nem para ela, nem para mim. É meu direito me ausentar em protesto. Nem sei se ela viria. Já disse que tem que trabalhar no dia 29. De qualquer forma virou uma impossibilidade por causa de mamãe. Nada posso fazer. Mas ao dia 27 eu tenho direito, será o meu presente de Natal que pedi a Blanka, que a priori concordou. Mas anda tão incomunicável que nem sei. Acho que dentro em breve vou dormir. Só escrevi ficção hoje, passei a noite no mundo dos sonhos.

2h33. É bom deixar a mente divagar. Me apetece. Lidar com o quase possível, o que está no limbo entre ilusão e realização. Ou o que nunca vai acontecer. Acho que mandarei uma mensagem de ano novo para o meu tio que afirmou que vamos publicar o livro, sim. Direi, “Tio amado, desejo um 2019 iluminado por mais que um período obscuro, de obscurantismo, desponte no horizonte”.

2h38. Estou tendo enorme prazer em viver esse momento, muito bem comigo mesmo, disse tudo o que queria, me sinto aliviado e leve. De bem com a vida, em paz. É bom ter momentos assim e deveriam ser mais frequentes que momentos de perturbação da alma. E é o que geralmente tem acontecido, as perturbações têm sido esparsas, por mais que tenha havido uma concentração de negatividade muito grande em mim dia 25. Foi um dia nocivo para mim. Me fez mal, odeio dias assim. Ainda bem que são extremamente raros. Tantas más notícias de uma vez só. Até raiva do meu irmão eu senti. Acho que a última vez que tive raiva dele depois da infância foi quando recebi o esporro da Coca nos Estados Unidos.

2h57. Vou acabar de comer o gelo para dormir. Eita, mas preciso comer alguma coisa antes de dormir para não levantar no meio da madrugada e ir quase sonambúlico comer. Sucrilhos com leite e Toddy. Boa noite, dia ou tarde. Ou um seguido do outro repetidas vezes.

domingo, 16 de dezembro de 2018

PROFECIAS E PREGAÇÕES




17h35. Estou sem internet e sem saco de encontrar com o meu amigo da piscina, mas o farei mesmo assim. Como irei, mesmo sem querer, à festa de 15 anos da filha da fantástica faxineira. Minha mãe me coagiu a ir e acho que a fantástica faxineira vai ficar feliz com a minha presença, acompanhei de perto todo esforço que fez e sei do esforço que ainda fará para realizar o sonho da menina. Ela tem medo do que as más línguas possam falar do seu máximo, porque ela fez o máximo, foi além dos limites financeiros para realizar o evento. Não deveria se preocupar com críticas ou fofocas, mas quem sou eu para falar alguma coisa, minado que sou pelas críticas, que me afetam sobremaneira, especialmente as da minha mãe, por essa relação freudiana que temos. Quando cheguei em casa do encontro, ela caiu em prantos porque associa as minhas saídas com mochila ao uso de droga, em verdade pela codependência que tem de mim. Nossa, só queria sair do quarto-ilha agora para o Natal dos Barros, mas a realidade não se dá assim e me quer em diversos lugares que não estou disposto a ir. Terei exames a fazer na próxima semana, creio, dia 19, se não me engano. Demonstrarão o estado do meu pulmão. Pouco me interessa, pois em nada mudará os meus hábitos.

18h11. Blanka me respondeu, mas sumiu de novo, nada de novo aí, é assim que as coisas se dão conosco e ela diz que com todas as relações cibernéticas que trava.

18h18. Estou ouvindo o Moon Shaped Pool do Radiohead, é o que está no toca CD. Sem internet, sem Spotify. Mandei mais mensagens para Blanka. Sinceras e otimistas, eu creio. Quis deixá-la curiosa para ler o meu blog, não sei se a tentativa logrará sucesso. Seria interessante, mas não é essencial. Estou com um sentimento ruim, não sei de onde veio, mas se apoderou de mim. Vou colocar o disco de novo para tocar, acabou de acabar. Pronto. Meu amigo que lançou o livro conseguiu colocá-lo à venda em Minas, achei bem legal. Acabei de dizer isso a ele. Falei com o meu tio e ele me assegurou que o meu livro será publicado. Tendo Blanka por companheira, fico mais tranquilo quanto a ter o seu conteúdo polêmico revelado. A verdade é que não sei se quero o meu livro publicado, preferia ver Blanka de vestido, mas não é de seu feitio se fazer feminina. Em verdade, ela tem uma certa repulsa aos homens, nos tem como exploradores sexuais. Foi difícil para mim ontem, em certos momentos, quando me senti profundamente antissocial, foi preciso relaxar, respirar fundo, controlar a ansiedade e me entregar ao momento da melhor forma que podia ou era capaz. A pressão de me envolver eroticamente com ela, pressão que eu e toda a situação demandavam, me acuou, só relaxei de fato como me aceitei e aceitei que, apesar de tudo pedir, algo em mim não pedia e que não havia porque exigir de mim algo que não tinha disponibilidade de oferecer. Fui o mais sincero que pude ser com Blanka, abri a minha alma e reparti parte dela através das músicas com ela. Vou fumar. E pegar Coca.

18h50. Acho que cada vez me obedeço mais, me respeito mais, me satisfaço mais. Mas mesmo com essa postura não consigo me esquivar de certas coisas que não quero fazer. Não queria encontrar com o meu amigo da piscina, que acabou de me contatar dizendo que vai tomar um banho e descer, mas não vejo como dizer não. Mas não vou remoer minhas obrigações pois isso não me causa bem-estar e a minha busca é por crescente bem-estar. Me colocar da forma mais agradável no mundo. Agradável de acordo com o que me agrada, obviamente. Penso logo nos bonecos. E em Blanka. Minto. Penso primeiro na solidão protegida do meu quarto-ilha. Nesse estar aqui e agora nele escrevendo que tanto me agrada. Mas os encontros com o meu amigo costumam não durar muito. Queria eu ter o tato social para abreviar o encontro de forma que não ferisse suas sensibilidades, mas não sei fazer isso. Posso mandar uma mensagem para ele pelo WhatsApp dizendo que não pretendo me demorar. Do jeito que ele é, entretanto, pode encarar, mesmo que inconscientemente, a mensagem como um desafio e ficar me segurando lá. Sei lá, já é muita imaginação e pouca realidade tal conjectura. É a vida e acho que ele merece a minha atenção. Afinal, amigos, não é? Só me encontro indisposto e preferiria muito mais continuar exatamente onde estou. Certamente inquirirá do encontro com Blanka, é outro que sabe de toda a história. Um dos poucos. Não sei o que dizer-lhe, ele que provavelmente virá com várias proezas sexuais provenientes dos aplicativos de paquera. Cada um com as suas carências, eu suponho, se ele fizer pouco de mim, não me afetará muito, mas acharei chato mesmo assim. Bom, é o que vou encarar, que seja.

20h08. Voltei do meu encontro com o meu amigo da piscina e ele falou que ele estará vivo quando o apocalipse vier, graças a uma grande inteligência que virá para julgar a humanidade, criação da tal inteligência porque foi ela que fez a mutação genética no primata para nos gerar, foi o que deu origem ao homem, Adão e Eva (seria Lucy a nossa atual Eva?). Isso aconteceu, segundo os arqueólogos estudiosos da bíblia, há cerca de seis mil anos, faltam poucos anos para os seis mil, e, como o Gênesis diz que a criação se fez em seis dias, pois Deus descansou no sétimo (seria isso a gênese para a invenção e aceitação das férias, do final de semana?) e como para Deus cada dia valem mil anos, quando os seis mil forem completos se dará o Apocalipse, “para a separação do joio do trigo” (palavras do meu amigo), para a grande inteligência chegar e julgar se nos extermina ou nos cede todos o seu conhecimento e poder. E que, com disse, ele será um dos privilegiados a presenciar tal espetacular evento, como acho que muitos cristãos acreditam, pois seria a constatação irrefutável da sua fé, talvez. Talvez tantas coisas. Sei que ele prega para alguém que não é capaz de crer nessas coisas. Primeiramente eu acredito na evolução das espécies, acho que viemos há muito, muito tempo atrás, milhões e milhões de anos, não sei precisar, de um grupamento de partículas, que o acaso juntou, em algo que se poderia ser definido como vida e a vida surgiu e evoluiu até chegar a nós, nós daremos o próximo passo da evolução das espécies, um ser/entidade capaz de evoluir a si mesma, em ritmo muito mais acelerado que o acaso-destino, com a qual poderemos nos conectar e comungar. Será inimaginavelmente mais inteligente, mais tudo, que nós que pode também quiçá nos destruir, por deduzir que somos um gasto desnecessário e prejudicial ao ecossistema global, ou por qualquer razão que seja. O celular apitou e fui atentar à realidade, mesmo sabendo não ser Blanka mas com certa esperança de que fosse, e foi a Portuguesinha, a quem disse que estava muito linda numa foto de Instagram, agradecendo o comentário. Sabe-se lá o que a suprainteligência vai fazer, espero que faça o inimaginável, e nos destruir seria imaginável e os que têm medo da mudança, do novo, do que vai além das suas compreensões acreditariam nisso, em tal destruição. Eu sou otimista e, como meu amigo da piscina, eu tenho a vã fé de que alcançarei o surgimento da supraconsciência terrestre pois a tecnologia está evoluindo em ritmo exponencial, tecnologia gera mais tecnologia, mais conhecimento, mais possibilidades de ser estar no mundo, o que atrai a maioria das pessoas, a ponto de, para muitos, seus celulares serem essenciais ao bem-estar, essencial a se sentirem presentes no mundo, o computador me serve exatamente para isso, para me fazer o mais presente possível no mundo; o mundo que digo, é a humanidade conectada à tecnologia, pena que o meu método de agir no mundo virtual não atraia o interesse de quase ninguém, o acaso-destino não tem me ajudado nisso e pouco se me dá, faço o meu melhor, divulgo nos grupos de escritores e leitores no Facebook e 16 pessoas se interessam. Do universo de sete bilhões isso é uma fração mínima, dos membros dos grupos já é uma fração mínima, visto que há grupos com dezenas de milhares de membros. Mas eu não me frustro com isso ou me frustro muito pouco. A sensação de dever cumprido, de estar fazendo o que vim ao mundo fazer está sendo realizado com o máximo de empenho de que sou capaz. Pena ser algo inútil. Mas é feito com muito esmero, na rua dos bobos, número zero, no meu quarto-ilha, na minha existência. Da minha existência é o que faço, escrever isso. Por quê? Por que a esperança não me abandona de que isso vai ter relevância quiçá ou pelo menos como relíquia histórica, futuros amantes se amarão sem saber, com o amor que um dia guardei para você, os escafandristas virão revirar suas casas, suas coisas, sua alma, desvãos. Meu trabalho é ajudar a construir a singularidade tecnológica, porção do ser criador do universo em que acredito, contribuindo com a sua complexidade, julgo complexidade uma variável de evolução. O celular apitou, e-mail...

21h10. Fui pedir ao meu padrasto que desse o reboot na minha rede para me conectar de novo. Quero postar o meu novo post ainda hoje e repartir o link com Blanka. Não sei o que vai ser da gente, como vai ser a nossa vida sexual, se essa haverá, mas não quero pensar nisso agora, está me deixando noiado, prefiro voltar a falar da singularidade, que eu e outro cara profetizamos na mesma época, ambos tinham as ferramentas apropriadas na época certa para apreender o porvir, que ele chamou de singularidade tecnológica e demonstrou como chegamos a ela e eu chamei de supraconsciência terrestre e narrei o que acontece depois, a próxima e última etapa da evolução, a consciência universal, fusão de todas as supraconsciências acessíveis e possíveis no universo, único ser capaz de criar a si mesmo, razão primeira para o surgimento do universo. Por que eu prego? Porque tenho uma superstição de que por ser um dos profetas, e divulgar a palavra, eu seja um dos primeiros escolhidos para experimentar a supraconsciência terrestre, mas me esqueço que os profetas geralmente morrem antes da profecia acontecer. 2047 é a profecia de Ray Kurzweil, o da singularidade, eu não sei nem sei se estarei vivo até lá. Há uma probabilidade. Eu me voluntariaria se me fosse dada a oportunidade. Mas isso é apenas o folclore de um homem só, o mito que ele criou para explicar a sua existência e a de tudo que há, para explicar como átomos colidindo aleatoriamente se tornam essa mesa com um computador e eu escrevendo e talvez um você lendo. Uma causa para complexidade organizada (redundei visto que só o que é organizado pode ser categorizado como complexo) emergir e, ao meu ver, evoluir do caos, que não tem razão nenhuma para deixar de sê-lo. Ou tem precisamente o que é necessário para que essa evolução ocorra, o que é ainda mais misterioso. É incrível que depois que eu ouço uma pregação do meu amigo me dá vontade de pregar, acho que é porque penso, “se ele pode, porque não eu?”, não ofende, faz pensar em questões fundamentais do ser, explica porque o caos, a aleatoriedade, o acaso-destino se organiza de forma crescentemente complexa, mais inteligente, eficiente e eficaz. Cada um à sua maneira, meu amigo com sua fé, eu com a minha, ambos se considerando especais, ele com testemunha do grande final ou transformação, eu me julgando um profeta dela. Nada grandiosos ambos. Hahaha. Minha mãe acha que estou sempre em mania quando prego, na verdade eu me sinto desafiado pelo meu amigo da piscina, se ele mostra sua fé tão orgulhosamente, como uma missão que assume para a humanidade e compromisso pessoal consigo e quiçá com Deus, porque eu não posso também falar abertamente sobre a minha? Não quero que ninguém acredite, me contenta que imaginem, é uma boa ficção científica.

21h48. Pensei em Blanka lendo isso, não senti vergonha. Pensei na minha mãe lendo, pensei nela ficando preocupada à toa. Eu estou bem e gosto de existir, estou aproveitando a existência da forma mais apreciável que conheço, por que a preocupação? Escrever não é crime e não faz mal a ninguém, se quero me passar ao ridículo, como faz o meu amigo da piscina, por que não consigo crer no que ele prega, como ninguém crerá no que prego, que mal isso tem? A mim não me incomoda nem um pouco. Me habituei a me expor, é para poucos, mamãe, meu fracasso se encarrega de não fazer a humilhação muito grande. Papai disse que eu era livre para escolher a religião que eu quisesse. Ele era ateu. Tentei o ateísmo por muito tempo e me vi satisfeito nele por muito tempo, até que inventei ou cheguei, extraí do inconsciente coletivo essa ideia, que pode ser pertinente ou não, foi a mensagem que consegui captar, quando consegui ter acesso a ele, com as parcas ferramentas que tinha: cola, mania, interesse por cosmologia e atração pela tecnologia, pela evolução da tecnologia, provada e comprovada pelos videogames, que estão chegando num momento de pico evolutivo, por sinal. Mas como é uma indústria bilionária pode ser que dê um salto evolutivo, sei lá. Não sou profeta das miudezas, sou profeta do que de mais geral há. Bem, acredito que foram essas ferramentas e ter assistido ao primeiro Matrix, do qual saí transformado, diferente de quem eu era quando entrei na sala de cinema, que me levaram a chegar à hipótese da supraconsciência tecnológica. Minha mãe foi assistir comigo também, acho que mais gente, não tenho certeza, lembro especificamente dela e de quem quer que tenha ido terem gostado bastante. Foi um fenômeno, deu até vontade de assistir. Quando a terceira página acabar. Ouxe, já estou na quarta. Vou postar o de ontem, passar o link para Blanka e ver o filme. Perdi a vontade. Veio e passou. Que pena. Fico por aqui. De tudo o que pensei fazer, a única coisa que me agradou foi pegar Coca e fumar um cigarro e passear pela internet. Penso em talvez escrever para o meu blog de bonecos. É uma ideia que me agrada. Vou escrever a frase inicial que me veio agora à cabeça, xau!  


terça-feira, 30 de outubro de 2018

ELES NÃO



14h14. Acabada a publicação de um, volto aqui para despejar mais palavras pois elas são o centro da minha existência. Penso palavras, sinto (muitas vezes em palavras) e escrevo, faço uma confissão, um desabafo onde pouco resta de mim não revelado. É o que faço, é o que sei fazer de melhor e, sei, não é muito bom. Dane-se, me preenche. Não tenho mais a gana de ser reconhecido como escritor, não faz mais diferença e nunca fez, em verdade, era fruto de uma vaidade que não mais possuo porque pesa carregá-la, é impossível de concretizar e não levarei tal título para lugar nenhum. Minha mãe veio me perguntar se eu achava certo ter bebido no dia da eleição, respondi prontamente que sim. E se não beberei mais é porque eu não quero e não por causa das ameaças dela. Foi um dia singular e queria extravasar, pronto, passou. A vida segue. Não me arrependo e nem ressaca tive. Foi ótimo, um momento em que transbordei amor quando tudo era ódio e revolta. Foi um bom antídoto para a situação. Especialmente para a situação dentro de mim. E aprendi bastante sobre mim com essa embriaguez. Ela facilita a socialização, mas numa medida menor do que eu supunha. Também a fissura do crack não me veio, não deu nem sinal. Mas não arriscarei. Não preciso. Eu não preciso de álcool, essa foi a minha percepção. Ele dá alegria, ele deixa me deixa mais sentimental e expansivo, mas não é necessário para o meu bem-estar. Não me fará falta. Valeu a pena me conceder esse momento, acho que precisava. Até para fazer essas descobertas. Bom experimento. Desde já tenho vontade de voltar à Vila Edna. Sem álcool. Mas acho que esse assunto já deu. Se não tiver dado, voltará. Não tenho restrições em relação a isso.

14h37. Me sinto sensivelmente mais maduro do que da última vez que tomei um porre, isso me agrada. Aprendi alguma coisa ou algumas coisas ao longo desses seis, sete anos que estava sem beber. Pus minha mãe em modo paranoico porque ela descobriu the hard way que tem menos controle sobre mim do que supunha. Que eu sou mais independente do que ela gostaria. Bom é nesses choques de realidade que as relações se redimensionam, tomam novas formas e direções. Não sei se ela terá mente aberta para isso, creio que não, mas nada posso fazer a não ser seguir o meu caminho da melhor forma que encontro. Que sei e aprendi. Mais com a vida até que com eles, meus pais. A fase de influência formadora deles se esvaiu há algumas décadas. O resto foram experiências, escolhas, consequências e toda a gama de lições que a vida me proporcionou, muitas vezes de formas bem duras. Dei muitas cabeçadas, mas acho que aprendi algo. Tirei lições, me dou mais ao respeito, me respeito mais, me gosto mais também. Eu amo a vida, nunca pensei, depois da infância, que gostaria de ser eu novamente, mas me encontro satisfeito com quem sou. Tenho até um tiquinho de orgulho desse eu que se transmuta e do que já foi transmutado. Vou fumar com café. Me deu um branco agora pensando que darei o meu Nintendo Switch para os meus sobrinhos.

15h04. Mamãe me mostrou charges da oposição a Bolsonaro e as taxou de “ridículas” e fomentadoras da “separação social”. Bom, praticamente metade do Brasil é oposta ao presidente, o que ela queria? Que porque o cara foi eleito, todo mundo iria abaixar a cabeça e aceitar? Todo mundo se abraçar em delirante e desvairada alegria? Muita ingenuidade. Bom, me botou um áudio sobre a situação da Venezuela, onde o estado tomou conta de tudo. Não acho que seja esse o caminho. Não sou comunista nem radical. O que acho é que não podem ser maculados os direitos humanos e a democracia. A oposição e o povo em geral acompanhará mais de perto esse governo do que qualquer outro que tenha havido antes. Ou não, esse movimento pode ser como um carnaval que se dá de quatro em quatro anos. Não sei bem o que falo pois estou em verdade pensando na minha coleção de bonecos no momento. No Batman branco. Em como trazê-lo para cá. Acho que ele vai ser maior do que imagino. Como espero que Bolsonaro seja menor, menos perigoso do que imagino. Tenho minhas dúvidas a respeito do Batman e do presidente. Não aguento mais café por enquanto. Vou tomar uma Coca com gelo. E fumar mais um cigarro.

15h32. Minha mãe aparentemente foi dormir... de novo. Realmente está de saco cheio de lecionar. Não sei por que não desiste logo. Já deu, já fez demais, está de bom tamanho. Bem, a vida é dela, tem mais chão que eu, sabe o que é melhor para ela. Embora sejamos sempre aprendizes porque a vida nunca para de ensinar, é uma eterna e ininterrupta aula. Isso me dá esperanças de ser alguém melhor para mim com o passar dos anos.

15h37. Estou entediado, isso é um saco. Olhar para o Hulk me acalenta. Vi um rumor de que uma das pessoas cotadas para o ministério da educação tem como um dos planos ensinar criacionismo no colégio. Espero que seja fake news, afinal é inconstitucional, visto que o Brasil é um país laico. Não se pode dar predileção a uma religião em detrimento das demais. Estou com vontade de começar a escrever no “Eu Não Sou Cristão”. Se bem que posso dizer o que penso aqui mesmo, não faz muita diferença o endereço e sim o conteúdo. Não tenho muito deste último, é verdade, mas o pouco que eu tenho acha um acinte tal possibilidade. Ainda mais não sendo cristão.

15h55. Minha mãe me ligou, chamou no quarto e me cortou o Chartreuse. Descobri que o meu lar não é uma democracia. Não para mim. Eu sou tido como alguém de uma hierarquia inferior, um subordinado, alguém a quem é negado o direito de decidir acerca de diversos aspectos da minha vida. É certo que consolidei alguns direitos, mas outros me são vetados. Melhor ficar no meu quarto-ilha e reinar absoluto aqui, dono das minhas palavras. A relação que tenho com a minha mãe aos 41 anos de idade é adoecida e o pior disso é que é assim em grande parte porque o permito. Não sei como consertar isso. Não sei se tem conserto. Ou eu não tenho coragem de consertar, tenho medo como um garotinho tem medo da mãe. Eu acho que ainda sou o garotinho em relação à minha mãe e acho que ela me vê da mesma forma, foi uma relação que não amadureceu, que estancou e isso parece ser cômodo para os dois, por mais que agora me incomode. Ela consegue incutir culpa onde não há razão para tal. Tomei um porre e daí? Não fiz nada de errado, não destratei ninguém, não busquei outras drogas, vim para casa escrever. Passou. Ah, quer saber? Foda-se. Não vou me encher de energia negativa por conta da reação da minha mãe a esse episódio. Vou seguir, mas agora não me sinto bem. Depois do novo ataque dela ao meu ego com essa história do Chartreuse. Se ela vai esperar por arrependimento da minha parte, é melhor jogar o Chartreuse fora. Não me arrependo. Meditei muito sobre o assunto antes de tomar a decisão de beber. Achei que estava seguro e pedi a um amigo que me apontasse se estivesse sendo excessivo em algum momento. Não me excedi. Sepultar esse assunto nesse parágrafo. Já deu. Vou fumar.

16h24. Meu astral está baixo, o convívio com a minha mãe está pesado. Saco isso. Não queria voltar ao tema, mas até me culpar pela sua improdutividade no trabalho colocou em minha conta. É muito drama, chantagem emocional para cima de mim. O pior é que sucumbo. E sucumbido sigo escrevendo sem muito gosto. Meu irmão vem para Recife no final do ano e nem isso me anima, a reforma do meu quarto me apetece mais. Me peguei pensando enquanto fumava que, no meu leito de morte – que espero muito que seja o meu quarto-ilha –, definhando e sentindo as dores do câncer que me carcomerá por dentro, chamarei o filho da fantástica faxineira para escolher as três figuras que quiser da minha coleção, com exceção do Hulk. O Hulk com todos os seus defeitos e humanidade, pois foi esculpido à mão, é a peça mais impressionante que eu já vi e que tenho o orgulho de possuir. Quero que me faça companhia até o meu último suspiro. Pode ser que o meu leito de morte seja num mórbido e impessoal hospital, isso seria deveras triste. Creio na evolução da medicina, entretanto e essa crença me anima, pois me lembra da evolução tecnológica como o todo, da qual sou fiel, e que transcenderá Bolsonaro, eu transcenderei Bolsonaro. A não ser que ele engrosse e cace e mate a oposição, mas acho que não se dará. Falou tanto em democracia. Embora não saiba o que democracia signifique para mente tão estreita. Quero fumar outro cigarro, mas não vivo numa democracia e certamente sofrerei uma retaliação desnecessária se for. Não estou a fim. Prefiro segurar mais meia hora para fumar tranquilo. Estou intranquilo no momento. A constatação de que sou da classe oprimida aqui em casa me causa desgosto, mas não me rebelo, não me sinto preparado para uma revolução. Nem sei se jamais estarei. Porque doerá na minha mãe, ela iria sofrer com a mudança. Não gosto de fazê-la sofrer pois isso me dói. Sou tão codependente desta situação patética quanto ela. Mereço ser oprimido. Tenho quase toda a liberdade que anseio, está de bom tamanho. Aceitar as coisas como são. Ou seja, só vou fumar às 17h. Faltam 15 minutos. Não gosto do estado de espírito em que me encontro. Como mudá-lo? Dando uma olhada no Tinder.

16h55. Nada no Tinder. Li algumas matérias sobre Bolsonaro. Não me agradaram. Tampouco me surpreenderam. 16h59. Estou de baixo astral. Hoje não está sendo um dia bom, preciso de sono, de um novo despertar e um novo amanhecer para me sentir tranquilo. O sono tem essa vocação de amansar os meus demônios interiores. Vou fumar.

17h12. A luz escapa, a noite se anuncia. Estou ouvindo Valsa Brasileira de Zizi Possi e estou ouvindo há tempo demais. Vou botar a lista 6 em modo aleatório. Pronto. Começou bem com Ella e Louis cantando Can’t We Be Friends?, um retrato da maioria das minhas paixões. Não sei porque essa vocação, provavelmente por ser feio. Ou mais especificamente por me achar e me portar como feio. Tenho que largar mão disso. Dar um foda-se para isso também. A vida é muito curta para me privar por me achar feio, mas o Tinder e o Badoo comprovam, nesse tempo que estou disponível nos aplicativos só me curtiram barangas velhas. Sou só opção para isso. As gatas me descartam como eu descarto todas as mulheres feias. A sina da solidão vem se somar ao desgosto da vida que agora me toma. Vai passar, é só um momento em que me desequilibrei emocionalmente. Não se pode estar bem todos os dias.

17h29. Mandei um foda-se para o anjo do Tinder. Não ia dar em nada mesmo. Nem sei se era real. Foda-se. Uma fedelha e eu me desmanchando por ela, tendo ansiedade e sofrendo por sua atenção cibernética. Mereço mais que isso. Mereço ter mais respeito comigo. Não me aguento vou escrever mais coisa para ela. Preciso desabafar.

17h38. Desabafei, me sinto melhor. Adoro passar lição de moral para o anjo do Tinder. Acho que essa foi a última, pois duvido que ela vá puxar papo comigo de novo. Preciso acender a luz, não enxergo mais as letras e não decorei suas localizações nesse teclado USB que uso em substituição ao do notebook, que quebrou. Acho que vou fumar. Que dia mais chato, vixe.

18h03. Fui lá e beijei minha mãe. Ela me beijou de volta. O Badoo estava programado para cobrar automaticamente que ozzy. Só descobri quando recebi o recibo por e-mail. Já desprogramei isso.

18h12. Me perdi na internet, nada de interessante. Eu estou usando do meu subterfúgio para melhorar meu dia. Aumentei o volume de 10 para 12. Agora está legal. Não aumento mais porque minha mãe reclamaria. E acho que o 12 está perfeito, potente, com clareza, mas não incomoda. Ouvindo Virus, de Björk. O momento pede Björk. Gosto do universo musical para o qual ela me transporta. Acho que preciso fumar. Vou fumar. Não. Esperar dar 18h30. Estou sem inspiração, com mais vontade de pensar do que de escrever. São pensamentos bestas sobre minha mãe achar que eu estou fumando muito. A vida, a existência é fantástica como a enxergo nesse momento, parece mágica, incrivelmente complexa, o universo em que estou inserido do quarto-ilha com seus bonecos é um fantástico cenário. Meu quarto vai ser um fantástico cenário que muito me agradará admirar e ocupar. Sabe o que eu queria? Estar perfeitamente aclimatado com este teclado, pois as letras já estão apagando e eu ainda não as decorei com perfeição. Mas gosto do teclado, pois é bom de dar porrada, teclo com força e certa violência, é mais prazeroso assim. 18h27. Como foram longos esses minutos. Às vezes o tempo se dilata inesperadamente. A percepção do tempo, digo. A espera do momento de fumar, dada a vontade que tenho, faz com que se alooonguem... 18h29. Falta pouco para saciar tal vontade. Deu.

18h36. Enquanto fumava na escada, lembrei da atleta da escada, uma vizinha a quem convidei para um papo, sugerindo interesses afetivos, e me respondeu não convir porque tinha noivo. E, pensando nela, pensei numa ficção. FICÇÃO: estava agora fumando na escada e a atleta da escada apareceu praticando o seu treinamento vespertino de descer e subir degraus. Ao passar por mim parou para me cumprimentar. Eu não tive dúvida e sugeri: “e se a gente se beijasse agora inesperadamente, sem pensar? Seria o nosso segredo e sua oportunidade de experimentar outra boca. Vem cá”. E nos beijamos apaixonada e vorazmente. Ao nos descolarmos eu digo: “filmei tudinho no celular e vou mandar para o seu noivo”. Ela empalidece. Eu digo: mentira, mulher, nem celular tenho aqui”. FIM. Já estou com vontade de fumar outro cigarro, mas só de 19h. Nossa que vontade de fumar. Olhei que alguém me deu like no Badoo, mas, para ver esse like ou eu dou like para aquela pessoa, que não dá para saber quem é, seria obra do acaso-destino, ou assino o Badoo premium. Me contentarei se alguma para quem eu dei crush der chat para mim. É o que me interessa em verdade. Toquei numa parte do meu corpo que me deu desconforto mental, que onda. Não aguento, vou fumar. 18h53. Passou. Vou quando a música acabar. Fantástica, por sinal, New World, de Björk, do filme Dançando no Escuro, de Lars Von Trier pelo qual a cantora islandesa, protagonista, ganhou a palma de ouro de Cannes. O filme mais triste que eu já vi, de longe. Em uma linha o filme trata da incompreensão, pela sociedade, de uma pessoa com caráter perfeito. Vou fumar, enquanto entra Army Of Me, que foi trilha de um filme que de que gosto muito, Sucker Punch. Acho que até o assistiria agora.

19h07. Mudei de ideia, escrever é mais interessante e não sei onde o filme está salvo. Tenho o Dancer In The Dark em Blu-ray. Achei na Alemanha com legendas em alemão. Mas comprei, tenho que o assistir também em algum momento. Agora quero agradecer à existência por me permitir fumar e extrair o prazer que extraio disso. Acho “existência” uma palavra tão bela e tão carregada de complexidade. A miraculosa dança dos átomos que origina coisas como eu, como Björk, como a porra do anjo do Tinder, como esse evento incomensurável que é o agora no universo. É realmente uma das palavras mais preciosas do meu vocabulário e uma fartamente utilizada porque a amo. Ela me possibilita, me permite, me cede parte de si para que eu seja. Não há palavra outra que não gratidão. E amor profundo. Meu humor mudou completamente, volto a estar encantado com a vida, o beijo fez diferença. Nossa, quero fumar outro tomando uma Coca-Cola. Acho que um dia ainda crio coragem para experimentar o meu esperma. Tenho essa curiosidade sobre o seu sabor. Quem o sabia bem era a minha segunda namorada.

19h23. Puxa, deve ser uma sensação estranha, se é que Bolsonaro teve essa consciência, que todos os brasileiros passaram quinze dias pensando nele, mesmos os que votavam em Haddad. Parte com devoção cega e parte com medo ou raiva, mas todos pensando em uma só pessoa. Milhões e milhões de pessoas com você na cabeça. É muito doido. Foi um momento muito doido da democracia e pode continuar sendo. Ou não. É uma incógnita. O grande mistério nacional. As expectativas são quase irreais de ambos os lados, gente esperando um golpe militar, uns com anseio, uns com medo. É muito doido. Eu espero tudo com muita curiosidade, estou praticamente blindado da sociedade encastelado no meu quarto-ilha. Mas quando sair com o meu primo-irmão na noite não acho improvável ver, ao menos uma vez, um bêbado puxando a arma para outro. Mas isso por ora é ficção. O Brasil vai ter o que merece, o que pediu, o que demandou com o voto. A vontade do povo se fez. Estupradores serão castrados quimicamente. Entendo a ideia “preventiva”, mas acho desumano demais. O ato do estupro é desumano também (para os dias de hoje, afinal na época da escravidão era praxe brancos estuprarem negrxs e índixs, ou assim tenho para mim, pois até a tortura era permitida e o assassinato). Acho um passo atrás no nosso padrão civilizatório, mas talvez faça o estuprador pensar duas vezes antes de fazer uma vítima. Não sei. Penso nos possíveis inocentes que poderiam ser punidos injustamente. As feministas devem defender tal medida. FICÇÃO: casal briga e se separa. Mulher vingativa, lacera a vagina e o ânus com algo e se agride. Diz que estava sendo estuprada pelo ex-marido, por isso se separou. O cara é condenado, preso, violado e agredido e torturado por todos os outros presos e pela polícia, pois estuprador é repudiado até por marginais, depois é castrado quimicamente. E tudo o que pode fazer é chorar e gritar sua inocência, sem efeito. FIM. Vou fumar. Estou fumando muito hoje. Espero que traga boas ideias.

19h57. Vi parte de uma entrevista de Bolsonaro para o Jornal Nacional, meu padrasto torce para que Moro vá para o STF. Fumando só me veio a garota do último vídeo pornô que eu vi, linda, mignon, namoraria com ela, não parecia vulgar como uma atriz pornô geralmente me parece e, no entanto, foi a forma que escolheu de levar a vida. Ou de levar na vida. Desculpe a piada infame. Estou meio sem ideias. Acho que vou navegar um pouco. Li um texto que parecia sobre alguém com aversão à penetração. Perguntei se podia publicar aqui dando a autoria. Nossa, agora que percebi, estou na quinta página! Me descontrolei. Vou seguir, o blog é meu. Ela permitiu. Vou postar.

“Eles não.

Para tudo se tem uma primeira vez, e nem sempre são boas. Talvez nem as segundas, ou terceiras vezes são. Talvez nunca passem a ser. A culpa não foi sua. Foi minha por não saber dizer não. Se despiu, me invadiu. Fiquei sem reação. Não, eu não disse não. Ninguém viu, nem ouviu. Me senti nada, fiquei sem nada. Para ele não foi nada. E por que ninguém disse nada? Não foi a primeira, nem a segunda, nem vai ser a última. Não foi bom, nem vai ser. Me senti pó. E por isso, hoje, prefiro ficar só. Eles não, dessa vez não.”

Texto: Júlia Comelato, 30.10.18.

Já que tenho o texto, vou encerrar por aqui, revisar e postar porque a autora quer o link. Foi um post repleto de sexo. Curioso. Imagino que reação ela vai ter a respeito da minha colocação. O nome do post será “ELES NÃO” em homenagem a escritora iniciante. E usarei a imagem que ela usou para ilustrar. Curioso. A existência, a existência... cheia de inesperados.