19h03. Estou fisicamente combalido, o corpo reclama não sei
bem do quê. Mandei o roteiro de “O Escudo Negro” para o meu amigo cineasta. Ele
aparentemente achou o experimento fácil e quiçá divertido. A única coisa que
sou capaz de fazer agora sem demonstrar para outras pessoas que não estou
passando muito bem é escrever. Não vou na casa da minha tia-vizinha agora, pois
isso não me sinto em condições, terei que ir comprar Coca e Dalmadorm, não
consigo, prefiro passar sem Coca do que levantar dessa cadeira. Levantaria só
para me deitar e não quero fazer isso agora. Mamãe se animou com o projeto com
o meu amigo cineasta. Acha que vai ser algo que infelizmente não vai ser. A
primeira versão do roteiro está no meu post mais recente, comuniquei isso a ela,
para que, caso leia, saiba bem o que esperar. Coloquei Maria para falar com a
minha avó. Acho que vou fumar outro cigarro com o resto da Coca e me deitar,
meu corpo pede repouso, está exaurido e sem forças. Espero que Blanka não venha
se comunicar comigo hoje. Hoje não estou para nada, ainda deito as palavras,
mas com certa dificuldade as assento na página, não dormi durante a noite nem
como nada desde o almoço de ontem. Só café, cigarro e Coca. Não é o mais
saudável a se fazer, até parei com o café, não estava me descendo, a única
coisa que entra é Coca com muito gelo. Comida não. Tenho medo de vomitar se
comer. Não gosto de vomitar sólidos. A passagem pela garganta é particularmente
desagradável.
19h22. Fui ver se o meu amigo cineasta havia mandado algum update, sou muito ansioso. Vou fumar e
me deitar. Ou escrever mesmo. Está suportável escrever. A posição na cadeira
também me agrada, com as pernas cruzadas como índio. Saudades do meu sobrinho.
Deu e passou, ainda bem. Fui tomado por pensamentos outros, sexuais, porque o
Badoo apitou mulheres para mim ainda agora. Estou me sentindo cansado. Acho que
vou fumar e deitar.
22h39. Me deitei e dormi até agora há pouco, quando fui
despertado por mamãe para comprar o Dalmadorm e Cocas, o que obviamente já fiz,
visto que estou aqui de volta escrevendo, inclusive já tendo ingerido a minha
dose noturna de remédios que inclui o supracitado e me permitirá dormir hoje à
noite. O sono me fez bem, o novo projeto, se assim posso chamar, com o meu amigo
cineasta me excita, parece uma produção mais concreta que esse texto. Embora me
aparente ser mais uma inutilidade de uma mente que só produz inutilidades. A
utilidade seria fazer com que o meu amigo cineasta saísse da inércia com uma
produção de feitura simples, mas que pode servir como um primeiro passo de uma
retomada, sei lá.
23h02. Recebi um trote. Há quanto tempo isso não ocorria.
Uma novidade para fechar o dia. Fiquei de visitar Maria hoje à noite, mas,
depois de voltar da drogaria ninguém atendeu a porta na casa da minha
tia-vizinha. Preciso me desculpar com ela, mas me faltou a força para o esforço
e esse se fez impossível. Realmente precisava dormir. Vou tentar resumir esse
post a duas páginas. Não há nada de interessante para pensar ou fazer. É esse
estado de coisas que chamo de tédio.
23h49. Não sei o que vou escrever, isso me parece um desafio
instigante nesse momento. Mudança de paradigma. Wild Mood Swings, que toca agora no quarto-ilha. The Cure. Bloodflowers parece ser o predileto de
muitos, ou que mais ouvem do Cure em suas listas virtuais. Disintegration está um passo além de tudo o que o Cure já fez, é
sublime. “Am I seducing or being seduced?”.
O sono e a fome, efeitos do Dalmadorm, pelo visto, se manifestam, acho que me
entregarei aos prazeres do paladar e da saciedade estomacal agora. Antes um
cigarro com Coca.
0h28. Nossa, o meu pijama é muito confortável, tão bom estar
vestido com ele, finalmente troquei a roupa com a qual eu fui à pizzaria,
parece que ele acarinha e acolhe o meu corpo. Vou ligar o ar. Um alô para
Beatriz da pizzaria, que pediu que eu fizesse isso, como se isto fosse lhe emprestar
uma celebridade que meu blog não alcança. Bem, pelo menos ficará eternizada
enquanto o Blogger for provido gratuitamente à humanidade pela Google. Acho a
instituição mais capaz de dominar o mundo. A Amazon é muito poderosa,
provavelmente mais lucrativa, mas a Google tem a vocação e talvez o desejo, não
de dominar o mundo do dinheiro, embora sinta essa fome, mas de governar a
humanidade, de servir à Humanidade sem pedir nada em troca. De tornar a vida
das pessoas melhores gratuitamente. “Don’t
do evil”.
-x-x-x-x-
Hoje sinto que meu corpo está fraco, como se cansado de se
levar, sinto uma moleza que poderia chamar também de mal-estar. Não me sinto
bem, justamente porque sinto como se a vida escapasse do meu corpo como um
balão com um pequeno furo que vai murchando. Ou um balão com um nó maldado.
Espero que não seja a morte ainda, sonho em ver o meu quarto pronto e não sonho
muito além disso. Com Blanka estou quase desistindo de sonhar. O desprezo ou a
inacessibilidade, não sei como nomear, só sei que fere. Sabia que iria doer,
mas não é a dor dilacerante de perder um grande amor, é um arranhão, uma roncha
na alma.
18h58. Estou reunindo o que há de mim para retornar à
companhia do meu primo historiador e minha babá na casa da minha tia-vizinha.
Me apeteceria deveras se o meu primo elaborasse uma entrevista para que eu
respondesse aqui. Minha mãe me mostrou técnicas que Dan Brown usa para
escrever... ficção. A que mais me chamou a atenção foi: crie o seu vilão
primeiro, pois ele vai definir quem seu herói é. Meu vilão é também o meu
grande amigo: o tempo. Às vezes estamos em consonância, mas quando discordamos
é sempre um sofrimento para mim, quando se dilata para além da minha vontade ou
quando se contrai à minha revelia, quando estica e encolhe enquanto eu
permaneço o mesmo, isso me faz sofrer. Acho que uma prima quer que eu faça
publicidade para ela. Com remuneração. Não há dinheiro no mundo ou laço de
sangue que me obrigue a isso. Estou pensando em como dizer-lhe não. Acho que
vou mandar um link desse post. Ela entenderá que tenho profundo repúdio por
fazer tais tipos de serviços, eu nasci para ser servo de mim mesmo e meu
contrato mudo e eterno é somente com estas palavras. Esse é o meu labor, meu
ofício, minha ocupação, a lança e a cruz com que enfrento o vilão da minha vida,
o supramencionado tempo, que agora descubro ter uma ajudante que ao mesmo tempo
que me liberta me aprisiona: a solidão. Vou levar o computador para a casa da
minha tia-vizinha e tentar persuadir meu primo historiador a elaborar algumas
perguntas.
Perguntas banais de um primo que realmente não é um
historiador:
1) Qual a primeira memória de você como pessoa?
R.: Campinas. A filha de uma empregada deita e abre as
pernas e pede para eu deitar em cima dela, Maria nos pega antes que eu o faça e
impede aos gritos algo que me pareceu novo e excitante de uma forma que eu
nunca tinha sentido. (Dou mais detalhes do episódio no segundo livro que escrevi e que nunca verá a luz do dia, "Eu Sou Assim e Ninguém Tem Nada Com Isso".)
2) Você é uma pessoa que sonha quando dorme? Se sim teve
algum sonho marcante?
R.: Dizem que todas as pessoas sonham, algumas têm a
capacidade de lembrar de seus sonhos. Não sou uma delas, talvez por causa dos
remédios. O que há em comum entre os poucos sonhos recentes que me recordo foi
que em todos havia a reunião de amigos da minha juventude, das Ubaias e eu
também era jovem, eram sonhos felizes, não pesadelos, em alguns havia uma
garota desejada. Não sei precisar mais detalhes que esses, foram os que me
ficaram.
3) Quando você era criança você tinha alguma ambição?
Gostaria de ser um astronauta ou jogador de futebol?
R.: Recebi quando criança, na época em que morava na Cidade
Universitária, um livro sobre algumas profissões com coelhinhos as exercendo
nas ilustrações, a que me despertou mais vontade foi a profissão de astrônomo e
o interesse pelo cosmos é presente até hoje, embora não tenha interesse em me aprofundar
nisso, acho nébulas eventos cósmicos magnificamente belos, mas prefiro escrever
sobre mim e minha percepção da existência a estudar astrofísica pelo Wikipedia
ou quaisquer outros meios.
4) Na Escola, você era bom em alguma matéria escolar?
R.: Tinha especial facilidade com Biologia até citologia,
quando entrou genética eu me compliquei. O maior elogio que recebi foi por
conta de uma redação que fiz quando estudava no Global, em São Paulo. Aquilo me
marcou, tanto que me lembro até hoje. A professora ficou sinceramente
entusiasmada com o que escrevi para além da minha compreensão, mas meu ego
agradeceu.
5) Já se machucou? Quebrou algum osso ou passou por alguma
operação?
R.: De operação, nada muito sério, a retirada dos cornetos
(acho que esse é o nome) e alguma outra coisa de dentro do nariz para respirar
melhor. Já quebrei a mão umas duas ou três vezes dando murros na parede com
raiva da existência e de mim. Não me recordo do meu histórico hospitalar para
ser sincero, sei que quebrei a clavícula algumas vezes quando criança.
6) Bruce Lee ou Jackie Chan. Qual o seu favorito?
R.: Acho Jackie Chan um artista mais completo, mas fico com
a lenda, o mito que é Bruce Lee. Lembra-me meu pai (um fã) e os poucos filmes
do artista que vi com ele.
7) Prefere Hotel Fazenda ou Hotel Praia
R.: Prefiro a casa da família em Areias. Sempre.
8) Qual a refeição mais importante do dia para você? Pessoalmente
não gosto do café da manhã.
R.: Eu só como uma vez por dia quando bate a fome dos
remédios nas altas da noite. Como como um cavalo.
9) Se você pudesse aprender alguma língua instantaneamente,
qual você aprenderia?
R.: Japonês, embora saiba que seja melhor escolha o
mandarim. Ou C++.
10) Mario ou Luigi?
R.: Sempre Mario. Odeio o Luigi, ele escorrega.
11) Você tem algum professor marcante na sua vida?
R.: Vários, mas não me lembro os nomes deles e delas, todos foram importantes de alguma forma. Há alguns que são marcantes por outras razões: meu pai, minha mãe, o Imperador da Casqueira e meu avô materno.
R.: Vários, mas não me lembro os nomes deles e delas, todos foram importantes de alguma forma. Há alguns que são marcantes por outras razões: meu pai, minha mãe, o Imperador da Casqueira e meu avô materno.
12) Você se lembra do seu primeiro “Melhor amigo”? Ainda
mantém contanto com ele?
R.: Lembro, foi na Cidade Universitária. Não, não mantenho
com ele. Depois foi o meu primo urbano.
13) Como era a relação com seus irmãos durante a infância?
Muitas brigas?
R.: Eu era distante deles, por alguma razão que me escapa.
Hoje, mesmo com as distâncias geográficas, me sinto mais próximo deles do que
jamais fui na infância. Sempre me interessou a companhia de pessoas mais
velhas. Ou da minha idade. A diferença de quase três e quatro anos que tinha
deles me parecia enorme na infância. Costumava arengar muito com a minha irmã,
meu irmão sempre foi tranquilo.
14) The
King of Fighters ou Street Fighter?
R.: Street Fighter 2. Consegui zerar com Honda no fliperama.
Acho que foi o único jogo de fliperama que zerei. E só desta vez. Não sei nem
para onde vai King Of Fighters, nunca joguei.
15) Qual seu filme que você considera perfeito, ou pelo
menos o mais perto disso. Não necessariamente o seu favorito, mais o que você
não mudaria nada.
R.: Cidadão Kane,
2001: Uma Odisseia no Espaço, Quero ser John Malkovich.
16) Se você ganhasse na Mega-Sena você tem algum projeto
louco de milionário que planejava gastar?
R.: Algo com mendigos, talvez comprar a companhia de alguém.
Comprar o apartamento das Ubaias. Não preciso desse dinheiro, em verdade, estou
muito bem como estou. Acho muito dinheiro muita dor de cabeça.
17) Quantas namoradas na vida?
R.: Quatro apenas e incontáveis amores platônicos. Vivi o
mais intensamente que fui capaz a relação com cada uma delas.
18) Gosta de filme dublado ou legendado?
R.: Com legendas em inglês, sempre que possível.
19) Qual seu diretor favorito?
R.: Stanley Kubrick, eu acho.
20) Coca-Cola ou Pepsi?
R.: Coca Zero. Ou Cherry Coke.
19h38. Meu primo historiador elaborou o questionário,
responderei quando retornar ao quarto-ilha. Prometi divulgar o link no WhatsApp
da família para que ele lesse e quem mais interessar.
21h06. Estou tão fora de forma que carregar o notebook no
braço por alguns minutos o deixou completamente trêmulo. Ouvi meu tio-vizinho
discorrer sobre Cuba e o nivelamento de todos pela quase miséria, em todos os âmbitos,
inclusive cultural. Voltando à minha prima que provavelmente me demanda
serviços publicitários, preciso acrescentar que o programa que eu uso está
desatualizado, a Publicidade de hoje é devota da Adobe, eu uso Corel, e está
migrando para a internet e nada entendo disso. Nem quero entender, nem quero
servir a mais nenhum cliente, ainda mais da família, o que gera uma relação
trabalhista ainda mais complexa e desgastante para mim. A Publicidade quase me
levou à morte, somada às minhas tendências depressivas, pois disparava estas
últimas. Em uma palavra o que eu sou hoje é um não-publicitário, não faço mais
publicidade e não me interessa fazê-lo, nem me sinto capacitado para exercer o
ofício, então peço desculpas e julgo mais sensato procurar auxílio de alguém
que atue nessa área e esteja atualizado com as tendências e demandas da
publicidade tal como se dá hoje, muito diferente da época em que a exerci. O
que faço hoje em nada se assemelha em forma, método e conteúdo ao que procura.
Tanto é que tenho minhas dúvidas que tenha chegado até esta altura do texto,
pois é chato e pessoal, faço para mim e para a eternidade cibernética. É meu
único comprometimento produtivo e quero que permaneça assim. Vou responder as
questões do meu primo historiador para finalizar esse texto de hoje, que
novamente ultrapassará o limite estipulado de três páginas.
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