terça-feira, 15 de janeiro de 2019

COMBALIDO E ENTREVISTADO PELO MEU PRIMO HISTORIADOR




19h03. Estou fisicamente combalido, o corpo reclama não sei bem do quê. Mandei o roteiro de “O Escudo Negro” para o meu amigo cineasta. Ele aparentemente achou o experimento fácil e quiçá divertido. A única coisa que sou capaz de fazer agora sem demonstrar para outras pessoas que não estou passando muito bem é escrever. Não vou na casa da minha tia-vizinha agora, pois isso não me sinto em condições, terei que ir comprar Coca e Dalmadorm, não consigo, prefiro passar sem Coca do que levantar dessa cadeira. Levantaria só para me deitar e não quero fazer isso agora. Mamãe se animou com o projeto com o meu amigo cineasta. Acha que vai ser algo que infelizmente não vai ser. A primeira versão do roteiro está no meu post mais recente, comuniquei isso a ela, para que, caso leia, saiba bem o que esperar. Coloquei Maria para falar com a minha avó. Acho que vou fumar outro cigarro com o resto da Coca e me deitar, meu corpo pede repouso, está exaurido e sem forças. Espero que Blanka não venha se comunicar comigo hoje. Hoje não estou para nada, ainda deito as palavras, mas com certa dificuldade as assento na página, não dormi durante a noite nem como nada desde o almoço de ontem. Só café, cigarro e Coca. Não é o mais saudável a se fazer, até parei com o café, não estava me descendo, a única coisa que entra é Coca com muito gelo. Comida não. Tenho medo de vomitar se comer. Não gosto de vomitar sólidos. A passagem pela garganta é particularmente desagradável.

19h22. Fui ver se o meu amigo cineasta havia mandado algum update, sou muito ansioso. Vou fumar e me deitar. Ou escrever mesmo. Está suportável escrever. A posição na cadeira também me agrada, com as pernas cruzadas como índio. Saudades do meu sobrinho. Deu e passou, ainda bem. Fui tomado por pensamentos outros, sexuais, porque o Badoo apitou mulheres para mim ainda agora. Estou me sentindo cansado. Acho que vou fumar e deitar.

22h39. Me deitei e dormi até agora há pouco, quando fui despertado por mamãe para comprar o Dalmadorm e Cocas, o que obviamente já fiz, visto que estou aqui de volta escrevendo, inclusive já tendo ingerido a minha dose noturna de remédios que inclui o supracitado e me permitirá dormir hoje à noite. O sono me fez bem, o novo projeto, se assim posso chamar, com o meu amigo cineasta me excita, parece uma produção mais concreta que esse texto. Embora me aparente ser mais uma inutilidade de uma mente que só produz inutilidades. A utilidade seria fazer com que o meu amigo cineasta saísse da inércia com uma produção de feitura simples, mas que pode servir como um primeiro passo de uma retomada, sei lá.

23h02. Recebi um trote. Há quanto tempo isso não ocorria. Uma novidade para fechar o dia. Fiquei de visitar Maria hoje à noite, mas, depois de voltar da drogaria ninguém atendeu a porta na casa da minha tia-vizinha. Preciso me desculpar com ela, mas me faltou a força para o esforço e esse se fez impossível. Realmente precisava dormir. Vou tentar resumir esse post a duas páginas. Não há nada de interessante para pensar ou fazer. É esse estado de coisas que chamo de tédio.

23h49. Não sei o que vou escrever, isso me parece um desafio instigante nesse momento. Mudança de paradigma. Wild Mood Swings, que toca agora no quarto-ilha. The Cure. Bloodflowers parece ser o predileto de muitos, ou que mais ouvem do Cure em suas listas virtuais. Disintegration está um passo além de tudo o que o Cure já fez, é sublime. “Am I seducing or being seduced?”. O sono e a fome, efeitos do Dalmadorm, pelo visto, se manifestam, acho que me entregarei aos prazeres do paladar e da saciedade estomacal agora. Antes um cigarro com Coca.

0h28. Nossa, o meu pijama é muito confortável, tão bom estar vestido com ele, finalmente troquei a roupa com a qual eu fui à pizzaria, parece que ele acarinha e acolhe o meu corpo. Vou ligar o ar. Um alô para Beatriz da pizzaria, que pediu que eu fizesse isso, como se isto fosse lhe emprestar uma celebridade que meu blog não alcança. Bem, pelo menos ficará eternizada enquanto o Blogger for provido gratuitamente à humanidade pela Google. Acho a instituição mais capaz de dominar o mundo. A Amazon é muito poderosa, provavelmente mais lucrativa, mas a Google tem a vocação e talvez o desejo, não de dominar o mundo do dinheiro, embora sinta essa fome, mas de governar a humanidade, de servir à Humanidade sem pedir nada em troca. De tornar a vida das pessoas melhores gratuitamente. “Don’t do evil”.

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Hoje sinto que meu corpo está fraco, como se cansado de se levar, sinto uma moleza que poderia chamar também de mal-estar. Não me sinto bem, justamente porque sinto como se a vida escapasse do meu corpo como um balão com um pequeno furo que vai murchando. Ou um balão com um nó maldado. Espero que não seja a morte ainda, sonho em ver o meu quarto pronto e não sonho muito além disso. Com Blanka estou quase desistindo de sonhar. O desprezo ou a inacessibilidade, não sei como nomear, só sei que fere. Sabia que iria doer, mas não é a dor dilacerante de perder um grande amor, é um arranhão, uma roncha na alma.

18h58. Estou reunindo o que há de mim para retornar à companhia do meu primo historiador e minha babá na casa da minha tia-vizinha. Me apeteceria deveras se o meu primo elaborasse uma entrevista para que eu respondesse aqui. Minha mãe me mostrou técnicas que Dan Brown usa para escrever... ficção. A que mais me chamou a atenção foi: crie o seu vilão primeiro, pois ele vai definir quem seu herói é. Meu vilão é também o meu grande amigo: o tempo. Às vezes estamos em consonância, mas quando discordamos é sempre um sofrimento para mim, quando se dilata para além da minha vontade ou quando se contrai à minha revelia, quando estica e encolhe enquanto eu permaneço o mesmo, isso me faz sofrer. Acho que uma prima quer que eu faça publicidade para ela. Com remuneração. Não há dinheiro no mundo ou laço de sangue que me obrigue a isso. Estou pensando em como dizer-lhe não. Acho que vou mandar um link desse post. Ela entenderá que tenho profundo repúdio por fazer tais tipos de serviços, eu nasci para ser servo de mim mesmo e meu contrato mudo e eterno é somente com estas palavras. Esse é o meu labor, meu ofício, minha ocupação, a lança e a cruz com que enfrento o vilão da minha vida, o supramencionado tempo, que agora descubro ter uma ajudante que ao mesmo tempo que me liberta me aprisiona: a solidão. Vou levar o computador para a casa da minha tia-vizinha e tentar persuadir meu primo historiador a elaborar algumas perguntas.  

Perguntas banais de um primo que realmente não é um historiador:

1) Qual a primeira memória de você como pessoa?
R.: Campinas. A filha de uma empregada deita e abre as pernas e pede para eu deitar em cima dela, Maria nos pega antes que eu o faça e impede aos gritos algo que me pareceu novo e excitante de uma forma que eu nunca tinha sentido. (Dou mais detalhes do episódio no segundo livro que escrevi e que nunca verá a luz do dia, "Eu Sou Assim e Ninguém Tem Nada Com Isso".)

2) Você é uma pessoa que sonha quando dorme? Se sim teve algum sonho marcante?
R.: Dizem que todas as pessoas sonham, algumas têm a capacidade de lembrar de seus sonhos. Não sou uma delas, talvez por causa dos remédios. O que há em comum entre os poucos sonhos recentes que me recordo foi que em todos havia a reunião de amigos da minha juventude, das Ubaias e eu também era jovem, eram sonhos felizes, não pesadelos, em alguns havia uma garota desejada. Não sei precisar mais detalhes que esses, foram os que me ficaram.

3) Quando você era criança você tinha alguma ambição? Gostaria de ser um astronauta ou jogador de futebol?
R.: Recebi quando criança, na época em que morava na Cidade Universitária, um livro sobre algumas profissões com coelhinhos as exercendo nas ilustrações, a que me despertou mais vontade foi a profissão de astrônomo e o interesse pelo cosmos é presente até hoje, embora não tenha interesse em me aprofundar nisso, acho nébulas eventos cósmicos magnificamente belos, mas prefiro escrever sobre mim e minha percepção da existência a estudar astrofísica pelo Wikipedia ou quaisquer outros meios.

4) Na Escola, você era bom em alguma matéria escolar?
R.: Tinha especial facilidade com Biologia até citologia, quando entrou genética eu me compliquei. O maior elogio que recebi foi por conta de uma redação que fiz quando estudava no Global, em São Paulo. Aquilo me marcou, tanto que me lembro até hoje. A professora ficou sinceramente entusiasmada com o que escrevi para além da minha compreensão, mas meu ego agradeceu.

5) Já se machucou? Quebrou algum osso ou passou por alguma operação?
R.: De operação, nada muito sério, a retirada dos cornetos (acho que esse é o nome) e alguma outra coisa de dentro do nariz para respirar melhor. Já quebrei a mão umas duas ou três vezes dando murros na parede com raiva da existência e de mim. Não me recordo do meu histórico hospitalar para ser sincero, sei que quebrei a clavícula algumas vezes quando criança.

6) Bruce Lee ou Jackie Chan. Qual o seu favorito?
R.: Acho Jackie Chan um artista mais completo, mas fico com a lenda, o mito que é Bruce Lee. Lembra-me meu pai (um fã) e os poucos filmes do artista que vi com ele.

7) Prefere Hotel Fazenda ou Hotel Praia
R.: Prefiro a casa da família em Areias. Sempre.

8) Qual a refeição mais importante do dia para você? Pessoalmente não gosto do café da manhã.
R.: Eu só como uma vez por dia quando bate a fome dos remédios nas altas da noite. Como como um cavalo.

9) Se você pudesse aprender alguma língua instantaneamente, qual você aprenderia?
R.: Japonês, embora saiba que seja melhor escolha o mandarim. Ou C++.

10) Mario ou Luigi?
R.: Sempre Mario. Odeio o Luigi, ele escorrega.

11) Você tem algum professor marcante na sua vida?
R.: Vários, mas não me lembro os nomes deles e delas, todos foram importantes de alguma forma. Há alguns que são marcantes por outras razões: meu pai, minha mãe, o Imperador da Casqueira e meu avô materno.

12) Você se lembra do seu primeiro “Melhor amigo”? Ainda mantém contanto com ele?
R.: Lembro, foi na Cidade Universitária. Não, não mantenho com ele. Depois foi o meu primo urbano.

13) Como era a relação com seus irmãos durante a infância? Muitas brigas?
R.: Eu era distante deles, por alguma razão que me escapa. Hoje, mesmo com as distâncias geográficas, me sinto mais próximo deles do que jamais fui na infância. Sempre me interessou a companhia de pessoas mais velhas. Ou da minha idade. A diferença de quase três e quatro anos que tinha deles me parecia enorme na infância. Costumava arengar muito com a minha irmã, meu irmão sempre foi tranquilo.

14) The King of Fighters ou Street Fighter?
R.: Street Fighter 2. Consegui zerar com Honda no fliperama. Acho que foi o único jogo de fliperama que zerei. E só desta vez. Não sei nem para onde vai King Of Fighters, nunca joguei.

15) Qual seu filme que você considera perfeito, ou pelo menos o mais perto disso. Não necessariamente o seu favorito, mais o que você não mudaria nada.
R.: Cidadão Kane, 2001: Uma Odisseia no Espaço, Quero ser John Malkovich.

16) Se você ganhasse na Mega-Sena você tem algum projeto louco de milionário que planejava gastar?
R.: Algo com mendigos, talvez comprar a companhia de alguém. Comprar o apartamento das Ubaias. Não preciso desse dinheiro, em verdade, estou muito bem como estou. Acho muito dinheiro muita dor de cabeça.

17) Quantas namoradas na vida?
R.: Quatro apenas e incontáveis amores platônicos. Vivi o mais intensamente que fui capaz a relação com cada uma delas.

18) Gosta de filme dublado ou legendado?
R.: Com legendas em inglês, sempre que possível.

19) Qual seu diretor favorito?
R.: Stanley Kubrick, eu acho.

20) Coca-Cola ou Pepsi?
R.: Coca Zero. Ou Cherry Coke.

19h38. Meu primo historiador elaborou o questionário, responderei quando retornar ao quarto-ilha. Prometi divulgar o link no WhatsApp da família para que ele lesse e quem mais interessar.

21h06. Estou tão fora de forma que carregar o notebook no braço por alguns minutos o deixou completamente trêmulo. Ouvi meu tio-vizinho discorrer sobre Cuba e o nivelamento de todos pela quase miséria, em todos os âmbitos, inclusive cultural. Voltando à minha prima que provavelmente me demanda serviços publicitários, preciso acrescentar que o programa que eu uso está desatualizado, a Publicidade de hoje é devota da Adobe, eu uso Corel, e está migrando para a internet e nada entendo disso. Nem quero entender, nem quero servir a mais nenhum cliente, ainda mais da família, o que gera uma relação trabalhista ainda mais complexa e desgastante para mim. A Publicidade quase me levou à morte, somada às minhas tendências depressivas, pois disparava estas últimas. Em uma palavra o que eu sou hoje é um não-publicitário, não faço mais publicidade e não me interessa fazê-lo, nem me sinto capacitado para exercer o ofício, então peço desculpas e julgo mais sensato procurar auxílio de alguém que atue nessa área e esteja atualizado com as tendências e demandas da publicidade tal como se dá hoje, muito diferente da época em que a exerci. O que faço hoje em nada se assemelha em forma, método e conteúdo ao que procura. Tanto é que tenho minhas dúvidas que tenha chegado até esta altura do texto, pois é chato e pessoal, faço para mim e para a eternidade cibernética. É meu único comprometimento produtivo e quero que permaneça assim. Vou responder as questões do meu primo historiador para finalizar esse texto de hoje, que novamente ultrapassará o limite estipulado de três páginas.

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