15h38. Preciso ligar para o restaurador e a bateria do meu
celular arreou. Assim que puder ligá-lo, entrarei em contato com o meu salvador.
15h54. O celular dele está desligado ou fora da área de
cobertura. Landlady, do U2.
Liberdade. Nossa, que calor. Tomando café ainda. Ainda bem que não estou preso
ao calor, tenho ar, um luxo pequeno-burguês que faz toda a diferença em
momentos como esse. Sou um abençoado, ao contrário do menino com fome na frente
da farmácia. Ele foi amaldiçoado pela ignorância e pela miséria decorrente dessa.
Acredito que o restaurador não virá mais hoje.
16h19. Ele não virá hoje, disse que amanhã vem, cola tudo e
vê se alguma vai necessitar de pintura. Preciso comunicar isso a mamãe e pedir
dinheiro para as Cocas e os adesivos das letrinhas, estou me perdendo no teclado
porque quase todas as letras estão apagadas. Eu estou muito curioso a respeito
do texto que produzi ontem em condições sui generis. Não acho que terei coragem
de repartir com o meu padrasto. Nem sei se cairia bem a minha mãe ler. Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiooouuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuurrrrrrrrrrrrrrr.mmmmmmmmmmmmmmmm
16h37. Colei as letras repetidas acima, já facilitam
bastante. Descolarão com o tempo, mas é a melhor solução que tenho à disposição
no momento. Comuniquei que o restaurador só poderá vir aqui amanhã, colará as
peças e verá se é necessária alguma pintura o que acho não ser o caso. Esse
post está chato, eu estou chato hoje, visto que o texto é um espelho de mim.
Blanka viajou, não sei quando volta. Só sei que apenas se comunicará comigo
quando isso acontecer. Vou tentar comprar Coca agora.
17h08. Acabo de voltar da pizzaria, onde sou sempre muito
bem recebido e atualmente me perguntam acerca do meu blog, o que dá um sentido
superior à minha existência e ao ofício ao qual desejei me dedicar. Se eles
soubessem a importância que isso tem para mim. Mas não quero que leiam por
obrigação, para agradar um impessoal cliente. Deixa ser como será. Acho que vou
revisar o post anterior. Não, não sinto disposição para isso. A preguiça me
domina quase à imobilidade. Não quero me deitar, dormi bem, muito bem por sinal,
sem episódios de sonambulismo. Achei que os bifes à rolê que comi ontem tinham
gosto de Norcola. Não sei o que se deu com o meu paladar. O molho estava
divino, mas não aguentei comer os bifes todos por causa do nauseante sabor da
minha droga de preferência. Comi por fome e por tê-los colocado, três, no meu
prato. O quarto e último foi para a geladeira. Sinto minha cabeça meio oca
hoje. Sem substrato para colocar nessa página. Vou pegar mais Coca gelada para
colocar no meu copo. Está tão gelada que o gelo não derrete como de praxe. É a
melhor forma de tomar Coca, gelada e cheia de gelo.
17h32. Estou com um desassossego na alma uma vez mais, estou
com dificuldade de escrever e nada mais me interessa. É como se estivesse
elétrico demais, mas uma eletricidade estática, de quem só quer ficar parado a
cismar. Se posso escrever as cismas aqui por que não fazê-lo? Pensei no casal
da Vila Edna e no que pensarão de mim se enfrentarem as mais de 200 páginas do Diário do Manicômio. Será que isso transformará
a nossa relação? Mostro o que há de pior e mais distorcido em mim no texto. O
que de mim foge aos ditames sociais, os ferindo muitas vezes. Penso no meu tio
e na inação dele em relação à publicação da obra. Talvez seja o acaso-destino
decidindo por mim o meu futuro. Estou agoniado, mas não sei com o quê. É um
sentimento chato e sem sentido. Acho que vou trocar U2 por Caetano.
17h41. Livro
rolando. Me transporta para Lisboa, especialmente para o Novotel e a
Portuguesinha. Vou ao banheiro.
17h52. Migrei para o café. Está ótimo. E parece que a minha
existência toda se encaixou com a mudança de bebida.
18h08. Vou responder.
[18:08, 1/22/2019] Mário Barros: É um prospecto que me agrada. :)
[18:09, 1/22/2019] Mário Barros: Tomara que a medicina evolua a
esse ponto.
18h09. Vou pegar café e fumar.
18h19. O que eu mais quero da vida nesse momento? Estar exatamente
aqui fazendo isso. Acho que não há prova maior de sucesso. Quantas vezes os
demais experimentam essa sensação? Por quanto tempo? Essa sensação me toma na
maior parte dos meus dias, na maioria das horas do meu dia. Eu me considero
quase que plenamente realizado. Há ainda realizações que me faltam. Mas tenho paciência
para esperar o tempo certo. Se o tempo for rebelde e não me trouxer o que
espero, não me frustrará em demasia, desde que me seja garantido o direito de
permanecer aqui fazendo isso. Com coca, café e cigarro.
[18:24, 1/22/2019] Primo-Irmão: Daqui pra lá e evolui
[18:24, 1/22/2019] Primo-Irmão: Se não for ela a passar dos 100,
vai ser a gente
[18:25, 1/22/2019] Mário Barros: Acredito piamente nisso e muito
mais, como você sabe. Minha religião...
18h27. Quando mamãe despertar, pegarei o contato da arquiteta para
tentar botar as engrenagens da existência para girar em direção à realização do
meu maior sonho material, a reforma do banheiro e do quarto. Sonho com isso há
muito tempo.
[18:30, 1/22/2019] Primo-Irmão: A ciência, né?
[18:33, 1/22/2019] Mário Barros: É. A evolução das tecnologias nas
diversas áreas. Evolução exponencial, como vem se dando. Até o surgimento da Inteligência artificial
capaz de se auto-evoluir, ou melhor, o surgimento da supraconsciência terrestre.
Questão de fé, como a vinda do messias.
[18:35, 1/22/2019] Primo-Irmão: Entendi. É o caminho da ciência
então
[18:36, 1/22/2019] Mário Barros: É, é a ciência como religião e
redentora do ser humano. Uma fé, infundada como qualquer outra. :P
[18:37, 1/22/2019] Mário Barros: Ou fundamentada como qualquer
outra.
18h38. Não estou com paciência para internet e o maravilhoso mundo
dos bonecos hoje, só encontro disposição para a escrita. Esse papo com o meu
primo-irmão, que começou com o cansaço de três gozadas, está deveras
interessante, pois, como o meu amigo da piscina e até por causa dele, peguei
gosto por pregar a minha fé. Vou fumar. Preciso de uma pausa para sentir falta
de estar aqui.
18h57. Tirei uma foto das garrafas de água sanitária, pois acho um
produto interessante, visto que provavelmente letal se ingerido. Meu irmão me
mandou uma mensagem. Respondi algo que o deixará chateado correlato com a
mensagem que ele enviou. É interessante ter a suposta morte tão acessível
dentro de casa. Mas seria uma morte tão dolorosamente excruciante que nem me
atrai. Ademais, não quero morrer. Minha vida nunca esteve melhor. Há até a
distante possibilidade de Blanka. Há a possibilidade de sexo com Blanka, por
mais que me sinta intimidado a esse respeito. É algo chato em mim, esse medo de
meter. Espero que Blanka me ajude a superar isso quando do meu presente de
Natal. Desejo muito a sua nudez e me enroscar na sua nudez. Apreciar com todos
os sentidos possíveis a sua nudez, me embriagar nela. Me esfregar na sua nudez,
lambê-la, apalpá-la, alisá-la, cheirá-la, beijá-la. Ah, como o desejo da sua
nudez me é promissor. Tudo depende de nós, mais de mim, nos entregarmos
corporalmente. Uma vergonha, um receio me toma agora em relação a isso, não sei
porque essa frescura em relação a isso que é das melhores coisas de ser bicho
homem. Acho que vem dessa minha postura de ser só racional, desumanamente
racional e tocar só as teclas desse teclado USB.
19h15. Tirei foto do teclado. Vou beber mais um café com cigarro.
Talvez Coca e cigarro. Amo a minha mãe. Estou com saudade dela agora. Se
estiver acordada quando passar declararei meu sentimento por ela e lhe darei um
beijo cheio de carinho. Carinho infinito, de alma toda. Esse Gmail do celular é
uma merda, não envia as fotos, é de lua. Às vezes o faz superrápido, noutras,
simplesmente não o faz. Nossa, me lembrei! Tirar a bateria do notebook. Putz,
deixei por dias, desde Areias, conectada ao computador, que vacilo. Vou
satisfazer as minhas necessidades orais.
19h36. Tudo em mim pedia por Coca, mas a parte desobediente de mim
me serviu café, o resto da garrafa. Tomei, fumei e agora tenho Coca com muito
gelo ao meu lado. Enquanto a irmã da fantástica faxineira, que trabalha também
aqui em casa, sonha em viajar, eu sonho em permanecer aqui e começar um novo
post sob um estado alterado de percepção, uma ótica diferente sobre a
existência. Sempre me apraz sobremaneira. E este post acabou, poderia fazer
isso imediatamente, já me permito e sinto confiante para tanto, mas antes, vou
pegar as fotos com o cabo USB do celular, visto que os e-mails não chegaram,
revisar e postar isso. Só não sei se divulgue, é um post tão inútil.
20h06. Acabei de revisar e redimensionar as imagens. A ironia é
que quando acabei de redimensionar a segunda, ambas puxadas pelo cabo USB, os
e-mails chegaram. Que celular escroto. Recebi um comentário no post anterior,
relativo a foto da privada, foto deveras íntima. Foi engraçado.
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