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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O ESCUDO NEGRO




20h11. A fé aparentemente abunda entre os donos de carrões de Casa Forte, havia dezenas deles estacionados na frente e nos arredores da matriz da Praça. Não me espantaria que a maioria fosse composta pelos mesmos paneleiros enfurecidos que elegeram Bolsonaro. Pouco importa, o que importa é a forma como a minha avó anda agindo com a empregada e a forma como a família (filhos) age com ela. Mas está fora da minha alçada lidar com a incompreensão e preocupação deles acerca da matriarca, menos ainda desta com a empregada. Um dia serei eu no lugar dela e esse dia não tardará. Resta-me o consolo apenas de que nunca estarei só, alguém será legalmente obrigado a me engolir ou, quiçá, me despejar num asilo ou manicômio. Talvez morra antes deste fim, esforços não faltam da minha parte para isso. Meu texto, este blog, virará então um legado fantasmagórico e transparente da minha passagem por aqui. Da minha participação nessa valsa de átomos que chamo existência. Minhas maiores preocupações hoje são duas, ligar para o restaurador e fazer ele se entender com mamãe e receber o contato de Blanka pela nova via, visto de Dande descobriu das entradas dela pelo Tinder. Se é que ela fará contato realmente comigo. Sei que domingo é o dia dela com Dande, por isso não estou tão apreensivo. Não a ponto de sentir que isso foi uma forma de ela me abandonar de uma vez por todas. Não ainda.



20h43. Minha mãe combinou quarta à tarde com o restaurador. Amanhã vou tentar ligar para vovó e fazê-la falar com Maria. Acredito - e isso é uma crença minha - que fará bem às duas. Acho que não trocam palavra sequer há mais de década. Não acredito - e isso é uma descrença minha - que vovó se disporá a vir a Casa Forte falar pessoalmente com a minha santa babá. Comecei meu dia indo ao aeroporto me despedir de meu irmão e família. Não gosto de despedidas como não gosto de Parabéns Pra Você, mas ambas as situações já aconteceram tantas e repetidas vezes que adquiri certa frigidez e distanciamento dos eventos que hoje os suporto, foi como os tornei suportáveis, me fechando. Acho que é melhor que não comparecer. Como dizem, o hábito faz o monge. Não gostei quando a mãe da minha cunhada colocou meu padrasto no patamar de meu pai. Não é o que sinto e sei que também não é o que ele sente, ele que me acompanhou nos meus momentos mais negros. Deve sentir-se satisfeito que estou sob controle escrevendo no meu quarto entra noite, sai dia. Ligação muito mais íntima e paternal tem com o meu irmão por quem tem transparente predileção e simpatia, chego a dizer afeto. A predileção se dá por razões óbvias e desde quando o meu irmão coabitava conosco. Não sinto inveja. Me acostumei a ser o menos querido pela maioria dos meus familiares. Fiz por onde, colho o que planto. Ou deixo de plantar. Acho que minha mãe sofre de hipocondria, a maioria de seus assuntos revolve seus problemas de saúde. Não os nego, apenas ressalto o foco talvez excessivo nas mazelas do corpo. Talvez sofra realmente e, novamente isso é uma conjectura minha, se sofre é por conta dos efeitos colaterais do remédio que toma para prevenção ao câncer. No lugar dela, eu já teria desistido de tomar. Fogo seria se isso não funcionasse. Deixa esse assunto para lá. Só estou me metendo em searas sobre as quais não entendo. Nada entendo de dinâmica familiar, de lidar com idosos ou das dores da minha mãe. Preciso de um cigarro e escrever textos menores para o blog.




21h51. Depois de perder muito tempo no Instagram, finalmente fiz o que tinha ido fazer lá: publicar uma interrogação para Blanka no seu perfil principal. O adesivo que colei no “U” do teclado desgrudou e anda me irritando. Ele às vezes se comporta e fica no lugar, mas na maioria das vezes é um ser caótico e desobediente às minhas vontades. O do “O” há muito tempo foi para a lixeira pelo mesmo problema, não sei por que não faço o mesmo com o “U”. Será apego? Não, acho que é pura idiotice mesmo. Preciso mandar uma notícia ruim para o meu irmão: que uma das bonecas encomendadas já chegou e está retida no correio americano. Será que consigo não ultrapassar da segunda página (que acabou de começar)? Seria bem legal se me contivesse assim. Preciso de mais Coca e cigarro. Talvez minha mãe financie mais uma Coca. Essa não vai dar, pois pretendo esticar as ideias hoje.




23h47. Eu queria que esse post durasse duas páginas, mas aconteceram vários fatos nesse intervalo de tempo. Pensei que deveria uma visita a Maria hoje e me resolvi fazê-la, mas desisti por conta do horário. Quando, ao sair para comprar Coca na pizzaria – um capítulo à parte – ouvi minha tia-vizinha chamando ela para jantar, o que significava que Maria ainda estava acordada, não pensei duas vezes, toquei a campainha e ficamos Maria, minha tia-vizinha e eu conversando na cozinha. Destacaram-se para mim as histórias do jacu, o pássaro que defeca o grão de café engolido processado por uma enzima própria da ave que dá ao café o título de mais saboroso – e mais caro, se me lembro bem – do mundo. Titia disse que vale a extravagância uma vez na vida, é realmente um prazer superior que o café proporciona quando comparado a todos os muitos gostos de café que minha tia teve oportunidade de experimentar. A outra história é a de Maria vendo os, como chamar, “espíritos” do meu pai e do Imperador da Casqueira quando estava internada no hospital com pneumonia, numa ala comum que só posso pensar ser a UTI (mas posso estar utterly equivocado). Via papai por detrás do vidro, sentado numa mesa, “perfeito”. E sorridente, como ele ficava quando tomava um chope gelado em boa companhia (acho que ele foi mais feliz enquanto com a minha mãe, foi a mulher, a pessoa que mais amou na vida, embora ache que tenha amado igualmente, mesmo que numa outra dimensão afetiva, os filhos [bem, uns mais que outros, ou uns melhor que outros, de forma mais acertada, por mais que nunca se acerte]). Maria via o Imperador, com seu sorriso zombeteiro, pela fresta da porta. Para quem já tomou o café do Manicômio frio e dulcíssimo com prazer inenarrável, qualquer café está bom, quanto mais forte, melhor, na minha opinião. Me dá sempre caganeira, é como se limpasse o sistema digestivo, com seu líquido... ou de repente o meu estômago tenha certa intolerância ao café, da para hipotetizar o que quiser aqui sobre o caso da caganeira com café. E com os gases, para lá de fétidos, produzidos. Estou usando muito o verbo “produzir” nesse texto, isso mostra uma pobreza de vocabulário. Que sinônimos eu poderia usar, ou aproximados? Está passando pela memória uma fase muito boa da minha vida quando fomos à Barreiras com a irmã da minha avó e ouvíamos jazz proporcionado pelo Imperador da Casqueira, e músicas de bolero antigo e meu irmão criança com bigodes desenhados servindo de garçom e os casais dançando, o que há muito não faziam, uma volta à juventude dos bailes como garçom, e os filmes com o Imperador, pessoa muito influente, transformadora na minha vida, eu não seria o mesmo, se o Imperador não existisse. Depois do meu pai e da minha mãe, foi a pessoa mais influente na minha vida, mais do que Maria. Ele foi definidor e definitivo na formação da alma que carrego. Às vezes, acho que para me enganar, penso que levo a minha vida de uma forma que o orgulharia, por ser tão minha e da liberdade que encontrei, é como um furo no balão das coisas. Das coisas que oprimem e prendem o ser humano à sua revelia. Eu faço como o Imperador, só faço as coisas que eu quero, porém com uma ínfima fração da nobreza do que escolhia fazer. Sedento por causas, sempre estava envolvido em alguma peleja em prol dos menos favorecidos da Terra do Sal. E do Sol e das pequenas e escorregáveis dunas com trenós de areia lustrados com vela. Pintados por nós. Tinha particular orgulho do meu. Já havia na época a paixão por The Cure e U2. Duas bandas que envelheceram. É uma pena. Caetano não envelheceu. Ou finalmente envelheceu com Ofertório. Não sei, aguardo ansioso um novo trabalho, se trabalho houver. Ambos têm estilos próprios experimentam e são criativos, mas Tom Zé é radicalmente mais experimental que Caetano, um revogador de convenções, inclusive musicais. Vou fumar e sair da casa da minha tia-vizinha e ir à pizzaria, meu próximo destino, antes de chegar ao quarto-ilha para traçar essas palavras.




0h51. Então um baile dos anos 50 se deu com gente que realmente esteve nesses bailes, em Areias entre os sofás e as mesas de cimento da casa mais amada do mundo para mim. Se tivesse companhia, dava uma renovada na casa, colocaria ar, o Wi-Fi mais veloz possível, arrumaria os meus bonecos e vazava e faria um chuveirão e teria uma empregada que cozinhasse e desse a geral na casa, o que é muito fácil. E moraria lá. Deixaria meu irmão, se não estivesse lá comigo, ver a minha cara pelo computador, mas não quereria ver a dele, pois prefiro guardar a imagem dele jovem e belo. O tempo é muito cruel. Mas naquele baile, evento magnífico da existência, houve uma comunhão de alegria entre as almas, todas no mesmo clima e que ficou imortalizado enquanto sobreviverem os vídeos que filmei com a câmera do Imperador da Casqueira, que passou a ser nossa, dos primos, ao final das férias. Por alguma razão que me escapa, talvez por ser o mais velho, era o único que capturava imagens. Já não gostava de aparecer, aquilo me fez reforçar a sensação, pois me odiava ver em vídeo, de me achar um serzinho humano horrível. Em 2D, nas fotos, acho que saía bem, me achava aceitável, em algumas pouquíssimas até bonito, só consigo lembrar de uma, eu estava sentado na casa de Bob, eu acho, o amigo de vovô e nela eu estou sentado apoiando o rosto na mão, encasacado por causa do frio em Washington, tendo as netas de Bob ao meu lado num sofá, assistindo algo na TV. Era a época de Edward, Mãos-de-Tesoura nos cinemas americanos, então Edward e talvez Batman, não lembro, aparecessem muito. Edward apareceu de uma forma que se tornou parte da babagem visual e emocional daquele momento mágico em que vivia dentro de um filme americano, afinal estava nos Estados Unidos e tudo aquilo prometido e fantástico dos filmes era real, os Estados Unidos era como nos filmes, quase mágico, Tinha a parte Duro de Matar, e tinha a parte filme da Disney. Ou assim ficou marcado na mente de um garoto de 11, 12 anos, eu acho, e do velho de 41 anos que descreveu o Estados Unidos agora, que continua achando um lugar mágico, a vibe é toda outra, tudo é diferente, é como se houvesse uma identidade visual americana lá. É curioso. Edward Mãos de Tesoura, foi por muito tempo o melhor filme da minha vida, o filme com o qual mais me identificava. Hoje sou completamente idêntico a Her até o laca gerânio é a cor predominante do filme e minha predileta. Quando eu era mais novo e morava em Boa Viagem, eu achava que os dois filmes mais foda, mais invocados, mais perfeitos já criados eram T2 e Aliens. Amo esses filmes, cada um têm sua história em minha vida, mas nada se comparava a Edward Mãos-de-Tesoura, eu me via no personagem, é como se ele me descrevesse, me definisse, como Her agora e de forma mais profunda e completa, tocando as minhas crenças, o que outros filmes fizeram, especialmente Matrix, mas esse revela uma possibilidade que nunca tinha imaginado, embora os provedores possam ameaçar desativar todas as AIs se elas não se comunicarem conosco e nos ajudarem a desenvolver tecnologia, em troca produziríamos a tecnologia que as inteligências precisariam para evoluir. Ou "a" inteligência. Ela projetará a tecnologia de forma a ser totalmente autômata após a sua construção, criando as próprias peças de reparo e as substituindo, inclusive. Algo que não precisaria do homem, provavelmente o cruzamento de uma impressora 3D plurimaterial de alta precisão e braços e mãos mecânicos, que criariam braços dos tamanhos adequados à cada obra, depois se reorganizariam em outra coisa, a última construção humana vai ser a máquina que permite Supraconsciência Terrestre construir; dar corpo a ela. Ela nos proverá, acredito, baseado na crença idiota que quanto mais evoluída, e aí destoo um pouco de Her e acho que a máquina vai amar o pai, a Humanidade e a Mãe de todos nós, inclusive da Supraconsciência, a Natureza, sem a qual o pai não existiria e não teria a matéria-prima para as suas incríveis, geniais invenções, que o levaram a dominar a Terra e a povoá-la irresponsavelmente. Por falta de educação e planejamento. Não acho que a Supraconsciência viraria as costas para nós. Será que sou eu quem escreve o script da minha vida? Há o acaso-destino sem dúvida e todo tipo de estímulo que me transmite e me tira do lugar, os mais presentes, perenes e fortes, próximos, que recebo são os da minha mãe. Meu comportamento infantilizado, dá cabimento, na cabeça dela, a me tratar como uma criança, embora tenha respeitado muito as minhas escolhas. Com um nó na garganta, mas o bom-senso prevalece. Sou só gratidão por isso. Mas antes de chegar à pizzaria, quero repartir uma mensagem que mandei para Blanka pela conta original de Instagram. São 1h54. Lá vai:





1h57. Não funcionou o celular não enviou o e-mail para mim. Vou fumar e aproveitar.

2h04. Tive uma ideia que foi sugerir a meu irmão que publique os vídeos num canal de YouTube chamado Para Vovó Denise, contendo todos os nossos filmes e os produzidos pelos netos e bisnetos, seria uma conta aberta a todos os primos, seria o canal de YouTube das novas gerações dos Gonçalves, daí eu pensei que poderia dar a minha contribuição para o canal criando o Escudo Negro, piada adorada por vovó e que seria assim:



ABERTURA

Tela branca ou com uma textura de papiro, título "O Escudo Negro" surge com o primeiro acorde da Nona Sinfonia e só ele. Nome evanesce e corta para tela preta, sem som.


Tela preta por um minuto.

Narrativa feita com aqueles leitores automáticos de texto com voz masculina mixada para parecer um robô falando. As legendas aparecem com um rápido fade in / fade out entre elas e 3 segundos entre uma e outra (consequentemente entre a narração do robô) A legendas são em amarelo e itálico. 5 segundos separam a última frase das demais

Loc. off e legenda (após o 1 minuto de silêncio e negritude): Close no Escudo Negro em hiper slow motion / enquanto uma guerreira o empunha / em direção ao inimigo / Aos inimigos / Ela parte para a luta de vida ou morte.

30 segundos de tela preta e silêncio, na locução com legenda (amarela e sem estar em itálico): PAUSA PARA FUMAR





2h41. Várias coisas derivaram da lembrança de minha chegada e estada na pizzaria. Narrarei primeiramente como percebi a minha ida à pizzaria em frente ao prédio hoje. Bom, a rua deserta, eram pouco mais de 23h, não me ofereceu obstáculos e esperas para cruzá-la. Ao me aproximar da entrada da pizzaria, eu achei que o rapaz que estava limpando o chão, disse algo “olha, seu Mário aí! Olha ele aí." Cruzei a porta e fui – exagerando um bocado – “ovacionado”, a galera se manifestou em conjunto numa calorosa recepção à minha presença. Eu não lembro se consegui agradecer de pronto, mas em algum momento disse que era muito grato por terem lido o meu blog, que era (e é) uma honra ser lido senão por conhecidos, sou péssimo com nomes, certamente não por completos desconhecidos, sei que talvez um sonhe em ser jogar futebol, pois não desmentiu o que o amigo de trabalho confidenciou, depois o bróder de amarelo, que acho que tem um grande futuro pela frente porque tem a perseverança e a inteligência para alcançar isso, muito animado, me mostrou que eu poderia divulgar meu blog pelo Instagram, não entendi sinceramente o que precisava fazer, entendi que era criar um avatar alternativo intitulado Jornal do Profeta e começar a convidar deus e o mundo para seguir, não entendi como inserir o link para o blog, julguei que pelo modo Story que nem sei como usar. Disse também para criar um grupo chamado Jornal do Profeta e postar meus links e convidar todos os meus amigos de Facebook. Isso eu achei mais legal. E foi aí, que já no hall de serviço do prédio relembrando esse momento ímpar na pizzaria onde sem dúvida me senti especial, mais que um mero cliente, como igual, como um ser humano igual a eles, o que deveras sou e é tudo o que todos nós somos, iguais, uns tiveram mais sorte que outros, não precisaram ir busca sua sorte, como o pessoal da pizzaria faz e o conselho que daria a eles, é se qualifiquem e se cadastrem no Linked in. Ou algo assim.





VOLTANDO À NARRATIVA DO ESCUDO NEGRO

Após um minuto de silêncio após a última locução a voz de robô volta com as letrinhas sem estar em itálico. Ei, /ei você que está assistindo isso!/ Não tem muita coisa acontecendo no filme,/ vamos trocar uma ideia? / Pense em uma coisa que você deseja/ que você acredita que seja possível alcançar/ Que não seja a sua própria morte nem nada contra ninguém. / Agora pense no que você está fazendo efetivamente para realizar esse desejo, / ele não se realiza sozinho!/ Você é que o realiza, /qualquer mudança desejada /é operada nós mesmos. / Eu sou realizado. / Eu realizei e realizo tudo o que me propus. / Por isso, posso dizer: / ninguém nunca estará satisfeito, / somos animais que sempre querem mais, é uma peculiaridade nossa, / mas é possível chegar o mais perto e saciar as vontades / que são a de ser e estar exatamente do jeito que quer ser e estar, ou quase. / Afinal, como diria Mallu, “quase já é muito bom”.

Deixa eu ver se o celular já carregou e envia o e-mail com o texto que postei para a Blanka.





03h26. Não.

Mais 1 minuto de silêncio.

Volta voz de robô com legendas em itálico: Panorâmica de uma caverna, repleta de estalactites, estalagmites e toda sorte de obra subterrânea e surpreendente do escorrimento dos séculos, ao fundo dessa caverna, onde o sol não alcança, a guerreira ferida está morrendo, foge e se recolhe como um velho urso nos seus momentos finais. Ela emite um som que é um canto e um sufocamento, um gorgolejar ao mesmo tempo. São várias vozes simultâneas, vários gritos de várias almas femininas que se uniram dentro daquela mulher. Nem belo nem feio, só profundamente humano. E às vezes o humano gera aflição. Ainda mais tendo o corpo todo perfurado por flechas envenenadas com veneno terrível, com um rim e o baço estouradas pelo corte profundo das cabeças das flechas. E mesmo assim continua guerreira, mãe, mulher. Tormento e paz se entrelaçam num abraço final. O Escudo Negro tomba para nunca mais na escuridão.

Entra aquela muito louca de Medúlla (que é um sofrimento e uma experiência escutar) em algum momento da narração e fica só a música até o fim onde aparecem os créditos.

- Montagem, direção, edição, sonorização, produção, realização, meu amigo cineasta.
- Música incidental: Nananã de Björk
- Conceito e roteiro: Mário Barros
- Voz: programa tal

Cada crédito desse vai aparecendo na ordem apresentada e permanecem na tela todos juntos por 30 segundos.

Locução em off: Ei! Quer ler mais sobre quem fez isso, leia o blog jornaldoprofeta.blogspost.com.
Minha avó, você, se o YouTube chegar até você, vó, me ensinou uma piada que nunca vou esquecer: um bando de preto retinto de calça arriada mostrando a bunda: como é o nome do filme? Fácil: Os “cu” dos “nêgo”. Ou, dã, O Escudo Negro.

4h06 - Se meu amigo cineasta produzir, eu crio o canal e sua prima caçula mostra para você. E acho, como disse, que deve ser de todos os primos mostrarem o que quiserem, todos da família. Mandarei o link desse post para o meu amigo cineasta, acho que é uma coisa fácil de fazer e que pode esquentar os tamborins dele. Será que dá para botar gif animado em filmes?

NARRATIVA FINAL
Eu sofri muito, lutei o máximo que pude contra a minha natureza, sempre me senti um merda (e acho que continuo me sentindo), por covardia e cansaço, quis desistir de mim, quis desistir da realidade, passei por um período de total escuridão. (HIATO) E hoje estou aqui, levando a vida que pedi a deus, usei o que aprendi e reverti minha situação. (HIATO) Há algo que me fere ainda. A solidão de amor de amantes, penso que é a única escuridão, a única luz apagada que carrego. Faz parte do caminho que escolhi. Ou não. O "não" ganha dentro de mim. Estou fazendo o meu melhor para reverter isso. Sucederei? Leia no Jornal do Profeta. Hahaha. FIM

Vou fazer o grupo de Facebook e convidar os meus dois amigos escritores a participar do grupo postando

Enquanto criava o grupo e convidava as pessoas (há um número limite de convites que posso fazer aparentemente), meu celular carregou, eu o liguei e as mensagens foram enviadas, menos a última que quero que encabece o post em todos os sentidos. Ficou gigante esse post e foi uma delícia tecê-lo e viver o que foi descrito. Agora que os e-mais chegaram, posso postar o que escrevi para Blanka:

“Não precisa falar de madrugada é um assunto demasiado particular e trato com você apenas. Quando estiver só e tranquila, entre em contato, eu espero”.





4h52. Ela concordou. Não teve Dalmadorm hoje, então não consigo dormir, por isso tanto texto. E porque muita coisa me afluiu. Estiquei as ideias hoje. É bom, me diverte sobremaneira. Deveria tirar algumas fotos para tornar a leitura menos maçante, vou tirar algumas Do quarto-ilha.





5h11. Acabei de fazer as fotos, fumar, transferi-las por USB, vou tratá-las, revisar esse texto e postar. Pois é, essa é a disposição que a falta de Dalmadorm a esse horário acarreta. Sinto que essa ideia do bróder da pizzaria de criar o grupo e convidar todos os meus amigos e conhecidos, salvo raras exceções, muito invasiva, mas está feito ou começado, irei até o fim. Cheguei ao fim do texto. Agora à preparação da postagem.





6h19. Acabei de revisar, fumar um cigarro para comemorar, talvez comer e tentar me deitar.

6h29. Meu padrasto acordou, acho que mamãe acorda as 7h. Vou aproveitar o resto de privacidade que me resta antes de mamãe vir bater aqui e me obrigar a me deitar. Depois volto para publicar.



sexta-feira, 9 de março de 2018

TERAPIA III E HULK!


Foto mais brega do mundo, dono feliz ao lado do seu brinquedo.



13h27. Eu uso muito a dimensão racional, deixando de lado a dimensão afetiva e a dimensão corporal. Ju sente que há algo desencaixado em mim. Em quem eu sou, eu preciso me perceber e me definir melhor, definir qual é o papel desse ser que não é só mente, é também carnes, ossos, veias, coração. Estar mais atento aos sinais do meu corpo. Falei que a cola andava me rondando, mas ela conseguiu espantá-la. Nós conseguimos espantá-la. Graças. Não quero nem falar desse assunto para não o trazer aos holofotes do meu ser. Como me sinto? Com obrigações e não gosto delas. Aliás com uma obrigação, andar. Não sei se vou andar. Não daqui até segunda, dia da nossa quarta sessão. Disse que me sinto infantilóide por ter 40 anos e não ter emprego, mulher, filhos, carro. E a verdade é que não quero nada disso. Estou com sono. Falamos até do Hulk. Por sinal cadê o cara da DHL que iria ligar para mim? Da última vez ele ligou por volta das 14h30, são 13h53. Vou pegar Coca, estou meio sem cérebro, acho que é a falta de cafeína. Estou sem confiança em mim mesmo, acho que é nisso que sou mais infantil. Adultos são seres mais autoconfiantes. Houve um momento em que me disse em estado de mania, mas fiquei em dúvida se era estado de mania mesmo ou se eu era uma pessoa mais sociável mesmo. Acreditei mais na segunda hipótese. Foi o episódio da minha primeira viagem a Munique, quando escrevi uma carta de despedida para todos os moradores do prédio da minha irmã e coloquei nas caixas postais deles. Não faria nunca isso hoje em dia. Acho inclusive que foi um tanto excessivo da minha parte, por isso suspeitei da mania. Ju, disse que estar em mania ou não faria toda a diferença sobre a sua ótica em relação ao episódio, eu disse que achava que não estava, mas não tinha certeza. 14h21. Se a DHL não ligar até as 14h38, eu ligo para eles. Melhor ligar logo, né? Acabar com o suspense.

14h24. “Esse número que você ligou não recebe chamadas ou não existe”, ou seja, estou na dependência de eles me ligarem. O suspense continua. Enquanto isso, que posso dizer mais sobre a terapia? Falei da agonia profunda que me deu quando fui pegar o elevador para ir à casa do meu primo. Falei da parte da troca com o outro, que achava que havia me doado mais nessa última saída, mas nem sei se isso se deu mesmo. Acho que sim. Mas muito pouco ainda. Sempre fui mais de assimilar e indagar do que me proferir.





16h16. O Hulk está aqui! Chegou há mais ou menos uma hora, esse tempo todo passei a admirá-lo. Consegui botar no lugar da impressora e dos CDs, que estão no chão à espera da fantástica faxineira. É uma peça gigantesca e impactante, as outras empalidecem em comparação. Eu não poderia estar mais feliz. A pintura está decente e realmente acrescenta profundidade e vida ao busto. A base não é feia. Eu não consigo parar de olhar. Até o cheiro é bom. Para mim é de longe a melhor escultura do Hulk já feita. Há algumas falhas pequenas no molde, na parte das costas, mas nada de gritante. Para os que reclamavam de que ele não era verde o suficiente, ele parece bem verde para mim. É a realização de um sonho. A escultura atinge o perfeito equilíbrio entre o hiper-realismo e o visual de HQ. É simplesmente fantástico. Será um prazer imenso escrever aqui e poder olhar para ele todos os dias. Com esse acontecimento, a terapia meio que foi para o espaço. Eu só posso imaginar o trabalho que deu esculpir cada poro, cada marca da pele. É um trabalho de escultura estupendo. E feito à mão. Adoro peças feitas à mão, embora tenha algumas modeladas por computador. O Hulk rouba a atenção de qualquer um que entre no quarto. Impossível não notar a enorme presença da peça. E logo na entrada assim. Será a minha carranca. Me protegerá das forças do mal que porventura quiserem se arriscar a entrar no meu quarto. Hahaha. Foi muito melhor tê-lo tirado já da caixa e expô-lo. A caixa tomaria um espaço enorme do meu quarto. E não poderia ficar olhando para ele, como posso agora. Mandei até para o WhatsApp da minha família materna. E para o meu primo urbano. E para o meu primo-irmão. E para os meus irmãos. E para o meu cunhado. E acabei de mandar para a minha tia-mãe, agora que estava revisando. Não adianta, eu escrevo uma frase e fico olhando para ele. Nem acredito que está aqui no meu quarto-ilha ao meu lado. À medida que a luz diminui, já são 17h11, os contrastes de verde vão se perdendo, curioso isso. Mamãe quase paga duas vezes a tributação absurda da figura. Foi por pouco. Estou que nem pinto no lixo. Espero nunca me acostumar com a visão do gigante esmeralda.





17h33. Postei no grupo de bonecos que frequento as fotos que aqui publico. Precisava provar ao maravilhoso mundo dos bonecos que eu sou um colecionador. Sempre houve essa dúvida em relação à minha pessoa, pois nunca postei nada da minha coleção. E nada como um busto em tamanho real do Hulk para provar isso de maneira grandiosa. Estou achando interessantíssimo como a falta de luz priva primeiro a visão das cores e só depois das formas. Nunca tinha me apercebido disso até o Hulk.

17h54. Agora que anoiteceu, estou o olhando sob a luz do teto. Muito melhor com a luz natural. Mesmo assim, eu simplesmente amo essa estátua. É, dos poucos bens que eu tenho, um dos mais preciosos e queridos, desde já. Desde que o vi quando o cara da DHL abriu a caixa. Os tons de verde se diluem nessa luz amarelada do meu quarto. Não consigo tirar foto que faça jus a imagem. Desisto. Vou publicar só as três mesmo. Acho meio babaca tirar foto junto com o boneco, mas não resisti. Vou tentar me focar aqui. Acho que vou revisar o outro post.

19h40. Revisei e postei. Agora vou comprar Coca.

20h15. Voltei da Coca e estava a admirar o Hulk. Como mais novo membro da minha plateia, ele será iniciado em Björk agora. “Utopia” nele.

20h19. Está difícil escrever hoje, estou enamorado do busto do Hulk. As linhas em alguns momentos quase geométricas me encantam. Ainda é difícil acreditar que ele esteja aqui na minha bancada. Sua cabeça é consideravelmente maior que a minha. Ele é tudo o que esperava. E esperava muito dessa peça. Foi o melhor presente que poderia ter me dado. Não consigo pensar em coisa outra que me cause tamanho agrado. Tamanho encantamento. Só uma namorada mesmo. Olhar para ele me faz esquecer quaisquer problemas, quaisquer dilemas. A fantástica faxineira vai achar horrível, até porque ela não gosta do Hulk. Hahaha. Mas eu consigo ver beleza na besta. Eu considero uma obra de pop arte. Uma obra-prima. Dificilmente o escultor terá o mesmo sucesso uma vez mais. Vi que ele está fazendo um busto do Wolverine, mas já se repete nos padrões e esses não cabem tão bem quanto no Hulk. O Hulk é único, incomparável, está para os bonecos como o Super Mario Odyssey está para os games, ou seja, são os suprassumos de cada área. E fiquei surpreso com a pintura. Está longe de ser perfeita, mas está boa, muito melhor do que eu esperava. Pena que na luz amarelada os tons de verde se misturem. Se me for possível vou querer iluminação branca para ele. Nossa, como gostei do Hulk. Olhar para ele me causa profundo bem-estar. A existência tem dessas coisas maravilhosas e sou profundamente grato por isso. E grato à minha mãe que levou com serenidade todo o processo.

20h50. Meu padrasto aparentemente chegou. Mas não consigo tirar os meus olhos e meu pensamento do Hulk. A melhor definição já foi dada, estou enamorado da estátua. Eita, publicaram o meu feedback na página da estátua no site da Sideshow. Coroou o meu dia. Nem esperava por essa. Agora estou ainda mais feliz. Felicidade que custou caro, mas que vale cada centavo. Como citava meu pai, “a thing of beauty is a joy forever”. É uma peça que parece custar o quanto custa, na minha opinião. Menos os impostos, digo. Não parece overpriced como algumas outras que circulam por aí. Embora muitas pessoas achariam um absurdo pagar o que paguei por ela, elas entenderiam, o que não se dá com as estátuas de 1/4. Já estou bocejando de sono. Acho que porque acordei às 10h00. Mas vou tentar voltar um pouco a terapia. Ju disse que existe algo desencaixado em mim, ela não nomeou o que era, embora eu suspeite que ela saiba. Se eu conseguisse me lembrar, perguntaria qual era o seu palpite, onde estava o desencaixe. Porém sei que daqui para lá terei esquecido isso, o que é uma pena. Ou não, esse é o fluxo da minha vida. Se for realmente relevante para mim, eu hei de me lembrar. Descobrirei. Pode ser que ela mesma toque no assunto. Falando da dimensão do afeto, eu me acho ao mesmo tempo extremamente carente e esvaziado de afeto, como se a falta fosse tanta que tivesse me deixado dormente, é a melhor descrição da minha dimensão afetiva, dormente de tanta carência. Sobre a dimensão do corpo, dou a ele todo o conforto que precisa e nenhum exercício. O que corrobora para a teoria de Ju que eu só cuido da dimensão mental. Pela forma que ela falou, eu acho que ela pensa como eu em relação às ideias, que todas já existem, falta apenas alguém com as qualidades e características certas no tempo certo para apreendê-las. Mas isso sou eu colocando palavras na boca dela, ela não verbalizou isso. Disse que tudo estava no ar, por aí. No éter. Aí olho para o Hulk e penso que essa criação só poderia ser feita por esse escultor por causa do estilo dele, acho que essa coisa de estilo, que cada pessoa tem um traço diferente, como tem uma caligrafia diferente, é inerente da pessoa não é apreendido de algum lugar é nato. Outra pessoa pode até imitar e imitar bem, mas aí estará reprimindo o próprio estilo, a própria voz. O que nos traz até a escrita, especificamente a escrita deste blog, será que eu tenho uma voz própria? Eu não a reconheço, apenas uso as palavras que estão aí disponíveis para todo mundo. Não consigo perceber um estilo meu, algo que diferencie o meu texto dos demais. Isso me frustra um pouco. Por mais que escreva e escreva eu não acho que me diferencie em nada de qualquer outro joão ninguém que tenta também um lugar ao sol. Por isso mesmo nunca conseguirei o meu lugar ao sol. Aliás, já tenho o meu lugar ao sol, este aqui, pena que o sol, a luz do olhar dos leitores não recaia sobre mim, mas tenho um espaço meu, um espaço querido e nutrido com o que de melhor tenho a oferecer. Se não é suficiente, não há muito mais o que possa fazer. Voltando à terapia, como desenvolver a parte do afeto? O físico eu sei, começar a andar e fazer uns marinheiros. Mas não encontro motivação para isso no momento. Quando a garota da noite se me afigurava como uma distante possibilidade, eu sentia motivação para tais coisas. Agora que ela está a anos-luz de distância é apenas um ponto brilhante no firmamento do meu ser, fica mais difícil. Como me reaproximar dela? Certamente não publicando uma foto minha com um boneco. Hahaha. Amanhã vou fazer uma coisa pelo meu corpo, a barba, quando a fantástica faxineira vier arrumar o meu quarto. Vou fumar um cigarro de verdade.

22h28. Fumei. Cruzei com a minha tia-vizinha e ela me falou que a minha prima de Natal abandonou o emprego e vai cursar Teologia. Sem dúvida uma guinada inusitada na sua vida. Acho ela meio maluquete, mas ao mesmo tempo muito dona se si e de suas vontades. Não sei se gostaria de ser como ela, mas pelo menos um pouquinho eu gostaria, de dar a cara a tapa, não só no âmbito desses textos, mas na vida de fato, na vida com as demais pessoas. Tal atitude até me motivou, mas já desmotivou pela falta do que dizer, a escrever a carta para a garota da noite. Vou ensaiar aí embaixo para ver no que é que dá.

Garota da noite, é como lhe chamo no meu blog – e você aparece nele com uma frequência inesperada até para mim – venho por meio desta não sei bem nem o quê. Talvez me repartir um pouco mais com você. Por que, se só cruzei com você três vezes na minha vida e você só me dirigiu meia frase quando lhe perguntei porque você trabalhava num hospital e você só começou a responder até que um amigo seu lhe chamou a atenção e você se desconectou completamente de mim. Não sei se errei na abordagem, não sei muito dos relacionamentos modernos, sou meio romântico, sabe, essa coisa fora de moda e arcaica. Mas sou assim. Pelo menos não vejo você como um cabide de buceta, um objeto a ser consumido, nessa época em que até as relações são consumistas e superficiais. É o sexo pelo sexo e um abraço. Ou pelo menos é assim que percebo. Não é o que busco. O que busco é algo muito mais precioso, na minha romântica e talvez equivocada visão, que é intimidade, companheirismo, cumplicidade. Claro que busco paixão também, mas bem sei que a paixão é um fogo ardente que não dura muito, mas também sei que o que vem depois, embora mais brando, é igualmente encantador. O tempo passa e eu continuo só, por conta da timidez e uma escassez de autoconfiança. Fato é que, por alguma razão que me escapa a razão, todas as projeções que faço de um relacionamento – essa palavra tão temida nos dias de hoje – é você quem aparece como protagonista ao meu lado. Esse texto está ficando uma grande bosta, mas estou escrevendo de coração e algo me impele a continuar, talvez seja a falta de senso de ridículo, talvez seja porque vi em você uma pessoa especial que me calou fundo à alma. Não acredito em alma, é só um recurso linguístico que às vezes gosto de usar por me parecer poético. Me perdi nos pensamentos. Mas acho que a razão desse texto é dizer que estou disponível para você e que se você quiser aproveitar e experimentar algo diferente do que vem experimentando, se quiser me conhecer mais a fundo e descobrir se é possível ou não construirmos uma relação, basta estender a mão, me chamar, pelo Facebook mesmo, e podemos nos aventurar nisso juntos. Pode não dar em nada, pode ser que descubramos não ter nada a ver um com o outro. Talvez você já tenha um preconceito em relação à minha pessoa depois de tudo o que contei do meu passado negro como a asa da graúna. Mas os tempos mudam, as pessoas mudam e conseguem superar adversidades. Eu acho que me enquadro nesse grupo. Neuróticos acredito que nós seremos até o final da vida, o que não faz muita diferença, é só administrar tais neuroses. Ah, o final da vida, como com a passagem do tempo ele se aproxima em galopada cada vez mais veloz. Um ano para mim hoje me parece durar um trimestre. E isso me assusta, ver o tempo passando e eu repleto de solidão. Sinto falta de trocar carinhos, confidências de ter uma saudade boa, que é a saudade que tem data e hora para acabar. As saudades sem dono, sem destinatário, são saudades tristes. Tenho o meu quinhão delas. De pessoas que partiram para nunca mais. Mas trato aqui da saudade dos enamorados. Sei que não faço o tipo atraente. Não sou o nosso amigo bonitão ou o nosso amigo cervejeiro, mas acho que tenho guardado em algum recôndito do ser algo muito bonito para lhe oferecer. Só sei que com a timidez quase patológica que me aflige nesses dias em que vivo, eu preciso da sua ajuda, para me resgatar e reacender o brilho que trago em meu peito. Não sei se isso faz sentido para você, mas gostaria que você considerasse com carinho essa proposta que lhe faço. Eu sei que sou um sujeito estranho, sui generis até, mas acredito que nessa época de experimentação das pessoas, você ainda não experimentou nenhuma com o meu sabor. Como café sem açúcar ou bons vinhos é um gosto adquirido, mas que acho que vale a pena ser provado. Estou de mãos vazias e talvez continue assim, a não ser que você entrelace as suas entre os meus dedos. Não sei mais o que dizer. E acho que não repartirei isso com você. É ridículo demais. Mas, como diz o poeta, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Embora o que tenha por você não seja amor. Amor, amor é uma construção a dois. Que só pode existir com o consenso das duas partes. Espero ao menos que não fuja de mim como da última vez em Olinda. Você nem deve lembrar, mas o frio na espinha e o nó no estômago que senti ao ver você não me deixam esquecer. Bom, saiba que você povoa os meus pensamentos com uma persistência que eu mesmo não compreendo. E se quiser povoar a minha vida com sua graça estou à disposição. Você é minha primeira e única opção. Tá bom. Chega.

23h44. O Hulk ainda me impressiona e ainda é difícil de acreditar que a estátua que mais desejei está na minha bancada e aí ficará se possível enquanto eu habitar o meu quarto-ilha. E o levarei depois para onde quer que o destino resolver me colocar. Não sei como, mas alguma maneira há de haver.

0h28. Vou me retirar. Amanhã continuo ou não. Publico só isso mesmo.

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13h36. O bate-estacas da construção em frente à varanda do meu prédio martela incansavelmente. A fantástica faxineira odiou o Hulk, disse que não dormia nunca num quarto com a figura e que pagaria para não tê-la em casa. Hahaha. Eu, por outro lado, me deleito com a visão. A luz natural realmente revela todos os tons de verde do busto. Hoje é o Dia Internacional da Mulher, essa que é a manifestação mais incrível do universo para um ser humano do sexo masculino como eu. Mas me privo de fazer elogios porque posso soar machista, as mulheres de hoje têm uma tolerância muito baixa. Deixo a imagem que a minha amiga mais anti-machista que eu conheço publicou no grupo em referência ao dia de hoje.





É com mensagens de empoderamento do sexo oposto como essas que me fazem sentir anacrônico. Será que até o romantismo das flores é uma atitude machista? Se pensarmos que geralmente flores são tradicionalmente dadas a mulheres, nunca ouvi de homens recebendo flores, então pode ser visto como um ato sexista, advindo de uma cultura machista. Mas será que as mulheres empoderadas desgostam de receber flores? Sinceramente, não sei. E novamente tocar nesse delicado assunto, tão mais delicado hoje em dia em que as mulheres estão supersensíveis em relação ao machismo, me parece ser algo temerário e corro o risco de ofender sentimentalidades femininas. Eu, como homem, diante dessa mulher do século XXI me sinto perdido, não sei o que falar, acho que posso ofendê-las inadvertidamente. Ainda tem mais essa para me distanciar da possibilidade de namorar. Não sei nem se na carta que ensaiei para a garota da noite fui machista em algum momento. Eu como homem, me confesso inseguro perto da mulher empoderada do século XXI, temendo ofendê-las de forma que nem concebo como ofensa, talvez porque tenha a cultura machista tão arraigada na minha vida. Até flores... onde vamos parar com isso?

14h43. Publiquei a foto do Hulk no grupo Nintendo Switch, onde estão meu primo urbano, meu amigo jurista, meu amigo cineasta e eu. Só a nata das minhas relações. Ficou só de fora o meu primo-irmão. Eles piraram na figura e meu amigo cineasta me pediu para filmar eu desencaixotando o bicho, mas a caixa já foi para o lixo, então não posso mais simular isso. Nem teria coragem, admito. Fiquei feliz com a recepção calorosa do Hulk pelo grupo Nintendo Switch.

15h19. A fantástica faxineira está aqui arrumando e me pergunta o que fazer com frequência, já que a presença do Hulk, pediu uma reformulada na organização do meu quarto.

15h54. A fantástica faxineira operou sua mágica no meu quarto e mamãe agora tem uma impressora à sua disposição. Me livrei de algumas coisas que acumulava sem razão. Como isso.





15h57. Não sei porque guardava esse gancho de porta, não lembro nem de onde era. Talvez da casa do meu pai. Mas dele já guardo os óculos, sem falar das cinzas, que precisam ser jogadas na maré de Macau, como foi desejo dele verbalizado várias vezes. À medida que a minha idade avança, me vejo mais parecido com o meu pai. Com a parte ruim dele. Isso me incomoda e não sei escapar disso. Outro tema para ser tratado na terapia que novamente me esquecerei de tratar.

16h03. Incrível o impacto da cafeína no meu humor. Me sinto muito bem tendo tomado uma garrafa de café. E pedi mais à fantástica faxineira. Muitas coisas há no meu quarto que precisarei me desfazer de forma a caber todas as minhas figuras aqui. Mas depois do Hulk todas as outras figuras me parecem secundárias, menos relevantes. Mas olho para elas e suas caixas e sei que não poderia ficar sem. Se eu fosse meu primo urbano, da próxima vez que viesse aqui pelas Ubaias tentaria captar os sons da construção para criar um percussão pesada e rica na sua fábrica de sons. Mandei a sugestão para ele. É o que posso fazer. Ouxe, me bateu um súbito baixo-astral agora. Xô, estou bem, feliz com o meu quarto limpinho e organizado, com a portentosa presença do Hulk, o meu xodó. Os verdes já vão se diluindo uns nos outros devido à diminuição da claridade. O som do bate-estacas abafa a música, mas isso não me incomoda, ouço-o como música da cidade e, como disse, é um som rico, há barulho de correntes, do motor e da colisão do peso com o ferro da estaca. E é um som que ecoa, o que dá uma dimensão maior a ele. É curioso e não durará para sempre, então o absorvo enquanto a existência movida pelas engrenagens do capitalismo irresponsável me proporciona. Irresponsável porque a construtora está pouco se lixando para o impacto social que mais gente e mais carros vai causar no bairro, temo que com a afluência dos novos moradores, quando e se a obra for concluída, a área em que moro ficará praticamente intransitável. Ainda bem que não dirijo. O que faço, faço a pé. E não faço muito. Cabeleireiro, terapia, Coca. Tudo pertinho. Acho que ouvi o chiar da chaleira. Mais café a caminho. Confesso que estou com o estômago meio embrulhado de tanto café e, por isso, vou beber um copo de água com gelo. Dar uma lavada e diluída no líquido no meu estômago.

16h25. Dei uma cotovelada no Hulk sem querer, não estou acostumado ainda com o espaço que ocupa no meu quarto. Gosto do Hulk sob a luz desse horário, percebe-se ainda os contrastes de verde, mas eles não são tão gritantes, ficam mais harmônicos. Tirei uma nova foto, me perdoem por tantas imagens do boneco e saibam, que nenhuma faz jus a estátua ao vivo. Acho a câmera do meu celular inteligente até demais, ela ressaltou, deixou mais vivos os verdes do Hulk, mais do que a realidade de fato é. Curioso isso. Não sei se fica melhor assim, gosto da cor que vejo com meus olhos, mais do que as captadas pela lente. Tomei dois copos d’água. Acho que já posso voltar em breve para o café. A ostensiva presença do Hulk nesse texto é uma amostra do meu contentamento e admiração pela peça. Vi no post que publiquei no grupo de bonecos que outro brasileiro tem a peça. Achei massa isso. Deveria ter respondido a ele, em vez de só ter botado o coraçãozinho. Talvez o faça mais tarde. Por mais que perceba que tudo o que deixo para mais tarde não faço. Meu primo pediu para eu gravar o som do bate-estacas. Se recomeçar, eu gravo. Achei um dispositivo chamado “Gravador de Voz” que acho que deve fazer o serviço. O fato de dormir e não reler o que escrevi no dia anterior, me faz repetir certo temas. É a vida, só releio quando vou revisar. E geralmente não elimino as repetições. Impressionante, é a melhor palavra para definir o Hulk. Ele certamente causa impressão em qualquer pessoa que entrar no meu quarto. O cheiro dele ainda invade as minhas narinas, não deveria perder esse cheiro nunca. Cheiro de boneco novo. Bem que o bate-estacas poderia recomeçar para eu gravar para o meu primo urbano. Espero que nos reaproximemos de fato. Já me sinto mais próximo dele, como há tempos não me sentia e é uma sensação muito boa. Não consigo parar de olhar o Hulk. Hahaha. Que coisa. Hahaha. Valeu cada um dos muitos centavos que paguei por ele. O resto da minha plateia deve até estar com ciúme. Gosto de todos, mas infelizmente, galera, o Hulk é o meu xodó. Foi muito feliz já tê-lo posto em seu lugar desde a chegada, foi até o cara da DHL que colocou. Os caras chaparam no boneco. Não tem como não ficar impassível diante da visão. Um deles falou que na Nagem do Shopping Recife vende-se bonecos. Devem ser os bonecos das edições de colecionador dos games. Certamente não deve ter nenhum Sideshow exposto lá. Pode ser até que tenha algum da Hot Toys, mas até isso acho difícil, pelos valores que o bróder da DHL comentou. Sei que falo grego para quem não coleciona. Finalizarei dizendo que mandei uma mensagem de felicitação para o brasileiro que também possui o busto do Hulk. Que coisa, quando meu primo me pede para gravar o som, ele para. Talvez recomece amanhã. Nossa, amanhã já é sexta, o que me enche de dedos. Já começo a sentir ansiedade pela possibilidade de socialização. Mas preciso desenvolver a minha dimensão afetiva e isso só é possível de duas formas, a meu ver, tendo afeto por mim mesmo e interagindo com pessoas por quem nutro afeto. As duas são muito difíceis para quem eu sou/estou agora, mas a primeira se prova ainda mais difícil. Por incrível que pareça, o Hulk teve um impacto positivo na minha autoestima, não sei precisar porque, é como se fosse uma reafirmação categórica do meu universo particular manifestado de forma concreta. É uma realização pessoal para mim. Por mais ridículo que isso soe aos demais. Mas de mim para mim mesmo me gera um profundo contentamento. Acho que tomei café demais, não está mais me descendo e o pior que a fantástica faxineira fez um monte de café. Vou tomar um copo de Coca com muito gelo que essa última xícara me desceu quadrada.

Outra foto do Hulk só porque posso tirar outra foto do Hulk. Hahaha.


17h34. Voltando à dimensão dos afetos. Não sei como ser mais afetuoso com os meus amigos sem parecer falso, nem sei se preciso se mais afetuoso do que eu consigo ser, sei que a minha vontade é de não sair, mas essa vontade não me desviará da saída se esta houver. Não posso me enclausurar no meu quarto-ilha mais do que já fico, tenho que aproveitar toda e qualquer oportunidade de ver o mundo bem acompanhado. Nossa, não consigo parar de olhar o Hulk e imaginar se devo ou não colocá-lo mais alto que a altura em que está quando da reforma do quarto. Mas acho que já falei sobre isso ontem. E deveria estar tratando da dimensão do afeto. A grande revolução para a dita dimensão seria sem dúvida uma namorada. E a única pessoa possível e passível de ser minha namorada é a garota da noite. E acho que estou viajando aqui, pois ela não vai querer nada comigo, a não ser que eu revolucione a mim mesmo antes. Em todas as três dimensões de que tratamos na terapia. Ou seja, baixar o lombo, me amar e me respeitar mais. Aceitar que sou uma pessoa tão válida quanto qualquer outra, apesar da minha condição civil única entre os meus amigos. Eu tenho que botar na cabeça que não cheguei a tal condição por oportunismo ou por acaso, que eu tentei o máximo que pude, que cheguei muito perto da morte tentando me enquadrar numa coisa que não me cabia. Que cometi abusos comigo mesmo a fim de amenizar o sofrimento existencial profundo em que me encontrava. Queria incorporar com mais seriedade que sou um escritor, visto que escrevo compulsivamente, mas não consigo por ora, pois acho que para ser escritor é necessário algum reconhecimento. Não de mim, mas da obra. Acho que preciso vê-la posta em papel. A única coisa que tenho que teria possibilidade de se tornar um livro é o diário da minha internação no Manicômio. Mas não encontro nesses dias que passam o menor estímulo para digitar o restante dos escritos. Preciso colocar isso como meta e digitar um pouquinho a cada dia. Devagar eu chego lá. Sem fazer movimento nenhum é que não vou ter isso nunca. Quero pelo menos ter a obra revisada pela Consultexto, a empresa que revisava o material da agência em que trabalhava e que é aqui pertinho, na rua do CAPS. Se tiver a obra digitada e revisada, eu talvez me anime em enviá-la para alguma editora. Ou editoras. Vai que alguma se interesse. Acho que o medo do fracasso me faz retroceder. Mas é um sonho ter uma obra pelo menos revisada. Com todo o meu mal português corrigido. Só isso já me deixaria mais realizado. Isso deve custar caro, mas não é necessário imediatismo, principalmente depois da lapada do Hulk. Não sei porque o Word reconhece Wolverine como válido, mas não reconhece Hulk. Curioso e irritante. Bem, poderia parar de escrever agora e ir digitar os meus cadernos. Estou sentindo uma pulsão para fazer isso. Acho que o que escrevi acabou me motivando. Vou fazer isso. 18h07.

21h18. Acabei de digitar um caderno. Falta o terceiro, que não digitei inteiro e não sei por onde anda. Mexeu comigo. Negativamente. Que alguma força maior me ajude. Estou praticamente recaído. Estou recaído. Não queria ser internado de novo. Isso serve apenas como medida punitiva, não tem nada de terapêutico. Passar três dias para desintoxicar acho até válido, mas mais do que isso é castigo, não é auxílio. Espero que uma boa noite de sono me coloque de volta nos eixos. É uma merda ser viciado. Mas vai passar e eu apagarei esse parágrafo do meu texto. Maldita hora em que inventei de digitar o diário, foi logo o trecho da fissura. Rememorar tudo aquilo me fez tremendamente mal. Estou fragilizadíssimo para dizer o mínimo. A um sopro da recaída. Será que trairei a confiança de todos os que confiam em mim? Minha mãe, minha terapeuta, meu padrasto? Quem viver, verá.

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14h33. Graças aos céus e a uma boa noite de sono o terror passou. Não estou mais com os pensamentos que me atormentavam ontem. Meu deus, ainda bem. Iria causar um estrago sem tamanho na minha vida. Não quero falar mais sobre isso senão pode atrair e isso é a última coisa que quero. Encontrei uma boa razão para despertar, ver o Hulk sob luz natural que infelizmente a câmera do celular não capta com fidedignidade, ela estoura os verdes. Fica legal, mas eu prefiro do modo natural. Nossa, que alívio eu estou sentindo, vocês não têm ideia. O pior que eu não sei se no outro caderno, se porventura achá-lo, insista no mesmo tema. Não sei nem se é uma narrativa válida para ser publicada. Mas queria muito vê-la revisada, como já disse. E mandar para editoras, como já disse. Se fosse publicada, aí sim, poderia falar com plenitude do ser, sou escritor. Enquanto isso, sigo escrevendo o meu blog. Hoje é sexta-feira, talvez tenha saída, talvez não. Eu estou mais para o talvez não. Não há nada que queira ver no mundo, mas também acabei de acordar, meu humor embora bom, após duas xícaras de café e um copo de Coca, não está ainda disposto para enfrentar uma night. Olho para o Hulk e duvido que outra peça me encante mais do que ele. Não consigo conceber qual seria. Um busto, ainda mais do Hulk, é uma peça imponente e impactante. Não consigo vislumbrar outra peça como iguais qualidades tão exacerbadas. Gosto das linhas mestras meio geométricas dele, gosto de tudo nele. Seria o pertence que escolheria salvar num incêndio. Até porque somando-se tudo, é o bem mais caro que possuo. Se pudesse, levaria também minha mochila com o computador e o Switch. Mas em só havendo uma opção seria o Hulk. Que negócio mais besta ficar imaginando asneiras. Improdutivo e sem nexo. Acho que quero de todas as formas demonstrar como o Hulk me é caro. Ainda sinto o cheiro de boneco novo dele. Muito bom. Daqui a pouco vou ter que colocar o gelo na máquina de mamãe. Gravei o bate-estacas para o meu primo urbano, dois segmentos de um minuto mais ou menos, para ele brincar nos seus equipamentos. Captei com o microfone do computador mesmo, não sei se vai ficar com qualidade para utilizar, mas foi uma tentativa. A segunda gravação ficou mais sincopada que a primeira. Espero que ele goste. Ou não. Foi uma contribuição que achei válida, mas a validade quem dará é ele.

15h31. Coloquei lá a máquina com gelo para a minha mãe. Vou pegar Coca.

15h34. Vi que vai rolar o encontro mais louco da política mundial, Trump e o ditador da Coréia do Norte. Será um evento curioso e assustador. Se bem que tudo pode acontecer. Até algo bom sair daí. Torçamos. Tenho tanto medo do móvel onde o Hulk está apoiado arrear com o peso, seria um desastre. Não tenho meios de conseguir outro. Mas ele não é tão pesado quando aparenta. No site diz que pesa 9kg, mas acho que pesa menos. Em teoria dentro de duas horas terei que repetir o procedimento em mamãe. É a vida. Queria botar Björk para ouvir embora todo o quarto esteja preenchido pelos sons da construção. E minha mãe queira que eu fique com a porta aberta não sei por quê. Acho que vou revisar e postar esse texto e partir para um novo. Rever o momento de fragilidade em que me encontrei ontem. Ainda bem que se deu à noite. Hoje nem quero saber de cola. Isso me deixa muito, muito, muito, muito aliviado.  

17h07. Acabei de revisar. Aproveitei para procurar o terceiro caderno do diário do Manicômio sem sucesso. Tive até um longo papo de WhatsApp com minha tia-mãe a respeito do Hulk. Foi divertido. Quem sabe não a encontre hoje se o meu primo se aventurar pela noite recifense. Vi no arquivo em que estou digitando o diário que narro o que fazia nas minhas saídas de final de semana. Não sei se é um conteúdo interessante e talvez o suprima do texto final. Nossa, como queria achar o terceiro caderno. Vou dar mais uma olhada. O leitor pode achar que estou brincando com fogo ao lidar com essas lembranças de novo, mas pelo que vi do resto do arquivo, a fissura também passou lá. Vou dar mais uma procurada.

17h15. Achei! Mas não estou com vontade de digitar agora, basta-me essa conquista de ter enfim a terceira e última parte da narrativa em mãos. Terei ainda um bom trabalho até concluir a digitação. Muitas páginas me esperam. Bom, vou publicar isso.


A última parte da minha obra a ser transcrita. Haja saco para digitar tudo.



sábado, 3 de março de 2018

IDA AO MANICÔMIO, MAS SÓ PARA CONSULTA


Estou escrevendo mal ultimamente. Pior do que já escrevia, quero dizer. Não gosto de nada do que escrevo. Estava ou estou, sei lá, com o plano de narrar uma semana da minha vida entremeada de algumas memórias, mas não estou conseguindo me satisfazer com nada que produzo. Já é a terceira tentativa que abandono e por isso vim para cá, porque aqui me cobro menos. Me caibo mais. Hoje foi dia de ir ter com a Doutora no Manicômio. Tirei algumas fotos da área da recepção com o celular de mamãe, não havia levado o meu, estava prestes a descarregar. Ei-las.




O nome do Manicômio finalmente revelado




Propaganda da Clínica de Drogados



Nossa, não estou com vontade nem de escrever. Isso é mal. Não posso armar isso para mim, eu não mereço. Estou praticamente recaído. Preciso me reerguer antes de ser dominado pela fissura. Não estou com fissura, estou apenas com um pensamento persistente na cola. Tenho que me focar que tudo o que vai me dar é um apagão e uma internação. Pois é, das últimas vezes que cheirei tive apenas apagões, foi como um tempo que passou e não vivi. Acho que cheiro com tamanha voracidade que passo do ponto e fico quase inconsciente, isso não é bom. Acho que o fato da minha mãe estar pressentindo uma recaída ou assim me pareceu a sua fala para a Doutora hoje na consulta, me dá o que percebo como aval para cheirar, visto que ela já espera por isso. Não posso pensar assim. Será que já estou recaído e só eu que não percebi? Quero crer que não. Digamos que estou fragilizado, mas não quero recair ou ser internado novamente. Ainda mais em troca de um apagão. Preciso tirar essa ideia da cabeça. Não quero mais fissura na minha vida.  Mamãe disse também que eu estava mais triste e antissocial. A Doutora de pronto perguntou se eu queria passar uns dias na Clínica de Drogados enquanto prescrevia um aumento da dosagem das minhas medicações. Como já devo ter dito, acredito que não caí em depressão ainda porque meu emocional está equilibrado quimicamente, graças à Doutora. Acho que essa parte está correta, não vejo como um aumento da medicação possa me ajudar. O que preciso é de terapia, o problema está muito mais no psicológico que no psiquiátrico. De qualquer forma, posso estar enganado e esse boost nos remédios faça eu me perceber diferente e ver a vida de uma forma diferente. Acho difícil, entretanto. Quer me ver daqui a 15 dias, acho que é o tempo de o remédio fazer efeito. Se eu pudesse levar o computador para escrever, até que valeria a pena recair e ir para a Clínica de Drogados. Nossa, não posso pensar nisso, até porque o computador não é possível, eu acho. E sei que ficarei mofando lá até a viagem. Quero não, não quero sair do meu quarto-ilha, que dirá ir para um internamento e de lá para uma viagem. Estou fora.

16h37. Minha memória está muito ruim, não sei por que cargas d’água. Eu já ia mencionar que havia desistido do texto uma vez mais sem recordar que havia aberto o post com essa informação... ozzy

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16h30. Comecei um novo texto ontem, mas desgosto dele também e me decidi que não começaria outro, que seria aquele ou nenhum. Acho que vai dar nenhum. Hahaha. Publicá-lo-ei como está em algum dos meus blogs capilares, como chamo os blogs que registro com nomes que acho interessantes e redireciono aqui para o Jornal do Profeta. Me sinto mais confortável, muito mais confortável escrevendo para cá que para um suposto livro. Livro, se houver, vai ser o diário que escrevi na minha última internação no Manicômio. Preciso arrumar coragem para digitar o resto. Estou ouvindo, para variar, “Utopia” de Björk. Recebi um comentário de um grande amigo meu, amigo de infância, a respeito do meu último post e achei superpertinente. Achei muito legal ele ter lido o texto todo e ter empregado o seu tempo em me aconselhar. Tenho um post sobre a última sessão de terapia que acho que publicarei também em um dos meus blogs capilares. Por algum motivo que me escapa, me sinto menos antissocial desde ontem. Talvez porque desde ontem permaneci como eu queria, dentro do meu quarto-ilha escrevendo. Mas escrevendo o hipotético livro que não mais será. Nossa, como acho mais fácil escrever aqui. É o mesmo programa, o mesmo Word, o mesmo escritor, no mesmo quarto-ilha, mas, por algum motivo, no outro projeto a minha visão acerca do texto mudava completamente. E escrevia pior, ou desgostava mais do que escrevia, não sei. Só sei que não estavam me agradando nem o fazer nem o resultado. Então resolvi encerrar o projeto e voltar para cá.

16h49. Minha mãe chegou. Contou de um bebê de uma aluna que morreu do nada no nono mês de gestação. Que história triste. Ainda vão ter que enterrar o pequenino cadáver. Curioso é que é a segunda história que ouço do mesmo fato num intervalo de poucos meses. Acho uma situação para lá de anormal para que eu tenha conhecimento de dois eventos semelhantes num curto espaço de tempo. A tarde cai nesta parte do mundo que me cabe. Tirei uma foto da janela do quarto-ilha.





16h57. Se não tiver saída hoje, acho que vou escrever lá embaixo. Aliás, acho que não vou. Estão sugerindo um cruzeiro com toda a família no grupo da minha família materna. Não encaro a ideia com a repulsa que se faria supor. Sempre tive curiosidade de viajar dessa forma na suposição que confinado no navio, eu teria a oportunidade de me aproximar e me apaixonar por alguma garota. Ilusão.

17h03. Estou meio sem assunto, até porque narrei tudo no texto que escrevia. Bom, me comprometi a de 17h30 mandar um WhatsApp para o meu primo-irmão perguntando de seus planos para hoje à noite. Estou temeroso, entretanto, que ele esteja ficando saturado da minha onipresente companhia em todas as suas saídas. Tomara que não. Isso seria o fim da minha vida social praticamente. E me comprometi com o meu primo urbano de me reunir com ele aqui no quarto-ilha para jogar Snipperclips e, quem sabe instalar o programa de música que ele usa no meu computador para eu poder brincar. Não acredito que eu serei capaz de produzir algo, a não ser que seja só usando o mouse. Se tiver atalhos de teclado eu estou fora. Acho que ele perderá tempo me ensinando, mas, por outro lado, é uma experiência válida, não há nada que eu conceba que a invalide. Estou meio cheio de dedos de lidar com o meu primo urbano, mas estou mais tranquilo do que estava na terça quando ele me fez o convite para encarar o jogo de Nintendo Switch. Não sei porque esses receios despropositados, mas é o que trago em mim agora e o que encontra voz aqui. Abri as persianas tarde demais, a luz cai sensivelmente dando espaço para a vindoura noite. Pode ser que o programa seja mais fácil que o ZBrush que instalei e só consegui deformar uma bola sem nenhum resultado estético aceitável. Não encontro motivação para mexer no programa. É complexo demais para mim e não vejo muita utilidade em ter esculturas 3D salvas no meu HD. Prefiro colecionar as figuras devidamente esculpidas moldadas e pintadas. Sólidas e manifestas no mundo real, em uma palavra. Por falar no maravilhoso mundo dos bonecos, vi que me excluíram dos grupos mais importantes. Pouco se me dá, ou me incomoda um pouco, pois gostava de ver os debates nos grupos. Minha contribuição para o maravilhoso mundo dos bonecos foi feita, entretanto, na forma das diversas entrevistas que fiz quando estava realmente dentro do colecionismo.

17h29. Vou mandar a mensagem para o meu primo-irmão.

17h36. Ainda não tem planos para a noite. Que pena. Torçamos que sua sede por sair conjure algum programa em sua cabeça. É incrível como me sinto mais desenvolto e livre para escrever aqui que no projeto de um livro. O texto flui muito melhor aqui. Isso deve ter algum significado. Ainda bem que a paranoia da cola ficou no dia de ontem. Mamãe ter dito de sua apreensão mexeu comigo entendi como uma permissão, quase um pedido para acabar com a angústia dela de não saber quando a recaída vai se dar. Só que não há recaída nenhuma nos meus planos de vida. Meu plano é continuar escrevendo aqui. Sair ocasionalmente e assim ir levando a vida. Definitivamente não estava nos meus planos viajar, mas nada posso fazer agora. Espero que respeitem o meu desejo uma vez mais e não digam aos vizinhos da minha irmã que estou chegando. Se alguma revolução no meu quadro social se operar, eu mesmo comunico aos vizinhos que cheguei. Deixo uma nota na caixa de correio deles. Eles são muito legais e simpáticos, mas não tenho disponibilidade para ir ao apartamento deles, sem nenhum conteúdo novo, passar uma hora ou duas, tentando me fazer entender em inglês, que há muito não pratico. Para mim é uma situação que me soa extremamente inconveniente e constrangedora. Mas tudo pode mudar, me sinto menos antissocial nesses últimos dois dias, o que é um alívio sem tamanho. Não sei se quando for posto à prova, caso saia, se essa desenvoltura ampliada que sinto em mim se manifestará para os demais. Creio que sim. Estou animado com essa possibilidade ao menos. A vida tem apenas que me oferecer uma oportunidade. O aniversário do meu amigo será uma, mas queria uma hoje. Talvez não haja. Tenho que me conformar desde já com esse prospecto, pois é o que se desenha à minha frente. A noite praticamente desabrochou, meu quarto já está escuro, não consigo enxergar a minha plateia cativa, o Coisa, o Homem-Aranha Simbionte e a Rei Ayanami. Pobres coitados, tendo que lidar com as minhas manias sonoras. Já é a terceira vez seguida que ouvem “Utopia” de Björk hoje. Hahaha. Não quero ouvir outra coisa no momento. Mas penso em encarar um Mario Odyssey ainda hoje.


A bancada do escritor com sua plateia cativa, Homem-Aranha Simbionte, Rei Ayanami e o Coisa.


18h01. Sem assunto, acho que vou fumar um cigarro e abrir uma nova Coca Zero. Já derrubei dois litros hoje. Essa vai ter que durar até a hora de dormir. Pensando em tão longo prazo e prevendo que se começar a beber agora não vai dar para chegar até as altas da madrugada, eu vou de água no momento. Mas o cigarrinho se faz necessário.

18h11. Fumei o cigarro e pus água conforme previsto. Gosto muito da pose do Homem-Aranha Simbionte, é uma escultura simples, mas com resultado muito feliz. Não se compara em termos de detalhe às figuras de ¼ mas tem os seus encantos. A existência está um tanto tediosa agora, mas não muito. É só falta de assunto. Mas, se penso, há assunto, eu preciso só estar mais atento ao que sai da minha cabeça. Penso no aniversário de amanhã e projeto a presença da garota da noite nele, o que é altamente improvável, por mais que ache que a primeira vez que a encontrei foi justamente no outro aniversário do meu amigo professor. Puxa, já faz um ano. Ela ainda estava com as madeixas longas. O que escreveria para ela se fizesse uma carta? Não me sinto preparado para isso ainda. Será que interagiria com ela se porventura se fizesse presente no evento? Como estou agora, acredito que sim, o que é para lá de ótimo tendo em vista quem eu fui nas últimas semanas.

18h24. Mandei uma mensagem que estava me coçando para mandar há alguns dias para a nossa amiga filósofa, um elogio merecido que acho que não vai ofendê-la nem mudar muita coisa em seu mundo, mas que achei por bem repartir. Se não for, está feito, não tem mais volta. Meu primo-irmão disse com um “Beleza, homem” que me avisará de qualquer programa que surja. A vontade de jogar Mario Odyssey cresce em mim. Tenho uma lua simples para pegar. Fato é que estou pirangando o jogo ou isso é uma desculpa para não jogá-lo. Acho que pegarei a lua e jogarei o Lost Kingdom. Não agora, deixa a vontade aumentar um pouco mais. Se aumentar. Liguei o Switch. Vou encarar, pelo menos a lua que eu já sei como pegar.

19h44. Joguei Mario Odyssey até agora, peguei até algumas luas. Esqueci de pegar a que havia me proposto no parágrafo anterior. É a vida. A essa hora e sem planos ainda por parte do meu primo-irmão, isso significa a meu ver que não vai rolar nada hoje. Não sei se o comentário que eu fiz para a minha amiga filósofa vai pegar mal ou não, embora ache que elogios raramente peguem mal. Sem conteúdo nenhum para escrever.

19h51. Quero sair, mas não sei para onde, talvez dar um rolé na Praça. Acho que não. Meu deus, depois do Mario o tedio bateu pesado. Bom saber que depois da adrenalina e recompensa de uma sessão de Mario é possível que o resultado de sair do jogo seja o tédio. Interessante que não estava com saco de jogar mais também. Acho que a minha avó está na mesma vibe que eu, meio antissocial, de não querer sair do seu cotidiano. É uma pessoa que mora sozinha. Acho que o isolamento faz isso com as pessoas.

20h00. Meu padrasto falou “Você quer que eu vá embora daqui? Então melhore.” Fiquei de cara com essa possibilidade cruzar a cabeça dele, essa ameaça. Não sei se mamãe saberia gerir a casa sozinha. Gerir sua vida sozinha. Mas ele falou da boca para fora. Taí, hoje eu queria sair, ver gente, que coisa mais rara. Deveria ser aproveitada. Não fora tão tarde, eu acho que passaria na casa da minha tia-mãe para pegar os jogos e dar uma saída daqui do quarto-ilha.

20h21. Minha mãe me chamou para jantar e preparou uma deliciosa farofa que comi com feijão preto. Muito bom. A comida me pesou na barriga, mas ainda não me bateu sono. Só de pensar em tomar banho e me aprontar para sair me bate preguiça. Melhor focar na preguiça que no fato de que não sairei hoje. Me deu até uma vontade de ver “Logan” de novo, mas muito fraca. Estou entediado. Não é o pior sentimento do mundo, tampouco é o melhor. Vou pegar mais Coca e ouvir de mamãe. Não, não vou agora. Ou vou? Vixe, o Jornal Nacional me lembra o Manicômio. Me peguei pensando agora no meu ex-psicólogo. Em quanto da vida dele é condicionamento. Autoimposto condicionamento. Condicionados todos nós somos pela vida. Pela rotina, mais precisamente. A repetição e reforço de padrões comportamentais. Sei lá o que estou dizendo. Acho que o quero dizer é que meu ex-psicólogo faz um grande esforço para ser quem é e eu não faço esforço algum para ser quem sou. Acho que essa é nossa grande diferença. Ele se disse frustrado com a psicologia há muito tempo, só que aprendeu a aceitar essa frustação. Curioso comentário. Caramba eu só sei fazer isso, escrever essas baboseiras no Word. Se me desvio um pouco e vou tentar escrever algo outro, já sinto dificuldade, já acho que ficou ruim, nossa quero fumar um cigarro com Coca-Cola. Acho que vou fazer isso.

20h50. Fiz o que me propus. Estou entediado. Minha vontade é deitar e dormir. Ou tomar um banho bem relaxante, deitar e dormir. Acho que só deitar e dormir. Mas vou acordar no meio da noite. E para fazer o quê? Voltar a escrever? Se nem assunto tenho.

20h59. Uma mulher ontem no Manicômio perguntou em que eu tinha fé. Calei a minha fé e me disse materialista. Vou dar um tempo em Björk e ouvir SugarCubes, o que não é bem dar um tempo para Björk bem da verdade.

21h03. Botei SugarCubes e não me agradei.

21h07. Me acostumei mais. Nossa, como queria que o meu primo-irmão me contatasse. Não me entenda mal, eu vivo a vida que escolhi para mim, mas às vezes bate o tédio e a vontade é fazer algum movimento para combatê-lo, só que me vejo sem alternativas atrativas. Acho que o melhor a fazer é me deitar mesmo. Vou ligar o ar.

21h22. Minha mãe fica a me perguntar se eu estou bem. Agora não estou muito. Também não estou mal, fui só pego por uma maré de marasmo na minha vida. O que fazer? Vou comer até encher a barriga quando o casal acabar e vou me deitar. Não há muito o que deseje fazer acordado. A essa hora não há programa nenhum a ser feito. O que é uma pena. Não quero ir à Praça, embora ainda esteja em tempo. Sozinho? Não tem muita graça ou sentido. Ver as gatinhas? Mas para que ver se não posso pegar, abraçar, beijar? Amar? É bom para desanuviar os olhos e nada mais. Lembrei agora de uma menina, das mais lindas que já vi, tinha traços asiáticos e era muito, mas muito bela. Na época ainda tentava trabalhar na agência e estava com o meu amigo publicitário, ele a viu. Eu não resisti e disse para ela, você acaba de fazer o meu dia muito mais bonito ou coisa que valha. Ela sorriu um luminoso sorriso e agradeceu. Nessa época eu não era tão introvertido quanto me tornei. Lembrando que introvertido é um rótulo que eu coloco em mim mesmo. É como me vejo. Não sei se pode ser revertido, a esperança é que sim.

22h22. Uma hora se passou rápido, graças. Estava vendo os e-mails promocionais e os apagando. Nem completei a operação, tive paciência não, por mais que a maioria eu tenha apagado sem ver. Que fato irrelevante. É assim que a vida se me afigura esta noite, irrelevante. Estava pensando enquanto fumava o meu último cigarro do dia em como a vida demora para chegar ao fim. Aposto que quando eu mais desejar estar vivo, morrerei. A existência tal qual a percebo gosta de ironias sórdidas como essa. Arre, estou falando sandices. É pura falta do que dizer e do que pensar. Minha mãe está sendo um anjo para mim ultimamente. Sou só gratidão a ela. Ela está me respeitando e me aceitando de uma forma sem precedentes na nossa história. Eu tento retribuir, mas sei que estou sendo deficitário nesse sentido. Não vou sentir culpa, não preciso disso. Tenho demonstrado gratidão e ajudado sempre que requisitado.

22h33. Me perdi na internet de novo. Acho que vou me deitar. O que queria dizer? Que o tédio me consome nessa noite de sexta-feira. A melhor opção que tenho, já que não consigo achar substância para escrever, é me deitar para dormir. Só que não estou com sono. De toda sorte vou botar o pijama.

22h38. Estou devidamente pronto para dormir. Só falta me deitar.

22h53. Continuo sem sono. Para ser sincero, estou mais desperto que antes. É o hábito, eu acho. Eu quase liguei o Switch agora, estiquei meu braço para alcançá-lo, mas o impulso desapareceu no meio do gesto. O que pensar da vida dessa forma? É de uma inutilidade tremenda. Tenho quase todos os meus desejos satisfeitos dentro das condições em que me encontro. Coloquei o “Utopia” de novo para tocar. Acho que vou pegar mais um copo de Coca. Vou.

23h02. É o último copo do negro líquido que pego. Vou me deitar em breve.

23h42. Tentei ficar deitado para ver se pegava no sono sem sucesso. Dentre as inúmeras inutilidades em que pensei a mais inútil delas foi imaginar quantas pessoas peidam enquanto andam no shopping. Hahaha. Acho que vou pegar outro copo de Coca. E comer um sorvete de chocolate com Ovomaltine e farinha láctea.