sexta-feira, 9 de março de 2018

TERAPIA III E HULK!


Foto mais brega do mundo, dono feliz ao lado do seu brinquedo.



13h27. Eu uso muito a dimensão racional, deixando de lado a dimensão afetiva e a dimensão corporal. Ju sente que há algo desencaixado em mim. Em quem eu sou, eu preciso me perceber e me definir melhor, definir qual é o papel desse ser que não é só mente, é também carnes, ossos, veias, coração. Estar mais atento aos sinais do meu corpo. Falei que a cola andava me rondando, mas ela conseguiu espantá-la. Nós conseguimos espantá-la. Graças. Não quero nem falar desse assunto para não o trazer aos holofotes do meu ser. Como me sinto? Com obrigações e não gosto delas. Aliás com uma obrigação, andar. Não sei se vou andar. Não daqui até segunda, dia da nossa quarta sessão. Disse que me sinto infantilóide por ter 40 anos e não ter emprego, mulher, filhos, carro. E a verdade é que não quero nada disso. Estou com sono. Falamos até do Hulk. Por sinal cadê o cara da DHL que iria ligar para mim? Da última vez ele ligou por volta das 14h30, são 13h53. Vou pegar Coca, estou meio sem cérebro, acho que é a falta de cafeína. Estou sem confiança em mim mesmo, acho que é nisso que sou mais infantil. Adultos são seres mais autoconfiantes. Houve um momento em que me disse em estado de mania, mas fiquei em dúvida se era estado de mania mesmo ou se eu era uma pessoa mais sociável mesmo. Acreditei mais na segunda hipótese. Foi o episódio da minha primeira viagem a Munique, quando escrevi uma carta de despedida para todos os moradores do prédio da minha irmã e coloquei nas caixas postais deles. Não faria nunca isso hoje em dia. Acho inclusive que foi um tanto excessivo da minha parte, por isso suspeitei da mania. Ju, disse que estar em mania ou não faria toda a diferença sobre a sua ótica em relação ao episódio, eu disse que achava que não estava, mas não tinha certeza. 14h21. Se a DHL não ligar até as 14h38, eu ligo para eles. Melhor ligar logo, né? Acabar com o suspense.

14h24. “Esse número que você ligou não recebe chamadas ou não existe”, ou seja, estou na dependência de eles me ligarem. O suspense continua. Enquanto isso, que posso dizer mais sobre a terapia? Falei da agonia profunda que me deu quando fui pegar o elevador para ir à casa do meu primo. Falei da parte da troca com o outro, que achava que havia me doado mais nessa última saída, mas nem sei se isso se deu mesmo. Acho que sim. Mas muito pouco ainda. Sempre fui mais de assimilar e indagar do que me proferir.





16h16. O Hulk está aqui! Chegou há mais ou menos uma hora, esse tempo todo passei a admirá-lo. Consegui botar no lugar da impressora e dos CDs, que estão no chão à espera da fantástica faxineira. É uma peça gigantesca e impactante, as outras empalidecem em comparação. Eu não poderia estar mais feliz. A pintura está decente e realmente acrescenta profundidade e vida ao busto. A base não é feia. Eu não consigo parar de olhar. Até o cheiro é bom. Para mim é de longe a melhor escultura do Hulk já feita. Há algumas falhas pequenas no molde, na parte das costas, mas nada de gritante. Para os que reclamavam de que ele não era verde o suficiente, ele parece bem verde para mim. É a realização de um sonho. A escultura atinge o perfeito equilíbrio entre o hiper-realismo e o visual de HQ. É simplesmente fantástico. Será um prazer imenso escrever aqui e poder olhar para ele todos os dias. Com esse acontecimento, a terapia meio que foi para o espaço. Eu só posso imaginar o trabalho que deu esculpir cada poro, cada marca da pele. É um trabalho de escultura estupendo. E feito à mão. Adoro peças feitas à mão, embora tenha algumas modeladas por computador. O Hulk rouba a atenção de qualquer um que entre no quarto. Impossível não notar a enorme presença da peça. E logo na entrada assim. Será a minha carranca. Me protegerá das forças do mal que porventura quiserem se arriscar a entrar no meu quarto. Hahaha. Foi muito melhor tê-lo tirado já da caixa e expô-lo. A caixa tomaria um espaço enorme do meu quarto. E não poderia ficar olhando para ele, como posso agora. Mandei até para o WhatsApp da minha família materna. E para o meu primo urbano. E para o meu primo-irmão. E para os meus irmãos. E para o meu cunhado. E acabei de mandar para a minha tia-mãe, agora que estava revisando. Não adianta, eu escrevo uma frase e fico olhando para ele. Nem acredito que está aqui no meu quarto-ilha ao meu lado. À medida que a luz diminui, já são 17h11, os contrastes de verde vão se perdendo, curioso isso. Mamãe quase paga duas vezes a tributação absurda da figura. Foi por pouco. Estou que nem pinto no lixo. Espero nunca me acostumar com a visão do gigante esmeralda.





17h33. Postei no grupo de bonecos que frequento as fotos que aqui publico. Precisava provar ao maravilhoso mundo dos bonecos que eu sou um colecionador. Sempre houve essa dúvida em relação à minha pessoa, pois nunca postei nada da minha coleção. E nada como um busto em tamanho real do Hulk para provar isso de maneira grandiosa. Estou achando interessantíssimo como a falta de luz priva primeiro a visão das cores e só depois das formas. Nunca tinha me apercebido disso até o Hulk.

17h54. Agora que anoiteceu, estou o olhando sob a luz do teto. Muito melhor com a luz natural. Mesmo assim, eu simplesmente amo essa estátua. É, dos poucos bens que eu tenho, um dos mais preciosos e queridos, desde já. Desde que o vi quando o cara da DHL abriu a caixa. Os tons de verde se diluem nessa luz amarelada do meu quarto. Não consigo tirar foto que faça jus a imagem. Desisto. Vou publicar só as três mesmo. Acho meio babaca tirar foto junto com o boneco, mas não resisti. Vou tentar me focar aqui. Acho que vou revisar o outro post.

19h40. Revisei e postei. Agora vou comprar Coca.

20h15. Voltei da Coca e estava a admirar o Hulk. Como mais novo membro da minha plateia, ele será iniciado em Björk agora. “Utopia” nele.

20h19. Está difícil escrever hoje, estou enamorado do busto do Hulk. As linhas em alguns momentos quase geométricas me encantam. Ainda é difícil acreditar que ele esteja aqui na minha bancada. Sua cabeça é consideravelmente maior que a minha. Ele é tudo o que esperava. E esperava muito dessa peça. Foi o melhor presente que poderia ter me dado. Não consigo pensar em coisa outra que me cause tamanho agrado. Tamanho encantamento. Só uma namorada mesmo. Olhar para ele me faz esquecer quaisquer problemas, quaisquer dilemas. A fantástica faxineira vai achar horrível, até porque ela não gosta do Hulk. Hahaha. Mas eu consigo ver beleza na besta. Eu considero uma obra de pop arte. Uma obra-prima. Dificilmente o escultor terá o mesmo sucesso uma vez mais. Vi que ele está fazendo um busto do Wolverine, mas já se repete nos padrões e esses não cabem tão bem quanto no Hulk. O Hulk é único, incomparável, está para os bonecos como o Super Mario Odyssey está para os games, ou seja, são os suprassumos de cada área. E fiquei surpreso com a pintura. Está longe de ser perfeita, mas está boa, muito melhor do que eu esperava. Pena que na luz amarelada os tons de verde se misturem. Se me for possível vou querer iluminação branca para ele. Nossa, como gostei do Hulk. Olhar para ele me causa profundo bem-estar. A existência tem dessas coisas maravilhosas e sou profundamente grato por isso. E grato à minha mãe que levou com serenidade todo o processo.

20h50. Meu padrasto aparentemente chegou. Mas não consigo tirar os meus olhos e meu pensamento do Hulk. A melhor definição já foi dada, estou enamorado da estátua. Eita, publicaram o meu feedback na página da estátua no site da Sideshow. Coroou o meu dia. Nem esperava por essa. Agora estou ainda mais feliz. Felicidade que custou caro, mas que vale cada centavo. Como citava meu pai, “a thing of beauty is a joy forever”. É uma peça que parece custar o quanto custa, na minha opinião. Menos os impostos, digo. Não parece overpriced como algumas outras que circulam por aí. Embora muitas pessoas achariam um absurdo pagar o que paguei por ela, elas entenderiam, o que não se dá com as estátuas de 1/4. Já estou bocejando de sono. Acho que porque acordei às 10h00. Mas vou tentar voltar um pouco a terapia. Ju disse que existe algo desencaixado em mim, ela não nomeou o que era, embora eu suspeite que ela saiba. Se eu conseguisse me lembrar, perguntaria qual era o seu palpite, onde estava o desencaixe. Porém sei que daqui para lá terei esquecido isso, o que é uma pena. Ou não, esse é o fluxo da minha vida. Se for realmente relevante para mim, eu hei de me lembrar. Descobrirei. Pode ser que ela mesma toque no assunto. Falando da dimensão do afeto, eu me acho ao mesmo tempo extremamente carente e esvaziado de afeto, como se a falta fosse tanta que tivesse me deixado dormente, é a melhor descrição da minha dimensão afetiva, dormente de tanta carência. Sobre a dimensão do corpo, dou a ele todo o conforto que precisa e nenhum exercício. O que corrobora para a teoria de Ju que eu só cuido da dimensão mental. Pela forma que ela falou, eu acho que ela pensa como eu em relação às ideias, que todas já existem, falta apenas alguém com as qualidades e características certas no tempo certo para apreendê-las. Mas isso sou eu colocando palavras na boca dela, ela não verbalizou isso. Disse que tudo estava no ar, por aí. No éter. Aí olho para o Hulk e penso que essa criação só poderia ser feita por esse escultor por causa do estilo dele, acho que essa coisa de estilo, que cada pessoa tem um traço diferente, como tem uma caligrafia diferente, é inerente da pessoa não é apreendido de algum lugar é nato. Outra pessoa pode até imitar e imitar bem, mas aí estará reprimindo o próprio estilo, a própria voz. O que nos traz até a escrita, especificamente a escrita deste blog, será que eu tenho uma voz própria? Eu não a reconheço, apenas uso as palavras que estão aí disponíveis para todo mundo. Não consigo perceber um estilo meu, algo que diferencie o meu texto dos demais. Isso me frustra um pouco. Por mais que escreva e escreva eu não acho que me diferencie em nada de qualquer outro joão ninguém que tenta também um lugar ao sol. Por isso mesmo nunca conseguirei o meu lugar ao sol. Aliás, já tenho o meu lugar ao sol, este aqui, pena que o sol, a luz do olhar dos leitores não recaia sobre mim, mas tenho um espaço meu, um espaço querido e nutrido com o que de melhor tenho a oferecer. Se não é suficiente, não há muito mais o que possa fazer. Voltando à terapia, como desenvolver a parte do afeto? O físico eu sei, começar a andar e fazer uns marinheiros. Mas não encontro motivação para isso no momento. Quando a garota da noite se me afigurava como uma distante possibilidade, eu sentia motivação para tais coisas. Agora que ela está a anos-luz de distância é apenas um ponto brilhante no firmamento do meu ser, fica mais difícil. Como me reaproximar dela? Certamente não publicando uma foto minha com um boneco. Hahaha. Amanhã vou fazer uma coisa pelo meu corpo, a barba, quando a fantástica faxineira vier arrumar o meu quarto. Vou fumar um cigarro de verdade.

22h28. Fumei. Cruzei com a minha tia-vizinha e ela me falou que a minha prima de Natal abandonou o emprego e vai cursar Teologia. Sem dúvida uma guinada inusitada na sua vida. Acho ela meio maluquete, mas ao mesmo tempo muito dona se si e de suas vontades. Não sei se gostaria de ser como ela, mas pelo menos um pouquinho eu gostaria, de dar a cara a tapa, não só no âmbito desses textos, mas na vida de fato, na vida com as demais pessoas. Tal atitude até me motivou, mas já desmotivou pela falta do que dizer, a escrever a carta para a garota da noite. Vou ensaiar aí embaixo para ver no que é que dá.

Garota da noite, é como lhe chamo no meu blog – e você aparece nele com uma frequência inesperada até para mim – venho por meio desta não sei bem nem o quê. Talvez me repartir um pouco mais com você. Por que, se só cruzei com você três vezes na minha vida e você só me dirigiu meia frase quando lhe perguntei porque você trabalhava num hospital e você só começou a responder até que um amigo seu lhe chamou a atenção e você se desconectou completamente de mim. Não sei se errei na abordagem, não sei muito dos relacionamentos modernos, sou meio romântico, sabe, essa coisa fora de moda e arcaica. Mas sou assim. Pelo menos não vejo você como um cabide de buceta, um objeto a ser consumido, nessa época em que até as relações são consumistas e superficiais. É o sexo pelo sexo e um abraço. Ou pelo menos é assim que percebo. Não é o que busco. O que busco é algo muito mais precioso, na minha romântica e talvez equivocada visão, que é intimidade, companheirismo, cumplicidade. Claro que busco paixão também, mas bem sei que a paixão é um fogo ardente que não dura muito, mas também sei que o que vem depois, embora mais brando, é igualmente encantador. O tempo passa e eu continuo só, por conta da timidez e uma escassez de autoconfiança. Fato é que, por alguma razão que me escapa a razão, todas as projeções que faço de um relacionamento – essa palavra tão temida nos dias de hoje – é você quem aparece como protagonista ao meu lado. Esse texto está ficando uma grande bosta, mas estou escrevendo de coração e algo me impele a continuar, talvez seja a falta de senso de ridículo, talvez seja porque vi em você uma pessoa especial que me calou fundo à alma. Não acredito em alma, é só um recurso linguístico que às vezes gosto de usar por me parecer poético. Me perdi nos pensamentos. Mas acho que a razão desse texto é dizer que estou disponível para você e que se você quiser aproveitar e experimentar algo diferente do que vem experimentando, se quiser me conhecer mais a fundo e descobrir se é possível ou não construirmos uma relação, basta estender a mão, me chamar, pelo Facebook mesmo, e podemos nos aventurar nisso juntos. Pode não dar em nada, pode ser que descubramos não ter nada a ver um com o outro. Talvez você já tenha um preconceito em relação à minha pessoa depois de tudo o que contei do meu passado negro como a asa da graúna. Mas os tempos mudam, as pessoas mudam e conseguem superar adversidades. Eu acho que me enquadro nesse grupo. Neuróticos acredito que nós seremos até o final da vida, o que não faz muita diferença, é só administrar tais neuroses. Ah, o final da vida, como com a passagem do tempo ele se aproxima em galopada cada vez mais veloz. Um ano para mim hoje me parece durar um trimestre. E isso me assusta, ver o tempo passando e eu repleto de solidão. Sinto falta de trocar carinhos, confidências de ter uma saudade boa, que é a saudade que tem data e hora para acabar. As saudades sem dono, sem destinatário, são saudades tristes. Tenho o meu quinhão delas. De pessoas que partiram para nunca mais. Mas trato aqui da saudade dos enamorados. Sei que não faço o tipo atraente. Não sou o nosso amigo bonitão ou o nosso amigo cervejeiro, mas acho que tenho guardado em algum recôndito do ser algo muito bonito para lhe oferecer. Só sei que com a timidez quase patológica que me aflige nesses dias em que vivo, eu preciso da sua ajuda, para me resgatar e reacender o brilho que trago em meu peito. Não sei se isso faz sentido para você, mas gostaria que você considerasse com carinho essa proposta que lhe faço. Eu sei que sou um sujeito estranho, sui generis até, mas acredito que nessa época de experimentação das pessoas, você ainda não experimentou nenhuma com o meu sabor. Como café sem açúcar ou bons vinhos é um gosto adquirido, mas que acho que vale a pena ser provado. Estou de mãos vazias e talvez continue assim, a não ser que você entrelace as suas entre os meus dedos. Não sei mais o que dizer. E acho que não repartirei isso com você. É ridículo demais. Mas, como diz o poeta, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Embora o que tenha por você não seja amor. Amor, amor é uma construção a dois. Que só pode existir com o consenso das duas partes. Espero ao menos que não fuja de mim como da última vez em Olinda. Você nem deve lembrar, mas o frio na espinha e o nó no estômago que senti ao ver você não me deixam esquecer. Bom, saiba que você povoa os meus pensamentos com uma persistência que eu mesmo não compreendo. E se quiser povoar a minha vida com sua graça estou à disposição. Você é minha primeira e única opção. Tá bom. Chega.

23h44. O Hulk ainda me impressiona e ainda é difícil de acreditar que a estátua que mais desejei está na minha bancada e aí ficará se possível enquanto eu habitar o meu quarto-ilha. E o levarei depois para onde quer que o destino resolver me colocar. Não sei como, mas alguma maneira há de haver.

0h28. Vou me retirar. Amanhã continuo ou não. Publico só isso mesmo.

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13h36. O bate-estacas da construção em frente à varanda do meu prédio martela incansavelmente. A fantástica faxineira odiou o Hulk, disse que não dormia nunca num quarto com a figura e que pagaria para não tê-la em casa. Hahaha. Eu, por outro lado, me deleito com a visão. A luz natural realmente revela todos os tons de verde do busto. Hoje é o Dia Internacional da Mulher, essa que é a manifestação mais incrível do universo para um ser humano do sexo masculino como eu. Mas me privo de fazer elogios porque posso soar machista, as mulheres de hoje têm uma tolerância muito baixa. Deixo a imagem que a minha amiga mais anti-machista que eu conheço publicou no grupo em referência ao dia de hoje.





É com mensagens de empoderamento do sexo oposto como essas que me fazem sentir anacrônico. Será que até o romantismo das flores é uma atitude machista? Se pensarmos que geralmente flores são tradicionalmente dadas a mulheres, nunca ouvi de homens recebendo flores, então pode ser visto como um ato sexista, advindo de uma cultura machista. Mas será que as mulheres empoderadas desgostam de receber flores? Sinceramente, não sei. E novamente tocar nesse delicado assunto, tão mais delicado hoje em dia em que as mulheres estão supersensíveis em relação ao machismo, me parece ser algo temerário e corro o risco de ofender sentimentalidades femininas. Eu, como homem, diante dessa mulher do século XXI me sinto perdido, não sei o que falar, acho que posso ofendê-las inadvertidamente. Ainda tem mais essa para me distanciar da possibilidade de namorar. Não sei nem se na carta que ensaiei para a garota da noite fui machista em algum momento. Eu como homem, me confesso inseguro perto da mulher empoderada do século XXI, temendo ofendê-las de forma que nem concebo como ofensa, talvez porque tenha a cultura machista tão arraigada na minha vida. Até flores... onde vamos parar com isso?

14h43. Publiquei a foto do Hulk no grupo Nintendo Switch, onde estão meu primo urbano, meu amigo jurista, meu amigo cineasta e eu. Só a nata das minhas relações. Ficou só de fora o meu primo-irmão. Eles piraram na figura e meu amigo cineasta me pediu para filmar eu desencaixotando o bicho, mas a caixa já foi para o lixo, então não posso mais simular isso. Nem teria coragem, admito. Fiquei feliz com a recepção calorosa do Hulk pelo grupo Nintendo Switch.

15h19. A fantástica faxineira está aqui arrumando e me pergunta o que fazer com frequência, já que a presença do Hulk, pediu uma reformulada na organização do meu quarto.

15h54. A fantástica faxineira operou sua mágica no meu quarto e mamãe agora tem uma impressora à sua disposição. Me livrei de algumas coisas que acumulava sem razão. Como isso.





15h57. Não sei porque guardava esse gancho de porta, não lembro nem de onde era. Talvez da casa do meu pai. Mas dele já guardo os óculos, sem falar das cinzas, que precisam ser jogadas na maré de Macau, como foi desejo dele verbalizado várias vezes. À medida que a minha idade avança, me vejo mais parecido com o meu pai. Com a parte ruim dele. Isso me incomoda e não sei escapar disso. Outro tema para ser tratado na terapia que novamente me esquecerei de tratar.

16h03. Incrível o impacto da cafeína no meu humor. Me sinto muito bem tendo tomado uma garrafa de café. E pedi mais à fantástica faxineira. Muitas coisas há no meu quarto que precisarei me desfazer de forma a caber todas as minhas figuras aqui. Mas depois do Hulk todas as outras figuras me parecem secundárias, menos relevantes. Mas olho para elas e suas caixas e sei que não poderia ficar sem. Se eu fosse meu primo urbano, da próxima vez que viesse aqui pelas Ubaias tentaria captar os sons da construção para criar um percussão pesada e rica na sua fábrica de sons. Mandei a sugestão para ele. É o que posso fazer. Ouxe, me bateu um súbito baixo-astral agora. Xô, estou bem, feliz com o meu quarto limpinho e organizado, com a portentosa presença do Hulk, o meu xodó. Os verdes já vão se diluindo uns nos outros devido à diminuição da claridade. O som do bate-estacas abafa a música, mas isso não me incomoda, ouço-o como música da cidade e, como disse, é um som rico, há barulho de correntes, do motor e da colisão do peso com o ferro da estaca. E é um som que ecoa, o que dá uma dimensão maior a ele. É curioso e não durará para sempre, então o absorvo enquanto a existência movida pelas engrenagens do capitalismo irresponsável me proporciona. Irresponsável porque a construtora está pouco se lixando para o impacto social que mais gente e mais carros vai causar no bairro, temo que com a afluência dos novos moradores, quando e se a obra for concluída, a área em que moro ficará praticamente intransitável. Ainda bem que não dirijo. O que faço, faço a pé. E não faço muito. Cabeleireiro, terapia, Coca. Tudo pertinho. Acho que ouvi o chiar da chaleira. Mais café a caminho. Confesso que estou com o estômago meio embrulhado de tanto café e, por isso, vou beber um copo de água com gelo. Dar uma lavada e diluída no líquido no meu estômago.

16h25. Dei uma cotovelada no Hulk sem querer, não estou acostumado ainda com o espaço que ocupa no meu quarto. Gosto do Hulk sob a luz desse horário, percebe-se ainda os contrastes de verde, mas eles não são tão gritantes, ficam mais harmônicos. Tirei uma nova foto, me perdoem por tantas imagens do boneco e saibam, que nenhuma faz jus a estátua ao vivo. Acho a câmera do meu celular inteligente até demais, ela ressaltou, deixou mais vivos os verdes do Hulk, mais do que a realidade de fato é. Curioso isso. Não sei se fica melhor assim, gosto da cor que vejo com meus olhos, mais do que as captadas pela lente. Tomei dois copos d’água. Acho que já posso voltar em breve para o café. A ostensiva presença do Hulk nesse texto é uma amostra do meu contentamento e admiração pela peça. Vi no post que publiquei no grupo de bonecos que outro brasileiro tem a peça. Achei massa isso. Deveria ter respondido a ele, em vez de só ter botado o coraçãozinho. Talvez o faça mais tarde. Por mais que perceba que tudo o que deixo para mais tarde não faço. Meu primo pediu para eu gravar o som do bate-estacas. Se recomeçar, eu gravo. Achei um dispositivo chamado “Gravador de Voz” que acho que deve fazer o serviço. O fato de dormir e não reler o que escrevi no dia anterior, me faz repetir certo temas. É a vida, só releio quando vou revisar. E geralmente não elimino as repetições. Impressionante, é a melhor palavra para definir o Hulk. Ele certamente causa impressão em qualquer pessoa que entrar no meu quarto. O cheiro dele ainda invade as minhas narinas, não deveria perder esse cheiro nunca. Cheiro de boneco novo. Bem que o bate-estacas poderia recomeçar para eu gravar para o meu primo urbano. Espero que nos reaproximemos de fato. Já me sinto mais próximo dele, como há tempos não me sentia e é uma sensação muito boa. Não consigo parar de olhar o Hulk. Hahaha. Que coisa. Hahaha. Valeu cada um dos muitos centavos que paguei por ele. O resto da minha plateia deve até estar com ciúme. Gosto de todos, mas infelizmente, galera, o Hulk é o meu xodó. Foi muito feliz já tê-lo posto em seu lugar desde a chegada, foi até o cara da DHL que colocou. Os caras chaparam no boneco. Não tem como não ficar impassível diante da visão. Um deles falou que na Nagem do Shopping Recife vende-se bonecos. Devem ser os bonecos das edições de colecionador dos games. Certamente não deve ter nenhum Sideshow exposto lá. Pode ser até que tenha algum da Hot Toys, mas até isso acho difícil, pelos valores que o bróder da DHL comentou. Sei que falo grego para quem não coleciona. Finalizarei dizendo que mandei uma mensagem de felicitação para o brasileiro que também possui o busto do Hulk. Que coisa, quando meu primo me pede para gravar o som, ele para. Talvez recomece amanhã. Nossa, amanhã já é sexta, o que me enche de dedos. Já começo a sentir ansiedade pela possibilidade de socialização. Mas preciso desenvolver a minha dimensão afetiva e isso só é possível de duas formas, a meu ver, tendo afeto por mim mesmo e interagindo com pessoas por quem nutro afeto. As duas são muito difíceis para quem eu sou/estou agora, mas a primeira se prova ainda mais difícil. Por incrível que pareça, o Hulk teve um impacto positivo na minha autoestima, não sei precisar porque, é como se fosse uma reafirmação categórica do meu universo particular manifestado de forma concreta. É uma realização pessoal para mim. Por mais ridículo que isso soe aos demais. Mas de mim para mim mesmo me gera um profundo contentamento. Acho que tomei café demais, não está mais me descendo e o pior que a fantástica faxineira fez um monte de café. Vou tomar um copo de Coca com muito gelo que essa última xícara me desceu quadrada.

Outra foto do Hulk só porque posso tirar outra foto do Hulk. Hahaha.


17h34. Voltando à dimensão dos afetos. Não sei como ser mais afetuoso com os meus amigos sem parecer falso, nem sei se preciso se mais afetuoso do que eu consigo ser, sei que a minha vontade é de não sair, mas essa vontade não me desviará da saída se esta houver. Não posso me enclausurar no meu quarto-ilha mais do que já fico, tenho que aproveitar toda e qualquer oportunidade de ver o mundo bem acompanhado. Nossa, não consigo parar de olhar o Hulk e imaginar se devo ou não colocá-lo mais alto que a altura em que está quando da reforma do quarto. Mas acho que já falei sobre isso ontem. E deveria estar tratando da dimensão do afeto. A grande revolução para a dita dimensão seria sem dúvida uma namorada. E a única pessoa possível e passível de ser minha namorada é a garota da noite. E acho que estou viajando aqui, pois ela não vai querer nada comigo, a não ser que eu revolucione a mim mesmo antes. Em todas as três dimensões de que tratamos na terapia. Ou seja, baixar o lombo, me amar e me respeitar mais. Aceitar que sou uma pessoa tão válida quanto qualquer outra, apesar da minha condição civil única entre os meus amigos. Eu tenho que botar na cabeça que não cheguei a tal condição por oportunismo ou por acaso, que eu tentei o máximo que pude, que cheguei muito perto da morte tentando me enquadrar numa coisa que não me cabia. Que cometi abusos comigo mesmo a fim de amenizar o sofrimento existencial profundo em que me encontrava. Queria incorporar com mais seriedade que sou um escritor, visto que escrevo compulsivamente, mas não consigo por ora, pois acho que para ser escritor é necessário algum reconhecimento. Não de mim, mas da obra. Acho que preciso vê-la posta em papel. A única coisa que tenho que teria possibilidade de se tornar um livro é o diário da minha internação no Manicômio. Mas não encontro nesses dias que passam o menor estímulo para digitar o restante dos escritos. Preciso colocar isso como meta e digitar um pouquinho a cada dia. Devagar eu chego lá. Sem fazer movimento nenhum é que não vou ter isso nunca. Quero pelo menos ter a obra revisada pela Consultexto, a empresa que revisava o material da agência em que trabalhava e que é aqui pertinho, na rua do CAPS. Se tiver a obra digitada e revisada, eu talvez me anime em enviá-la para alguma editora. Ou editoras. Vai que alguma se interesse. Acho que o medo do fracasso me faz retroceder. Mas é um sonho ter uma obra pelo menos revisada. Com todo o meu mal português corrigido. Só isso já me deixaria mais realizado. Isso deve custar caro, mas não é necessário imediatismo, principalmente depois da lapada do Hulk. Não sei porque o Word reconhece Wolverine como válido, mas não reconhece Hulk. Curioso e irritante. Bem, poderia parar de escrever agora e ir digitar os meus cadernos. Estou sentindo uma pulsão para fazer isso. Acho que o que escrevi acabou me motivando. Vou fazer isso. 18h07.

21h18. Acabei de digitar um caderno. Falta o terceiro, que não digitei inteiro e não sei por onde anda. Mexeu comigo. Negativamente. Que alguma força maior me ajude. Estou praticamente recaído. Estou recaído. Não queria ser internado de novo. Isso serve apenas como medida punitiva, não tem nada de terapêutico. Passar três dias para desintoxicar acho até válido, mas mais do que isso é castigo, não é auxílio. Espero que uma boa noite de sono me coloque de volta nos eixos. É uma merda ser viciado. Mas vai passar e eu apagarei esse parágrafo do meu texto. Maldita hora em que inventei de digitar o diário, foi logo o trecho da fissura. Rememorar tudo aquilo me fez tremendamente mal. Estou fragilizadíssimo para dizer o mínimo. A um sopro da recaída. Será que trairei a confiança de todos os que confiam em mim? Minha mãe, minha terapeuta, meu padrasto? Quem viver, verá.

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14h33. Graças aos céus e a uma boa noite de sono o terror passou. Não estou mais com os pensamentos que me atormentavam ontem. Meu deus, ainda bem. Iria causar um estrago sem tamanho na minha vida. Não quero falar mais sobre isso senão pode atrair e isso é a última coisa que quero. Encontrei uma boa razão para despertar, ver o Hulk sob luz natural que infelizmente a câmera do celular não capta com fidedignidade, ela estoura os verdes. Fica legal, mas eu prefiro do modo natural. Nossa, que alívio eu estou sentindo, vocês não têm ideia. O pior que eu não sei se no outro caderno, se porventura achá-lo, insista no mesmo tema. Não sei nem se é uma narrativa válida para ser publicada. Mas queria muito vê-la revisada, como já disse. E mandar para editoras, como já disse. Se fosse publicada, aí sim, poderia falar com plenitude do ser, sou escritor. Enquanto isso, sigo escrevendo o meu blog. Hoje é sexta-feira, talvez tenha saída, talvez não. Eu estou mais para o talvez não. Não há nada que queira ver no mundo, mas também acabei de acordar, meu humor embora bom, após duas xícaras de café e um copo de Coca, não está ainda disposto para enfrentar uma night. Olho para o Hulk e duvido que outra peça me encante mais do que ele. Não consigo conceber qual seria. Um busto, ainda mais do Hulk, é uma peça imponente e impactante. Não consigo vislumbrar outra peça como iguais qualidades tão exacerbadas. Gosto das linhas mestras meio geométricas dele, gosto de tudo nele. Seria o pertence que escolheria salvar num incêndio. Até porque somando-se tudo, é o bem mais caro que possuo. Se pudesse, levaria também minha mochila com o computador e o Switch. Mas em só havendo uma opção seria o Hulk. Que negócio mais besta ficar imaginando asneiras. Improdutivo e sem nexo. Acho que quero de todas as formas demonstrar como o Hulk me é caro. Ainda sinto o cheiro de boneco novo dele. Muito bom. Daqui a pouco vou ter que colocar o gelo na máquina de mamãe. Gravei o bate-estacas para o meu primo urbano, dois segmentos de um minuto mais ou menos, para ele brincar nos seus equipamentos. Captei com o microfone do computador mesmo, não sei se vai ficar com qualidade para utilizar, mas foi uma tentativa. A segunda gravação ficou mais sincopada que a primeira. Espero que ele goste. Ou não. Foi uma contribuição que achei válida, mas a validade quem dará é ele.

15h31. Coloquei lá a máquina com gelo para a minha mãe. Vou pegar Coca.

15h34. Vi que vai rolar o encontro mais louco da política mundial, Trump e o ditador da Coréia do Norte. Será um evento curioso e assustador. Se bem que tudo pode acontecer. Até algo bom sair daí. Torçamos. Tenho tanto medo do móvel onde o Hulk está apoiado arrear com o peso, seria um desastre. Não tenho meios de conseguir outro. Mas ele não é tão pesado quando aparenta. No site diz que pesa 9kg, mas acho que pesa menos. Em teoria dentro de duas horas terei que repetir o procedimento em mamãe. É a vida. Queria botar Björk para ouvir embora todo o quarto esteja preenchido pelos sons da construção. E minha mãe queira que eu fique com a porta aberta não sei por quê. Acho que vou revisar e postar esse texto e partir para um novo. Rever o momento de fragilidade em que me encontrei ontem. Ainda bem que se deu à noite. Hoje nem quero saber de cola. Isso me deixa muito, muito, muito, muito aliviado.  

17h07. Acabei de revisar. Aproveitei para procurar o terceiro caderno do diário do Manicômio sem sucesso. Tive até um longo papo de WhatsApp com minha tia-mãe a respeito do Hulk. Foi divertido. Quem sabe não a encontre hoje se o meu primo se aventurar pela noite recifense. Vi no arquivo em que estou digitando o diário que narro o que fazia nas minhas saídas de final de semana. Não sei se é um conteúdo interessante e talvez o suprima do texto final. Nossa, como queria achar o terceiro caderno. Vou dar mais uma olhada. O leitor pode achar que estou brincando com fogo ao lidar com essas lembranças de novo, mas pelo que vi do resto do arquivo, a fissura também passou lá. Vou dar mais uma procurada.

17h15. Achei! Mas não estou com vontade de digitar agora, basta-me essa conquista de ter enfim a terceira e última parte da narrativa em mãos. Terei ainda um bom trabalho até concluir a digitação. Muitas páginas me esperam. Bom, vou publicar isso.


A última parte da minha obra a ser transcrita. Haja saco para digitar tudo.



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