terça-feira, 13 de março de 2018

FINAL DE DOMINGO E TERAPIA IV






18h48. Passei boa parte do tempo a digitar e revisar o diário do Manicômio. Estou impressionado em como estou motivado em transcrever a obra. A bem da verdade eu coloquei uma cenoura na minha frente que me impele a seguir digitando. Uma perigosa cenoura. Se levar à consecução da obra, pouco se me dá. É algo que preciso terminar para me sentir mais válido. A coisa que me incomoda é que não descrevo o Manicômio como um lugar sombrio e aterrador, mas muitas vezes pitoresco. Essa internação que eu narro não foi das piores. Para ser sincero, foi a segunda melhor que tive. Acho que muito disso se deve às diversas internações a que fui submetido, acabei me tornando um rato de clínica. Um ser que se acostumou com as internações, fui condicionado a elas e não me parecem tão inóspitas e hostis, aliás só uma vez me senti num pesadelo, foi quando o Manicômio estava superlotado de pessoas com transtornos graves. Aí eu não aguentei nem três dias e minha mãe se compadeceu de mim e me tirou. As demais foram no máximo tediosas. Mas desde que comecei a escrever, elas se tornaram muito mais palatáveis. E trouxe esse hábito de escrever para a minha vida, a ponto, na minha opinião de me gerar alienação social. Acho que a namorada do meu primo urbano está com um pé atrás em relação a mim. Não saberia dizer o porquê. Apenas suspeito. Suspeito que foi a história de Clementine. Não vejo outra razão. Sei apenas que desde o carnaval que não vem falando com a mesma desenvoltura e simpatia que lhe são peculiares comigo. Nossa, como me arrependo de não ter privado da companhia das minhas amigas psicólogas ontem. Não que as conversas às quais me entreguei não tenham sido proveitosas e divertidas. Mas elas são especiais para mim e vi que todo o bloqueio que imaginava que teria com elas simplesmente era fruto da minha imaginação. O elo me pareceu forte e belo como sempre foi. Não posso perder de vista essa preciosidade com que a vida me presenteou. Amanhã, tem terapia e tenho conteúdos a trazer. Vai ser uma sessão peculiar. Serei absolutamente franco e sincero. Não sei qual será o posicionamento de Ju em relação ao que vou lhe dizer, mas acho que será desafiante para ela. E para mim. Minha amiga psicóloga sugeriu que eu fizesse as caminhadas que vem em processo embrionário há muito tempo. Pelo menos fomos andando eu e meu primo-irmão até o Mercado da Encruzilhada ontem. Amanhã farei uma pequena caminhada para a terapia e desta à cabeleireira, eu acho. Não queria ir à cabeleireira amanhã. Prefiro ir na terça. Uma coisa de cada vez. Não tenho nenhum compromisso durante a semana, o que acho sublime. Compromissos são convenções sociais que acho horríveis. Gosto da paz da minha vida, de todo o tempo livre que eu tenho. Tempo é algo muito precioso. Sei que desperdiço o meu escrevendo para quase ninguém, mas me sinto muito mais feliz assim do que era quando minha vida era repleta de compromissos. Compromisso agora só com uma pessoa amada. Esse, é longamente esperado, mas infelizmente nada faço para concretizá-lo.

19h49. Falei com o meu primo-irmão que seguiu do mercado para o Antigo e ele disse que foi legal e tranquilo, são adjetivos que eu gosto, mas que não fazem muito o perfil dele. Creio que a saída dele não foi tão fantástica quanto a minha. A minha foi um dos dias mais felizes que tive em anos. Desde o aniversário da filha de uma de nossas amigas durante o carnaval. Nenhum dia foi mais feliz que aquele. Que eu me recorde. Foi o recorde de felicidade de toda a minha vida. O ápice da minha existência. O dia perfeito. Belíssimas e coloridas recordações. De sentimentos profundos. Inesquecível. Ontem também foi inesquecível porque igualmente raro para mim. Queria ser acolhido por essa turma de novo.

20h03. As conversas do meu padrasto com a minha mãe me perturbam, não sei por quê. Acho que é a entonação das palavras, com um tom de urgência, de estresse, não sei, posso estar viajando. Só sei que me desconcentram. Minha mãe, por sinal, ficou de fazer uma paçoca para mim, estou começando a duvidar que o faça. Pelo horário. Há uma falha crítica no Hulk, ele precisa ser posto numa altura maior que a de uma mesa para que se possa ver os olhos. Mas da cadeira eu o vejo com perfeição. Fico na dúvida se o posicionarei de forma a quem entra poder cruzar os olhos com os dele, ou da altura perfeita para eu apreciá-lo, mas acho que vou optar por agradar(?) o público. Enquanto isso aproveito que ele está na altura perfeita para mim e me encantar por ele. O girei agora para olhá-lo mais de frente, não de perfil. Quero ver amanhã com a luz natural. Mas ele precisa ficar mais alto. Principalmente pelo olho direito para quem olha. É um busto magnífico. Uma das melhores estátuas de super-herói já feitas. Para mim, a melhor. Existem peças menores mais detalhadas, mas essa tem uma personalidade forte e marcante. A cabeçorra dele pula do torso. Acho que vou chamá-lo de Clint porque o acho parecido com Clint Eastwood.

20h34. Sinto que com minha digitação do diário, minha produção para o Profeta está ficando menor, o que é uma boa coisa. Textos mais curtos podem atrair mais leitores. Sem inspiração para escrever no momento.

20h42. Liguei o Switch, quem sabe mais tarde não dê um rolé por Zelda. Ou mesmo encare o Mario Odyssey, mas confesso que estou mais para uma coisa mais tranquila como andar pelos prados, vales e montanhas do Zelda, algo sem estresse, contemplativo. Acabei de ligar o ar, o calor está incomodando. Eu acho que sempre vou amar uma pessoa que não ouso nomear, mas acho que nunca daria certo, nós viveríamos a debater assuntos existenciais. Hahaha. O que me leva de novo a um assunto que me incomoda, sexo. Sem saco até de falar sobre isso. É algo inexistente na minha vida, mal me masturbo. Eu tenho jogos demais e paciência de menos para eles. Tem um que está na minha cabeça, “Metro: Last Light” ou algo assim, mas não tenho disposição de ligar o PS3 para lhe dar uma chance. Talvez outro dia. Kurt Cobain se questiona “what’s wrong with me?, eu passo os meus dias a me perguntar isso e não consigo achar resposta. Eu gosto do meu modo de vida, eu não gosto entretanto da minha figura social. Na rotina que eu vivo eu não exerço essa persona a não ser com a minha mãe. Acho que é isso que está errado comigo, falta de exercício da minha figura social. Estou buscando novas vias. Uma alameda se abriu com o encontro de ontem. Espero que consiga trilhá-la.

21h45. Disse a mamãe que não gostava de viajar. Foi bom deixar isso claro. Ela disse que eu era como meu pai. Infelizmente nesse quesito eu sou. A anatomia do Hulk é totalmente fictícia e mesmo assim o conjunto é absolutamente harmônico e não parece ter nada fora do lugar. Não sei o que falar, estou saciado, comi paçoca feita por mamãe com feijão preto, estou satisfeito. E insatisfeito. A insatisfação é uma coisa que acossa a humanidade, a minha tanto quanto as demais. Acho que a minha talvez até um pouco menos, pois tenho quase todos os meus desejos satisfeitos. Pois é, Hulk, você é um dos meus grandes desejos satisfeitos. “Waiting For The Siren’s Call” do New Order, gosto muito dessa canção, é muito europeia. Eu tenho todos os games que eu quero. Eu tenho tudo de material que eu quero. O que me faltam são experiências. Nisso sou muito limitado e me limito muito. Eu só sei ficar aqui escrevendo. É a única experiência que me apetece realmente. Não sei como isso se deu, acho que transferi a minha compulsão pela droga pela compulsão pela escrita. Ao mesmo tempo é uma maneira desesperada de me fazer, aos meus próprios olhos, válido de alguma forma para o mundo. Não sei se é isso ou se isso são palavras sem sentido. Sei que minha vida é a escrita entremeada aqui e ali de algum evento social. Sei que não tenho mais saco de jogar o Mario. O frisson passou. E olhe que é o melhor jogo que já joguei. Vi que desaprendi a jogar Zelda. Sei que não tenho saco para Zelda. Minha mãe ouve som alto. Foi só falar que ela parou. Colocou de novo. Deve ter tomado um vinho enquanto fazia a paçoca. Sei que estão tardando para dormir hoje.

22h18. Me mandou tomar os remédios. Vai se retirar. Sinto minha vida nesse momento completamente destituída de sentido. Não sei se é culpa o que me acomete nessa situação, mas acho que é só tédio. Acordei para escrever, me arrisquei no Zelda, quando descobri que não sabia mais os comandos, e depois no Mario, onde peguei duas luas e fui tentar uma terceira que se mostrou um desafio que não tinha a mínima disposição de vencer – não parece ser muito difícil, mas detesto coisas com tempo contado – e vou escrever até dormir. O mesmo se dará a manhã com o excelente momento da terapia.

22h32. Só sinto vontade de três coisas, mas não as nomearei aqui. Talvez uma quarta que seria uma variação da terceira. Ou ainda uma quinta que seria outra variação das duas. É muito bom pensar em garotas queridas e que me encantam. Mesmo que não me queiram da mesma forma. Se eu não me quero desta forma como outrem pode querer? Dizem que a vida não funciona assim, que a pessoa tem que ter amor próprio para que as pessoas reparem em si. Bom nunca fui bom de amor próprio e mesmo assim tive quatro namoradas, uma paixonite e uma paixão profunda e plena vivida num dia só. Eu ouvi um eu te amo ontem, significou muito para mim, não tive coragem de dizer o mesmo, as palavras me vieram à garganta, mas a língua não as pronunciou. Esse “eu te amo” não dito agora pesa dentro de mim.

22h48. Disse pelo WhatsApp, é mais fácil para mim. E é igualmente sincero embora infinitamente mais covarde. Será que mamãe está na varanda montando uma tocaia para ver se me pega fazendo alguma trela? Quando fui apagar a luz da sala e acender a que gasta menos, ela estava entocada na varanda com o seu celular. Disse estar sem sono. Mas eu estou mais sem sono que ela. Hahaha. Também, não faz muita diferença se ela está acordada ou não. Amo-a do mesmo jeito e forma. É só não vir no meu quarto me mandar dormir que está tudo certo.

23h02. Que posso mais eu dizer? Sempre há algo por dizer. Me digo chateado por ter tão poucos leitores. Me digo bem em confortável no meu quarto-ilha. Me digo pensando na garota da noite deitada na minha cama e ir me deitar com ela, só a trocar carinho, namorar um poucão, descambando para o sexo ou não. Não me sinto preparado para o sexo ainda. Nossa, odeio falar de sexo. Mudemos o rumo da conversa. O aquário mais lindo, que me causou mais impressão foi um que tinha num restaurante chique de São Paulo que meu pai e minha mãe nos levaram. A comida mais deliciosa que já comi em um restaurante foi um polpettone no Jardim de Napoli também em São Paulo. Meu primeiro filé à parmegiana que comi na vida também me marcou o paladar, foi no MASP, também em São Paulo. Houve tantas primeiras coisas que aconteceram em São Paulo, na época em que primeiras vezes não eram tão raras como hoje. O Hulk já não é novidade para a minha mãe. Ele, afora a festa de ontem, é a grande novidade da minha vida.

23h17. Vou pegar mais um copo de Coca. Estava olhando para o Hulk e divagando sobre ele e o reencontro de ontem.

23h35. Minha amiga psicóloga mandou as fotos do nosso encontro. Que massa.

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14h51. Está quase na hora de me aprontar para a terapia. Estou animado com o encontro com Ju. Será que ela leu o meu blog? Creio que não. Hoje é aniversário da minha tia de Natal, deveria criar vergonha na cara e ligar para lá quando voltasse da terapia. Será que terei bateria para tanto? Talvez. Preciso tomar banho e me aprontar para a sessão, já são 15h04. Estou comendo o gelo para entrar no banho. Me bateu a preguiça de ir para a sessão, é este computador. Vou fechar ele para não ficar me atraindo.

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17h46. Antes de tratar da terapia, trago um assunto mais atual, falei com a turma de Natal, por conta do dito aniversário da minha tia. Foi um momento feliz, falar com Maria, com minha prima de Natal que abandonou o emprego para se dedicar ao curso de Ciência das Religiões, o que quer que isso seja. Uma escolha peculiar como ela. Maria, como sempre, saudosa dos meus irmãos que moram fora. E me dando conselhos para que eu não faça besteira. Foi bom falar com essas mulheres tão diferentes e exemplares cada uma à sua maneira. Minha prima disse que vai sacar o meu blog, isso me deixa com vergonha ao mesmo tempo que me enaltece.

17h51. Agora à terapia. Hoje usamos arteterapia ao som de, adivinhem, sim, ela Björk. “Utopia”. Hahaha. Ju perguntou o que eu queria ouvir e disse na lata. Primeiro fiz um desenho de mim sentado ao computador com uma coroa pintada de amarelo, única parte do desenho pintada, a arte toda emoldurada por um quadrado lilás, que só depois lembrei ser a cor predileta do meu pai. Não sei se tal escolha foi subconsciente, mas me peguei pensando sobre esse detalhe na volta para casa. Ela me perguntou da coroa o que ela representa e eu disse que era como me sentia dentro do meu quarto-ilha, um rei, com todas as variáveis sobre o meu controle. E que isso me fazia sentir bem e confortável. Cheguei a admitir que muitas vezes vejo o meu destino como sendo a reclusão total. Disse que tenho vergonha das interações sociais, todas elas. Talvez menos com a fantástica faxineira e minha mãe. Mas que é uma barreira inicial que pode se dissipar ou não. Mas que geralmente se dissipa o suficiente para uma troca agradável. Falei do convite à Vila Edna que não tive coragem de atender. Falei que me sentia um rei bebê. Ela perguntou o que era isso e eu disse que é um texto que esfregam na cara dos adictos nos internamentos enumerando várias falhas de caráter associadas à adicção. Fiquei surpreso de ela não conhecer, pensei que fosse algo consagrado no meio psicológico. Grata surpresa que não seja. Também fiz outro trabalho de arteterapia que consistia em escolher frases ou palavras, três, mas selecionei quatro, e pegando mais três aleatoriamente para construir um texto complementado por palavras escritas, o mínimo possível. Não me recordo de todas e de tudo o que escrevi, mas foi mais ou menos assim:

Jardim livre (ou algo assim; um dos recortes aleatórios)
De estresse (foi o meu complemento)

Ócio (escolhido)
E silêncio (aleatório)
Maior parte da minha vida (complemento escrito)

Vida especial (outra que escolhi)
Se conseguisse achar que (complemento)
São uma graça essas mulheres-palhaças (não lembro se escolhi ou se foi aleatória)

Constelações angustiadas (escolhi essa pois achei uma junção de palavras muito bela)
Minhas ideias (ou algo assim foi o meu complemento)

O que está por vir (sei que a frase não era assim, mas foi assim que me soou e acho que escolhi essa também)
Coisas ruins (complemento)

Debatemos todos os tópicos, do texto, mas vou fazer um resumo, disse que no jardim livre de estresse só existia eu, que a minha rotina era repleta de ócio e silêncio, que eu queria ver as mulheres de uma forma mais leve sem o pedestal em que as coloco. Que muito do que eu escrevo são minhas neuroses, mas que tinha escolhido constelações angustiadas porque a soma das palavras me soou particularmente bela, queria eu ter cunhado tal termo. E por fim previa que coisas ruins estavam para acontecer e reafirmei que achava que o meu destino seria o isolamento. Algo que veio sobre a vergonha das interações sociais versos reclusão foi que quando recluso nenhum dos rótulos negativos que se aplicam a mim, ou eu me aplico a mim mesmo, como fracassado, curatelado, vagabundo, egocêntrico, retraído, tímido, gordo, feio etc. e etc., não entram no meu quarto-ilha. Quando ela perguntou o que a coroa representava com mais ênfase, eu disse liberdade. Mesmo enclausurado no meu quarto-ilha eu me sinto completamente livre. Livre de tudo o que aprisiona os demais e tudo o que odeio na sociedade. Essa última parte não disse a ela, ou pelo menos não disse com tanta precisão. Me apercebi que ao narrar sobre o encontro do sábado com a minha turma dos anos 90, 2000, usei frases que coloquei no post de ontem. Achei isso curioso, foi o que me veio mais fácil, visto que já estava pronto e formulado na minha cabeça. Falei também de sexo e do meu sentimento de repulsa ao sexo. E do conflito que isso tinha com o meu desejo de ter uma namorada.

18h48. Eu fiz uma trapalhada agora, mandei para a garota da noite uma mensagem dizendo “Não esqueci de você. Estou tomando coragem para lhe escrever uma carta. Mando o link se conseguir redigi-la a contento.” Quer coisa mais babaca que essa? Mas falamos dela na terapia e falei da intenção de enviar-lhe uma carta. Ela é um assunto que vive voltando à minha cabeça, pois é quem sempre aparece nas minhas projeções de relacionamento. Aí fiz essa cagada. Agora, meio que tenho que escrever uma carta para ela. Só que tem que ser um post à parte desses neuróticos escritos. Ju finalizou a sessão falando desses sentimentos ambivalentes, de querer namorar e não estar muito interessado em sexo. E outra postura que não consigo lembrar, meu superego deve ter bloqueado. Agora me foge completamente. Também ter mandado essa mensagem para a garota da noite fez um rebuliço na minha alma.

19h02. Se acho que a terapia está me ajudando? Acho que ser ouvido e acolhido é muito bom, acho que aos poucos estamos desvendando padrões de comportamentos meus que precisam ser revistos ou aceitos. Disse que se existia uma parte de mim que realmente precisava de exercício era a parte social. Exercício social. Não sei como exercitar essa parte direito. É algo a se desvendar. O que eu achei mais revelador na terapia de hoje? O fato de o texto do rei bebê não ser uma coisa amplamente aceita nos anais da psicologia. E quando eu disse que quando saio de casa, do meu quarto-ilha me encho de rótulos pejorativos e veio a imagem de mim cheio de adesivos colados pelo corpo todo, todos me denegrindo, foi uma imagem curiosa e ridícula. Quero me achar uma pessoa...

19h20. A fantástica faxineira foi embora e me chamou para fechar a porta e minha mãe chegou no mesmo momento e conversou comigo me fazendo perder completamente o fio da meada.  Bom, quero me achar uma pessoa válida, com o mesmo direito de ser e estar e namorar no mundo que qualquer outra. Para isso preciso me apropriar de novo da minha sexualidade. Não sei por onde anda. Só chego às preliminares com real excitação, a parte da penetração me incomoda, talvez porque o orgasmo gere um esvaziamento do ser, uma saciedade incômoda, mas acho que o meu problema real com o sexo é a minha paranoia de fazer a menina gozar. E que vejo o sexo de forma muito romântica, não sou dado a muitas safadezas na cama. Bem da verdade, sou inexperiente sexualmente. Sou um quase virgem de 40 anos. Inclusive coleciono bonecos como o personagem do filme. Hahaha. Acho que deve soar muito patético para uma garota saber que eu coleciono bonecos. Acho que nenhuma garota quer namorar um cara que coleciona bonecos. É algo que tenho que ocultar até a conquista estar garantida. Hahaha. Meu deus, o que será que eu escrevo para a garota da noite e qual o estado de espírito mais apropriado? Eu já vi uma chuva de estrelas cadentes. Foi dos fenômenos mais belos que a existência já me proporcionou. Pensei em compará-la a tal manifestação cósmica. Seria uma boa abertura, eu creio. Se bem que dizem que não se deve colocar a garota num pedestal. Eu sei lá. Sei que preciso estar na vibe certa para escrever, mesmo que isso não vá funcionar, não ajudará de nada, não fará a mínima diferença para ela. Pode ser um afago em seu ego e disso não passará. Para que perder meu tempo, então? Porque tenho todo o tempo do mundo e posso dedicar um pouco dele a garota da noite já que ela me assalta o pensamento com frequência. E aí, Hulk, você que chegou para ser o meu conselheiro? Agora que já dei a deixa, tenho que ir até o fim, né? Vou passar um papel ridículo, né? Depende do conteúdo da carta. Mas você acha que não vai surtir o efeito esperado, não é? Eu sabia, independentemente do que escreva, ela vai me achar ridículo. Eu estou só alimentando uma ilusão. Alimento ilusões muito mais profanas e impossíveis. Dane-se, vou tentar escrever, não sei quando, mas não será nesse post. Acho que faço isso mais para agradar a Ju que à garota da noite, para mostrar que estou dando algum movimento à minha dimensão afetiva. Tem um pouco de mim nisso também, meu lado Cyrano de Bergerac. Hahaha. Pena que cartas de amor funcionavam no milênio passado, hoje são algo totalmente fora de moda, até porque estamos nos tornando semianalfabetos e não temos mais por hábito escrever. Para a maioria das pessoas, escrever é algo penoso e complicado, não é intuitivo, fácil, simples e divertido como é para mim. Minha mãe me falou que o cara da DHL veio aqui e trouxe a filinha provavelmente para ver o Hulk e mamãe não a trouxe ao meu quarto porque eu estava dormindo. Fiquei com o coração partido da expectativa frustrada e do impacto que a garotinha ia ter com o monstrengo. Nossa, se pudesse voltar no tempo alteraria essa cena. Que pena. Pelo menos alguém além de mim e do meu irmão JP gostou do Hulk. Massa. Hahaha. Ela ainda disse que o cara me achou um cara legal. Que pena. Tenho um orgulho danado do Hulk, por mais que seja mais um dos repelentes de garota que possuo. Hahaha. Rio mas acho isso sério, a maioria das garotas não vai captar meu colecionismo e vai me achar um babaca infantiloide. Ou sou eu que me acho um babaca infantiloide? Em muitas medidas me acho assim, mas há dimensões de mim muito mais válidas e belas. Só não sei quais são. Hahaha. Acho que tenho uma profundidade de alma que muitos não têm. Ou têm e não se apercebem que têm. Fato é que tenho inveja do amigo bonitão, que já pegou inclusive a garota da noite. E em vez de segurá-la para si, a deixou solta no mundo. Se eu tivesse a oportunidade faria de tudo para conquistá-la de forma mais profunda que uma simples penetração. Mas talvez ele esteja acostumado a só comer filé, um a mais um a menos não faz diferença, sei lá. Não sei o que se passa na cabeça do nosso amigo bonitão. Sei que nutro um misto de inveja e admiração por ele. É uma pessoa emblemática na minha vida, cheia de simbolismos positivos que eu acho que não carrego. Aliás, tenho certeza que não carrego. O que carrego de positivo, eu não sei. Acho que consigo ter conversas profundas e sinceras com as pessoas. Mesmo sendo um alienado do mundo. Não sei de política, economia, cultura, esportes e qualquer outro caderno do jornal. Não me interessa. Me interessa o mergulho em mim mesmo, e, se não mergulho, de ficar boiando na minha superfície. Não sei se me aprofundo em mim aqui. Queria crer que sim, mas não tenho certeza. O meu maior defeito de caráter? A preguiça. Acho que é maior que a minha desonestidade oportuna. Meu ato de desonestidade mais praticado é a omissão. Se faz necessária em alguns campos. Até aqui, me omito em algumas coisas, por mais que ache que esteja sendo o mais honesto e aberto que posso. Quero crer que faço isso, senão isso perde o sentido. Vira ficção. Ficção demais, eu digo. Pois essa descrição que faço de mim é uma história que conto. Tento ser o mais verídico que posso, mas é uma visão pessoal das coisas, não são as coisas em si. Essas inescrutáveis à minha pessoa. Gostaria de me dizer de forma mais positiva, mas simplesmente não me sinto capaz de fazer isso. Conto o que vejo e percebo de mim. E não me agrada o que vejo e percebo. Não acho válido. O que vejo e percebo de mim? Que eu sou um cara que vive enfurnado num quarto cheio de bonecos encaixotados, três videogames pegando poeira, sentado na frente do computador, enchendo o rabo de cafeína, escrevendo compulsivamente e sonhando com uma namorada que só aparece nas minhas projeções como a garota da noite. Não sei por quê. Aliás, sei, porque ela responde fria e polidamente às minhas mensagens. É quase nada, mas não é nada, acho que é por isso. Seria fantástico se ela respondesse a essa última com algo mais animador como um estou curiosa para ler ou coisa do gênero, mas sei que isso não vai acontecer. Nem um ok, que seria a mais gélida das respostas, ela irá responder. Tanto melhor. Estou me esquentando na escrita para ver se sai alguma coisa mais tarde para ela, se não estiver até lá esgotado de escrever. Gosto de escrever, mas tem horas que satura, cansa. Estou no meu modo catártico agora, vomitando palavras a alta velocidade, ou tão rápida quanto o meu lento digitar pode apreender e transmitir. Eu poderia aqui tentar me aprofundar nos dilemas que chegaram à superfície na terapia. Acho que em relação ao sexo, fiquei traumatizado com a minha última experiência sexual e isso me fez criar todo um retrato negativo em relação ao sexo, generalizei uma experiência ruim, que é, como toda a generalização, algo estúpido. Como é estúpido generalizar que todos os homens que colecionam bonecos são babacas. A probabilidade disso ser verdade é grande, mas não é de 100%. Hahaha. Eu sou um cara de certa densidade, não sou fútil. Eu respeito as mulheres até demais. Isso é um defeito. São seres que comem e cagam como eu. Só são profundamente mais encantadoras. Eu acho que se andar eu consigo o condicionamento físico para conseguir transar. Minha mãe vive a me cobrar que ande, mas parece que quanto mais me cobra, mais repúdio à ideia eu tenho. Ela tem que entender que tem que ser uma coisa que tem que partir de mim, nunca dela. Especialmente não dela. Porque mãe, infelizmente. Eu não gosto de receber ordens da mamãe. Eu quero fazer o movimento de andar por algo interno e não externo. Ou meio-termo, como andar para ter mais preparo físico para uma hipotética relação sexual. Uma relação sexual, tão banalizada hoje em dia, tão corriqueira aos da minha idade, me é um bicho de sete cabeças. E não deveria ser. Foi o trauma da última tentativa. Ou grande parte foi isso. Não foi culpa da garota. Não houve culpados. E, principalmente, não houve afeto suficiente. Não sei se é o café, mas me sinto mais motivado a andar. Começarei na quarta-feira. Até o Açude. Eu devo ter algo de especial. Algo que meu amigo cineasta viu em mim, que considerou precioso e que o fez querer documentar um ano da minha vida. O que resultou em variados takes de um cara sentado num quarto digitando. Eu ignoro como ele fará essa narrativa, mas admito que é um baita desafio. Espero com o filme dele descobrir quem é essa pessoa especial que eu sou aos seus olhos e coração. Ao mesmo tempo, morro de vergonha de assistir. Bom, o processo de captação das imagens acaba no meu aniversário. Até lá e até depois da viagem não posso vacilar. Depois da viagem, entretanto. Se bem que eu me comprometi com uma pessoa que nem sabe desse compromisso. É outra carta que tenho que escrever. Ou não tenho. Essa é ilusória demais para que eu perca meu tempo. Novamente o que mais tenho é tempo e gosto pela escrita. Veremos. A promessa era de dez anos. Mas ampliei esse período para treze anos. Nem mais nem menos. Mas não quero falar sobre isso. Nem sei mais sobre o que quero falar. Dá vontade de mandar a garota da noite se danar e seguir em frente, mas não há outra frente a seguir. Esse é o problema. Esse é todo o problema. Ela foi a única pessoa que me encantou e com quem tenho um esboço de elo social nesses últimos anos. Se houvesse outra. O engraçado é que se cruzasse com ela acho que teria uma crise de pânico e fugiria. Hahaha. Mitifiquei demais. Preciso desmitificar. Ela come e caga, é um ser humano com sonhos e aspirações e desejos e frustrações. Sei lá o que estou dizendo. Eu não conheço a garota da noite de fato. Eu nada sei sobre ela. E acho que continuarei assim. Pode ser até que ela, ao ver a minha mensagem, me dê logo uma cortada, do tipo nem perca tempo. Mas não parece ser o perfil dela. Aliás, nem sei qual o perfil dela, como posso assumir isso? O fato é que o que sei dela é o que há em sua página de Facebook. Ela, por outro lado, sabe um bocado de mim. E eu, como é meu habitual, me denegri para ela. Ou seja, agi contra mim mesmo. Acho que minha sina é a solidão mesmo, mas me divertirei escrevendo um texto para ela ou assim espero. Já perdi muito do ímpeto de escrever hoje. Mas nada ainda definido. Parece que meu irmão JP vai vir aqui hoje. Certamente vai querer ver o Hulk. Foi uma das pessoas que genuinamente gostou da figura. Ele e os caras da DHL. Pôxa, só de pensar na filha do cara da DHL me dá um dó. Me colocando no lugar dela, eu ficaria muito frustrado. É como ser prometido um presente e não ser dado. Como encomendar o Hulk e ele chegar quebrado. Não esse último seria muito pior. Graças aos céus o Hulk chegou inteiraço. Eu amo o meu Hulk, tanto quanto se pode amar um produto, um bem material. É o cúmulo da babaquice para quem não coleciona, mas qualquer um que colecione algo sabe como é preciosa e admirável a peça chave, o item preferido da coleção. Acho que o Hulk ainda vai aparecer em muitos posts. Por falar nele vou botar outra foto aqui.





21h14. Acho que meu ímpeto é escrever a carta no Desabafos do Vate, seria curioso. Mas não quero ir para o Vate agora, nem quero escrever carta nenhuma agora. Aliás nem sei se escreverei mesmo. A garota da noite talvez nem mereça isso. Talvez seja uma pessoa fútil, mas acho difícil trabalhando com arteterapia num hospital, ela me parece ser uma pessoa bem resolvida, apaixonada pelo trabalho, que se sente realizada dando sua honrosa contribuição social. O que temos em comum? Absolutamente nada. Eu não poderia contribuir menos para a sociedade. Mas exerço o meu ofício apaixonadamente e com uma ponta de orgulho por não estar ferindo gravemente o português. Sei que devem haver vários erros que eu nem saiba que cometo e peco por essa ignorância, mas não consigo levar tão a sério o ato de escrever a ponto de estudar gramática. Não quero nada que me constranja ou me limite nisso que faço. Não quero obrigação a não ser a de ser o mais transparente que posso ser na escrita. Eu exerço um pouco de autocensura porque minha mãe periodicamente lê o que escrevo, o que cada vez me empata menos. Minha mãe, não sei se pela leitura disso, tem me compreendido mais, tem sido mais mente aberta, respeitado os meus comportamentos excêntricos, em uma palavra, está outra comigo, tornou-se alguém que eu posso dizer que amo sem restrições. Já tive muita raiva e ressentimento da minha mãe. Já pensei que não conseguiria a amar de fato. Mas hoje amo incondicionalmente e tenho me apercebido dos pequenos detalhes, os esforços que faz por mim. O esforço maior sendo compreender um filho em condições tão singulares quanto a minha. Hoje sou só gratidão a ela. Gratidão e amor. Queria deixar essa declaração aqui para que os meus parcos leitores saibam que que eu a amo. Que o tempo e a maturidade de ambos nos levaram a construir uma relação muito harmoniosa como jamais sonhei ser possível. Minha mãe nunca desistiu de mim mesmo nos momentos mais difíceis da minha vida. Tomou medidas severas, muitas vezes severas demais. Mas foi tudo pensando no meu bem, quero crer. Minha mãe nunca quis o meu mal. Mas acho que algumas vezes me internou muito mais como medida punitiva do que por qualquer outra razão. Bem, águas passadas. Ela também engole muito a conversa da Doutora. A Doutora pode conseguir manter o meu equilíbrio emocional através dos fármacos, o que é uma grande proeza, mas sugerir porque minha mãe me disse triste que eu passasse alguns dias, ou semanas, ou meses, sabe-se lá o tempo que passou na cabeça mercantilista da Doutora, internado na Clínica de Drogados, é demais. Por falar tanto em internação, acho que vou digitar o caudaloso diário do Manicômio um pouquinho. Nossa, e pensar que nesse exato momento existem várias vidas aprisionadas lá, algumas sem a mínima necessidade, outras para a vida toda. É triste. O tempo que passei lá foi excessivo para dizer o mínimo. A quantidade de HFVs que tomamos por causa da transgressão não teve nenhum caráter terapêutico, foi apenas uma desumana retaliação à nossa afronta, uma forma de tortura. Mas deixemos isso para lá. Águas passadas. Águas nas quais vou mergulhar digitando o meu diário, embora a fase das HFVs já tenha passado na altura da narrativa em que estou. Não vou digitar agora, estou com preguiça. Recebi notícias do meu amigo Marinheiro, disse estar bem e pensa tentar a vida em outro estado. Desejei-lhe sorte e fiquei aliviado ao saber que não estava internado.

23h04. Digitei mais um dia de diário. Nossa como eu era babaca, me humilhar para desconhecidos contando minha história de adicção e destruição para os estagiários de Medicina que iam visitar o Manicômio e achar isso legal. Sei não, viu? O pior que acho que faria de novo, só para poder ficar olhando as gatinhas que visitavam o local. A psicóloga que as ciceroneava era uma grande entusiasta da minha obra, disse reiteradas vezes que a leria. Quem sabe um dia ela não seja publicada? Sonhar não custa nada. É uma pena não ter os diários menores que fiz em duas outras internações no local. Mas esse já basta. É mais do que suficiente. O que percebo é que faço um bando de previsões que não se concretizam, sou um péssimo profeta quando o assunto é internamento. Hahaha. Sou um péssimo profeta overall. Hahaha. Profetizo que se escrever a carta para a garota da noite ela não emitirá nenhum comentário. Para que o esforço para nada, então? Boa pergunta. Parece que ela visualizou a minha mensagem. Isso me estimula a escrever. Não sei se tenho tanta disposição para fazer isso hoje pois já escrevi demais. Mas tudo é possível. Ainda são 23h15 e tomei café o dia inteiro.

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19h56. Escrevi e mandei a carta para a garota da noite. Fiquei espantado como muitos dos conteúdos tratados lá se repetem aqui. Sou um cara monocórdico mesmo. A carta ficou uma grande bosta. Agora, já foi. Vou publicar e divulgar isso.

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