13h59. Estou agradado de estar aqui hoje. Em teoria, daqui a
cinco, seis horas estarei no Barão, onde quer que fique, para celebrar o
aniversário do nosso amigo professor. Publiquei o post anterior e revelei o
nome do Manicômio e da Clínica de Drogados com as fotos. Tal revelação me
causou mal-estar, como se o mistério houvesse sido revelado e eu quisesse que
permanecesse um mistério para sempre. Mas poucos lerão, como sempre, e nem
todos serão daqui, então não fará muita diferença. Ou assim quero crer. Bom,
está feito. Me deu vontade de começar o projeto do livro de novo. Mas já estou
cansado de contar as mesmas coisas, que acho que conto no diário que escrevi no
Manicômio. Não me recordo. Se eu tenho que fazer um projeto paralelo, será
digitar o diário. Não encontro disposição para tanto no momento. Ainda estou
acordando. E mesmo que não estivesse, está difícil achar motivação para esse
projeto. Estou sem palavras para cá. Há luas que não vou conseguir pegar no
Mario Odyssey e não me conformo muito com isso. Simplesmente não tenho
habilidade ou paciência para desafios mais extremos. Já coletei 621 luas, o que
é um número considerável. Embora ao que me conste haja mais de 800 luas no
jogo. Ainda faltam ser abertas pedras lunares em metade dos mundos. Talvez
chegue a 700 luas, mas não acredito que cruze a próxima centena. Ficarei meio
órfão quando der o jogo por visto. Falar tanto do Mario Odyssey me dá até uma
coceirinha para jogar, mas não vou. Não no momento. No momento quero apenas
existir e me dizer por escrito. Preciso pedir à minha mãe que corte os pelos do
meu bigode, já me entram pela boca. Meu tio, irmão mais velho da minha mãe,
criticou o meu brinco de forma leve e bem-humorada, mas sugeriu que eu devesse
tirar o brinco por que pega mal na opinião dele. Me lembrei de Bono na capa da
Rolling Stone que comprei num dos aeroportos quando vinha dos EUA para o
Brasil. A Rolling Stone que mantenho no banheiro na esperança de um dia chegar
na entrevista com o cantor. É um passatempo herdado do meu pai, ler no
banheiro. Lembrei porque Bono, já sessentão ou quase, usa brinco. Ouvindo
“Mixed Up” do Cure, botei a lista 6 para tocar na ordem, nunca havia feito isso
antes, não é ruim. E posso sempre pular se uma música não me agrada, mas o
“Mixed Up” é bem palatável. Para o meu gosto. É um disco que desce fácil.
14h49. Às 15h20 vou almoçar. Vi o estrogonofe, o arroz e os legumes assados no
forno e tudo me pareceu muito apetitoso. Queria almoçar antes de a minha mãe
acordar, mas não queria comer agora. Por isso a meta de 15h20. Meu padrasto vê
TV na sala. Eu vejo as palavras me saírem poucas, isso me põe um pouco
entediado.
14h54. Ficção. Em algum momento nos próximos 50 anos, após o
advento da Singularidade Tecnológica, o mundo será transformado numa meganação
gerida pela ONU, que contará com representantes de todos os países, com o
auxílio da Singularidade para análise de dados e tomada de decisão. A
constituição da meganação será a Declaração Universal dos Direitos Humanos
Ampliada. Ampliada em mais uma cláusula, inclusão digital para todos os seres
humanos. Tal meta é alcançada com doze anos da nova ordem mundial, a
erradicação do analfabetismo e adoção de uma língua universal, desenvolvida
pela Singularidade, se dará ainda na primeira década do governo. As demais
línguas e dialetos não serão erradicados, mas todos serão, no mínimo bilíngues,
por mais que ferramentas de tradução automática de quaisquer idiomas para os
demais já existam, a língua criada pela Singularidade, amplia de forma
considerável a capacidade de comunicação e abstração em relação às demais
línguas. A democracia de fato é alcançada com a inclusão digital de todos os
cidadãos da Terra que poderão votar nas decisões que os interessam, em qualquer
nível, do regional ao global, o que orientará na tomada de decisão pelos
líderes de cada esfera e gerenciadas pela Singularidade. FIM.
15h17. Fui almoçar e mamãe acordou justo na hora, o que lhe
causou um impacto positivo.
15h22. Mandei uma mensagem para o meu primo-irmão relativa à
ida ao aniversário do nosso amigo professor.
15h29. Ele respondeu que era limpeza eu ir. Está mais
lacônico que de costume. Não sei se me comuniquei em algum momento inadequado.
Achei estranho. Mamãe já me deu o dinheiro. Vai sair com o meu padrasto e pode
não voltar a tempo. Já começo a ficar ansioso com a saída. Achando que o meu
primo não quer a minha companhia. Por isso tão lacônico comigo. Não vou ficar
hipotetizando nada, não leva a bons lugares emocionais. Leveza de espírito é o
que preciso. Há uma barata grande no meu banheiro. Se escondeu atrás do
espelho. Não tenho coragem de matar. Vai ficar por lá. Não sei se já foi
dedetizada pelo meu padrasto. Sei que o banheiro é muito próximo do meu quarto.
Será que outro ser vivo virá coabitar comigo? Logo um que considero ainda mais
asqueroso que eu? Hahaha. Estou perdendo a motivação de escrever. Isso não é lá
a melhor coisa que poderia acontecer comigo. Talvez seja a pior, em verdade.
Pensei em coisa ruim e me veio logo a viagem. Estou... o quê? Estou o quê? Não
sei, vou tentar me sintetizar em uma frase, escritor sem inspiração que tem
medo de baratas aguarda a hora de entrar no banho e faz hora escrevendo o
grande nada que tem a dizer. Fico na esperança de ver a garota da noite hoje.
Acho que meu primo-irmão não está muito interessado em ir para o aniversário
porque sabe que será sentar, beber e conversar, sem agito, sem paquera. Lembrar
de levar uma caneta, quem sabe não invento de mandar um torpedo. Hahaha.
Prevenir é melhor que remediar. Pode ser um passatempo. Pode ser que não
precise disso. Pode ser tanta coisa ou tão pouca. Sinto que narro melhor o
presente que o passado. Percebi isso na tentativa de livro que eu tentei quatro
vezes começar a escrever. Não sei se tente uma quinta. Talvez, tudo é possível.
O que deveria trazer para o campo das possibilidades era digitar o diário do
Manicômio. Mas não agora. E por que não agora? Já são 16h31. Tenho uma hora e
meia para partir para a casa do meu primo. Estou receoso de encontrar com ele. Nunca
havia me sentido assim antes. Há uma primeira vez para tudo. Para quase tudo.
Mas é bem abrangente esse campo das primeiras vezes, especialmente quando se
conhece pouco da vida e do mundo. Não é mais o meu caso, já vivi demais e a
maioria das primeiras vezes já passou, além de que não passo minha vida à
procura de primeiras vezes, de experimentar o que não experimentei. Sei do que
gosto e desgosto do meu repertório de coisas conhecidas. E busco me aproximar
das primeiras e me afastar das segundas. Acabei de ver que a liberação alfandegária
do Hulk se deu. Isso é uma mudança do estado que estava nos últimos dias. O que
deve significar que o busto e a conta estão chegando. Vai ser complicado, minha
mãe vai estrilar. E não há absolutamente nada que eu possa fazer. Espero que chegue
quando ela estiver em casa, só ela tem cartão com limite para pagar a
exorbitante quantia. Estou feliz com o meu Hulk.
17h07. O momento de tomar banho se aproxima. Não guardo
grandes expectativas para a noite. Melhor assim. Devido às persianas fechadas o
quarto se encontra quase na escuridão. Descobrirei se o meu primo-irmão está de
saco cheio de mim. Torço para que não. Com todas as minhas forças. Embora seja
um direito que lhe assiste. E que, se for o caso, terei que respeitar. Os
próximos dias parecem ser movimentados para os meus padrões. Com uma saída
hoje, a chegada do Hulk, a terapia, talvez meu primo-urbano na terça. 17h15.
Entrarei no banho às 17h45. Acho que o celular já estará carregado nesse
horário e poderei tirá-lo do banheiro para que o vapor e umidade do banho não o
danifiquem. A minha mensagem elogiando a nossa amiga filósofa foi a última
publicada no grupo da turma desde ontem. Isso me deixa apreensivo. Achando que
fiz mais uma trapalhada cibernética. Dane-se isso, me preocupar com tão pouco.
Fiz de coração, é o que me importa. Quem será que aparecerá na comemoração do
nosso amigo professor? Pelo menos o seu amigo da banda, nosso amigo projetista,
eu e meu primo-irmão. Talvez a sua ex, que poderia chamar de amiga musical,
pois ela é psicóloga e já há as minhas amigas psicólogas com essa alcunha, a
outra coisa marcante nela é que ama música e tem um vocabulário excelente. Será
a amiga musical, decidido. 17h26. O tempo me empurra para o banho. Vou me
perfumar com o meu melhor perfume. Já separei a roupa, a blusa rosa do Strokes
e a boa e velha bermuda preta. Não sei se vá de tênis ou de sandália. Estou
mais inclinado às últimas. Nossa, que post vazio. Estou com a barba enorme,
pelo menos cortei mal e porcamente os pelos do bigode que estavam entrando na
minha boca. Não sei se leve o iPod. Acho que levarei. Só por via das dúvidas,
embora a minha pretensão seja interagir com a turma. O Hulk passou pelo
processo alfandegário, isso me dá um frio na barriga. Será que foi danificado
na inspeção? Será que chegará quando mamãe estiver aqui? Qual será a sua
reação? Será que conseguirei colocar no lugar da impressora? 17h33. Doze
minutos para o banho. Ainda em que não estou tomado de grande ansiedade como
quando fui para a Galeria Joana d’Arc. Será que meu amigo cervejeiro e meu
amigo bonitão irão? A probabilidade não é lá muito grande, mas probabilidade
há. Mais do bonitão até que do cervejeiro. Descobrirei sobre todas essas
especulações sem sentido dentro em breve. Daqui a duas ou três horas, que
passam num sopro. Vai ser bom rever a família do meu primo-irmão. Começou Faith
No More na lista 6. Não é muito a vibe
em que estou agora. Acho que vou botar Björk, ouvir “Virus” remix e “Arisen My
Senses” e tomar banho. Coloquei. 17h40. Se fosse pontual comigo mesmo, ouviria
apenas “Virus”. Veremos. Mamãe voltou. Vou ouvir “Arisen My Senses” para não
parecer que me fui me aprontar só porque ela chegou. Estou ficando muito
neurótico em relação aos meus atos. Vou tomar banho. 17h45. Ouço a música
quando sair do banho e estiver me arrumando.
-x-x-
2h35. Volto à casa, ao quarto-ilha. Ouço Infected Mushroom para
uma mudança de clima. “Never Mind”. A saída? Ficamos ao lado dos músicos da
festa, por isso bem próximos das caixas de som e só era possível conversar a
contento com a pessoa ao lado ou à frente se ela se aproximasse. Eu estava na
cadeira mais próxima da caixa de som. Minto, um dos nossos amigos sentou na
cabeceira da mesa por um bom tempo. Mas consegui conversar com a paquera do meu
primo-irmão e com o pessoal lá fora quando íamos fumar e por lá nos demorávamos
mais do que o necessário a conversar. O último assunto foi machismo, quando
nossa amiga musical sugeriu que todos nós somos machistas, que isso transcende
gêneros, que é algo que está enraizado na nossa cultura, talvez, e isso é
assumpção minha, desde a época das cavernas. Mas estamos no século XXI e ela,
outra assumpção minha, parou para refletir sobre o assunto e decidiu assumir
outra postura diante do mundo, não-machista, no mínimo. E acha que dizer que a
gente se comportou como moça no episódio, no mínimo, novamente, mais inusitado
da noite, foi uma comparação machista. O episódio? Estávamos do lado de fora do
Barão fumando ou fazendo companhia, meu amigo professor, um amigo de longa data
deste e eu, quando um cara veio nos pedir comida, meu amigo professor o
dispensou e ele ao sair disse algo assim, se eu tivesse uma quadrada, chegasse
aqui com uma ponto 40, 21 tiros, eu faria limpa aí nesse bar. Tu ia ver.
Ficção: quando, depois disso, se virou e já ia embora, eu o chamo e indago, por
que você não faz um curso profissionalizante, arruma um emprego e frequenta
esse bar em vez de pensar em violência? Você já ouviu a música de Bezerra da
Silva que diz, você com o revolver na mão é um bicho feroz... tralalá... já
ouviu? Então ouça. FIM. Ficamos meio atônitos com aquela colocação de extrema
revolta e violência em relação aos que têm o que ele não pode ter. E ele queria
apenas comida, disse que comeria na nossa frente. Chegou simpático, brincando
com a camisa de X-Men do meu amigo professor, seu principal interlocutor,
dizendo, e aí, Liga da Justiça. Recebeu logo a primeira cortada do professor,
Liga da Justiça é DC, essa é da Marvel. E por aí foi até o desfecho mencionado.
Eu permaneci no meu lugar, só olhando para ele quando ele teceu sua ameaça
hipotética, posto que não estava armado. Meu amigo professor arrebatou com a
frase, vem tentar sua sorte. Mas isso já disse entre nós, o amigo de longa data
e eu, depois da partida do cara. O amigo de longa data se distanciou da cena e
do cara. Meu amigo professor, contou uma história educativa de seu avô, que
disse a ele, eles vêm pedir dinheiro, mas não se oferecem para capinar a
calçada da casa. Ficção. Meu amigo, ainda criança, diz a um mendigo, se você
capinar a grama da calçada, meu avô te paga o serviço. Diz isso
extraoficialmente, claro, para que ninguém saiba. E ele não sabia que aquilo em
vez de desmotivar o cara, o fez aceitar o serviço. Pediu para chamar o avô.
Este veio e o cara disse, o senhor tem as ferramentas para eu capinar a grama
da calçada? O velho disse que tinha e mandou meu amigo professor, uma criança
de 11 anos na época, pegar. Ele correu para pegar o material impressionado que
a sua tentativa de escárnio havia se tornado numa possibilidade de o avô pagar
o trabalho de um vagabundo. O cara capinou a calçada e depois virou jardineiro
da casa do avô por muitos anos. Aprendeu a ler, escrever e fazer contas, morreu
pobre, mas com o mínimo integridade resgatada. FIM.
-x-x-x-x-
15h26. Não aguentei e fui dormir. Não houve fatos mais
marcantes que os que narrei, ou pelo não os apreendi. Meu amigo professor
possui mais de 50 mil achievements na
sua conta de Xbox, é um a número absurdo que prova o quão aficionado e hábil é
com videogames. Eu, por comparação, não tenho nem cem troféus na minha conta do
PS3. É uma recompensa gostosa de receber, um achievement/troféu. É algo
meritório que gratifica aqueles que se dedicam e fazem um algo mais no jogo. O
Mario Odyssey que, embora não use desse expediente, é o jogo que oferece
recompensas, na forma de power moons,
de forma mais satisfatória que já joguei. Mas está bom de videogames. É porque
o meu amigo professor é um dos únicos com quem eu posso falar do assunto, o
outro sendo o meu amigo jurista. São os amigos entendidos de videogames que
tenho. Tem o Ozzy também, mas esse vejo tão pouco e esparsamente que
praticamente não conta. Estou de baixo astral acordei há pouco tempo e o
despertar sempre me é uma parte chata do dia.
16h01. Abri a janela como minha mãe sugeriu. O que mais
houve na noite de ontem? Nossa, como pude esquecer, vi a pequerrucha filha da
minha prima religiosa, que nem sei se anda mais tão religiosa assim, é um
serzinho tão frágil e desprotegido, um sopro de gente ainda, foi o bebê mais
recém-nascido que já vi e confesso que me encantou. As narrativas do estresse
que é quando começa a chorar das oito da noite às três e meia da matina são
desmotivadores, mas ela tranquila nos braços da minha tia-mãe tem seu encanto.
Não sei se estaria preparado para o choque de responsabilidade que é se dar
conta de que aquela semente de gente depende única e exclusivamente dos pais
para sobreviver e que vai ser assim até que consiga sua independência
financeira. É muito tempo de dependência e isso é acachapante quando eu penso.
Mas há as diversas fases da vida daquela pessoinha até se tornar uma pessoa de
fato, o que torna a jornada mais interessante. De toda sorte, não pretendo me
reproduzir, não pretendo namorar, aliás namorar é até uma pretensão, mas acho
que estou sendo pretensioso demais nesse sentido. Hahaha. Minha amiga que há
muito não via, está me convidando para uma série de coisas, acho que porque me
disse antissocial e porque gosta realmente de mim. Não me sinto disponível no momento,
mas quem sabe em um futuro próximo se ela não desistir antes. Ela esteve na
festa também, mas saiu cedo. Não mais do que 20 minutos depois que eu cheguei.
Acho que interagi quase a contento. Embora tenha havido vezes em que me
alienei, olhando para o nada e perdido em mim, a fim de evitar contatos. Nossa,
amanhã tem terapia, sem coragem nenhuma de encarar. Há momentos em que sou
displicente na escrita, que sei que o texto está mal construído ou truncado e
mesmo assim deixo passar, torcendo para que na revisão eu dê uma melhorada, o
que nem sempre é o caso. O que posso contar mais da noite? Mais nada. Não me
ocorre. O que posso contar de hoje? Minha mãe saiu com o meu padrasto para
almoçar. Aposto que à minha revelia vai trazer algo do chinês para eu comer, o
que seria até bem-vindo, sinto um pouco de fome.
17h03. Meu primo urbano está convidando para uma sessão de
games amanhã na casa dele. Já disse que me interessa. É esperar o que o meu
amigo jurista vai dizer. E, mesmo sem ele, podemos jogar só nós dois, não sei
se isso vai interessar ao meu primo. Veremos.
17h11. É um recurso muito útil o tal do parágrafo, quando um
assunto se esgota, quando não sei mais o que dizer sobre ele, eu pulo para um
novo parágrafo. Simples assim. O quarto já está no lusco-fusco do finalzinho da
tarde. Será que vou aceitar um dos convites da minha amiga que foi embora mais
cedo da festa? Boa pergunta. Sei que meu primo-irmão achou salutar, um
movimento saudável. Provavelmente a minha terapeuta achará o mesmo. Minha amiga
que saiu mais cedo e que nomearei de amiga falastrona, pois é muito boa de
papo, disse que ainda trabalha com a minha antiga agência, que essa havia
perdido três clientes, que parecia não estar muito bem das pernas e disse que
puxava muito a orelha do meu chefe. Acredito que o faça mesmo, do jeito que é.
Hahaha. Comentei da minha ideia de ir escrever esses escritos lá com o intuito
de socialização. Ela estava até por dentro dos preços, sugeriu que eu fizesse
freelas para a agência, mas acho que deixei claro que odiava publicidade, que
era só pela companhia mesmo. Mas a ideia agora me parece um grande equívoco. Ou
não. Sei lá. Torcer para a minha amiga falastrona soltar a ideia para o meu
chefe. Por que torcer por isso? Se não quero? Aliás, não sei se quero ou não
quero. Deixar ao sabor do destino.
18h02. Minha mãe chegou e trouxe um sanduíche do McDonald’s
com batata e milk-shake. Com a comida na barriga me deu um sono. Acho que vou
fazer como ela e tirar um cochilo.
21h15. Fiquei deitado rolando e às vezes cochilando na cama
até agora. O meu amigo jurista também vai para a noite de games amanhã, acabei
de ver. Como a sensação é a mesma de acordar pela manhã, me sinto desmotivado
para tal empreitada, mas sei que isso muda com o tempo. Ou assim quero crer.
21h24. Minha vontade é voltar para a cama, mas não vou.
Amanhã tem terapia, não estou com a mínima inclinação para ir também.
21h37. A minha vida me parece completamente desprovida de
sentido nesse momento, é uma sensação aterradora. Fico feliz apenas por já ser 21h38.
Se não tivesse ido para a cama ainda estaria antes das 19h00.
21h43. O lado bom é que trouxe o Zelda da casa da minha
tia-mãe. Tenho mais uma opção de jogo. Mas não estou com vontade de jogar
videogame agora. Acho o Zelda um primor. Só é chato. Tudo no jogo é bem-feito,
mas acho difícil e tedioso. É uma pena, pode ser que se revisitá-lo depois que
der o Mario por visto, e realmente sente para investir o meu tempo no jogo eu o
aprecie. O pior que acho que não tenho mais esse grau de comprometimento com
videogames. Logo quando tenho todo o tempo do mundo para jogar. Isso é muito
irônico e frustrante. Não posso generalizar para todos os jogos, pode ser que
meu santo não tenha batido com o Zelda. Ainda pretendo encarar alguns do PS3,
incluindo “The Last Of Us”, o que meu amigo professor mais me pede para jogar.
Acho que poderia voltar a assistir “The Walking Dead”, caso já tenha lançado a
nova temporada. Acho que parei na sexta. Tudo são planos que não pretendo botar
em prática tão cedo. Ou que colocarei, sei lá de mim, minha alma é tão cheia de
desdizeres. Vou ligar o ar, estou suando.
22h24. Percebi nas fotos que a turma tirou ontem do
aniversário que realmente estou com a postura curvada. Não as publico aqui para
não dar cara os personagens da minha história. Não sei se eles agradariam
disso. Estou com fome, mas subsistirei a ela até mais tarde. Eu estou cada vez
mais desmotivado a escrever, isso é mal. Não posso me desconectar da escrita
sem abrir um rombo enorme no meu cotidiano, na minha vida, no meu âmago.
22h30. Pelo visto minha mãe e meu padrasto vão dormir mais
tarde que o normal hoje. Mamãe assiste o Oscar. Eu é que estou com vontade de
me deitar novamente, mas se continuar assim não saio mais da cama, o que mamãe
– e até eu – veria como sintoma de depressão. Esse equilíbrio químico
proporcionado pela Doutora é miraculoso. É incrível que não tenha caído em
depressão ainda. Queria me alimentar, mas acho que só vou fazer isso depois da
fome dos remédios.
23h17. Não estou com muito saco para escrever. Pelo menos,
não aqui.
23h47. No meu atual estado, não sei o que dizer na terapia.
E mais, tenho receio de ir lá. Um coisa ruim qualquer da alma que vê aquilo
como uma forçada de barra social. É um serviço que eu pago para alguém me ouvir
e me dizer que é possível ser feliz sendo eu. Que eu posso mudar o que me
desagrada e cultivar aquilo que me agrada. Perguntei à paquera de meu
primo-irmão, momento mais constrangedor da noite, pensando em retrospecto,
“Virus” remix invade o meu quarto-ilha, perguntei se estava sendo comunicativo.
Ela ficou sem palavras, mas queria dizer não. Antes que ela elaborasse uma
forma simpática de me dizer que não muito, eu emendei, é que estou fazendo um
esforço para ser mais sociável, mais comunicativo. Mas vamos falar de outra
coisa, para que preencher esse momento com constrangimentos passados. Já foram,
o que tiver que reverberar na realidade já o fez, não há mais nada que eu possa
fazer. Contei do meu maior problema para a paquera do meu primo-irmão. Foi uma
forma de aprofundar a conversa. Mas não foi possível, acho que ela não teve
interessem sei lá. O crucial foi o desabafo. Antissocial é um rótulo que eu
mesmo aplico à minha pessoa. É um rótulo cada vez mais grudado à minha pessoa.
Será que a terapia me ajudará a reverter ou acolher esse processo? A saída de
ontem não foi um momento muito difícil. Eita, outra merda que eu fiz, dei um
beijo no pescoço do meu amigo quando da despedida, num gesto de afeto sem intenções
homoeróticas, como celebração de tê-lo como amigo. Será que ele vai entender de
forma equivocada, como se aquilo fosse uma investida de um gay? Nada contra, só
não é minha praia. Não saberei nunca. Outra coisa que foi marcante para o meu
primo-irmão e, por isso julguei marcante para mim, foi a parte que dancei um
sambinha sentado na cadeira quando a paquera dele disse que eu precisava me
animar. Meu primo achou minha resposta àquele estímulo inusitada. Disse que nunca
esperava. Isso para mim, significa que fui mais sociável que de costume. Por
que eu não sei. Não sei de onde me veio aquela reação bem-humorada e com certo
gingado. Eu cantei até algumas músicas que eu conhecia, as mais antigas, as
novas não as conhecia. Mas o público do bar cantava em coro. Acho que agora não
tenho mais nada o que comentar sobre a saída de ontem. Estou com fome, acho que
vou fumar o Vaporfi. Entenderam a correlação? O Vaporfi me tira a fome.
0h42. Me alimentei bem, se sinto satisfeito. O que comi? O
resto do estrogonofe e dos legumes gratinados com arroz. Finalizei com um
sorvete de chocolate. A garota da noite não foi para o aniversário.
Coincidentemente, meu primo-irmão levou garotas para os dois últimos
aniversários do nosso amigo professor. Estranho, não costuma fazer isso. Mas o
que é que eu tenho a ver com isso, não é verdade? Vou fumar o digestivo.
0h56. Ficção. O nada nada mais é que um buraco negro de
massa infinita que dobra todo espaço-tempo em zero. É uma condição muito
instável da matéria, com o estímulo certo pode produzir um big bang igual ao
nosso. Descompactar uma parte sua para dar origem a um universo finamente
calibrado, com leis e propício a vida como o nosso. Por isso digo que o
estímulo inicial foi produzido por um processo inteligente. Criou o universo
tal qual se dá para criar uma versão melhor de si mesma. Da supraconsciência
universal, somatório de todas as singularidades tecnológicas do universo num
todo imensamente maior que as partes. FIM.
1h04. Estava lembrando de Her, do videogame do cara, um
videogame existencial. Curioso o conceito. Ficção. 2027, se não se der antes, a
Nintendo lança o primeiro companheiro AI na forma de um adorável bichinho que
vai aprendendo com o seu dono e é capaz de conversar com ele sobre os mais
diversos assuntos. É uma versão muito mais avançada da Siri, mais interativa,
que se passa mesmo por um ser digital e torna as barreiras cinzentas entre o
quanto um ser digital é um ser mesmo. Embora todos comecem da mesma forma, a
medida que interagem com o dono e o mundo, cada bichinho, se torna único. Em
personalidade, digo. Pois esteticamente já seria único desde o começo, pois
haveria uma ferramenta para que o usuário pudesse criar o monstrinho que bem
entendesse. O efeito de pelo e as animações iluminação e renderização em 8K são
perfeitas e parece que o bichinho está vivo mesmo. Esse jogo/brinquedo/AI se
torna uma coqueluche mundial, muito maior que Tamagochi e Pokémon, eu mesmo
teria um, solitário que sou. Os arquivos do bichinho ficariam salvos nas nuvens
para evitar que algum defeito no hardware apagasse aquele praticamente ser vivo
virtual. FIM. Esse textinho foi baseado em “Her”.
1h29. Pensando no meu Hulk com certa preocupação. Mamãe não
sabe o valor preciso. Espero que dê tudo certo. É bom o frisson de uma
encomenda que está chegando. A última vez que senti isso foi com o Nintendo
Switch. Foi muito bom. Dessa vez poderia ser do mesmo jeito, não fora a
tributação absurda. Mas acho que o Nintendo Switch, por ser um videogame, minha
paixão de mais longa data me pôs mais excitado. E teve o atraso, todo dia uma
expectativa nova. Até que finalmente deixara, no meio da entrada da casa do meu
irmão. Não acreditei que seria ele numa caixa tão pequena, deixada ao léu, mas
só poderia ser ele, pois o estado mudou para delivered no site da Amazon. Abri
e pensei, logo de cara, que negócio pequeno. Até a caixa é pequena. Ao mesmo
tempo achando linda. Ganhar um videogame desejado é muito bom. Não desejo
ganhar um PS4Pro ou um Xbox X, entretanto. Acho que o Switch foi o último. A
não ser que a Nintendo me encante outra vez, mas acho difícil. Não acredito que
haja nada que ela possa fazer de novo que me agrade mais que Super Mario
Odyssey. Estou até num mundo legal do Mario, mas me falta ímpeto para jogar.
Tem momentos que eu sinto uma saturação monstra de Björk.
Ficção. Eu consegui passar do último estágio do Super Mario
Odyssey. Hahaha. FIM. Acho que vou dar um rolé no Zelda. Boa ideia.
2h15. Não sei o que é, mas eu não gosto desse Zelda. Estava
me lembrando da minha amiga falastrona. Não sei qual é a dela, mas parece que
quer que eu me torne uma pessoa mais produtiva, mas sociável também, talvez.
Não sei. Acho que só quer alguém para acompanhá-la na saída do local à noite
que é meio sinistro, segundo ela. Eu acabei de dar o rolé em Zelda, disse que
não gostei e já estava com vontade de fazer isso de novo. Eu, hein?
2h24. Fui pegar mais Coca e comer um pouco mais de
Ovomaltine. Vou ligar o ar, me preparar para a retirada. Amanhã tem videogame
na casa do meu primo urbano se nada der errado. Eu tenho que encarar sem
receio, não há do que ter receio. É ele quem está convidando. Nos convidando, o
meu amigo jurista e eu.
2h44. Lembrei de mais um assunto levantado no aniversário do
meu amigo professor, quem era a banda maior, Oasis ou Cranberries. O
questionamento que nossa amiga do Poço levantou de maior presença nas redes
sociais não se aplica, pois quando o Oasis acabou, essas redes estavam
engatinhando. E a presença do Carnberries neste momento ainda deve estar em
alta pelo trágico motivo que sua vocalista morreu. De toda sorte, os números do
Spotify devem ser o critério de desempate, nisso concordo. E olhei agora, o
Oasis tem mais que o dobro de acessos de suas músicas mais famosas que o
Cranberries. Estou pronto para dormir, mas não estou realmente com sono.
2h54. Botei o meu pijama, que coisa confortável. Pijamas são
grandes invenções da humanidade. Gosto de toda ideia. E, lembrei agora que na
minha adolescência, de rebelde sem causa, fui ao shopping de pijamas e chinelas
Havaianas. Se me arrependo disso? Bem, não faria de novo, mas acho que botei
algumas pessoas a pensar com o meu ato inusitado. Não sei como tive coragem de
transitar pelo shopping assim, só sei que o fiz. Vai ver que estava num surto
de mania. Hahaha.
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