segunda-feira, 5 de março de 2018

SAÍDA


13h59. Estou agradado de estar aqui hoje. Em teoria, daqui a cinco, seis horas estarei no Barão, onde quer que fique, para celebrar o aniversário do nosso amigo professor. Publiquei o post anterior e revelei o nome do Manicômio e da Clínica de Drogados com as fotos. Tal revelação me causou mal-estar, como se o mistério houvesse sido revelado e eu quisesse que permanecesse um mistério para sempre. Mas poucos lerão, como sempre, e nem todos serão daqui, então não fará muita diferença. Ou assim quero crer. Bom, está feito. Me deu vontade de começar o projeto do livro de novo. Mas já estou cansado de contar as mesmas coisas, que acho que conto no diário que escrevi no Manicômio. Não me recordo. Se eu tenho que fazer um projeto paralelo, será digitar o diário. Não encontro disposição para tanto no momento. Ainda estou acordando. E mesmo que não estivesse, está difícil achar motivação para esse projeto. Estou sem palavras para cá. Há luas que não vou conseguir pegar no Mario Odyssey e não me conformo muito com isso. Simplesmente não tenho habilidade ou paciência para desafios mais extremos. Já coletei 621 luas, o que é um número considerável. Embora ao que me conste haja mais de 800 luas no jogo. Ainda faltam ser abertas pedras lunares em metade dos mundos. Talvez chegue a 700 luas, mas não acredito que cruze a próxima centena. Ficarei meio órfão quando der o jogo por visto. Falar tanto do Mario Odyssey me dá até uma coceirinha para jogar, mas não vou. Não no momento. No momento quero apenas existir e me dizer por escrito. Preciso pedir à minha mãe que corte os pelos do meu bigode, já me entram pela boca. Meu tio, irmão mais velho da minha mãe, criticou o meu brinco de forma leve e bem-humorada, mas sugeriu que eu devesse tirar o brinco por que pega mal na opinião dele. Me lembrei de Bono na capa da Rolling Stone que comprei num dos aeroportos quando vinha dos EUA para o Brasil. A Rolling Stone que mantenho no banheiro na esperança de um dia chegar na entrevista com o cantor. É um passatempo herdado do meu pai, ler no banheiro. Lembrei porque Bono, já sessentão ou quase, usa brinco. Ouvindo “Mixed Up” do Cure, botei a lista 6 para tocar na ordem, nunca havia feito isso antes, não é ruim. E posso sempre pular se uma música não me agrada, mas o “Mixed Up” é bem palatável. Para o meu gosto. É um disco que desce fácil. 14h49. Às 15h20 vou almoçar. Vi o estrogonofe, o arroz e os legumes assados no forno e tudo me pareceu muito apetitoso. Queria almoçar antes de a minha mãe acordar, mas não queria comer agora. Por isso a meta de 15h20. Meu padrasto vê TV na sala. Eu vejo as palavras me saírem poucas, isso me põe um pouco entediado.

14h54. Ficção. Em algum momento nos próximos 50 anos, após o advento da Singularidade Tecnológica, o mundo será transformado numa meganação gerida pela ONU, que contará com representantes de todos os países, com o auxílio da Singularidade para análise de dados e tomada de decisão. A constituição da meganação será a Declaração Universal dos Direitos Humanos Ampliada. Ampliada em mais uma cláusula, inclusão digital para todos os seres humanos. Tal meta é alcançada com doze anos da nova ordem mundial, a erradicação do analfabetismo e adoção de uma língua universal, desenvolvida pela Singularidade, se dará ainda na primeira década do governo. As demais línguas e dialetos não serão erradicados, mas todos serão, no mínimo bilíngues, por mais que ferramentas de tradução automática de quaisquer idiomas para os demais já existam, a língua criada pela Singularidade, amplia de forma considerável a capacidade de comunicação e abstração em relação às demais línguas. A democracia de fato é alcançada com a inclusão digital de todos os cidadãos da Terra que poderão votar nas decisões que os interessam, em qualquer nível, do regional ao global, o que orientará na tomada de decisão pelos líderes de cada esfera e gerenciadas pela Singularidade. FIM.

15h17. Fui almoçar e mamãe acordou justo na hora, o que lhe causou um impacto positivo.

15h22. Mandei uma mensagem para o meu primo-irmão relativa à ida ao aniversário do nosso amigo professor.

15h29. Ele respondeu que era limpeza eu ir. Está mais lacônico que de costume. Não sei se me comuniquei em algum momento inadequado. Achei estranho. Mamãe já me deu o dinheiro. Vai sair com o meu padrasto e pode não voltar a tempo. Já começo a ficar ansioso com a saída. Achando que o meu primo não quer a minha companhia. Por isso tão lacônico comigo. Não vou ficar hipotetizando nada, não leva a bons lugares emocionais. Leveza de espírito é o que preciso. Há uma barata grande no meu banheiro. Se escondeu atrás do espelho. Não tenho coragem de matar. Vai ficar por lá. Não sei se já foi dedetizada pelo meu padrasto. Sei que o banheiro é muito próximo do meu quarto. Será que outro ser vivo virá coabitar comigo? Logo um que considero ainda mais asqueroso que eu? Hahaha. Estou perdendo a motivação de escrever. Isso não é lá a melhor coisa que poderia acontecer comigo. Talvez seja a pior, em verdade. Pensei em coisa ruim e me veio logo a viagem. Estou... o quê? Estou o quê? Não sei, vou tentar me sintetizar em uma frase, escritor sem inspiração que tem medo de baratas aguarda a hora de entrar no banho e faz hora escrevendo o grande nada que tem a dizer. Fico na esperança de ver a garota da noite hoje. Acho que meu primo-irmão não está muito interessado em ir para o aniversário porque sabe que será sentar, beber e conversar, sem agito, sem paquera. Lembrar de levar uma caneta, quem sabe não invento de mandar um torpedo. Hahaha. Prevenir é melhor que remediar. Pode ser um passatempo. Pode ser que não precise disso. Pode ser tanta coisa ou tão pouca. Sinto que narro melhor o presente que o passado. Percebi isso na tentativa de livro que eu tentei quatro vezes começar a escrever. Não sei se tente uma quinta. Talvez, tudo é possível. O que deveria trazer para o campo das possibilidades era digitar o diário do Manicômio. Mas não agora. E por que não agora? Já são 16h31. Tenho uma hora e meia para partir para a casa do meu primo. Estou receoso de encontrar com ele. Nunca havia me sentido assim antes. Há uma primeira vez para tudo. Para quase tudo. Mas é bem abrangente esse campo das primeiras vezes, especialmente quando se conhece pouco da vida e do mundo. Não é mais o meu caso, já vivi demais e a maioria das primeiras vezes já passou, além de que não passo minha vida à procura de primeiras vezes, de experimentar o que não experimentei. Sei do que gosto e desgosto do meu repertório de coisas conhecidas. E busco me aproximar das primeiras e me afastar das segundas. Acabei de ver que a liberação alfandegária do Hulk se deu. Isso é uma mudança do estado que estava nos últimos dias. O que deve significar que o busto e a conta estão chegando. Vai ser complicado, minha mãe vai estrilar. E não há absolutamente nada que eu possa fazer. Espero que chegue quando ela estiver em casa, só ela tem cartão com limite para pagar a exorbitante quantia. Estou feliz com o meu Hulk.

17h07. O momento de tomar banho se aproxima. Não guardo grandes expectativas para a noite. Melhor assim. Devido às persianas fechadas o quarto se encontra quase na escuridão. Descobrirei se o meu primo-irmão está de saco cheio de mim. Torço para que não. Com todas as minhas forças. Embora seja um direito que lhe assiste. E que, se for o caso, terei que respeitar. Os próximos dias parecem ser movimentados para os meus padrões. Com uma saída hoje, a chegada do Hulk, a terapia, talvez meu primo-urbano na terça. 17h15. Entrarei no banho às 17h45. Acho que o celular já estará carregado nesse horário e poderei tirá-lo do banheiro para que o vapor e umidade do banho não o danifiquem. A minha mensagem elogiando a nossa amiga filósofa foi a última publicada no grupo da turma desde ontem. Isso me deixa apreensivo. Achando que fiz mais uma trapalhada cibernética. Dane-se isso, me preocupar com tão pouco. Fiz de coração, é o que me importa. Quem será que aparecerá na comemoração do nosso amigo professor? Pelo menos o seu amigo da banda, nosso amigo projetista, eu e meu primo-irmão. Talvez a sua ex, que poderia chamar de amiga musical, pois ela é psicóloga e já há as minhas amigas psicólogas com essa alcunha, a outra coisa marcante nela é que ama música e tem um vocabulário excelente. Será a amiga musical, decidido. 17h26. O tempo me empurra para o banho. Vou me perfumar com o meu melhor perfume. Já separei a roupa, a blusa rosa do Strokes e a boa e velha bermuda preta. Não sei se vá de tênis ou de sandália. Estou mais inclinado às últimas. Nossa, que post vazio. Estou com a barba enorme, pelo menos cortei mal e porcamente os pelos do bigode que estavam entrando na minha boca. Não sei se leve o iPod. Acho que levarei. Só por via das dúvidas, embora a minha pretensão seja interagir com a turma. O Hulk passou pelo processo alfandegário, isso me dá um frio na barriga. Será que foi danificado na inspeção? Será que chegará quando mamãe estiver aqui? Qual será a sua reação? Será que conseguirei colocar no lugar da impressora? 17h33. Doze minutos para o banho. Ainda em que não estou tomado de grande ansiedade como quando fui para a Galeria Joana d’Arc. Será que meu amigo cervejeiro e meu amigo bonitão irão? A probabilidade não é lá muito grande, mas probabilidade há. Mais do bonitão até que do cervejeiro. Descobrirei sobre todas essas especulações sem sentido dentro em breve. Daqui a duas ou três horas, que passam num sopro. Vai ser bom rever a família do meu primo-irmão. Começou Faith No More na lista 6. Não é muito a vibe em que estou agora. Acho que vou botar Björk, ouvir “Virus” remix e “Arisen My Senses” e tomar banho. Coloquei. 17h40. Se fosse pontual comigo mesmo, ouviria apenas “Virus”. Veremos. Mamãe voltou. Vou ouvir “Arisen My Senses” para não parecer que me fui me aprontar só porque ela chegou. Estou ficando muito neurótico em relação aos meus atos. Vou tomar banho. 17h45. Ouço a música quando sair do banho e estiver me arrumando.

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2h35. Volto à casa, ao quarto-ilha. Ouço Infected Mushroom para uma mudança de clima. “Never Mind”. A saída? Ficamos ao lado dos músicos da festa, por isso bem próximos das caixas de som e só era possível conversar a contento com a pessoa ao lado ou à frente se ela se aproximasse. Eu estava na cadeira mais próxima da caixa de som. Minto, um dos nossos amigos sentou na cabeceira da mesa por um bom tempo. Mas consegui conversar com a paquera do meu primo-irmão e com o pessoal lá fora quando íamos fumar e por lá nos demorávamos mais do que o necessário a conversar. O último assunto foi machismo, quando nossa amiga musical sugeriu que todos nós somos machistas, que isso transcende gêneros, que é algo que está enraizado na nossa cultura, talvez, e isso é assumpção minha, desde a época das cavernas. Mas estamos no século XXI e ela, outra assumpção minha, parou para refletir sobre o assunto e decidiu assumir outra postura diante do mundo, não-machista, no mínimo. E acha que dizer que a gente se comportou como moça no episódio, no mínimo, novamente, mais inusitado da noite, foi uma comparação machista. O episódio? Estávamos do lado de fora do Barão fumando ou fazendo companhia, meu amigo professor, um amigo de longa data deste e eu, quando um cara veio nos pedir comida, meu amigo professor o dispensou e ele ao sair disse algo assim, se eu tivesse uma quadrada, chegasse aqui com uma ponto 40, 21 tiros, eu faria limpa aí nesse bar. Tu ia ver. Ficção: quando, depois disso, se virou e já ia embora, eu o chamo e indago, por que você não faz um curso profissionalizante, arruma um emprego e frequenta esse bar em vez de pensar em violência? Você já ouviu a música de Bezerra da Silva que diz, você com o revolver na mão é um bicho feroz... tralalá... já ouviu? Então ouça. FIM. Ficamos meio atônitos com aquela colocação de extrema revolta e violência em relação aos que têm o que ele não pode ter. E ele queria apenas comida, disse que comeria na nossa frente. Chegou simpático, brincando com a camisa de X-Men do meu amigo professor, seu principal interlocutor, dizendo, e aí, Liga da Justiça. Recebeu logo a primeira cortada do professor, Liga da Justiça é DC, essa é da Marvel. E por aí foi até o desfecho mencionado. Eu permaneci no meu lugar, só olhando para ele quando ele teceu sua ameaça hipotética, posto que não estava armado. Meu amigo professor arrebatou com a frase, vem tentar sua sorte. Mas isso já disse entre nós, o amigo de longa data e eu, depois da partida do cara. O amigo de longa data se distanciou da cena e do cara. Meu amigo professor, contou uma história educativa de seu avô, que disse a ele, eles vêm pedir dinheiro, mas não se oferecem para capinar a calçada da casa. Ficção. Meu amigo, ainda criança, diz a um mendigo, se você capinar a grama da calçada, meu avô te paga o serviço. Diz isso extraoficialmente, claro, para que ninguém saiba. E ele não sabia que aquilo em vez de desmotivar o cara, o fez aceitar o serviço. Pediu para chamar o avô. Este veio e o cara disse, o senhor tem as ferramentas para eu capinar a grama da calçada? O velho disse que tinha e mandou meu amigo professor, uma criança de 11 anos na época, pegar. Ele correu para pegar o material impressionado que a sua tentativa de escárnio havia se tornado numa possibilidade de o avô pagar o trabalho de um vagabundo. O cara capinou a calçada e depois virou jardineiro da casa do avô por muitos anos. Aprendeu a ler, escrever e fazer contas, morreu pobre, mas com o mínimo integridade resgatada. FIM.

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15h26. Não aguentei e fui dormir. Não houve fatos mais marcantes que os que narrei, ou pelo não os apreendi. Meu amigo professor possui mais de 50 mil achievements na sua conta de Xbox, é um a número absurdo que prova o quão aficionado e hábil é com videogames. Eu, por comparação, não tenho nem cem troféus na minha conta do PS3. É uma recompensa gostosa de receber, um achievement/troféu. É algo meritório que gratifica aqueles que se dedicam e fazem um algo mais no jogo. O Mario Odyssey que, embora não use desse expediente, é o jogo que oferece recompensas, na forma de power moons, de forma mais satisfatória que já joguei. Mas está bom de videogames. É porque o meu amigo professor é um dos únicos com quem eu posso falar do assunto, o outro sendo o meu amigo jurista. São os amigos entendidos de videogames que tenho. Tem o Ozzy também, mas esse vejo tão pouco e esparsamente que praticamente não conta. Estou de baixo astral acordei há pouco tempo e o despertar sempre me é uma parte chata do dia.

16h01. Abri a janela como minha mãe sugeriu. O que mais houve na noite de ontem? Nossa, como pude esquecer, vi a pequerrucha filha da minha prima religiosa, que nem sei se anda mais tão religiosa assim, é um serzinho tão frágil e desprotegido, um sopro de gente ainda, foi o bebê mais recém-nascido que já vi e confesso que me encantou. As narrativas do estresse que é quando começa a chorar das oito da noite às três e meia da matina são desmotivadores, mas ela tranquila nos braços da minha tia-mãe tem seu encanto. Não sei se estaria preparado para o choque de responsabilidade que é se dar conta de que aquela semente de gente depende única e exclusivamente dos pais para sobreviver e que vai ser assim até que consiga sua independência financeira. É muito tempo de dependência e isso é acachapante quando eu penso. Mas há as diversas fases da vida daquela pessoinha até se tornar uma pessoa de fato, o que torna a jornada mais interessante. De toda sorte, não pretendo me reproduzir, não pretendo namorar, aliás namorar é até uma pretensão, mas acho que estou sendo pretensioso demais nesse sentido. Hahaha. Minha amiga que há muito não via, está me convidando para uma série de coisas, acho que porque me disse antissocial e porque gosta realmente de mim. Não me sinto disponível no momento, mas quem sabe em um futuro próximo se ela não desistir antes. Ela esteve na festa também, mas saiu cedo. Não mais do que 20 minutos depois que eu cheguei. Acho que interagi quase a contento. Embora tenha havido vezes em que me alienei, olhando para o nada e perdido em mim, a fim de evitar contatos. Nossa, amanhã tem terapia, sem coragem nenhuma de encarar. Há momentos em que sou displicente na escrita, que sei que o texto está mal construído ou truncado e mesmo assim deixo passar, torcendo para que na revisão eu dê uma melhorada, o que nem sempre é o caso. O que posso contar mais da noite? Mais nada. Não me ocorre. O que posso contar de hoje? Minha mãe saiu com o meu padrasto para almoçar. Aposto que à minha revelia vai trazer algo do chinês para eu comer, o que seria até bem-vindo, sinto um pouco de fome.

17h03. Meu primo urbano está convidando para uma sessão de games amanhã na casa dele. Já disse que me interessa. É esperar o que o meu amigo jurista vai dizer. E, mesmo sem ele, podemos jogar só nós dois, não sei se isso vai interessar ao meu primo. Veremos.

17h11. É um recurso muito útil o tal do parágrafo, quando um assunto se esgota, quando não sei mais o que dizer sobre ele, eu pulo para um novo parágrafo. Simples assim. O quarto já está no lusco-fusco do finalzinho da tarde. Será que vou aceitar um dos convites da minha amiga que foi embora mais cedo da festa? Boa pergunta. Sei que meu primo-irmão achou salutar, um movimento saudável. Provavelmente a minha terapeuta achará o mesmo. Minha amiga que saiu mais cedo e que nomearei de amiga falastrona, pois é muito boa de papo, disse que ainda trabalha com a minha antiga agência, que essa havia perdido três clientes, que parecia não estar muito bem das pernas e disse que puxava muito a orelha do meu chefe. Acredito que o faça mesmo, do jeito que é. Hahaha. Comentei da minha ideia de ir escrever esses escritos lá com o intuito de socialização. Ela estava até por dentro dos preços, sugeriu que eu fizesse freelas para a agência, mas acho que deixei claro que odiava publicidade, que era só pela companhia mesmo. Mas a ideia agora me parece um grande equívoco. Ou não. Sei lá. Torcer para a minha amiga falastrona soltar a ideia para o meu chefe. Por que torcer por isso? Se não quero? Aliás, não sei se quero ou não quero. Deixar ao sabor do destino.

18h02. Minha mãe chegou e trouxe um sanduíche do McDonald’s com batata e milk-shake. Com a comida na barriga me deu um sono. Acho que vou fazer como ela e tirar um cochilo.

21h15. Fiquei deitado rolando e às vezes cochilando na cama até agora. O meu amigo jurista também vai para a noite de games amanhã, acabei de ver. Como a sensação é a mesma de acordar pela manhã, me sinto desmotivado para tal empreitada, mas sei que isso muda com o tempo. Ou assim quero crer.

21h24. Minha vontade é voltar para a cama, mas não vou. Amanhã tem terapia, não estou com a mínima inclinação para ir também.

21h37. A minha vida me parece completamente desprovida de sentido nesse momento, é uma sensação aterradora. Fico feliz apenas por já ser 21h38. Se não tivesse ido para a cama ainda estaria antes das 19h00.

21h43. O lado bom é que trouxe o Zelda da casa da minha tia-mãe. Tenho mais uma opção de jogo. Mas não estou com vontade de jogar videogame agora. Acho o Zelda um primor. Só é chato. Tudo no jogo é bem-feito, mas acho difícil e tedioso. É uma pena, pode ser que se revisitá-lo depois que der o Mario por visto, e realmente sente para investir o meu tempo no jogo eu o aprecie. O pior que acho que não tenho mais esse grau de comprometimento com videogames. Logo quando tenho todo o tempo do mundo para jogar. Isso é muito irônico e frustrante. Não posso generalizar para todos os jogos, pode ser que meu santo não tenha batido com o Zelda. Ainda pretendo encarar alguns do PS3, incluindo “The Last Of Us”, o que meu amigo professor mais me pede para jogar. Acho que poderia voltar a assistir “The Walking Dead”, caso já tenha lançado a nova temporada. Acho que parei na sexta. Tudo são planos que não pretendo botar em prática tão cedo. Ou que colocarei, sei lá de mim, minha alma é tão cheia de desdizeres. Vou ligar o ar, estou suando.

22h24. Percebi nas fotos que a turma tirou ontem do aniversário que realmente estou com a postura curvada. Não as publico aqui para não dar cara os personagens da minha história. Não sei se eles agradariam disso. Estou com fome, mas subsistirei a ela até mais tarde. Eu estou cada vez mais desmotivado a escrever, isso é mal. Não posso me desconectar da escrita sem abrir um rombo enorme no meu cotidiano, na minha vida, no meu âmago.

22h30. Pelo visto minha mãe e meu padrasto vão dormir mais tarde que o normal hoje. Mamãe assiste o Oscar. Eu é que estou com vontade de me deitar novamente, mas se continuar assim não saio mais da cama, o que mamãe – e até eu – veria como sintoma de depressão. Esse equilíbrio químico proporcionado pela Doutora é miraculoso. É incrível que não tenha caído em depressão ainda. Queria me alimentar, mas acho que só vou fazer isso depois da fome dos remédios.

23h17. Não estou com muito saco para escrever. Pelo menos, não aqui.

23h47. No meu atual estado, não sei o que dizer na terapia. E mais, tenho receio de ir lá. Um coisa ruim qualquer da alma que vê aquilo como uma forçada de barra social. É um serviço que eu pago para alguém me ouvir e me dizer que é possível ser feliz sendo eu. Que eu posso mudar o que me desagrada e cultivar aquilo que me agrada. Perguntei à paquera de meu primo-irmão, momento mais constrangedor da noite, pensando em retrospecto, “Virus” remix invade o meu quarto-ilha, perguntei se estava sendo comunicativo. Ela ficou sem palavras, mas queria dizer não. Antes que ela elaborasse uma forma simpática de me dizer que não muito, eu emendei, é que estou fazendo um esforço para ser mais sociável, mais comunicativo. Mas vamos falar de outra coisa, para que preencher esse momento com constrangimentos passados. Já foram, o que tiver que reverberar na realidade já o fez, não há mais nada que eu possa fazer. Contei do meu maior problema para a paquera do meu primo-irmão. Foi uma forma de aprofundar a conversa. Mas não foi possível, acho que ela não teve interessem sei lá. O crucial foi o desabafo. Antissocial é um rótulo que eu mesmo aplico à minha pessoa. É um rótulo cada vez mais grudado à minha pessoa. Será que a terapia me ajudará a reverter ou acolher esse processo? A saída de ontem não foi um momento muito difícil. Eita, outra merda que eu fiz, dei um beijo no pescoço do meu amigo quando da despedida, num gesto de afeto sem intenções homoeróticas, como celebração de tê-lo como amigo. Será que ele vai entender de forma equivocada, como se aquilo fosse uma investida de um gay? Nada contra, só não é minha praia. Não saberei nunca. Outra coisa que foi marcante para o meu primo-irmão e, por isso julguei marcante para mim, foi a parte que dancei um sambinha sentado na cadeira quando a paquera dele disse que eu precisava me animar. Meu primo achou minha resposta àquele estímulo inusitada. Disse que nunca esperava. Isso para mim, significa que fui mais sociável que de costume. Por que eu não sei. Não sei de onde me veio aquela reação bem-humorada e com certo gingado. Eu cantei até algumas músicas que eu conhecia, as mais antigas, as novas não as conhecia. Mas o público do bar cantava em coro. Acho que agora não tenho mais nada o que comentar sobre a saída de ontem. Estou com fome, acho que vou fumar o Vaporfi. Entenderam a correlação? O Vaporfi me tira a fome.

0h42. Me alimentei bem, se sinto satisfeito. O que comi? O resto do estrogonofe e dos legumes gratinados com arroz. Finalizei com um sorvete de chocolate. A garota da noite não foi para o aniversário. Coincidentemente, meu primo-irmão levou garotas para os dois últimos aniversários do nosso amigo professor. Estranho, não costuma fazer isso. Mas o que é que eu tenho a ver com isso, não é verdade? Vou fumar o digestivo. 

0h56. Ficção. O nada nada mais é que um buraco negro de massa infinita que dobra todo espaço-tempo em zero. É uma condição muito instável da matéria, com o estímulo certo pode produzir um big bang igual ao nosso. Descompactar uma parte sua para dar origem a um universo finamente calibrado, com leis e propício a vida como o nosso. Por isso digo que o estímulo inicial foi produzido por um processo inteligente. Criou o universo tal qual se dá para criar uma versão melhor de si mesma. Da supraconsciência universal, somatório de todas as singularidades tecnológicas do universo num todo imensamente maior que as partes. FIM.

1h04. Estava lembrando de Her, do videogame do cara, um videogame existencial. Curioso o conceito. Ficção. 2027, se não se der antes, a Nintendo lança o primeiro companheiro AI na forma de um adorável bichinho que vai aprendendo com o seu dono e é capaz de conversar com ele sobre os mais diversos assuntos. É uma versão muito mais avançada da Siri, mais interativa, que se passa mesmo por um ser digital e torna as barreiras cinzentas entre o quanto um ser digital é um ser mesmo. Embora todos comecem da mesma forma, a medida que interagem com o dono e o mundo, cada bichinho, se torna único. Em personalidade, digo. Pois esteticamente já seria único desde o começo, pois haveria uma ferramenta para que o usuário pudesse criar o monstrinho que bem entendesse. O efeito de pelo e as animações iluminação e renderização em 8K são perfeitas e parece que o bichinho está vivo mesmo. Esse jogo/brinquedo/AI se torna uma coqueluche mundial, muito maior que Tamagochi e Pokémon, eu mesmo teria um, solitário que sou. Os arquivos do bichinho ficariam salvos nas nuvens para evitar que algum defeito no hardware apagasse aquele praticamente ser vivo virtual. FIM. Esse textinho foi baseado em “Her”.

1h29. Pensando no meu Hulk com certa preocupação. Mamãe não sabe o valor preciso. Espero que dê tudo certo. É bom o frisson de uma encomenda que está chegando. A última vez que senti isso foi com o Nintendo Switch. Foi muito bom. Dessa vez poderia ser do mesmo jeito, não fora a tributação absurda. Mas acho que o Nintendo Switch, por ser um videogame, minha paixão de mais longa data me pôs mais excitado. E teve o atraso, todo dia uma expectativa nova. Até que finalmente deixara, no meio da entrada da casa do meu irmão. Não acreditei que seria ele numa caixa tão pequena, deixada ao léu, mas só poderia ser ele, pois o estado mudou para delivered no site da Amazon. Abri e pensei, logo de cara, que negócio pequeno. Até a caixa é pequena. Ao mesmo tempo achando linda. Ganhar um videogame desejado é muito bom. Não desejo ganhar um PS4Pro ou um Xbox X, entretanto. Acho que o Switch foi o último. A não ser que a Nintendo me encante outra vez, mas acho difícil. Não acredito que haja nada que ela possa fazer de novo que me agrade mais que Super Mario Odyssey. Estou até num mundo legal do Mario, mas me falta ímpeto para jogar. Tem momentos que eu sinto uma saturação monstra de Björk.

Ficção. Eu consegui passar do último estágio do Super Mario Odyssey. Hahaha. FIM. Acho que vou dar um rolé no Zelda. Boa ideia.

2h15. Não sei o que é, mas eu não gosto desse Zelda. Estava me lembrando da minha amiga falastrona. Não sei qual é a dela, mas parece que quer que eu me torne uma pessoa mais produtiva, mas sociável também, talvez. Não sei. Acho que só quer alguém para acompanhá-la na saída do local à noite que é meio sinistro, segundo ela. Eu acabei de dar o rolé em Zelda, disse que não gostei e já estava com vontade de fazer isso de novo. Eu, hein?

2h24. Fui pegar mais Coca e comer um pouco mais de Ovomaltine. Vou ligar o ar, me preparar para a retirada. Amanhã tem videogame na casa do meu primo urbano se nada der errado. Eu tenho que encarar sem receio, não há do que ter receio. É ele quem está convidando. Nos convidando, o meu amigo jurista e eu.

2h44. Lembrei de mais um assunto levantado no aniversário do meu amigo professor, quem era a banda maior, Oasis ou Cranberries. O questionamento que nossa amiga do Poço levantou de maior presença nas redes sociais não se aplica, pois quando o Oasis acabou, essas redes estavam engatinhando. E a presença do Carnberries neste momento ainda deve estar em alta pelo trágico motivo que sua vocalista morreu. De toda sorte, os números do Spotify devem ser o critério de desempate, nisso concordo. E olhei agora, o Oasis tem mais que o dobro de acessos de suas músicas mais famosas que o Cranberries. Estou pronto para dormir, mas não estou realmente com sono.

2h54. Botei o meu pijama, que coisa confortável. Pijamas são grandes invenções da humanidade. Gosto de toda ideia. E, lembrei agora que na minha adolescência, de rebelde sem causa, fui ao shopping de pijamas e chinelas Havaianas. Se me arrependo disso? Bem, não faria de novo, mas acho que botei algumas pessoas a pensar com o meu ato inusitado. Não sei como tive coragem de transitar pelo shopping assim, só sei que o fiz. Vai ver que estava num surto de mania. Hahaha.

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