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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

SEGUNDA CHANCE?



16h48. Como não tenho nada de interessante para fazer e como apaixonado pelas palavras, volto a elas. Vivemos um  momento histórico. E,  ao que parece, tempos  sombrios se aproximam. Agora me parece  inevitável. Beira o fanatismo. Até minha mãe  foi tomada pela  cegueira generalizada. Soube que  Bolsonaro numa inteligente manobra eleitoreira vai fazer  uma  transmissão ao vivo no mesmo horário do debate  dos demais  candidatos na Globo. Ele até usou uma expressão de outro perigoso e  tremendo idiota,  Trump, dizendo  que não aceitaria  outro  resultado que não a  sua vitória. “Vitória”. Esse  palavra  ganhou um novo significado para mim. Agora é  um  nome  pelo qual  tenho imenso carinho  e me sinto bem  sendo  detentor desse carinho.

17h15. Estava pensando em  desinstalar o Tinder  e resolvi  dar  mais uma  olhada no aplicativo e quem encontro? A  garota  do  Instagram! Ela mora realmente em Recife, a cinco quilômetros de mim. Parece que não é  fake  como eu  julgava. Vou  pedir ao anjo do Tinder, se  ela ainda tiver acesso, que  peça à garota do Instagram  para me  desbloquear  para uma última  conversa. Acho que  não  vai rolar, mas não custa  tentar. Nossa, eu poderia ter dado um superlike na garota do Instagram  e deixei passar. Que ozzy. Esqueci dessa funcionalidade do aplicativo. Vou fazer um  café.

17h38. Coloquei a  água para ferver. Queria muito ter uma nova  oportunidade com  a  garota do Instagram. Queria mais ainda  o anjo do Tinder, mas é ainda mais difícil, essa não me quer de jeito nenhum.

18h46. Combinei com o anjo do Tinder que  ela  intercedesse por  mim  junto à  garota do Instagram. Ela disse  que  depois  fala com ela. A  ansiedade volta a reinar  na minha vida. Duvido que a garota do Instagram  me  dê uma segunda chance, só se o anjo do Tinder  for realmente muito convincente.

19h05. Que merda, velho. A Gatinha  me ferrou  nessa.  Aliás,  não é culpa de ninguém, o acaso-destino quis assim. Talvez não seja  ela.

20h50. Acho que estou ficando apaixonado.  Isso não pode acontecer. É  sofrer  pelo que não pode ser. Eu queria  muito que  houvesse possibilidade, mas não  acredito nisso. Ela  não me mete  medo,  esse é o seu principal diferencial. Ela me atrai muito,  isso é um segundo diferencial. Ela é muito linda,  enfim,  um  sonho. E traz alegria para a minha vida.

21h10. Nenhuma mensagem. No que fui me meter, meu deus? Eu conheço os sintomas. Adoro os sintomas,  mas pela  pessoa errada, não. Já vi  que vou  sofrer.

21h53. Meu padrasto tinha um teclado USB sobrando e me emprestou. Agora o problema da tecla de espaço foi resolvido, só resta agora me acostumar com a posição das teclas deste, acho que isso acontecerá rápido, é só continuar escrevendo que se tornará second nature in no time. Nossa, estou apaixonado. Pela pessoa errada.

22h08. Eu vou me declarar. Se ela prometer ser minha amiga independente de qualquer coisa. Vamos ver o que ela vai me responder. A merda já está feita. A garota do Instagram deve estar muito puta comigo, não vai querer mais papo. Minha cabeça está a mil, tudo junto e misturado, sentimentos por duas garotas incríveis que o acao-destino jogou de uma vez só na minha vida. Só queria que o anjo do Tinder me prometesse. Ela é a maior alegria da minha vida.

22h39. Ela prometeu e eu abri meu coração para ela. Não sei o que ela vai responder.

23h34. Ela respondeu e senti que não foi legal para ela. Disse também que mandou mensagem para a garota do Instagram. Mas acho que não vai dar em nada. Nossa, em que doideira emocional eu me meti. Estou completamente confuso.

0h12. Estou ficando com sono. Acho que a minha declaração quebrou algo na relação com o anjo do Tinder. Que pena.

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13h20. Há uma nova integrante na família, acabou de nascer. Isso mostra como a família materna e paterna são diferentes. Na família paterna, além dos meus irmãos (que também são da família materna, obviamente), só mais uma prima é casada e tem uma filha, o resto é solteiro e não tem filhos. Na família materna, quase todos os primos são casados e têm filhos. Enquanto a família paterna tem uma posição mais à esquerda, na materna a maioria é conservadora. Convivo bem com as duas e amo as duas, mas creio que transito ou transitava com mais desenvoltura em meio à paterna. Coloco o verbo no passado, pois com a morte do meu pai, houve um distanciamento que não acho saudável. Acordei sem grandes sintomas de paixão pelo anjo do Tinder, o que é bom para os dois. Mandei mensagem comunicando isso, desejando um bom dia e perguntando sobre novidades a respeito da garota do Instagram. O teclado ainda está dando um caldo em mim, errando as teclas sem parar. Tenho que digitar com os olhos fixos nele e mesmo assim erro. Não tenho mais novidades. Ah, a fantástica faxineira está aqui em casa hoje.

13h56. Mamãe comprou quatro Cocas Zero e minha dieta de café e água foi momentaneamente pro espaço. Este teclado até agora está me enervando mais que o outro, espero me acostumar rápido. Temo que a minha declaração para o anjo do Tinder a tenha assustado. Bom, o pior que pode acontecer é perder o contato de uma figura adorável e voltar à minha solidão, o que sinceramente odiaria. Adoro bater papo com ela.

14h08. Devo confessar que esse contato com o anjo do Tinder é o que de mais alegre, interessante, divertido e excitante acontece no meu dia. Eu nasci para sofrer de amor, eu acho. Eu não sei por que sou tão seletivo e só quero o que não posso ter. Ela viu a minha mensagem e nada respondeu. Acho que com meu ato intempestivo, acabei perdendo a melhor coisa da minha vida no momento. O pior é que não sei como substituí-la. Não há como substituí-la.

14h41. Acho que perdi as duas. É a vida e segue. Perguntei o que estava havendo para o anjo do Tinder. Acho que vou escrever o que queria dizer à garota do Instagram, passar o link para o anjo do Tinder para ela repassar.

17h37. Minha mãe esqueceu uma requisição e eu tive de ir até o Rio Mar entregar nesse trânsito infernal do Recife ao qual, graças, me submeto muito pouco. O anjo do Tinder parou de me responder e isso dói mais do que poderia imaginar. Dor dupla porque perdi duas garotas incríveis, que não imaginei que fosse mais encontrar na vida. Estou de novo jogado à solidão pela minha incompetência ou por algum truque maquiavélico do acaso-destino. Não sei por que a vida é tão cruel comigo nesse aspecto. Não acho que mereça, mas tanta gente recebe da vida o que não merece, não existe justiça de fato, isso é um conceito, uma invenção dos homens. O que diria à garota do Instagram? Antes preciso de um cigarro, já sinto um frio na barriga.


17h55. Bem, vamos à luta. Eu admito que sou um cara esquisito, talvez excêntrico: eu passo os meus dias fazendo o que a maioria da humanidade odeia, escrever; eu faço parte de um movimento cultural que teve origem séculos atrás e que está fora de moda hoje, o romantismo; eu coleciono bonecos, coisa ridícula para alguém da minha idade; eu sou muito seletivo com garotas, só consigo me interessar por aquelas que considero incríveis por dentro e por fora; eu acho sexo divertido, mas ao contrário de todos os outros homens que conheço não penso com o meu pau ou onde vou enfiá-lo; eu vivo os meus sentimentos plena e abertamente, não os reprimo ou me distancio deles a ponto de anestesiá-los; eu sou extremamente tímido e tenho vergonha de abordar desconhecidas na noite, aliás, nem sei como, não sei jogar caô, só sei ser eu mesmo; finalmente e talvez o mais aberrante, eu procuro ser sempre honesto e sincero. Eu sei que isso destoa de todos os padrões de hoje em dia, mas prefiro ser fiel aos meus princípios e construir relações com profundidade, respeito e carinho. Fato é que falho vergonhosamente. Tenho que confessar que há dez anos estou só e que esta solidão me é dilacerante. Tentei paquerar algumas garotas ao vivo, não mais de dez, e levei fora todas as vezes. Não sei realmente lidar com garotas. Foi então que meu primo sugeriu o Tinder e foi assim que encontrei o meu anjo (e cupido). Por coincidência mexer no Instagram me levou a outra garota fantástica, mas fiz merda, emprenhei pelos ouvidos e pelo descaso dela comigo e pensei que fosse um perfil fake de algum marmanjo querendo tirar onda com a minha cara. Acabei a tratando mal e acabei sendo bloqueado por ela. Estou profundamente arrependido das medidas extremas que tomei e queria retomar o diálogo com o coração aberto, pois acho que ela é a garota perfeita para mim. O acaso-destino nos uniu, nos separou e espero que nos ofereça uma segunda chance, acho que merecemos uma. Tem sido um começo de relação turbulento, mas prefiro aparar arestas antes que depois, embora eu saiba que num relacionamento sempre haverá arestas a aparar, seja com um amigo, uma mãe, um filho (que não tenho e não pretendo, embora não descarte a possibilidade por completo), uma paquera. Sei que fui extremamente rude e grosseiro cegado pela mesma cegueira que acredito acometer os eleitores de Bolsonaro. Como dizem, quem aponta um dedo pra alguém, está apontando três para si. Eu não sei o que fazer, me confesso desesperado com a possibilidade de perder a única verdadeira oportunidade que tive nos últimos dez anos. Queria muito uma segunda chance. Eu errei, assumo completamente a culpa e estou pagando por ela, mas se houver um coração bom do outro lado, como imagino que seja o caso, pelo menos foi o que pude aferir pelos poucos papos que tivemos, há de haver uma nova oportunidade de diálogo, para esclarecermos as coisas. E se não der em nada, paciência. Mas, como disse, eu sou difícil de largar o osso. Não sei mais o que dizer. Se soubesse rezar, rezava. A solidão me pesa imensamente na alma e já dura mais do que o suficiente. Acabou a terceira página, vou revisar, postar e pedir ao anjo do Tinder que repasse para a garota do Instagram.  

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

DIA DE TERAPIA OU TROUXA



14h54. Hoje é dia de Ju. Acordei com um  astral bom, dormi muito, sonhei. Acordei e  decidi  que  hoje não vou mandar nenhuma mensagem  para a garota do Instagram. Isso me faz  bem pois me liberta da ansiedade de uma resposta e não a  sufoco com o excesso de mim. Acho que ambos saímos ganhando. A fantástica  faxineira  a  achou  linda, talvez  tenha  razão. Mostrarei a  Ju, óbvio.  Por  mim repartia com  todo mundo, mas acho que é como gravidez, só se anuncia passados os meses de  risco. Ademais não gosto de contar vantagem. Até porque não tenho do que contar vantagem. E  provavelmente  nada terei, mas a  esperança  é maior que o derrotismo. O acaso-destino me  ofereceu essa oportunidade, farei o que estiver ao meu alcance  para  concretizá-la em fato. 15h04. Preguiça de tomar banho. De 15h15 eu vou. Pode  ser que chegue tarde. Não chegarei, sempre espero uns 20 minutos, meia hora  por  Ju.  Queria  tirar um  selfie com ela para postar no Instagram, acho que ela  não vai concordar. Também  não sei se tenho coragem de pedir. Vamos  ver onde a  existência me leva. 15h09. Vou tomar  mais um  café com cigarro e tomar banho.

17h38. Voltei, como se faz óbvio. Pedi a  foto, mas  Ju não curtiu a ideia. O que ficou  na minha cabeça foi a  concepção dela de que  a  vida é cíclica, confesso que não vejo dessa  forma,  a encaro como uma tortuosa estrada rumo ao desconhecido, mas gostaria muito de apreender esse  conceito de  ciclos. Até entendo que  revisitemos  velhos conceitos com novos olhares, mas  não vejo a  vida passando pelos mesmos lugares, realmente não compreendo  a  ideia  e não gosto de  não compreender algo. Ju achou que as minhas projeções a respeito  da garota do Instagram são negras demais. Eu diria que são realistas. Estou me coçando  para mandar um “oi” para ela, mas não o farei. Só um boa noite, que quero tornar uma tradição, o que para mim já é. Adoraria  que  ela puxasse papo, mas não vai ser o caso,  tenho certeza.  Apesar de  todo o desprezo, eu tenho  uma  convicçãozinha, frágil, mas  firme,  de que  vou conquistá-la. Não sei bem  como, acho que fazendo o que  faço, sendo eu. Acho também que esgotei as  possibilidades  que me apeteciam  no Mario Odyssey,  já posso dar o meu videogame  com  mais tranquilidade para os meus sobrinhos. Eu definitivamente não  tenho paciência com  crianças,  interajo por  obrigação. Nossa,  ainda  bem  que não sou pai. Não sei se  fosse um  filho meu irromperia dessa condição um  interesse gratuito e  genuíno pela  figurinha e,  provavelmente,  a depender de mim  apenas,  nunca saberei. Estou perdendo o jeito com  as  palavras,  acho que é Instagram   demais. O que mais decorreu da terapia? Vejamos, começamos a olhar para a relação com a minha mãe. Ju achou  que eu estabeleci um limite quando mantive  o pacote de cigarros  que  comprei à revelia da minha genitora. Ela  acha  que eu preciso estabelecer mais limites, não ser tão dependente. Assumir responsabilidades que me  deixam mais livres. Liberdade igual a responsabilidade,  não há como fugir disso. E nem  todas as responsabilidades são chatas, nem tudo em  ser adulto é desagradável. Leva  ainda algumas sessões para eu me aceitar como adulto, para eu enxergar como quero ser adulto. Acho que a  garota do Instagram  é mais adulta que eu. Hahaha. Na  verdade, nem  acho engraçado,  me  envergonha  e  diminui  tal visão e  o pior: não destoa da  verdade. Discutimos ainda a  respeito de sexo, em como acho uma  coisa  secundária, exagerada em  demasia pela  sociedade. Não tenho essa fixação, essa  obsessão pelo orgasmo  que  os demais homens todos compartilham. Disse-lhe que  a sensação do orgasmo me lembra  a  de uma  supermijada, é como se me aliviasse de alguma necessidade fisiológica e  que  depois me  bate  um desânimo,  um  sentimento de esvaziamento, uma  dormência emocional que nunca  me agradou. Adoro entretanto  chupar uma mulher,  acho algo profundamente excitante  e prazeroso. O coito em si,  a  penetração me  é menos interessante. Sei que no clima tórrido eu me  entregaria e  penetraria, como o farei se a oportunidade se der. Acho que namorar comigo seria uma  experiência nova para a garota do Instagram. Diferente pela  diferença de  idade. Acho que descobriríamos coisas muito interessantes sobre a vida  um com  o outro. Acho que o resultado seria maior que a soma das  partes. Mas  por enquanto  isso é um  projeto só meu.

19h29. As horas  voam. Hoje foi dia de  cuidar da  mente, amanhã  vai ser dia de cuidar do resto, tosar, cortar  unhas,  levar o computador no conserto.  A  Coca aqui de casa acabou. Vou começar a  minha  dieta de café e água a partir de  hoje,  quero ver se o bucho não diminui.

19h35. Comuniquei à minha  mãe da minha  decisão  e, surpreendentemente, não encontrei oposição. Ela vai fazer  café para mim.  Comuniquei-lhe também  da  cafeteira  que receberei da minha  tia. Espero conseguir manter essa “dieta” e  rezo para o meu estômago aguentar.

19h41. A tecla  de espaço está cada vez pior, às vezes não reconhece o espaço dado. Ozzy. Nossa,  estou escrevendo muito mal. Ozzy  vezes dois. Queria que já fosse  hora de mandar a mensagem para a garota do Instagram. Há uma pequena probabilidade de ela responder algo, puxar um papo. Acho que não vai, mas sei o que vou mandar: um coração, depois “Good night. Sweet  dreams”, depois uma  rosa vermelha, se rosas  vermelhas houver entre os emoticons. Nossa, namorar é tão bom, como sinto  falta. Como queria  que  tivesse chegado a  hora. Depois de  uma  década. O tempo e minha incompetência têm  sido cruéis e até agora não cessaram de ser.

20h11. Mamãe fez  o café. Delicioso. Vou tentar comer salada hoje quando bater a  fome  dos remédios. A tecla de espaço está realmente nas últimas, espero que haja conserto para  isso.  E que seja barato.  Espero que o cara  não invente que precisa  trocar o teclado todo para me  explorar. Seria perfeito que ele  resolvesse  o problema enquanto eu cortava o  cabelo. Vamos ver como a coisa se dará. Não estou a fim de  falar  nisso,  queria  era bater  um papo com  alguma  das garotas cibernéticas, mas tenho que relaxar quanto a  isso. Estou  fumando desbragadamente. O café chama, pede por cigarro. Vou segurar um pouco. Breeders  rolando no som, cai bem. Acho que meu astral melhora sobremaneira  com  café. A  garota  do Instagram já sabe  como eu sou,  a minha cara, o meu  corpo,  sabe  que  não sou muita coisa  fisicamente. Sabe bastante da  minha  vida também. De mim, de como penso e  sou. Dela, sei apenas da  aparência, que muito me agrada e algumas coisas mais. Acho que vou fumar outro cigarro,  a  vontade  bateu de  novo. Não,  vou  segurar mais  uma vez, na próxima cedo.

20h35. Detesto  essa  minha mania de foco, por assim dizer,  quando eu encuco com uma  ideia  é quase impossível tirá-la  da cabeça. E  encuquei com  a garota do Instagram. Ela nem  faz  muito o meu tipo,  mas acho que ela é gente  boa, uma  pessoa do bem. E é o que  de mais concreto tenho afetivamente.  É muito pouco, mas me  agarro como posso a isso. Colorblind  do Counting Crows, achado do meu amado irmão. Uma de suas bandas  prediletas. Quando essa  música acabar,  vou  pegar café e  fumar. Queria muito que a  garota do Instagram  topasse me encontrar. Essa semana. Hahaha.

20h57. Mandei  uma mensagem  para  a  Gatinha  pedindo um  encontro para consultoria em  sedução. Quando preciso ela está off-line. Vive conectada,  viciada no celular que é. Bom, que seja. Quem sabe na quarta. Poderia conhecer o seu apartamento em BV. Ah, mas ela  trabalha. Nem rola dia de  semana, só se for à noite. O  custo foi alto, mas  me libertei da obrigação do trabalho,  sem  abrir mão  de ter  uma remuneração  vitalícia.

1h17. Conversei com a  Gatinha  e ela  disse  que vacilei várias  vezes na conversa com a  garota do Instagram, além de suspeitar de  que é um perfil  fake. Não creio nisso,  mas  admito que  exagerei na dose  com  a garota do Instagram. Eu e minha língua grande.  Pedi  desculpas  a  ela,  vamos ver no que isso resulta amanhã. O negócio é ter paciência, não ser tão afoito. Se  é que ainda haverá negócio.

2h13. Pedi para fazer as  pazes  antes de eu ir dormir. Vou esperar  mais meia hora e depois caminha.  O anjo do Tinder gostou  das últimas  mensagens que mandei. Acho que  não  receberei resposta  hoje.

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14h03. Hoje, está conversando comigo, pelo menos até agora.

14h16. Parece que voltou  o silêncio.

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15h07. A Gatinha  suspeitou do perfil da garota  do Instagram e estava certa. Tremendo papel  de palhaço eu  fiz. Fiquei muito puto. Quando chamei ela para um encontro, ela – ou  ele – deixou de me  seguir. Reportei como spam e  agora o seu nome nem  aparece nas buscas. Acho que  deve  ter  me bloqueado. Foda-se. Agora para me provar mais  idiota  do que  já sou, vou  propor  ao anjo do Tinder, talvez a  garota mais linda que eu já vi, que seja a  minha namorada  virtual. Só para eu ter o gostinho muito leve  de  que estou namorando. Não existe  limite para a minha  babaquice. E nem sei se ela  vai aceitar. Eu gosto dela,  tem sido legal  conversar e aconselhar, mas sei  que, aos 21, seus pais  jamais aceitariam que ela namorasse um coroa. Mas uma  brincadeira virtual, poder tratar  com carinho  uma  garota, mesmo que só através  de palavras, é  melhor do que o platonismo  puro.  Levei o meu computador  para o conserto e o cara disse que teria que trocar o  teclado todo  e que nenhum fornecedor dele  tinha do meu modelo (obviamente, é um modelo americano) e a  sugestão  foi procurar no Mercado Livre ou comprar um  teclado USB para acoplar. Como  acho que  não vou achar no ML,  vou ter  que apelar para o teclado extra,  que não sei como caberá  na minha bancada. Ozzy. Vi uma manifestação de Rodrigo Amarante contra Bolsonaro e a quase totalidade dos comentários foi defendendo o candidato. Espantoso. Acho que  a probabilidade de tê-lo como presidente  é real. Me confesso curioso.

15h43. Eu não sei  o que  faça da minha afetiva. Tudo o que vejo são becos  sem saída. Não há luz no fim do meu  túnel. Estou  desanimado.  E acho que vou desinstalar  o Tinder. Não me  leva a lugar nenhum. Acho que o anjo do Tinder não vai aceitar a  minha  proposta. Se  aceitar,  confesso que  ficarei  feliz com essa migalha virtual. Virtual é um pouquinho mais real que o que  não existe  ou  não pode ser.


16h17. Minha mãe  me mandou um  áudio de uma jovem mulher defendendo Bolsonaro.  Assutador. Cheio de generalizações  e totalmente cego para todas as atrocidades contra  a democracia e os direitos  humanos que ele  representa. Bom, se  é  isso que o Brasil  quer,  o Brasil  terá. Se minha mãe, que é uma  pessoa esclarecida,  fecha  os olhos para a ameaça, realmente, acho que não há mais nada a fazer.  Eu sinto dentro de mim, como se emanasse  no  ar, nas  ondas do inconsciente  coletivo, que  ele vai ganhar. E acabou a  terceira  página.               

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

HOJE É DIA DE CAMINHADA



13h25. Vou nessa  aventura ideológica  que é a  caminhada das mulheres contra Bolsonaro. Assisti ontem The  Purge e tomei como uma crítica, um hipérbole social, interessante, principalmente nesses tempos de extremismo. Os dois lados estão cegos, admito. Eu acho que ainda consigo manter um pouco  da minha imparcialidade e ver qualidades e defeitos em ambos e  os defeitos da extrema direita, na minha opinião, em muito superam as suas qualidades. Os defeitos da esquerda são grandes também, mas não agridem os direitos adquiridos no Brasil. Mas não vou falar de política, por mais que  vá praticar um gesto político,  porque me falta embasamento para dar opiniões. Mandei uma mensagem para a garota do Instagram perguntando se  ela  vai, mas tenho certeza de que ela não vai me  responder. Talvez tenha lido o post anterior e me achado um freak. Sei lá. Sei que de 15h ou 16h  parto para o Derby, para dar a minha singela contribuição à democracia do Brasil. Não posso votar, participar da passeata  é o que eu posso fazer, então farei. Preciso de um copo de  Coca bem  gelado. Acabei de tomar uma garrafa  de café  ouvindo o meu padrasto dando sua visão política, embora ele se diga  indeciso, sinto que  tem uma  inclinação por Bolsonaro no segundo turno. Acha que os demais poderes o vão controlar. Sei lá. Estou pensando na garota do Instagram,  acho que  ter repartido os post tenha  a  assustado. Se ela leu. Não sei se mereço tanto empenho de sua parte. Gostaria de me  orgulhar dela.  Não vai ser o caso. Ela visualizou a minha mensagem  e certamente não vai responder. Vou botar o meu celular para carregar.

14h27. Mandei algumas mensagens  a  incentivando a  ir e como sei que não haverá resposta, coloquei o meu celular para carregar para poder chamar o Uber na volta. Liguei  para a minha tia agora e ela disse que sairá  às  15h, que a gente se encontrasse  no Derby. Dificilmente os encontrarei,  mas vamos ver no que  é que dá. Minha tia pareceu apressada, agoniada.  Estranho. Vou me  arrumar em breve,  quando o meu celular carregar. Acho que não vou tomar banho. Tomo quando voltar para  não perder tempo. Vou fumar um cigarro com Coca.

14h55. Começo a pensar que essa passeata é sem sentido, pois em  nada alterará o  resultado  das eleições  para  o segundo turno. Se ambos os lados estão cegos e com visões bastante definidas do que querem, não vai mudar  nada. Apenas  demonstra o engajamento político de  cada um. Talvez isso mude a  cabeça de um  indeciso ou outro, mas nada que altere o quadro eleitoral. De qualquer forma eu vou  para cumprir  o meu papel  cívico. E de  repente encontrar amigos e família. Não sei se Bolsonaro ganhar as manifestações  democráticas contra o seu regime serão toleradas. Acho que serão, a  não ser que  ele dê um golpe. Mas acho que  ele não tem intelecto para tanto. Nem força política  suficiente. E  provavelmente  não vá ganhar. Me entristece o PT no governo mais uma vez, mas não me amedronta como ter a extrema direita  governando.

15h22. Perdi a carona  do meu tio-vizinho, que ozzy. Soubera eu que ele ia,  teria me organizado melhor. Senti ele incomodado comigo também. Será que alguma coisa  decorreu que eu não estou sabendo? Ou é só neurose  da minha  parte? Preciso me aprontar para ir. O danado do celular não carrega. Acho que vou com  a carga em que está  mesmo. Meu tio comentou que vai ser foda mais quatro anos de PT e roubalheira, que Bolsonaro tinha estacionado  e  a rejeição a ele aumentado. Bem, vou-me. Adeus quarto-ilha. Ou até breve.

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13h49. A passeata foi massa. Largamente apartidária, que acho que era a proposta,  com muito mais mulheres que homens, o que também era a proposta, e encontrei pessoas muito queridas lá. Reitero que o impacto eleitoral dela vai ser nulo,  mas me senti cumprindo um dever cívico, já que não voto. Era o mínimo que poderia fazer. Voltei caminhando com  um casal de  amigos até sua casa e passei lá uma  tempo, revi Lia, a cadela labrador preta  deles,  o animal que mais curto na Terra, e passei a maior parte do tempo brincando com  o caçula, até que desenrolei direitinho. Foi um dia muito bom de ser vivido. Recebi elogios da pintura que postei no Instagram e o incentivo para retomar os pincéis, o que me intimida mais do que motiva.  E a tela em branco que tenho aqui em casa é muito grande, se fosse uma menor,  talvez pegasse algum dia para tentar. A arquiteta mandou resposta e orçamento para mamãe, mas esta não me  deu muitos detalhes.

14h25. Converso com o meu amigo cineasta, está preocupado com  o cenário político. Participou da marcha em  São Paulo, onde mora. A garota do Instagram começou eloquente e se calou. Nem viu as minhas novas mensagens ainda. É  ter paciência e esperança. Tenho conversado mais com o anjo do Tinder do que com a garota do Instagram e confesso que isso me põe confuso.

14h39. Hoje não estou para  o maravilhoso mundo dos bonecos, ter tentado mergulhar nele me causou desgosto até pelos meus bonecos, não foi legal. Mandei um  vídeo de uma senhora bem idosa e negra dando um  depoimento contra Bolsonaro para o grupo da minha família  materna, um ninho de direita. Isso me divertiu. Trela. Hahaha. Acho que vou trocar o “hahaha”  por “lol”. É petulante, mas também me  parece menos que o “hahaha”. Vou mandar uma mensagem para o anjo do Tinder dizendo que estou com saudades. Vou dizer menos, vou dizer “saudadezinha”. Mandei a velhinha contra Bolsonaro para ela e disse  da saudadezinha. Vou deixar os espaçamentos duplos. Preciso resolver isso. Vou falar com mamãe. Ela disse que conhece quem conserta.

15h28. O celular pisca, mensagens  do Instagram aparentemente. Quem será?

15h36.  Foi o anjo do Tinder, ela fala comigo mais que a garota do Instagram. Isso tudo é tão estranho e novo para mim. Esses vínculos cibernéticos com desconhecidas. Meu deus, me deu um frio na  barriga de pensar na publicação do livro. Mas  acho que não vai acontecer. Acho que  meu tio não se dará ao trabalho. Bom, pode  ser o período eleitoral. Tenho que me convencer que não vou ter trabalho nenhum publicado em papel. Mas  sou um homem  que vive de áridas esperanças. Ah, essa espera por respostas me chateia. Vou escrever que é o melhor que faço. O anjo do Tinder ontem se ofereceu para ser o meu cupido com a garota do Instagram. Parece que tenho chance. A garota do Instagram tem uma ideia  bem clara de  quem eu sou. E disse que poderia me  dar uma chance. Não acredito que seja capaz, mas tentarei de tudo. Interessante é que com essa minha ocupação cibernética fico sem muita disposição para escrever aqui. Parece que eu estou vivendo mais a vida estando lá que escrevendo aqui. Lá eu vivo a  vida em companhia esparsa de  duas desconhecidas,  há diálogo, não monólogo. Diálogo é algo mais cheio de vida que a escrita solitária.

16h15. Amanhã será o dia de cuidar de mim, levarei o computador no conserto, cortarei as  unhas e apararei cabelo e  barba. Minha tia está dando uma cafeteira, eu acho que vou pegar. Estou pensando em substituir a Coca por café e água para ver se o meu bucho diminui. Nossa  como queria engatar  um conversa com  a garota do Instagram.

16h28. Não sei o que escrever, minha vida agora passou a ser esperar por resposta de duas figuras que não dão a mínima para mim. Esses espaçamentos duplos também me irritam profundamente. A ansiedade por algum  sinal de vida me faz fumar mais.

16h57.  Me  bateu o niilismo que me acomete às vezes quando fumo cigarro. Tudo o que faço  parece sem sentido ou utilidade, o que escrevo, essas relações cibernéticas que não levam a nada. Eu acho que nesses momentos eu me aproximo da verdade como realmente  é. Não sei, nunca soube, nem nunca saberei como vender o meu peixe. E isso,  infelizmente, é mais essencial que a  essência da coisa em si,  sejam os meus textos, seja eu mesmo. O marketing é mais importante que o produto. Eu que trabalhei com publicidade deveria saber disso melhor que ninguém. Minha incompetência me  inviabiliza. Acho que vou apagar o Tinder. Aquilo não me leva a lugar nenhum.  O que faz mais sentido, que me parece mais real no momento é o videogame,  isso é irônico, até contraditório  e, sem dúvida, deprimente. Eu vivo de aspirações e sonhos que não se ancoram na realidade,  o que me entristece. Tudo porque não sei fazer  marketing pessoal.

17h35. Guardei as louças, botei gelo para fazer, comi um  pouco do chinês que mamãe pediu, fumei um cigarro e a minha descrença permanece. Será que estou fazendo o melhor da minha  vida? A intangibilidade, a falta de materialidade das coisas em que invisto o meu tempo me  incomoda. O anjo do Tinder visualizou a minha recomendação musical – The Joshua Tree,  do U2 – e nada comentou.

20h10. Estou de mau-humor e a causa disso me  veio com uma clareza óbvia, as coisas que mais quero, o livro e um amor  não dependem de mim para  se materializar. Eu  faço o meu melhor,  eu me  esforço e tento, eu planto, mas nada colho. É frustrante. Talvez  não seja o  tempo da colheita ainda. Sei lá e quem sabe? Vamos ver  se, a respeito do livro,  depois da corrida  eleitoral,  o meu tio se manifesta. Tenho ainda a vaga possibilidade de  mandar o texto para uma editora em março do ano que vem. Pelo menos agora a sensação de frustração tem  causas sólidas. Estou agindo sem  obter resultados. Não sei vender o meu peixe.

22h39. Escrevi um monte para a  garota do Instagram  agora,  foi brotando e eu fui colocando, colocando, colocando. Nossa, me sinto exausto, carga emocional forte desgasta.


23h01. Antes de o celular descarregar ainda vi um novo post dela  no Instagram, fofo e engraçado. Ela é a garota dos  meus  sonhos, pena  que a  realidade seja acordado. Quem me  dera a  dissertação que fiz lhe  tocasse  em  algum ponto. Acho que  é melhor perder as  esperanças... O chato é que as danadas acabam  sempre me encontrando. Só desisto com um fora. E tenho dito. Mostrei o vídeo a  mamãe  e ela  achou a garota do Instagram bonitinha. Eu também acho ela bonitinha e  tenho a impressão de que não é ordinária. Mas  não tenho certeza sobre essa segunda parte. Queria muito que  desse certo. Mas  não vai dar. Sei lá o que vai acontecer. Cenas  do próximo capítulo. Amanhã é um novo dia da minha  batalha. E  não vou poder cuidar de mim como desejava. Amanhã é dia de  cuidar da cuca  com  Ju.  Havia  esquecido completamente. Revisar e postar.   

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

INSTAGRAM



11h58. Depois de um longo hiato, produtivo hiato, em que escrevi o meu segundo livro (bem, quase todo, falta o capítulo de fechamento), estou de volta ao lugar primeiro das minhas palavras. Me impressiona como a vida, mesmo a minha, é dinâmica. Várias coisas aconteceram. Uma delas foi que conheci a garota do Instagram e, entre trancos e barrancos, pois ela demora séculos para me responder, temos construído um diálogo. Fazia muito tempo, nem sei quanto, que não conversava tanto com uma garota que me interessasse afetivamente. Desde a portuguesinha. Mas a portuguesinha veio me revelar depois que namorava e que morava com ele. Agora, talvez tolamente, vejo a garota do Instagram como a luz no fim do túnel da minha solidão e queria me tornar a luz de sua vida. Por sinal, ela está conversando comigo agora. Entre trancos e barrancos. O meu teclado está com um problema de espaçamentos duplos, a tecla de espaço está com defeito. Aqui nesse post é mais fácil consertar, mas no livro, decidi que vou mantê-los, para acrescentar uma camada extra de autenticidade à narrativa. Como conheci a garota do Instagram? Ela começou a me seguir no aplicativo, eu a achei bonitinha e não sabia se a conhecia, então, tendo descoberto que o Instagram tem chat, iniciei um papo com ela para ver se me lembrava de quem se tratava. Não nos conhecíamos. Estamos no quarto dia desde o primeiro contato. Já nos conhecemos um pouco.

12h40. Fui fumar e nada da resposta dela. É assim. Espera sofrida, que a mim demonstra a falta de interesse dela pela minha pessoa e que finjo não ver dessa forma. No mais, mandei a versão revisada do Diário do Manicômio para o meu tio intermediar com as editoras e mandei também para o pai da Vila Edna – pois é, criei coragem para voltar lá depois de mais de ano, creio – e temo pela receptividade que o texto terá para uma família tão querida. É o primeiro teste de fogo da reação do público. Espero não macular a relação. Se macular foi uma escolha consciente que eu fiz. Quero me reconhecer escritor de fato, não de blog. Segurar o objeto livro contendo as minhas palavras nele. Ainda estou na dúvida se o meu tio fará a parte dele, mas me agarro nessa esperança. Deixei o capítulo final do novo livro, que intitulei de Eu Sou Assim e Ninguém Tem Nada Com Isso Ou Mário Odyssey, para depois, pois abri todos esses arcos e acho que deixá-los sem conclusão é um desserviço com o hipotético leitor. Sigo à espera de uma sugestão de música maravilhosa por parte da garota do Instagram. Estou curioso para conhecer os seus gostos musicais. Estou um pouco cansado da lista 6, vou colocar a discografia de Björk para tocar em modo aleatório. Aliás não vou. Vou continuar ouvindo a seleção de Björk da lista 6, tem o Utopia que sempre me relaxa.

13h37. O meu amigo da piscina está fazendo um pão e me chamou para experimentar quando estiver pronto. A garota do Instagram não deu mais sinal de vida, estou começando a me acostumar com seus longos silêncios. Ficava ansiosíssimo, não mais. Se é assim que a existência se mostra para mim, tenho que relaxar e aproveitar. Melhor tê-la dessa forma fugidia em minha vida que ser jogado de volta à solidão. Contei a ela que voltei a escrever o blog e que poderia mandar o link caso estivesse interessada. Minha mãe está com alguma doença, gripe, virose, sei lá, que ataca a garganta e a deixa mole. Está descansando no quarto. Creio que não seja nada de grave, embora ela já fale em pneumonia. Ela descobriu que eu compro cigarros por fora e cortou os Marlboros que me dava dia sim, dia não.

14h17. Ainda nenhuma resposta da garota do Instagram. Mamãe entrou aqui no quarto para me alertar que, quando a voz melhorar, vai querer ter uma conversa comigo. Tal comunicado me deixa com um desconforto interior porque ela tem uma cabeça muito diferente da minha. Ah, no processo de composição do novo livro passei por uma profunda transformação existencial. O título do livro reflete e sintetiza isso. Saí da sombra do meu pai e do meu irmão, deixei de me comparar aos outros, me meço por mim mesmo,  aceito os meus defeitos,  os acolho e  tento mudar os que consigo, os que me incomodam.

15h41. Estive com o meu amigo da piscina e seu contundente bolsonarismo. Acabei de mandar uma mensagem para a garota do Instagram. Achei que mandei bem. A mensagem foi dada em quatro partes, cada uma visando criar uma emoção diferente, me surgiu de um impulso e do tempo que tenho para pensar cada mensagem. A princípio pensei em colocar apenas “seu silêncio é eloquente...”, então concluí que tinha que seguir adiante e o complemento foi pipocando na minha cabeça, inclusive o emoticon de fechamento. Pois bem, crio o drama com a primeira frase, curiosidade com a segunda (“Sabe o que ele diz?”), com  a terceira apresento um fato inegável (“Que eu não pertenço às suas prioridades cibernéticas”). E no final a alegre surpresa: “Ainda.” com um emoticon muito contente de si, muito tranquilo e muito confiante. Que é como me sinto no momento. Acho que a minha mãe está deprimida, não está gostando de existir, não acha que está levando uma vida feliz, como se tivesse dado um “cansou” nela. A vontade que tem é ficar em casa descansando da vida inteira de trabalho e a impossibilidade disso a está deixando doente. Isso pode ter aflorado porque eu parei de dar “trabalho” e ela teve oportunidade de olhar para si e seus conflitos emergiram. A idade também tem lhe pesado muito e sido muito severa. Eu e meu amigo da piscina tivemos divergências ideológicas a respeito do bolsonarismo.

[15:44, 9/28/2018] Mário Barros: Não percamos a amizade por questões ideológicas, apenas discordamos em alguns aspectos. Ademais a minha opinião é baseada em muito pouco conhecimento (que não pretendo expandir).

16h20. Estou pensando na garota do Instagram. Isso tem alguns traços de paixão, mas não é paixão ainda, não é hora, não está nem perto. Sabe o que eu projeto, que não sei se conseguiria aplicar realmente, por ser ousado demais? Que, caso nos encontrássemos na passeata, eu pudesse andar de mãos dadas com ela por alguns momentos. Há quantos anos não sonho em andar de mãos dadas com uma garota? Uma garota pela qual eu tenha sincero interesse? Nossa, nem sei. Quem ainda me dá algum carinho é a Gatinha. Bom, nada disso vai acontecer, é só ficção. Outra ficção que criei enquanto fumava era dar a um dos alunos da minha mãe a ideia de organizar um evento surpresa de despedida, quando da sua aposentadoria, com todos os alunos dela e os professores no auditório e coquetel depois. Fazia uma quotinha no departamento para que todos contribuíssem para a consecução do evento, que não seria caro, a estrutura está toda lá. O auditório tem inclusive o nome do meu pai. Seria massa se meu padrasto terminasse o discurso com: “...e além disso é o amor da minha vida”. Eu estaria presente, claro. FIM. Acho que não tenho coragem de jogar a ideia para o aluno. Mas acho que mamãe gostaria dessa manifestação da existência. Talvez gostasse de saber que eu fui o mentor. Vou pensar no caso. Sei lá, pegar o e-mail do cara, ou mesmo falar com o meu padrasto. Será que consigo? Seria uma atitude positiva da minha parte. Acho que poderiam até ex-alunos virem. Tive uma ideia! Vou mandar um e-mail com esse trecho do texto para o meu padrasto.

16h52. Mandei. Cutuquei a existência. Não sei no que isso vai resultar. Espero que em nada negativo. Agora fiquei apreensivo.

16h59. Fiz, está feito, não há volta. A vida não tem ctrl + Z. Por isso não me arrependo de tentar o meu máximo para conquistar a garota do Instagram. Demorou tanto para eu achar uma garota que merecesse ser a minha namorada, nos meus seletivos critérios, e o acaso/destino me apresenta a garota do Instagram. Uma garota encantadora pelo que tudo indica por dentro e por fora. Uma garota que posso conhecer com calma, para que a nossa relação se construa aos poucos para que eu vá me acostumando e me preparando para mudança que é ter uma parceira para encarar e usufruir a vida. Que possa dormir ao meu lado. Nossa, como sinto falta disso. Ter o ser amado ali confiando o seu sono a mim, acordar no meio da noite e ter alegria de vê-la. É uma existência provida de mais sentido, de mais alegria, de mais intimidade, mais cumplicidade, mais afeto, de mais admiração. Claro, morro de medo de isso vir a acontecer de fato. Seria uma mudança muito radical do status quo que agora impera em minha, por mais que positivo, radical. Eu precisaria readequar a minha vida para comportar uma nova pessoa, minha vida social seria mais agitada, mas respeitando os meus limites. Muitos programas ela poderia fazer sozinha, eu suponho, pois os faz hoje. Eita, outra ficção! Estou ficcional hoje. Hahaha. Vou fumar e encher o refil de Coca Zero.

17h23. Minha mãe e meu pai, parece que o meu padrasto veio depois, junto com outros professores agora decanos, fundaram o DQF da UFPE, fizeram a revolução e evolução do ensino de química da universidade, tenho muito orgulho dessa conquista deles.

17h28. O ar estava me deixando com frio. Desliguei. E pensar que até a semana passada eu nem sabia que Instagram tinha chat. Realmente a vida tem cada uma. Tenho que me conscientizar que nunca vou namorar a garota do Instagram. Mas essa ficha ainda não caiu.  Ainda há uma renitente esperança em meu peito. E vou insistir até que se prove inviável. Ou que outro milagre desses aconteça. Não tenho nada a perder, ela me diverte quando resolve falar, o que se prova extremamente raro (ela falar, digo). Estou aprendendo a relaxar com isso. Confesso que sou um aprendiz medíocre e ansioso. Eu não sei jogar o jogo de seduzir, eu só consigo ser eu mesmo. Vou postar como imagem deste post o quadro que pintei e recebeu uma quantidade razoável de elogios no Instagram. Pois é, estou assíduo do programa como jamais fui. Por que será? E além da garota do Instagram há o anjo do Tinder, que me serve de conselheira. Em verdade a encontrei primeiro e ela me levou à outra, por me fazer ver o Instagram, este me informar de que uma nova garota havia começado a me seguir e eu decidir investigar quem era. O acaso/destino agiu de uma forma muito singular. Sobre o anjo do Tinder? É uma garota lindíssima que entrou no aplicativo só para tirar onda, me pegou e tentou me fazer de otário, mas a desmascarei. Passei-lhe um sermão e nos tornamos amigos de Instagram, por assim dizer. Sempre quer saber em que pé anda a minha interação com a garota do Instagram. Nossa, estou cansado de escrever a palavra Instagram. Acho que esse vai ser o título do post.


17h54. A terceira página está quase acabando. E nada de resposta da garota. Até o anjo do Tinder já veio falar nesse ínterim, perguntar como andavam as coisas. Acho que a minha mensagem para a garota do Instagram ficou redonda, mas quando publicar isso vou postar o link do Profeta para ela. E daí me segurarei até que ela fale, senão tento amanhã de novo. Entre ficar só escrevendo aqui e ouvindo música, me comunicar em pílulas com a garota do Instagram é uma ótima adição à minha rotina, se eu não ficar com ansiedade. Seria uma  história para contar aos nossos  netinhos que nos encontramos pela primeira vez  numa passeata histórica, de um momento histórico do país, mostraria que tínhamos ideais políticos e poderíamos explicar contra o que lutávamos: contra a militarização do país, a favor das minorias e da  base da pirâmide social, pelos direitos constitucionais invioláveis, pelos  direitos  humanos como um todo, para prevenir que alguém completamente despreparado assuma o controle do Brasil e com o apoio dos militares sabe-se lá engendrar o quê. É muito perigoso um homem incompetente, reacionário, que incita o ódio no poder. Enfim, seria legal, bem legal que nos encontrássemos lá. Sua presença valorizaria muito mais a pessoa que é para mim por estar demonstrando que ela se valoriza e se mobiliza como mulher e cidadã num momento tão extremo. Eita, entrei na quarta página, vou revisar e postar.