sexta-feira, 28 de setembro de 2018

INSTAGRAM



11h58. Depois de um longo hiato, produtivo hiato, em que escrevi o meu segundo livro (bem, quase todo, falta o capítulo de fechamento), estou de volta ao lugar primeiro das minhas palavras. Me impressiona como a vida, mesmo a minha, é dinâmica. Várias coisas aconteceram. Uma delas foi que conheci a garota do Instagram e, entre trancos e barrancos, pois ela demora séculos para me responder, temos construído um diálogo. Fazia muito tempo, nem sei quanto, que não conversava tanto com uma garota que me interessasse afetivamente. Desde a portuguesinha. Mas a portuguesinha veio me revelar depois que namorava e que morava com ele. Agora, talvez tolamente, vejo a garota do Instagram como a luz no fim do túnel da minha solidão e queria me tornar a luz de sua vida. Por sinal, ela está conversando comigo agora. Entre trancos e barrancos. O meu teclado está com um problema de espaçamentos duplos, a tecla de espaço está com defeito. Aqui nesse post é mais fácil consertar, mas no livro, decidi que vou mantê-los, para acrescentar uma camada extra de autenticidade à narrativa. Como conheci a garota do Instagram? Ela começou a me seguir no aplicativo, eu a achei bonitinha e não sabia se a conhecia, então, tendo descoberto que o Instagram tem chat, iniciei um papo com ela para ver se me lembrava de quem se tratava. Não nos conhecíamos. Estamos no quarto dia desde o primeiro contato. Já nos conhecemos um pouco.

12h40. Fui fumar e nada da resposta dela. É assim. Espera sofrida, que a mim demonstra a falta de interesse dela pela minha pessoa e que finjo não ver dessa forma. No mais, mandei a versão revisada do Diário do Manicômio para o meu tio intermediar com as editoras e mandei também para o pai da Vila Edna – pois é, criei coragem para voltar lá depois de mais de ano, creio – e temo pela receptividade que o texto terá para uma família tão querida. É o primeiro teste de fogo da reação do público. Espero não macular a relação. Se macular foi uma escolha consciente que eu fiz. Quero me reconhecer escritor de fato, não de blog. Segurar o objeto livro contendo as minhas palavras nele. Ainda estou na dúvida se o meu tio fará a parte dele, mas me agarro nessa esperança. Deixei o capítulo final do novo livro, que intitulei de Eu Sou Assim e Ninguém Tem Nada Com Isso Ou Mário Odyssey, para depois, pois abri todos esses arcos e acho que deixá-los sem conclusão é um desserviço com o hipotético leitor. Sigo à espera de uma sugestão de música maravilhosa por parte da garota do Instagram. Estou curioso para conhecer os seus gostos musicais. Estou um pouco cansado da lista 6, vou colocar a discografia de Björk para tocar em modo aleatório. Aliás não vou. Vou continuar ouvindo a seleção de Björk da lista 6, tem o Utopia que sempre me relaxa.

13h37. O meu amigo da piscina está fazendo um pão e me chamou para experimentar quando estiver pronto. A garota do Instagram não deu mais sinal de vida, estou começando a me acostumar com seus longos silêncios. Ficava ansiosíssimo, não mais. Se é assim que a existência se mostra para mim, tenho que relaxar e aproveitar. Melhor tê-la dessa forma fugidia em minha vida que ser jogado de volta à solidão. Contei a ela que voltei a escrever o blog e que poderia mandar o link caso estivesse interessada. Minha mãe está com alguma doença, gripe, virose, sei lá, que ataca a garganta e a deixa mole. Está descansando no quarto. Creio que não seja nada de grave, embora ela já fale em pneumonia. Ela descobriu que eu compro cigarros por fora e cortou os Marlboros que me dava dia sim, dia não.

14h17. Ainda nenhuma resposta da garota do Instagram. Mamãe entrou aqui no quarto para me alertar que, quando a voz melhorar, vai querer ter uma conversa comigo. Tal comunicado me deixa com um desconforto interior porque ela tem uma cabeça muito diferente da minha. Ah, no processo de composição do novo livro passei por uma profunda transformação existencial. O título do livro reflete e sintetiza isso. Saí da sombra do meu pai e do meu irmão, deixei de me comparar aos outros, me meço por mim mesmo,  aceito os meus defeitos,  os acolho e  tento mudar os que consigo, os que me incomodam.

15h41. Estive com o meu amigo da piscina e seu contundente bolsonarismo. Acabei de mandar uma mensagem para a garota do Instagram. Achei que mandei bem. A mensagem foi dada em quatro partes, cada uma visando criar uma emoção diferente, me surgiu de um impulso e do tempo que tenho para pensar cada mensagem. A princípio pensei em colocar apenas “seu silêncio é eloquente...”, então concluí que tinha que seguir adiante e o complemento foi pipocando na minha cabeça, inclusive o emoticon de fechamento. Pois bem, crio o drama com a primeira frase, curiosidade com a segunda (“Sabe o que ele diz?”), com  a terceira apresento um fato inegável (“Que eu não pertenço às suas prioridades cibernéticas”). E no final a alegre surpresa: “Ainda.” com um emoticon muito contente de si, muito tranquilo e muito confiante. Que é como me sinto no momento. Acho que a minha mãe está deprimida, não está gostando de existir, não acha que está levando uma vida feliz, como se tivesse dado um “cansou” nela. A vontade que tem é ficar em casa descansando da vida inteira de trabalho e a impossibilidade disso a está deixando doente. Isso pode ter aflorado porque eu parei de dar “trabalho” e ela teve oportunidade de olhar para si e seus conflitos emergiram. A idade também tem lhe pesado muito e sido muito severa. Eu e meu amigo da piscina tivemos divergências ideológicas a respeito do bolsonarismo.

[15:44, 9/28/2018] Mário Barros: Não percamos a amizade por questões ideológicas, apenas discordamos em alguns aspectos. Ademais a minha opinião é baseada em muito pouco conhecimento (que não pretendo expandir).

16h20. Estou pensando na garota do Instagram. Isso tem alguns traços de paixão, mas não é paixão ainda, não é hora, não está nem perto. Sabe o que eu projeto, que não sei se conseguiria aplicar realmente, por ser ousado demais? Que, caso nos encontrássemos na passeata, eu pudesse andar de mãos dadas com ela por alguns momentos. Há quantos anos não sonho em andar de mãos dadas com uma garota? Uma garota pela qual eu tenha sincero interesse? Nossa, nem sei. Quem ainda me dá algum carinho é a Gatinha. Bom, nada disso vai acontecer, é só ficção. Outra ficção que criei enquanto fumava era dar a um dos alunos da minha mãe a ideia de organizar um evento surpresa de despedida, quando da sua aposentadoria, com todos os alunos dela e os professores no auditório e coquetel depois. Fazia uma quotinha no departamento para que todos contribuíssem para a consecução do evento, que não seria caro, a estrutura está toda lá. O auditório tem inclusive o nome do meu pai. Seria massa se meu padrasto terminasse o discurso com: “...e além disso é o amor da minha vida”. Eu estaria presente, claro. FIM. Acho que não tenho coragem de jogar a ideia para o aluno. Mas acho que mamãe gostaria dessa manifestação da existência. Talvez gostasse de saber que eu fui o mentor. Vou pensar no caso. Sei lá, pegar o e-mail do cara, ou mesmo falar com o meu padrasto. Será que consigo? Seria uma atitude positiva da minha parte. Acho que poderiam até ex-alunos virem. Tive uma ideia! Vou mandar um e-mail com esse trecho do texto para o meu padrasto.

16h52. Mandei. Cutuquei a existência. Não sei no que isso vai resultar. Espero que em nada negativo. Agora fiquei apreensivo.

16h59. Fiz, está feito, não há volta. A vida não tem ctrl + Z. Por isso não me arrependo de tentar o meu máximo para conquistar a garota do Instagram. Demorou tanto para eu achar uma garota que merecesse ser a minha namorada, nos meus seletivos critérios, e o acaso/destino me apresenta a garota do Instagram. Uma garota encantadora pelo que tudo indica por dentro e por fora. Uma garota que posso conhecer com calma, para que a nossa relação se construa aos poucos para que eu vá me acostumando e me preparando para mudança que é ter uma parceira para encarar e usufruir a vida. Que possa dormir ao meu lado. Nossa, como sinto falta disso. Ter o ser amado ali confiando o seu sono a mim, acordar no meio da noite e ter alegria de vê-la. É uma existência provida de mais sentido, de mais alegria, de mais intimidade, mais cumplicidade, mais afeto, de mais admiração. Claro, morro de medo de isso vir a acontecer de fato. Seria uma mudança muito radical do status quo que agora impera em minha, por mais que positivo, radical. Eu precisaria readequar a minha vida para comportar uma nova pessoa, minha vida social seria mais agitada, mas respeitando os meus limites. Muitos programas ela poderia fazer sozinha, eu suponho, pois os faz hoje. Eita, outra ficção! Estou ficcional hoje. Hahaha. Vou fumar e encher o refil de Coca Zero.

17h23. Minha mãe e meu pai, parece que o meu padrasto veio depois, junto com outros professores agora decanos, fundaram o DQF da UFPE, fizeram a revolução e evolução do ensino de química da universidade, tenho muito orgulho dessa conquista deles.

17h28. O ar estava me deixando com frio. Desliguei. E pensar que até a semana passada eu nem sabia que Instagram tinha chat. Realmente a vida tem cada uma. Tenho que me conscientizar que nunca vou namorar a garota do Instagram. Mas essa ficha ainda não caiu.  Ainda há uma renitente esperança em meu peito. E vou insistir até que se prove inviável. Ou que outro milagre desses aconteça. Não tenho nada a perder, ela me diverte quando resolve falar, o que se prova extremamente raro (ela falar, digo). Estou aprendendo a relaxar com isso. Confesso que sou um aprendiz medíocre e ansioso. Eu não sei jogar o jogo de seduzir, eu só consigo ser eu mesmo. Vou postar como imagem deste post o quadro que pintei e recebeu uma quantidade razoável de elogios no Instagram. Pois é, estou assíduo do programa como jamais fui. Por que será? E além da garota do Instagram há o anjo do Tinder, que me serve de conselheira. Em verdade a encontrei primeiro e ela me levou à outra, por me fazer ver o Instagram, este me informar de que uma nova garota havia começado a me seguir e eu decidir investigar quem era. O acaso/destino agiu de uma forma muito singular. Sobre o anjo do Tinder? É uma garota lindíssima que entrou no aplicativo só para tirar onda, me pegou e tentou me fazer de otário, mas a desmascarei. Passei-lhe um sermão e nos tornamos amigos de Instagram, por assim dizer. Sempre quer saber em que pé anda a minha interação com a garota do Instagram. Nossa, estou cansado de escrever a palavra Instagram. Acho que esse vai ser o título do post.


17h54. A terceira página está quase acabando. E nada de resposta da garota. Até o anjo do Tinder já veio falar nesse ínterim, perguntar como andavam as coisas. Acho que a minha mensagem para a garota do Instagram ficou redonda, mas quando publicar isso vou postar o link do Profeta para ela. E daí me segurarei até que ela fale, senão tento amanhã de novo. Entre ficar só escrevendo aqui e ouvindo música, me comunicar em pílulas com a garota do Instagram é uma ótima adição à minha rotina, se eu não ficar com ansiedade. Seria uma  história para contar aos nossos  netinhos que nos encontramos pela primeira vez  numa passeata histórica, de um momento histórico do país, mostraria que tínhamos ideais políticos e poderíamos explicar contra o que lutávamos: contra a militarização do país, a favor das minorias e da  base da pirâmide social, pelos direitos constitucionais invioláveis, pelos  direitos  humanos como um todo, para prevenir que alguém completamente despreparado assuma o controle do Brasil e com o apoio dos militares sabe-se lá engendrar o quê. É muito perigoso um homem incompetente, reacionário, que incita o ódio no poder. Enfim, seria legal, bem legal que nos encontrássemos lá. Sua presença valorizaria muito mais a pessoa que é para mim por estar demonstrando que ela se valoriza e se mobiliza como mulher e cidadã num momento tão extremo. Eita, entrei na quarta página, vou revisar e postar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário