terça-feira, 4 de setembro de 2018

TERAPIA



O espaço para eu exercer a minha oralidade com total honestidade e liberdade.


18h49. Meu amigo da piscina já está aqui o que é muito bom. Companhia é algo muito bom, ainda por cima de pessoas queridas. Várias coisas da terapia e seu entorno me passam pela cabeça. Não me sinto preparado para os almoços às quartas-feiras no momento. Não sei como mudar a minha perspectiva sobre mim. Para mim, só há uma forma de me ver ou só consigo me ver de uma forma, da forma que não por coincidência menos me agrada. Eu me vejo como um pária social que não possui nada de bom a oferecer a ninguém. E mais, não quer fazer nada para mudar esse quadro.

20h06. Não consigo escrever direito com a presença do meu amigo, mas a troca é válida. É uma oportunidade rara, portanto preciosa na dimensão humana. Voltando à terapia, pedi perdão por recear avança, sair do confortável formato que experimento que não se mostra tão confortável assim, visto que tenho pensamentos de morte. Não me sinto bem falando disso. Mesmo com o meu amigo aqui, ao me focar em mim, isso machuca. Definitivamente há algo de muito errado com a minha vida. Comigo, digo, pois minha vida não poderia me contemplar com mais. Estou me repetindo. Deixe-me ver o que posso dizer, fiz um colega de espera de terapia. Ele aparentemente gostou de mim. Não estou com vontade de encontrar com ele de novo, mas acho que será inevitável, temos consulta no mesmo dia nas mesmas horas. Aqui no meu quarto meu amigo luta para passar de uma fase de sniper do Medal of Honor.

21h01. Meu amigo foi ao banheiro, estava jogando Super Stardust HD em 3D, pois desistiu do Medal of Honor.

22h44. Está agora jogando Uncharted:3, um jogo que nunca joguei, mas sempre esteve no meu interesse. Está se saindo relativamente bem para a primeira vez que tem contato com um jogo da franquia.

0h48. Ainda estamos nos distraindo com Uncharted:3.

-x-x-x-x-

15h21. Acordei. Tico e Teco ainda não se reencontraram. Preciso escrever um e-mail ao meu irmão. Não encontro motivação para isso agora. Acordei pensando na minha paixão platônica. Sinuca de bico, como Ju falou. Como eu falei para Ju em outro momento e ela se utilizou da expressão neste. Não me sinto preparado para o Flor de Jambo. Mas acabei de acordar e sempre acordo de mal da existência. Me bateu uma vontade de jogar Uncharted, mas não muita. Vou dar uma olhada nas vendas pela internet.

15h43. O sol incidindo diretamente na minha cara pela janela do hall enquanto eu fumo me incomoda, energia demais, claridade demais. Eu espero estar em processo de mudança (para melhor) passando por essa agonia existencial que agora atravesso. Quero ouvir Britney.

15h47. Coloquei. Depois Björk. Meu modo de ver as coisas e a mim está cristalizado e não está me fazendo mais bem. Acho que nunca fez. Não tem volta ou não vejo volta para o caminho que segui. Isso me traz um conforto momentâneo. Eu gosto, adoro o meu lugar na existência e ele pode ficar melhor. E talvez fique. No ano que vem, quando da há muito prometida reforma do meu quarto. E há o livro. Preciso voltar ao livro. Quando encher o saco daqui, vou para ele. Meu deus, não estou fazendo nada da vida. E não quero fazer para além disso.

16h18. Minha vida tornou-se a espera de nada. Não tenho expectativas reais. Algumas apenas, irrelevantes. As que mais me interessam são as irreais. Acho que porque levam tempo e porque irreais, embora com impacto social irreversível.

16h29. O sol saiu da minha cara no hall, breve será noite. O que mais conversamos na terapia? O que me marcou foram o experimento do Flor de Jambo, que minha mãe decidiu que seria quinzenal, e o pedido para me olhar de outra perspectiva. Ficou também a convicção que Ju tem que as coisas estão mudando, há um dinamismo interno em mim. Robert Smith canta “I can’t find myself”, apropriado. Tenho ainda café de ontem para beber. É o que farei quando acabar esse copo de Coca. Guardo vã esperança de conseguir uma entrevista com Caetano.

16h43. Me perdi no meu e-mail, limpando a aba de promoções, não abri nenhum e-mail. Nada me interessa, o que não deixa de ser um estado de espírito curioso, diferente, mas no pior sentido, pois me gera sofrimento existencial. Eu não sei o que fazer. Eu não sei como mudar a perspectiva que tenho de mim mesmo. Não há nada que eu queira acrescentar à minha vida que não seja relacionado com bonecos. Há a banheira para o meu banheiro. Uma promessa de mamãe quando me viu desfrutando com tanto entusiasmo da que tínhamos no hotel em Lisboa. Há o livro, mas duvido que meu tio o envie para apreciação pelas editoras. Mas é a via de ação que tomarei quando acabar de revisar e formatar a obra. Eu tenho profundo desgosto pelo ser humano que sou. Acho surpreendente, quase inacreditável que alguém goste de mim. Vou passar para o café.

17h01. Com café me sinto melhor, o meu astral muda. Ainda está morno o que para mim é plenamente palatável. Ia responder uma mensagem de WhatsApp que considero muito importante, porém meu celular descarregou e está na tomada. Meu costume é deixar o celular descarregar completamente e carregá-lo completamente para só depois ligar. Tenho a superstição que esse procedimento aumenta a vida útil da bateria. Mas tentarei não esquecer de mandar hoje a tal mensagem, acho que é o mínimo que posso fazer. Mandei um e-mail para o meu irmão explicando a ajuda que preciso dele em relação à venda dos bonecos. Seria interessante para mim que as imagens fossem enviadas hoje ainda. Se não forem, não foram. Minha vida não depende disso. Tudo do que dependo, tenho. Menos carinho e intimidade. Mas dentro do universo de coisas que me compõe e cerca, essas duas necessidades fundamentais podem ficar sem serem supridas. Não acredito que tenha meios para alcançá-las, desisti. Após dez anos de insucesso dentro de pouquíssimas tentativas, desacreditei. Não vejo por onde, ainda mais levando a vida que levo. Um e-mail da aba promocional disse que havia alguém que havia me curtido e que eu poderia ver quem era esse alguém. Não dei importância, embora haja curiosidade, pois acho que deve ser uma mulher feia e velha. Ademais o meu celular está carregando, como disse. Verei, verei. Quem sabe o acaso/destino não resolveu me sorrir mais do que já me sorri? Vou pegar mais café e fumar um cigarro. Me sinto melhor por causa de duas xícaras de café. É barato me sentir bem. Hahaha.

17h27. A noite joga seu véu sobre a cidade, a luz natural morre e as elétricas começam a se acender na muralha de edifícios que me cerca. Meu quarto, assim como toda a casa está na penumbra, estou só aqui e isso me dá uma sensação boa, algo semelhante a poder, por mínimo que seja e por mais que o utilize para fazer o que faria caso gente houvesse. Durante o cigarro pensei com mais afeição sobre a ideia do Flor de Jambo e já comecei a fazer projeções românticas de encontrar uma garçonete gatinha e inteligente, alternativa para nos servir e arriscar uma abordagem a ela. Tudo fantasia. Definitivamente sou daqueles a quem se oferece a mão e quer logo o braço. Outro defeito do meu falho caráter. É muito chato me considerar um mau-caráter. É uma culpa pesada da qual não sei como me livrar. Sei que pelos padrões pregados e praticados pelo meu pai e meu irmão não poderia me considerar de outra forma. Tive a mesma formação do meu irmão, mas não nasci com a sua índole. Vim transgressor, tentado e tentando dobrar ou quebrar as normas sempre que isso se faz útil para mim. Queria amor, mas não qualquer amor. Será a minha cartada afetiva final. Minha última e mais grandiosa jogada. Em vão. Não sei nem se tenho coragem realmente, mas acredito que tenha. O que perderei já se dissipa no dia a dia, eu já dissipo no dia a dia com o meu isolacionismo. Me deu um branco agora. Parei para pensar sobre a presença do meu amigo da piscina ontem aqui e sobre os jogos que jogou. E sobre ter falado com a minha cunhada pelo WhatsApp durante a sua presença aqui. Meu amigo da piscina queria reativa o meu antigo negócio no eBay sendo o meu parceiro. Infelizmente não vou repartir coisas tão pessoais como as minhas contas do eBay, Mercado Livre e PayPal com ninguém. Seria no mínimo imprudente da minha parte. Ninguém faz isso, não serei eu o primeiro. Até porque ele em nada acrescentaria ao processo. É um trabalho de um homem só. Ademais é algo com o que não quero mais me meter, não por ser ilegal, mas porque não vende. Eu pude comprovar isso quando desisti. Não existe demanda para os produtos. Disse a Ju que queria saber, conseguir chorar, acho que choraria por um bom tempo, o choro alivia até onde me lembro. É como se fosse uma expressão física, uma materialização do sofrimento interno que parece se esvair temporariamente com as lágrimas. Mas não consigo e que seja. A terceira página já está acabando. Ainda tenho um post antes deste, eu creio. Há dois arquivos abertos no meu computador. Vou a mais um café com cigarro.

17h56. A noite se fez completa, mas ainda não quero luzes no meu quarto. Acho que peguei a última xícara cheia de café. Isso me desponta um pouco. Seria interessante se a suposta mulher que me deu a curtida no Tinder fosse uma “sugar baby”, gostaria de dialogar com alguém assim, que quer um homem que lhe sustente, inclusive em seus hábitos consumistas, independentemente e supervenientemente a qualquer outro fator. É um comportamento que vem de uma cultura muito ancestral e que está na zona cinzenta do que é prostituição ou não. Ouvindo Pictures of You, uma das minhas músicas prediletas.

18h06. Não estou mais sozinho em casa. Minha mãe trouxe McDonald’s para mim; tomei o milk-shake e guardei os sanduíches para horas mais avançadas da noite. Sou um ser humano mais defeituoso que os demais. E mais livre que os demais, por mais que viva sob o controle excessivo da minha mãe. Durmo e acordo quando quero, como quando eu quero, bebo e fumo quanto eu quero e escrevo quase tudo que quero. Aliás, escrevo tudo o que quero, mas nem tudo vem parar aqui no Profeta. Há verdades improfessáveis que guardo para mim. Sim, meu ser é mais obscuro do que se apresenta aqui. Há profundezas que não estão disponíveis para os olhos do leitor. Só para a terapia e para outros recantos aos quais só eu tenho acesso. O café, como a página, está acabando. Mas a minha vontade de dizer parece que ainda continua viva. Faz certo tempo em que não escrevo com o gosto que agora me domina. O chato é não haver novidades. Há coisas que queria gritar ao mundo, mas as selo dentro do meu peito. Coisas que são até irrelevantes dada a cultura em que vivemos. Mas é a vida e não se pode ter liberdade de expressão sem se pagar o ônus por isso. E não estou disposto pagar tal preço. Há um filme que me gerou forte impacto e identificação, por mais exageradas que sejam as circunstâncias narradas, que foi Child of God. Está entre os melhores filmes que já assisti pelo impacto que teve sobre mim. Para quem quiser assistir: https://yts.am/movie/child-of-god-2013 . A terceira página acabou e vi que lançaram o novo Jurassic World. Vou botar para baixar. O celular já deve ter carregado. Vou saber do que trata o Tinder e responder ao meu amigo.

18h26. Houve realmente um match, de uma garota jovem, pela diminuta foto que vi, chamada Anastácia. Não estou preparado para enfrenta-la no momento. Ficará para o próximo post. Gostei do nome, algo que me é muito importante, e ela não parece ser muito feia. Um item meu acabou de ser vendido no eBay! Que ótimo! A reativação do celular só me trouxe alegrias. Bom, fico por aqui. Se quiser saber como se desenrola a minha vida diante das novidades. Acompanhe o blog (como se alguém se interessasse! Hahaha).    

Um comentário:

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