A juventude passa, mas não passa o desejo de usufruir da
juventude, não passa o encantamento que ela desperta. Isso é injusto pois não
tenho juventude para oferecer em troca. Minha mãe está preocupada comigo, com o
meu atual estado de ânimo e com o meu isolamento. Sua preocupação me incomoda
ao mesmo tempo que demonstra de forma clara o amor que tem por mim. Postei mais
um texto no blog de bonecos, mas esse não divulgarei. Chamando a todos nós,
colecionadores, de consumistas. Que é uma verdade. Aliás viver num sistema
capitalista é ser um consumista em potencial, pois é para isso que ele serve,
para consumirmos mais do que não precisamos realmente, criando novas necessidades
para o enriquecimento de alguns poucos. O capitalismo também gera a invenção, a
descoberta, infelizmente as verbas para tais avanços estejam ligadas a
interesses sombrios. Ou não, sei lá. Guardo imensa esperança na humanidade,
mesmo que tenhamos colocado Trump como líder do mundo. É muito bom tomar Coca
geladíssima. São 15h21 e já acordei há algum tempo. Não me sinto
particularmente de mal da vida hoje, um dia de alívio, eu mereço, eu acho.
Ainda estamos na terça-feira, mas dou essa semana como ganha pelo show de
Caetano com a filharada. Minhas costas doem por ficar tanto tempo sentado na
mesma posição.
15h50. O desânimo se abate sobre mim uma vez mais. Meu post
no maravilhoso mundo dos bonecos está com mais de 900 visualizações. Algo que
me agrada pelo menos.
15h55. O que fazer com esse montão de vida que me resta se
nada me agrada? Eu não gosto de seguir sugestão dos outros, eu não gosto de
nada que me seja imposto, eu não quero fazer nada a não ser escrever aqui. Eu
estou ferrado. Não sei como perdi o interesse pelas coisas do mundo, mas elas
simplesmente não me apetecem. Não tenho paciência para mais nada, só se for algo
realmente muito interessante para mim. O alento só me vem – e às vezes nem vem –
com o meu subterfúgio.
16h14. Usei do meu subterfúgio, foda-se. A vida é agradável
para mim agora. O sol da tarde na minha cara não me vem como uma chateação, um
inconveniente, me vem como necessária luz que me alimenta e me traz saúde,
principalmente por eu passar a maior parte do meu tempo no quarto-ilha sem ter
contato íntimo com o astro-rei. Estava pensando em jogar Zelda. Talvez o faça,
mas não agora. A música de Marcelo Camelo me entra muito bem, assim como a Coca
gelada. Santa Chuva. Fantástica
também na voz de Maria Rita, primeira a gravá-la. Marteladas ecoam pelo quarto,
trocam os azulejos do prédio. Interessante que antes estava condicionado a
relevar o barulho ou então começaram agora, sei lá. Sei que não consigo me
desligar dele no momento. Eu poderia aumentar o som. Afinal não tem ninguém em
casa. Téo e a Gaivota. A Coca acabou
e a vontade de fumar emerge. Não me sinto tão bem agora, não saberia dizer por
quê. Mas ainda está bom. Não posso ser assim tão sensível.
16h33. Maria Rita, Menina
da Lua, essa música me é muito evocativa. Há tantos nomes que colocaria
numa filha, esse pensamento às vezes me assalta: Maria, Aurora, Francisca,
Poema, Vida... havia outros, mas não me recordo. Qual será a história de
Estrelinha, uma prostituta jovem com quem fumei crack junto com uns moradores
de rua, também jovem e viciados? Ela chorou de culpa por estar recaindo, disse
que tinha uma família que morava num apartamento de Boa Viagem, mas por algum
motivo que não me recordo, não podia voltar para lá. Não entendo o que leva uma
menina bem-criada a acabar naquele fundo de poço. Ou sei, o crack. É uma droga
maldita, foi perversão e crueldade a terem inventado. Pensando no meu
companheiro de espera na terapia. Assumir-se vagabundo, um imprestável é uma
tarefa difícil é um papel que pesa muito pela culpa. Por enquanto as benesses
que usufruo desse papel compensam.
16h54. Saquei qual a solução para o meu problema e é o que
Ju disse, uma mudança de perspectiva, em vez de ficar me martirizando com o que
acho que a sociedade pensa, eu poderia me ver como homem extremamente
bem-sucedido que sou, para os meus parâmetros. Eu consegui reverter toda
autodestruição e parte do desamor que eu tenho por mim em um meio de conseguir
o meu sustento, ademais eu vivo uma vida sem estresse e burocracia, sem trânsito,
ordens, horários, obrigações, não experimento nada de ruim que uma pessoa da
minha idade experimenta e, sem alternativa, se submete diariamente. Eu sou
livre, livre de tudo isso por ser incapaz civilmente. Sempre haverá alguém para
cuidar desses aspectos por mim. Só me falta, de posse de todo o tempo livre que
tenho para mim, aumentar as possibilidades de diversão. Eis aí outra pedra.
Cada vez menos coisas me despertam interesse. Estou meio que nem aquela música
de Björk, I’ve Seen it All. O que me
mantém são é a escrita. Não tivera essa válvula de escape, eu nem sei de mim. Será,
talvez, por ser a válvula perfeita, que eu não tenha me viciado nela? Se bem
que agora quero jogar videogame. Fumar um cigarro antes.
17h19. Eu fumei e resolvi voltar para cá, ainda não me bateu
uma vontade forte o suficiente de jogar. Se tudo permanecesse assim, como me
sinto agora, estava de boa. Mas não é como geralmente me sinto. Apesar de toda
a minha genialidade de conseguir a vida que sempre sonhei, dedicada à escrita, sem
responsabilidades outras, essa se prova insuficiente a maior parte do tempo. Há
momentos em que me odeio profundamente, visto que não posso odiar mais nada,
pois nada me falta, não necessito de mais do que tenho. Falta-me uma pessoa,
uma garota jovem e bela e uma paixão mútua que evoluiria para amor entre nós.
Infelizmente, o meu isolamento não me levará a isso. E eu acredito que nada me
levará a isso. Ou quase nada. Tenho uma última desesperada cartada na mão, que
nem sei se tenho coragem de abrir para a existência. Veremos o que decorre.
Queria mesmo que o anjo do Tinder me desse um match e eu conseguisse seduzi-la.
Acho que vou ver um filme. Ou The Walking
Dead.
17h50. Coloquei Mother!
e Conjuring 2 no pen-drive. Estou
com vontade de dormir. Mamãe me ligou e disse que trará sanduíches do McDonald’s,
um deles sendo uma novidade. Não estou nem um pouco interessado em ver filme
agora. O sanduíche novo muito me apetece, entretanto. Vou fumar outro cigarro
antes de eles chegarem.
18h11. Voltei e me deixei estar um pouco no maravilhoso
mundo dos bonecos. Um cara criou uma polêmica boba, mas que está gerando conteúdo.
Será que não namorarei mais ninguém? Me parece um futuro tão insólito.
18h15. Fechei um pouco os olhos e apreciei a música, It’s In Our Hands, de Björk. Amo muito
essa música. Me lembra uma viagem de cola. Acho que porque já tive viagens de
cola assistindo aos clipes dela. E foram boas. Mas não quero mais isso para a
minha vida. Pensei em como abracei Ju com mais afeto na nossa despedida da
segunda. Ela me é uma pessoa preciosa. E aí, faço o quê da vida? Acho que vou
tentar o Zeldinha uma vez mais.
18h45. Tentei, não progredi, desisti por ora. Comi um dos
sanduíches que mamãe trouxe, ela e meu padrasto já estão aqui. Ela conversa com
uma vizinha à porta. Parece que a moda de ser largado pega. Hahaha.
18h48. Coloquei na tela o filme basta selecioná-lo e
assistir, mas não estou disposto no momento.
19h02. Passei por um momento de tédio agora navegando na
internet. Eu não sei o que fazer. Aliás, sei: vou fumar um cigarro já, já. Um
colecionador nunca está satisfeito com a sua coleção. Pelo menos é o que
percebo. Sempre está ou estará faltando algo.
21h57. Assisti Mother!.
Consegui captar algumas referências bíblicas, como sugeriu a minha prima, mas o
filme é muito doido. Certamente deixa uma impressão naquele que assiste.
Imagino naqueles que têm bebês recém-nascidos. Entendo o criador ter extremo
apego pelo que cria, mas acho que amor é mais importante. Talvez porque tenha a
oportunidade de criar – mais parece descrever – e não tenho a oportunidade de
amar. Meu primo urbano me sugeriu fazer cursos, criar contos. Até sugeriu transformar
o conteúdo do blog em um livro. Ele me perguntou se eu tinha ideia para uma
segunda obra, disse-lhe que tinha, mas que era impraticável. Pelo menos na
atual conjuntura. Minha mãe nunca me deixaria passar dois meses vivendo em meio
a mendigos escrevendo do celular. Eu poderia começar um narrando o meu momento
atual. Acho que vou tentar. Vou só
acabar este post que já está na terceira página. Ah, para quem quiser ler um review de Mother!, fica o link da minha adorada Portuguesinha aqui (LINK).
22h17. Estou com vontade de escrever o segundo livro que não
diferirá do que escrevo aqui, tentarei só dar mais contexto.
22h34. Zanzei pela internet e perdi a vontade de escrever. Um
novo livro, digo. Não há muito o que dizer, embora sempre haja o que dizer pois
a vida continua acontecendo para mim.
22h49. Não estou com vontade de fazer nada, talvez recorrer
ao meu subterfúgio uma vez mais. Provavelmente o farei. Ainda há muito papel a
ser escrito antes do final deste post. Não sei com o que preenchê-lo. Mas como
disse a vida continua acontecendo então sigo a escrever mesmo que nada de
relevante se alevante na minha existência. O mundo gira, pessoas morrem, a
morte, como bem lembrou o meu primo urbano nos rondou de perto em agosto. Meu
primo urbano sugeriu uma série de coisas para chacoalhar a minha rotina, é uma
pena que nenhuma me fez brilhar os olhos. É difícil meus olhos brilharem por
coisas outras que uma bela boneca e uma bela garota. Não vejo interesse em mais
nada e passo o meu tempo a escrever para tentar enganar o tédio. Nem sempre sou
bem-sucedido. O que mais posso falar sobre o filme Mother!? É um filme que intenta causar sensações estranhas no
espectador, deixá-lo desconfortável, em certo suspense, tenso. Nisso é muito é
bem-sucedido. Várias alegorias podem ser feitas, uma para cada espectador. A
explicação do autor e diretor é que queria fazer um filme sobre a Mãe Natureza,
segundo o blog da Portuguesinha. Até entendo essa visão.
0h06. Há uma estátua que eu queria e que nunca vou ter.
Acontece. Frustra, mas nada de muito pungente. Minha mãe me sugeriu tomar um
banho. Acho que vou fazer isso e dormir.
0h42. Fiz nada. Comi e me bateu um sono, vou aproveitar, dou
o meu dia por visto. Queria dizer vivido, mas é muito para o pouco que foi. Não
sou ingrato. Sou grato todos os dias pelo meu lugar no mundo.
O Mother! é um filme difícil pese embora seja totalmente de autor Só que pronto, o Aronofsky devia estar completamente maluquinho quando decidiu fazer algo deste género. E ele que tem tantos bons filmes. Meanwhile, o The Conjuring 2 é muito fixe!
ResponderExcluirEstive ausente mas VOLTEII!
Que bom! É bom tê-la por perto, mesmo que ciberneticamente. Eu é que estou distante do blog por causa do projeto que pode ou não se tornar um livro. Saudades.
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