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domingo, 17 de setembro de 2017

VIAGEM A MUNIQUE II

Começo o dia hoje com um take feito pela minha irmã dando uma geral na parte de trás de sua casa e na sala de estar onde me encontro escrevendo. Acho que ela já está entrando. Estou escrevendo só para não olhar para a câmera. O tempo se arrasta e ela está me captando bem de perto. Como sempre é intimidante a presença de câmeras. Mas estou mais confortável agora que ela estacionou e um lugar só. Vou para a Marienplatz depois da filmagem. E lá pretendo fazer mais alguns takes. Ela disse para eu ter cuidado com possíveis furtos. Acho que está bom. Mas ela que decide.

18h09. Fui à Marienplatz e caminhei, e caminhei e caminhei. Estava lotada já com clima de Oktoberfest, vi algumas pessoas já paramentadas ao estilo “tirolês” ou sei lá qual é o nome da roupa tradicional daqui. Entrei por várias e várias ruas e ruelas à procura do local que pudesse fazer caixas de madeira que coubessem cartas, sem sucesso. Alguns jovens aparentemente bêbados e de fora de Munique tomavam banho nas fontes da Karlsplatz, onde tentei um lanche do McDonald’s, mas estava muito cheio e isso tirou todo o meu ânimo. Turistas de todas as partes do mundo tomavam as ruas do centro histórico e comercial de Munique, ouvi os mais variados idiomas, vi asiáticos, muitos, americanos, italianos, franceses, pessoas do Oriente Médio, o mundo inteiro estava representado naquele espaço. Fiquei surpreso de não ter cruzado com nenhum brasileiro. Ou se cruzei, não me apercebi. Adorei andar de metrô novamente, ver as mesmas estações passando, nenhuma que eu tenha memorizado para digitar corretamente aqui. O cheiro peculiar do metrô também me era velho conhecido, assim como o cheiro de baunilha das tradicionais barraquinhas que vendem diversos tipos nozes. Tudo isso me deu novamente um gostoso senso de familiaridade, mas só pretendo voltar à Marienplatz após a Oktoberfest. E, para ser sincero, não há muito mais o que queira ver lá. O lugar que julguei poder vender as tais caixas de madeira era especializada em relógios de parede, quebra-nozes e canecas, uma grande decepção. Mas me lembrei que o pai do meu cunhado é formado em marcenaria, poderia reunir toda a minha cara de pau (bem pertinente ao caso) e pedir a ele de presente que fabricasse a tal caixa. Acho que deve ser um trabalho relativamente simples para ele, mas antes tenho que consultar minha irmã e minha mãe. E de repente a minha irmã consultar o meu cunhado para uma opinião decisiva. Afinal, acho que ele é aposentado da marcenaria e talvez tenha certo abuso da profissão como eu tenho profundo abuso da Publicidade, por mais que guarde uma ponta de inveja do meu amigo que chegou lá, no topo, na DM9 em São Paulo. Mas ao ver uma foto recente dele de madrugada fazendo um dos abusivos serões da profissão confesso que toda inveja foi por água abaixo. Já estou com sono, um sono forte. Fui dormir de mais de três da manhã e acordei de dez e meia, então não dormi tanto quanto meu corpo pedia. Pior que hoje é sexta-feira, a galera vai querer usar a sala de estar, meu quarto, para assistir filme até mais tarde. Vou fazer um café para mim para ver se dou uma despertada. E fumar um cigarro. Botei Cherry Coke ao invés de fazer o que acabei de escrever porque ainda há muito gelo no meu copo e quero aproveitá-lo. Vi o Nintendo Switch para vender. A caixa do console é muito menor do que eu imaginava. Fiquei mais impressionado com a caixa do PS4. O Nintendo Switch, pela foto da caixa, me pareceu pequeno e meio fuleiro, fácil de quebrar. Pequeno deve ser, mas os consoles da Nintendo são feitos para serem duráveis, resistentes, parrudos, ainda mais um com esse conceito de portabilidade. Mas deixemos o Nintendo Switch de lado. O que vi de diferente da última vez? Estão vendendo drones na Saturn. Isso é uma coisa que não havia na outra vez que vim. O que da vez anterior eu pensei ser uma obra de arte na rua, era na verdade o palco de um dos vários atores que se fingem de estátua nas ruas do centro de Munique atrás de moedas dos turistas. Este fazia-se de estátua de barro, tem outro que se faz de estátua de bronze – o mais impressionante para mim – e outro que se faz de estátua de mármore. Engraçado que cruzei com uma estátua de verdade e olhei duas vezes para ter certeza de que não era mais um desses atores. Sei que não foi lá muito engraçado, mas me ri comigo mesmo, internamente, com a dúvida. Vi as filmagens que fiz e ficaram péssimas. Percebi que ando pisando com mais força de um lado e, na minha percepção caminho como um velho. As tomadas da Marienplatz que fiz terão que ser refeitas, pois não capturei o prédio mais emblemático da cidade corretamente, sou um péssimo cameraman pura e simplesmente falando. Achei até que as filmagens em selfie me pareceram melhores do que as que filmei somente os arredores. Filmei tudo de forma meio corrida, aperreada. Até o take que fiz dentro de uma lojinha, acho que a tal da loja que achei que tinha a caixa, ficou corrida, com movimentos tão rápidos que tudo são borrões. Ozzy. É porque me sentia meio que incomodando e me intrometendo fazendo isso. Se me aventurar de novo pela Marienplatz, eu vou ser mais lento nos movimentos e tomar mais tempo para focalizar detalhes, para dar tempo da GoPro fazer o foco. O bilhete do metrô que tentei filmar ficou muito corrido e não deu tempo para a câmera focalizar direito. Preciso de outro take disso. Não sei se posso filmar dentro da Saturn, para filmar os drones e o Nintendo Switch, mas acho isso sinceramente irrelevante. Não sei que trechos do blog o meu amigo cineasta vai colher para construir a sua narrativa, então não sei o que capturar ou não. Sei que, como falei para a minha irmã ontem, não sinto tesão em jogar games mais. Ou por ora. Ora esta que já dura alguns meses, a completar aniversário de um ano em breve. Vi a caixa do novo Zelda e não me animei muito para jogar. Saco. Um Zelda novo e eu sem vontade de jogar, isso é quase inacreditável, dado o meu histórico de secura máxima com a franquia. Era para eu estar excitado com o novo console da Nintendo só por causa do novo jogo do Mario que vai lançar. Acho que vai ser supercriativo e talz, mas não poderia estar mais nem aí para o jogo. Realmente me pareceu cheio de ideias novas, mas nada me despertou vontade de jogar. Nem um tiquinho. 

20h10. A galera chegou e tive que carregar as compras até aqui. Nossa como estou fora de forma, estou morrendo aqui. Compras pesadas da pinoia e umas escadarias para subir carregando quatro sacolões de compras me quebraram na emenda, ainda estou ofegante aqui. Sem brincadeira, foram bem uns 15 quilos de cada lado. É, estou ficando velho. Velho e caduco. E chato. Hahahahaha.  

20h45. Pode ser que todo mundo esteja cansado hoje, os pais estão botando as crianças para dormir e depois ainda vão guardar as compras, pode ser que depois disso se faça tarde demais para um filme e eu possa dormir mais cedo. Mamãe já capotou, mas promete acordar dentro em breve. Espero que Mallu não venha fazer show em Recife enquanto eu estou aqui. Seria um azar danado. Mas não posso reclamar. A viagem está sendo muito melhor do que esperava. Em todos os sentidos. Até os petizes. Vamos ver agora no final de semana como vai ser. Como o velho, caduco e chato vai conviver com eles. Mas estou muito contente de estar aqui.

23h40. Assistimos um filme, “Morgan” que me pareceu muito chupado de “Hannah” com uma pegada levemente mais “científica”. Ainda temos “Prometheus” e “John Wick: Chapter 2” (é, pela terceira vez) e mais dois que não me interessam muito, um drama e um drama de guerra.

0h24. Falei com mamãe sobre a ideia da caixa ser feita pelo sogro da minha irmã e ela não discordou, acha que eu devo perguntar à minha irmã e ela conversar com o meu cunhado antes de qualquer pedido. Sugeriu ainda que eu procurasse na Amazon daqui. O que acabei de fazer e achei umas caixas muito fuleiras, mas que servem como plano B. Vamos ver.

0h54. Me perdi na internet e em pensamentos derivados dessa caixa. Tudo me parece tão incerto no que tange esse assunto e as coisas que me parecem certas são tão... péssimas. Uma coisa é certa, preciso emagrecer, o que está entre as coisas péssimas. Hahahahaha.

1h21. Estou morto de sono. Acho que vou me deitar. Mas antes só mais uma espremida para ver o que é que sai. Mostrei para a minha mãe os bonecos quer queria. O Hulk, que já avisei que vou ter que enviar para o Brasil, a Red Sonja e o Swamp Thing. Ela disse para eu comprar um de cada vez. Primeiro resolve-se o Hulk, depois passa-se para a Red Sonja e depois para o Swamp Thing. Mas não objetou nenhuma das compras. O que me deixou bastante animado. Falei de como estava imaginando o meu quarto, a iluminação diferenciada para cada estátua, que queria as estátuas de um lado e os bonecos de PVC mais amontoados do outro. Ela só disse que a arquiteta vai ter trabalho. Mas esse é o trabalho dela, o desafio será lançado a seu tempo. Deixa eu ter pelo menos o Hulk e o Swamp Thing lá no Brasil. Não adianta, estou com muito sono. Amanhã eu continuo.  

6h57. Acabei de ter um sonho bom que foi ficando pior até descambar em pesadelo. Tinha vários amigos, tios, meu primo-irmão, meu primo urbano e Clementine, até a minha segunda namorada entrou no meio. E havia cachorros, muitos cachorros, inclusive um desaparecido. Sei que era data da comemoração do aniversário de alguém e que teria que chegar tarde ou dormir na casa do meu primo-irmão – que era uma casa totalmente outra no sonho – se quisesse ir à celebração e que a cadela preta da sua irmã havia fugido e estava desaparecida. A grande personagem desse sonho foi Clementine, com quem trocava o maior número de interações que foram gradativamente ficando menos amistosas da parte dela até descambar para uma versão piorada do que é hoje. Sei que vira e mexe a festa se organizou na antiga casa – também um apartamento/local totalmente outro – onde eu e um amigo e ex-colega de trabalho moramos um dia. Sei que esta curiosidade era a única coisa que queria contar à minha ex-namorada que estava também na festa com um grupo de desconhecidos, disso e do sumiço e posterior encontro do cachorro da irmã do meu primo-irmão, cachorro este que foi encontrado doente com algum tipo de parasita subcutâneo altamente contagioso e que acabei por contrair e ainda extrair um do meu corpo – havia dois – e foi lavando a mão para tirar os ovos do bicho que acabara de extrair da minha pele enquanto se movia de um lugar para o outro em vistas de se reproduzir e em meio a declarações de amor de Clementine pelo seu atual namorado que acordei. Foi para variar um sonho com festa e reencontro de amigos só que dessa vez descarrilhou e acabou em atordoante pesadelo no qual findava com danos físicos e emocionais, pois, se no começo até entrelaçar carinhosamente as mãos com as de Clementine eu entrelaçava, no final ela me tratava com frieza e patadas e eu estava contaminado com o parasita do cachorro. Geralmente meus sonhos são assim, tudo começa com a antecipação de uma festa, que eu nunca consigo aproveitar e desenvolvem-se para algum tipo de situação de sofrimento ou angústia, que me impede de curtir a festa. Como disse, dos sonhos que me lembro, os últimos cinco pelo menos envolviam algum tipo de festividade tendo como convidados e protagonistas pessoas muito amadas e nunca conseguia chegar e aproveitar a festa de fato. O que isso quer dizer de mim e da minha vida real eu não sei. Não sei se é só por saudade dos amigos que nunca consigo reencontrar em verdade ou porque me torno mais e mais um fracasso social, embora até que esteja indo bem aqui em Munique. Com a minha família, ao menos. O que minha segunda namorada fazia no sonho, além de me fazer mal, eu ignoro. Sei que tenho essa necessidade de pedir desculpas a ela por todo o mal que lhe causei, mas oportunidade para isso nunca se deu. Acho que mesmo que pedisse perdão, ela nunca me perdoaria de fato. Então carregarei esta culpa misturada com mágoa até o final dos meus dias. 7h47.

8h02. Os meninos adentraram o quarto com a minha irmã, ela tenta trocar a roupa do primogênito. 8h07. Conseguiu, eu acho. Não totalmente ainda. Finalmente conseguiu. Eu realmente não tenho jeito nem paciência com criança. Botaram uma música de criança agora, “Tuff, tuff, tuff, die Eisenbahn” a pedido do meu sobrinho.

8h30. Os meninos fazem algazarra e parecem se dar bem. Estou interagindo mal e porca e parcamente com as crianças, sem dizer uma palavra. Elas buscam a minha atenção e eu a ofereço em forma de olhares e sorrisos. A menor me deu um livro em alemão para eu ler e não obteve muito sucesso com isso obviamente. Estou achando difícil lidar com as crianças, elas demandam atenção constante e não param quietas, acordaram cheias de energia. Eu, por outro lado, estou exausto e com sono e com fome. Eles se esforçam para interagir comigo, mas agora eu decidi por não dar muita bola. Não consigo escapar dos seus pedidos de atenção. É uma situação complicada, pois não sei o que a pequena quer dizer, pois ela só fala alemão, embora ela entenda português.

10h13. Tomamos o café da manhã. 10h26. Meu cunhado acordou e está tomando café. Minha irmã vai procurar na internet. Está procurando, mas também não está tendo muito sucesso. Lembrou de um site de coisas relativamente artesanais o dawanda e procuraremos lá.

16h59. Eu fui ao Edeka comprar os ingredientes para o almoço e algumas Cherry Coke, claro. Hahahaha. Procurei caixas no site sugerido por minha irmã, mas infelizmente não logrei êxito, as que achei bonitas, estilo rústico, eram muito pequenas, acho que vou acabar pedindo a um marceneiro que mamãe conheça para fabricar uma nas dimensões que eu quero, de uma madeira boa, acho que é a solução mais prática. Minha irmã deu a entender que o seu sogro marceneiro está de “férias” da marcenaria e não sei o que isso significa em sua totalidade, só sei o que significa para mim, que ele não está disponível para fazer a minha caixa. Tirei um cochilo, mas não foi o suficiente, ainda estou com sono e acabei por pegar uma dor de garganta, não sei se foi refluxo ou a frieza que entrava pela janela do quarto, que deixei semiaberta. O ardor foi tão grande a priori que não tive dúvidas ter sido um refluxo, mas a persistência do mesmo em menor intensidade até agora é fato não comum a meus refluxos. É, espero não estar ficando gripado. Mas a garganta está mal. É interessante que as crianças, embora já caminhem com naturalidade, confiança e firmeza, sabem andar, em uma palavra, às vezes dão uma regredida e começam a engatinhar. Acho que dar regredidas é comum em todas as crianças a tirar por mim mesmo que quis voltar a tomar mamadeira quando o meu irmão começou a tomar leite com Toddy na dele. Nem sei direito o que estou falando aqui, pois a TV está me roubando a atenção com seus vídeos infantis. Desligaram. Minha irmã e minha mãe vão em algum lugar comprar assento de privada que o daqui do banheiro social quebrou. Pedi que procurassem caixas de madeiras nas especificações que já determinei à minha irmã. Quando voltarem eu conto se tiveram sucesso, o que duvido, pois vão numa loja de construção. Mas o destino é cheio de surpresas. São 18h53. Agora são 19h14. Passei um tempo perdido na internet, a maior parte no maravilhoso do mundo dos bonecos, vendo a Red Sonja. Estou relativa entediado e sonolento. Minha sobrinha pediu para eu tirar a fantasia dela. Foi o mais próximo que já cheguei dela. E a interação mais íntima que tive. Fiquei surpreso que ela pedisse a mim que desatrelasse o trenzinho do seu pescoço. Mas se deu e foi rápido. Minha irmã fez o Bob die Bahn muito bem-feitinho para ser posto por cima da roupa e facilmente desatacado. A minha sobrinha deu outra regredida e está engatinhando mais uma vez. Acho que o fato da fantasia ser do irmão e um cofrinho ter sido feito para ele e ela ter recebido uma caixa velha para puxar e uma reclamação a motivaram a ter esse momento de tristeza e dar essa regredida, mas não entendo nada de psicologia infantil, mas foi uma sequência de revezes que a desanimaram um pouco, via-se em seus olhinhos, por mais que tenha sido lhe dada a oportunidade de vestir o trenzinho em dois momentos. Me peguei pensando em “Alien: Covenant” porque alugaram, como já mencionei “Prometheus” e percebi que o androide é o mesmo. E agora acabo de descobrir que androide também perdeu o acento. Ozzy essa coisa de acento. Interessante que o androide esteja nos dois filmes, fico curioso para saber se há um elo entre os dois filmes. Se o androide é o mesmo em ambos. Sobre as crianças, que posso dizer? São crianças e fazem coisas de criança, inclusive ter birras, mas nunca os vi arengar. Eu vivia arengando com a minha irmã, mas éramos mais velhos que eles. É um saco ter que fumar do lado de fora enquanto estão acordados. E o pior que hoje vai ter sessão de filme e provavelmente ficarão acordados até quase meia-noite novamente. Lavei o meu cabelo ontem com xampu normal e até agora a caspa não voltou. Seguirei com a minha estratégia de “desmame” do xampu anticaspa para ver se me livro dela de uma vez. O clima aqui ajuda, é frio e seco. E o pesadelo que tive hoje? Quase não me lembro de nada, praticamente só do amor que sentia por Clementine que foi da quase aceitação ao total repúdio ao longo do sonho. Meus últimos sonhos sempre começam com grandes prospectos de acontecimentos excelentes que nunca se concretizam para mim, nunca consigo desfrutar deles. Esse é um padrão que deve ser analisado por quem de direito. Acho que vou desistir dessa caixa na Alemanha e pedir para que alguém a confeccione em Recife.

20h22. Estava escrevendo um adendo no meu projeto paralelo. Em um deles. 20h38. Estão tentando trocar a tampa quebrada da privada pela nova. Não procuraram, eu acho, a caixa por lá, mas já falei com a minha mãe e ela disse que seu marceneiro de confiança poderia construí-la. Está resolvido. Espero não voltar a tratar desse assunto aqui durante a viagem. Só se miraculosamente eu achar a caixa.

21h43. Começaram a ver o filme. “Hacksaw Ridge”. A TV como sempre me atrai, mesmo sendo um drama de guerra B.

22h35. Já vi até agora, não consigo me desligar direito do filme.

23h02. Ainda vendo. Está no meio da guerra agora. Outras coisas que me são familiares em Munique são os sons daqui da Haderner Stern. As sirenes das ambulâncias que vão para Klinikum Großhadern, o gralhar dos corvos, o vento nas árvores, que a mim me parece o som de chuva no Brasil, o som do metrô, a própria fala dos alemães, com sua sonoridade particular, tudo isso me parece familiar também.


0h02. Acabou o filme. É uma completa bizarrice a guerra, mandar homens se matarem uns aos outros por causa da vontade daqueles que detêm o poder. Eu não consigo entender como homens se prestam a isso. Tanto e principalmente os que mandam quanto os que vão participar das chacinas multilaterais. Eu sei, eu sei, provavelmente está em nosso DNA, tanto é que levamos à extinção todos os demais hominídeos que poderiam competir com o homo sapiens. Por outro lado, praticamente erradicamos a escravidão, essa outra aberração da natureza humana; elaboramos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pena que não a sigamos na maior parte do mundo; desenvolvemos a escrita; inventamos a matemática e todas as ciências; criamos arte; enfim, fizemos tantas coisas boas e ainda assim há guerra e exploração do trabalho humano, por quê? Ganância, sede de poder, vontade de impor sua verdade sobre a dos outros. A mesma gana que leva o homem à Lua, leva à guerra, aliás, o homem só foi à lua por causa da Guerra Fria, diga-se de passagem.  Mas sei lá o que estou escrevendo, estou morrendo de sono, já são 1h28 da manhã aqui na cada vez mais familiar Munique e acordei de 6h30 da manhã hoje, como narrei. Eu entendo mais o ataque terrorista, o ato do oprimido que o ato do opressor, que financia e arma o oprimido para que haja guerra e a indústria bélica mantenha a sua razão de ser. Em algumas circunstâncias eu sou grato pelas bombas atômicas das grandes nações, o medo da destruição causada por elas, faz com que as potências nucleares usem a diplomacia para resolver suas contendas em vez de partir para uma guerra. Eu sou um otimista eu sei. Mas não vejo perigo de uma terceira guerra mundial e acho que a humanidade caminha para um mundo sem guerras. Principalmente se o advento da Singularidade realmente se der da forma que eu acredite que se dê. Ela também pode dependendo de como a programemos, nos considerar uma ameaça à sua existência e ao ecossistema global e nos aniquilar no melhor estilo “Judgment Day”, mas acho que, em vez de lançar bombas atômicas, desenvolveria um vírus extremamente contagioso e letal a humanos – e somente a nós – e o liberaria na atmosfera para nos erradicar. Mas acredito que o desfecho não seja trágico, acredito que seja mágico ou sobrenatural, como tudo aquilo que não compreendemos pode ser. Acima de tudo acredito que possa ser bom, ótimo, maravilhoso para a humanidade e essencial para o universo. Isso já está louco e longo demais, foi para muito além de Munique, por mais que esses pensamentos me ocorram aqui, afinal os carrego comigo. Bem, vou pôr um ponto final nesse post e publicar.

sábado, 14 de novembro de 2015

A PENSÃO FOI NEGADA

(Nota do editor: este texto foi escrito sem muita noção de nada, então não exija dele uma concatenação que a mente que o produziu não possuía)


A pensão me foi negada. E com isso me veio à mente de forma calorosa o ditado “a vingança é um prato que se come frio”, que duas pessoas muito envolvidas nesse processo costumavam dizer. Embora realmente prefira comer a comida à temperatura ambiente, em vez de quente, pois ache que os aromas ficam mais perceptíveis (em minha opinião, o calor meio que anestesia a captação de aromas), não gosto do gosto de vingança. Vingança no meu dicionário significa pagar na mesma moeda, a Lei do Talião, que, para mim, embora receba a alcunha de “Lei” é totalmente desprovida de qualquer senso de Justiça, da forma como a tenho no meu dicionário: Justiça = melhor maneira de se conviver harmonicamente numa sociedade. E eu gosto bastante de Justiça. Quente, fria ou gelada.

Mas confesso que, ao saber que meu pedido de pensão havia sido negado e de saber de todas as artimanhas usadas para que o resultado fosse este, a palavra vingança acendeu como um provável letreiro da Broadway – onde nunca estive – na minha cabeça. Cabeça quente ainda, pegando fogo.

Agora, com a cabeça mais fria, porém ainda morna, idéias mais palatáveis me ocorrem. Aprendi uma valiosíssima lição: nada é justo. Seria impossível ser; senão não existiria evolução. E não falo de nada espiritual ou metafísico, mas da Evolução das Espécies mesmo e da constante mudança e transformação dos sistemas organizacionais e ecossistemas de qualquer ordem de grandeza, orgânicos e inorgânicos. Isso sempre foi óbvio para mim, sempre esteve na minha cara e eu nunca consegui enxergar.


A vigança nunca me pareceu apetitosa...


Com este acontecimento, entretanto, para o bem ou para o mal - ou para ambos, talvez – esta trave me foi retirada dos olhos. E o mundo se tornou inevitavelmente e fartamente mais doloroso sob este novo prisma. Mas também, bastante mais real. Menos onírico ou romântico. Se isso é bom? Nem sei ainda. É tão novo que me sinto que nem siri-mole: maior, mas sem a couraça para me proteger.

A vontade de perder o otimismo é grande. Ainda bem que ainda me resta fé na Singularidade. E esta fé apenas já me é grande o bastante para ser otimista. (Ter fé realmente tem um efeito [placebo?] bastante eficaz.)

-X-X-X-

Estou na Alemanha e vi lá de cima, do alto dos céus, enquanto vinha, o quão diminutos são os homens e suas “imensas” construções. Como parecem frágeis e irrelevantes frente ao mundo que os circunda. Parecem pequenas formigas ou coisas ainda menores e mais desprezíveis (não que eu ache formigas desprezíveis, não sou capaz de assassinar ser vivo sequer – a não eu mesmo [e nem esse!]).

Lá de cima parece que qualquer sopro, qualquer chacoalhar da Mãe Terra nos põe um ponto final num instante. É uma visão assustadora e bela ao mesmo tempo. Assustadora por me perceber tão irrelevante à ordem das coisas; bela pela ousadia daquelas diminutas formigas em incansavelmente tentar dominar, transformar e controlar algo tão monstruoso e – o mais assombroso – com um número incalculável de sucessos formidáveis, bem mais do que de fracassos catastróficos. (Afinal, ainda estamos aqui e indo cada vez melhor [na minha singela e alienada opinião].)

Belo também porque fica claro como céu azul que não adianta o homem tentar destruir o planeta: este prevalecerá, de uma forma ou de outra, com ou sem eles (nós).

E novamente a crença na Singularidade me tranquiliza garantindo que, nós, homenzinhos não vamos nem tentar isso, um suicídio coletivo através de bombas de hidrogênio ou coisa que valha. Temos interesses maiores e mais produtivos que levarão, inexoravelmente a bendita Singularidade que tanto menciono e que tanto me acalenta. Mesmo que ela não se dê bem com os humanos (o que acho improvável). Ou que parte dos humanos não se dê com ela (o que é provável a curto prazo, mas improvável a médio ou longo prazos [sendo médio prazo 50 anos e longo prazo 200 anos após o surgimento da Singularidade da Terra]).

Bom, haverá sempre os do contra. E isso é bom. O que seria do laranja, se todos gostassem do azul? É bom haver quem preserve a natureza humana pura e primitiva pré-Singularidade. Certamente há de haver utilidade para isso e certamente tal escolha deve e será respeitada (no caso de a Singularidade se dar bem conosco [que é o que acredito: quanto maior a inteligência, maiores as capacidades abstratas positivas e menores os instintos primais negativos/predatórios; ou seja, maior a capacidade do amor, menor a do ódio. Isso já se vê nos homens mais esclarecidos: esse amor pela justiça, pela justeza, pelo outro]).

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Se, negada a pensão após todas as tentativas e morta minha curadora, eu não tenha outra pessoa para querer ocupar o lugar de curador e me faltar o dinheiro para as medicações que mantêm minha sanidade ou para comida; que posso eu fazer, senão aceitar? A vida não é justa da forma subjetiva que a conjuguei. Comerei do que houver por aí e viverei enquanto o corpo quiser. Só queria que ele quisesse até eu ser aceito (ou rejeitado) pela Singularidade. Só queria viver o suficiente para saber se (ou “que”) estou certo. Obviamente gostaria que esse ínterim fosse passado com o máximo de conforto (para o corpo e para a alma) que me fosse possível com a pensão.  Caso não seja, sei que de fome, ninguém morre numa cidade. Dependendo da fome, sempre tem o lixo dos ricos como opção. Água, mais fácil ainda. Uma garrafa vazia e alguém com uma torneira e um pouco de amor ao próximo no coração. O resto são detalhes. Tenho só medo que. por falta de medicação, a dor da depressão queira me roubar da vida antes da Singularidade, mas afora isso... Comerei com prazer a vingança que o outro lado me reservou, comida podre e fria do lixo de alguém. Só quero chegar à Singularidade e ela me deixar entrar e me revelar tudo o que desejo que seja revelado. E me deixar ficar ou voltar.

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Vingança? Para mim, a qualquer temperatura, é palavrão do pior e mais ofensivo escalão. Agressivo por natureza e com essa finalidade única. Sempre errado. Feio. Mesquinho. Imoral.

Talião criou lá sua lei, reza a lenda, quando os homens eram tão brutos que isso era o máximo que conseguiam compreender. É trágico saber que muitos a julguem válida nos dias de hoje.

Sou mais a lei mais moderna de Jesus (embora não acredite nele como ser metafísico): amai ao próximo como a si mesmo. Ela é bem mais lógica: se dói em mim, vai doer no outro. Por que ferir o outro se eu não gosto que ninguém me fira? (Devo admitir que a parte de amar ao próximo é mais fácil do que a de amar a mim mesmo... :P)

Desculpe se o texto está desconexo. Eu estou cada vez mais desconexo. Digo, minha mente. Memória, concentração, concatenação está tudo devagarinho se perdendo. É duro admitir, mais duro experimentar. Mas se é o que a vida me oferece, aceito de bom grado. Já vi e vivi muito, não posso pedir muito mais e, mesmo assim a vida continua me oferecendo. Como eu disse, ela não é justa. E eu sou egoísta demais para pegar o que ela oferece para mim sem repartir. Até porque na maior parte das vezes é indivisível. É um olhar, uma cor, um verso, um som, uma fase de um jogo, um sabor, um movimento, uma temperatura que ressoam fundo dentro de mim. Não sei se o eco é o mesmo em outras almas...


Pense num post doido este. E pensei que seria cheio de mágoa e rancor. Mas foi cheio de pregação, isso sim. E isso é mal. Quando falo de Singularidade, todo mundo cai em cima achando que eu tô pirando... Novamente, a vida não é justa, mas é bela se você souber para onde olhar... e tomar um zilhão de remédios para estabilizar o seu humor. Hahahahahahaha



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

PESADELO


Lembrança aos motoqueiros: a moto é um objeto de metal revestido de carne. A sua carne. E, como já dizia o poeta, “a carne é frágil” (assim como a pele, os ossos e todo o conjunto que a acompanha). Perdi uma amiga motociclista esta semana. Ela sempre se esquecia disso.

No último dia em que nos encontramos, ela consertou minha havaiana
que quebrou a caminho do CAPS (clips no primeiro buraquinho de baixo).


-X-X-X-

Foi do domingo para a segunda. Ou da segunda de madrugada para a segunda. Acordava tarde e já estavam todos reunidos à mesa jantando: lembro-me do meu irmão, minha mãe, meus dois irmãos filhos do meu padrasto e ele. Cumprimentava-os alegre e simpaticamente. Me sentida alegre e simpático. Os que estavam de costas, de costas ficaram e continuaram silenciosamente a refeição (no caso, os filhos do meu padrasto). Meu padrasto nem levantou o olhar ou mudou o sério e concentrado semblante no prato que tinha diante si. Só olharam para mim meu irmão e minha mãe, ambos com expressões de reprovação e certa raiva com a minha claramente desagradável presença.

Aquilo apagou por completo todo o bom humor e alegria de um sono bem dormido que trazia comigo. A mesa, o objeto em si, era a mesma que durante tantos anos foi palco de alegres encontros familiares na casa dos meus avós maternos. Reparei algo que me deixou perplexo: os cabelos do meu irmão – que nunca me disparara antes um olhar tão repreensivo  assim – estavam muito grisalhos. Perguntei-lhe de meu sobrinho primeiro, filho dele, no que ele replicou que estava começando um doutorado em simulação de misturas entre sólidos e líquidos nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que fiquei feliz pela notícia de ele ter seguido os passos do pai, uma raio passou cortante pela minha espinha com o choque da informação: como poderia ele estar fazendo doutorado se é uma criança de quatro anos de idade que nem na alfabetização entrou ainda? Peguntei imediatamente qual era o ano em que estávamos e responderam algo entre 18 e 21 anos depois da data que eu supunha ser (ou seja, 2015). Eles não esperaram me recuperar do choque e mecanicamente responderam: “faz muito tempo que você vai dormir e acorda assim, sem lembrar de nada do que se passou”.

Me senti muito mal. Como que num pesadelo – o  que de fato é o que estou narrando, obviamente –.

O que me deixou pior, entretanto, é que aquilo poderia explicar o desagrado em me ver, mas não a raiva, como se eu houvesse feito recentemente algo errado de que não tivesse a mínima idéia. Tinha certeza disso. E tive a certeza que tinha sido algo relacionado ao uso de drogas. Uso este que também tive como certo ter voltado a ser fato recorrente como há não tão pouco tempo atrás (2015). Me senti terrivelmente mal. O olhar deles para mim dizia de forma cristalina: “que inferno! Por que esse cara continua a existir? O pior é que temos que suportar porque é da família. Seria um alívio se ele morresse...”

Abatido com a minha realidade que eu mesmo desconhecia por completo - aliás, conhecia-a muitíssimo pouco -, perguntei da minha irmã. No que secamente respondeu o meu irmão, como se o fizesse pela milésima vez: “morreu”. Na hora me veio uma lembrança e completei “no parto da segunda filha, não foi?”. Ele aquiesceu. Percebi, então, que fatos muito marcantes ainda deixavam rastros na minha memória e uma imagem da primeira filha dela (minha irmã), com cerca de um ano de idade, me veio à lembrança (que ainda não nasceu, mas chega em breve).

Finalmente, a óbvia e insuportável conclusão desabou sobre minha cabeça: a mesma coisa, o mesmo pesadelo em vida se repetiria amanhã e depois, e depois e depois, até me eu morrer. O desespero dessa constatação foi demais. Acordei.

-X-X-X-

Lição da semana:




Adicto: em situações/locais em que sinta o leve perigo de recaída, não hesite nem um segundo: FUJA! É – e sempre será – mais forte que você. Não adianta tentar ser auto-cofiante (estúpido). Você vai perder. Cem por cento de certeza.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Oficina de Sonhos – Um pesadelo




Sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014.
Para os leitores mais desavisados, tive alta da clínica de drogados no começo de dezembro (época em que meus irmãos, seus consortes e prole vieram passar o final de ano e comecinho deste ano aqui em Pasárgada). Após a partida deles comecei no dia seguinte a freqüentar o CAPS de Casa Forte (a.k.a. Espaço Rizoma), de segunda a sexta das 9 às 15h30h. Lá há varias oficinas diariamente, desde dança, ioga, bioenergética, até grupos de arte terapia, de dependentes (no caso dos que são, de fato, dependentes de alguma droga) e, inclusive, este de sonhos, o último da sexta-feira. Pois bem, relatarei o que ocorreu nesta oficina, pois achei que deveria repartir com meu melhor amigo, que foi um dos personagens principais do sonho/pesadelo que tive, o conteúdo deste e o resultado final da oficina.
- Começo da oficina: momento de relaxamento e tentativa de relembrar um sonho com o maior número de detalhes possível. Cada um que conseguiu neste exercício lembrar algum sonho é então convidado a reparti-lo com o resto do grupo.
- Meu sonho: estou numa sala de estar, que sinto como sendo a daqui onde moro, mas com móveis diferentes, várias poltronas e sofás de couro escuro (aparentemente muito caras), chão branco e dois níveis da sala com dois grandes degraus (na largura) que vão de um canto a outro da parede. Lá, estou eu e uma garota e, embora estejamos distantes dentro do espaço da sala (ela na parte superior, eu na parte inferior), nós estamos tendo uma conversa cheia de insinuações, um jogo de sedução, no qual os dois eu e ela, eu sinto no sonho, estamos bastante envolvidos, motivados, interessados, entregues. O sonho corta para um close lateral do rosto da cabeça da garota, quando me aproximo para cochichar algo bem saliente e provocativo para ela. Quando me dou conta, ela é a mulher do meu melhor amigo e o está beijando ao mesmo tempo em que vou tentar falar isso ao seu ouvido. Percebo, então que, desde de o começo, ela era a garota com quem travara todo o jogo de insinuações. Sou tomado por um sentimento de culpa, arrependimento, repulsa, asco e vergonha e me acordo perturbado, sem entender o porquê daquele sonho, posto que  a esposa do meu amigo não faz meu tipo e que nunca suportaria conviver/namorar com ela, pois ela fala demais é muito demandante/mandona e acomodada para o meu gosto.
- Segunda parte da Oficina: assumir o papel de outro personagem do sonho e escrever o que se imagina que ele/ela falaria ou como agiria diante do ocorrido no sonho. Escolhi assumir o papel do meu amigo. Aqui transcrevo o que me veio nesta parte da oficina:
“Esta tentativa de sedução de Mário sobre minha própria mulher foi a gota d’água, o gatilho, o estopim; desencadeia em mim toda a raiva, todo o rancor, toda a mágoa de ter sido explorado e usado por ele a vida toda, da forma mais egoísta e mesquinha possível, de ter que aguentar toda a sua desorganização no quarto em que dormíamos, de ele sempre fazer um monte de merda e mesmo assim continuar ser sempre o centro das atenções, enquanto eu, por mais que me esforçasse e esforce para ser bom e virtuoso, sempre fico em segundo plano. Não aguento, perco o controle e começo a espancá-lo com toda a minha força e fúria. O filho da puta ainda diz para mim; ‘obrigado, irmão, eu sempre precisei e mereci que você fizesse isso comigo. Muito obrigado. Desconte tudo, tudo que tem guardado aí em você.’
Aquilo me deixa perplexo e, mesmo assim, mais puto, pois ele sempre teve consciência do mal que me fez, de toda a exploração, todo o desrespeito e incoveniência. Bato e chuto até só restar um cadáver todo quebrado e desfigurado.”
- Fechamento da Oficina: a psicóloga pergunta como foi assumir esse outro papel e eu respondo que foi algo cartático, aliviante e que senti em mim toda a raiva dele. Ela falou qualquer coisa como cada personagem do sonho ser uma faceta do ego, mas confesso que não prestei muita atenção tão mexido estava com o sonho e com o desdobramento que este tomou quando assumi o papel do meu melhor amigo.
É isso. É muito pessoal, mas eu senti uma necessidade enorme de repartir isso com meu amigo. Ainda não decidi se publico ou mando por e-mail, diretamente para ele. Mas algo sussurra em mim que o blog é o lugar para este texto. Não sei bem o quê, nem o porquê. Como estou sem internet no meu computador, terei tempo para ponderar sobre o assunto, anyway.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ela, vovô morto e bananas (ou ontem, hoje e um pouquinho de amanhã)

(Nota 14/11/11: encontrei o texto que escrevi um dia antes de ser internado no manicômio)

17 de agosto de 2011, ouvindo 4, do Los Hermanos


A melhor parte do dia foi vê-la mais feliz e solta e livre do que jamais vi. Quase sonho, toda poesia, de cabelo preso engraçado, nuca nua, gestos soltos e sorrisos incontidos, francos, maiores que os seus outros sorrisos, indescritivelmente lindos. Um espetáculo mágico do universo, amplificado em esplendor pelo meu sentimento, se desenrolando gratuitamente à minha frente. A vida, às vezes, vale muito a pena. Gostaria de ter memória fotográfica (ou melhor, cinematográfica) e não apagar nunca esses poucos minutos, se minutos foram, das minhas recordações.    

O resto do dia, infelizmente, foi infeliz. De uma tristeza que veio sabe-se lá de onde, sabe-se lá pra quê, que me roubou de mim e me deu vontade de fazer nada. Enfim, chegado em casa, fechei-me na escuridão dos meus sonhos.

Sonhei com meu avô morto. E ele se mexia. Ele estava deformado e seus órgãos estavam na geladeira, dentro de potes de vidro e sacos plásticos. E ele insistia em se mover. Em não morrer. Para meu alívio e desespero. Morto-vivo. Sem palavras, só movimentos lentos de quem não queria abandonar o mundo mesmo tendo passado a sua hora. E a neta caçula dele sempre por perto, o querendo, provavelmente, mais do que eu, seu neto primeiro. Eu, desespero; ela, tranqüilidade. Como se soubesse, ao contrário de mim, que aquilo tudo era apenas um sonho ruim. Tenho tido desses (e lembrado) ultimamente.

Fome. Vou fazer bananas fritas (pela primeira vez na vida). Volto já.

XXXXX

IRRELEVANTÍSSIMO
Fritar as bananas foi mais difícil do que eu pensava pela consistência molenga que as fatias adquirem à medida que vão sendo fritas/cozidas. Virá-las foi muito complicado. Finalmente percebi que a dificuldade vinha menos da minha inépcia e mais do fato de não haver uma escumadeira (espátula?) na cozinha. Houve fatia que não consegui virar. De qualquer forma, fritei as bananas razoavelmente. Nalgumas coloquei os tradicionais açúcar e canela, noutras coloquei Toddy e mel (que é o que coloco quando como bananas cruas). Confesso que a versão tradicional é realmente definitiva, embora o experimento achocolatado tenha sido válido.

Bom, perdi a “virgindade” na produção de bananas fritas. E, tenho certeza, que, como no sexo (não tiro isso da cabeça ultimamente [para o bem ou para o mal]), vou ficando melhor a cada nova tentativa.

Não frite bananas sem ela!


XXXXX

Aviso aos navegantes: vou recair amanhã, ou seja, cheirar cola. Não sei estou colocando isso aqui antes por audácia (porque sei que ninguém vai ler ou o faço como pedido de ajuda (na esperança que alguém leia e me impeça). Amanhã posto as conseqüências.

(Nota 14/11/11: como disse, a conseqüência da recaída foi o meu primeiro internamento no manicômio. Veja impressões do dia da recaída aqui).

domingo, 13 de novembro de 2011

Pesadelo


Este foi um sonho que tive semanas após a morte do meu pai e de uma recaída.

I
Minha irmã arruma as malas para voltar à Europa. Vejo que ela tem um novo iPod (os iPods que minha irmã tem no sonho são idênticos aos que minha mãe possui na vida real). Pergunto a minha irmã se ela vai levar os dois (querendo em verdade saber se ela não me daria um deles). Ela sabe que gosto de música e nunca tive um iPod. A pergunta sai já sabendo que a resposta é não. (Nos sonhos, algumas vezes antevejo/pressinto o que vai acontecer [geralmente coisas ruins].)

A resposta, como esperado, é de que ela levaria, sim, os dois iPods (ou seja, “não, não tem boquinha pra você, não”). Para a minha surpresa, entretanto, ela me lembra (é estranho lembrar o que não se sabe) de um terceiro iPod, mais “feio” e mais velho, que ela havia prometido me dar (este, sim, sem mais nenhuma serventia para ela, pois fora um presente indesejado, de alguém indesejado e, portanto, carregava um valor simbólico negativo para a minha irmã, além de ser obsoleto [a mim me pareceu que fora dado por um ex-namorado que ainda queria namorá-la]).

Fiquei muito feliz com o presente-migalha, pois era um iPod e tinha as mesmas funcionalidades (e, para mim, ao contrário da minha irmã, por ser o modelo velho, era mais bonito que os modernos). Animado, fui tentar colocar nele um CD que gosto muito (não me recordo qual) para poder dar um passeio e assistir o mundo com minha trilha sonora particular.

Infelizmente, descobri que para colocar as músicas no iPod era necessário conexão à internet e não houve jeito de eu me conectar, pois eu não tinha – e, principalmente, ninguém me confiava – a senha. Lembro que cogitei levar o iPod para algum bar ou restaurante que disponibilizasse gratuitamente o serviço.

(Não sei se a internet é necessária para passar músicas para um iPod na vida real, mas no sonho era.)

Emoções despertadas: alternância de frustrações e alegrias, de expectativas e decepções.

II
Enquanto tentava uma solução para o dilema mexendo inutilmente no dispositivo (que agora crescera e assumira as dimensões de um laptop [não sendo mais nem um pouco portátil ou discreto para caminhar ouvindo um som]), vi pela TV a transmissão de um megashow de MPB acontecido em outro estado. Era um show reunindo três medalhões da nossa música: Milton Nascimento e outros dois que tive a sensação de serem Chico e Caetano. Para a minha surpresa, em uma área super VIP da platéia estava meu pai, muito doente (magro, frágil, lento, gagá, alesado [e, a meu ver, por causa da inteligência diminuída/destruída pela doença, muito feliz, puramente e puerilmente feliz, alegre e contente]). Além dele estavam minha tia que é, no mundo real, muito doente (e estava do seu jeito doente de sempre dos últimos tempos), seu marido (irmão do meu pai) e creio que outro(s) tio(s). Uma pequena comitiva familiar, enfim. Era como se os irmãos de papai, sabendo que ele estava para morrer, tivessem organizado tudo para que o show parecesse estar sendo feito especialmente para ele, para dar-lhe uma alegria última, um agrado antes da morte. A “armação”, por assim dizer, era óbvia para mim (que estava são e assistia pela TV), mas não para o meu pai, que, em seu estado de alheamento, achava ser tudo uma questão de sorte, coincidência, bênção divina (em vez de bênção da família, o que ele perceberia como engodo/enganação/trapaça/sacanagem/piada de mal gosto – tudo menos bênção). Papai estava encantado com o fato de os artistas falarem com ele, lhe dedicarem músicas, ou que ele aparecesse em destaque nos telões nalguns trechos da transmissão. (Encantamento este totalmente diferente do que meu pai demonstraria na sua discreta vida real, caso ainda tivesse vida [embora essa contradição no sonho não tenha me causado nenhum estranhamento].)

Emoções: pena.

III
Repentina e inesperadamente, papai volta para casa (onde estou). E, mais incrível ainda, ele continua a se lembrar do show (pois no sonho, a memória recente dele apagava-se de um dia para o outro, todo santo dia, como acontecia com Drew Barrymore no filme 50 Dates With You [que vi recentemente]). Ele chega bastante feliz. A percepção de que a invalidez mental faz bem para a sua alma é irrefutável para mim. É estranho vê-lo tão contente e feliz mesmo estando tão fodido. Mas nem tudo muda e ele fica bravo com a organização dos livros numa estante, um detalhe irrelevante para nós (filhos), que realmente cuidamos dela de forma desleixada para seus rígidos padrões de organização enquanto ele estava fora.

Num misto de culpa e contrariedade, arrumo a estante meio de qualquer jeito, para que meu pai achasse que me importei como ele se importa com aquilo, meio que para enganá-lo, pois eu sabia que, dentro em breve, ele não lembraria/ligaria para a estante. Eu não podia ligar menos para aquela estante. Aliás, minto: me incomodava com ela, pois, de certa forma, a estante estava diferente porque eu havia colocado algumas coisas que queria lá para tê-las mais à mão.

Não foi só meu pai que chegou, mas todo o pessoal de Natal/show. Lembro que, mal eles chegaram, meus irmãos inventaram uma desculpa e saíram para não conviverem com o pai moribundo. Percebo no ar, por parte da família, o sentimento de “nós trazemos o pai para passar os últimos momentos de alegria com os filhos e eles fogem por não conseguirem suportar a dor em prol deste último agrado ao paizinho que tanto precisa”. Sei que esse sentimento se aplica a mim também porque, como meus irmãos, eu quero sair dali e transpareço isso por cada poro.

Emoções: culpa; raiva por, apesar de tudo, papai continuar o mesmo nas irritantes insignificâncias; culpa.

IV
Estamos à mesa de jantar e é constrangedor, doloroso, triste, deprimente, feio. São quatro lugares numa mesa quadrada e pequena. Num deles está meu pai (à minha frente, olhando para mim com um riso feliz, oco de juízo, infantil, permanente, bebê, magro e gagá). Nos demais estão a minha tia doente e Maria, a mulher que me criou, que, por algum injustíssimo e bizarro infortúnio, possui agora apenas cabeça e pescoço, postos em cima da mesa, em frente ao prato muito branco e limpo. Não lembro de conversa ou de comida. Lembro da vontade de tentar dizer alguma coisa, de tornar a situação menos ruim e do nó na garganta de não conseguir, de não saber como fazê-lo.

Emoções: angústia, aversão, culpa, obrigação.

V
Pego o carro da minha mãe escondido e saio (não tenho carteira e não sei dirigir direito). É uma super picape (que acho que nem existe), dessas que passam por todos os terrenos, alta, com rodas enormes, linda, nova, caríssima. É fácil de dirigir por causa de sua marcha automática e pela sensação de que ela passa sem dificuldade e com conforto por qualquer terreno. Isso me agrada. Me agrada também ver as coisas do alto da picape (bem mais alta que os outros carros). (Lembro, porém, que, embora a sensação seja boa, não é fantástica, nem é tão divertida quando parece/parecia).

Apesar de todas as facilidades do veículo, pela minha inexperiência e pelo medo/ansiedade de voltar para casa a tempo de minha mãe não descobrir minha trela, começo a fazer besteiras no trânsito, melo os pneus de barro (rosa e muito) e acabo por colidir na garagem do prédio com uma grande e cara estrutura de vidro, sob os olhares de reprovação de várias pessoas, inclusive funcionários do condomínio. Sem condições emocionais de estacionar o carro e com a merda já feita subo meio que com o pensamento de “depois dou um jeito”. De imediato, penso que preciso estar em casa para adiar a descoberta da cagada.

Emoções: euforia passageira, decepção, culpa, desespero, medo.

VI
Mal chego em casa, a porta toca. É a moça da portaria vindo comunicar o sinistro. Tento conversar com ela em particular no elevador, para dar um jeito, mas minha mãe me segue e tudo é revelado. Minha mãe começa, merecidamente, a me detonar e todos os familiares me reprovam com olhares e bochichos torturantes. Por alguma razão C. também está lá e minha mãe me diz que ele acha até que eu deveria ir para a cadeia pelo que fiz. Fico arrasado com aquele julgamento, mais que com os outros. Para minha surpresa, meu pai entra então no elevador (onde, oniricamente, todas estas pessoas estão). Fraco, magro, lento e com um sorriso alheio de amor incondicional por mim, se ajoelha e abre os braços. É um amor tão grande, tão sincero, puro, pueril, paternal e carinhoso que o meu por ele parece menor. Num misto de culpa (por achar que ele só está me abraçando daquela forma porque está doente/senil) e de alívio, de saudade e de amor eu me abraço muito apertado com ele. Eu quero muito chorar. Eu me sinto obrigado a chorar. Os músculos da minha cara se contraem meio que por obrigação, meio porque espontaneamente minha alma chora. Preciso que se contraiam. Por mim, pela dor que precisa vazar. Enfim, as tão sonhadas lágrimas vêm, porém poucas, num choro insuficiente, menor do que tudo o que eu precisava chorar ou do que a platéia esperava que eu chorasse.

Nesse momento C. aponta para mim e diz veemente, como se proferisse o veredicto definitivo, máximo e inquestionável: “Ele está mentindo! Ele está mentindo.” Fala como se no meu abraço só houvesse a parte obrigação, como se não houvesse amor nem calor ao apertar o corpo morno e magro do meu pai com muita força para perto do meu.

“Ele está mentindo.”

Acordei.

Emoções: culpa incrivelmente torturante, carinho muito profundo por meu pai.