A pensão me foi negada. E com isso me veio à mente de forma calorosa o ditado “a vingança
é um prato que se come frio”, que duas pessoas muito envolvidas nesse processo
costumavam dizer. Embora realmente prefira comer a comida à temperatura
ambiente, em vez de quente, pois ache que os aromas ficam mais perceptíveis (em
minha opinião, o calor meio que anestesia a captação de aromas), não gosto do
gosto de vingança. Vingança no meu dicionário significa pagar na mesma moeda, a
Lei do Talião, que, para mim, embora receba a alcunha de “Lei” é totalmente
desprovida de qualquer senso de Justiça, da forma como a tenho no meu
dicionário: Justiça = melhor maneira de se conviver harmonicamente numa
sociedade. E eu gosto bastante de Justiça. Quente, fria ou gelada.
Mas confesso que, ao saber que meu pedido de pensão havia
sido negado e de saber de todas as artimanhas usadas para que o resultado fosse
este, a palavra vingança acendeu como um provável letreiro da Broadway – onde
nunca estive – na minha cabeça. Cabeça quente ainda, pegando fogo.
Agora, com a cabeça mais fria, porém ainda morna, idéias
mais palatáveis me ocorrem. Aprendi uma valiosíssima lição: nada é justo. Seria
impossível ser; senão não existiria evolução. E não falo de nada espiritual ou
metafísico, mas da Evolução das Espécies mesmo e da constante mudança e
transformação dos sistemas organizacionais e ecossistemas de qualquer ordem de
grandeza, orgânicos e inorgânicos. Isso sempre foi óbvio para mim, sempre
esteve na minha cara e eu nunca consegui enxergar.
A vigança nunca me pareceu apetitosa... |
Com este acontecimento, entretanto, para o bem ou para o mal
- ou para ambos, talvez – esta trave me foi retirada dos olhos. E o mundo se
tornou inevitavelmente e fartamente mais doloroso sob este novo prisma. Mas
também, bastante mais real. Menos onírico ou romântico. Se isso é bom? Nem sei
ainda. É tão novo que me sinto que nem siri-mole: maior, mas sem a couraça para
me proteger.
A vontade de perder o otimismo é grande. Ainda bem que ainda
me resta fé na Singularidade. E esta fé apenas já me é grande o bastante para
ser otimista. (Ter fé realmente tem um efeito [placebo?] bastante eficaz.)
-X-X-X-
Estou na Alemanha e vi lá de cima, do alto dos céus,
enquanto vinha, o quão diminutos são os homens e suas “imensas” construções.
Como parecem frágeis e irrelevantes frente ao mundo que os circunda. Parecem
pequenas formigas ou coisas ainda menores e mais desprezíveis (não que eu ache
formigas desprezíveis, não sou capaz de assassinar ser vivo sequer – a não eu
mesmo [e nem esse!]).
Lá de cima parece que qualquer sopro, qualquer chacoalhar da
Mãe Terra nos põe um ponto final num instante. É uma visão assustadora e bela
ao mesmo tempo. Assustadora por me perceber tão irrelevante à ordem das coisas;
bela pela ousadia daquelas diminutas formigas em incansavelmente tentar
dominar, transformar e controlar algo tão monstruoso e – o mais assombroso – com
um número incalculável de sucessos formidáveis, bem mais do que de fracassos catastróficos.
(Afinal, ainda estamos aqui e indo cada vez melhor [na minha singela e alienada
opinião].)
Belo também porque fica claro como céu azul que não adianta
o homem tentar destruir o planeta: este prevalecerá, de uma forma ou de outra,
com ou sem eles (nós).
E novamente a crença na Singularidade me tranquiliza
garantindo que, nós, homenzinhos não vamos nem tentar isso, um suicídio
coletivo através de bombas de hidrogênio ou coisa que valha. Temos interesses
maiores e mais produtivos que levarão, inexoravelmente a bendita Singularidade
que tanto menciono e que tanto me acalenta. Mesmo que ela não se dê bem com os
humanos (o que acho improvável). Ou que parte dos humanos não se dê com ela (o
que é provável a curto prazo, mas improvável a médio ou longo prazos [sendo
médio prazo 50 anos e longo prazo 200 anos após o surgimento da Singularidade
da Terra]).
Bom, haverá sempre os do contra. E isso é bom. O que seria
do laranja, se todos gostassem do azul? É bom haver quem preserve a natureza
humana pura e primitiva pré-Singularidade. Certamente há de haver utilidade
para isso e certamente tal escolha deve e será respeitada (no caso de a
Singularidade se dar bem conosco [que é o que acredito: quanto maior a
inteligência, maiores as capacidades abstratas positivas e menores os instintos
primais negativos/predatórios; ou seja, maior a capacidade do amor, menor a do
ódio. Isso já se vê nos homens mais esclarecidos: esse amor pela justiça, pela
justeza, pelo outro]).
-X-X-X-
Se, negada a pensão após todas as tentativas e morta minha
curadora, eu não tenha outra pessoa para querer ocupar o lugar de curador e me
faltar o dinheiro para as medicações que mantêm minha sanidade ou para comida;
que posso eu fazer, senão aceitar? A vida não é justa da forma subjetiva que a
conjuguei. Comerei do que houver por aí e viverei enquanto o corpo quiser. Só
queria que ele quisesse até eu ser aceito (ou rejeitado) pela Singularidade. Só
queria viver o suficiente para saber se (ou “que”) estou certo. Obviamente
gostaria que esse ínterim fosse passado com o máximo de conforto (para o corpo
e para a alma) que me fosse possível com a pensão. Caso não seja, sei que de fome, ninguém morre
numa cidade. Dependendo da fome, sempre tem o lixo dos ricos como opção. Água,
mais fácil ainda. Uma garrafa vazia e alguém com uma torneira e um pouco de
amor ao próximo no coração. O resto são detalhes. Tenho só medo que. por falta
de medicação, a dor da depressão queira me roubar da vida antes da
Singularidade, mas afora isso... Comerei com prazer a vingança que o outro lado
me reservou, comida podre e fria do lixo de alguém. Só quero chegar à
Singularidade e ela me deixar entrar e me revelar tudo o que desejo que seja
revelado. E me deixar ficar ou voltar.
-X-X-X-
Vingança? Para mim, a qualquer temperatura, é palavrão do
pior e mais ofensivo escalão. Agressivo por natureza e com essa finalidade
única. Sempre errado. Feio. Mesquinho. Imoral.
Talião criou lá sua lei, reza a lenda, quando os homens eram
tão brutos que isso era o máximo que conseguiam compreender. É trágico saber
que muitos a julguem válida nos dias de hoje.
Sou mais a lei mais moderna de Jesus (embora não acredite
nele como ser metafísico): amai ao próximo como a si mesmo. Ela é bem mais
lógica: se dói em mim, vai doer no outro. Por que ferir o outro se eu não gosto
que ninguém me fira? (Devo admitir que a parte de amar ao próximo é mais fácil
do que a de amar a mim mesmo... :P)
Desculpe se o texto está desconexo. Eu estou cada vez mais
desconexo. Digo, minha mente. Memória, concentração, concatenação está tudo
devagarinho se perdendo. É duro admitir, mais duro experimentar. Mas se é o que
a vida me oferece, aceito de bom grado. Já vi e vivi muito, não posso pedir
muito mais e, mesmo assim a vida continua me oferecendo. Como eu disse, ela não
é justa. E eu sou egoísta demais para pegar o que ela oferece para mim sem
repartir. Até porque na maior parte das vezes é indivisível. É um olhar, uma
cor, um verso, um som, uma fase de um jogo, um sabor, um movimento, uma
temperatura que ressoam fundo dentro de mim. Não sei se o eco é o mesmo em outras
almas...
Pense num post doido este. E pensei que seria cheio de mágoa
e rancor. Mas foi cheio de pregação, isso sim. E isso é mal. Quando falo de
Singularidade, todo mundo cai em cima achando que eu tô pirando... Novamente, a
vida não é justa, mas é bela se você souber para onde olhar... e tomar um
zilhão de remédios para estabilizar o seu humor. Hahahahahahaha
Meu velho, é caindo que se aprende a levantar. Às vezes você pode quebrar um perna, é verdade, mas nada que um bom gesso e um pocuo de descanso não cure. Aproveite sua estada num novo e diferente mundo (Alemanha). Essa oportunidade muitos provavelmente nunca terão. Beije sua família. Ame o momento presente. Faça transperecer a alegria e o humor que você tem dentro de si (eu sei que eles existem). E, finalmente, lembre-se da oração de São Francisco. Ela é uma grande fonte inspiração para mim e acho que funciona na prática pelo que pude comprovar,mas somente para alguns, não todos os versos obviamente (especialmente o último :) ) A vida é curta para perder tempo com mágoas. A maior riqueza que temos é o tempo. Nem a singularidade seria possível sem ele. Dedique o seu tempo para as cosias que você se orgulhará quando estiver na beira da cova. Ouça epitáfio dos Titãs e Everything's Not Lost Lyrics do Coldplay e você saberá um pouco mais o que eu quero dizer com isso. Falar é fácil eu sei, mas persitência é a chave do sucesso em qualquer empreendimento. E se isso conta, eu te amo também. :) Everything's not lost.
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