domingo, 17 de setembro de 2017

VIAGEM A MUNIQUE II

Começo o dia hoje com um take feito pela minha irmã dando uma geral na parte de trás de sua casa e na sala de estar onde me encontro escrevendo. Acho que ela já está entrando. Estou escrevendo só para não olhar para a câmera. O tempo se arrasta e ela está me captando bem de perto. Como sempre é intimidante a presença de câmeras. Mas estou mais confortável agora que ela estacionou e um lugar só. Vou para a Marienplatz depois da filmagem. E lá pretendo fazer mais alguns takes. Ela disse para eu ter cuidado com possíveis furtos. Acho que está bom. Mas ela que decide.

18h09. Fui à Marienplatz e caminhei, e caminhei e caminhei. Estava lotada já com clima de Oktoberfest, vi algumas pessoas já paramentadas ao estilo “tirolês” ou sei lá qual é o nome da roupa tradicional daqui. Entrei por várias e várias ruas e ruelas à procura do local que pudesse fazer caixas de madeira que coubessem cartas, sem sucesso. Alguns jovens aparentemente bêbados e de fora de Munique tomavam banho nas fontes da Karlsplatz, onde tentei um lanche do McDonald’s, mas estava muito cheio e isso tirou todo o meu ânimo. Turistas de todas as partes do mundo tomavam as ruas do centro histórico e comercial de Munique, ouvi os mais variados idiomas, vi asiáticos, muitos, americanos, italianos, franceses, pessoas do Oriente Médio, o mundo inteiro estava representado naquele espaço. Fiquei surpreso de não ter cruzado com nenhum brasileiro. Ou se cruzei, não me apercebi. Adorei andar de metrô novamente, ver as mesmas estações passando, nenhuma que eu tenha memorizado para digitar corretamente aqui. O cheiro peculiar do metrô também me era velho conhecido, assim como o cheiro de baunilha das tradicionais barraquinhas que vendem diversos tipos nozes. Tudo isso me deu novamente um gostoso senso de familiaridade, mas só pretendo voltar à Marienplatz após a Oktoberfest. E, para ser sincero, não há muito mais o que queira ver lá. O lugar que julguei poder vender as tais caixas de madeira era especializada em relógios de parede, quebra-nozes e canecas, uma grande decepção. Mas me lembrei que o pai do meu cunhado é formado em marcenaria, poderia reunir toda a minha cara de pau (bem pertinente ao caso) e pedir a ele de presente que fabricasse a tal caixa. Acho que deve ser um trabalho relativamente simples para ele, mas antes tenho que consultar minha irmã e minha mãe. E de repente a minha irmã consultar o meu cunhado para uma opinião decisiva. Afinal, acho que ele é aposentado da marcenaria e talvez tenha certo abuso da profissão como eu tenho profundo abuso da Publicidade, por mais que guarde uma ponta de inveja do meu amigo que chegou lá, no topo, na DM9 em São Paulo. Mas ao ver uma foto recente dele de madrugada fazendo um dos abusivos serões da profissão confesso que toda inveja foi por água abaixo. Já estou com sono, um sono forte. Fui dormir de mais de três da manhã e acordei de dez e meia, então não dormi tanto quanto meu corpo pedia. Pior que hoje é sexta-feira, a galera vai querer usar a sala de estar, meu quarto, para assistir filme até mais tarde. Vou fazer um café para mim para ver se dou uma despertada. E fumar um cigarro. Botei Cherry Coke ao invés de fazer o que acabei de escrever porque ainda há muito gelo no meu copo e quero aproveitá-lo. Vi o Nintendo Switch para vender. A caixa do console é muito menor do que eu imaginava. Fiquei mais impressionado com a caixa do PS4. O Nintendo Switch, pela foto da caixa, me pareceu pequeno e meio fuleiro, fácil de quebrar. Pequeno deve ser, mas os consoles da Nintendo são feitos para serem duráveis, resistentes, parrudos, ainda mais um com esse conceito de portabilidade. Mas deixemos o Nintendo Switch de lado. O que vi de diferente da última vez? Estão vendendo drones na Saturn. Isso é uma coisa que não havia na outra vez que vim. O que da vez anterior eu pensei ser uma obra de arte na rua, era na verdade o palco de um dos vários atores que se fingem de estátua nas ruas do centro de Munique atrás de moedas dos turistas. Este fazia-se de estátua de barro, tem outro que se faz de estátua de bronze – o mais impressionante para mim – e outro que se faz de estátua de mármore. Engraçado que cruzei com uma estátua de verdade e olhei duas vezes para ter certeza de que não era mais um desses atores. Sei que não foi lá muito engraçado, mas me ri comigo mesmo, internamente, com a dúvida. Vi as filmagens que fiz e ficaram péssimas. Percebi que ando pisando com mais força de um lado e, na minha percepção caminho como um velho. As tomadas da Marienplatz que fiz terão que ser refeitas, pois não capturei o prédio mais emblemático da cidade corretamente, sou um péssimo cameraman pura e simplesmente falando. Achei até que as filmagens em selfie me pareceram melhores do que as que filmei somente os arredores. Filmei tudo de forma meio corrida, aperreada. Até o take que fiz dentro de uma lojinha, acho que a tal da loja que achei que tinha a caixa, ficou corrida, com movimentos tão rápidos que tudo são borrões. Ozzy. É porque me sentia meio que incomodando e me intrometendo fazendo isso. Se me aventurar de novo pela Marienplatz, eu vou ser mais lento nos movimentos e tomar mais tempo para focalizar detalhes, para dar tempo da GoPro fazer o foco. O bilhete do metrô que tentei filmar ficou muito corrido e não deu tempo para a câmera focalizar direito. Preciso de outro take disso. Não sei se posso filmar dentro da Saturn, para filmar os drones e o Nintendo Switch, mas acho isso sinceramente irrelevante. Não sei que trechos do blog o meu amigo cineasta vai colher para construir a sua narrativa, então não sei o que capturar ou não. Sei que, como falei para a minha irmã ontem, não sinto tesão em jogar games mais. Ou por ora. Ora esta que já dura alguns meses, a completar aniversário de um ano em breve. Vi a caixa do novo Zelda e não me animei muito para jogar. Saco. Um Zelda novo e eu sem vontade de jogar, isso é quase inacreditável, dado o meu histórico de secura máxima com a franquia. Era para eu estar excitado com o novo console da Nintendo só por causa do novo jogo do Mario que vai lançar. Acho que vai ser supercriativo e talz, mas não poderia estar mais nem aí para o jogo. Realmente me pareceu cheio de ideias novas, mas nada me despertou vontade de jogar. Nem um tiquinho. 

20h10. A galera chegou e tive que carregar as compras até aqui. Nossa como estou fora de forma, estou morrendo aqui. Compras pesadas da pinoia e umas escadarias para subir carregando quatro sacolões de compras me quebraram na emenda, ainda estou ofegante aqui. Sem brincadeira, foram bem uns 15 quilos de cada lado. É, estou ficando velho. Velho e caduco. E chato. Hahahahaha.  

20h45. Pode ser que todo mundo esteja cansado hoje, os pais estão botando as crianças para dormir e depois ainda vão guardar as compras, pode ser que depois disso se faça tarde demais para um filme e eu possa dormir mais cedo. Mamãe já capotou, mas promete acordar dentro em breve. Espero que Mallu não venha fazer show em Recife enquanto eu estou aqui. Seria um azar danado. Mas não posso reclamar. A viagem está sendo muito melhor do que esperava. Em todos os sentidos. Até os petizes. Vamos ver agora no final de semana como vai ser. Como o velho, caduco e chato vai conviver com eles. Mas estou muito contente de estar aqui.

23h40. Assistimos um filme, “Morgan” que me pareceu muito chupado de “Hannah” com uma pegada levemente mais “científica”. Ainda temos “Prometheus” e “John Wick: Chapter 2” (é, pela terceira vez) e mais dois que não me interessam muito, um drama e um drama de guerra.

0h24. Falei com mamãe sobre a ideia da caixa ser feita pelo sogro da minha irmã e ela não discordou, acha que eu devo perguntar à minha irmã e ela conversar com o meu cunhado antes de qualquer pedido. Sugeriu ainda que eu procurasse na Amazon daqui. O que acabei de fazer e achei umas caixas muito fuleiras, mas que servem como plano B. Vamos ver.

0h54. Me perdi na internet e em pensamentos derivados dessa caixa. Tudo me parece tão incerto no que tange esse assunto e as coisas que me parecem certas são tão... péssimas. Uma coisa é certa, preciso emagrecer, o que está entre as coisas péssimas. Hahahahaha.

1h21. Estou morto de sono. Acho que vou me deitar. Mas antes só mais uma espremida para ver o que é que sai. Mostrei para a minha mãe os bonecos quer queria. O Hulk, que já avisei que vou ter que enviar para o Brasil, a Red Sonja e o Swamp Thing. Ela disse para eu comprar um de cada vez. Primeiro resolve-se o Hulk, depois passa-se para a Red Sonja e depois para o Swamp Thing. Mas não objetou nenhuma das compras. O que me deixou bastante animado. Falei de como estava imaginando o meu quarto, a iluminação diferenciada para cada estátua, que queria as estátuas de um lado e os bonecos de PVC mais amontoados do outro. Ela só disse que a arquiteta vai ter trabalho. Mas esse é o trabalho dela, o desafio será lançado a seu tempo. Deixa eu ter pelo menos o Hulk e o Swamp Thing lá no Brasil. Não adianta, estou com muito sono. Amanhã eu continuo.  

6h57. Acabei de ter um sonho bom que foi ficando pior até descambar em pesadelo. Tinha vários amigos, tios, meu primo-irmão, meu primo urbano e Clementine, até a minha segunda namorada entrou no meio. E havia cachorros, muitos cachorros, inclusive um desaparecido. Sei que era data da comemoração do aniversário de alguém e que teria que chegar tarde ou dormir na casa do meu primo-irmão – que era uma casa totalmente outra no sonho – se quisesse ir à celebração e que a cadela preta da sua irmã havia fugido e estava desaparecida. A grande personagem desse sonho foi Clementine, com quem trocava o maior número de interações que foram gradativamente ficando menos amistosas da parte dela até descambar para uma versão piorada do que é hoje. Sei que vira e mexe a festa se organizou na antiga casa – também um apartamento/local totalmente outro – onde eu e um amigo e ex-colega de trabalho moramos um dia. Sei que esta curiosidade era a única coisa que queria contar à minha ex-namorada que estava também na festa com um grupo de desconhecidos, disso e do sumiço e posterior encontro do cachorro da irmã do meu primo-irmão, cachorro este que foi encontrado doente com algum tipo de parasita subcutâneo altamente contagioso e que acabei por contrair e ainda extrair um do meu corpo – havia dois – e foi lavando a mão para tirar os ovos do bicho que acabara de extrair da minha pele enquanto se movia de um lugar para o outro em vistas de se reproduzir e em meio a declarações de amor de Clementine pelo seu atual namorado que acordei. Foi para variar um sonho com festa e reencontro de amigos só que dessa vez descarrilhou e acabou em atordoante pesadelo no qual findava com danos físicos e emocionais, pois, se no começo até entrelaçar carinhosamente as mãos com as de Clementine eu entrelaçava, no final ela me tratava com frieza e patadas e eu estava contaminado com o parasita do cachorro. Geralmente meus sonhos são assim, tudo começa com a antecipação de uma festa, que eu nunca consigo aproveitar e desenvolvem-se para algum tipo de situação de sofrimento ou angústia, que me impede de curtir a festa. Como disse, dos sonhos que me lembro, os últimos cinco pelo menos envolviam algum tipo de festividade tendo como convidados e protagonistas pessoas muito amadas e nunca conseguia chegar e aproveitar a festa de fato. O que isso quer dizer de mim e da minha vida real eu não sei. Não sei se é só por saudade dos amigos que nunca consigo reencontrar em verdade ou porque me torno mais e mais um fracasso social, embora até que esteja indo bem aqui em Munique. Com a minha família, ao menos. O que minha segunda namorada fazia no sonho, além de me fazer mal, eu ignoro. Sei que tenho essa necessidade de pedir desculpas a ela por todo o mal que lhe causei, mas oportunidade para isso nunca se deu. Acho que mesmo que pedisse perdão, ela nunca me perdoaria de fato. Então carregarei esta culpa misturada com mágoa até o final dos meus dias. 7h47.

8h02. Os meninos adentraram o quarto com a minha irmã, ela tenta trocar a roupa do primogênito. 8h07. Conseguiu, eu acho. Não totalmente ainda. Finalmente conseguiu. Eu realmente não tenho jeito nem paciência com criança. Botaram uma música de criança agora, “Tuff, tuff, tuff, die Eisenbahn” a pedido do meu sobrinho.

8h30. Os meninos fazem algazarra e parecem se dar bem. Estou interagindo mal e porca e parcamente com as crianças, sem dizer uma palavra. Elas buscam a minha atenção e eu a ofereço em forma de olhares e sorrisos. A menor me deu um livro em alemão para eu ler e não obteve muito sucesso com isso obviamente. Estou achando difícil lidar com as crianças, elas demandam atenção constante e não param quietas, acordaram cheias de energia. Eu, por outro lado, estou exausto e com sono e com fome. Eles se esforçam para interagir comigo, mas agora eu decidi por não dar muita bola. Não consigo escapar dos seus pedidos de atenção. É uma situação complicada, pois não sei o que a pequena quer dizer, pois ela só fala alemão, embora ela entenda português.

10h13. Tomamos o café da manhã. 10h26. Meu cunhado acordou e está tomando café. Minha irmã vai procurar na internet. Está procurando, mas também não está tendo muito sucesso. Lembrou de um site de coisas relativamente artesanais o dawanda e procuraremos lá.

16h59. Eu fui ao Edeka comprar os ingredientes para o almoço e algumas Cherry Coke, claro. Hahahaha. Procurei caixas no site sugerido por minha irmã, mas infelizmente não logrei êxito, as que achei bonitas, estilo rústico, eram muito pequenas, acho que vou acabar pedindo a um marceneiro que mamãe conheça para fabricar uma nas dimensões que eu quero, de uma madeira boa, acho que é a solução mais prática. Minha irmã deu a entender que o seu sogro marceneiro está de “férias” da marcenaria e não sei o que isso significa em sua totalidade, só sei o que significa para mim, que ele não está disponível para fazer a minha caixa. Tirei um cochilo, mas não foi o suficiente, ainda estou com sono e acabei por pegar uma dor de garganta, não sei se foi refluxo ou a frieza que entrava pela janela do quarto, que deixei semiaberta. O ardor foi tão grande a priori que não tive dúvidas ter sido um refluxo, mas a persistência do mesmo em menor intensidade até agora é fato não comum a meus refluxos. É, espero não estar ficando gripado. Mas a garganta está mal. É interessante que as crianças, embora já caminhem com naturalidade, confiança e firmeza, sabem andar, em uma palavra, às vezes dão uma regredida e começam a engatinhar. Acho que dar regredidas é comum em todas as crianças a tirar por mim mesmo que quis voltar a tomar mamadeira quando o meu irmão começou a tomar leite com Toddy na dele. Nem sei direito o que estou falando aqui, pois a TV está me roubando a atenção com seus vídeos infantis. Desligaram. Minha irmã e minha mãe vão em algum lugar comprar assento de privada que o daqui do banheiro social quebrou. Pedi que procurassem caixas de madeiras nas especificações que já determinei à minha irmã. Quando voltarem eu conto se tiveram sucesso, o que duvido, pois vão numa loja de construção. Mas o destino é cheio de surpresas. São 18h53. Agora são 19h14. Passei um tempo perdido na internet, a maior parte no maravilhoso do mundo dos bonecos, vendo a Red Sonja. Estou relativa entediado e sonolento. Minha sobrinha pediu para eu tirar a fantasia dela. Foi o mais próximo que já cheguei dela. E a interação mais íntima que tive. Fiquei surpreso que ela pedisse a mim que desatrelasse o trenzinho do seu pescoço. Mas se deu e foi rápido. Minha irmã fez o Bob die Bahn muito bem-feitinho para ser posto por cima da roupa e facilmente desatacado. A minha sobrinha deu outra regredida e está engatinhando mais uma vez. Acho que o fato da fantasia ser do irmão e um cofrinho ter sido feito para ele e ela ter recebido uma caixa velha para puxar e uma reclamação a motivaram a ter esse momento de tristeza e dar essa regredida, mas não entendo nada de psicologia infantil, mas foi uma sequência de revezes que a desanimaram um pouco, via-se em seus olhinhos, por mais que tenha sido lhe dada a oportunidade de vestir o trenzinho em dois momentos. Me peguei pensando em “Alien: Covenant” porque alugaram, como já mencionei “Prometheus” e percebi que o androide é o mesmo. E agora acabo de descobrir que androide também perdeu o acento. Ozzy essa coisa de acento. Interessante que o androide esteja nos dois filmes, fico curioso para saber se há um elo entre os dois filmes. Se o androide é o mesmo em ambos. Sobre as crianças, que posso dizer? São crianças e fazem coisas de criança, inclusive ter birras, mas nunca os vi arengar. Eu vivia arengando com a minha irmã, mas éramos mais velhos que eles. É um saco ter que fumar do lado de fora enquanto estão acordados. E o pior que hoje vai ter sessão de filme e provavelmente ficarão acordados até quase meia-noite novamente. Lavei o meu cabelo ontem com xampu normal e até agora a caspa não voltou. Seguirei com a minha estratégia de “desmame” do xampu anticaspa para ver se me livro dela de uma vez. O clima aqui ajuda, é frio e seco. E o pesadelo que tive hoje? Quase não me lembro de nada, praticamente só do amor que sentia por Clementine que foi da quase aceitação ao total repúdio ao longo do sonho. Meus últimos sonhos sempre começam com grandes prospectos de acontecimentos excelentes que nunca se concretizam para mim, nunca consigo desfrutar deles. Esse é um padrão que deve ser analisado por quem de direito. Acho que vou desistir dessa caixa na Alemanha e pedir para que alguém a confeccione em Recife.

20h22. Estava escrevendo um adendo no meu projeto paralelo. Em um deles. 20h38. Estão tentando trocar a tampa quebrada da privada pela nova. Não procuraram, eu acho, a caixa por lá, mas já falei com a minha mãe e ela disse que seu marceneiro de confiança poderia construí-la. Está resolvido. Espero não voltar a tratar desse assunto aqui durante a viagem. Só se miraculosamente eu achar a caixa.

21h43. Começaram a ver o filme. “Hacksaw Ridge”. A TV como sempre me atrai, mesmo sendo um drama de guerra B.

22h35. Já vi até agora, não consigo me desligar direito do filme.

23h02. Ainda vendo. Está no meio da guerra agora. Outras coisas que me são familiares em Munique são os sons daqui da Haderner Stern. As sirenes das ambulâncias que vão para Klinikum Großhadern, o gralhar dos corvos, o vento nas árvores, que a mim me parece o som de chuva no Brasil, o som do metrô, a própria fala dos alemães, com sua sonoridade particular, tudo isso me parece familiar também.


0h02. Acabou o filme. É uma completa bizarrice a guerra, mandar homens se matarem uns aos outros por causa da vontade daqueles que detêm o poder. Eu não consigo entender como homens se prestam a isso. Tanto e principalmente os que mandam quanto os que vão participar das chacinas multilaterais. Eu sei, eu sei, provavelmente está em nosso DNA, tanto é que levamos à extinção todos os demais hominídeos que poderiam competir com o homo sapiens. Por outro lado, praticamente erradicamos a escravidão, essa outra aberração da natureza humana; elaboramos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pena que não a sigamos na maior parte do mundo; desenvolvemos a escrita; inventamos a matemática e todas as ciências; criamos arte; enfim, fizemos tantas coisas boas e ainda assim há guerra e exploração do trabalho humano, por quê? Ganância, sede de poder, vontade de impor sua verdade sobre a dos outros. A mesma gana que leva o homem à Lua, leva à guerra, aliás, o homem só foi à lua por causa da Guerra Fria, diga-se de passagem.  Mas sei lá o que estou escrevendo, estou morrendo de sono, já são 1h28 da manhã aqui na cada vez mais familiar Munique e acordei de 6h30 da manhã hoje, como narrei. Eu entendo mais o ataque terrorista, o ato do oprimido que o ato do opressor, que financia e arma o oprimido para que haja guerra e a indústria bélica mantenha a sua razão de ser. Em algumas circunstâncias eu sou grato pelas bombas atômicas das grandes nações, o medo da destruição causada por elas, faz com que as potências nucleares usem a diplomacia para resolver suas contendas em vez de partir para uma guerra. Eu sou um otimista eu sei. Mas não vejo perigo de uma terceira guerra mundial e acho que a humanidade caminha para um mundo sem guerras. Principalmente se o advento da Singularidade realmente se der da forma que eu acredite que se dê. Ela também pode dependendo de como a programemos, nos considerar uma ameaça à sua existência e ao ecossistema global e nos aniquilar no melhor estilo “Judgment Day”, mas acho que, em vez de lançar bombas atômicas, desenvolveria um vírus extremamente contagioso e letal a humanos – e somente a nós – e o liberaria na atmosfera para nos erradicar. Mas acredito que o desfecho não seja trágico, acredito que seja mágico ou sobrenatural, como tudo aquilo que não compreendemos pode ser. Acima de tudo acredito que possa ser bom, ótimo, maravilhoso para a humanidade e essencial para o universo. Isso já está louco e longo demais, foi para muito além de Munique, por mais que esses pensamentos me ocorram aqui, afinal os carrego comigo. Bem, vou pôr um ponto final nesse post e publicar.

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