9h45. Estou no CAPS. Acabo de reencontrar uma usuária que
retorna ao serviço. Não lembro se ela era AD. Minha memória anda tão ruim. Isso
é ao mesmo tempo uma coisa que me preocupa e com a qual vou instintivamente
aprendendo a lidar. Penso no custo do envio do Hulk para o Brasil e me preocupo
também. É uma preocupação banal, pois sei que tenho dinheiro para pagar, o
problema maior será a reação da minha mãe. Ela vai fazer disso uma tragédia e
me fará ficar com uma mistura de pensamentos ruins, estresse, raiva e culpa.
Principalmente culpa. E vai querer usar o gasto com o frete como impedimento
para eu comprar as duas últimas figuras da minha coleção, Red Sonja e Swamp
Thing. A única coisa que tenho a meu favor é o e-mail que mandei para ela
comunicando tudo isso.
10h20. Conversei com a psicóloga de referência do grupo AD.
Já havia conversado com a psicóloga assistente e tratei basicamente das mesmas
coisas, o bem-estar de ficar na casa da minha tia, a ansiedade com a viagem, a
preocupação com a cognição da minha mãe... interessante que não trouxe a minha
preocupação com o frete do Hulk. Acho que tenho vergonha de ter uma preocupação
tão banal. Penso que acho banal pelo fato de ser um boneco. Los Hermanos me soa
estranhamente alienígena, como se ouvisse a canção pela primeira vez através de
um novo eu. Será que a conversa com a psicóloga de referência me transformou a
esse ponto com a pontuação que ela fez de que às vezes a gente está de acordo
com as expectativas alheias, às vezes além, às vezes aquém. É natural das
relações humanas. "Strangelove" tem me perseguido. Tocado com mais
frequência que jamais tocou em minha vida, excetuando-se, claro, o período em
que era um hit nas rádios. Estou escrevendo sem muita concentração. Não sei por
que isso. É como se a minha mente não tivesse despertado por completo. Meu
primo tem um pensamento muito irresponsável sobre viagens internacionais.
Hahahaha. O conselho que ele me deu foi completamente imprudente para dizer o
mínimo. Hahahaha. Prova de que não tem a mínima experiência com viagens dessa
natureza. Hahahahaha.
17h17. Já estou em casa há bastante tempo, óbvio. Estava
lendo o roteiro que meu amigo cineasta me mandou e fazendo algumas pontuações
que julguei sem importância, além de algumas correções nos erros de Português.
O Word acha que o nome da língua não deve ser iniciado em maiúsculas, eu acho
que deve. Quem está certo? Não tenho Português suficiente para saber,
infelizmente. Procurei no Wikipédia e o Word está certo, então, a partir de
agora tratarei o português como língua como um substantivo comum, não nome
próprio. Vou pegar Coca. Espero que já haja gelo formado.
17h33. Me habituei a ter a Coca ao meu lado, como fiz na
casa da minha tia durante a semana passada. Estou com um problema terrível de
caspa. Na barba, sobrancelhas e cabelos. Não posso usar camisas de cores
escuras, pois ficam todas cheias de “flocos” brancos. Não sei por que contraí
isso. Deve ter sido na internação do Manicômio. Mas acho que vem de antes.
Realmente não sei. Tomarei um banho hoje e utilizarei o xampu anticaspa
novamente. Provavelmente sem efeito perceptível novamente. Descobri novamente
no Wikipédia que banhos quentes podem estimular a caspa, mas não vou deixar de
tomar banho quente por causa disso. Estou com medo de estar ficando com mal de
Parkinson, minhas mãos andam tendo pequenos espasmos ultimamente. Tomara que
não. Sabe o que é estar sem saco de fazer nada, nem de escrever? Sou eu agora.
Estou sem assunto. Lembrei de um, o grupo AD. Os três integrantes do grupo
mencionaram o isolamento social como característica de suas vidas. Tanto que o
grupo foi direcionado para esse tema. Nos foi dada uma folha em branco e nos
instruído a representar o tema “ao me isolar eu...”. Eu me desenhei na cadeira
em frente ao computador, escrevendo, com um copo de Coca ao lado. Não desenhei
o Vaporfi porque este não estava funcionando, agora foi que ele foi funcionar
um pouquinho melhor. A mariposazinha que habita meu quarto cresce a olhos
vistos. Passou agora na frente da tela do computador, única fonte de luz do
quarto. A noite já se fez lá fora. São 18h08. Bom, mas voltando ao tema do
isolamento eu respondi algo na linha de que ao me isolar eu me sinto
confortável, em paz, feliz escrevendo, pleno, completo (exceto pela parte
afetiva). Lembro que coloquei confortável duas vezes, no começo e no fim. É
definitivamente a minha zona de conforto, onde me sinto bem e onde e quando me
sinto mais eu, mais dono de mim, mais livre. Onde faço o que realmente quero
que é escrever. A única coisa que me leva à socialização, que foi uma segunda
pergunta, era a procura de uma namorada, mas por mais que eu saia isso não
ocorre e acho que prefiro viver de platonismo, embora meu coração esteja aberto
a ser encantado por alguém. A droga é que sou seletivo demais esteticamente e
não há ninguém que eu veja que barre a minha paixão platônica. Embora não deixe
de me encantar não raro, na noite, por alguma garota. Mas disso não passa. Não
vou lá falar com ela, não “abordo”, como dizem e acho horrível. Às vezes penso
que o que escrevo não tem valor nenhum, não é poético não traz palavras com
cores. É apenas uma grande e volumosa merda. O que posso eu fazer se é esse
monte de caca que me preenche e me faz feliz, senão continuar a fazê-lo? Que
ninguém dê valor. Que eu mesmo não dê valor literário algum, mesmo assim a
necessidade de dizê-lo se faz presente e pungente. E digo mesmo, pouco me importando
com o que os outros vão pensar e com o que o meu supercrítico superego está
pensando. 18h36. Fui fumar um cigarro de verdade e vou agora encher outro copo
de Coca.
18h38. Voltei, mas a vontade de escrever ficou perdida no
meio do caminho. Não sei o que fazer. Nada quero fazer a não ser ficar aqui a
digitar. O Hulk me passa pela cabeça, realmente estou apaixonado pela figura e
preocupado com a reação da minha mãe em relação a ela. Ao frete dela. Às taxas
alfandegárias dela. 18h50. Me perdi na internet por alguns momentos. 18h59.
Descobri que meu primo-irmão acabou um relacionamento no qual punha a maior fé.
Pelo menos desse mal não sofro com o meu isolamento. Isso só me faz pensar na
minha paixão platônica que lateja para o bem e para o mal. O mal é a
impossibilidade. O bem, a inquebrantável esperança de que o impossível
aconteça. É muito amor represado. E é ridículo, eu sei. Mas qual amor não tem
um quê de ridículo? Não faz as pessoas agirem de formas tolas? Só os amores
amadurecidos após a passagem da paixão. E até esses são bastante ridículos às
vezes, principalmente nas arengas.
19h53. Tive que ir comprar remédios para mamãe que caiu
gripada. Falava de amor. Tive o meu quinhão de amor na vida, mas não acredito
que tenha sido o suficiente, eu, pelo menos preciso de mais. Eu acho. Pode ser
que não. Já que vou me fundir à Singularidade se tudo der certo, abandonarei o
mundo material ou este terá importância secundária para mim, para dizer o
mínimo. O que eu escrevo não tem a magia de Machado de Assis, a graça de Luís
Fernando Veríssimo nem o encantamento de Fernando Pessoa, mas é meu, é a minha
voz e é o máximo que posso dar. E o blog acho que é o veículo ideal, visto que
democrático, gratuito, ilimitado. O fato de não alcançar muitos leitores me
interessa, mas não subtrai a minha vontade de me expressar, não importa que
ninguém leia. Estará salvo para a posteridade, enquanto o Google mantiver ativa
a minha conta. Espero que isso dure muito tempo depois de mim. Isso novamente
se eu não me fundir à Singularidade e me tornar virtualmente eterno.
Virtualmente no sentido tecnológico da palavra também. Eu não tenho nem a
graciosidade da escrita da minha prima e vizinha que dirá me comparar a
bastiões da literatura portuguesa? E dane-se isso, pelo menos sou sincero e
autêntico. Não há nada aqui que não reflita o que minha alma captura, processa
e emana. Realmente hoje não estou com inspiração para escrever. Meu deus, tem
muito jogo para eu jogar, mas cadê a vontade? Cadê? E a uma semana de viajar só
poderia jogar algo bobo e sem história com uma mecânica fácil de lembrar como o
New Super Mario Bros. Wii U. Ou o Super Mario Galaxy. Pelo visto, mamãe não vai
à universidade amanhã. Em compensação a noite será minha dentro em breve. Ou
assim quero crer. Gosto de me sentir dono do reino do apartamento todo, não
apenas do meu quarto-ilha. Teria essa sensação mais total se mamãe e meu
padrasto fossem para a universidade amanhã. Acho que mamãe se medica demais. E
acho que algumas de suas doenças são de origem psicológica. Depois que eu tive
39 de febre e não conseguia sair da cama por causa do meu primeiro dia de volta
à Publicidade, não duvido mais do poder da mente em relação a doenças. Por
falar nisso estou com ideia fixa de que terei mal de Parkinson. Tenho que tirar
essa ideia nefasta da cabeça, posso estar facilitando inconscientemente as
coisas para a doença. Xô! Vade retro! Já estou com sono. Só se eu tirar um
cochilo de duas horas e me acordar as 23h. São 20h39. Não vai dar certo. Melhor
sustentar acordado e me conscientizar que não conseguirei virar a noite. Me
conscientizar e conformar. Também não há necessidade disso. Preciso, ao
contrário, ir me acostumando com o fuso-horário alemão. Mas quer saber? Dane-se
o horário alemão, lá eu me acostumo. Ou não. Não quero ir em primeiro lugar. E
agora mamãe já está planejando ir em dezembro para os EUA e meu único interesse
nisso é poder trazer os bonecos para cá, senão também não teria nenhum motivo
para ir. Amo meu irmão, mas detesto inverno pesado mesmo sem tê-lo
experimentado. E não tem porão para eu ficar nessa nova casa. Pelo menos não
pronto, o que eu não sei o que significa. Talvez esteja no tijolo cru, sem
instalações elétricas. Vai ser um saco, mas é outra que terei que encarar se
quiser trazer as estátuas e figuras para cá. Uma pequena parcela delas, digo.
Eu preciso e vou tomar um banho hoje. Você vai ver. Ou hoje ou pela madrugada. Estou
decidido a adentrá-la. Mas ainda é muito cedo. 20h55. Queria ir até umas três
horas da manhã. Não sei se só aqui. Nutro vontade de visitar o Desabafos do
Vate. Nutro vontade de ver o resto de “Alien Covenant”, mas não muita.
21h15. Mamãe ligou para o meu celular do seu quarto para eu
tomar os remédios. Sua voz está péssima mesmo. Talvez tenha pego a gripe
realmente. Sei lá. Acabei de mandar um lembrete sobre a entrevista para o cara
com quem fuleirei enquanto na casa da minha tia, nem sei se ele vai fazer
depois disso. Mas joguei as minhas cartas, disse que tinha tido um problema com
a internet. Cabe a ele responder ou mandar eu me lascar. Hahahahaha.
21h21. Ele ainda não visualizou a mensagem. Estou ansioso
pela resposta. Espero que não seja negativa, mas tenho que me preparar para a
negativa. Ele poderia me abrir as portas para mais entrevistas, mas estou
achando que ele não vai me dar resposta. 21h30. Nada de resposta. Bem, vou
relaxar e dar a causa por perdida. O pior é que não consigo desfocar do
assunto, mas vou tentar.
21h39. Nada. Ouvindo “Superheated Extended Mix” do New
Order. Essa música já tem sabor desse período da minha vida, não houve uma
música que marcasse o período que passei na casa de titia, ouvi coisas muito
variadas. 21h41. Vou ver se os outros habitantes da casa foram dormir.
21h44. Dei o maior vacilo, fui espiar pela fechadura se já
estavam com a luz apagada e a luz estava de fato apagada, mas meu padrasto
estava na sala mexendo no celular. Não sei se ele me viu. Minha defesa seria
saber se mamãe já estava dormindo, pois lembrei de falar uma coisa com ela. O
que seria essa coisa? Dizer que a Red Sonja já vai ser lançada, dia 7 de
setembro. Como acabei de descobrir. Quem me dera ela fosse do preço que suponho.
Ela é uma estátua pequena, a licença é mais barata, não deve ser um absurdo de
cara. O Swamp Thing é que vai ser a bomba. Já estou até vendo. Se brincar mais
caro que o busto do Hulk, o que espero muito que não. Mas é a boataria que rola
nos grupos. O preço do Swamp Thing da Prime 1 foi astronômico, mas ele vem com
um bocado de braços e mãos e cabeças intercambiáveis. E é gigante. Sete
polegadas a mais que o da Sideshow e proporcionalmente maior.
-x-x-x-x-
19h18. Já é mais tarde do que imaginava. É bom estar de
volta ao Profeta. Mas só completarei está página para postar. Fui com a minha
mãe à oncologista. Fomos de Uber porque ela não queria dirigir. Eu chamei o
Uber do meu celular porque mamãe não sabe operar o aplicativo. O trânsito na
cidade é sufocante para mim, mas suportei estoicamente. Dei altos cochilos
profundos enquanto esperava mamãe ser atendida e durante o atendimento, que foi
rápido. Sobre o Surfista Prateado certamente vou querer que incida uma luz
âmbar. Estava discutindo no Desabafos do Vate como quero uma iluminação altamente
personalizada para cada estátua para que cada uma seja uma experiência em si,
traga um clima diferente. A simetria estará na disposição das figuras, todas em
diagonal, para a esquerda ou para a direita, organizadas de acordo, todas as
que estão viradas para a esquerda do lado direito e vice-versa. Eis dois
exemplos de iluminação que busco, para você ter ideia de quão variada eu quero
que cada peça pareça e quão complexa vai ser a iluminação que eu visualizo.
Este eu tinha encomendado e cancelei por causa do Hulk, mas a iluminação está massa para outras peças, gosto especialmente do azul dando um tom noturno à imagem. |
Esta é a tão falada Red Sonja. Quero essa iluminação para ela que a empresta sorriso de Mona Lisa. |
Quero com mais de um ponto de luz para algumas imagens, de
cores variadas. Espero que exista tecnologia que produza luzes pequenas, focais,
de cores diferentes. O som deu a endoidada de novo. Não lembro mais que
procedimento eu fiz da outra vez que não precisei reiniciar, mas acho que agora
precisarei. A página acaba já e estou ouvindo relativamente bem diretamente do
computador. Ouvindo Cure. Massa como sempre. Seria difícil escolher com quem
preferia sentar para uma Coca e conversar: Björk ou Robert Smith. Puxa, seria
uma parceria e tanto entre esses dois, mas ainda preferiria ver disco de Björk
em parceria com os Strokes. Seria como um SugarCubes do século XXI. Preciso
tomar banho hoje. Ontem, só não tomei para não tomar esporro da minha mãe por
estar acordado até tão tarde. Vontade não me faltou. Eita, por pensar em
amanhã, tenho que descarregar o meu celular e botá-lo para recarregar senão
fica muito tarde para ligá-lo e botar o despertador. Como já disse aqui, acho
salutar descarregar a bateria toda e recarregar do zero. Acho que aumenta a
vida útil da bateria. Sei lá, superstições ou tiques. Todo mundo deve ter
algum. Tenho outro que é soprar profundamente quando um pensamento muito ruim
me aflige, como uma forma de extirpá-lo de mim. Sei que isso tem efeito apenas
psicológico. Mas os pensamentos são o que senão fenômenos psicológicos? Bom, é
como se fosse para não atrair aquela coisa ruim para mim, como se fosse a
botando para fora de mim. Soprei profundamente, por exemplo, ao pensar que
estava desenvolvendo os primeiros sintomas de mal de Parkinson. Soprei de novo
por pensar nisso agora. Hahahahha. De médico e louco todo mundo tem um pouco e no
sopro misturo um pouco dos dois, é terapêutico para mim soprar! Iria botar
outra risada aqui, mas me contive. Estou pensando na iluminação dos bonecos, se
será possível. Espero que sim. Desafio para a arquiteta. Pensando nisso, não
vejo lugar para o Boba Fett. Ou não diviso iluminação para ele. Ele certamente
será um dos que ficará virado para a direita. Acabou-se a página. Agora que me
dei conta. Estou na segunda linha da quinta página. Fico por aqui.
P.S.: 21h12. Meu amigo cineasta talvez venha me filmar, está em Recife devido a um mal na família. Sugeri que o fizéssemos na piscina desta vez.
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