6h30. Uau. Encarar uma página em branco a esse horário do
último dia do ano e aniversário do meu irmão é intimidante. Mais fácil revisar
e postar o anterior, que é o que vou fazer.
7h16. Esperando uma foto fazer o upload para ilustrar o post
que estou prestes a publicar. Não sinto a mínima inclinação para escrever e
isso me incomoda. Não acredito que volte a dormir. Há um vestígio de sono, mas
não há vontade de me deitar, pois sei que rolaria na cama, numa luta tediosa e
desnecessária e voltaria a me levantar.
7h21. A foto aparece como “Queued” e não sai desse estado no
Gmail do computador, vou postar uma do WhatsApp. Há várias.
7h44. Meu amado irmão acordou e está lendo jornal na
cozinha. Eu não estou com a mínima disposição para a escrita.
8h54. Conversei com o meu irmão a respeito da existência e
de alienígenas. Ele acha que só não acredita quem não quer ver, que as
evidências estão todas aí, disponíveis e acessíveis. Acho a mesma coisa em
relação ao que acredito, da emergência de uma inteligência artificial superior
a qualquer coisa possível pelos cérebros humanos. Mas já são dois a um para os
alienígenas, talvez três se contarmos o meu primo urbano.
9h13. Gostaria que a prática do português escrito se refletisse
no meu português falado, mas não vejo isso se dando. É uma frustração minha.
Estou realmente sem vontade ou conteúdo para colocar aqui. Meu irmão é contra
eu fumar, a maioria é. Eu sou contra um bocado de coisas, mas não saio por aí
desrespeitando as escolhas alheias, não as compreendo, mas não as julgo, aceito
a diversidade. Faz mal? Tudo indica que sim, está comprovado cientificamente.
9h54. Ensaio uma volta à cama, afinal hoje é um dia que
emenda no outro. A madrugada é especialmente aproveitada devido à tradição.
Queria mais café, mas na falta de vou tomar Coca com gelo e um cigarro.
10h11. Aposto que meu irmão não comprou o que lhe pedi. Seus
princípios não permitiram. Ou esqueceu. Não importa. O que importa é que não
terei cigarros suficientes para a longa noite de hoje.
17h13. Acordei há cerca de uma hora e parece que minha mãe
quer que eu vá de Uber para Aldeia. Não vou. Parece que entrarei 2019 aqui no
quarto-ilha mesmo. Acho até que prefiro. A inércia, a inércia...
17h36. Blanka se comunicou comigo enfim, foi rápido e bom.
Revigorou as esperanças. Nem tudo está perdido. Quem sabe 2019 não seja o ano da
grande virada na minha vida?
18h22. Minha mãe e sua visão de vida negativa especialmente
a respeito de mim me fazem mal. Se já não estava com o astral bom, agora é que
não estou mesmo. Não digo que as suas queixas sejam infundadas. Mas doem do
mesmo jeito. Não querer liberar o cartão para que eu possa usar o Uber é para
mim ultrapassar um limite e invadir o meu direito de ir e vir. A segurança que
me habituei a ter de, estivesse onde estivesse, ter a volta para casa sempre
disponível, me parece hoje um direito fundamental.
-x-x-x-x-
4h06. Estou no ano novo, 2019, na casa de campo e grande
paixão do sogro do meu irmão. Todos se retiraram. Encontrei o grande Adiel Luna
fora da sua persona artística, por mais que ela lhe grude cada vez mais à alma.
Vou botar Landlady uma vez mais
depois de tê-la colocado várias vezes durante a noite e estava ouvindo
repetidas vezes até Adiel aportar aqui na mesa muito engenhosa da varanda do
quintal, uma churrasqueira e uma caixa da JBL que eu não imaginava existir
estão atrás de mim. Vou botar a música e tirar algumas fotos para postar aqui.
4h23. Acho o lugar e o som fantásticos. Mas vou botar a
lista 6, eu acho.
4h26. Botei. Caiu exatamente na que eu queria, Poses, de Rufus Wainwright. Vou fumar e
pegar uma cerveja, embora o que tomaria fosse uma Coca.
Antes que eu pudesse tomar alguma atitude, vovó rata
apareceu e permaneceu até 4h44.
A mesa é sui generis o local é fantástico. |
4h45. Acho que vou pedir à vovó rata que...
4h54. Ela disse que tinha refrigerante na mesa de jantar,
onde peguei uma garrafa de guaraná e me deliciei com duas fartas fatia de
pudim.
5h02. Acho que guaraná faz bolhas maiores que Coca. Se
tivesse coragem, eu diria: "por mim, a senhora pode tirar tudo da mesa, menos
o pudim...”
5h07. A sogra do meu irmão veio dar as últimas coordenadas.
Agora estou só, mas com sono. Um momento.
5h15.
5h22. Pensei em Chamar um Uber e vazar daqui, mas depois de
uma fatia de pudim, penso em dormir.
5h30. Quero dormir o dia todo.
-x-x-x-x-
21h11. Estou de volta ao quarto-ilha, finalmente. Amanhã
partiremos para Areias eu e meu irmão. Confesso no momento não ter disposição
nenhuma para a empreitada, mas estou cansado por mais que tenha dormido o dia
todo, visto que virei a noite de ontem e tive dificuldade de dormir a priori.
Foi bom ter ido a Aldeia. Conversei com o meu sobrinho mais velho e essa foi a
parte que mais me marcou. Me marcou também a parte que contei a meu irmão e
minha cunhada o imenso significado que Landlady
do U2 tem para mim, como ela representa liberdade, a liberdade que encontro
longe das drogas e internamentos e como me veio com clareza que o lugar e a
forma que me sinto mais livre é aqui no quarto-ilha construindo textos para
ninguém. A liberdade está em viver e moldar a vida o máximo que consigo à
maneira que me agrada, não está na fuga pelas drogas, não está dentro de uma
lata de cola, como já esteve. Eu construí com o auxílio da minha mãe (mais que
os demais que contribuíram e contribuem) uma vida que consigo e sei viver, que
me agrada ser vivida. Preciso resolver o negócio do cartão a respeito da
Sideshow hoje e, quando cheguei de Aldeia, recebi a cobrança dos tributos de
importação do crânio-coração, que também preciso pagar. Definitivamente preciso
conversar com a minha mãe e definitivamente espero que seja uma conversa
pacífica. Vou fumar.
22h13. Mamãe concordou que eu pagasse os Correios com o
cartão e disse que resolveria o caso do cartão amanhã de manhã cedo, que me
acordaria para isso. Espero que dê tempo. Acho que dará.
-x-x-x-x-
3h22. Acordei com fome. Comi um pacote pequeno de cereal.
Acho que vou dar umas bisbilhotadas na rede antes de voltar para dormir.
-x-x-x-x-
5h13. Estou biritado em Areias. Estou muito feliz, nossa
prima de Natal veio e biritamos e conversamos demais, o papo fluiu fácil,
falamos de Blanka e mandei uma ousada mensagem para ela.
5h20. Minha prima saiu do quarto para uma boquinha. Botei Biophilia remix, conhecido como Bastards, para rolar no computador.
Também tinha abandonado o teclado USB, mas percebi que estou mais acostumado
com ele que com o do computador.
5h34. Tirando a dificuldade em digitar a vida está uma
maravilha. Estou em Areias, o mar secando e revelando a sua outra identidade,
que muito me agrada e define esse lugar como único, somado às memórias das minhas
melhores férias da infância, absolutamente e inegavelmente. Está dof[ícol
escrevet, mas seguitei tentando, esse é um momento únuicio ns minhs vida.
<erece ser descrito, mas acho que vou comer e dormir.
6h37. Fiquei a cismar com a paisagem, a “antimetamorfose” do
mar.
Maré seca - onde o mar e a aridez se encontram |
6h39. Estou ouvindo Caetano. É genial. Gosto mais da obra
dele como um todo, mas as canções específicas de Chico estão à frente de tudo
que é CQAetqano. Caetano pode ser genial, mas Chico pode ser mais sublime,
belo. E sou um devotob fiel da beleza, eola guia quase tudo na minha pouca
vida, essa coisa pequena em que existo. Esse é um momento sublime escrever em
Areias enquanto todo9s dormem embora biritsfo r vp, iddp lrtrwas difícweis de
acertar. Vou fumar olhando a transfornmaç~son da paiedasgem.
6h58. Estava a fumar e observar o comportamento coletivo das
cabras e vabritos, Nç=ão tirei nenhuma conclusão comprovável, sei que uqando
correm , tpspa aegue,m a cprrer juntos. Acho que não trouxe os remédios. Só se
meu irmão souber.
7h06. Acho que não consigo ter sono por conta da falta de
Dalmadorm.
-x-x-x-x-
21h15. Completamente recuperado do porre de ontem, depois de
ter dormido o dia praticamente todo, volto mais centrado às palavras. Sei que
elucubrei sobre bodes e pouco mais me lembro do que escrevi ontem. Ouvi
Caetano, foi a trilha principal da noite. Conversamos bastante, minha prima e
eu, é bom fazer umas extravagâncias dessas de vez em quando. Os demais já se retiraram.
Tenho a noite só para mim. Estar em Areias mesmo sem sair da casa, é bom, me
faz bem, me sinto mais à vontade e feliz que o habitual. A visão do mar de cima
do morro é fascinante e nunca cessa de me encantar. O vento forte, porém
agradável é outra qualidade daqui. O silêncio, só os sons da natureza e agora
das teclas traz uma paz dificilmente reproduzida na cidade, sinto-me num lugar
em larga parte selvagem onde a civilização humana não deitou ainda sua mão
pesada e bruta. Acho que estar imerso nessa natureza não explorada e estuprada
pelo homem o principal diferencial de Areias, além da sua beleza muito própria.
Há também o vínculo afetivo de uma vida toda, de felizes férias, que agrega uma
familiaridade e acolhimento ímpares ao lugar.
21h40. Estava pensando eroticamente sobre a minha prima.
Estou a pensar diversas coisas, mas todas me passam muito antes de apreendê-las
no papel eletrônico. Minha prima levantou. Vou lhe fazer companhia.
21h54. Discorri sobre o porquê de minha irmã desgostar e não
ter lembranças favoráveis em relação a Areias. Em uma palavra: insetos.
Acreditasse ela que há muito menos deles, como há, isso a faria cogitar uma
visita a Areias junto com meu irmão e família? Acho que não. Queria muito,
muito colocar um som para ouvir, mas prometi a meu irmão que não o faria,
perturba o seu levíssimo sono. Quem vai se retirar dentro em breve, ao que tudo
indica, sou eu.
22h06. Sempre desejei a minha prima, não é a mais bela, mas
possui um conjunto harmônico, uma das fantasias infantis gerada nas férias em
Barreiras ou em Macau que não querem evanescer.
22h14. Tomei o remédio da noite já, parece que eu chego aqui
e só quero descansar naquela varanda, fumando, tomando Coca e olhando para o
mar.
22h18. O computador daqui a pouco chia a bateria.
22h28. Fui fazer as conexões para ligar o computador à
tomada aproveitei e fumei um cigarro olhando para a noite escura como só os
lugares distantes podem ter. Em breve olharei para o céu, o mais estrelado que
já tive o prazer de observar. Enquanto fumava, entretanto, pensei que os índios
daqui viviam numa fartura de alimentos, em especial frutas e peixes, única no
mundo. O homem branco não tinha a mesma percepção dos nossos recursos,
embotados que estavam de sua própria cultura. Sua sabedoria é do mesmo tamanho
da sua ignorância da sabedoria, modo de ser e estar no mundo, dos índios. Por
terem tecnologia mais avançada, muito mais avançada mesmo, subjugaram os donos
das terras. E praticamente erradicaram a cultura de viver em paz e harmonia com
a Natureza, respeitando-a e sendo grato por ela. Pensei em Lampião e na
aspereza da alma do nordestino do interior, especialmente do sertão. Dos que
moram nos confins do Brasil, aonde o Estado não consegue chegar de forma
transformadora.
23h12. Comi pão com pasta de amendoim salgada, não é ruim. Pensei
em Blanka e no meu pote de recordações, um frasco onde guardarei lixo que tem
valor sentimental para mim, como o pedaço de embalagem de Halls que peguei no
nosso primeiro encontro. Penso em me deitar. Vou fumar um cigarro com Coca na
varanda e ruminar sobre o assunto.
23h35. Ainda não me dei por vencido, continuarei mais um
pouco aqui. Estava a observar a complexa e infinita coreografia das folhas de
coqueiros anãos ao sabor do caótico vento. Acho que prefiro ficar na varanda
que aqui escrevendo no computador.
1h55. Acordei com minha fome madrigal.
-x-x-x-x-
5h14. Acho que acordei de vez agora. Vamos a Macau hoje,
fazer o ritual das cinzas de papai. Acredito que meu irmão e minha prima
levantar-se-ão em breve. Eu ainda estou com um pouco de sono, mas não acho que
vou conseguir dormir mais no momento. Talvez quando voltar da nossa expedição,
sei lá, o que sei é que a internet faz uma tremenda falta como passatempo. Acho
que vou fumar um cigarro com Coca e deitar de novo.
5h41. Não consegui, estou bem mais desperto agora e não
sinto traço de sono quase nenhum. Quase. Mas quase nesse caso não é suficiente
para tentar dormir em lugar outro que não minha cama no quarto-ilha, se fosse
para ela, até consideraria me deitar, na rede, não. Estou apreensivo com o
ritual das cinzas de papai, não sei que botões emocionais irão ser apertados.
Espero que poucos ou nenhum. Não sei nem se a sensação de dever cumprido, de
missão completa, de promessa respeitada irá emergir. Na atual letargia mental
em que me encontro, e que espero que não permaneça no decorrer do dia, não
sentiria muita coisa. Sinto uma leve vontade de me deitar. O sono vem e vai.
6h08. O sono se dissipa a cada minuto que passa, precisava
só que alguém acordasse para me fazer companhia. Ou não. Me basto aqui e estou
achando esse momento salutar. Percebo que escrever me deixa com mais sono.
8h20. Dormi mais uma vez e acho que agora acordo em
definitivo. Meu irmão já está de pé, ou melhor, sentado a digitar ao meu lado.
Sinto saudades da minha mãe, estranho vínculo. Por falar em estranho vínculo,
me lembrei de Blanka com carinho e receio de viver e oferecer tudo o que desejo
a ela. De não ser capaz de fazê-lo mesmo que ela se faça disponível. O tempo
dirá. Minha prima ainda dorme.
8h55. Estava conversando como meu irmão sobre user interfaces, acho que é um papo que
ele pode levar com poucas pessoas fora do trabalho e eu com poucos amigos. Se
bem que com qualquer um que jogue videogames ou tenha certa expertise em
computador têm opinião a respeito do tópico. É incrível como os meus amigos,
bem alguns deles, têm opinião sobre tudo e estão dispostos a reparti-la. Eu
tenho várias opiniões, mas não tenho a convicção sobre elas e me sinto
constrangido de expô-las fora do âmbito desse blog. Aqui opino muito, mesmo sem
ter embasamento ou o arcabouço referencial para respaldar o que penso, o que
penso vem de mim e minhas vivências essencialmente e passa ao largo de qualquer
leitura mais aprofundada acerca dos temas. Não entendo bem que mecanismo se dá
que aqui não tenho o mesmo pudor de me humilhar como ocorre nas discussões
presenciais. A mim me parece que todos entendem de tudo e eu sou um completo
ignorante. Falam com certeza impressionante sobre os mais variados assuntos, o
que me espanta, pois de nada sei ao certo. Penso em tomar um banho de chuveirão
hoje e escovar os meus dentes. Vou deixar essas ideias ganharem firmeza em mim.
Gosto delas. Gostaria também de comer hoje uma posta de cavala frita com batata
frita na orla de Macau, para onde iremos dentro em breve, creio.
9h45. Um pedaço de outro dente caiu enquanto escovava.
Quantos mais hão de cair? Será efeito de uma descalcificação por conta da Coca?
Ou a idade mesmo mostrando outra de suas facetas? Não sei, só sei que é um
evento que demonstra um desgaste dos meus dentes, segundo pedaço em menos de
seis meses, um estranho padrão. Enquanto não dói e é reparável não me incomoda
como deveria. Como incomodaria ao meu padrasto se se desse com ele.
11h10. Estamos prestes a ir a Macau. Tirei mais uma foto da
maré seca que me encanta muito mais que a maré cheia, se chegarmos antes do
anoitecer, pretendo descer para catar conchinhas. Ou não. Não encontro
disposição em mim para tanto.
O ícone de Macau e o ícone da minha vida, meu irmão. |
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