segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

DE ALDEIA A AREIAS – PRIMEIRAS VIVÊNCIAS DE 2019


6h30. Uau. Encarar uma página em branco a esse horário do último dia do ano e aniversário do meu irmão é intimidante. Mais fácil revisar e postar o anterior, que é o que vou fazer.

7h16. Esperando uma foto fazer o upload para ilustrar o post que estou prestes a publicar. Não sinto a mínima inclinação para escrever e isso me incomoda. Não acredito que volte a dormir. Há um vestígio de sono, mas não há vontade de me deitar, pois sei que rolaria na cama, numa luta tediosa e desnecessária e voltaria a me levantar.

7h21. A foto aparece como “Queued” e não sai desse estado no Gmail do computador, vou postar uma do WhatsApp. Há várias.

7h44. Meu amado irmão acordou e está lendo jornal na cozinha. Eu não estou com a mínima disposição para a escrita.

8h54. Conversei com o meu irmão a respeito da existência e de alienígenas. Ele acha que só não acredita quem não quer ver, que as evidências estão todas aí, disponíveis e acessíveis. Acho a mesma coisa em relação ao que acredito, da emergência de uma inteligência artificial superior a qualquer coisa possível pelos cérebros humanos. Mas já são dois a um para os alienígenas, talvez três se contarmos o meu primo urbano.

9h13. Gostaria que a prática do português escrito se refletisse no meu português falado, mas não vejo isso se dando. É uma frustração minha. Estou realmente sem vontade ou conteúdo para colocar aqui. Meu irmão é contra eu fumar, a maioria é. Eu sou contra um bocado de coisas, mas não saio por aí desrespeitando as escolhas alheias, não as compreendo, mas não as julgo, aceito a diversidade. Faz mal? Tudo indica que sim, está comprovado cientificamente.

9h54. Ensaio uma volta à cama, afinal hoje é um dia que emenda no outro. A madrugada é especialmente aproveitada devido à tradição. Queria mais café, mas na falta de vou tomar Coca com gelo e um cigarro.

10h11. Aposto que meu irmão não comprou o que lhe pedi. Seus princípios não permitiram. Ou esqueceu. Não importa. O que importa é que não terei cigarros suficientes para a longa noite de hoje.

17h13. Acordei há cerca de uma hora e parece que minha mãe quer que eu vá de Uber para Aldeia. Não vou. Parece que entrarei 2019 aqui no quarto-ilha mesmo. Acho até que prefiro. A inércia, a inércia...

17h36. Blanka se comunicou comigo enfim, foi rápido e bom. Revigorou as esperanças. Nem tudo está perdido. Quem sabe 2019 não seja o ano da grande virada na minha vida?

18h22. Minha mãe e sua visão de vida negativa especialmente a respeito de mim me fazem mal. Se já não estava com o astral bom, agora é que não estou mesmo. Não digo que as suas queixas sejam infundadas. Mas doem do mesmo jeito. Não querer liberar o cartão para que eu possa usar o Uber é para mim ultrapassar um limite e invadir o meu direito de ir e vir. A segurança que me habituei a ter de, estivesse onde estivesse, ter a volta para casa sempre disponível, me parece hoje um direito fundamental.

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4h06. Estou no ano novo, 2019, na casa de campo e grande paixão do sogro do meu irmão. Todos se retiraram. Encontrei o grande Adiel Luna fora da sua persona artística, por mais que ela lhe grude cada vez mais à alma. Vou botar Landlady uma vez mais depois de tê-la colocado várias vezes durante a noite e estava ouvindo repetidas vezes até Adiel aportar aqui na mesa muito engenhosa da varanda do quintal, uma churrasqueira e uma caixa da JBL que eu não imaginava existir estão atrás de mim. Vou botar a música e tirar algumas fotos para postar aqui.





4h23. Acho o lugar e o som fantásticos. Mas vou botar a lista 6, eu acho.

4h26. Botei. Caiu exatamente na que eu queria, Poses, de Rufus Wainwright. Vou fumar e pegar uma cerveja, embora o que tomaria fosse uma Coca.

Antes que eu pudesse tomar alguma atitude, vovó rata apareceu e permaneceu até 4h44.


A mesa é sui generis o local é fantástico.



4h45. Acho que vou pedir à vovó rata que...

4h54. Ela disse que tinha refrigerante na mesa de jantar, onde peguei uma garrafa de guaraná e me deliciei com duas fartas fatia de pudim.

5h02. Acho que guaraná faz bolhas maiores que Coca. Se tivesse coragem, eu diria: "por mim, a senhora pode tirar tudo da mesa, menos o pudim...”

5h07. A sogra do meu irmão veio dar as últimas coordenadas. Agora estou só, mas com sono. Um momento.

5h15.

5h22. Pensei em Chamar um Uber e vazar daqui, mas depois de uma fatia de pudim, penso em dormir.

5h30. Quero dormir o dia todo.

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21h11. Estou de volta ao quarto-ilha, finalmente. Amanhã partiremos para Areias eu e meu irmão. Confesso no momento não ter disposição nenhuma para a empreitada, mas estou cansado por mais que tenha dormido o dia todo, visto que virei a noite de ontem e tive dificuldade de dormir a priori. Foi bom ter ido a Aldeia. Conversei com o meu sobrinho mais velho e essa foi a parte que mais me marcou. Me marcou também a parte que contei a meu irmão e minha cunhada o imenso significado que Landlady do U2 tem para mim, como ela representa liberdade, a liberdade que encontro longe das drogas e internamentos e como me veio com clareza que o lugar e a forma que me sinto mais livre é aqui no quarto-ilha construindo textos para ninguém. A liberdade está em viver e moldar a vida o máximo que consigo à maneira que me agrada, não está na fuga pelas drogas, não está dentro de uma lata de cola, como já esteve. Eu construí com o auxílio da minha mãe (mais que os demais que contribuíram e contribuem) uma vida que consigo e sei viver, que me agrada ser vivida. Preciso resolver o negócio do cartão a respeito da Sideshow hoje e, quando cheguei de Aldeia, recebi a cobrança dos tributos de importação do crânio-coração, que também preciso pagar. Definitivamente preciso conversar com a minha mãe e definitivamente espero que seja uma conversa pacífica. Vou fumar.

22h13. Mamãe concordou que eu pagasse os Correios com o cartão e disse que resolveria o caso do cartão amanhã de manhã cedo, que me acordaria para isso. Espero que dê tempo. Acho que dará.

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3h22. Acordei com fome. Comi um pacote pequeno de cereal. Acho que vou dar umas bisbilhotadas na rede antes de voltar para dormir.

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5h13. Estou biritado em Areias. Estou muito feliz, nossa prima de Natal veio e biritamos e conversamos demais, o papo fluiu fácil, falamos de Blanka e mandei uma ousada mensagem para ela.

5h20. Minha prima saiu do quarto para uma boquinha. Botei Biophilia remix, conhecido como Bastards, para rolar no computador. Também tinha abandonado o teclado USB, mas percebi que estou mais acostumado com ele que com o do computador.

5h34. Tirando a dificuldade em digitar a vida está uma maravilha. Estou em Areias, o mar secando e revelando a sua outra identidade, que muito me agrada e define esse lugar como único, somado às memórias das minhas melhores férias da infância, absolutamente e inegavelmente. Está dof[ícol escrevet, mas seguitei tentando, esse é um momento únuicio ns minhs vida. <erece ser descrito, mas acho que vou comer e dormir.

6h37. Fiquei a cismar com a paisagem, a “antimetamorfose” do mar.


Maré seca - onde o mar e a aridez se encontram



6h39. Estou ouvindo Caetano. É genial. Gosto mais da obra dele como um todo, mas as canções específicas de Chico estão à frente de tudo que é CQAetqano. Caetano pode ser genial, mas Chico pode ser mais sublime, belo. E sou um devotob fiel da beleza, eola guia quase tudo na minha pouca vida, essa coisa pequena em que existo. Esse é um momento sublime escrever em Areias enquanto todo9s dormem embora biritsfo r vp, iddp lrtrwas difícweis de acertar. Vou fumar olhando a transfornmaç~son da paiedasgem.

6h58. Estava a fumar e observar o comportamento coletivo das cabras e vabritos, Nç=ão tirei nenhuma conclusão comprovável, sei que uqando correm , tpspa aegue,m a cprrer juntos. Acho que não trouxe os remédios. Só se meu irmão souber.

7h06. Acho que não consigo ter sono por conta da falta de Dalmadorm.

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21h15. Completamente recuperado do porre de ontem, depois de ter dormido o dia praticamente todo, volto mais centrado às palavras. Sei que elucubrei sobre bodes e pouco mais me lembro do que escrevi ontem. Ouvi Caetano, foi a trilha principal da noite. Conversamos bastante, minha prima e eu, é bom fazer umas extravagâncias dessas de vez em quando. Os demais já se retiraram. Tenho a noite só para mim. Estar em Areias mesmo sem sair da casa, é bom, me faz bem, me sinto mais à vontade e feliz que o habitual. A visão do mar de cima do morro é fascinante e nunca cessa de me encantar. O vento forte, porém agradável é outra qualidade daqui. O silêncio, só os sons da natureza e agora das teclas traz uma paz dificilmente reproduzida na cidade, sinto-me num lugar em larga parte selvagem onde a civilização humana não deitou ainda sua mão pesada e bruta. Acho que estar imerso nessa natureza não explorada e estuprada pelo homem o principal diferencial de Areias, além da sua beleza muito própria. Há também o vínculo afetivo de uma vida toda, de felizes férias, que agrega uma familiaridade e acolhimento ímpares ao lugar.

21h40. Estava pensando eroticamente sobre a minha prima. Estou a pensar diversas coisas, mas todas me passam muito antes de apreendê-las no papel eletrônico. Minha prima levantou. Vou lhe fazer companhia.

21h54. Discorri sobre o porquê de minha irmã desgostar e não ter lembranças favoráveis em relação a Areias. Em uma palavra: insetos. Acreditasse ela que há muito menos deles, como há, isso a faria cogitar uma visita a Areias junto com meu irmão e família? Acho que não. Queria muito, muito colocar um som para ouvir, mas prometi a meu irmão que não o faria, perturba o seu levíssimo sono. Quem vai se retirar dentro em breve, ao que tudo indica, sou eu.

22h06. Sempre desejei a minha prima, não é a mais bela, mas possui um conjunto harmônico, uma das fantasias infantis gerada nas férias em Barreiras ou em Macau que não querem evanescer.

22h14. Tomei o remédio da noite já, parece que eu chego aqui e só quero descansar naquela varanda, fumando, tomando Coca e olhando para o mar.

22h18. O computador daqui a pouco chia a bateria.

22h28. Fui fazer as conexões para ligar o computador à tomada aproveitei e fumei um cigarro olhando para a noite escura como só os lugares distantes podem ter. Em breve olharei para o céu, o mais estrelado que já tive o prazer de observar. Enquanto fumava, entretanto, pensei que os índios daqui viviam numa fartura de alimentos, em especial frutas e peixes, única no mundo. O homem branco não tinha a mesma percepção dos nossos recursos, embotados que estavam de sua própria cultura. Sua sabedoria é do mesmo tamanho da sua ignorância da sabedoria, modo de ser e estar no mundo, dos índios. Por terem tecnologia mais avançada, muito mais avançada mesmo, subjugaram os donos das terras. E praticamente erradicaram a cultura de viver em paz e harmonia com a Natureza, respeitando-a e sendo grato por ela. Pensei em Lampião e na aspereza da alma do nordestino do interior, especialmente do sertão. Dos que moram nos confins do Brasil, aonde o Estado não consegue chegar de forma transformadora.

23h12. Comi pão com pasta de amendoim salgada, não é ruim. Pensei em Blanka e no meu pote de recordações, um frasco onde guardarei lixo que tem valor sentimental para mim, como o pedaço de embalagem de Halls que peguei no nosso primeiro encontro. Penso em me deitar. Vou fumar um cigarro com Coca na varanda e ruminar sobre o assunto.

23h35. Ainda não me dei por vencido, continuarei mais um pouco aqui. Estava a observar a complexa e infinita coreografia das folhas de coqueiros anãos ao sabor do caótico vento. Acho que prefiro ficar na varanda que aqui escrevendo no computador.

1h55. Acordei com minha fome madrigal.

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5h14. Acho que acordei de vez agora. Vamos a Macau hoje, fazer o ritual das cinzas de papai. Acredito que meu irmão e minha prima levantar-se-ão em breve. Eu ainda estou com um pouco de sono, mas não acho que vou conseguir dormir mais no momento. Talvez quando voltar da nossa expedição, sei lá, o que sei é que a internet faz uma tremenda falta como passatempo. Acho que vou fumar um cigarro com Coca e deitar de novo.

5h41. Não consegui, estou bem mais desperto agora e não sinto traço de sono quase nenhum. Quase. Mas quase nesse caso não é suficiente para tentar dormir em lugar outro que não minha cama no quarto-ilha, se fosse para ela, até consideraria me deitar, na rede, não. Estou apreensivo com o ritual das cinzas de papai, não sei que botões emocionais irão ser apertados. Espero que poucos ou nenhum. Não sei nem se a sensação de dever cumprido, de missão completa, de promessa respeitada irá emergir. Na atual letargia mental em que me encontro, e que espero que não permaneça no decorrer do dia, não sentiria muita coisa. Sinto uma leve vontade de me deitar. O sono vem e vai.

6h08. O sono se dissipa a cada minuto que passa, precisava só que alguém acordasse para me fazer companhia. Ou não. Me basto aqui e estou achando esse momento salutar. Percebo que escrever me deixa com mais sono.

8h20. Dormi mais uma vez e acho que agora acordo em definitivo. Meu irmão já está de pé, ou melhor, sentado a digitar ao meu lado. Sinto saudades da minha mãe, estranho vínculo. Por falar em estranho vínculo, me lembrei de Blanka com carinho e receio de viver e oferecer tudo o que desejo a ela. De não ser capaz de fazê-lo mesmo que ela se faça disponível. O tempo dirá. Minha prima ainda dorme.

8h55. Estava conversando como meu irmão sobre user interfaces, acho que é um papo que ele pode levar com poucas pessoas fora do trabalho e eu com poucos amigos. Se bem que com qualquer um que jogue videogames ou tenha certa expertise em computador têm opinião a respeito do tópico. É incrível como os meus amigos, bem alguns deles, têm opinião sobre tudo e estão dispostos a reparti-la. Eu tenho várias opiniões, mas não tenho a convicção sobre elas e me sinto constrangido de expô-las fora do âmbito desse blog. Aqui opino muito, mesmo sem ter embasamento ou o arcabouço referencial para respaldar o que penso, o que penso vem de mim e minhas vivências essencialmente e passa ao largo de qualquer leitura mais aprofundada acerca dos temas. Não entendo bem que mecanismo se dá que aqui não tenho o mesmo pudor de me humilhar como ocorre nas discussões presenciais. A mim me parece que todos entendem de tudo e eu sou um completo ignorante. Falam com certeza impressionante sobre os mais variados assuntos, o que me espanta, pois de nada sei ao certo. Penso em tomar um banho de chuveirão hoje e escovar os meus dentes. Vou deixar essas ideias ganharem firmeza em mim. Gosto delas. Gostaria também de comer hoje uma posta de cavala frita com batata frita na orla de Macau, para onde iremos dentro em breve, creio.

9h45. Um pedaço de outro dente caiu enquanto escovava. Quantos mais hão de cair? Será efeito de uma descalcificação por conta da Coca? Ou a idade mesmo mostrando outra de suas facetas? Não sei, só sei que é um evento que demonstra um desgaste dos meus dentes, segundo pedaço em menos de seis meses, um estranho padrão. Enquanto não dói e é reparável não me incomoda como deveria. Como incomodaria ao meu padrasto se se desse com ele.

11h10. Estamos prestes a ir a Macau. Tirei mais uma foto da maré seca que me encanta muito mais que a maré cheia, se chegarmos antes do anoitecer, pretendo descer para catar conchinhas. Ou não. Não encontro disposição em mim para tanto.

O ícone de Macau e o ícone da minha vida, meu irmão.


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