quinta-feira, 6 de setembro de 2018

UNTITLED


19h27. O marido da minha prima vai vir aqui pegar o Wii U. Já está a caminho. A garota do Tinder ainda não me respondeu. Minha mãe foi para a hidroginástica. Meu padrasto ainda não chegou. Eu quero fumar um cigarro com uma Coca bem gelada.

19h45. Tomei a Coca e fumei um quarto do cigarro, não me desceu bem. Ninguém chegou ainda. Ou se manifestou, no caso da garota do Tinder. Meu amigo da piscina, para quem falei do Tinder, já instalou o aplicativo e já se encontrou com uma garota. Ele é, sem dúvida, mais eficaz e eficiente do que eu.

20h10. O Wii U foi entregue e o raro DVD do show do U2 que emprestei está de volta sob a minha possessão. Penso que a cada dia morro e isso me é um alento. O lado ruim é me sentir menos vivo a cada amanhecer. Meu padrasto acaba de chegar. Coloquei Björk, da lista 6, para ouvir. Queria que já fosse tarde da noite. Queria ter mais Coca. Queria me sentir bem. Não estou mal, mas isso não significa que o contrário seja verdade, me encontro num estado de completa apatia. Não queria... nem lembro o que não queria, me perdi em pensamentos sobre o meu irmão. Ele compartilhou um texto para eu ler. Sobre a existência, pelo que entendi, uma narrativa alternativa sobre a história, inclusive do universo. Mas não me sinto disposto agora para ler.

20h35. A vida está se tornando insuportável, isso não é nada bom. Não sei o que dizer. Estou com os nervos à flor da pele, tudo me parece desconfortável. Estou em sofrimento existencial que é sofrimento de fato. Queria acordar de mim. Ver outro lado meu, estou cansado deste que me destrói moralmente, emocionalmente, fisicamente (embora não me importe muito com este último, minha máquina é ótima, tenho orgulho de sua resistência). Alguém me mandou um WhatsApp. Vou ver.

21h23. Era um amigo. A garota do Tinder já visualizou as mensagens que mandei para ela e nada disse. Mandei uma pergunta agora, o que demanda uma resposta e disse que queria perguntar algumas coisas a ela e que ela poderia fazer o mesmo a meu respeito. Mas nem isso me anima. Acredito que ela vá me bloquear e ficará por isso mesmo. O que é que está acontecendo comigo? Não estou bem. Tudo o que quero é a noite só para mim. É só aí que o alívio pode me alcançar. Essas palavras, essas palavras... são o que me resta, onde me agarro para seguir. Isso, cigarros, café e Coca.

22h07. Tomei os remédios e mandei a última mensagem que mandarei para a garota do Tinder. Foi uma mensagem simpática a convidando para bater um papo quando estiver disponível. E está de bom tamanho. O convite está feito. Nossa, espero que o pessoal vá para a cama mais cedo hoje. Quero desesperadamente a noite só para mim. Para colocar um unguento na minha desperdiçada existência. Vou fumar outro cigarro. E averiguar o movimento na casa.

22h20. Já estão no quarto, mas ainda conversam. Não quero saber.

22h32. Björk me faz pensar em um cogumelo no tronco de uma árvore e isso tem tudo a ver com a letra que trata de forma poética, transforma a existência do vírus numa canção de amor, chama o vírus de “My sweet adversary”. O vírus que muitos consideram como um ser vivo, o ser mais simples de todos, e outros consideram que não, porque não possuem uma propriedade fundamental inerente a todos os seres-vivos, que não me lembro qual é. E ambos estão com a razão. O vírus é um ser vivo diferente dos demais seres vivos. O que pediria a arquiteta é que estudasse os exemplos de display que gostei e não gostei e que de uma forma criativa, artística e funcional ela dispusesse as bonecas no quarto, livros, HQs, CDs, DVDs, Games, Blu-ray e deixasse um espaço reservado para as minhas roupas, eu daria a do Destiny para o meu amigo cientista político. Será que ele entenderia o gesto positivamente? Não sei, logo não sei mais se o farei. Vejo que o que tem de mais em comum comigo é ter um corpo resistente e abusar dessa benesse como eu, além da afinidade por games. Acho que deveriam lançar um game em que, em se atirando nas pernas dos inimigos inutilizasse aquele membro e deixaria o cara urrando de dor, dando oportunidade (tempo) ao protagonista, eu, você, de mirarmos e matarmos ele. Se demorássemos demais eles voltariam a pegar a arma e atirar de volta, mesmo aleijados no chão.

23h59. Meu amigo da piscina pediu para eu mandar um cigarro para ele pelo elevador.

0h01. Fiquei a cismar nele. Pensei sobre Bolsonaro já estar no segundo turno. Cocei o meu ouvido e já penso em me retirar para a minha cama, não sei. Outra coisa que exigiria da arquiteta seria o isolamento acústico da parede do escritório e da porta de entrada. Poderia haver outra janela no meu quarto. Só me dei conta disso agora. Habito uma das quinas do prédio, então tenho duas paredes passíveis de receberem janelas. Mas isso seria um problema bem maior para colocar os bonecos e tudo o mais. Vou fumar e tomar a decisão se durmo agora ou não.

0h20. Ataquei o biscoito Tortinha de Limão e o amendoim japonês. Pensei sobre o meu quarto enquanto fumava. Gostaria que todos os bonecos sejam acessíveis por portas de vidro. Com as bordas mais finas possíveis.

0h36. Último quarto do último copo de Coca da casa. Só amanhã agora.

-x-x-x-x-

14h01. A garota do Tinder visualizou todas as mensagens, mas não respondeu. Não sei mais o que possa fazer.

14h22. Mandei uma mensagem perguntando os três filmes prediletos dela. Incentivei um comprador indeciso a adquirir o busto do Hulk que tenho aqui do meu lado. Não o meu, pois adoro o meu Hulk, mas um igual.

14h32. Acordei de melhor astral hoje. Isso ainda não quer dizer que esteja bem, mas estou menos ruim. Isso é bom e acho que tem a ver com o meu subterfúgio. Hoje, se tudo der certo, tem mais. Ontem houve um momento em que não aguentei mais olhar para a tela desse computador. E pensar que hoje estou apenas começando essa interação. Nada ocorre de interessante no eBay, no maravilhoso mundo dos bonecos, na vida. Não quero sair para nenhum canto, não quero encontrar com ninguém, gostaria apenas que a garota do Tinder respondesse. É muito pouco. Estou tendo refluxo. Passeis mais de uma hora quase regurgitando enquanto tentava dormir, pois o primeiro ataque de refluxo me acordou. Muito chato. Acho que é isso que dá comer à noite. Preciso repensar isso. Ou não. Posso me acostumar com os refluxos. Sei lá. E pouco se me dá. Já entrei na terceira folha e tenho outro post para publicar. Estou produzindo mais, voltei à minha capacidade usual. Me agarro aqui para manter a sanidade, para ocupar o meu tempo, para tornar a vida minimamente interessante. Ah, tenho o negócio que o meu irmão me mandou para ler. Vou dar uma olhada. E botar um som. Sempre é bom botar um som. Rimou. Hahaha.

16h09. Li o texto que meu irmão compartilhou e prefiro a minha fé. Acho, por mais surreal que seja, mais plausível. Talvez porque, ao contrário dele, nunca tenha visto óvnis. Pedi que trouxesse minhas bonecas fora das caixas no meio da bagagem para poder trazer mais de uma vez só. Estou me sentindo mal, fisicamente falando. Não sei se é falta da Coca. Vontade de morrer. A vida é desnecessariamente longa. Aposto que quando sentir realmente vontade de viver a vida vai me roubar a saúde e me levar à morte, só para pregar mais uma de suas irônicas peças comigo. Eu mereço. Sou um ser que em nada acrescentou ou acrescenta à sociedade em que estou inserido. Cada vez me distancio mais dela e essa distância me agrada. Pelo menos não ofende. Preciso revisar o livro e mandar para o meu tio. É algo no estômago, como um enjoo brando e uma acidez excessiva. Isso reverbera no meu psicológico também, afinal sou todo uma coisa só. Estou desconfortável em mim mesmo no momento. Queria uma Coca gelada, acho que isso daria uma melhorada no meu organismo. Na falta de, vou fumar mais um cigarro.

16h31. Aparentemente esfaquearam Bolsonaro. Resta saber se é golpe de marketing. Tudo é possível. A fantástica faxineira fez mais café, sinto leve vontade de vomitar. Nesse exato momento gostaria de ser agraciado com um câncer terminal. Seria um processo doloroso em todos os sentidos, é um desejo que sei que não se sustenta. Sei lá. Agora, por mais contraditório que pareça olhei para o meu Switch e não me deu vontade de me desfazer dele, talvez seja uma pulsão de vida combatendo a predominante pulsão de morte. Curioso, minha alma é a mais contraditória que conheço. Queria que morrer fosse um desmaio para o nunca mais. Tomar café aumenta a minha ânsia de vômito, talvez seja muita bílis acumulada. Nada entendo do funcionamento de organismos, estou a falar besteira. Lembrei-me da portuguesinha enquanto fumava. Será que ainda me lê? Acho que não, resolveu se desapegar de mim, peso morto que sou. Crescente vontade de revisar o livro. Pensava sobre ele. E suas consequências. Me sepultar em vida, que é uma decorrência natural e previsível do caminho que trilho. E a realização de um sonho. O maior sonho. O segundo maior sonho, em verdade. Minha vida é a espera do meu subterfúgio, embora hoje esteja mais suportável que ontem. Ontem foi mais difícil me aturar. E esta terceira página que não acaba? Também não quero que acabe agora. Senão me veria obrigado a revisar o livro. Não quero fazer nada. Não quero ser nada. Quero deixar de ser. Estou exagerando, eu acho, é mais um desabafo que um comentário racional. Há coisas a acontecer que despertam a minha curiosidade. O Batman branco, por exemplo. Não sei lidar com o mundo, com as pessoas. Desisti praticamente do mundo e das pessoas. Acho ambos maravilhosos, mas muito complexos para o meu cérebro de ervilha. Acho que estou assim por causa do que o excesso de café está me fazendo sentir. Acho que vou tomar um copo de água com gelo e fumar um cigarro. A garota do Tinder ainda não me respondeu nem viu a minha mensagem. Não vai dar em nada, o que corrobora com a minha hipótese da última cartada. Que é o que realmente desejo. E que não vou obter. Meu corpo pesa sobre mim, deixo me encurvar ante o seu peso. Não sinto desespero. Uma calma fria e cortante me domina. Não quero que ela seja perturbada. Ouvindo The Cure com o ar ligado, escrevendo o que me vem, por mais inútil que seja. Quero permanecer exatamente assim até a hora de ir dormir. Acabou-se a terceira página. Vou revisar os dois posts que tenho e publicá-los. Divulgarei só o anterior, provavelmente. Sofro sem sofrer. Me sinto melhor. Estranho.

17h16. Perdi a vontade de revisar e publicar. Bebi um copo d’água com muito gelo e coloquei outro. E mais uma xícara de café. Hoje só queria sair do meu quarto para ir à pizzaria comprar Coca. Duas, zero, de dois litros. Queria que minha mãe permitisse. Vou revisar e postar.

Um comentário:

  1. "Aparentemente esfaquearam Bolsonaro. Resta saber se é golpe de marketing." Vocês no Brasil são LOUCOS!

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