quarta-feira, 7 de março de 2018

IDA À CASA DO MEU PRIMO URBANO


Achei o texto do meu post anterior muito truncado, isso me incomoda e me preocupa. Será que estou perdendo o tino para a escrita? Espero que não. O cara da DHL já me ligou querendo entregar o Hulk hoje, não disse para ele vir porque não teria como pagar a tributação do produto. Mamãe precisa estar em casa ou deixar um cartão que suporte o valor a ser pago em parcela única. Bom, como amanhã é feriado, o cara disse que tentaria novamente na quarta, mas que me ligaria antes. Vou ter que conversar com mamãe sobre o assunto. Só de pensar me dá um gelo no estômago. E uma curiosidade enorme de ver o Hulk. Pensar que ele já está aqui em Recife me enche de excitação. Espero que seja tudo o que eu espero. Minha mãe não vai achar graça nenhuma na figura. Vai achar feio e grande, apenas.

14h07. Fui fumar um cigarro ruminando sobre o Hulk e sobre a ida à casa do meu primo urbano para uma sessão de games com o meu amigo jurista.

14h17. Liguei para o meu banco agora e ele disse que o meu limite disponível para gastos é de cento e poucos reais porque meu cartão é compartilhado com o da minha mãe. Confesso que não entendi. Apenas concluo que não poderei pagar o Hulk com o meu cartão de crédito. Ai, ai, minha mãe ficará uma arara. E não estou muito disposto a ir à casa do meu primo urbano hoje, embora tenha a sensação de que isso vá mudar ao longo do dia. Não terei terapia hoje, Ju disse que estava doente e propôs que a próxima sessão seja na quarta ao meio-dia. O que prontamente concordei, embora vá ter que acordar mais cedo que o habitual. Perguntei no grupo dos games quem vai levar o Switch, se eu ou meu amigo jurista. O dele tem o Mario Kart que o meu não tem.

14h29. Meu amigo jurista respondeu e não sabe se vai poder participar da jogatina, pois sua esposa quer sair hoje numa rara brecha em que a filha vai dormir com os avós. Se ele não for, ainda assim posso ir, não sei se eu tenho coragem de ir, entretanto. Me parece muito demandante socialmente. Vou tentar preparar a minha alma para isso. Espero que consiga. Espero mais ainda que o meu amigo jurista consiga ir. Isso me deixaria mais tranquilo com a empreitada. Não sei por quê. Acho que duas pessoas, uma delas sendo eu, constituiria uma relação esparsa e cheia de silêncios. Mas não posso ser assim tão covarde socialmente. Será que se for, vale a pena levar o computador para instalar o programa que o meu primo usa para mexer nos sons? Acho válido. Se ele não tiver disponibilidade, ou se perceber que é algo que não tem espaço no momento, será apenas um peso a mais que carrego.

14h47. Estou ouvindo, adivinha? Ela mesma, Björk e seu “Utopia”. Lembrei que fiquei de ouvir Teatro Mágico. Sugestão do meu amigo professor. Disse que era um som para poucos. Coloquei. Não é ruim, não gosto muito do vocal.

15h36. A fantástica faxineira veio dar o grau no meu quarto. Ainda toca Teatro Mágico. Não sei porque é um som para poucos. Acho é bem acessível. A paranoia em relação ao Hulk cresce. Sobre a ida à casa do meu primo urbano, ainda tudo em suspenso. O meu amigo jurista não deu notícia sobre o que vai ser de sua vida hoje à noite. Nem sei se meu primo vai querer que eu vá sozinho lá. Acho que não farei essa sugestão. Deixarei que eles se manifestem. Eu quero ir e ao mesmo tempo me sinto intimidado pela intimidade de um encontro só com o meu primo. Acho que não terei conteúdo. Eu sei lá. Acho que é uma neurose minha. Fico achando que eu sou uma companhia que não deixa as demais pessoas confortáveis. Eu nunca tinha achado uma pessoa pouco inteligente, limitada intelectualmente até, como achei no sábado. Mas vai ver que o burro era eu.

15h50. A vida segue macia, apesar desses dois eventos que permeiam a minha mente. A existência ao meu redor está agradável. Meu humor está bom, acho que muito graças ao café. Já pedi para a fantástica faxineira fazer mais e desabafei com ela o meu receio em relação ao Hulk. Ela tentou me acalmar sem muito sucesso. Não sei como comunicar a mamãe. Acho que vou mandar um WhatsApp para ela.

16h02. Mandei. Ela ainda não viu. Deve estar em reunião ou no trânsito. Seja o que deus quiser. Mas pressinto que vou ouvir muito hoje. Nossa, estou com aquela ansiedade ruim de quem fez uma merda muito grande e que só espera a retaliação da existência, personificada na figura da minha mãe. É, mas teria que enfrentar isso mais cedo ou mais tarde. O WhatsApp foi uma forma de prepará-la e falar o que não tenho coragem de nomear presencialmente. Espero que ela veja antes de chegar em casa, para que assimile um pouco do golpe e venha mais calma falar comigo. Não sei se isso vai se dar.

16h18. Li uma suposta entrevista com Marcola do PCC. Fiquei impressionado, caso não seja fake news. Aparentemente é. O texto é assustador e não deixa de ter pertinência, entretanto. Uma peça de notícia falsa muito bem-feita. Ah, pelo que vi foi concebida por Arnaldo Jabor. Está explicado.

16h33. A fantástica faxineira já me preparou mais café e já o estou saboreando. Meu primo me convidou para ir à casa dele mesmo sem o meu amigo jurista, o que prontamente concordei.

16h44. Minha mãe viu a mensagem sobre o Hulk e acabou de me ligar. Foi mais tranquilo do que imaginava. Ela se disse chocada, mas entendi que pagaria. E que eu mandasse a Red Sonja para a casa do meu irmão que a gente trazia. Eu disse a ela que obviamente faria isso, que só não fiz com o Hulk por causa das dimensões da caixa. Nossa, que alívio. E, nossa, como queria já deixá-lo exposto no meu quarto. Quarta-feira agora não poderia estar mais distante.

16h59. Meu primo já está dando a ausência do meu amigo jurista como certa, eu ainda guardo esperanças de uma reviravolta. Estou com ansiedade ruim em relação ao encontro, como geralmente ocorre às vésperas de tais eventos. Espero que essa ansiedade negativa evanesça uma vez lá. Queria muito que o meu amigo jurista fosse. Minha mãe quer que eu venda mais bonecos. Acho que vai ficar apitando isso na minha cabeça. Vou ter que me comunicar com o meu irmão para organizar a venda dos demais bonecos que separei lá para vender. Posso pedir à minha mãe para ir comigo na loja que ela descobriu que vende bonecos para ver se eles querem vender algumas das bonecas e bonecos que tenho aqui e que não me interessam. Não quero pensar nisso agora, odeio preocupações. E quem não odeia, não é? Eu acho que odeio um pouco mais que a média. Por quê? Porque me tornei menos tolerante ao estresse que a média da humanidade. Qualquer coisa que me roube do meu quarto-ilha e da minha escrita me incomoda, por mais que seja uma coisa desejada. Não quero entrar nessa seara, pois isso desperta o meu lado antissocial.

17h18. Meu amigo jurista não vai poder ir realmente. Sugere um dia de semana normal. Vou ver se meu primo urbano se manifesta. Não sei o que dizer ao nosso amigo. Não estou me sentindo confortável para ir, mas só de enunciar essa frase já me sinto mais disposto. Não sei porque minha alma é tão antagônica assim. Por que adora se desdizer. Menos mal, prefiro o ânimo de ir que o receio.

17h28. Já guardei o Switch na mochila. Falta o computador e o banho. E mamãe chegar. De 18h00 entro no banho. Nossa, detesto esse sentimento ruim que antecede as minhas interações sociais. Não deveria ter isso com o meu primo urbano. Não deveria mas tenho. E o que eu vou fazer em relação a isso? Encarar. Fazer o movimento contrário do que minha alma pede. Uma grande parte de mim não quer ir, mas há uma outra parte que acha relevante essa interação. É uma parte menor, mas que acho que seja a parte sadia. Por isso tenho que deixar o meu quarto-ilha e encarar essa situação que acredito será muito menos perturbadora do que estou projetando. Não sei se leve o computador, estou empulhado. Mas como disse, é só um peso a mais, posso nem o mencionar ao meu primo urbano. É ozzy ser eu nesses momentos. Aliás, há vários momentos em que é ozzy ser eu. Por isso voltei à terapia. Hahaha. Eu tenho que levar a vida com mais leveza, de coração mais aberto, mais positivamente. Estou parecendo o meu pai, virando um velho resmungão. Não pode, não dá. Aí vem a lembrança da viagem na minha cabeça e tal lembrança me fecha as portas do coração uma vez mais. Vou pegar um café. E parar com essa masturbação mental.

17h46. Peguei mais café e a masturbação mental continua. Não posso ser assim. É inviável. Pensar em desistir do convite do meu primo é absurdo.

17h52. Reconfirmei a minha presença no grupo. O que já não tinha muita volta agora é que não tem mesmo. Estou mais tranquilo depois dessa nova confirmação pero non mucho. É melhor que ficar em casa fazendo mais do mesmo, o mesmo de sempre, ficar escrevendo as minhas neuroses no computador. Melhor estar lá com o meu primo, quem sabe aprendendo a usar o programa de música e jogando Snipperclips. A bem da verdade, não queria jogar Snipperclips. A bem da verdade não queria ir. Ai, meu saco. Eu vou e vai ser melhor do que ficar aqui. Racionalmente eu sei disso, mas emocionalmente... 18h00. Hora do banho.

18h03. Peguei mais uma xícara de café em vez de entrar no banho, não me pergunte por quê. Sei que foi o impulso que me deu e eu o segui. Só posso sair depois que a minha mãe chegar. Ou não. Não queria pegar trânsito, mas vai ser meio inevitável. O que será que meu primo urbano está pensando agora em relação à minha ida? Será que tem algum desconforto por causa da minha presença solitária lá? Acho que não. Acho que isso é conteúdo só meu. E a este dou o nome de improdutiva masturbação mental. Quando acabar essa xícara de café eu entro impreterivelmente no banho. Tenho vergonha de o meu primo ler isso. Vai ter uma dimensão da minha neurose antissocial pelo menos. Nossa, que vontade de desistir. Mas não vou. Vou encarar. Uma coisa besta dessas. Jogar algumas horas de videogame com meu primo, como fazíamos na infância.

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1h42. Transcorreu tudo de uma forma muito mais tranquila e natural do que poderia imaginar quando peguei o elevador para descer e meu coração batia forte, num jorro de adrenalina ruim. Admito que pensei em desistir, mas tomei, sem dúvida a melhor atitude indo bater esse game com o meu primo urbano. Rapidamente nos entrosamos. Coloquei Miles Davis para escutar, “Bitches Brew”, tido, segundo meu primo, como obra maior do músico. Só não estou ouvindo alto o suficiente por causa da hora. Deixemos uma coisa clara, meu primo é muito melhor do que eu em resolver os quebra-cabeças do Snipperclips, à exceção de uma fase zeramos todas de dois jogadores, se não me engano. Vimos os créditos, então fizemos um trabalho bem-feito. E jogamos por muitas horas. Descobri outro grande prazer do qual eu nunca vou poder desfrutar, solar improvisadamente enquanto se ouve o disco predileto de um músico predileto. Vi meu primo se perder em longos minutos solando ao som de uma música de Miles Davis e não soou mal, estava em completa harmonia com a música, foi massa compartilhar esse momento com ele. Também fiquei feliz em saber que talvez disponibilize algumas de suas criações musicais e nada mais falarei dele, pois é um cara circunspecto que não gosta de holofotes sobre a sua vida. Ao contrário desse que vos fala que escancara todos os seus dramas aqui. Espero que da próxima vez não tenha palpitações antes de um encontro com ele. Estamos resgatando uma intimidade que para mim estava um pouco distante. Ele parece sentir menos essa distância. Me sinto cada vez mais tolo e burro, bitolado que estou no meu mundinho da escrita. Pelo menos agora escrevo ouvindo Miles Davis, que nunca havia ouvido na vida. Alguma coisa nova eu apreendi. Também tomei café feito com grãos moídos na hora e sem açúcar ou adoçante, interessante que achei que a bebida se bastava sem açúcar, mas não arrisco tomar o daqui da mesma forma. Hahaha. Sobre o que mais discorrer? A noite foi agradabilíssima. Tudo foi divertido. Agora não sei se instalarei o programa de fazer música no meu computador por causa da potencialidade de conter vírus. Cracks geralmente contém vírus. É quase uma regra. Então vou ter que passar sem isso. E meu primo só sabe instalar no Mac. Acho que vou comer charque com arroz, se arroz houver. Mas não agora, agora estou de volta ao meu quarto-ilha, e isso é ao mesmo tempo reconfortante e um tanto entediante. O que mais apreendi da estada com meu primo? Que parar de fumar e fazer uma desintoxicação no organismo fazem a pessoa, no caso ele, se sentir sensivelmente melhor. Infelizmente eu me sinto extremamente bem fumando o meu Vaporfi e um cigarro ou outro e comendo o que como. A pior parte do dia é o despertar, mas para quem não é? O Hulk está chegando. Espero que não me liguem quando estiver no meio da terapia. Não saberei, botarei em modo avião. Preciso combinar esse negócio da quarta direito com mamãe. Mas não quero falar disso agora.

2h58. Comi bastante. Vou dormir. Simplesmente não aguento mais olhar para tela do computador, para o Word agora.

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15h21. Continuo, mesmo após tantas horas de sono, meio que saturado da escrita. Pode ser porque tenha acabado de acordar e torço por isso. Afinal, é o que farei o dia todo. Colocando assim parece uma coisa tediosa e mecânica, uma obrigação. E tudo o que eu não quero que isso se transforme é numa obrigação. A escrita para mim, tem que ser sinônimo de libertação, de prazer, de diversão. No momento em que se tornar obrigação, estarei perdido. Mas creio que não seja o caso, acho que é meu mal humor pós-sono que me deixa assim.

15h48. Ouvindo ainda “Bitches Brew” de Miles Davis. Mil pensamentos me passam pela cabeça, não apreendo nenhum. Vou ver se capturo algum. A música de Miles Davis é ótima para solar improvisadamente sobre, como o meu primo urbano fez ontem. Estou sem gosto para escrever. Isso me dá um sentimento muito ruim. Seguirei escrevendo mesmo assim. Sem a escrita, a minha vida vai ser de um vazio enorme. Acho que quando acabar de comer gelo, vou tomar o café de ontem, se é que minha mãe não o jogou fora. Espero que não.

16h05. O café me reanimou mais, está quase frio, mas não importa, o importante é o impacto no humor. Minha mãe veio me indagar várias coisas, dizendo me achar ainda mais estranho que o normal. Foi chato. Ainda achou que eu estava mentindo quando me perguntou se eu estava usando alguma droga, por causa de alguma microexpressão qualquer aí que supôs que fiz e que deve ter aprendido naquele seriado que trata sobre o tema. É ficção demais para mim. Aproveitou para me passar pela primeira vez na cara o valor do Hulk. Não foi das melhores conversações que tive com ela. Por sinal, ela alugou o aparelho do joelho e meu padrasto sugeriu que fizesse várias aplicações seguidas para valer o valor do aluguel. Como a máquina é alimentada por gelo, encheram quase todas as caçambas com água de torneira e me deixaram apenas três para tomar. A máquina parece com o aspirador de pó daqui de casa. Até vermelho é. É um objeto curioso. Não sei se tire a foto, se mamãe se incomodaria com isso. Vou ver. Vou não agora, o meu padrasto saiu do quarto e foi interagir com ela. A forma como mamãe interpreta os meus textos é muito distorcida. É curioso saber que meus textos deixam brechas para interpretações tão diversas das intentadas. Acho que isso é uma falha do escritor. Pelo menos já me sinto mais em paz com a escrita do que estava no começo desse dia, acho que graças mais uma vez à santa cafeína. E anseio por mais. Mas não vou agora. Ou vou? Não há por que temer a presença do meu padrasto. Vou só pegar café, ora bolas, não vou cometer nenhum crime, não há nada do que me envergonhar. Vou lá.





16h32. Fui e voltei sem maiores estresses. Estão ambos em paz e relaxados na sala. Gosto de vê-los assim, me traz alegria. São um casal muito unido apesar das personalidades fortes e um tanto autoritárias, para dizer o mínimo. Minha mãe é que acho que vem passando por uma revolução, pelo menos no que tange a minha pessoa, está me aceitando mais, respeitando mais o meu modo de vida. Há vídeos sendo postados no grupo de WhatsApp da turma do meu primo-irmão que não tenho paciência nenhuma de assistir. São vídeos de assuntos pertinentes. Espero que minha mãe não tenha falado do Hulk para o meu padrasto. Não sei qual seria a reação dele. Minha mãe veio aqui no quarto pedir para que eu coloque os pratos na máquina. O farei. Dentro em breve. Quando o meu café acabar. Impressionante a minha mudança de humor com café, me sinto novamente um escritor aclimatado com o meu ofício. Narrando as pequenas coisas que se desenrolam no meu cotidiano. Amanhã terei que acordar às 10h00, pois tenho terapia ao 12h00. Não faço, par variar, a mínima ideia do que direi a Ju, mas algo há de surgir. Estou sentindo um calor, uma quentura anormal. Li no topo do Word que o título desse blog se refere à ida à casa do meu primo. É pena que não tenha tirado nenhuma foto. Poderia ter pedido para tirar uma foto da reprodução do túmulo de um rei não sei de que civilização que, segundo alguns ufólogos ou sei lá que nome se dê a estudiosos que caçam evidências da presença de inteligência alienígena na Terra, representa o tal rei dirigindo uma espaçonave, algo inimaginável para os padrões tecnológicos da época. Vi tudo o que o meu primo apontou e descreveu como sendo a espaçonave, inclusive possuindo detalhes como o tubo de respiração do rei-piloto, mas meu ceticismo é muito grande a respeito do assunto. Entendi o que seria a nave, a fumaça, os pedais, as manivelas de controle, mas não acreditei que quisessem representar o que os ufólogos afirmam representar. Devia ter tirado uma foto, mas o meu primo poderia achar inconveniente, por ser tão low profile.






17h04. Acabei de falar com ele para perguntar o nome do rei e ele disse que há uma versão toda outra para o que está representado na tumba, que seria a versão oficial, de que na verdade o que seria a nave é a árvore da vida, que a tumba simboliza a passagem de Pakal, eis o nome do rei, Maia, pelo que entendi, pelos mundos, que a cabeça embaixo seria uma divindade do inframundo e a ave no topo levaria Pakal para o outro mundo. Eu que nunca vi um óvni na minha vida, tendo a acreditar mais nessa versão, meu primo urbano também, embora eu ache que ele já tenha visto o que julgou ser um óvni, assim como o meu amigo da piscina, assim como o meu irmão. Tal experiência impactou de alguma forma suas visões de mundo, pelo menos os levaram a assistir programas como “Alienígenas do Passado” e correlatos. Eu que nunca vi me fecho num ceticismo duro, talvez até burro. Não digo que acho impossível, só acho muito difícil. Acredito que se fossem mandar algo para investigar os confins do universo, mandariam nanorobôs. Ou qualquer coisa pequena movida a energia solar. Mas isso é tão ficção científica quanto alienígenas grays, ou sei lá como chamam, vindo aqui à Terra. Não vou mexer nessa seara, pois dela não entendo. Sei que há mistérios na terra, de civilizações antigas, que são difíceis de entender ou explicar. Coisas que muitas vezes parecem ser fruto de uma ciência mais avançada do que se supunha haver na época. Não sei, não posso comentar. Meu primo urbano tem uma simpática coleção de lembranças dos diversos lugares que visitou no mundo, na forma, em sua parte, de bonecos tradicionais de cada localidade. Esta réplica em miniatura da tumba de Pakal faz parte dessa coleção, que fica nas divisórias do seu quarto de som. Não tratarei mais do meu primo porque senão ele vai ficar cheio de dedos de conversar comigo, com medo de que suas palavras venham parar aqui no blog. Hahaha. Sei bem como ele é e não quero que se intimide por causa disso. Falemos de mim, então. Me diverti mais do que esperava na casa dele e aprendi ainda mais lá. Não só ouvi sons que nunca teria acesso de outra forma. Vou ligar um pouco o ar. Descobri que posso degustar café sem açúcar, desde que em pequenas quantidades, como quem beberica um licor. E mais o que eu já mencionei lá em cima. Me sinto mais disposto para escrever e isso me agrada imensamente. Agora que não há mais nada a ser narrado, que eu me lembre, da ida a casa do meu primo urbano, me resta a realidade em que me encontro e as ideias e neuroses que me acometem. Estou na penumbra, a tarde está por um fio, quase dando lugar à noite, estou com o ar ligado e a temperatura e a luz me são bastante agradáveis. O som de Miles Davis passando baixinho é quase um pecado, pois percebo que é algo para se ouvir mais alto e com total atenção, mas não quero dar total atenção e não posso pôr alto porque minha mãe está tirando um cochilo e pediu para eu baixar. Como mencionei, ela me disse estar me achando ainda mais estranho. Hahaha. Então quer dizer que eu realmente vivo de um modo estranho. Isso me apetece, gosto de ser estranho, inclassificável, excêntrico. Só gostaria mais de ser um excêntrico sociável. A parte antissocial da minha excentricidade me machuca a alma e me põe a ter taquicardias antes dos encontros, uma espécie de temor forte e profundo que tenho que encarar, ao que parece, a cada nova saída. É um desafio, uma grande vontade de desistir e voltar para o meu quarto-ilha, que ontem durou uma viagem de elevador, embora o receio tenha começado bem antes como acredito que narrei acima.

17h53. Me perdi em pensamentos, rememorando as partidas de Snipperclips. Foi divertido. É um jogo muito divertido para se jogar com alguém. Embora eu seja uma negação, há um negócio de se abaixar e se levantar na medida certa que tenho extrema dificuldade de fazer. Mas isso não interessa ninguém que não tenha jogado Snipperclips, o que acho que são raríssimas pessoas no universo dos meus leitores. Me sinto pressionado a desligar o ar e ao mesmo tempo não quero fazê-lo por estar muito agradável a temperatura assim, o quarto escurinho, rolando jazz da mais alta qualidade baixinho e escrevendo. Só me faltaria mais uma xícara de café. Preciso me lembrar de amanhã acordar cedo. Não posso esquecer. Ju vai postergar o seu almoço só para me atender. Não posso farrapar. Se tivesse percebido que seria bem na hora do almoço, não teria aceitado a consulta, mas, como raramente almoço, não me apercebi de pronto. Agora já está marcado e não me sinto inclinado a desmarcar, acho que geraria confusão e ruído na existência. Acredito que eu e ela estamos com as almas preparadas para a sessão de amanhã ao meio-dia, então que seja. Meu lado antissocial já quer me por receio para tal acontecimento, mas não vou deixar. Eu não tenho em verdade muito controle sobre isso, mas já está mais do que na hora de tê-lo. Vejo meus amigos pensando na saúde e tenho um misto de inveja, por não encontrar motivação para tanto, e de alívio por não estar fazendo uma coisa que não me agrada nem um pouco. Tenho amigos sedentários como eu, como é o caso do meu amigo professor. Não saberia nomear outros para ser sincero, pois o sedentarismo não é uma coisa para se alardear por aí no mundo fitness de hoje. É quase herético se dizer assim. Mais uma neurose criada pelos tempos modernos. É uma neurose que pelo menos traz resultados estéticos bastante apreciáveis ao sexo feminino e nessa parte me agrada, as neuroticazinhas suando e malhando na academia para expor ao mundo o belo resultado de seus esforços. Tudo com dieta balanceada que as priva das coisas mais saborosas e engordantes da vida. Sou muito grato a esse esforço e privação pelos quais se submetem para tornar o mundo, o meu mundo, pelo menos, mais bonito e gostoso. Vou pegar um copo de Coca. Zero, em nome da minha parte fitness.

18h18. Peguei, estou de volta e sem assunto. Estar sem assunto é a pior coisa que pode acontecer a um escritor. Que não escreve história outra que não a própria. Muito poucas vezes me arrisco numa ficção. Quando era mais jovem era dado a escrever contos de ficção. Não escrevi muitos. Lembro que uma coisa que me agradava era que podia esticar um acontecimento rápido indefinidamente, pela simples via de adicionar detalhes a descrição do evento. Um exemplo? O dedo trêmulo e hesitante no gatilho finalmente arrumou forças no ódio que o resto do corpo sentia e apertou de uma só vez com toda força como se toda a raiva tivesse ido se concentrar no dito dedo, o dedo que acabara de decidir que a vida daquele ser em prantos ajoelhado no chão do motel, implorando por sua vida, não mais a merecia. O cano do revólver encostado em sua testa suada. O tambor rodou posicionando a bala para ser atingida pelo martelo da arma. Deu-se um coice inesperado para as mãos virgens de armas até aquele momento, mas não o suficiente para impedir que a bala percorresse o trajeto frio do cano, esmigalhando como gesso o crânio da lacrimosa figura que, à medida que o projétil lhe invadia os miolos, ia perdendo a expressão, como se algo em sua alma fosse se desligando, o que deveras acontecia. A bala saiu por detrás da cabeça abrindo um rombo. Fragmentos de ossos, cabelos, sangue e miolos explodiu no ar indo se chocar contra a parede goiaba do motel, desenhando mórbida obra de ódio e medo na inusitada tela. Pronto, assim. Eu poderia ter dito apenas uma pessoa deu um tiro na cabeça de outra num quarto de motel. Teria contado exatamente a mesma coisa, sem esticar o tempo. E todos entenderiam da mesma forma. Eu acho. Sei lá. Era o que gostava de fazer na juventude. Hoje, raras são as ocasiões em que escrevo ficção e geralmente elas são curtas e fortemente alicerçadas na realidade. Será que eu sou o mesmo cara que meu amigo cineasta começou a filmar no ano passado? Tenho forte impressão que não, que me tornei menor e mais arredio no decorrer desse tempo. Sou de todo uma pessoa pior do que era. Queria ao menos crer que me tornei um escritor melhor com a prática diária, mas acho que nem isso. Ao mesmo passo que não estou satisfeito com quem eu sou eu estou plenamente satisfeito com a vida que levo. É como se eu tivesse, com a anuência dos demais, construído a vida que me cabe melhor. A organização pretendida, a minha sina, o meu destino. Não sabia, entretanto, que para isso me tornaria cada vez mais avesso a interações sociais ou que elas se tornariam algo penoso, difícil, raramente espontâneo. Nunca tão espontâneo quanto eu com as minhas palavras. Não sei se porque monólogo. Não sei se porque a palavra escrita me venha fácil e a tela do computador seja um ouvinte completamente passivo que recebe tudo o que eu quiser lhe pôr. E me acostumei a me dar sem troca aqui e me desacostumei a trocar com as pessoas do mundo. Realmente não sei. Sei que me sinto cada vez mais distante do ser sociável que um dia fui. Talvez essa filmagem do meu amigo cineasta seja a última captura deste ser que outrora fui. Por mais que me capte apenas escrevendo. E algumas vezes jogando videogame. Eu sou uma pessoa com uma rotina ridiculamente pobre para se filmar. Se me acho ridículo? Já me achei mais, me acho peculiar, mas ridículo não, ridículo eu era quando bebia, aí fazia papel de palhaço inconveniente. Hoje não faço mais papel de palhaço, faço papel de escritor antissocial. E tanto mais antissocial me torno. A terapia é para pelo menos tentar entender esse processo. Preciso de mais Coca. Estou meio tenso ao falar dessas coisas.

19h07. Ao passar para a cozinha respirei um pouco da humanidade da minha mãe o que me deu forte convicção que estar em presença de outras humanidades, que interagir com outras humanidades é algo mágico e desejável, uma das grandes graças da existência e que tenho que encarar interações sociais dessa forma. Para isso, eu percebo que preciso mudar a minha autoimagem, esse é um bom tema para a terapia de amanhã. Minha autoimagem. Tenho receio que ela vá me mandar desenhar. Não gostaria de desenhar. E não vou tentar adivinhar como a terapia vai ser. Nem sei se eu vá trazer o tema da autoimagem realmente. Me peguei pensando na garota que me pegou e que me proporcionou as duas noites de namoro e sexo que tive nesse longo interregno de mais de uma década. Me lembrei como cheguei a ela, foi pensando na imagem que faço do meu pênis, como um pênis menor do que eu gostaria que fosse, o que me rouba muito da minha confiança sexual. Não deveria me ater a detalhes literalmente tão pequenos, mas me sentiria um outro homem com mais três centímetros de pau. Tenho 14,5 cm, que parecem ainda menos com o bucho e a gordura que tenho. Pronto revelei. Não sei se mantenha isso no texto, mas não vejo por que não manter. Já me escancaro tanto. Dizem que está dentro da média nacional, que há homens com órgãos menores seguros sexualmente, que o problema está na cachola. Sabe, às vezes, cada vez mais frequentes, penso em me isolar de vez da sociedade. Eita, em tese o Hulk vem amanhã. Amanhã tudo será revelado, o valor da tributação, se a caixa foi violada pela alfândega, o que tenho quase certeza que foi, se ele faz jus às minhas expectativas. Mamãe vai odiar. Vai me mandar vender bonecos. Amanhã vai ser um dia doce-azedo se o Hulk vier. Não quero fazer nada, só escrever e beber Coca-Cola. Minto. Quero fumar um cigarro. Acho que vou fazer isso agora.

19h42. Fiz e a Coca acabou. Preciso ir comprar mais. Acho que a cerne do meu problema foi a constatação de que a sociedade é um grande teatro e que as máscaras só caem com intimidade. Ou álcool. Hahaha. Mas, sério, ver a sociedade dessa forma não me faz bem, me inibe, me intimida, e, embora tal percepção tenha lá o seu quinhão de verdade, ela é um exagero. Eu vejo a minha vida como eu versus a existência e por existência eu coloco aí as demais pessoas, despersonalizando-as. Isso não é bom. Só consigo me sentir bem escrevendo aqui, é o meu refúgio, meu primeiro e último reduto e é algo que eu preciso tratar na terapia. Não me senti num teatro com o meu primo urbano, exceto em alguns momentos, especialmente nos momentos iniciais. Quando estávamos entretidos no Snipperclips, fomos nós mesmos e reitero, meu primo é muito mais criativo que eu nas soluções, dei os meus pitacos em algumas fases, mas ele teve uma ou duas soluções brilhantes e geralmente era quem divisava qual a forma de resolver os quebra-cabeças. Eu não sei, não sei, não sei. Tenho nítidas lembranças de quem eu era, mas não encontro mais tal pessoa em mim, a minha vida, a minha condição, a minha escrita me transformaram nesse ser antissocial que sou hoje. Acho que a culpa é da escrita também. Ela me deixa completamente à vontade, enquanto situações sociais não fazem o mesmo por mim. Acho interações sociais demandantes de algo que me falta ou que tenho muito pouco. Mas o que seria esse algo? O que me falta? Isso é uma grande questão que não sei responder. Sei que sinto a falta. Acho que vou recomeçar a andar. Ir até o Açude para começar. Vai que isso faça alguma diferença para mim. E vamos ver se esta ideia realmente cria pernas na minha cabeça a ponto de se materializar. A sensação que eu tenho é que a minha reclusão só tenderá a aumentar, a despeito de quaisquer esforços que faça. Apesar da terapia, apesar de qualquer coisa. Mas não me darei por vencido até me ver vencido. E acho que há um pouco de fatalismo e melodrama nessas colocações. Estou com saudade da Cherry Coke alemã. É muito melhor que a americana. Vai ser bom na viagem tomar o delicioso líquido fumando um cigarro. Não vai ser nada bom cruzar com os vizinhos da minha irmã. A inevitável viagem... minha mãe vai me mandar as passagens para imprimir. Espero que seja melhor do que eu estou imaginando. Geralmente é. Se não houver os vizinhos já está de bom tamanho. É só o que quero. E que me deixem quieto no meu canto a escrever. O lado bom é que os jogos de Switch europeus são compatíveis com o meu console americano, pois não há trava de região. Mas só compraria o Metroid Prime 4. Não acho que vá ser lançado até lá. Gostaria de ter o prazer de comprar um jogo na Gamestop. Não sei se leve o Nintendo Switch, embora ache que minha irmã e meu cunhado se amarrariam no Snipperclips. Mas eles podem jogar quando vierem ao Brasil. Meu deus, quando vierem todos para o Brasil, espero que me deixem escrever no quarto da empregada, ou na sala ou na varanda. Em algum lugar me deixem em paz no meu canto. Pode ser também que a terapia me ajude a descortinar um novo eu, mais sociável, mas acho extremamente difícil em curto prazo. Acho que me dizer antissocial e arredio reforça tais traços de personalidade em mim. Mas é esse o conflito que vivo e que tenho para narrar. Não posso só me ater a isso, entretanto, preciso falar de mais coisas. Do que é que me falta. Falar dos outros acho indelicado. Acho shopping um ambiente social peculiar, é como uma brotoeja do capitalismo, uma concentração de capitalismo, um templo de capitalismo, onde poucas pessoas vão para passear e a imensa maioria vai para consumir. Não digo nada de novo aqui. Então vou parar de dizer sobre isso. Acho aquele ambiente fechado um tanto anti-higiênico, em especial as praças de alimentação. Não gosto de banheiros de shopping, acho que sempre fedem, por mais que sejam limpos. Mas vou a shoppings, é onde há os cinemas mais próximos da minha casa. O que eu gosto em shoppings? Ver as gatinhas bem produzidas a desfilar. Isso vale a ida ao shopping. Um dia ainda tomo coragem e levo o meu computador para a tal da área de alimentação do shopping para escrever por lá. Não vai ser legal, pois não poderei fumar, esquece. Ou não, será que não consigo passar três horas sem fumar? Bom, sei que isso é ficção, que nunca farei isso, por mais que queira queimar minha língua nessa negação. Escrever em lugares novos traz novos estímulos a serem narrados. O que me leva de volta à ideia de ir escrever na agência em que trabalhei. Pode ser que a minha amiga falastrona faça jus a sua alcunha e fale da minha ideia para o meu ex-chefe, quem sabe. Ela já me convidou para dois eventos. Um é até amanhã.

21h12. Voltei da compra das Cocas, dei uma passada na piscina que me fez sentir ainda mais estranho, mas conto disso em breve. Ao chegar em casa, o meu padrasto me ensinou como operar a máquina que, pelo que entendi, refrigera a perna da minha mãe, o que deve ter uma função terapêutica que desconheço. A máquina é cheia de botões e comandos, mas nada que eu não consiga dominar. Consegui reproduzir sem erros as instruções do meu padrasto. Serei eu o responsável por esse cuidado com a minha mãe amanhã. Amanhã será um dia fora dos padrões da minha rotina. Com a terapia, o provável Hulk e essa máquina, promete ser um dia diferente. Por que me senti ainda mais estranho na piscina? Pois ouvi a conversa de dois jovens que tratavam do desenvolvimento da panturrilha na malhação, falavam com espantosa propriedade e profundidade do assunto, sobre o qual sou totalmente alienado. Quando o terceiro chegou, o que realmente mora aqui no prédio, começaram a conversar sobre a queima de alimentos pelo corpo humano e descobri que para processar as proteínas é necessário um gasto de calorias maior que o contido nelas. Pois é, se estivesse na mesa com eles, ficaria tão mudo quanto fiquei estando na mesa ao lado, pois não entendo patavinas de malhação e alimentação saudável. Não seria um papo, por mais esclarecedor que fosse, que me interessaria ouvir ou discutir. Realmente sou estranho. Levaram um computador lá para baixo não sei para quê. Certamente não para escrever um blog. Sentado na piscina, me deu vontade de descer para escrever lá. Como amanhã será um dia diferente, posso torná-lo ainda mais diferente indo escrever lá embaixo. Isso, lá pelas 16h00, depois de o Hulk chegar, claro. Gostaria de ir nesse horário, pois pegaria toda a transformação da tarde em noite. A bateria do computador dura umas três horas. Daria certinho. Se não precisar botar a máquina de mamãe para operar nesse horário. Estou meio perdido em pensamentos aqui. Pensando no Hulk, no calor que faz no meu quarto e em botar uma Coca para mim. Ligarei o ar e botarei a Coca.

21h38. Voltei. Missão cumprida. Já está relativamente tarde. Em breve terei a noite só para mim, mas terei que dormir mais cedo para poder acordar bem e a tempo para a terapia. Nossa, dez páginas, já? Da última vez que olhei estava em cinco. Nunca cesso de me espantar. É uma pena que esteja virando um velho resmungão. E tudo o que escrevo é uma eterna lamúria. Isso é hipérbole. Há momentos de alto-astral também. São esparsos, mas há. Sei que o assunto da socialização é dominante, mas é ele que me incomoda, me causa estranhamento e rebuliço do ser. Acho que estou com expectativas muito altas a esse respeito, eis a verdade. Ou preciso de uma namorada. Uma namorada, esse é outro assunto recorrente aqui. E um que ao mesmo me encanta e me espanta. Me aproximo da ideia e corro de medo dela ao ver o tamanho real das transformações pelas quais passaria por causa de um relacionamento. Eu que desaprendi a me relacionar. Ainda escrevo uma carta para a garota da noite. Sei que essa última frase é uma mentira, pelo menos por ora. Como o são a de descer para escrever e começar a andar. A de descer para escrever pode ser até que se manifeste, não sei se amanhã, mas na quinta, quando a fantástica faxineira estará aqui. Não. Quero que a quinta seja o mais absolutamente normal possível. Ou seja, que passe o dia aqui a escrever. Não sei, não sei. Vamos ver para que lado minha alma aponta amanhã ou na quinta. Acho que a rotina faz o assalto, mas, se fosse uma vez só para o parque do Baobá escrever lá com o computador, será que seria assaltado? Eu com as minhas sandices. Só eu mesmo para ir até lá escrever. É um lugar meio ermo, acho arriscado demais. Será que no parque da Jaqueira tem mesas? Outro lugar para escrever. Mas de todos o que gosto mais é a Praça. É aqui pertinho, comeria uma coxinha, dois pastéis e ficaria tomando Coca com gelo e escrevendo. É um caso a se considerar com carinho. Posso falar dessas ideias para Ju. Não sei se vale a saliva, se nem sei se tenho disposição para levá-las a cabo. Verei amanhã. Botei o “Bitches Brew” em modo cíclico, só me apercebi disso agora. E aumentei o volume. É um disco muito variado e rico, não sei quantas vezes tocou, mas não me familiarizei com nada ainda. O som me parece tão novo como quando o coloquei.

22h10. Se o busto Hulk é grande, imagine uma Darth Vader em tamanho original. Acabei de ver o unboxing da figura, que vem em cinco caixas e leva uma boa meia hora para montar. Além de achar bizarro ter um manequim fantasiado do vilão de Star Wars na minha casa, o preço é absurdo e a montagem complicada demais. A Sideshow fez o máximo para não parecer um manequim fantasiado, tornando a figura mais alta que um ser humano normal, ele é partido em segmentos, mas o efeito final é o mesmo. Não imagino quem compraria um negócio desses mas deve haver, tanto que fazem. Só por curiosidade vou ver o preço da peça na Sideshow. 8.900 dólares. Isso sem contar o astronômico frete. É, não é para quem quer, é para quem pode. Vou tomar logo o meu remédio.

22h23. Coçar é às vezes tão bom, um alívio prazeroso. Nossa, o Hulk, salvo algum pormenor da existência estará aqui em casa amanhã. Vou poder olhá-lo por todos os ângulos, de repente até tirar a impressora e os CDs da minha bancada para já deixá-lo exposto aqui. Tomara que dê certo. Onde colocarei os CDs e a impressora? No chão à espera da fantástica faxineira dar o seu jeito. Mas não sei se vai caber. Se for, vai ser na medida. Veremos. Espero só não me decepcionar com ele. Acho que não vou. Os bustos da Marvel da Sideshow estão entre as melhores coisas que fazem para a empresa, pois em termos de bonecos de ¼, os novos da DC dão de lavada nos novos da Marvel. Acompanharei de perto a Harley Quinn. Se a pintura for magnífica como se afigura, penso em vender o meu Boba Fett para adquiri-la. Seria uma troca sofrida, mas justa. Duvido, entretanto, que a pintura saia à altura. Mas chega de falar de bonecos, né. Chega de falar, em verdade, pois já vou em 11 páginas. Deixa eu aqui, não estou fazendo mal a ninguém, só a algum possível leitor. Hahaha. Desculpe, possível leitor. Estou querendo escrever hoje. Ainda estou com Snipperclips na cabeça. Será que meu primo está também? Olhamos por tanto tempo para aqueles dois bonecos que o negócio ficou impregnado no meu cérebro. É um jogo que tenho certeza que minha irmã e meu cunhado adorariam jogar juntos. Penso em levar o Switch só para eles poderem se arriscar no jogo. Mas quando penso em toda a bronca das alfândegas ou imigrações, sei lá como chama, isso me faz desistir. Vou deixar para quando vierem para cá. Ou não. Sei lá. Verei quando estiver perto da viagem. Acho perfeito para eles que têm a mentalidade de engenheiros. Acho que até mamãe gostaria de assistir. Decidirei. Mas o não está ganhando do sim por enquanto. Nossa, como a minha vida é fútil. Bonecos, videogames, o dilema das relações interpessoais, a falta que certas coisas me fazem. Não há muito além disso. Será que a terapia vai ser boa amanhã, com uma terapeuta esfomeada para me atender? Hahaha. Sobre o que mais poderia eu escrever? Para fazer hora até que o sono bata. Não liguei o Switch ainda, por mais que o meu primo urbano ache que não role sessão de games essa semana. É preguiça mesmo e falta de estímulo para encarar o Mario. Vou pegar Coca.

23h04. A noite é minha, mamãe e meu padrasto já se retiraram. Mas hoje não estou a fim de ir para o Desabafos do Vate. Ou estou? Vou me arriscar por lá, aqui já está muito grande.

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