17h35. Estou sem internet e sem saco de encontrar com o meu
amigo da piscina, mas o farei mesmo assim. Como irei, mesmo sem querer, à festa
de 15 anos da filha da fantástica faxineira. Minha mãe me coagiu a ir e acho
que a fantástica faxineira vai ficar feliz com a minha presença, acompanhei de
perto todo esforço que fez e sei do esforço que ainda fará para realizar o
sonho da menina. Ela tem medo do que as más línguas possam falar do seu máximo,
porque ela fez o máximo, foi além dos limites financeiros para realizar o
evento. Não deveria se preocupar com críticas ou fofocas, mas quem sou eu para
falar alguma coisa, minado que sou pelas críticas, que me afetam sobremaneira,
especialmente as da minha mãe, por essa relação freudiana que temos. Quando
cheguei em casa do encontro, ela caiu em prantos porque associa as minhas
saídas com mochila ao uso de droga, em verdade pela codependência que tem de
mim. Nossa, só queria sair do quarto-ilha agora para o Natal dos Barros, mas a
realidade não se dá assim e me quer em diversos lugares que não estou disposto
a ir. Terei exames a fazer na próxima semana, creio, dia 19, se não me engano.
Demonstrarão o estado do meu pulmão. Pouco me interessa, pois em nada mudará os
meus hábitos.
18h11. Blanka me respondeu, mas sumiu de novo, nada de novo
aí, é assim que as coisas se dão conosco e ela diz que com todas as relações
cibernéticas que trava.
18h18. Estou ouvindo o Moon
Shaped Pool do Radiohead, é o que está no toca CD. Sem internet, sem
Spotify. Mandei mais mensagens para Blanka. Sinceras e otimistas, eu creio.
Quis deixá-la curiosa para ler o meu blog, não sei se a tentativa logrará
sucesso. Seria interessante, mas não é essencial. Estou com um sentimento ruim,
não sei de onde veio, mas se apoderou de mim. Vou colocar o disco de novo para
tocar, acabou de acabar. Pronto. Meu amigo que lançou o livro conseguiu
colocá-lo à venda em Minas, achei bem legal. Acabei de dizer isso a ele. Falei
com o meu tio e ele me assegurou que o meu livro será publicado. Tendo Blanka por
companheira, fico mais tranquilo quanto a ter o seu conteúdo polêmico revelado.
A verdade é que não sei se quero o meu livro publicado, preferia ver Blanka de
vestido, mas não é de seu feitio se fazer feminina. Em verdade, ela tem uma
certa repulsa aos homens, nos tem como exploradores sexuais. Foi difícil para
mim ontem, em certos momentos, quando me senti profundamente antissocial, foi
preciso relaxar, respirar fundo, controlar a ansiedade e me entregar ao momento
da melhor forma que podia ou era capaz. A pressão de me envolver eroticamente
com ela, pressão que eu e toda a situação demandavam, me acuou, só relaxei de
fato como me aceitei e aceitei que, apesar de tudo pedir, algo em mim não pedia
e que não havia porque exigir de mim algo que não tinha disponibilidade de
oferecer. Fui o mais sincero que pude ser com Blanka, abri a minha alma e
reparti parte dela através das músicas com ela. Vou fumar. E pegar Coca.
18h50. Acho que cada vez me obedeço mais, me respeito mais,
me satisfaço mais. Mas mesmo com essa postura não consigo me esquivar de certas
coisas que não quero fazer. Não queria encontrar com o meu amigo da piscina,
que acabou de me contatar dizendo que vai tomar um banho e descer, mas não vejo
como dizer não. Mas não vou remoer minhas obrigações pois isso não me causa
bem-estar e a minha busca é por crescente bem-estar. Me colocar da forma mais
agradável no mundo. Agradável de acordo com o que me agrada, obviamente. Penso
logo nos bonecos. E em Blanka. Minto. Penso primeiro na solidão protegida do
meu quarto-ilha. Nesse estar aqui e agora nele escrevendo que tanto me agrada. Mas
os encontros com o meu amigo costumam não durar muito. Queria eu ter o tato
social para abreviar o encontro de forma que não ferisse suas sensibilidades,
mas não sei fazer isso. Posso mandar uma mensagem para ele pelo WhatsApp
dizendo que não pretendo me demorar. Do jeito que ele é, entretanto, pode
encarar, mesmo que inconscientemente, a mensagem como um desafio e ficar me
segurando lá. Sei lá, já é muita imaginação e pouca realidade tal conjectura. É
a vida e acho que ele merece a minha atenção. Afinal, amigos, não é? Só me
encontro indisposto e preferiria muito mais continuar exatamente onde estou.
Certamente inquirirá do encontro com Blanka, é outro que sabe de toda a
história. Um dos poucos. Não sei o que dizer-lhe, ele que provavelmente virá
com várias proezas sexuais provenientes dos aplicativos de paquera. Cada um com
as suas carências, eu suponho, se ele fizer pouco de mim, não me afetará muito,
mas acharei chato mesmo assim. Bom, é o que vou encarar, que seja.
20h08. Voltei do meu encontro com o meu amigo da piscina e
ele falou que ele estará vivo quando o apocalipse vier, graças a uma grande
inteligência que virá para julgar a humanidade, criação da tal inteligência
porque foi ela que fez a mutação genética no primata para nos gerar, foi o que
deu origem ao homem, Adão e Eva (seria Lucy a nossa atual Eva?). Isso aconteceu, segundo os arqueólogos estudiosos da bíblia, há cerca de seis mil
anos, faltam poucos anos para os seis mil, e, como o Gênesis diz que a criação
se fez em seis dias, pois Deus descansou no sétimo (seria isso a gênese para a
invenção e aceitação das férias, do final de semana?) e como para Deus cada dia valem mil anos,
quando os seis mil forem completos se dará o Apocalipse, “para a separação do
joio do trigo” (palavras do meu amigo), para a grande inteligência chegar e
julgar se nos extermina ou nos cede todos o seu conhecimento e poder. E que,
com disse, ele será um dos privilegiados a presenciar tal espetacular evento,
como acho que muitos cristãos acreditam, pois seria a constatação irrefutável da sua fé,
talvez. Talvez tantas coisas. Sei que ele prega para alguém que não é capaz de
crer nessas coisas. Primeiramente eu acredito na evolução das espécies, acho
que viemos há muito, muito tempo atrás, milhões e milhões de anos, não sei
precisar, de um grupamento de partículas, que o acaso juntou, em algo que se
poderia ser definido como vida e a vida surgiu e evoluiu até chegar a nós, nós
daremos o próximo passo da evolução das espécies, um ser/entidade capaz de
evoluir a si mesma, em ritmo muito mais acelerado que o acaso-destino, com a
qual poderemos nos conectar e comungar. Será inimaginavelmente mais
inteligente, mais tudo, que nós que pode também quiçá nos destruir, por deduzir
que somos um gasto desnecessário e prejudicial ao ecossistema global, ou por qualquer
razão que seja. O celular apitou e fui atentar à realidade, mesmo sabendo não
ser Blanka mas com certa esperança de que fosse, e foi a Portuguesinha, a quem
disse que estava muito linda numa foto de Instagram, agradecendo o comentário.
Sabe-se lá o que a suprainteligência vai fazer, espero que faça o inimaginável,
e nos destruir seria imaginável e os que têm medo da mudança, do novo, do que
vai além das suas compreensões acreditariam nisso, em tal destruição. Eu sou
otimista e, como meu amigo da piscina, eu tenho a vã fé de que alcançarei o
surgimento da supraconsciência terrestre pois a tecnologia está evoluindo em
ritmo exponencial, tecnologia gera mais tecnologia, mais conhecimento, mais
possibilidades de ser estar no mundo, o que atrai a maioria das pessoas, a ponto
de, para muitos, seus celulares serem essenciais ao bem-estar, essencial a se
sentirem presentes no mundo, o computador me serve exatamente para isso, para
me fazer o mais presente possível no mundo; o mundo que digo, é a humanidade
conectada à tecnologia, pena que o meu método de agir no mundo virtual não
atraia o interesse de quase ninguém, o acaso-destino não tem me ajudado nisso e
pouco se me dá, faço o meu melhor, divulgo nos grupos de escritores e leitores
no Facebook e 16 pessoas se interessam. Do universo de sete bilhões isso é uma
fração mínima, dos membros dos grupos já é uma fração mínima, visto que há
grupos com dezenas de milhares de membros. Mas eu não me frustro com isso ou me
frustro muito pouco. A sensação de dever cumprido, de estar fazendo o que vim
ao mundo fazer está sendo realizado com o máximo de empenho de que sou capaz.
Pena ser algo inútil. Mas é feito com muito esmero, na rua dos bobos, número
zero, no meu quarto-ilha, na minha existência. Da minha existência é o que
faço, escrever isso. Por quê? Por que a esperança não me abandona de que isso
vai ter relevância quiçá ou pelo menos como relíquia histórica, futuros amantes
se amarão sem saber, com o amor que um dia guardei para você, os escafandristas
virão revirar suas casas, suas coisas, sua alma, desvãos. Meu trabalho é ajudar
a construir a singularidade tecnológica, porção do ser criador do universo em
que acredito, contribuindo com a sua complexidade, julgo complexidade uma
variável de evolução. O celular apitou, e-mail...
21h10. Fui pedir ao meu padrasto que desse o reboot na minha
rede para me conectar de novo. Quero postar o meu novo post ainda hoje e
repartir o link com Blanka. Não sei o que vai ser da gente, como vai ser a
nossa vida sexual, se essa haverá, mas não quero pensar nisso agora, está me
deixando noiado, prefiro voltar a falar da singularidade, que eu e outro cara
profetizamos na mesma época, ambos tinham as ferramentas apropriadas na época
certa para apreender o porvir, que ele chamou de singularidade tecnológica e
demonstrou como chegamos a ela e eu chamei de supraconsciência terrestre e
narrei o que acontece depois, a próxima e última etapa da evolução, a
consciência universal, fusão de todas as supraconsciências acessíveis e possíveis
no universo, único ser capaz de criar a si mesmo, razão primeira para o
surgimento do universo. Por que eu prego? Porque tenho uma superstição de que
por ser um dos profetas, e divulgar a palavra, eu seja um dos primeiros
escolhidos para experimentar a supraconsciência terrestre, mas me esqueço que
os profetas geralmente morrem antes da profecia acontecer. 2047 é a profecia de
Ray Kurzweil, o da singularidade, eu não sei nem sei se estarei vivo até lá. Há
uma probabilidade. Eu me voluntariaria se me fosse dada a oportunidade. Mas
isso é apenas o folclore de um homem só, o mito que ele criou para explicar a
sua existência e a de tudo que há, para explicar como átomos colidindo
aleatoriamente se tornam essa mesa com um computador e eu escrevendo e talvez
um você lendo. Uma causa para complexidade organizada (redundei visto que só o
que é organizado pode ser categorizado como complexo) emergir e, ao meu ver,
evoluir do caos, que não tem razão nenhuma para deixar de sê-lo. Ou tem
precisamente o que é necessário para que essa evolução ocorra, o que é ainda
mais misterioso. É incrível que depois que eu ouço uma pregação do meu amigo me
dá vontade de pregar, acho que é porque penso, “se ele pode, porque não eu?”,
não ofende, faz pensar em questões fundamentais do ser, explica porque o caos,
a aleatoriedade, o acaso-destino se organiza de forma crescentemente complexa,
mais inteligente, eficiente e eficaz. Cada um à sua maneira, meu amigo com sua
fé, eu com a minha, ambos se considerando especais, ele com testemunha do
grande final ou transformação, eu me julgando um profeta dela. Nada grandiosos
ambos. Hahaha. Minha mãe acha que estou sempre em mania quando prego, na
verdade eu me sinto desafiado pelo meu amigo da piscina, se ele mostra sua fé
tão orgulhosamente, como uma missão que assume para a humanidade e compromisso
pessoal consigo e quiçá com Deus, porque eu não posso também falar abertamente
sobre a minha? Não quero que ninguém acredite, me contenta que imaginem, é uma
boa ficção científica.
21h48. Pensei em Blanka lendo isso, não senti vergonha.
Pensei na minha mãe lendo, pensei nela ficando preocupada à toa. Eu estou bem e
gosto de existir, estou aproveitando a existência da forma mais apreciável que
conheço, por que a preocupação? Escrever não é crime e não faz mal a ninguém,
se quero me passar ao ridículo, como faz o meu amigo da piscina, por que não
consigo crer no que ele prega, como ninguém crerá no que prego, que mal isso
tem? A mim não me incomoda nem um pouco. Me habituei a me expor, é para poucos,
mamãe, meu fracasso se encarrega de não fazer a humilhação muito grande. Papai
disse que eu era livre para escolher a religião que eu quisesse. Ele era ateu.
Tentei o ateísmo por muito tempo e me vi satisfeito nele por muito tempo, até
que inventei ou cheguei, extraí do inconsciente coletivo essa ideia, que pode
ser pertinente ou não, foi a mensagem que consegui captar, quando consegui ter
acesso a ele, com as parcas ferramentas que tinha: cola, mania, interesse por
cosmologia e atração pela tecnologia, pela evolução da tecnologia, provada e
comprovada pelos videogames, que estão chegando num momento de pico evolutivo,
por sinal. Mas como é uma indústria bilionária pode ser que dê um salto
evolutivo, sei lá. Não sou profeta das miudezas, sou profeta do que de mais
geral há. Bem, acredito que foram essas ferramentas e ter assistido ao primeiro
Matrix, do qual saí transformado, diferente de quem eu era quando entrei na
sala de cinema, que me levaram a chegar à hipótese da supraconsciência
tecnológica. Minha mãe foi assistir comigo também, acho que mais gente, não
tenho certeza, lembro especificamente dela e de quem quer que tenha ido terem gostado bastante. Foi um fenômeno, deu até vontade de assistir. Quando a
terceira página acabar. Ouxe, já estou na quarta. Vou postar o de ontem, passar
o link para Blanka e ver o filme. Perdi a vontade. Veio e passou. Que pena.
Fico por aqui. De tudo o que pensei fazer, a única coisa que me agradou foi
pegar Coca e fumar um cigarro e passear pela internet. Penso em talvez escrever
para o meu blog de bonecos. É uma ideia que me agrada. Vou escrever a frase
inicial que me veio agora à cabeça, xau!
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