18h07. Sem opção outra que me conforte e ocupe a alma, volto
a escrever. Encontrei com um ex-colega de trabalho na pizzaria onde, por falta
de opção, me deram coca de 2,5 litros o que torna o preço ligeiramente mais
justo. Mandei uma declaração de “amor” em inglês para o anjo do Tinder. Se tudo
é tempo da minha vida, eu uso como quiser. Queria encontrar mais gatas para
conversar, mas confesso que é difícil achar alguma que me encante mais do que o
meu anjo.
18h19. Mandei mais mensagens para ela. Sou muito
descontrolado nessas coisas. Foda-se, esse sou eu e eu não sei jogar o jogo da
sedução, eu escancaro e me entrego com o peito aberto. Se ferir, sara. Mas não
sei me entregar que não completamente, apaixonadamente. Ainda mais para a
garota dos meus sonhos. É um revés ser romântico nos dias de hoje. Fazer o quê?
Só sei ser assim. Vou fumar outro cigarro e provavelmente ouvir da minha mãe.
18h35. Não ouvi, ela debatia com a fantástica faxineira. Meu
primo urbano quer se encontrar logo mais para um papo. Não tenho muito o que
conversar, não há nada de interessante para contar.
18h53. Facebook. Só política.
19h03. Fui fumar. Estou tomado por um torpor, como se as
forças me faltassem, como se houvesse menos vida dentro de mim. Há menos vida
dentro de mim a cada segundo que passa. O tempo me consome, sou perecível.
Falta a sabedoria para aceitar com gratidão a finitude. Ou não falta, pois não
temo a morte. E talvez não a tema porque minha vida é feita de muito pouco,
quase nada, logo fácil de abrir mão. Tenho o amor maior do mundo no meu peito,
mas não tenho a quem entregá-lo. Fico na dúvida se é válido carregá-lo, talvez
seja peso morto. Minto, o amor é a coisa mais viva em mim.
20h13. Conversei com o meu primo urbano e alguma coisa está
errada na nossa relação. Não sei precisar o que é. Sei que o meu sedentarismo o
incomoda. Um pouco pelo menos. Há mim me é perfeitamente salutar e agradável.
Não sei se ele sabe da história. Espero que não.
22h29. Passei meu tempo vendo política no Facebook. Vi
Bolsonaro mencionando outra vez intervenção militar e isso me preocupa. As
armas, as armas me preocupam, meu primo urbano acha que vai ser caro ter o porte
ou posse, sei lá, de armas. Espero que esteja certo. Eu não consigo ver a
relação do aumento de pessoas armadas com o decréscimo da violência. Para mim
tal conceito é contraditório para dizer o mínimo. Mas não quero falar disso.
Quero mudar o meu astral.
22h55. Fumei, botei meu pijama, liguei o som e coloquei Virus remix, de Björk, para tocar.
Mandei mais mensagem para o anjo. Eu sou incorrigível mesmo. Peco pelo excesso.
Queria que agora emanasse poesia de mim, mas acho que esse poço secou, só a
prosa, o monólogo, me apetece. Finjo que isso encontrará a luz de outros olhos,
se os encontrou, minha alma saúda a sua, sejamos um por um momento embora
sejamos dois em tempo-espaço distintos. Acho que vou botar SugarCubes para
ouvir. Coloquei Here Today, Tomorrow Next
Week!, de que gosto muito. Me perdi no som e em memórias de Björk novinha
cantando na banda. Para mim, a mulher mais interessante, fascinante,
significativa da Terra. Ela vai entrar para a história, pelo menos para a
história da Islândia. Mas a acredito que mundial. Eu queria ter a oportunidade
e a coragem de ter uma conversa com ela. É interessante que quando comecei a
ouvir SugarCubes, eu era mais jovem que eles e agora sou mais velho do que eram
naquele vídeo que vi na Bandeirantes, eu acho. E que gravei em VHS e depois
comprei o DVD. Eu preciso utilizar mais a televisão, seja para assistir, seja
para jogar. Nossa, tenho massagista amanhã. Que vontade de não ir. Repulsa
mesmo. Mas passa, vésperas são assim. Fumar.
23h21. Acho que disse isso, mas me repetirei, se eu fosse
presidente, unificava os ministérios da educação com ciência e tecnologia e
destinaria um quarto orçamento para isso. Sim, é onde acho mais fundamental
investir. Estou pensando em Haddad e Bolsonaro, isso me aporrinha o juízo. Fui
olhar se o anjo havia visto. Viu nada. Me deu vontade de ouvir Audioslave. E
fumar.
23h38. O anjo do Tinder não viu, mas, em teoria está de
férias, passeando alhures. Foi uma boa pedida o Audioslave, podem chamar de
armação comercial, eu acho o som massa. Outra que curto bastante é The Strokes.
Tenho até duas camisetas deles. Que não cabem em mim, porque engordei, mas não
desisti do plano de perder peso e poder novamente usá-las. Só não me empenho
muito nem uso a metodologia adequada. Como uma vez por dia sempre quando me dá
a fome dos remédios, por volta da meia-noite, uma da manhã. Vou fumar um
cigarro e analisar o que há para comer.
23h55. Vou comer linguiça frita com arroz e ketchup. Não
estou com fome nenhuma. Ainda. Já tomei os remédios, é questão de tempo. Só não
entendi por que colocar colorau nas linguiças. Estava pensando em que jogo
sugerir para o meu primo urbano e só me veio Bit.Trp.Run 2 e Thomas Was
Alone. Me deu uma leve vontade de jogar videogame, mas muito leve mesmo.
0h32. Comi, vou acabar o copo de Coca e vou dormir. Tenho que
acordar cedo amanhã. Para os meus padrões. Vou colocar o alarme – odeio alarmes!
– para as 11h30.
0h36. Aproveitei e coloquei o celular para carregar. Não
posso esquecer do cheque. Acho que vou fumar o último da noite.
0h46. E acabei pegando mais um copo de Coca, mas volto com a
mente vazia. Vazia, não, mas tomada por essa antecipação da massagem. E outras
coisas mais.
0h51. Mamãe pediu para eu ver se a fantástica faxineira
havia deixado o ferro ligado. Estou preocupado com esse estranhamento do meu
primo urbano. Minha língua continua ardendo, o que será isso?
2h40. Perdido no Facebook.
3h04. Perdido no Facebook. Vou dar uma olhada no de bonecos
para desopilar e ir dormir.
-x-x-x-x-
12h19. Às 13h eu estarei partindo para o massagista. 40
minutos para acordar, tomar banho e seguir.
13h20. Me atrasei, vou ao massagista agora.
15h49. Voltei. Não foi nada traumático nem nada que tenha me
tornado um devoto das massagens. Acho que me falta espiritualidade por falta de
um termo melhor. Não sei se o fato de não “crer” na massagem altera o seu
resultado, acho que não. Marquei outra para daqui a quinze dias, onde sugeri
que trabalhássemos os músculos laterais do abdome. Depois dessa, não sei se
seguirei fazendo visto que saí, ao meu ver, do mesmo jeito que entrei. Possa
ser que essa diferença se manifeste. Uma coisa pelo menos trouxe: sono. Vou
dormir um pouco.
18h53. Dormi até mamãe chegar, ela me acordou sem querer,
querendo, fui comprar Coca na pizzaria e voltei para me dedicar a essa estranha
atração das palavras. Não vejo possibilidade de Haddad virar o jogo, ele não
está jogando o jogo certo, mas nada entendo de política. Ele está sendo muito
respeitoso com o outro. Não está batendo. Vários pontos fracos. Sei lá, pode
descambar para o caos, espero que não. Em verdade, eu estou com o meu anjo na
cabeça o que não deveria acontecer pela total impossibilidade que o episódio se
afigura.
20h59. Perdido no Facebook, na minha bolha esquerdista,
resolvi fumar um cigarro e voltar para cá, tendo em companhia um copo de Coca
gelada e o Hulk...
22h55. Me perdi na internet de novo. A minha opinião é que
não tem jeito, será Bolsonaro o próximo governante ou tirano desse país.
23h13. Minha mãe me chamou para tomar os remédios. Quem sabe
agora, dono da noite, não me afluam mais palavras que tanto me faltaram – ou eu
faltei com elas – ao longo do dia. O anjo está off-line há 14 horas, então
nenhuma novidade nesse front. Queria poder dizer para uma garota com toda a sinceridade
“eu te amo”, quase teclei essas três palavrinhas para o anjo, mas acho que
seria uma extrapolação sentimental da minha parte. Pouco sei dela, pouco ela
deixa revelar. Me encantei pela beleza exterior, pela embalagem, mas nada sei
do produto. A curiosidade é imensa, mas a oportunidade para tal não me é
oferecida.
23h29. Não consigo me concentrar no texto, nada me vem à
cabeça, meu repertório é muito restrito. Vou botar a velha lista 6 para ver se
me inspira. Minha língua continua muito sensível, bebo coca e sinto dor. Isso
me preocupa, mas acho que um desejo de morrer logo já que nada do que sonho
mais doidamente se concretiza me desamina a continuar por tão pouco. Se bem que
há o Batman e o meu quarto com a minha coleção. Gostaria de viver para ver
isso. Nada mais de plausível me apetece. Só acho porto nas palavras que me
irritam hoje por estarem tão fugidias. Fumar.
23h46. Estou ouvindo Audioslave ao invés da lista 6, está me
descendo bem. A comida é que não me desceu muito bem por causa da língua. Se eu
fosse achar uma causa para essa hipersensibilidade eu diria que o consumo de
Coca normal, por falta de opção, que comecei a fazer há cerca de uma semana,
mas não vejo nexo nessa causalidade se bebia a sem açúcar e nunca me ocorreu
nada. Fui com a cara do massagista, ele é bem pacífico, bem-apessoado e a
massagem é agradável, não ofende. Vou uma segunda vez e daí decido se
continuarei ou não com a empreitada. Ele me soou convincente quando disse que
eu estava me dando um presente, um presente para o meu corpo que tanto maltrato
ou trato com desleixo e descaso. Não cuido da manutenção, só o essencial, alimentação,
hidratação, evacuação, limpeza ocasional. Acabou a terceira página. Vou
escrever outro. Não tenho sono e não tenho o que fazer.
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