domingo, 14 de outubro de 2018

COISAS MESMAS

22h28. Acabei o outro post, disse que iria revisar, mas a minha vontade é continuar escrevendo, então escrevo. Mas não sei sobre o que escrever. Mandei uma nova mensagem para o anjo, hoje ela não me leu uma vez sequer. Isso me preocupa, dessa forma não tenho como cativá-la, como me fazer e me sentir presente em sua vida. Ainda está relativamente cedo, ainda há uma janela de tempo para que ela veja a mensagem. As mensagens. Minha mãe entrou para me dar o remédio, dizer que não gostou do que mencionei sobre a foto dos comprimidos e sobre ela e disse que eu precisava ir à Doutora, que eu não estava bem. Sabe o que é o pior de tudo? Eu não me impus, não disse que estava bem e que não acho que precise ir à psiquiatra. Ela entrou no quarto e me cobrou falta de afeto, fiquei indefeso. Sem resposta. Realmente ando menos afetuoso com ela? Hoje quase não a vi desacompanhada do meu padrasto. E dormiu muito. Mas não vou criar justificativas. Tenho que ser mais carinhoso, isso é fato. Mas quanto impelido por chantagem psicológica, parece obrigação. Ainda bem que essas coisas passam rápido para mim.

23h01. Acho que alguns dos momentos em que mais me aproximo de mim são quando uso um subterfúgio para me distanciar do meu eu cotidiano. Curioso isso. Ju não poderá me repreender porque ainda não me submeti à massagem. É uma escolha minha que preciso me sentir de acordo para fazer. Gostaria que a minha mãe ligasse, mas eu sei que Ju quer que eu tome essa iniciativa sozinho, sem interlocutores. A tomarei na segunda quando acordar, embora não esteja com grande vontade. Não tenho vontade, mas há de surgir, é algo totalmente aceitável e plausível para mim. Eita, preciso ir comprar a Coca Zero antes que a pizzaria feche.

0h10. Estive com o meu amigo da piscina, fumamos e conversamos. Ele que já viu óvni, acha que nós somos o cruzamento de uma raça alienígena. Eu quero voltar a ouvir o meu som e disse acreditar na evolução das espécies. A melhor música de todas para mim é Plainsong, do The Cure. Acabo de descobrir isso. O álbum Disintegration é do caralho. Vou comer.

0h53. Meu irmão, minha irmã, comi metade da travessa de bacalhoada. Travessa (recipiente) e travessa (trelosa) tem a mesma grafia, mas pronúncias diferentes, deve ter um nome para isso na gramática que eu ignoro. Ainda quero atacar o sorvete, mas só depois que o meu padrasto for dormir.

1h04. Porra, esqueci o celular de novo! Vou buscar.

1h06. Nessa ida para fumar pensei um bocado de coisas, mas esqueci. Acho que é o sono. Vou detonar um pouco de sorvete, fumar um cigarro e ir dormir.

1h20. Me deu vontade de assistir filme (Bicho de Sete Cabeças ou Carandiru), deu vontade ver Cidade de Deus mais uma vez no cinema, deu vontade de jogar Uncharted:3, deu vontade de dormir. Acho que essa vai ser a escolha mais provável. Está rolando um leilão com altos itens massa da Sideshow, mas não tenho grana nem onde colocá-los, o meu Batman Vai tomar muito espaço.

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17h45. Escrevi um monte para o anjo agora enquanto esperava a fantástica faxineira, mas estou sem esperanças. Ela me respondeu “oi” em meio à verborragia e só. Pelo menos me abri mais um pouco a respeito das minhas pretensões com ela. Fui bastante claro e explicativo. Não que isso vá convencê-la, mas me fez bem botar para fora. Estou fazendo um tremendo papel de palhaço grita o superego. Foda-se, só estou tentando ser feliz, do jeito que eu sei, pelos meios que eu tenho. Achei a garota ideal para mim (esteticamente, pelo menos), ela está pouco se fodendo para mim, mas eu insisto e insistirei enquanto fizer sentido para mim. Confesso que cada vez faz menos, pelo desinteresse, desatenção e desprezo dela.

19h10. Terei que ir à farmácia. Pelo menos comprarei duas Cocas na pizzaria e chamarei o Uber para a fantástica faxineira. Estou sem assunto. Esse sábado já me trouxe o que deveria trazer. Ou quase.

20h22. Voltei da empreitada, o anjo do Tinder não visualizou minhas novas mensagens. Mandei mais umas idiotas, estou até com vontade de apagar. Vou tentar apagar.

21h45. Apaguei e reescrevi dizendo a mesma coisa. Vai entender. Passei um tempo a olhar a internet. Nada de ela olhar, por sinal. Estou acostumado. Acho que vou cometer uma imprudência.

22h21. Estou como o diabo gosta, sentindo a maresia. Coca com muito gelo de lado. Liguei o ar e botei The Cure para rolar. Vou mandar uma mensagem para o meu anjo.

22h41. Escrevi um desabafo para ela.

23h05. Escrevi mais para ela, mais do que demais, fui excessivo. Eu realmente não sei lidar com garotas.

23h38. Fui matar a fome, estou satisfeito por ora. Acho que vou me recolher.

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13h23. Meu irmão, filho do meu padrasto, me tranquilizou mais em relação a iminente eleição de Bolsonaro. Disse que será apenas um péssimo governo, que as armas não serão acessíveis a todos os cidadãos e que não haverá golpe devido ao número de cadeiras conquistadas no congresso. Não sei por que, mas continuo alarmado. Acho que é o bombardeio midiático exacerbado de ambos os lados nas redes sociais. Acho que vou me deitar um pouco.

15h09. Não me sinto muito bem fisicamente, como se atacado por alguma virose que deixa o corpo mole, desejoso de cama. Resistirei.

15h17. Me sinto um pouco melhor. Acho que deitar na cama chama mais cama e isso não é legal. Sinto minha garganta um pouco dolorida, mas nada que me impeça de me exercer aqui.

15h23. Parei para ouvir um remix de Boys Don’t Cry, do Cure, da versão estendida do Mixed Up. Agora Plainsong, nossa, mudou completamente a vibe da canção, não me desagrada, mas a original é muito melhor. Meu anjo não vê minhas mensagens desde ontem. Talvez tenha exagerado. Sei que exagerei. Mas ela não saberá disso se não olhar. Poderia apagar, mas quero deixar tal registro de mim com ela. Não sei bem por que se não faz tanto sentido para mim hoje, de cuca fresca, mas algo dentro mim, que poderia chamar de intuição ou exibicionismo, não quer fazê-lo. Minha família foi ao Udon almoçar, pouparam-me de tal programa, afinal não tenho fome nos horários usuais, só à noite.

16h10. Fiz café na cafeteira que me foi ofertada por uma tia, a vantagem é que se produz mais café e ele fica quentinho por causa do aquecimento. O lado negativo é que precisa-se de filtro de papel.

16h19. Nossa, não tem nada para fazer nesse domingão. A cafeteira me traz recordações da minha melhor internação. Tínhamos duas e organizamos as máquinas perto da piscina, revezávamos na compra de café e adoçante.




16h33. A tarde está linda, dá vontade de investigar se o encontro da Vila Edna está se dando, mas acho que isso soaria desrespeitoso depois de ter me negado a ir ao Udon. Minha mãe chegou e disse que quase caiu uma vez mais e, portanto, não quer dar aula amanhã. Ela encheu o saco de dar aula, não sente o menor prazer nisso, pelo contrário. Olhei e o anjo ainda não leu as minhas mensagens. Acho que é daí para pior. Não desistirei ainda, mas não sei quanto tempo mais resistirei. É muito chato dar tanto e receber tão pouco, quase nada. Mas o que queria? Um coroa gorducho se enxerindo para uma ninfeta linda? Já acho um grande feito ela ter mantido o canal de diálogo (ou monólogo) aberto e acessá-lo de vez em quando. Vezes cada vez mais raras. Minha vida não se limita só a ela, mas a minha vida afetiva sim. Só há ela. Minto, mas a outra metade que eu tenho é um delírio maior ainda. Tenho que me resignar à minha solidão. Passei da idade, deixei de ser interessante, nunca o fui na verdade. Pelo menos me sinto mais dono de mim. A sombra do meu pai, que me oprimia, não mais obscurece o juízo de valor que faço de mim. Eu vivo num mundo ilusório e limitado, na bolha que é o quarto-ilha despejando essas palavras para manter a minha sanidade e livrar-me do tédio. Mamãe comprou Coca. Vou revezar com o café. Agora.

16h56. O lusco-fusco já me faz ver as letras da tecla com dificuldade. Digito mais devagar nesse teclado USB que no do notebook em si, mas a tecla de espaço está com defeito. Detesto essas coisas fabricadas com prazo de validade. Tudo é descartável hoje em dia. A única marca em que confio é a Nintendo. Confio na Google também. Na Google eu acredito é um verbo mais adequado, sou meio devoto da empresa e do serviço que oferece à sociedade. Vou fumar com Coca.

17h11. Acendi as luzes. Ter o anjo na minha vida é bom, mas cada vez menos bom. Não sei se terei disposição para os quatro anos. Se tivesse algum diálogo seria mais possível ou completamente possível. Mas assim é bastante desmotivador.

17h21. Estava ouvindo A Thousand Hours do The Cure e mandei um verso para o anjo do Tinder. Hoje é um dia de especial tédio. Minha vida é um tédio. Não sei como suporto. São as palavras que me salvam. Mas eu vou spice things a little bit.

17h39. Spiced it. Just a tiny iny bit. É o suficiente para tornar a minha vida mais interessante.  Muitos da minha geração emigraram, como emigraram os Barros de Macau. Todos menos dois. Que conviviam na mesma casa, mas que não poderiam ser mais diferentes. Acho que papai e o Imperador da Casqueira seriam os que se dariam melhor. Talvez ainda mais o Imperador e minha tia-vizinha, acho que eram os mais próximos. Mas não tenho certeza disso. Acho que meu pai chegou a dividir o apartamento com o Imperador em Campinas à época do doutorado da minha mãe. Quer resultou no divórcio. É interessante vasculhar as gavetas da memória. Eu tive um pai singular. Minha vida toda é bastante singular. Todas são, em verdade. Se a minha estiver fora da média é pouca coisa. A do Imperador, essa, sim, foi singular, ele marcou a história de Macau de uma forma indelével. Se por um caminho miraculoso do destino eu me tornasse prefeito de Macau, eu mandaria erguer uma estátua em sua homenagem.

18h03. Seria muito doce se o anjo respondesse a minha citação do Cure com um coração. Eu posso induzir ela a fazer isso mandando um coração, mas não vou fazer nem acho que funcionaria mesmo.

18h13. Ela me mandou uma mensagem, não sei se reproduziu para mais pessoas, talvez, o que faz de mim um ser mais irrelevante ainda.

18h22. Fumei meio cigarro para economizar. Vi que Caetano diz se parecer muito com o seu pai na idade em que está. Será que me parecerei com o meu? Acho dificílimo. Estou pensando em me deitar um pouco, mas não acho legal. Acho que vou apelar para o café com a outra metade do cigarro. Acho que não dá para mandar mensagem para todos os seguidores do Instagram de uma vez só, não. Acho que ela escreveu para mim. Seria fabuloso se ela intensificasse o contato comigo nos Estados Unidos, mas acho difícil. Vou lá no café com cigarro. Meu astral melhorou. E vou botar a lista 6 quando voltar.

18h38. Lista 6. Botei e em modo aleatório. Puxa como queria que ela tivesse mandado a mensagem só para alguns, mas acho que não. Café é uma bebida forte. “Brinco de escolher”, isso é a vida em síntese, uma brincadeira de escolhas, que nem sempre têm as consequências esperadas ou desejadas. Vivemos aprendendo com as nossas escolhas e convivendo com elas. Eu, por exemplo vou ter que escolher entre ir ou não a um massagista, decidir até segunda antes das quatro da tarde. Está difícil extrair algo. Fico prestando atenção na música, noiando com o massagista, algo que meio que me comprometi a fazer com Ju, e pensando no anjo, se ela vai ler e postar uma foto no Instagram. Não leu até agora e não lerá. Deixar a criatura viver a vida dela. Querer atenção no meio de uma escala de avião é demais. O café não está me descendo. Voltarei à Coca.

19h03. A vontade de me deitar existe. É real. Ela não mandou a mensagem só para os mais chegados, acho impossível. Está passando Menina da Lua. Coisa mais linda e canção-tema de um certo alguém. Fui longe agora. Nem vale trazer para cá. Sei que a música me é muito evocativa. Aí entra um Guns n’ Roses, que mudança radical, gostei não. Acho que vou começar a lista 6 do começo em ordem normal. É o que tenho de mais habitual, me agrada, me acostumei. Começa com outra canção-tema.

19h14. Vontade de me deitar ou fumar. Acho que vou da opção dois. Se não me reanimar deito. Se o corpo está pedindo, obedeço.


19h21. Voltei para ficar pelo menos mais um pouco. Acho que ela se preocupou em mandar a mensagem para mim. Mesmo que colando o texto. Bom, essa conversa está parecendo coisa de menino buchudo (que é precisamente o meu caso). Vou dar uma olhada na internet.

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