18h23. Antes de ler o review
da portuguesinha, o que estou morrendo de curiosidade de fazer, afinal foi ela
que me incentivou vivamente a ver o filme que dá título a esse post, eu vou
escrever as minhas impressões.
Bem, é um filme onde todos os personagens são estranhamente
contidos emocionalmente, o que cria um clima psicologicamente tenso. Todos são
frios, há um distanciamento emocional que beira o surreal. Tal estado de ânimo
se reflete nas excelentes interpretações. Mesmo a ira e o desespero acontecem
de uma forma quase racional o que faz todo o filme parecer estranho. É
definitivamente um filme estranho que gera um constante desconforto, um
inexplicável incômodo. Os acontecimentos e certas atitudes e reações dos personagens
também são surreais. É um filme que não tem intenção de explicar, deixando nas
mãos do espectador decidir sobre quais são as motivações dos personagens em
relação a determinados eventos, bem como os eventos em si e onde a verdade
reside. Para um brasileiro como eu, acredito que a coisa toda pareça ainda mais
estranha por sermos um povo afetivamente mais quente, eu creio. Destaca-se
dentre todos, Martin (Barry Keoghan), numa magistral atuação do jovem ator,
cuja escolha para o elenco deve ter sido meticulosa. Aliás, tudo nesse filme
reside na direção e atuação, visto que o roteiro em sim é vago,
intencionalmente vago. Certamente é um daqueles filmes que fica na cabeça após
tê-lo assistido. Nisso, a portuguesinha tinha razão. Se você quiser ler seu
ponto de vista acerca da obra, clique aqui, que é o que vou fazer agora.
18h55. Ela foi mais longe do que eu em todos os aspectos,
mas, ei, ela é a crítica cinematográfica e faz disso o seu hobby ou segunda
profissão, tal qual faço com os bonecos, cujo blog vai muito bem e o tomo às
vezes como a minha principal obra. Preciso reiniciar a máquina, o filme – que
assisti com mamãe na TV da sala – está no pen drive onde todos os meus arquivos
estão salvos e este não está sendo reconhecido pelo computador o que me põe
preocupado. Tive que salvar o que agora escrevo na área de trabalho. Vou
reiniciar a máquina para ver se ao fazer isso ela reconhece novamente o
dispositivo. Tomara!
19h26. Funcionou! Graças. Vou assistir com mamãe agora
“Avengers: Infinity War”, nada mais contrastante. Dessa vez vou salvar no HD
externo. Não quero comprometer o meu precioso pen drive.
22h34. Acabei de assistir, uma megadose de entretenimento
hollywoodiano da melhor qualidade, poucos são os momentos para recuperar o
fôlego. Gostei bastante, um dos melhores filmes da Marvel. Até o vilão, embora
computadorizado, presta. Só a teoria dele é que não tem o menor sentido, visto
que seres vivos se reproduzem. E pensar que tudo não funcionou por causa da ira
de um coração partido. Como a mensagem é muito cifrada, creio não estar dando
um odioso spoiler. Estou saciado de
filmes no momento. Um não poderia ser mais diferente do outro. Ambos foram
experiências interessantes e satisfatórias. Fico curioso em relação a como será
o próximo filme da Marvel. Se dará sequência a esse “Infinity War”. Os
roteiristas terão de ser muito mirabolantes, mas no mundo dos quadrinhos tudo é
possível. Muito filme de um só vez me cansa mentalmente. Amanhã tenho o
aniversário do meu primo para ir. Não posso deixar de comparecer até pelo
combinado com o meu amigo redator.
23h02. Vou me dedicar um pouco ao maravilhoso mundo dos
bonecos.
-x-x-x-x-
23h35. Acabei de chegar do aniversário do meu primo-irmão.
Interagi razoavelmente e conversei sobre isolamento – o meu, no caso – com o
nosso amigo filósofo (e psicólogo) e ele me lançou a questão: “mas você quer
interagir com as pessoas?” Fiquei perplexo que realmente não tinha muito
interesse em interagir com a maioria das pessoas. Raras são aquelas que me
deixam realmente confortáveis e cujo relacionamento não requer (muito) esforço
da minha parte. Perguntaram se eu estava virando misantropo (o que eu aprendi
hoje significar o repúdio/rejeição à humanidade). Disse que amava a humanidade
e que a achava fantástica. Tal constatação da minha falta de vontade em
interagir me deixou um tanto cabisbaixo, triste e preocupado. Já na piscina do
meu prédio tentando espantar o desconforto com a minha postura introvertida
frente ao mundo, em especial em relação aos meus amigos, a única coisa que me
trouxe algum contentamento foi a aquisição da boneca da Rebel Terminator. Patético.
-x-x-x-x-
14h02. Acordei num baixo-astral, não sei por quê. Acho que
por causa da pergunta do amigo filósofo-psicólogo que me calou tão fundo e cuja
conclusão a que cheguei não me agradou nem um pouco. Também a conclusão que
meus amigos são sexualmente confiantes e que eu vivo numa hesitante negação em
relação a esse assunto tão crucial para a humanidade desde sempre. Além do mais
todos pareciam estar se divertindo mais do que eu, vendo mais sentindo naquilo do
que eu. Também estavam bebendo. Posso contar isso como um fator, mas não o
determinante. Fato é que o meio social, se posso chamar assim, onde me sinto
mais confortável hoje em dia é a comunidade de bonecos. Parece que o efeito socializante
da viagem está passando. E isso me preocupa, mas me preocupa mais o desinteresse
pelo social. Não preciso, não sinto necessidade de muitas pessoas, queria ter
apenas uma a qual dedicar a minha atenção e energia emocional, uma namorada.
Até a palavra me assusta. Estou tão fora de forma que vivo a sentir câimbras se
me curvo ou me dobro mais do que o normal. Não tenho a mínima motivação para
fazer algo a respeito, entretanto. Eu tenho o alento de que todos os meus
problemas estão dentro da minha cabeça. Às vezes penso que é o pior lugar para
estarem. Pelo menos eles inexistem para além de mim e isso me agrada. Desagrada
o fato de não saber e não ter esperanças de solucioná-los. Deposito toda a
minha expectativa numa pessoa que não existe em minha vida e que não vai haver
da forma que as coisas andam e vão. Amanhã tenho Ju, estou receoso de encontrá-la
ao mesmo passo que estou desejoso de que ela me traga alguma luz.
15h00. Me causa admiração como existem opiniões bem formadas
acerca das coisas, eu alienado de tudo que sou, sei cada vez menos das coisas,
a vida vai se tornando à medida que o tempo passa cada vez mais misteriosa, por
mais que tenha visto mais dela. As certezas de outrora se esfarelam esmagadas
pela cruel marcha que me empurra para a morte. Do meu amigo que morreu tive
praticamente a confirmação que sucumbiu ao inferno existencial que o rodeava.
Pelo menos não estou mais no inferno existencial, talvez me encontre no purgatório,
o que me é suportável mesmo que incômodo. Quando penso em quem gostaria de
encontrar não me vem ninguém possível. Apenas Ju. Acho que estou com uma
espécie de ressaca social. Também me incomoda a falta de vontade de fazer
coisas outras que não sejam atreladas ao meu notebook e à escrita. Não sei
porque o meu universo de interesses se tornou tão restrito. E compreendo menos
ainda por que há uma parte de mim que se agrada disso. Que se sente totalmente
confortável e completo com apenas isso. E não é parte pequena, é a maior parte
de mim, o que para mim é óbvio, senão seria impelido à mudança. Não é o que
ocorre. A portuguesinha não comentou o meu post anterior que foi praticamente
todo dedicado a ela, sinto que desperdicei palavras, mas isso – desperdiçar palavras
– é a minha especialidade. Assim como desperdiçar a minha energia emocional.
Sinto cada vez menos as emoções. Tenho que me conformar que só tenho como
alento as palavras e o recém redescoberto maravilhoso mundo dos bonecos. A
incrível revisora ainda não me mandou a versão revisada do livro maldito.
19h48. Estou de volta pro meu aconchego, fui visitar a minha
avó. Amo. A cabeça não está com a clareza de outrora, mas, apesar de muito
ligada ainda a vovô, está ótima para a idade que ostenta. A incrível revisora
mandou o livro revisado e enxuto. Resta-me agora reler a coisa toda, mas não estou
com a mínima disposição. Há um desejo de fazê-lo, entretanto, para enviar ao
meu tio e ver o que pode fazer com o material.
20h19. Respondi o e-mail da incrível revisora. Ela é o
máximo, o e-mail foi extenso e demonstra a pessoa formidável que é. Ouvindo “Você
é Minha” lembrei-me do que mamãe comentou no carro a respeito de “Sacred Deer”,
disse para dizer a você, portuguesinha, que o filme é bom, pois ela conseguia
se lembrar do filme todo, o que não aconteceu com “Infinity War”. Me sinto
menos miserável do que quando acordei. Isso é bom. Essa mania de viver a me
martirizar, embora meio inevitável, muito cristalizada, não faz bem à alma. A
sensação que tenho é como se a vida estivesse em carne viva e qualquer mínimo movimento
me causasse sofrimento, por isso continuo o mais imóvel que posso. Tornei-me
hipersensível e me acovardei, aninhado na mesma posição. Por mais que quando me
abra ao novo, geralmente me faça bem. Como a viagem. Não fui por opção, mas por
falta desta, e revelou-se ser uma experiência sui generis, encantadora, onde
encontrei uma pessoa que ainda permanece viva e vívida na minha cabeça.
22h27. Me perdi nas infinitezas de momentos alegres do Instagram.
Tudo é belo, lindo e maravilhoso. Me sinto menor diante de tanta felicidade. Não
tenho sorrisos para capturar, nem momentos para compartilhar. Talvez este, do
aniversário do meu primo-irmão. Risos posados para a foto.
eu estou lá no fundo, no meio. |
22h40. Fui fumar um sempre bem-vindo cigarro. Esta terceira
página custa a acabar. Da foto acima presume-se uma vida social ativa e alegre
da minha parte. Quem me dera. Sempre soube rir em fotos, um superpoder que eu tenho.
Hahaha. Acho que Caetano vai estar indelevelmente ligado à portuguesinha na
minha psique. Curiosa essa curva do acaso/destino.
0h27. Um cara que adicionei como amigo, um desconhecido (adiciono
vários, todos desconhecidos, no meu alter ego criado para lidar com o maravilhoso
mundo dos bonecos, visto que não conheço ninguém que colecione o que eu
coleciono e, pelo que vejo nas comunidades do Facebook, há muitos como eu, é o assunto do meu próximo
post lá, em termos), o cara surgiu no Messenger agora e essa conversa se
desenrolou:
hey welcoem
thanks for the add
how do u do
🙂?
I'am fine.
And you, how it's your life in the other side of the screen?
do u have
instagram please?
No, I
don't. But even if I had why would a give to a person I just met?
lol
nice work
How's that?
Why your
profile only have police news? I love the question on your avatar, by the way. You
work at Abbot Publishing. What do you publish?
0h42. Curioso. Há pessoas estranhas como eu. Ou era um perfil
falso e o cara queria fazer um scam
comigo. Sei lá, ele parou de falar. Não deixa de ser um evento cibernético
interessante e surpreendente. Acabou-se a terceira página. Foto que eu peguei
no perfil do nosso amigo. Bem que poderia surgir um bloco do carnaval de Olinda
chamado os zumbis onde os integrantes se vestiriam e se maquiariam de acordo.
A frase no
avatar dele era “if sand is little pieces of sand then are rocks big pieces of
sand?” Com um velociraptor desenhado ao fundo. Duas fotos que achei
interessantes e que parecem ser obra do interlocutor:
Xau.
YESSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS! Finalmente viste!!!!! Que bom :D Mas gostaste ou não? Fiquei na dúvida!!!
ResponderExcluirOi! Em relação ao “Sacred Deer” eu também fiquei na dúvida se gostei ou não. Achei, como experiência (psicológica e cinematográfica) muito interessante e válido, a execução é soberba em todos os aspectos (até nos efeitos sonoros), mas a história é tão cheia de furos (o maior deles sendo como ocultaram o assassinato do caçula da sociedade, e outros, menos importantes, como, por exemplo, como a menina sem poder usar as pernas conseguiu cigarros para fumar) que isso me irritou um pouco. Se encarar como encaro uma obra de Lars Von Trier, diria que gostei. Gosto em geral das obras que me causam incômodo e me impressionam de alguma forma. Achei que o filme é praticamente uma obra surreal e encarando dessa forma é ótima, bom ver que o surrealismo não morreu. Gostei dos filmes surrealistas que assisti (um ou dois. Hahaha). Acho que, em suma, tenho sentimentos ambíguos em relação ao filme. Mas achei que valeu muito a pena tê-lo assistido, se isso significa alguma coisa. Passa longe do entretenimento banal e foge dos clichês, é um filme bastante autoral onde a marca do diretor se faz presente do início ao fim. Sei mais o que dizer não. O que queria realmente dizer é que eu queria que você lesse o post anterior a esse e o comentasse, por mais que nem me lembre direito do que se trate, só lembro que é importante para mim. Beijo. Espero que sua vida esteja agradável de ser vivida. Já a minha...
ExcluirUAU, que analítico. That's cool. Mas devo dizer que não gosto de Lars Von Trier pese embora tenha visto alguns filmes dele. Porque é tão chocante que não dá para ver, uma pessoa sente-se atraída por cenas macabras. Bom, eu pelo menos.
ExcluirAposto que a tua vida é mais agradável do que pensas, cmon. Não sejas negativo!!
Btw, o Avengers é TÃO BOM OMG!!!! EXCITING
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