segunda-feira, 13 de agosto de 2018

THE KILLING OF A SACRED DEER






18h23. Antes de ler o review da portuguesinha, o que estou morrendo de curiosidade de fazer, afinal foi ela que me incentivou vivamente a ver o filme que dá título a esse post, eu vou escrever as minhas impressões.

Bem, é um filme onde todos os personagens são estranhamente contidos emocionalmente, o que cria um clima psicologicamente tenso. Todos são frios, há um distanciamento emocional que beira o surreal. Tal estado de ânimo se reflete nas excelentes interpretações. Mesmo a ira e o desespero acontecem de uma forma quase racional o que faz todo o filme parecer estranho. É definitivamente um filme estranho que gera um constante desconforto, um inexplicável incômodo. Os acontecimentos e certas atitudes e reações dos personagens também são surreais. É um filme que não tem intenção de explicar, deixando nas mãos do espectador decidir sobre quais são as motivações dos personagens em relação a determinados eventos, bem como os eventos em si e onde a verdade reside. Para um brasileiro como eu, acredito que a coisa toda pareça ainda mais estranha por sermos um povo afetivamente mais quente, eu creio. Destaca-se dentre todos, Martin (Barry Keoghan), numa magistral atuação do jovem ator, cuja escolha para o elenco deve ter sido meticulosa. Aliás, tudo nesse filme reside na direção e atuação, visto que o roteiro em sim é vago, intencionalmente vago. Certamente é um daqueles filmes que fica na cabeça após tê-lo assistido. Nisso, a portuguesinha tinha razão. Se você quiser ler seu ponto de vista acerca da obra, clique aqui, que é o que vou fazer agora.

18h55. Ela foi mais longe do que eu em todos os aspectos, mas, ei, ela é a crítica cinematográfica e faz disso o seu hobby ou segunda profissão, tal qual faço com os bonecos, cujo blog vai muito bem e o tomo às vezes como a minha principal obra. Preciso reiniciar a máquina, o filme – que assisti com mamãe na TV da sala – está no pen drive onde todos os meus arquivos estão salvos e este não está sendo reconhecido pelo computador o que me põe preocupado. Tive que salvar o que agora escrevo na área de trabalho. Vou reiniciar a máquina para ver se ao fazer isso ela reconhece novamente o dispositivo. Tomara!

19h26. Funcionou! Graças. Vou assistir com mamãe agora “Avengers: Infinity War”, nada mais contrastante. Dessa vez vou salvar no HD externo. Não quero comprometer o meu precioso pen drive.

22h34. Acabei de assistir, uma megadose de entretenimento hollywoodiano da melhor qualidade, poucos são os momentos para recuperar o fôlego. Gostei bastante, um dos melhores filmes da Marvel. Até o vilão, embora computadorizado, presta. Só a teoria dele é que não tem o menor sentido, visto que seres vivos se reproduzem. E pensar que tudo não funcionou por causa da ira de um coração partido. Como a mensagem é muito cifrada, creio não estar dando um odioso spoiler. Estou saciado de filmes no momento. Um não poderia ser mais diferente do outro. Ambos foram experiências interessantes e satisfatórias. Fico curioso em relação a como será o próximo filme da Marvel. Se dará sequência a esse “Infinity War”. Os roteiristas terão de ser muito mirabolantes, mas no mundo dos quadrinhos tudo é possível. Muito filme de um só vez me cansa mentalmente. Amanhã tenho o aniversário do meu primo para ir. Não posso deixar de comparecer até pelo combinado com o meu amigo redator.

23h02. Vou me dedicar um pouco ao maravilhoso mundo dos bonecos.

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23h35. Acabei de chegar do aniversário do meu primo-irmão. Interagi razoavelmente e conversei sobre isolamento – o meu, no caso – com o nosso amigo filósofo (e psicólogo) e ele me lançou a questão: “mas você quer interagir com as pessoas?” Fiquei perplexo que realmente não tinha muito interesse em interagir com a maioria das pessoas. Raras são aquelas que me deixam realmente confortáveis e cujo relacionamento não requer (muito) esforço da minha parte. Perguntaram se eu estava virando misantropo (o que eu aprendi hoje significar o repúdio/rejeição à humanidade). Disse que amava a humanidade e que a achava fantástica. Tal constatação da minha falta de vontade em interagir me deixou um tanto cabisbaixo, triste e preocupado. Já na piscina do meu prédio tentando espantar o desconforto com a minha postura introvertida frente ao mundo, em especial em relação aos meus amigos, a única coisa que me trouxe algum contentamento foi a aquisição da boneca da Rebel Terminator. Patético.

-x-x-x-x-

14h02. Acordei num baixo-astral, não sei por quê. Acho que por causa da pergunta do amigo filósofo-psicólogo que me calou tão fundo e cuja conclusão a que cheguei não me agradou nem um pouco. Também a conclusão que meus amigos são sexualmente confiantes e que eu vivo numa hesitante negação em relação a esse assunto tão crucial para a humanidade desde sempre. Além do mais todos pareciam estar se divertindo mais do que eu, vendo mais sentindo naquilo do que eu. Também estavam bebendo. Posso contar isso como um fator, mas não o determinante. Fato é que o meio social, se posso chamar assim, onde me sinto mais confortável hoje em dia é a comunidade de bonecos. Parece que o efeito socializante da viagem está passando. E isso me preocupa, mas me preocupa mais o desinteresse pelo social. Não preciso, não sinto necessidade de muitas pessoas, queria ter apenas uma a qual dedicar a minha atenção e energia emocional, uma namorada. Até a palavra me assusta. Estou tão fora de forma que vivo a sentir câimbras se me curvo ou me dobro mais do que o normal. Não tenho a mínima motivação para fazer algo a respeito, entretanto. Eu tenho o alento de que todos os meus problemas estão dentro da minha cabeça. Às vezes penso que é o pior lugar para estarem. Pelo menos eles inexistem para além de mim e isso me agrada. Desagrada o fato de não saber e não ter esperanças de solucioná-los. Deposito toda a minha expectativa numa pessoa que não existe em minha vida e que não vai haver da forma que as coisas andam e vão. Amanhã tenho Ju, estou receoso de encontrá-la ao mesmo passo que estou desejoso de que ela me traga alguma luz.

15h00. Me causa admiração como existem opiniões bem formadas acerca das coisas, eu alienado de tudo que sou, sei cada vez menos das coisas, a vida vai se tornando à medida que o tempo passa cada vez mais misteriosa, por mais que tenha visto mais dela. As certezas de outrora se esfarelam esmagadas pela cruel marcha que me empurra para a morte. Do meu amigo que morreu tive praticamente a confirmação que sucumbiu ao inferno existencial que o rodeava. Pelo menos não estou mais no inferno existencial, talvez me encontre no purgatório, o que me é suportável mesmo que incômodo. Quando penso em quem gostaria de encontrar não me vem ninguém possível. Apenas Ju. Acho que estou com uma espécie de ressaca social. Também me incomoda a falta de vontade de fazer coisas outras que não sejam atreladas ao meu notebook e à escrita. Não sei porque o meu universo de interesses se tornou tão restrito. E compreendo menos ainda por que há uma parte de mim que se agrada disso. Que se sente totalmente confortável e completo com apenas isso. E não é parte pequena, é a maior parte de mim, o que para mim é óbvio, senão seria impelido à mudança. Não é o que ocorre. A portuguesinha não comentou o meu post anterior que foi praticamente todo dedicado a ela, sinto que desperdicei palavras, mas isso – desperdiçar palavras – é a minha especialidade. Assim como desperdiçar a minha energia emocional. Sinto cada vez menos as emoções. Tenho que me conformar que só tenho como alento as palavras e o recém redescoberto maravilhoso mundo dos bonecos. A incrível revisora ainda não me mandou a versão revisada do livro maldito.

19h48. Estou de volta pro meu aconchego, fui visitar a minha avó. Amo. A cabeça não está com a clareza de outrora, mas, apesar de muito ligada ainda a vovô, está ótima para a idade que ostenta. A incrível revisora mandou o livro revisado e enxuto. Resta-me agora reler a coisa toda, mas não estou com a mínima disposição. Há um desejo de fazê-lo, entretanto, para enviar ao meu tio e ver o que pode fazer com o material.

20h19. Respondi o e-mail da incrível revisora. Ela é o máximo, o e-mail foi extenso e demonstra a pessoa formidável que é. Ouvindo “Você é Minha” lembrei-me do que mamãe comentou no carro a respeito de “Sacred Deer”, disse para dizer a você, portuguesinha, que o filme é bom, pois ela conseguia se lembrar do filme todo, o que não aconteceu com “Infinity War”. Me sinto menos miserável do que quando acordei. Isso é bom. Essa mania de viver a me martirizar, embora meio inevitável, muito cristalizada, não faz bem à alma. A sensação que tenho é como se a vida estivesse em carne viva e qualquer mínimo movimento me causasse sofrimento, por isso continuo o mais imóvel que posso. Tornei-me hipersensível e me acovardei, aninhado na mesma posição. Por mais que quando me abra ao novo, geralmente me faça bem. Como a viagem. Não fui por opção, mas por falta desta, e revelou-se ser uma experiência sui generis, encantadora, onde encontrei uma pessoa que ainda permanece viva e vívida na minha cabeça.

22h27. Me perdi nas infinitezas de momentos alegres do Instagram. Tudo é belo, lindo e maravilhoso. Me sinto menor diante de tanta felicidade. Não tenho sorrisos para capturar, nem momentos para compartilhar. Talvez este, do aniversário do meu primo-irmão. Risos posados para a foto.

eu estou lá no fundo, no meio.



22h40. Fui fumar um sempre bem-vindo cigarro. Esta terceira página custa a acabar. Da foto acima presume-se uma vida social ativa e alegre da minha parte. Quem me dera. Sempre soube rir em fotos, um superpoder que eu tenho. Hahaha. Acho que Caetano vai estar indelevelmente ligado à portuguesinha na minha psique. Curiosa essa curva do acaso/destino.

0h27. Um cara que adicionei como amigo, um desconhecido (adiciono vários, todos desconhecidos, no meu alter ego criado para lidar com o maravilhoso mundo dos bonecos, visto que não conheço ninguém que colecione o que eu coleciono e, pelo que vejo nas comunidades do Facebook,  há muitos como eu, é o assunto do meu próximo post lá, em termos), o cara surgiu no Messenger agora e essa conversa se desenrolou:

hey welcoem thanks for the add
how do u do
🙂?


I'am fine. And you, how it's your life in the other side of the screen?

do u have instagram please?

No, I don't. But even if I had why would a give to a person I just met?

lol
nice work

How's that?
Why your profile only have police news? I love the question on your avatar, by the way. You work at Abbot Publishing. What do you publish?

0h42. Curioso. Há pessoas estranhas como eu. Ou era um perfil falso e o cara queria fazer um scam comigo. Sei lá, ele parou de falar. Não deixa de ser um evento cibernético interessante e surpreendente. Acabou-se a terceira página. Foto que eu peguei no perfil do nosso amigo. Bem que poderia surgir um bloco do carnaval de Olinda chamado os zumbis onde os integrantes se vestiriam e se maquiariam de acordo.



A frase no avatar dele era “if sand is little pieces of sand then are rocks big pieces of sand?” Com um velociraptor desenhado ao fundo. Duas fotos que achei interessantes e que parecem ser obra do interlocutor:






Xau.

4 comentários:

  1. YESSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS! Finalmente viste!!!!! Que bom :D Mas gostaste ou não? Fiquei na dúvida!!!

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    1. Oi! Em relação ao “Sacred Deer” eu também fiquei na dúvida se gostei ou não. Achei, como experiência (psicológica e cinematográfica) muito interessante e válido, a execução é soberba em todos os aspectos (até nos efeitos sonoros), mas a história é tão cheia de furos (o maior deles sendo como ocultaram o assassinato do caçula da sociedade, e outros, menos importantes, como, por exemplo, como a menina sem poder usar as pernas conseguiu cigarros para fumar) que isso me irritou um pouco. Se encarar como encaro uma obra de Lars Von Trier, diria que gostei. Gosto em geral das obras que me causam incômodo e me impressionam de alguma forma. Achei que o filme é praticamente uma obra surreal e encarando dessa forma é ótima, bom ver que o surrealismo não morreu. Gostei dos filmes surrealistas que assisti (um ou dois. Hahaha). Acho que, em suma, tenho sentimentos ambíguos em relação ao filme. Mas achei que valeu muito a pena tê-lo assistido, se isso significa alguma coisa. Passa longe do entretenimento banal e foge dos clichês, é um filme bastante autoral onde a marca do diretor se faz presente do início ao fim. Sei mais o que dizer não. O que queria realmente dizer é que eu queria que você lesse o post anterior a esse e o comentasse, por mais que nem me lembre direito do que se trate, só lembro que é importante para mim. Beijo. Espero que sua vida esteja agradável de ser vivida. Já a minha...

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    2. UAU, que analítico. That's cool. Mas devo dizer que não gosto de Lars Von Trier pese embora tenha visto alguns filmes dele. Porque é tão chocante que não dá para ver, uma pessoa sente-se atraída por cenas macabras. Bom, eu pelo menos.

      Aposto que a tua vida é mais agradável do que pensas, cmon. Não sejas negativo!!

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  2. Btw, o Avengers é TÃO BOM OMG!!!! EXCITING

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