Acabei de descobrir que faço quase tudo que prejudica a
produção de espermatozoides saudáveis (menos beber). Descobri também o lado bom
de escrever aqui. Não preciso pensar, basta dizer. Além desses dois fatos,
descobri que, mesmo sem comentar, a portuguesinha ainda me lê! Descobri também
que é bem melhor quando ela lê e comenta. Hahaha. Fazer o quê? A vida é uma
besta indomável que raramente vai aonde a gente quer. Estou frustrado com um
experimento que estou realizando no maravilhoso mundo dos bonecos, nossa, como
é difícil mobilizar pessoas. Fiz até um desabafo em uma das comunidades para
ver se isso angaria mais participação dos colecionadores, creio que vá ser em
vão. A ideia era sugerir à Sideshow através de uma votação (cujo link enviei
para a empresa) quais os personagens que os colecionadores mais queriam ver lançados,
mas a taxa de adesão à ideia é mínima tendo em vista o universo de membros das
comunidades. É frustrante. É frustrante saber que hoje, mais uma vez, não vou
inaugurar o Charteuse verde porque meu padrasto está em casa e reprovaria o meu
consumo da bebida. Voltando ao maravilhoso mundo dos bonecos, contatei meu
irmão para organizar a venda de parte da coleção que lá está estocada, tendo em
vista angariar fundos para aquisição de duas ou três novas peças. É um trabalho
injusto com ele, visto que terá que embalar, encaixotar, medir, pesar e
fotografar os bonecos, além de levar os que foram vendidos ao correio. Ele vai
ficar muito chateado. Não sei nem se vai querer me ajudar. Existência, besta
indomável. Bom, tomara que me ajude. Perguntei à minha irmã se a estátua do
post anterior, que pretendo adquirir, lembrava Natalie Portman, ela respondeu
que só conseguia ver a Gatinha, minha ex, na figura. Curioso, como os olhares e
percepções podem diferir tanto.
0h33. Estava mergulhado no maravilhoso mundo dos bonecos
tentando angariar suporte para a minha votação sem muito sucesso. Bem, fiz o
meu melhor, ralei nas comunidades de Facebook por largas horas e o resultado
foi pífio. É difícil engajar pessoas mesmo que em prol do próprio bem. Só me
resta esperar que amanhã tenha angariado mais votos dos membros de outras
partes do mundo com fuso-horários diferentes do meu. Encontro-me mentalmente
cansado, o maravilhoso mundo dos bonecos é muito cheio de estímulos que se
sucedem rapidamente.
-x-x-x-x-
14h11. Um grande amigo meu faleceu. Um cara superinteligente,
espirituoso, criativo de um senso de humor afiadíssimo. Passava por uma crise e
o destino o levou. Antes disso, redescobriu o valor da família e reatou os
laços com os pais. Acho que partiu daqui injustiçado, mas com a missão
cumprida. Para quem quiser prova de sua sagacidade, leia as postagens do seu
blog Boraver. Vale a pena e garantirá boas risadas. É uma pena todo o
potencial roubado da existência, as futuras realizações que não serão, todo o
tudo que poderia ser. Não entendo. Eu continuo aqui, ele se foi. Isso me fez
ter um pouquinho mais de medo da morte, mas não o suficiente para mudar meus
hábitos, mesmo sabendo que a maioria deles abrevia a minha estadia no meu
corpo. A morte não tem lógica, é irracional, não tem razão ou explicação. Quem
merece e quem não merece morre nos momentos mais indevidos, tão indevidos que
cruéis. A longevidade de alguns me gera repugnância, da mesma forma que a
partida de alguns tão cedo me causa profunda cisma. É a vida e segue. Para
alguns. E mais, para alguns não meritórios de tal dádiva, rol em que me incluo.
A única coisa que tenho a dar é amor. Mas é amor em vão, visto que sua maior
parte não tem destinatário, é desperdiçado como torneira aberta sem ninguém
lavando as mãos ou pratos. Por que batiam panelas e não mais batem? Gostaria de
saber a comoção ignorante que levou a isso e que não leva agora. Não entendo de
política, muito menos do caos que agora está instaurado no país, então não vou
tratar de panelas e Bolsonaros. Nem votar eu posso, minha condição de incapaz
me nega esse direito democrático primordial. Não saberia em quem votar
tampouco. Até o momento. Tenho uma leve inclinação, mas não vou compartilhá-la
aqui porque ainda falta ouvir as demais peças desse jogo. Ademais é uma raposa
velha e tal fato me enche de incertezas. Sou desobediente de mim mesmo, me
propus a me calar sobre o assunto e desato a falar. Do que não entendo. Não
entendo como a economia cresce nos EUA apesar de Trump. Isso para mim só mostra
que a economia nada tem a ver com política. Ou se tem é muito pouco, pois acho
que Trump não governa, os EUA são uma instituição acéfala. Agora eu quero falar
de política internacional. Ridículo! Hahaha. Chega.
14h35. Minha amiga disse que a sedução é um jogo de ganhar e
dar espaço. De expor seus desejos em relação ao ser desejado e dar espaço para
que este demonstre de volta. A coisa unilateral cansa a ambos os lados, tanto o
que só dá quanto o que só recebe. Já vivi isso. Eu era o que recebia muito mais
do que dava e desamei por conta dessa presença excessiva de afeto. Aprendi
bastante com esse relacionamento. Não me arrependo dele. Das coisas, só me
arrependo de mim mesmo. De não ter falhado desde o ventre. De ter me feito
homem inútil. Sinto enorme culpa por ter tudo e não fazer nada para merecer isso
a não ser assinar petições de internet (assinei uma por sinal pela
descriminalização do aborto). Meus textos de nada valem e não são lidos. E os
que são lidos – os de bonecos – de nada acrescentam. Se bem que estes também
nada acrescentam. Só me deixa feliz pensar que lá do outro lado do oceano a
portuguesinha, calor da minha alma (não sei até quando), lê. É tão pouco para
quem poderia amar tanto, tanto. Tenho medo de me apaixonar. Tenho medo e
incômodo de viver para além do meu quarto-ilha. Me sinto cada vez mais
estranho, uma estranheza que causa estranhamento e desconforto a mim mesmo. Há
algo de fundamentalmente errado comigo. Espero que Ju me ajude. Interessante
que não me senti assim durante a viagem, fui outro sendo eu mesmo. Estava
confortável comigo, comunicativo, expansivo até. Me apaixonei até. Em vão como
todas as outras paixões que tive depois da Gatinha. Quem dera minha vida
começasse mesmo aos 40 como diz a camisa que comprei no ano passado. Os 40 anos
me pesam e só. Nada começou, tudo continua a mesma coisa. O que aconteceu foram
mais sonhos mortos. O tão sonhado livro, enterrado vivo e pulsante. Ainda não
superei isso. Mas aqui vale mais o bom senso que a paixão. Infelizmente.
Faltou-me coragem de encarar as desastrosas consequências de me ver, enfim
escritor. Se bem que me foi dito que nenhuma editora iria aceitar livro com
conteúdo tão ofensivo. Parece que todas as minhas tentativas são fadadas a
frustração, infecundas. Todo o meu esforço, no pouco que me esforço, é para
absolutamente nada. Ouvindo “força estranha”. Uma força estranha me leva a
escrever porque nada mais me resta ou nada mais eu busco. Desaprendi a buscar,
não me sinto bem buscando.
17h53. Tomei enfim o Chatreuse verde, confesso que após beber
me senti meio dormente, não sei se foi psicológico ou se por causa dos 55% de
álcool que a bebida tem. Delicioso. Tive uma longa conversa com mamãe, que me
acompanhou na degustação. Lembrei da portuguesinha entre um papo e outro.
Passamos uma hora ou mais conversando na varanda. Acho que foi terapêutico para
ambos. Minha mãe disse que nunca me achou um fracassado ou teve vergonha de
mim, só acha que eu tenho problemas. Isso foi reconfortante, mas não cala tão
fundo a ponto de validar a minha existência para mim mesmo. Preciso de muita
terapia ou muito amor, enfim. Tive vontade de confessar minha intenção de
adquirir duas novas bonecas, mas achei que era ousado demais e faria ela ter um
surto de ira. Ela disse que acha que dá para reformar o meu quarto e banheiro
antes do final do ano. Seria um sonho. Estou pesaroso em relação ao e-mail que
mandei para o meu irmão. Mas que se há de fazer se já está feito? Não falei
além do que me vinha ao coração. Temo magoá-lo. Odeio magoar alguém,
especialmente, mas não apenas, pessoas amadas. Portuguesinha, você não me sai
da cabeça, será efeito ainda do Chartreuse? Hahaha. Acho que não, é porque esse
espaço é motivado principalmente por você desde que a conheci. Soubera você a
enorme diferença que faz... não, melhor não saber. Deixa isso para lá. Estou
ouvindo o disco de Caetano que servirá de base para o show. O bom é que ele é
uma recolecção de músicas emblemáticas (e outras um tanto obscuras) do
repertório do compositor, então não terei que decorar novas músicas para
apreciar o espetáculo.
19h00. Acho que a forma mais alienante da minha alienação é
mergulhar no maravilhoso mundo dos bonecos. Alguém se preocupar com a cotação
ou a pintura de determinada estátua de super-herói é o cúmulo da futilidade,
ainda mais levando isso tão a sério quando a exploração sexual de menores na
Nigéria, assunto da última petição que assinei. Chega a ser bizarro, mas me
diverte à beça e me desliga das minhas dores. Da dor maior que é o vazio de
viver a minha vida. A preenche com a mais abismal banalidade, mas a preenche de
qualquer forma. Preferia ter a portuguesinha na minha cama para namorarmos e
conversarmos, mas isso é uma impossibilidade. Então me fecho no meu mundo
particular com outros aficionados por esse estranho e caro fenômeno da cultura
pop. Quem dera eu tivesse o meu quarto pronto antes do final desse ano. Minha
coleção enfim exposta. A promessa foi feita. Mas promessas são feitas para
serem quebradas. Assim como corações. O meu pelo menos, todo remendado, mas insistente
e faminto de afeto. Mas não quero falar do que não vai ser, por mais que meu
coração siga pulsando esperançoso, racionalmente eu sei que a probabilidade de
novo amor, amor correspondido, é quase nula na minha vida tal qual se dá. Tal a
qual a conduzo, isolado no meu quarto-ilha, onde não surgirá nunca ninguém
interessante e desejável para que eu possa cortejar. A minha realidade não
condiz com novos relacionamentos. E desisti de viver de outra forma. Desisti de
viver quase tudo. Vivo com muito pouco. Me escondo da vida. Não sei mais
desabrochar para o mundo. É como se quisesse me recolher dentro do útero. Uma
regressão comportamental que não sei como evitar. Sinto vergonha de me confessar
assim, como vergonha causa toda confissão. Vivo hoje principalmente à espera de
migalhas da portuguesinha e dos debates e novidades do maravilhoso mundo dos
bonecos. Chego a pensar em ver um filme ou começar um game, mas algo mais forte
dentro de mim me nega isso, me desvia de quaisquer possibilidades. Se saio para
o mundo é mais por obrigação que por prazer. Sei cada vez menos viver longe das
palavras e da internet, às vezes penso se não desenvolvi certo grau de autismo.
Não, não é o caso, vejo e entendo muito bem o mundo, só estou perdendo o
interesse por ele. Ele não me apresenta nada de convidativo. O que há de
convidativo, a beleza e a juventude femininas não me acham convidativo.
Escrever isso dói. A realidade em sua maior parte para mim dói. Tornei-me
demasiado frágil, delicado, sensível. Um bebê de 41 anos de idade. Como isso se
deu é um mistério. Mas algo parecido se deu com o meu amigo que morreu, por
circunstâncias semelhantes. Era só (de amante), não conseguia se aceitar de
todo por causa do peso de seu passado, havia retornado ao seio do lar. Mas me
comparar a ele é o mesmo que comparar deus a um sabugo (eu sendo o Visconde de
Sabugosa da história). Queria eu ter ideias geniais. Cansei de ter ideias. Ou
as tenho só para o que não tem uso, como a enquete que fiz no maravilhoso mundo
dos bonecos para tentar determinar que novo personagem os colecionadores mais
queriam que fosse lançado pela Sideshow, algum diferente da dobradinha Batman e
Wolverine que todo ano é lançada e relançada. Tudo inútil, pois não houve a
adesão necessária dos membros da comunidade. Esforço em vão. E deu trabalho
fazer e mensurar a pesquisa para fazer a shortlist
com os 20 personagens mais desejados e lançar a enquete e tentar angaria
participantes para ela. De toda sorte reparti a enquete com a fabricante, fiz o
máximo que pude por uma coisa esdrúxula, ridícula que em verdade nem me
interessa, pois nenhum dos personagens da lista me despertam a alma. Fiz pelo “greater good” mas é difícil fazer isso,
tentei canalizar a massa, mas seres humanos são aleatórios e imprevisíveis e a
adesão foi mínima ao projeto. Nada posso fazer a respeito disso. Nada posso
fazer a respeito de nada. A coisas são como são e não tenho vontade de mudá-las.
Tentei. Tentei conquistar a portuguesinha, mas ela já tinha um ninho com outrem
que ama e tem admiração, o reparte com o mundo em seu blog de fotos. Tentei
inverter a situação e fazer o consumidor determinar o produto a ser produzido.
Falhei. Tentei ser feliz, não consegui e não consigo. Então me resigno em não
ser infeliz. Diante de toda infelicidade negra e dolorosa que já vivi, está de
ótimo tamanho. Sou um abençoado, não tenho quase responsabilidade alguma, que
posso mais eu desejar? Nossa, entrei na quarta página e nem me apercebi, o
texto me flui de tal maneira, num fluxo tão intenso e ininterrupto que me rendo
a ele. É muito bom entrar nesse estado, quase num transe, catarse. Talvez seja
culpa do Chatreuse. Se for, foi muito bem-vindo, adoro essa conexão tão fluida
comigo mesmo. Por mais que não traga boas notícias a meu respeito, apenas constatações
da mediocridade de que me cerquei e na qual tanto mais adentro. Eu estou
perdendo a minha humanidade, num egocentrismo tão gigantesco que desfazê-lo
parece-me uma tarefa impossível. Então fujo para dentro dele, desse delírio
ególatra. Me alieno de tudo. E a dor ainda me alcança. Está bom, já disse
demais. Dane-se eu. Foda-se eu. Vou me alienar de mim noutro lugar. Nossa, como
sinto falta da minha vida de casado. Por sinal tenho que criar coragem para
responder a entrevista que a Gatinha fez. Será meu próximo post, está decidido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário