13h29. De volta à labuta. Não posso encarar isso como labuta
senão perco todo o tesão de fazê-lo. Vi um texto muito mais curto que o meu
postado no Facebook e não tive paciência para ler, imagina ler um do tamanho
dos meus. Realmente é um grande desperdício de palavras. Mas desperdiçar
palavras é o que faço de melhor então continuarei seguindo essa trilha peculiar
que se afigurou como cerne da minha vida. A incrível revisora ainda não me
mandou os seus dados e nada posso fazer em relação a isso. A não ser a boa e
velha espera. Não vou cobrar porque acho chato. Será que ela já pegou no meu
material? Acho difícil. Não sei o que a impede se não o fez ainda. Será que
está à espera da resposta de Seu Raimundo, resposta esta que pode nem vir? Sei
lá, só me resta esperar. Torcendo sempre pelo melhor. Vou beber água para
poupar Coca. Ou vou fazer o café. É acho que vou. Meu post anterior, pelo
título, não vai angariar muitos leitores. A não ser pela pergunta que lancei
sobre a capa. Talvez isso estimule alguém a ler ou pelo menos ver a imagem da
capa.
14h05. Fiz o café, mas desastradamente, melei tudo e tive
que limpar, um saco. Mas está feito, pouparei Coca e terei a cafeína necessária
para me manter no estado de ânimo que tanto me apetece e que acredito ser
derivado dos níveis de cafeína no meu sangue. Já me sinto mais animado com a
primeira xícara já sorvida, isso é bom. Vou ligar o ar que o café me esquentou
o corpo.
14h12. Fui trocar a camisa – a do Imperador da Casqueira –,
pois estava toda melada de pó de café devido à minha completa falta de destreza
em fazer o negro líquido. É complicado equilibrar o filtro num funil redondo
enfiado na garrafa térmica! Hahaha. Pelo menos para mim se mostrou um desafio
no qual não obtive o êxito que esperava, na minha empáfia de que seria uma
tarefa fácil. Hahaha. Bom, estou de volta e assuntos não me vêm. Reparti com o
meu amigo da piscina o post anterior onde narro o seu acidente de moto logo no
início, mas ele não me deu resposta. Dentro em breve a bateria do meu celular
arreará e ficarei pelo menos duas horas incomunicável pelo WhatsApp. O que não
é ruim, mas confesso que já estou meio condicionado a ficar conectado ao
aplicativo pelo meu computador. Bom, minha amiga revisora pode me acessar pelo
Facebook e pelo e-mail, não há problema. Se resposta vier de Seu Raimundo
também se dará por e-mail. Só ficarei incomunicável com o meu amigo da piscina.
Bom, é a vida e só recarrego o meu celular quando ele arreia completamente a
bateria e só o coloco na tomada desligado, até que a luzinha se torne verde,
para poupar a vida útil da bateria. Sei que quase mais ninguém faz isso, mas
sou um dinossauro. Tirei ontem uma foto do painel de botões do elevador de
serviço que serve ao prédio há cerca de 25 anos e que será trocado por algo que
suponho pior, menos robusto e resistente que o que foi fotografado. Como ele
será interditado amanhã, quis guardar uma recordação para posteridade. E por
que não, imortalizá-lo na Google postando a foto aqui? É uma ideia boba, mas
que me apraz.
Adivinha em que andar eu moro. :P |
14h25. É sensível a diferença de humor com ou sem café.
Agora me sinto bem, feliz. Sou dependente da cafeína, não me resta dúvida. Não
sei onde mamãe está, onde foi. Ela falou comigo ao me dar o remédio matinal,
mas não lembro de nada que me disse, sonolento que estava. Só da reclamação de
que havia percebido meu movimento de cinco da manhã, quando fui fazer xixi e,
como sempre, fazer uma boquinha na cozinha. Não consigo emagrecer. Parece que
finquei o pé nos 95 quilos e não saio daí, oscilo um quilo a mais ou a menos,
mas disso não passo. E estou cada vez ligando menos para isso. Por mais que
seja extremamente exigente esteticamente em relação a possíveis paqueras. Dizem
que mulher liga menos para isso, mas tenho lá as minhas dúvidas. A obsessão
pelo corpo, ostensivamente divulgada pela mídia, torna todos observadores
neuróticos dos atributos estéticos do possível pretendente, sejam homens ou
mulheres. Não caibo em academias, entretanto. Prefiro ficar com o meu bucho e
com as minhas palavras. Minha mãe se preocupa à toa que só faça isso da vida. E
mais, se preocupa em vão, pois não pretendo mudar a minha rotina se é assim que
me alegra mais viver. “Landlady” passa no som. Música que só me remete à
liberdade de ser e estar aqui no meu quarto-ilha, devidamente “cafeinado” a
escrever. É um modo de me colocar no mundo que me agrada muito, é a forma que
aprendi ou desenvolvi para encarar a existência com o máximo de prazer que me é
possível. Mas percebo que a cafeína é essencial. Nossa, que diferença para a
apatia de ontem, verdadeiro marasmo emocional. Com café me sinto mais vivo,
mais desperto e mais alegre, de bem com a vida. Sem ele, me sinto desmotivado,
entediado, desanimado. É uma diferença substancial. Ainda bem que não tornaram
a bebida ilegal. Hahaha. Mas com essa mania de politicamente correto nem sei,
mas duvido. Para os politicamente corretos há o descafeinado. Acho que isso é o
suficiente. Além do que o café é uma tradição e até uma arte em diversas partes
do mundo. Talvez seja tão ou mais consumido que álcool. Não tenho dados para
aferir isso, é só uma especulação. Embora em quantidade de litros duvido. O
café é mais pontual e bebido em menores quantidades que as bebidas alcoólicas.
Deixa de falar asneira, Mário! Falar do que não sabe. É mesmo superego
hipercrítico, você tem razão. Vou falar de uma coisa que entendo muito bem, eu
adoro o meu busto do Hulk iluminado pela luz do dia, é a luz que mais revela
sua estupenda presença. A mim não me impressiona mais, se tornou o meu
companheirão, mas percebo que aos demais é bastante impactante. Acho uma
delícia apreciar a reação das pessoas quando o veem. E coloquei ele do ângulo
que acho mais invocado, como se olhasse para a janela. Ele visto totalmente de
frente não é tão interessante é bom um pouco de lado do jeitinho que está
agora. Vou tentar tirar uma foto, por mais que fotos nunca façam jus a figura
em pessoa e distorça suas proporções.
14h52. Vamos ver se os 2% de bateria aguentam o envio do
Hulk por e-mail. Ele aparece muito nesse blog, mas é uma parte importante da
minha vida. Olho muito tempo para ele por dia, especialmente durante o dia e a
tarde quando suas cores ficam mais vivas e salientes os contrastes. Imagine
você passar o dia escrevendo com essa figura ao seu lado, ela clama por
atenção. E eu dou. Vou pegar uma xícara de café.
Continua sendo mais legal ao vivo! |
14h56. Hoje não estou produzindo nada de interessante, mas
isso não me incomoda como incomodava ontem. Ao contrário, não poderia estar
menos preocupado com tal fato. Se ninguém ler, ninguém leu, hoje escrevo para
mim. E isso é uma delícia, queria poder tratar todos os assuntos que passam na
minha cabeça, mas meu superego, pertinentemente me proíbe. Que seja, posso
transformar isso num tratado sobre o Hulk, pouco se me dá. O que vier – e for
permitido pelo superego – eu coloco aqui. Só deixo o superego de lado quando no
Desabafos do Vate e no “Diário do Manicômio”. Lá, naquele confinamento, foi
onde me senti mais livre do superego para escrever. E por isso temo tanto o
conteúdo do texto, pois me revelo completo, com todos os meus defeitos de
caráter e atos imorais colocados abertamente. E, mais, não é uma crítica ao
sistema manicomial, o que vai torcer ainda mais narizes, é minha experiência de
vida tentando mais que sobreviver, aproveitar o que o lugar tinha a me
oferecer. Foi lá que se consolidou o meu hábito compulsivo por escrever. Se bem
que acho que isso já vinha desde a internação anterior, mas não gosto do texto
da outra internação, por isso decidi não publicá-lo. Embora ache que o tenha digitado.
Mas não acrescenta muito e o meu estilo é ainda mais pobre do que o que agora
ostento. Em uma palavra, ficou uma grande porcaria. Mas foi o embrião da minha
compulsão pela escrita este da Clínica de Drogados. Mas eu acho que ela – a
compulsão pela escrita – só se confirmou na minha quarta, eu acho, internação
no Manicômio, que foi a que documentei mais incansavelmente. E desde que saí,
escrevo. Em aviões, salas de espera, em saídas com os meus amigos e, claro,
principalmente no meu quarto-ilha. De onde não saio senão por uma boa razão.
Aqui é o meu reino. Aqui eu sou o rei. As leis são minhas (com intromissões do
reino da minha mãe na legislação), meu quarto-ilha é como a Irlanda na
Grã-Bretanha que é esse apartamento. Minha mãe é a primeira-ministra. Hahaha.
Que viagem troncha do caramba. Não sei se essa reforma no meu quarto-ilha, se
houver, virá para o bem ou para o mal, tão acostumado estou com como ele é
agora. Mas acredito na possibilidade de que o ambiente venha a se tornar menos
caótico e especialmente que todos os meus bonecos e bonecas fiquem expostos. E
há muitos. Há muitas coisas no meu quarto. A arquiteta terá que operar um
verdadeiro milagre para que todas caibam. Talvez tenha que me desfazer da
maioria dos livros, visto que não tenho real interesse em lê-los. São mais
reminiscências de papai que guardo. Como o são as cinzas no armário. Mas as
cinzas são algo macabro e espero que consigamos, eu e meu irmão, jogá-las na
maré de Macau. É um assunto que é recorrente de uns posts para cá. Acho que
porque digitei o Diário. Não me lembro se faço menção desse fato lá, porque
sinceramente não lembro se já havia sido cremado à época, mas menciono muito
Areias que é colada no meu coração à Macau. São uma entidade única e
indissociável na minha memória.
15h29. Perdi o fio da meada conversando com o meu amigo da
piscina agora. E tanto faz. Pensei em tirar uma foto de onde os restos do meu
pai estão guardados, o que é bem macabro e bastante irônico. Tirei a foto e o
celular arreou. Sei que estará carregado antes que me dê por satisfeito de
escrever isso.
Ironia. Cinzas de um morto numa caixa de Natal. |
15h37. Coloquei o celular para carregar. Vamos ver quanto
tempo demora para atingir 100% uma vez mais. Se bem que não vou ficar
pastorando celular para saber quanto tempo dura a recarga. Não tenho
disponibilidade para isso, não. Sei que carrega bem mais rápido que o anterior.
E a bateria, na minha opinião, dura mais, mas a do outro tinha anos de uso, é
normal que a bateria vá perdendo sua capacidade de armazenamento com as
recargas. Por isso mesmo uso desse expediente de só carregar quando o telefone
desliga sem energia. Dizem que dura mais assim e eu, que a cada dia sou mais
afeito a superstições, acredito nessas superstições do mundo moderno, no
esoterismo das tecnologias que não compreendemos completamente. Eu sou uma
completa negação com o celular. Uso o básico e olhe lá. A quantidade de
aplicativos e funcionalidades que possui me é acachapante. A mim me serve de
WhatsApp, Uber, telefone e câmera. Graças a meu primo urbano, eu uso o WhatsApp
conectado pelo computador, o que é uma mão na roda, ou melhor, duas mãos no
teclado, o que torna muito mais fácil a comunicação pelo aplicativo que afora o
Google talvez seja o software mais usado no planeta. Outra especulação sem
fundamento da minha cabeça.
16h13. Abri a janela para ventilar e a claridade sem o
filtro que coloquei na janela ressalta ainda mais o Hulk. Meu amigo da piscina
disse que talvez passe aqui no sábado. Se eu não tiver nenhum programa, é claro
que irei ter com ele. Mas preciso sair, ver o mundo. Faz uma ou duas semanas
que não saio. Minto, fui à casa da minha tia-mãe para o aniversário da minha
prima e só. Vamos ver se mamãe chega com disposição para procurar o comprovante
de residência, único empecilho para que mande o “Diário do Manicômio” para o
concurso de literatura. Obviamente não terei chance alguma, visto que não tenho
talento, minha história é tediosa e não aborda brasilidades, além de que é um
concurso nacional. E não há restrições à inscrição de escritores experientes no
concurso. Ou seja, Seu Raimundo, se quiser, pode mandar sua obra para
concorrer, que chance tenho eu? Ou até figuras menos cultuadas, mas com muito
maior domínio da técnica da escrita que eu podem se inscrever só por causa do
prêmio de 20 mil reais. O negócio é que tenho tudo pronto para participar, só
me falta o bendito comprovante de residência. Acho que mamãe vai chegar e ir
direto para o seu cochilo. Talvez à noite me ajude a procurar. Talvez. Bom, se
não participar, é a vida. E continua bela, pois há pessoas belas e amadas nela.
Por enquanto, pessoas que também me amam, mas que, se publicar mesmo o livro e
lhes cair em mãos, irão me renegar. Esse pensamento não me sai da cabeça, mas
estou disposto a enfrentar uma realidade socialmente hostil se Seu Raimundo
disser que o texto é relevante. Se ele der o aval, farei o que puder para
publicar. Mas isso são só ilusões por enquanto. Pode ser que não leia e não
responda. Meu estilo pode ser demasiado pobre, demasiado genérico, frouxo,
vago, chato, repetitivo, sei lá. Queria contar a meu amigo Marinheiro que
acabei de digitar o texto e que este foi para a revisão.
16h37. Mandei pelo Facebook a mensagem. Se ele algum dia
acessar novamente, saberá. Ele que achava que eu nunca teria coragem de
digitar, estava quase certo. Mas botei uma cenoura na frente do nariz e ela me
motivou a seguir até o fim. Ainda revisei umas cinco vezes. Cinco vezes e meia
para ser mais preciso. Parei depois de mandar para a minha amiga a incrível
revisora. Que até agora não mandou os seus dados. Não sei o que ocorre. Também
mamãe não está em casa, de nada adiantaria. Mas gostaria muito que me mandasse
hoje, detesto dívidas. Fica aquela luzinha piscando na minha cabeça. É um saco.
Queria me livrar logo disso. Da primeira parcela da revisão, visto que, pelo
número de páginas, ficou pesado de uma vez só. Ou minha mãe assim achou. Então
que seja em duas vezes, mas que eu me livre da primeira. A outra será só quando
ela me entregar sei lá que tipo de revisão. Aí fico mais relaxado. E ela talvez
fique mais comprometida com o trabalho. Talvez esteja esperando a opinião de
Seu Raimundo. Sei que chamar a pessoa de Seu Raimundo é estranho, mas não quero
causar uma avalanche de e-mails com obras na caixa de correio dele. Seria
sacanagem com o bom velhinho. Será que ele começou a ler a minha obra? Não faço
a mínima ideia, mas a possibilidade certamente me empolga, me enche de infantil
excitação. Há um ponto da minha vida que se tornou um divisor de águas e nunca
me esqueço, quando fiz uma redação que a minha professora achou tão excepcional
que me chamou no final da aula para me congratular e estimular. Ainda me
lembro, era para construir o texto com frases curtas. Ela ficou de tal forma
surpresa com aquilo e eu de tal forma impressionado com a sua reação que nunca
me esqueci desse dia, há mais de trinta anos. Até hoje me move acreditar que o
traço de brilho que minhas palavras tinham ainda resplandeça de alguma forma
aqui e agora. Fora que elas são as minhas melhores amigas. Ou escravas. Mas não
gosto de pensá-las de forma tão dominadora. Em vez de me ver como dono delas,
como tendo posse das palavras, prefiro vê-las como parceiras do meu cotidiano,
me emprestando as ferramentas para que possa me dizer desse jeito torto e
desajeitado que me ponho. Raras são as vezes em que vejo beleza no que escrevo,
mas também são raras as vezes que tento impor tal beleza. Poesia. Careço de
poesia e não me convém a poesia. É mais difícil dizer uma coisa de forma bela
do que simplesmente dizê-la nua e crua. E eu prefiro a nudez. Mas poderia
pensar num poema para colocar aqui. De novo isso? Estou sem inspiração nenhuma.
Mas vou tentar. O que sair fica.
O mundo é confusão
O formigueiro humano semeia o caos
E tenta extrair dele alguma ordem
E cria leis e se pune
E quer o do outro
Pois não se contenta com o seu
Pois não se contenta com o seu
O mundo é confusão
De sons, barulhos e apitos
De falas, choros e canções
Cada vez menos canções
Cada vez menos poesia
O ser humano deixou para trás
Eu deixei para trás
Um belo cisne chora
Perdido no meio da confusão
Dos homens e leis dos homens
A manada segue
Cada vez mais insensível
Às chibatadas
Minha mãe chega
Graça que é a desgraça de outros tantos
Tenho sorte de ter uma mãe
Que valha o peso da palavra
A sua imensidão
Ajudo-a e o farei como puder
Metidos que estamos nessa confusão
Que é o mundo
17h09. Minha mãe chegou e tive que ir ajudá-la com as
compras. Vai precisar se operar do joelho, se é a solução, que seja e que
venha. Mas só o fará depois da viagem. Essa viagem que ainda está a uma
distância segura de mim, então não me põe desesperado. Quem me conhece sabe que
não gosto de viagens e espero que, com o joelho melhor, mamãe possa fazê-las
sozinha. Mas se se fizer mister acompanhá-la, não tenho outra alternativa. Como
disse no poema. Se é que aquilo acima é um poema eu que nada sei das letras e
suas nomenclaturas. Sou bicho-solto na escrita e isso me agrada muito. Estivera
eu atado a fôrmas e fórmulas, a categorias e normas, não estaria escrevendo.
Prefiro ser livre e dizer meu verbo como me vem, como quero ser dito, sem
complementos nominais ou adjuntos adverbiais, que para mim são outra língua
diferente da que exerço. Escrevo por instinto e pelo pouco de leitura que tive
na vida. Deus me agraciou com uma boa educação e eu, aluno mediano, aprendi com
ela o meu quinhão. Pouco lembro do que me foi ensinado, mas pelas palavras pode
se medir o quanto eu aprendi tanto quanto a minha ignorância. Elas não o meu
espelho, ou, metáfora ainda melhor, a tela em que me pinto, meu autorretrato.
Pois o espelho revela apenas o aspecto e a pintura revela a alma. Ou assim me
parecia quando pintava, pintava de dentro para fora. Meu braço uma extensão da
minha alma. Como aqui minhas mãos a representam, bem ou mal, com português
pouco e miúdo, mas sinto que me representam. Gosto de dizer-me e de dizer-me é
o que mais gosto. Parece que a poesia se impregnou um pouco em mim. Que seja.
Se o texto me vem ligeiramente mais poético tanto melhor, torna a leitura um
pouco mais bela, um pouco mais viva. Se estou enganado sobre haver poesia neste
parágrafo pouco se me dá. Me deleito com a minha prosa da mesma forma. Não
canso e não cesso de me contar. Conto primeiro para mim mesmo e depois, sem
nenhum pudor, ou com o mínimo deste, para o mundo. Ah, me deu vontade de ser
poeta, de primar pela beleza, mas ouso preferir o conteúdo, ou a falta dele,
pois este texto me parece vazio de coisas válidas, de coisas sólidas como a
xícara de café ao meu lado. Minha mãe me perguntou do meu tio, o que disse que
iria me ajudar a publicar o livro. Disse-lhe que perdi as esperanças, que as
deposito agora em Seu Raimundo que pode vir a me animar ou destruir o meu
sonho, ou temendo isso, resolver calar e não me responder. Então ficarei igual
a esposa de um soldado de guerra a esperar sem notícia por um homem que tombou
sem vida nas trincheiras. Essa foi
forçada de barra, admito, mas me veio, então fica. Me lembrou uma música do New
Order que não me recordo o nome. Nem se soubesse diria para não estragar a
surpresa final. É do álbum “Low-Life”,
uma das minhas prediletas desse álbum. Pesquisei. Vou dizer logo qual é,
dane-se, “Love Vigilantes”. Pronto. Preste atenção na letra se saca inglês.
Bom, parece que a poesia se foi de vez dessas paragens. Hahaha. Vou pegar um
copo de Coca, pois o café acabou.
17h42. Conversei um pouco com a minha amada mãe. Ela me fez
propaganda do novo filme da Marvel, “Infinity War”. Mandei uma mensagem para o
meu amigo jurista o convidando. Veremos. Mas acho que ele anda tão atarefado
que não sei se vai conseguir. A música me desconcentra, acho que vou voltar
para U2, “Songs of Experience”, resolvi dar uma sacada em New Order e fico
prestando atenção nas músicas, não no texto. Pode ser que daqui a pouco vire
som ambiente também. Por que esperar se posso ter som ambiente agora ouvindo o
do U2?
17h50. Coloquei. Bem mais tranquilo, bem ambiente mesmo.
Estou em casa de novo, território para lá de conhecido, venho ouvindo
incessantemente esse disco desde que saí da internação porque ele tem o
maravilhoso sabor da liberdade que nem a droga, nem o internamento me
proporcionaram. Por isso ouço, para reafirmar que estou livre, por mais que
fique preso nessa repetição maciça do disco. Me agrada, pois não empata os meus
pensamentos, só quando passa “Landlady”, aí paro um pouco para ouvir. Essa para
mim é a que tem mais sabor de liberdade e é a mais bela do disco. Acho que é a
única que gosto de fato. Mas me acostumei com o resto e há algumas
relativamente legais. Só que a resenha musical parou aí. Nem lembro mais sobre
o que estava escrevendo antes dessa divagação musical. Ozzy. Acho que falava da
pouca poesia que reside em mim. Que seja pouca, já foi maior, mas acho que a
preguiça de escolher palavras bonitas me impede de exercê-la. A preguiça é o
meu pecado capital, por mais que, queira ou não queira, eu trabalho
incessantemente, com raros intervalos, construindo esses textos, os revisando,
buscando imagens. Eu vivo para o meu trabalho. Mas meu trabalho é um trabalho
sedentário e espontâneo, portanto exige o mínimo de esforço da minha parte e
por isso me é tão delicioso, por isso e por um exibicionismo que já nasceu
comigo. Lembro de imitar Fagner com uma guitarra de plástico quando tinha três
ou quatro anos, então o artista vive em mim, já querendo aparecer. Mas ele não
quer aparecer de forma poética, não é sua real vocação, a minha real vocação.
Às vezes acho que tenho um princípio de dupla personalidade. Hahaha. Coloco a
culpa dessas manifestações no superego. Hahaha. Fui olhar para os meus e-mails
para ver se uma das pessoas que está com o meu texto me mandou alguma
comunicação e nada. Mas não vou cair em ansiedades hoje. Hoje tomei café, uma
garrafa, estou tranquilo. Penso em fumar um cigarro, mas só depois de comer o
sanduíche que mamãe está fazendo para mim e ao qual eu não soube ou tive como
negar, pois, por mais que esteja sem fome, não comi nada hoje e ela faria
chantagem emocional para me fazer comer. Visando pular essa parte, aceitei de
pronto tudo o que ela me apontou. Faz com a melhor das intenções, eu sei, mas
não estou com vontade nenhuma de comer. Entretanto me submeterei a este ato de
extrema boa vontade de sua parte, de amor maternal mesmo, ou assim o percebo.
Cuidado com a cria, mesmo a cria sendo um homem gordo e flácido de 41 anos, que
fica sentado no quarto escrevendo asneiras o dia inteiro. Será que... perdi o
fio da meada olhando a internet, procurando se digitar o meu nome no Google
direcionaria o usuário para o Jornal do Profeta, o que não ocorre. Seu Raimundo
pode tentar me procurar pela internet, como fiz com ele. Talvez apareça a minha
cara e até o meu telefone de casa, mas espero que não, acho que para isso
acontecer ele tem que ser meu amigo no Google, acho que não é só ter o e-mail,
não. Se bem que procurei Seu Raimundo agora na internet e apareceu um perfil
parecido com o meu, mas acho que o dele seja construído com informações de
conhecimento público, não há o telefone da casa dele, por exemplo. Sei lá,
fiquei grilado com isso. A Google pode vender o meu telefone para empresas
virem me importunar. Espero que não, acho que a Google não é disso. Não chega a
tanto. Não vou pesquisar para descobrir. Não entendo nada da plataforma de
propaganda deles. E não estou disposto a aprender. Acho toscas as propagandas
direcionadas, com cara de caseiras. Se uma editora achar por bem divulgar o meu
livro, o que penso ser otimista ao absurdo, que o faça. Nossa, já venho eu
falar desse livro. Não me sai da cabeça de jeito nenhum.
18h29. Comi o sanduíche que minha mãe me fez. Me satisfez
completamente e arrematei com um cigarro, ela em verdade fez dois, guardei o
menor para a fome dos remédios. Tive a prova cabal que a ideia do estoque que
me dominou na internação do Diário não duraria um dia sequer. Outra insanidade
da minha cabeça. Ainda bem que hoje vejo isso claramente. Mas não revelarei
nada do livro, a não ser que mostro meu lado mais podre, corrompido e
compulsivo e revelo o meu segredo mais secreto. Esse é o melhor resumo da obra.
É ela toda em uma linha. Se deixa mais interrogações do que explica, tanto
melhor, que o leitor fique curioso com até que ponto pode descer um ser humano.
Imoral é o mínimo que acharão de mim. Eu mesmo acho que fui, mas não acho que
sou. Embora todos nós sejamos um pouquinho, ou um bocado, só que reprimidos
pelo tal do superego. Mas nenhum homem sabe realmente o que vai na cabeça do
outro. Pode-se chegar perto numa grande amizade ou num relacionamento afetivo
de longa data. Nesses casos há quase uma fusão de almas, são acontecimentos
muito bonitos da existência. Me faltam os dois. Mas já os tive ambos. É que a
vida vai distanciando as pessoas. Cada uma vai tomando o seu rumo, sua condição
de adulto independente, e os laços vão se afrouxando. Quanto a mim, permaneço
e, por permanecer me distancio. Pois ninguém permaneceu, todos bateram asas e
construíram seus próprios ninhos. O meu ninho ainda é na mesma árvore, no mesmo
pé de Ubaias de 25 anos atrás. Já habitei outros ninhos, mas acabei voltando ao
seio matriarcal pelas circunstâncias que a vida me ofereceu e as que decidi
agarrar. Se estou aqui é porque escolhi estar aqui. Não posso outorgar essa
escolha a outro senão a mim e ao que escolhi para a minha vida. E vivo eu
constrangido e satisfeito de estar aqui. Com vergonha da minha plateia de
bonecos e ao mesmo tempo feliz por tê-los. Sou um velho infantil. Sou o que sou
e é tudo o que sou. Preciso aprender a gostar e aceitar o que sou. Achar que
não sou apenas isso, mas que sou tudo isso. Acho que meu texto não me dá a
devida dimensão, acho que faço pouco de mim. Sou um pouco mais do que me mostro.
Não sei bem o que mais, só torço para que esse mais seja algo de bom, virtuoso
e nobre. Ovelha negra e Patinho Feio são as duas personagens com as quais mais
me identifico. Só não sei quando me darei por cisne e estarei entre cisnes.
Talvez nunca. Isso já me incomodou mais, hoje, dentro do meu pequeno imenso
reino pessoal eu sinto que cheguei exatamente onde queria estar. E tenho
sonhos. Só dois. Mais são os dois maiores sonhos do mundo. Não deixei de pensar
grande, mesmo me sentindo pequeno em vários aspectos. Se são concretizáveis?
Não sei. Sei que sonho e ninguém pode me roubar a capacidade de sonhar. Se
forem impossíveis, me darei por satisfeito por tê-los sonhado. Ter voado tão
alto e desejado tão grande que me abarca toda a alma. Um dos sonhos é o livro.
E faço o máximo para ancorá-lo na realidade. O outro, só lendo o livro. Ou
seja, caro leitor, o outro só será revelado caso o livro aconteça. Não ouso
enunciá-lo aqui. Até agora só foi revelado a Seu Raimundo, se este se dignar a
ler o texto, e à minha amiga revisora, se ela se prestar a revisá-lo. Ambas as
coisas para mim estão meio em suspenso. Minha amiga escritora não mandou os
dados para o pagamento, o que disse que faria ontem à noite, então fico com a
pulga atrás da orelha. Eu nada posso fazer. O que será, será. Não vou cobrar
que ela me envie o que parece não querer enviar. Só me resta esperar. Quem sabe
pelo pior. Se for, como disse, sonhei. E o que é a vida senão uma sucessão de
pequenos, médios e grandes sonhos que tentamos realizar? Quanto maior o sonho
tão maior é a frustração de não o alcançar. Desse primeiro sonho – o livro – me
resta a consciência limpa de que tentei o máximo. De que busquei ajuda para
realizá-lo nas pessoas que achei mais adequadas e qualificadas. Um já deu para
trás. As demais podem fazer o mesmo movimento e me verei sem muita saída.
Embora ainda haja uma. Só sei que sonhar é bom, tentar tornar realidade é que é
a parte desafiante do processo. A que exige de nós o que de maior pudermos
oferecer. E fiz tudo certo fazendo tudo errado. Meu livro nasceu dos piores
sentimentos que brotaram do meu coração e do mais belo deles, é como uma
estrela solitária na noite escura. Estou falando merda, foi mal. Às vezes me
desfoco, me perco. Não sei se fez sentido para você, como me diz sempre Ju. Se
fez tanto melhor, para você e para mim, pois nenhum dos dois perdeu seu tempo
com tais palavras. Estou escrevendo hoje de uma maneira tão diferente da usual,
não tenho ideia da causa. Mas me agradam as dicotomias que coloco no texto e a
sinceridade dele. 19h12. Preciso escrever um e-mail que me devo há muito.
19h16. Já escrevi – em inglês ou coisa que se assemelhe – e
já enviei. É sobre uma boneca que mandei pintar há cerca de um ano num ateliê
especializado na China e até hoje não recebi resposta de lá. Lembrei-me disso
agora ao pensar em pagamentos e cobranças e mandei um e-mail perguntado o que
estava acontecendo. Só falta ela ter mudado de e-mail, aí seria o fim da
picada. Mas ela sempre foi correta comigo, sou cliente há mais de dez anos, por
mais que só tenha comprado duas peças, três com esta. Mas estive lá no começo,
quando não tinham credibilidade no mercado. Sou um cliente VIP por assim dizer.
Não puxei muito papo desta vez, mas paguei caro pela pintura. Tenho até
vergonha de enunciar o valor. Mas foi caro. Pinturas personalizadas de alta
qualidade são artigos de luxo para colecionadores. Vamos ver se ela responde.
Minha vida é a espera de e-mails. Hahaha. Espero que as três pessoas me
respondam, quais sejam, a moça do ateliê, a incrível revisora e Seu Raimundo.
De qual queria mais receber a resposta? Acho que o de Seu Raimundo. Pelo menos
é o que me deixa mais curioso e o que pode me arrasar ou me encher de
esperança. Os dados da minha amiga revisora em segundo porque queria muito que
ela revisasse, sei que faria um trabalho fenomenal por causa da nossa amizade e
de seu perfeccionismo. Em terceiro, obviamente, o da Asuka na moto (eis o que é
a boneca, uma personagem do Evangelion montada numa moto de corrida).
19h28. Será que a minha amiga revisora se esqueceu ou não
está me levando a sério? Não entendo. Será que ela só quer receber quando
efetivamente tiver tempo para se debruçar sobre o meu texto? Elucubrações,
parece que minha tendência paranoide adora fabricá-las. Da pior qualidade
possível. Hahaha. O disco do U2 é completo plano de fundo para mim, é como se
não houvesse música tocando, só se parar e fizer um esforço de concentração o
ouço.
Isso já está muito grande. Me deixo por aqui. Vou para o
Vate, pelo menos lá não há leitores, posso escrever o quanto quiser. Xau.
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