17h49. Não sei como o dia se passou tão rápido. Tudo o que
fiz foi revisar dois textos. Sei que isso toma tempo, só não fazia ideia de
quanto. Estou sem cigarros. Sobrevivendo à base de Vaporfi. Como previ o meu
amigo da piscina veio me pedir um. Cedi-lhe um dos dois que tinha e já fumei o
outro. Então até amanhã, só Vaporfi. Troquei inclusive o atomizer. O Bluetooth
do computador deu pau, diz que está desligado e não sei como ligar, não achei o
caminho. Pensei que desligando e ligando o computador funcionaria, mas que
nada. Botei para tocar do meu celular que está com 15% apenas da bateria. Hoje
tem tudo para ser um dia menos interessante que ontem. Acho que ainda tenho uma
xícara de café para beber. Ou meia. Descobrirei.
18h05. Havia três goles de café, coloquei Coca. Mas isso
tudo é irrelevante. Hoje estou mais irrelevante que ontem. Ontem estava mais
contador de histórias da minha vida. Meu amigo da piscina pensa em descer.
Esperarei que me contate. Não estou muito a fim de descer hoje. Mas mudo de ânimo
de uma hora para a outra. Veremos. O que posso trazer de menos descritivo para
cá hoje? Quais são as pretensões da minha alma hoje? Hoje não estou com grandes
pretensões nem grandes inspirações. Hoje foi um dia produtivo, expus coisas que
trazia dentro do peito há anos e com as quais nunca tinha me confrontado. Mas
foi um confronto arrefecido pelo tempo. Foi bom que boas memórias de amor
afluíram também. Ah, o amor. Essa mágica, essa química que acontece entre duas
pessoas é um fenômeno maravilhoso. Eu me sinto meio que nem o Night Owl de
“Watchmen” em relação a isso. Se você gosta ou não gosta de quadrinhos, deveria
dar uma chance a “The Watchmen”, esqueça o filme e leia a HQ. É a melhor já
feita e duvido que haja outra que a supere, mas o futuro está aí para me provar
equivocado. Se bem que ninguém ainda barrou os Beatles na minha opinião. E já
se passou bastante futuro desde o final da banda. Há muitas coisas boas,
excelentes lançadas depois deles, mas nada foi tão definidor e tão definitivo
quanto os Beatles. No rock, digo. E agora que dizem que o rock está morrendo...
18h19. Deixa o parágrafo acima para lá. Parágrafos são
coisas muito úteis, quando quero me libertar de um assunto que está me
incomodando, simplesmente pulo um parágrafo. Corto o mal pela raiz. Estou vazio
de conteúdo no momento, mas não me encontro entediado, talvez pelo café, talvez
por trazer um pouco da alegria jovial de ontem. Minha mãe estava com uma
paranoia – e bote paranoia nisso – de que estaria fumando crack com meu amigo da
piscina. Se ela soubesse o asco e o medo que tenho dessa droga. Eu tenho um pé
no vício do crack. Não quero passar o outro. Aí minha vida se tornaria um
inferno sem fim. Não conseguiria segurar a minha onda como acho que conseguirei
com a cola. O vício do crack é muito pior, gera uma dependência química, o
cérebro pede mais. Estou fora. Nada de vícios além da cafeína e da nicotina. E
dos meus remédios, sem os quais, como já disse, provavelmente já teria caído em
depressão. Depressão, essa é a minha maior inimiga, que me faz cometer
insanidades. Está controlada. Por causa das medicações quero crer. E do meu
afastamento do trabalho, principal fonte da minha depressão. Foi o maior e mais
duradouro sofrimento que já passei na vida. Não quero nunca mais voltar àquele
estado. Aos que por acaso lerem isso e estiverem deprimidos, saibam que passa,
demora mas passa. Passou para mim e hoje estou bem, gosto dos meus dias. Só
falta aprender a gostar de mim. Mas essa é uma jornada bem mais longa e
pedregosa. Ou talvez a resposta esteja na minha cara e não a perceba. Talvez
haja uma trave diante dos meus olhos que me impede de me ver como uma pessoa
válida. Essa história de pessoa válida só me lembra o post de ontem à noite em
que concluí que só me sentiria uma pessoa válida se produzisse algo, no caso,
publicasse o livro que é o que tenho de mais significativo a oferecer à
humanidade. Considero esse blog uma obra maior e de maior escopo que o livro,
mas ela em si mesma, não me valida como pessoa. O livro, por mais que me
desmereça como pessoa, o que é deveras irônico, em sendo publicado, por ser
tido como meritório, significaria que eu sou um escritor. Mas não quero falar
disso uma vez mais. Sei que soubessem da importância que o livro tem para a
minha vida, haveria uma mobilização dos envolvidos. Mas eles nada sabem, a não
ser a incrível revisora. Que seja.
18h42. Às vezes a tosse do Vaporfi me dá uma zonzeira
estranha e gostosa. Estou completamente sem inspiração. Vou pegar Coca. Nem
posso fumar um cigarro para pensar na vida e quebrar o ritmo...
18h52. A vida passa, a morte se aproxima e não estou fazendo
nada de útil desse intervalo. Estou tentando o tornar mais útil, para mim, pelo
menos, com a tentativa de publicação do livro. Esse blog não é o suficiente e
provavelmente vá ter que me contentar com ele. Será para mim como um coito
interrompido a minha vida assim. Mas se é o que se apresenta tenho que aceitar.
Ainda há muita água para passar por debaixo da minha ponte. Até o final desse
ano. Era bom que a revisão total ficasse pronta antes das eleições. Não sei se
meu tio continuará a ser secretário de comunicação do estado após a eleição. E
não sei se isso importa se ele continuar a ser do conselho da editora. Espero
que, antes de tudo, ele mantenha a sua palavra. Disse-me que iria publicar.
Então que se faça de palavra em ação. Mas tudo a seu tempo. Tenho que esperar a
incrível revisora, terei que reler a obra toda, ver o que posso cortar, se é
que devo cortar mais do que cortei. Preciso saber dela o que ela acha. Nossa,
como esse momento vindouro e inescapável me intimida. Morro de medo de
enfrentar essa realidade, me deparar com alguém que leu o meu livro. Se ele já
tivesse o aval de Raimundo Carrero, eu ficaria completamente tranquilo como é
agradável a língua gelada pelo gelo que acabei de comer. O celular parou de
tocar o Spotify, acho que para economizar bateria. Uma pena. Visualizei o meu
blog no celular e eu mesmo não teria paciência de ler, além das letras miúdas é
muito texto. Não sei como alguém ainda lê. É impressionante, eu deveria me ter
por vitorioso de angariar 20, 30 leitores. Não é uma tarefa fácil ler esse
monte coisas. Eu releio para revisar, mas na tela grande e no Word com letras
grandes. É outra coisa. Acho que só leria algo desse tamanho se fosse o blog de
Björk. E olhe lá. Acho impraticável ler no celular. Se houvesse mais imagens
acho que ajudaria, mas não tenho mais do que tirar fotos. Quebrar em mais
parágrafos seria salutar também. Vou fazer isso agora.
19h21. Me deu vontade de publicar e mandar o post anterior
para Seu Raimundo ler. Mas não é ainda o tempo certo. Esse tempo há de vir.
Quem sabe resposta dele não venha antes? Faz 29 dias que mandei o texto para
ele e nenhuma resposta. Minha amiga a incrível revisora disse para eu não criar
expectativas, provavelmente porque já viu que o texto não tem a qualidade
necessária para agradar o escritor. Teremos eu e ela que dar o que for
necessário para tornar lixo em literatura. Mas há tanto lixo publicado, não
acho impossível o meu ser, juro.
19h26. Às vezes me pego questionando a razão de tudo isso, a
validade de tudo isso, do blog, do livro, da minha vida e do que faço dela, e
nessas horas acho tudo um grande despropósito sem sentido. Noutras, igualmente
raras, acho que haverá uma validade como documento histórico de uma época e dos
pensamentos de um cara dessa época, mas em verdade, nem para isso serve, pois
sou um completo alienado. Não, não tem nenhuma utilidade isso que eu escrevo e
essa constatação me esmaga. Voltei ao meu baixo astral habitual, que se
transformaria talvez em depressão não estivera eu medicado. Ainda bem que vivo
esse equilíbrio químico senão acho que nem estava mais desse lado do solo. O
negócio é ligar o “foda-se” e escrever o que der na telha, isso tem um papel
mais fundamental que agradar os leitores, manter a minha sanidade. Tenho que
pensar nisso como uma ferramenta terapêutica. Como uma forma de ocupar o meu
tempo de forma produtiva. Produtiva pelo menos para mim. É o mais digno que me
digno a fazer. Não sou capaz de muito mais do que isso. Não quero muito mais
que isso. Essas tosses com zonzeira do Vaporfi são o bicho, se não me derem um
AVC...
19h56. Estou pulando mais parágrafos que de costume por pena
do leitor mais do que por necessidade. Tenho que parar de pensar nisso e me
focar sei lá em quê, pois hoje estou sem ter muito o que dizer, digo porque não
há nada melhor a ser feito na minha opinião. Meu amigo da piscina não me chamou
hoje. Deixa para lá. Estou com vontade de pedir a minha mãe que adiante a minha
carteira de amanhã hoje. E passo dois dias sem receber.
20h05. Pensei em pedir-lhe dois cigarros da carteira de
amanhã, mas ela dorme. Acho que vou ter que segurar no Vaporfi. Ou não. Acho
que vou acabar pedindo dois cigarros um para fumar agora e outro para quando
for dormir. Ir dormir sem fumar é o ó do borogodó. Ajudei alguma causa hoje que
nem me recordo o que era. A vontade que eu tenho é puxar papo com uma conhecida
que tenho no Facebook, só para passar o tempo, mas não farei isso. Não estou
realmente com essas vontades todas. E posso acabar cativando e não quero essa
responsabilidade para mim. Se bem que é uma garota interessante, me marcou no
único dia em que nos encontramos no Mercado da Boa Vista. Me recordo. Já não
bebia à época. Ela está off-line, então não há essa possibilidade. Nem sei o
que escrevo, passo tanto tempo entre uma frase e outra que me esqueço e fico
com preguiça de reler e pegar o fio da meada novamente. É como se o que escrevi
acima virasse temporariamente chinês para mim, só importa o agora. E agora eu
queria desesperadamente um cigarro. Vaporfi.
20h28. Queria três cigarros adiantados de amanhã. Mamãe
ainda dorme. Quando encasqueto com uma ideia que acho minimamente plausível é
difícil tirar da cabeça. Qual o sentido da vida? Sempre em direção à morte, não
tem erro. E nem desvio. Há atalhos. Não recomendo. Pois se tem uma coisa que
aprendi é que na vida tudo passa. Um dia essa história do livro será passado.
Anseio por esse dia. Eu acho. Tenho muita curiosidade em como esse episódio vá
se dar. Esperanças abundam. Vamos ver quantas morrerão no meio do caminho. Uma
coisa que me gera profunda dúvida e curiosidade é se quem lê a primeira vez um
texto sente o que o escritor estava sentindo, se desperta sentimentos
semelhantes ao que eu senti quando o dizia ou não. Quando releio, nunca me vem
com a mesma intensidade o que experimentei enquanto colocava no papel, aliás
vem com intensidade nenhuma. Não me empolgo ou me emociono como quando punha as
coisas no papel eletrônico do Word.
20h41. Falei com a minha mãe e ela depois de dizer um monte
vai me conceder dois cigarros. Como eu disse quando encasqueto com uma ideia
não relaxo até conseguir. E estou encasquetado com a do livro também. Embora
ela me venha sempre com sentimentos dúbios. Estou muito dividido em relação a
isso. Mas ainda acredito que a maior parte de mim quer vê-lo publicado. Nem
sei, mas hoje não estou num dia bom para tais julgamentos. Novamente, se Seu
Raimundo me desse o ok, eu teria plena confiança. Aí nada me seguraria. Mas
acho tão impossível receber essa bendita resposta dele. Vamos dar tempo ao
tempo. E atentar para os sinais. Foi um bom sinal eu ter achado o e-mail dele
na internet. Foi melhor ainda ele ter se disposto a ler. Aí mandei um e-mail
completamente descompensado emocionalmente que pode ter melado tudo. Mas já
contei essa história aqui. Tenho que dar tempo ao tempo. Mas, nossa, como o
tempo demora a passar nesse processo. Não guardar expectativas, disse a minha
experiente amiga revisora. Como não criar expectativa se é o evento mais
importante da minha vida, o que me separa de me considerar escritor? É de suma
importância para mim. É crucial para a minha autoestima e quiçá para a
viabilização da minha obra. Mas o que me resta é esperar. Esperar, esperar,
esperar... é difícil eu que sou tão imediatista.
20h58. Já estou com os dois cigarros e vou fumar um já-já. A
melhor opção é esperar. A única opção não é, poderia mandar um e-mail com o
link do post anterior. Seria imprudente para dizer o mínimo. Quando for
finalmente sentar para conversar com a minha amiga revisora, será o dia em que
eu ligarei o “foda-se” e mandarei o e-mail para ele. Como queria receber
resposta antes. Mas nada posso esperar da vida além do que já tenho. Ou posso?
Posso desejar sempre mais da vida. Só não sei se vou ser atendido nos meus
pleitos. Para degustar o primeiro e penúltimo cigarro é preciso que não haja
ninguém na cozinha. Nossa, pensei que se tivesse um derrame que me
incapacitasse, fodesse o meu cérebro, seria um momento dos mais inapropriados
para isso. Que se dê daqui a quinze anos. Que não se dê em verdade. Que
pensamento aterrador. Finalmente me dou a chance de conhecer Travis. É bastante
agradável e melódico. O cantor tem uma boa voz. Vou pegar Coca e tentar fumar o
tão desejado cigarro. Acho que finalmente começo a esquentar na escrita, mas
vou fumar mesmo assim.
21h25. Fumei e não foi a experiência que pensei que seria,
foi meio desapontador, mas é a vida e ela segue. Tenho convicção que o que
fumarei depois que comer será especial, como sempre é. O post de hoje não está
gerando muitas visualizações, estancou em quinze. Nem todo dia é dia santo.
Talvez o tenha publicado antes da hora. Travis é uma banda inofensiva como
Belle & Sebastian. Gostosinha de ouvir pelo menos. Coisas me passam pela
cabeça e nada fica. Esse é um post improdutivo e que não merece divulgação. Nem
todo dia é dia santo, uma vez mais. Se estava esquentando, esfriei de novo.
Isso não é lá muito motivador para o leitor, mas é o que temos hoje a oferecer.
Perdoem. Eu não estou muito agradado de ouvir Travis. Preferia botar Cocteau
Twins em modo aleatório. Ótima ideia. Coloquei. É mais familiar. Me sinto mais
disposto com esse som. Eles têm a fórmula deles e não desgrudam muito dela. Já
estou com vontade de fumar outro cigarro, mas agora segurarei com Vaporfi. Como
posso dizer da minha vida se nada se passa nela? Não olhei muito para o Hulk
hoje tão concentrado estava na revisão dos textos. Ontem produzi dois. Estou
satisfeito com a existência nesse momento. Nem amando nem desamando existir na
linha da normalidade que não é um lugar emocional ruim de se estar. Não sofro,
não há tédio então está bom. Queria que me surgisse alguma temática
interessante, mas nada me ocorre. Escrevo meio que a esmo, só para me manter
ativo e afiar a ferramenta da palavra. Meu pé está dormente por que estou
sentado sobre ele. Gosto da dormência. É um sentimento diferente que altera um
pouco a normalidade em que agora me encontro. A normalidade é um estado meio
estéril para ser sincero, eu que sou tão afeito a anormalidade. Coloquei o meu
pé no chão é como se estivesse anestesiado, aos poucos me volta a sensação
táctil. Será que ser como eu sou me prejudica mais do que me ajuda? É uma
questão difícil. Me prejudica em vários aspectos, especialmente os relacionados
com o convívio social. Nessa área sou e me torno cada vez mais deficitário. Me
constranjo da minha presença na frente dos demais. Vou acabar virando um João
Gilberto da vida. Não sei como estou na quarta página de Word, na minha cabeça
só escrevi duas. Mas é um tema interessante esse dos prós e contras de ser quem
eu sou. Vejo muito mais contras que prós. O pró seriam os livros. O que
elaborei e o que elaboro. Não vejo outros. Juro que só vejo isso de positivo,
por isso tudo em torno desse primeiro livro tem essa dimensão tamanha para mim.
É como se fosse a minha salvação como ser humano, a validação da minha vida, a
dádiva por escrever. É fundamental para mim. Como queria que o meu tio
entendesse isso. Na minha vida não há mais nada nem remotamente perto de ser
tão importante. Não há em verdade nada além disso. É tudo. Se não for publicado
terei atestado que falhei na vida. Não consegui chegar lá, no lugar sonhado,
almejado, desejado com todas as minhas forças. Serei até o final um frustrado,
como sou agora. Sou um fracasso completo. O livro é minha redenção e o meu
calvário. Por isso o sentimento de ambiguidade. Mas o desejo de me sentir
válido, de ter chegado lá é imensuravelmente mais importante que as perdas
sociais que terei. Me lembrei agora da viagem e em como não queria viajar. Mais
sentimentos ruins. Eu não sou quem eu era quando da primeira viagem. Como eu
mudei em tão pouco tempo me espanta. Em como me tornei antissocial. Isso é uma
doença da alma que não sei como debelar. Não sei se quero debelar. Sei que
quero o meu livro publicado. É tudo o que sei e que ele vai me empurrar
provavelmente mais para dentro do meu ostracismo. Eu não quero ir jogar Switch
na casa do meu primo urbano. Se pudesse ir e não jogar seria melhor. Mais
aceitável para mim. O grande evento social, o momento ansiado é o do lançamento
do livro da nossa amiga escritora esticando para o Relaxe o Bigode. E mesmo
para esse guardo certa ansiedade. Eu não sei o que fazer. Nesse campo social,
me bate um quase desespero às vezes. Como agora. Uma quase vontade de chorar
como um bebê perdido. Eu estou perdido socialmente falando. Não sei como voltar
a ser como era. Não sei ser quem eu era. E quem eu sou hoje me desagrada. Tenho
que ser diferente. De como era e como sou. Não tenho que ser, não tenho essa
obrigação. Mas há esse desejo. Mas não sei passar por nova metamorfose. Acho
que o livro me tirará do casulo. Deposito tanto nessa história de livro. Vou
ser um frustrado para o resto da vida e cada vez mais antissocial. Eis o que
realmente enxergo para mim, desperdiçar todos os anos que me restam nessa
existência medíocre e fracassada trancado no meu quarto escrevendo um blog
merda que ninguém lê. É isso que vejo. Escrevendo o blog para poder fugir do
mundo com o qual desaprendi a lidar com alegria e desenvoltura, que me parece
cada vez mais desconfortável e desagradável. Se tivesse lágrimas chorava, mas
nasci com poucas lágrimas, é muito difícil algo me fazer chorar. Meu futuro não
me agrada. Meu futuro é a mediocridade e a frustração. Os meus dois grandes
sonhos serão frustrados. Sonhos gorados, como mencionei em outro post. Estou
começando a ficar com fome.
22h34. Fui tomar os remédios, minha mãe me percebeu abatido,
vontade danada de fumar o último cigarro. É uma constatação chata que eu serei
um frustrado, fracassado antissocial até o final dos meus dias, sentado aqui
escrevendo para quase ninguém. É uma existência desperdiçada, decepcionante e o
pior, a mais provável de se dar. Mas como a vida vem me repetindo através de
várias bocas e até mensagens do Facebook, tudo a seu tempo. É melhor esperar o
pior, a continuidade desses meus dias praticamente em vão até a minha morte,
que, aí, qualquer coisa que vier é lucro. Mas desesperançado como estou hoje,
não acho que lucro nenhum vai haver. Terei o livro revisado e ele ficará para
sempre confinado no meu pen drive. É isso. Fim da história do livro. Não acho
que meu tio vá me ajudar, mas cobrarei. Ele me insuflou de esperanças, me pediu
trabalhos, que não pagou ainda segundo mamãe. Ou seja, até agora só promessas
vazias. Veremos. Tudo a seu tempo. Veremos se haverá colheita para o que
semeei. Nossa, como hoje o astral está baixo por essas bandas do quarto-ilha.
Dá quase vontade de assistir um filme para me desligar da vida. Hoje estou
achando a minha vida uma merda, esse texto está um merda e eu sou um merda. Não
estou com as esperanças que alimentei tão vivamente ontem. Onde elas foram se
esconder hoje, não sei. Mas o peso da realidade com se me afigura é enorme.
Comprime o meu ser e o diminui ainda mais. Ser eu às vezes tem os seus
percalços, apesar de cercado de todas as regalias que muita gente sonha como
sendo a vida ideal, eu me vejo frustrado, descontente, infeliz. Como o meu
humor mudou de ontem para agora. Nem comecei o post nesse humor, mas os
assuntos que foram aflorando e o modo de enxergá-los me puseram realmente para
baixo. Ter desaprendido a viver em sociedade, acho que isso não tem mais
solução ou a solução que haveria não vai haver. Simplesmente hoje me parece
inaceitável que passarei o resto da minha vida escrevendo para esta bosta desse
blog. Isso não me parece em nenhuma medida o suficiente. Nem chega a ser
razoável, é abaixo de medíocre. No entanto, não consigo parar de fazê-lo, pois
é só o que eu sei e tenho ânimo de fazer. Isso é cômico se não fosse trágico.
Mas, olha, pai, eu passo os meus dias a escrever como eu sempre quis. Pena que
não seja tão recompensador quanto esperava. Hoje está muito longe disso. Hoje
me parece muito pouco, nada. Desperdício de tempo, palavras e paciência de um
dos mirrados leitores. Esse estado em que estou hoje é próximo da depressão,
mas ainda não posso me considerar deprimido só porque tive um dia ruim. Estou
tendo um dia ruim. Pelo menos o finalizarei com um cigarro. E talvez sorvete.
Duas coisas das quais gosto muito. Amo. Amar é tão bom. Não sei mais o que
dizer. Nada do que eu penso, além de matar minha fome e fumar um cigarro, me
anima. O pior que após fazer isso, voltarei novamente ao quarto-ilha e para
essas palavras de merda. Para essa vida de merda. Para esse estado de coisas
estéril e sem perspectiva de mudança. E pensar que ontem eu estava enlevado por
sonhos ridículos, sem quase nenhum senso de realidade. Sonhos de um futuro
feliz. Diferente ao menos do presente que nem sei há quanto tempo se estende
dessa forma. Parece uma eternidade, como parece uma eternidade que passei
traçando esse post de hoje. Está sendo pesado escrever hoje, bem pesado. E não
vale nada, ficará pedido na internet em meio aos milhões ou bilhões de
conteúdos gerados e replicados no mundo. Aumentando essa coisa gigantesca onde
só se tendo uma sacada muito genial para se destacar. Ou se prostituindo. Nada
contra as prostitutas e prostitutos, mas não é a minha vibe. Se bem que a minha vibe
hoje está das piores dos últimos tempos. Totalmente descreditado e inconformado
com um fato que a minha vida vai ser uma cotidiana repetição do dia de hoje.
Não quero nem pensar no final de semana, isso só me traz angústia. Vou comer e
fumar o meu último cigarro.
23h42. Comi e fumei e conversei rapidamente com a minha mãe,
disse-lhe que estava nesse ânimo porque achava que o livro não iria vingar. Fui
o mais sincero e sucinto que poderia ser. Acho que vou me preparar para dormir.
Abandonar essa modorrenta vida e apagar. Amanhã é um novo dia, quem sabe com
café e, com certeza, cigarros. Ou assim quero crer. Só falta mamãe sair e
esquecer de me dar os cigarros. Mas acho que ela não vai sair. Com a barriga
satisfeita me rola a leseira mental, bem melhor que o astral anterior. Preciso
aproveitar tal condição para dormir. Quem sabe não sonho um sonho bom? Mesmo
que sonhe, não me lembrarei por causa da medicação.
23h54. Reiniciar a vida, sem morrer, como fazê-lo? Estou
buscando a minha forma de me sentir mais vivo e válido com o projeto do livro.
Mas agora saciado nem isso me desperta ânimo. Vou me deitar e deixar essa
porcaria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário