Depois de um post bastante viajado em que exercitei a minha
capacidade abstração que é tão pouca e que se se descola da realidade, não mais
faz que um voo rasante e rápido por sobre ela. Nada de seres fantásticos ou
coisas afins, apenas começo com um fato e extrapolo suas possibilidades. É um
exercício até certo ponto divertido, mas raro e intelectualmente mais custoso –
e mais ridículo – que as minhas palavras de não-ficção. Ou seja, bastante
ridículo. Dê uma olhada no post anterior, mais ou menos pelo meio, há uma
indicação em caixa alta (maiúsculas) de que a viagem vai começar. Assim como
outra indicação, nos mesmos moldes, do fim das abstrações. 14h59. Tenho que me
arrumar para ir à terapia. Sem disposição para tanto, mas indispensável que vá.
15h18. Já estou devidamente limpo e paramentado para a
consulta, sairei daqui quando faltarem 20 para as 16h00. Acho o suficiente. O
céu parece que vai desabar a qualquer minuto e incorro na grande probabilidade
de chegar encharcado, como da última vez e, como da última vez, não levarei o
celular. Seria bom para reler o sonho para a minha psicóloga, mas falo das
partes que me lembrar. Vou pegar um café.
15h22. O Hulk se tornou uma entidade no meu quarto, acho que
porque em tamanho real, sua presença causa uma sensação de efetiva presença, de
um alguém, um personagem no meu quarto. E eu amo olhar para ele. E parece que
para o leitor mais assíduo ele já se tornou um personagem dessa narrativa, pois
minha tia (beijo tia!), que lê com frequência e curte as minhas postagens,
falou bastante do Hulk para mim quando nos encontramos na casa de sua irmã,
minha tia-mãe, sábado passado. Engraçado isso, o que eu escrevo tem efeitos
inesperados. Muito curioso. 15h30. 10 minutos para partir. O céu está de cara
fechada, enfezado, pronto a desabafar seu descontentamento com o que vê lá de
cima os homens fazendo, como se quisesse com suas águas lavar a alma dos pobres
mortais. Tomara que a chuva chova no sertão e regiões onde é realmente
necessária e há mais homens de bem por metro quadrado. Eu acho que a metrópole
corrompe. Não sei por que tenho essa sensação. Mas há gente boa e gente ruim em
todo lugar. Embora ache que os mais humildes, em todos os aspectos, têm, via de
regra, alma mais virtuosa e pura que os demais, menos humildes, e quanto menos
humildes mais propensos à corrupção da alma. Salvo raras exceções, como o meu
irmão dos EUA, que está no topo do conhecimento e mesmo assim faz tudo o que
está ao seu alcance para melhorar o mundo, como o passarinho que tenta apagar o
incêndio com gotas d’água. Ele é um exemplo para mim, um inalcançável exemplo
para mim. Eu me realizo através dele, mas não sou capaz de tanto como ele. E
nunca para de bolar novos métodos de contribuir. Colocou painéis solares na
casa e agora elabora um método de captar água da chuva. Acho que ter lido “Cem
Anos de Solidão” teve forte impacto nele. Só li as primeiras páginas, não mais
que dez ou quinze, no internamento de que trato no “Diário do Manicômio”, mas é
uma intuição que tenho. Preciso ir. Logo agora que pegava o gostinho pela
escrita, que as palavras estão me vindo fáceis e fuidas. É uma pena e é para o
meu bem. Acredito sinceramente que Ju quer o meu bem. Ela é uma pessoa do bem.
15h39. Acabar a xícara de café e partir.
17h14. Estou de volta. Foi ótima a consulta hoje. Para tudo!
Raimundo Carrero respondeu o meu e-mail e disse que eu posso mandar que ele
leria com prazer! Eu nem acredito. Péra, que a realidade agora me pegou de
surpresa. Estou meio atordoado. Deixa eu me aclimatar com a ideia, preparar um
arquivo para ele ler, mas não agora. Estou sem saber nem o que escrever, não
sei o que faça.
17h50. Mandei o mesmo arquivo que mandei para a minha incrível
revisora, sem a formatação para o concurso nacional de literatura. Segui a
minha intuição pura e simplesmente, julguei que um capítulo vir logo emendado
no outro o impediria de desistir da leitura logo no início, foi nessa esperança
que me agarrei e mandei o arquivo sem a devida formatação. E porque acho a
Calibri mais visível que a Times New Roman na tela do computador. Agora é com
Seu Raimundo e a sorte. Dei-lhe carta branca para alterar o que quisesse.
Óbvio, né? Quem me dera ele pelo menos fizesse considerações gerais sobre o
livro. Bem sou só esperança agora. Pode ser que não receba e-mail de resposta,
pode ser um mundo de coisas. Até ele responder. Gostaria que ele respondesse
nem que fosse detonando o livro (de preferência explicando o porquê). Mas chega
de Seu Raimundo. Tudo o que posso falar do assunto são especulações. Sei que
disse dessa empreitada à minha psicóloga com temor de que ela fosse um ato de
mania. Que surpresa. Que radiante surpresa. Compartilhei com a minha mãe e com
meu irmão. E com Ju, minha psicóloga. Não compartilharei com mais ninguém para
não dar azar. Acho que deveria compartilhar com a incrível revisora. Aliás é
obrigatório que faça isso, até para que não se sinta traída ou diminuída ou
qualquer outro sentimento ruim que valha.
18h27. Comuniquei da novidade a ela, mas ela ainda não leu
nem respondeu. Espero que não fique com raiva de mim. O que já deve estar se
está lendo o texto. Estou apreensivo com o seu silêncio. Mas eu sou cada vez
mais paranoico, vou relaxar. Pode ser que esteja sem tempo de responder. Tomara
muito que ela não fique com raiva de mim. Seja pelo conteúdo do livro, seja por
ter mandado para Seu Raimundo. Eu estou é me passando por um papel ridículo
investindo num sonho idiota desses. É claro que todos odiarão o narrador. Não
há nenhuma pessoa gostável em todo o texto, acho que isso o torna chato. Sei
lá, é esperar para ver. Se sinceridade fosse algum mérito para tornar algo
publicável, pelo menos esse mérito eu teria.
18h40. Me perdi nos e-mails promocionais que recebo. Estou
preocupado com a minha incrível revisora. Mas se ela fosse desistir acho que já
teria me comunicado. Espero não ferir suas sentimentalidades por ter enviado
para o escritor. Foi uma oportunidade única que não ousei desperdiçar. Mesmo
que não resulte em nada. Mas vai que ele está sem nada para fazer e se empolgue
com a leitura? Sei lá, pode acabar ajudando a mim e à incrível revisora. Essa é
a minha esperança maior. E que a incrível revisora não desista de mim. Acho que
estou paranoico demais. E na expectativa da resposta dela acerca do fato do
escritor. Que, como disse, pode não resultar em nada. Agora só me resta esperar
por resposta. De ambos. Pode ser que ela esteja no trânsito ou ocupada com
outra coisa. Sei lá. Sei que estou ansioso em demasia e excitado demais com a
coisa toda. Espero que não seja surto de mania. Não quero ter surto de mania.
Está tudo indo tão direitinho com o livro. O que poderia fazer já fiz. Mandei
para alguém que conhece do traçado, um escritor consagrado, ler e mandei para
uma revisora incrível revisar. Nada mais posso fazer. Só esperar. E enquanto
espero, escrevo.
18h57. Estou ansioso e isso me gera pensamentos
catastróficos, como por exemplo minha amiga revisora desistir do trabalho. Esse
é o temor que me passa pela cabeça nesse exato momento. Principalmente se a
causa for achar o texto imoral demais para ela. Isso seria o fim para mim. Mas,
como disse, acho que estou tendo pensamentos catastróficos. O futuro me
revelará toda a verdade sobre a minha amiga revisora ainda hoje, espero. Não
vou divulgar esse post, pois pode ser que isso leve a uma enxurrada de pedidos
a Raimundo Carrero, o que deixaria o bom velhinho muito indignado. Se é que já
não os recebe. Sabe-se lá se só eu tive essa cara de pau. Será que estou
entrando em mania? Tenho medo. Mas acho que é normal estar excitado acima do
normal com a notícia que uma lenda da literatura pernambucana, quiçá
brasileira, vai ler a minha obra, o meu sonho. E é justificado até certo ponto,
o meu medo que os valores morais da minha incrível revisora a impeçam de
revisar uma obra tão doentia.
19h24. Motivado pela conversa sobre marcas ontem com o meu
amigo da piscina resolvi reverter o título do meu blog – a imagem do header,
digo, não o endereço – para “Jornal do Profeta” com o subtítulo sendo “ou Algo
ou Teorias do Fruto da Árvore Envenenada”. Se o url é jornaldoprofeta este tem
que ser o título, por mais que não veja mais pertinência nele, mas é a minha
marca, preciso valorizá-la. Já está criada há anos e uma marca de anos não pode
ser colocada em segundo plano. Se não tem pertinência, isso é o de menos.
Coca-Cola, uma marca que tem no nome a citação a uma droga está aí até hoje,
por que não o Jornal do Profeta? Valeu o papo de ontem com o meu amigo da
piscina por muitas coisas, uma delas foi essa decisão minha de assumir o Jornal
do Profeta de novo. Acho que é sem dúvida o mais válido a se fazer. E meu amigo
da piscina com sua dissertação sobre o poder das marcas me fez ver isso, no que
sou muito grato. Também sou grato pela franqueza com que se abriu comigo.
19h40. Acho que ele está com raiva de mim por causa do que
escrevi.
20h04. A incrível revisora achou superlegal ter a opinião do
escritor e acho que ainda não pegou no meu texto ainda. O que é uma pena, mas
não vou avexar a bichinha.
20h10. Apostei com ela que ela ficaria com preconceito
comigo depois de ler o livro. Sinceramente, espero que ela ganhe, que não abale
a nossa amizade, o que pode ser um indicativo de que as outras pessoas queridas
digiram as minhas verdades e o meu maior segredo que revelo no livro. Mas acho difícil.
Torçamos. Pôxa, estou ansioso. Isso para mim é sintoma de mania. Queria que ela
dissesse que já começou a ler, queria que o escritor me respondesse e o fizesse
o mais rápido possível. Queria tudo para agora. Mas o tempo é senhor de todas
as coisas. Está entregue. Só me resta o que ninguém gosta de fazer, esperar. Esperar
ser algo chato talvez seja a única unanimidade que eu conheço. Não é possível
que haja aquele que goste de esperar. Ou talvez haja, há coprófagos no mundo.
Há de tudo nesse mundão. Talvez haja alguém que goste de esperar por esperar.
Causa excitação quando se espera algo desejado, mas a espera pelo recebimento
dessa coisa desejada não é algo que agrade. Gera ansiedade. Ansiedade, outra
coisa que talvez seja uma unanimidade como sendo algo negativo. E acho que
todos os seres humanos a experimentam em algum momento. Que viagem estou
falando. Mas estou ansioso. E à espera. Duas esperas, uma que talvez nunca
venha – a do escritor –, e uma que demorará meses para vir que é a da incrível
revisora. Pode ser que me contate ao longo da revisão, é bem possível.
20h36. Fui pegar Coca e me dei conta de como amo a minha
vida no quarto-ilha. Como adoro essa condição em que me encontro nesse exato
momento. Com Coca cheia de gelo, meu Vaporfi, a minha plateia cativa de
bonecos, sobretudo o Hulk e a graça divina de estar escrevendo o que me der na
telha. Como gosto do meu quarto-ilha e da vida que levo nele. É difícil para
alguém entender, como alguém pode sentir prazer em passar o dia inteiro sentado
na frente de um computador escrevendo para quase ninguém ler. Mas é isso que eu
faço e é uma felicidade tremenda. Estou com essa maneira de escrever
tremendo(a) agora. Nova palavrinha que tirei do baú e estou explorando em
demasia. Mas é verdade, é como me sinto, realizado e feliz. Não me pergunte por
quê. Só sei que é assim. Tudo me é extremamente familiar, afora as palavras que
sempre são novas, e essa familiaridade me enche a alma de conforto. Além do que
acho o meu quarto a minha cara. Então tudo aqui reflete os meus gostos, é meu
ninho, meu lugarzinho no mundo, meu pedaço do planeta Terra. Aqui é meu e eu
sou mais meu aqui. E tão mais meu me sinto me dizendo. E esse sentimento é
libertador, da liberdade que realmente me importa, que é a liberdade interior.
Escrever no quarto-ilha me proporciona essa liberdade. Posso escrever o que
quiser e não quero nunca muita coisa, apenas o que me vem à cabeça, a besteira
que seja, isso já me satisfaz porque são minhas palavras da minha cabeça e as
coloco e as disponho da forma que me der mais prazer, isso é mágico para mim.
Toda essa narrativa Polyana, me faz crer que estou virando para a mania. Ou
ainda são ecos do presente que o destino me deu de talvez ser lido por Raimundo
Carrero. E receber uma opinião dele sobre a minha única e última obra (além
desse blog, que é sem dúvida a minha maior empreitada literária). Mesmo que
seja descendo a lenha. Resta um tiquinho de esperança que ele goste de forma
geral e me aponte onde melhorar. Aliás, não guardo esperança verdadeira de que
ele vá ler, se há, é infinitesimal. Minha incrível revisora disse que o cara é
superfera. Nossa, como queria saber de tudo já amanhã, ou até o final dessa
semana. Do escritor, digo. O que é contradizer a minha falta de esperança. É
melhor eu, em vez de ficar nessa expectativa de algo que pode não ocorrer, me
focar em outra coisa. Mas é bem difícil esse exercício. Vamos tentar a terapia,
para fugir do livro um pouco. Tratamos de um sonho que contei aqui sobre a
minha primeira namorada. Ju enumerou três elementos do sonho, a minha namorada
descabelada e mais velha, a escultura na areia e o meu interesse pela casa.
Sobre a namorada, o que me remeteu foi ao desejo namorar
garotas mais jovens que eu dos seus vinte e poucos anos; sobre a escultura na
areia, que achei super bem-feita e detalhada, a primeira coisa que me veio à
cabeça foi o livro; sobre o apartamento, me veio a vontade de comprar um
apartamento na rua do CPOR para morar com o meu primo-irmão, caso ele seja o
meu curador. Falamos também de solidão. Disse que tinha medo, repulsa, de morar
só, que provavelmente recairia e que temia entrar em depressão, que foi o que
aconteceu todas as vezes que morei só. Preciso saber que há ou vai chegar
alguém para coabitar comigo. Não suporto a solidão por muito tempo. Tenho
péssimas recordações dos períodos em que fui só eu comigo mesmo no mundo.
21h14. Me perdi pelo Facebook. Mandei uma mensagem para
Nina. Contei do livro. Mas não posso contar disso, pois quanto mais digo menos
a possibilidade de acontecer. É uma superstição que eu tenho. Estou ficando
velho e cheio de superstições. Provavelmente nunca verá a luz do dia. É melhor
me conformar com isso. E o escritor, que não sai da minha cabeça, não vai
gostar do livro. Vai achar um trabalho primário e vazio de conteúdo. Parará
logo no começo e me dirá qualquer frase motivacional, se se der ao trabalho
disso. Pode nem mesmo responder nada. Será? O que será, será. E novamente me
coloco ansioso e em modo de espera. Vamos ver se o mesmo truque da terapia vai
me trazer algo de novo. Deixa eu me lembrar aqui... lembro que saí da terapia
muito bem. Falei da estranheza que tive depois de sair do Manicômio com o meu
reflexo, mas que não me veio a repulsa que me vinha antigamente com a minha
aparência, parece que me acostumei mais a ela, acho que em grande parte por ver
imagens de mim captadas pelo meu amigo cineasta, por mais que tenha evitado ao
máximo ver o material, pois quero ter a surpresa do que foi captado e da obra
como um todo. Sei que ele não vai usar a minha narração do último internamento.
Tanto faz, se mudar de ideia tem o material, que tirei do ar porque o coloquei
no livro e não se pode ter o conteúdo publicado nem em blog. É cheio de
pra-que-isso o edital. Então tirei e enviei para ele por e-mail. Mas ele disse
que vai atrapalhar os planos dele para um concurso de roteiros. Não sei como um
roteiro sobre um homem que escreve pode ganhar algum concurso de roteiro, mas é
a viagem do meu amigo cineasta, é o que o satisfaz profissionalmente, eu
entendo e apoio. Eu sou profissionalmente satisfeito escrevendo esse blog.
Queria ter mais leitores, mas o próprio formato e conteúdo dos meus textos é um
impeditivo disso. Que seja. Eu sou mais feliz escrevendo isso que fazendo
qualquer outra coisa. Existe só uma coisa que me faria sair dessa cadeira e ir
vivê-la, mas me é impossível, então sentado nessa cadeira a escrever eu
continuarei. O que me lembra do meu projeto paralelo. Vou visita-lo brevemente
e volto para cá. 21h36.
21h43. Pronto, consegui me conter e não ser muito caudaloso
no outro projeto. O que se mostra uma tarefa árdua. Por que essa vontade de me
dizer? Eu não entendo e não sei de onde vem, deve ser advir de uma carência
muito grande que eu tenho de atenção. Só posso pensar que seja isso. Só sei que
o prazer de me dizer existe e é difícil fugir dele, prefiro me entregar de
corpo e alma, a esse que é o maior desejo. Se não me entrego por inteiro, não
sinto que esteja escrevendo algo válido, que era o que sentia, na maioria das
vezes, escrevendo um texto publicitário. Isso é o oposto de um texto
publicitário, que precisa ser curto, impactante e enaltecer o produto. Nada
disso eu faço aqui. Hahaha. Graças aos céus que me libertei desses grilhões. Eu
vou findar acreditando em Deus. Ainda há um longo caminho e não sei se quero
trilhá-lo. Nem sei como o meu Deus se parece. Nada como o da igreja, a imagem
que me vem é de uma nébula, mas isso é igualmente fantasioso. Acho que é porque
acho nébulas lindas, fantásticas, épicas. Mas o Deus para quem pedi que
intercedesse em prol do meu irmão e depois em prol da minha irmã, não tem face
ou forma, é um pedido que peço sem saber o destinatário quem é ou o que é. E me
espanta que em ambos os casos os desejos foram atendidos, até onde sei, eu me
senti atendido. Pode ser só coincidência, mas não quero pedir mais nada, aliás
gostaria de pedir que minha mãe ficasse boa do joelho e não ficasse caduca. E
se for puxar, pediria um zilhão de coisas, nunca para mim, como já disse em
outro post em que o assunto se alevantou. Não acho justo. Eu tenho a vida que
pedi a Deus, então só posso agradecer. Sou muito grato à existência por ter conspirado
a meu favor e me proporcionar que fique aqui a olhar para a minha plateia de
bonecos escrevendo. Sou muito grato por gostar da minha vida. Eu que passei
anos a odiando, finalmente achei o meu peculiar lugar no mundo. E sigo nele,
com convicção de que estou no lugar certo. Não faço mal a ninguém, só faço bem
através de petições. Eu olho para o Switch e não tenho a menor vontade de
jogá-lo e isso me parte o coração, mas não tenho paciência para games, talvez
nunca mais tenha, visto que é muito mais fácil, cômodo e divertido me dizer
aqui. Se bem que o Mario Odyssey é bastante divertido, mas está numa parte que
não me apetece e desisti dele também por ora. Ia falar do Zelda. Que acho que
divisei como passar do shrine onde estou empacado, mas não vou explicar isso
aqui, não tenho paciência para escrever e muito menos de tentar. Videogames são
cada vez mais coisas do passado. Deixar o meu quarto-ilha é cada vez mais coisa
do passado. Minha mãe me chamou para ver o novo de Spielberg no cinema amanhã e
eu, de bobo, me disse interessado. Agora ela conta com a minha presença. Não
vai ser de todo mal, mas torço que seja no shopping aqui perto de casa. Se for
no Rio Mar, isso já me desestimula tremendamente por causa do trânsito. Odeio
muito o trânsito e olhe que nem dirijo. É algo emperrado, claustrofóbico,
caótico, demorado, lento, desagradável. Realmente não queria passar por isso
para ver o filme. Mas passarei pelo que for necessário para fazer esse agrado à
minha mãe. E parece que o filme é divertido, segundo o meu irmão. Mas se
pudesse optar entre ficar aqui fazendo isso que estou fazendo agora, eu
preferiria, por mais que, enfrentado o trânsito, eu vá me divertir. Sei lá.
Coisas da vida que se afigurarão melhores do que as projeto. Vou sem grandes
expectativas, o que rolar, rolou. Queria muito ir no Plaza em vez do Rio Mar,
mas acho que só existe essa sala “premium” ou coisa que o valha, no Rio Mar.
Estou com fome, vou comer um pouco. Ou fumar um cigarro. Acho que vou averiguar
as opções gastronômicas de que disponho e fumar um cigarro. E pegar Coca.
22h25. Comi a “salada do Mário” com charque acebolada frita,
fumei o digestivo, enchi o meu copo de Coca e vim para o meu universo
particular. Os dois demais moradores da casa já se retiraram e dormem. Minha
mãe disse que me acordaria mais cedo amanhã. Estou com sono porque comi. Espero
que passe dentro em breve. Nossa, não consigo tirar a história do escritor da
minha cabeça e o que dirá dos meus escritos. E até mesmo a incrível revisora.
Será que hoje finalmente começou a se debruçar sobre o material? Não sei e não
vou pressioná-la. Ansiedade é um saco.
Este post está deveras redundantes pois essas duas expectativas sobre essas
duas pessoas, ressoam na minha mente e se alevantam perante todo o resto. Que é
resto pouco, pois aparte a terapia, nada fiz que não escrever. Ouvindo, para
variar “Songs of Experience” do U2. E vem logo ela, “Landlady”, a minha
favorita por uma longa margem. Mamãe também me disse que amanhã procuraria um
comprovante de residência meu. Esse é o único entrave que me impede de mandar o
livro para o concurso. Se não achar, entenderei como um sinal que a via não é
essa, até porque ficarei com a obra paralisada até novembro. E quem sabe, se
Seu Raimundo resolver me apadrinhar, ele não me indique para alguma editora?
Vai sonhar alto assim lá na China. Cai na real, Mário! Mas é tão bom sonhar.
Falei com Nina agora, ela disse que meu livro vai ser publicado. Que as
palavras dela sejam proféticas. Pois é, outra pessoa para quem espalhei a
notícia. Mas ninguém vai ter inveja de mim por ter escrito um livro, não é
sonho de ninguém para quem eu divulguei a ideia ter um livro publicado. Não com
tanto afinco quanto eu, pelo menos. Só o meu amigo que também vai lançar um
livro e está num processo bem mais avançado do que eu. Estou muito curioso por
sua obra. Acho que a leria. A recíproca, no caso de materialização da minha,
não é verdadeira porque o meu livro é tão absurdamente grande que ninguém terá
paciência para lê-lo. É melhor eu ir tirando o pé do acelerador. Que não vai
rolar o livro. Haja dicotomia para um homem só. Para ser sincero, estou quase
acreditando que o livro vai ser publicado. Eu tenho essa fé dentro de mim, nem
que a impressão de 50 exemplares bancada por mim. Mas queria fazê-lo com a aprovação
do conteúdo por alguém, nem que seja a incrível revisora e, quem sabe e
principalmente, de um escritor consagrado, como é o caso do nosso amigo
Raimundo Carrero. Ele vai dizer que após o episódio que é o clímax do livro, o
texto perde dinamismo e torna-se tedioso. Não sei, não sou adivinho. Que
textinho mais chato o de hoje. Jurando que vou receber e-mail de Seu Raimundo
sobre a minha obra. E estou mesmo, pode me achar bobo; se ele não quisesse, não
teria me mandado o e-mail de resposta. Já imagino como será a capa. E vai ser
produzida com uma foto tirada com o meu celular. Amanhã a tirarei. Dos azulejos
brancos da parede da área de serviço do apartamento, que acho que, para dar o
“tchans”, têm uma rachadura que caberia bem na capa. Verei isso quando for
fumar o cigarro para dormir. Obviamente, antes de dormir contarei se há ou não
há rachadura. Falando em fotos, nunca brinquei com os recursos da câmera do meu
celular, acho que dá para ampliar o tamanho da imagem na altura (se o celular
estiver em posição vertical, digo) e sabe-se lá mais o quê. Fato é que não
estou com vontade de mexer nisso agora. Estou com mais vontade de ir à área de
serviço ver os azulejos. Vou lá e já tento tirar a foto. 23h16. Me deitarei à meia-noite.
23h20. Fui lá tirei a foto, mas não me afeiçoei dela, a
rachadura é muito fina e mal se percebe. Mas trabalharei na imagem para ver no
que dá.
23h28. Não deu em nada de interessante. Talvez se puser só
um azulejo rachado em close fique melhor, sei lá. Se arrumar uma editora, eles
se viram para fazer a capa, obviamente farei algumas observações.
Foto da capa do livro? |
23h42. Mandei um WhatsApp para uma ex-colega de trabalho que
tem acesso a um banco de imagens na agência para ver se ela me desenrola uma
imagem legal de azulejos. Vamos ver no que isso vai dar.
A hora de dormir se aproxima, vou ligar o ar.
23h53. Não estou ainda pronto para desistir daqui e ir
dormir, mas quando o copo de Coca acabar me retiro. Sei que dormirei em
seguida. Acho que a solução para o comprovante de residência seja enviar uma
carta para mim mesmo. Não sei isso conta como comprovante de residência, mas
talvez valha.
0h00. Começamos o mês de maio. Minha viagem se aproxima e o
dia final para a entrega da obra para o concurso nacional de literatura também.
Tomara que mamãe ache um comprovante de residência amanhã. Seria massa mandar
com as sugestões do escritor, mas nem sei ao mesmo se Seu Raimundo vai se
dispor a ler tão caudalosa obra. Mas já falei isso aqui de todas maneiras e
variedades possíveis. É porque estou muito empolgado com a ideia. Mas muito
empolgado estava com a ideia do meu tio me ajudar e dei com os burros n’água.
Então, gato escaldado que sou, não posso, não devo e não quero criar
expectativas a esse respeito. O meu livro já está nas mãos mais do que
capacitadas da minha amiga revisora. Mas que seria o bicho ter um prefácio ou
coisa que o valha de Raimundo Carrero, isso seria. Mas é um bicho que não vai
ganhar vida, pois não tenho coragem lhe pedir isso, mesmo que venha a passar os
olhos pelo texto. Sei lá. Se ele gostar
da obra, numa intervenção divina, tento criar coragem de lhe pedir um prefácio
ou o texto da contracapa. Sei lá. Certamente pediria que me indicasse a alguma
editora. Mas nada disso vai ocorrer, seu sonhador idiota. Não há mérito
literário nenhum nesse seu “Diário do Manicômio”. Novamente lutando contra
moinhos de ventos. Cabeça-de-vento que é. O destino ou o acaso ou Deus
decidirão a causa a meu favor ou não. Só posso esperar e espero com esperança.
Esperança esse sentimento tão presente na minha vida que acho que nunca me
abandona. Vamos ver o que o dia de 1º de maio me proporciona. Pelo menos uma
ida ao cinema e talvez um rango no chinês ou no McDonald’s. Dispensaria os dois
para poder ficar em casa. Mas agora que demonstrei interesse pelo programa, me
sinto constrangido de dar para trás. Incrível como consigo preencher páginas
com absolutamente nada. Essa façanha nunca vai deixar de impressionar.
0h27. Espero que Seu Raimundo não seja do Movimento
Armorial, pois odiará as minhas colocações em inglês. E faço várias ao longo do
texto. Lembrei disso agora. Bom, seja o deus quiser. Boa noite, Seu Raimundo.
Hahaha.
-x-x-x-x-
11h22. Acabo de acordar. Estou tomando um café da máquina de
mamãe, aquela das cápsulas. Estou, como de praxe, com os sentimentos
arrefecidos pelo despertar, muito embora a minha primeira ação tenha sido ir
ver os e-mails em busca de uma mensagem das duas pessoas que têm o original do
livro em mãos. Nada, só uma mudança no pagamento da Red Sonja pela Sideshow,
parece que vão pular o mês de maio. Minha mãe ficou de me dar uma nova carteira
de cigarros e, como tem um trabalho agora a fazer, não poderá procurar um
comprovante de residência, último item necessário para que eu possa mandar o
livro para o concurso. Penso em revisá-lo uma vez mais antes de mandar, mas,
quer saber, já mandei do jeito que estava para a revisão com minha amiga e para
Seu Raimundo, não vou mexer mais não. Se eles mexerem e melhorarem, ótimo,
qualquer aperfeiçoamento será muito bem-vindo, ainda vindo de pessoas que
respeito bastante. Seu Raimundo é respeitado por muitos, é um escritor de
verdade, não é uma Mário da vida. Mas nem guardo muitas esperanças de ele me
responder. Mas continuo muito obcecado com o livro, né? Poderia variar nos
assuntos. Pedi a minha mãe que fizesse o cheque e o deixasse comigo, para que,
assim que meu primo urbano der as caras por aqui, possa pegar o pagamento de
sua namorada, a incrível revisora. A Seu Raimundo, eu não poderei pagar, espero
que ele não pense que estou contratando seus serviços ou algo que valha. Pois
aí sairia muito caro para mim, e o contatei pedindo um favor e ele aquiesceu.
Mas novamente me volto para esta etapa do livro, que começa a ganhar vida para
além de mim. Esse fato de outras pessoas, pessoas gabaritadas, estarem lendo me
anima milhões, mas esse foco só nesse assunto, me faz temer estar entrando em
estado de mania. Quando começo com essas obsessões, esses pensamentos fixos, é
sintoma. Por outro lado, saber que sua obra, a obra da sua vida, sua grande
contribuição para o mundo, vai ser lida por um grande nome da literatura
brasileira é algo que se afigura fantástico e excitante. Não há como ser de
outra forma. Pelo menos não para mim. Hoje é 1º de maio, dia do trabalho. É
feriado pelo menos no Brasil, a essa época em que escrevo isso. Para mim
feriados não têm mais muito sentido, pois sou curatelado e exerço minha
profissão de fé por prazer, não por obrigação, então sigo a escrever hoje como
o faço todos os dias. Poderia ter me candidatado a ir no cinema com o meu primo
urbano, mas não senti vontade real, não queria ver um filme que desse sustos,
ainda mais no cinema. Se o meu amigo jurista fosse, eu até me animaria, mas ter
que pegar Uber e tudo o mais, não me pareceu uma ideia agradável. Se ele
tivesse ido ver no Plaza, o que não sei se fez, era mais jogo, pois poderia ir
e voltar andando. Queria ter de novo aquela sensação de viver numa
superprodução. Não me acomete desde a ida à Casa Astral. E já andei pelas ruas
e estive em lugares nesse ínterim.
12h20. Falei com a minha irmã sobre a compra da sua casa
própria. Lá na Alemanha é feriado também. A parte que roguei a suposta deidade
que a tudo governa funcionou, mas um novo problema se alevantou, a mulher do
proprietário não concordou com o acordo, mas aí não tenho cara de pedir mais
nada ao ser supremo, que sua vontade seja feita e que venha para o melhor para
minha irmã e família. Há uma questão de prazos que pode inviabilizar o negócio
se a mulher continuar botando areia. Tomara que dê certo, mas minha irmã e meu
cunhado já dão sinais de esgotamento. Uma pena. Mas ainda tenho fé que vá dar
certo. Só não vou pedir ao rei (ou rainha) do universo para interceder, pois já
pedi demais. E nem acredito nele(a). Foi mais superstição vinda sei lá de onde
mesmo. Acho que vou acabar esse post por aqui. Está com 8 páginas já. Está de
bom tamanho. Mesmo que vá continuar o assunto do próximo. Ou não. Após revisar,
pode ser que minha alma esteja em outra seara, mas acho difícil ela deixar de
orbitar o assunto livro. Bom, vou revisar.
14h01. Um breve adendo. Não fui ao cinema com a minha mãe e
o meu padrasto, eles iriam ficar procurando TV para comprar e mamãe queria,
para que eu não me entediasse com a pesquisa de televisores, que eu visse dois
filmes seguidos. Disse-lhe que não queria ir porque o shopping estaria muito
lotado, afinal é feriado, não tinha paciência para ver dois filmes seguidos e
muito menos para ir de loja em loja atrás de TVs. Ela permitiu desde que eu me
comprometesse a ir no cinema do Plaza andando, algum dia da semana. Com o que
prontamente concordei. Foi uma troca ótima para mim. E ainda coincidiu que
terei um encontro inesperado e esperado com o meu amigo da piscina. Fico por
aqui. Quero começar um novo post.
Nenhum comentário:
Postar um comentário