quinta-feira, 17 de maio de 2018

ESPERAR, ESPERAR, ESPERAR


12h37. Acordei, dei uma força para minha mãe na cozinha, nada demais. Fumei dois cigarros e me ponho aqui à disposição das palavras. Elas terão que vir a mim, pois não estou com cabeça para alcançá-las. Se minha mãe realmente fizer café talvez a situação mude. Ainda estou com o folder na cabeça, mas se não me mandaram nenhuma mensagem ainda acho que é porque está ok. Assim espero. Fazer layout para mim é uma questão de fazer as informações caberem no espaço determinado. Nesse, meio que se encaixou por mágica. Em verdade, eu as fiz caber, mas nem sei bem como. Às vezes acho que é sorte. Não daria nunca o mérito ao talento, pois este não possuo. Não sou, como disse a meu tio, um designer, sou apenas um “resolvedor” de problemas visuais. Não tenho o dom e olhar artístico de quem tem o dom para essas coisas.

12h52. “Aurora” passa no som.

13h00. Fui à cozinha a princípio pegar Coca, mas acabei ajudando mamãe em mais uma ou duas coisas. Ela vai fazer café para mim, o que é ótimo, é o meu elixir do Obelix. Hahaha. Estranho o meu amigo da piscina não ter dado mais sinal de vida. Talvez não esteja aqui no prédio. O cheiro do líquido oficial do Vaporfi, impregna a área do computador mesmo que eu não o esteja fumando no momento. É um sabor muito ativo, espero que quando migrar para o líquido chinês de novo, esse cheiro se dissipe, pois é meio enjoativo. O que posso dizer da minha vida? Minha mãe vem se cansando com extrema facilidade e vive em dor por causa do joelho, não sei por que essas provações se ela é uma pessoa boa e idônea. Coisas da vida. “Surprise! You’re Dead” do Faith No More. Graças aos céus mamãe está viva. A minha morte quando chegar será uma coisa bem esquisita. Para os que ficam, digo. Ainda bem que não possuo bens e nem sei para quem ficariam. Deixarei um espólio de bonecos inúteis que ninguém vai querer. Será que terei publicado até lá? Isso me parece tão pequeno quando constato que vou morrer. Perde o significado um pouco. Pois, quando eu morrer, nem livro nem coisa alguma terá sentido ou razão de ser. Afinal eu, principal interessado, não mais serei. Tudo o que me move, que não são muitas coisas, perderão a cor, o significado. Mallu toca mais deliciosa que de costume. É bom estar vivo. Já houve longos anos em que não pensava assim. Mas a medida que a morte se aproxima e o pensamento dela me ronda, tanto mais valorizo a condição de existir. O que restará de mim são essas palavras na internet, enquanto a Google prestar os seus serviços. Tenho grande identificação com o personagem de “Her”. Solitário, plantonista, escritor de coisas sem muita importância. Na faixa dos 40. Nossa, como já estou passado, o mundo não mais me pertence, o mundo é dos mais jovens. Tenho experiências dúbias a respeito dessa juventude. Sou otimista em relação à humanidade, por isso tendo a achar que essa nova geração vai ser superior a outra, à minha, que é uma geração maravilhosa, dos filhos pós-ditadura. Mas vejo uma vacuidade moral e ética que não está sendo preenchida. Acho que a escola deveria tomar esse papel para si, se é algo que falta no seio familiar, ou até mesmo para reforçar os valores aprendidos em casa, ou quem sabe questioná-los. Estou falando besteira. Me perdoem. Já tomei a primeira xícara de café e está uma delícia. Vou pegar outra depois de ouvir “A Sort of Homecoming” ao vivo. Tem esse DVD que preciso ver antes de morrer com a apresentação do U2 no Live Aid, de onde essa música foi tirada. Não sei como vai transformar a música para mim, vê-la com cara e corpo. Queria que a prática da escrita de alguma forma melhorasse o meu estilo e delineasse mais uma voz própria, mas não vejo ou percebo isso acontecer. A música acabou. Vou pegar o café.

13h43. Meu padrasto disse que eu estava feliz pois estava cantando a música do U2 que ouvi. Realmente o café me animou bastante e hoje, aniversário dele, meu padrasto, não vou ficar me maldizendo aqui pois isso não leva a nada a não ser a um desgaste emocional que impilo a mim mesmo. Melhor pegar essa opinião do meu padrasto e levar a vida com mais leveza. Terei que ir jantar com a família hoje. Não estava a fim, mas não promete ser tão ruim. E gosto muito do restaurante. É só coisa de realinhar a alma de acordo com esse novo propósito. Estou ficando cada vez mais dislexo. Isso me incomoda. Ouço “Janta” com Camelo e Mallu e pensamentos contraditórios me assaltam. Nada que julgue conveniente explanar aqui. Algo que não julgo conveniente explanar. Não ainda, pelo menos. Poderia ter feito a combinação cromática do folder bege com azul-marinho, mas gosto mais do vinho. É minha combinação trunfo, usei a minha fonte trunfo e espero que não surjam novas demandas em relação ao assunto. Achou louvável a iniciativa de titio de mostrar aos alunos da escola pública que alguém que começou como lavrador chegou tão longe quanto ele. Acho que isso serve de incentivo para eles pensarem mais alto e sonharem além, quiçá se dedicarem mais aos estudos. Hoje não estou muito na expectativa de Raimundo Carrero me responder. Pelo menos não ainda. Espero que continue assim. A mim me parece que o destino/acaso não quer me outorgar essa validação. Mas mudemos de assunto. Acho a luz do meu quarto perfeita, com sua película, para iluminar o Hulk. Obrigado, existência, por isso. Fui ao banheiro e achei o meu quarto com agradável cheiro de café misturado com o do Vaporfi que dão a impressão que entrei numa dessas padarias chiques. Sei lá um cheiro agradável e convidativo. Esse café que mamãe fez ficou uma delícia. Tudo está absolutamente perfeito da forma que está. O meu quarto-ilha, ainda com o ar ligado para dar uma esfriadinha está o lugar mais confortável do mundo para mim. O que poderia estragar o meu momento? Ser roubado dele. Ser forçado a parar de escrever. Ou o tédio vir me acometer na forma de falta de assunto. Nossa, se por acaso eu tivesse relevância para a humanidade, esse blog seria a autobiografia mais expansiva possível. Engraçado que aos 30 não pensava muito sobre a minha morte. Com 40 este pensamento já começa a me rondar. Será que com o aumento da neurose a esse respeito, eu vou passar a cuidar mais da saúde? Acho tão improvável. "Glory Box” do Portishead toca, não sei muito bem o que pensar dessa música, é cool e climática, meio abertura de 007. Mas não posso dizer que me toca a alma. Embora não me desagrade tampouco. É algo que ouço sem fazer cara feia e sem elevar o meu espírito. Meia insossa para o meu paladar talvez. Tenho um primo que até onde sei adora essa banda. “The Lovecats” do Cure, essa já mexe comigo, é parte indelével da minha alma e é deliciosa. O contrabaixo dá a ela um clima levemente “jazzy” é muito divertida e alegre. Embora algo noturna. Mas isso são impressões de quem anda entende de música, só coloco o que me evoca a canção. Estou curioso sobre a revisão da incrível revisora, mas sei que ela não vai acabar de revisar a parte gramática e ortográfica tão cedo. Amanhã (17/05) é o último dia para enviar obras para o concurso da Cepe. Não sei mais achar o link, mas acho que com uma busca no site da editora você acha. Pulamos de Cure para Alice In Chains “Them Bones” e disso para uma música de Super Mario Galaxy que vou pular. “No Future” do Blink 182. É exatamente a posição em que vejo a minha obra agora, “no future” total. Quando me distancio e olho de fora, o mais de fora que posso, acho uma iniciativa infantil de algo que não tem o mínimo mérito literário. Que não é literatura. Logo, não tem o direito de se transformar em livro. Mas vamos ver o que o acaso/destino me reserva. Se quiser que minha obra seja publicada, segundo os meus padrões, será. Senão, não. Um amigo ao qual eu fui ao aniversário há cerca de 15 dias, disse que o reconhecimento do meu primo é mais importante que o de Seu Raimundo. Não consigo me convencer disso. E não vou me publicar se não houver alguém (que julgue meritório) ache a minha obra válida. E como digo em todo post desde que enviei a bendita obra para ele, Seu Raimundo seria a pessoa que me coroaria escritor, seria uma aprovação que nem meu pai poderia refutar. À altura de seus padrões de qualidade. Eu me sentiria pela primeira vez profissionalmente realizado e válido como pessoa. Não poderia esperar algo maior que isso. E por ser tão grande, tão mais impossível se me afigura, por mais que o próprio Carrero tenha se disponibilizado a ler a minha obra. Saco, já estou entrando na neurose de novo. Deixar isso para lá. Deixo para pensar nisso quando a incrível revisora me entregar a primeira etapa da revisão. Mas sei que não vou conseguir me distanciar do meu maior sonho profissional por muito tempo. Um dos meus dois maiores sonhos. Um mais impossível que o outro. Hahaha. Sonhar é bem baratinho, então deixem-me sonhar. Hahaha. O superego já queria entrar para me humilhar e me rebaixar a minha insignificância, mas não vou deixar ele fazer isso comigo hoje. Ou no momento. “Everlong” do Foo Fighters. Embora não seja uma das minhas bandas prediletas gosto desta canção, essa me toca de alguma forma, especialmente a parte mais calma, que me lembra andar num estrada de carro à noite. Com os amigos. Não sei se essa situação se deu de fato tendo como trilha Foo Fighters, mas acho que não. Já viajei à noite com os amigos, mas não creio que Foo Fighters foi o som que ouvimos. Este post está muito musical. Fazia tanto tempo.

15h02. Meu tio mandou um WhatsApp perguntando se havia feito as alterações no folder. Acho que fiz, mandei para ele olhar. Quando me mandou ontem estava com a cabeça muito cansada, pode ter passado algum deslize.

15h08. Fui pegar mais café. Acho que vou fumar um cigarro.

15h17. Fumei e fiz um elogio ao meu tio WhatsApp. Sincero é claro. Só faço elogios dessa natureza. Nossa, como queria que ele tivesse o contato de Raimundo Carrero e fizesse uma ligação para ele perguntando se ele está lendo o livro ou não. Sei que é pura insanidade. Mas meu tio é secretário de comunicação – descobri com o folder –, ele deve ter o contato dessa galera toda. Acho que isso só deixaria o escritor fulo da vida. Mas se der um mês e ele não me responder, acho que vou apelar para esse expediente. Se meu tio se dispuser a esse papel, claro. Será que terei cara de pedir ou a resposta chegará antes? Como queria uma resposta do escritor, mesmo que negativa. Não vou me deixar levar pela ansiedade que o café me dá. A vontade de mandar outro e-mail me cutuca de novo. Meu tio veio conversar comigo sobre o elogio no WhatsApp, quase, foi por um fio que não pedi para ele ligar para Seu Raimundo. Estou quase escrevendo um e-mail pedindo que o faça. Tenho que me controlar, é só cafeína demais no sangue. Mas de posse de toda essa cafeína e da informação que meu tio é secretário de comunicação, a tentação é grande. Não tomaria cinco minutos de um e de outro. E alguns minutos a mais de Seu Raimundo para me mandar um e-mail me desiludindo ou me aprovando. Estou mesmo com fixação no bom velhinho. O negócio é esperar, esperar e esperar. Nada de afobação. Mas tudo o que tenho é afobação. Queria que essa resposta viesse logo. Só queria saber se ele está lendo. Se vai ler. Se já leu e achou uma porcaria. E eu que disse que não iria mais falar desse assunto. Só que esse é o assunto mais importante da minha vida no momento. É irrelevante para os dois outros, mas para mim é de suma importância. Minha autoimagem necessita disso.

15h48. O que diria ao meu tio? Não, isso é lobby. Não é mérito. Mas só queria saber a opinião sincera do escritor. Queria saber se vai ler ou não o livro. Se está lendo ou se o dispensou. E é melhor esperar. Esperar, esperar, esperar, esperar. Mas vou pedir como pagamento do folder uma ligação para Raimundo Carrero daqui a um mês. Tenho que tomar coragem para isso. E mandar um e-mail para o meu tio. Isso é lobby? É. Mas tenho que me utilizar de todas as ferramentas que disponho. Tal telefonema me traria paz à alma. A garantia desse telefonema. O que diria a meu tio?

Tio, como pagamento do folder eu queria um favor que só você pode fazer por mim, uma ligação para Raimundo Carrero no final desse mês (31 de maio). Me explico. Eu mandei o livro, o “Diário do Manicômio” para ele ler o que ele disse que faria com prazer e me diria se é digno de publicação ou não. Eu mandei dia 30 de abril, faz cerca de 15 dias. Como ele deve ser tão atarefado como você, acredito que ele leve cerca de um mês para ler assim como se deu no seu caso. Se nesse período ele não me responder, gostaria muito que você... não tenho coragem, isso é insanidade de mente ansiosa, não vou botar meu tio para pressionar seu Raimundo. Eu posso eu mesmo fazer isso. É até mais digno. Deixar fazer um mês e mandar um e-mail para ele se nenhuma resposta chegar antes. Droga, estou completamente imerso nessa utopia literária, que ozzy. Essa ansiedade é que me quebra.

16h38. Dos males o menor, mandei um WhatsApp para a incrível revisora perguntando o que fazer. Mas não é possível que não consiga publicar com a ajuda do meu tio. É lobby, mas sairia por uma editora que distribuiria o meu livro na Livraria Cultura (grande sonho) e teria que passar pelo conselho editorial de qualquer forma, o que não deixaria de ser uma validação do meu trabalho, afinal, se uma editora decide publicá-lo é porque é publicável. Eu sei que o meu tio é a melhor peixada que eu poderia ter para publicar o livro. Além de secretário de comunicação, ele é do conselho editorial da tal editora. Quero saber a resposta da minha amiga revisora sobre a questão.

16h49. Recebi a resposta da Nestlé sobre o e-mail que mandei ontem, o mesmo blá-blá-blá de que vão passar a minha sugestão a quem de direito etc. e etc. Sugeri que fizessem Bono de frutas vermelhas, limão e de chocolate com recheio de coco. Esse e-mail eu recebo com presteza ímpar. Já o que me interessa...

17h05. Minha amiga, a incrível revisora, disse que era pouco tempo. Relaxei mais. Ele é um homem bem ocupado, segundo ela, e que é melhor ter paciência. Nossa, como isso me relaxou.

17h13. E o complemento dela me relaxou ainda mais. O negócio é fazer o que tenho que fazer, esperar, esperar, esperar. Mas cada vez mais relaxado. Ela disse que esse tempo não é sinal de desinteresse, que ela está lendo o livro e não está nem perto de terminar. Aí fico tranquilo. Fica o combinado nos e-mails anteriores, que quando ela me entregar a primeira revisão, eu mando um e-mail perguntando a ele. Caso não venha resposta antes. Há sempre essa possibilidade. Sobre o que posso falar mais? Irei jantar fora dentro em breve e confesso que não estava nos meus planos. Mas não será tão terrível quando imagino. Espero que não seja demorado. Vamos ver se com essa relaxada que a minha amiga revisora me deu eu baixo o facho um pouco. Vamos crer no cenário ideal, ele está lendo um pouquinho a cada dia e, quiçá, fazendo algumas observações. E me enviará a sua opinião quando o tempo chegar, quando terminar de ler. É só dar tempo ao tempo. Não há nada mais a ser feito. Quem me dera ele desse uma sugerida de como melhorar o texto. Nossa, como estou mais relaxado agora. Eu não sei lidar direito com a coisa mais importante da minha vida. É algo que para mim é grande demais e me deixa ansioso, eu que venho do mundo da publicidade estou acostumado a prazos curtíssimos e a entregas expressas. O mundo literário gira em outra velocidade. Se Seu Raimundo não me respondeu ainda pode ser porque viu algum valor no que escrevi e está se debruçando com interesse sobre o livro. Vamos parar de falar de Seu Raimundo? Que neurose ozzy. É mesmo superego. Bom se vocês virem para vender Bono de limão, frutas vermelhas ou chocolate com coco, saibam que tem um dedinho meu aí. Hahaha.

17h33. O que queria agora? O que dizer agora? Meu tio não mais me contatou, então acho que o folder está ok. E eu que antes de falar com a incrível revisora estava pensando em pedir ao meu tio que intercedesse por mim junto a Carrero? Precisava de alguém que me tranquilizasse e minha amiga revisora foi na lata. Não deveria, entretanto, ter mandado o e-mail ansioso para ele. Foi o maior vacilo. Bem, está feito e o que tiver que ser será, não mandarei mais nenhum outro e-mail para Seu Raimundo. Esperar, esperar, esperar.  

17h39. Puxa, não há um post em que eu não toque nesse assunto. Não tocarei mais hoje. É que com a mente vazia de outros interesses e afazeres dá nisso. Bom, hoje vou no Burgogi (não sei se é assim que escreve) comer um churrasco coreano que é o bicho. Espero que peçam o churrasco.

17h44. Não há nada a dizer.

17h49. Minha mãe ligou para desabafar que está presa a uma hora e meia no trânsito. Espero que ter repartido isso comigo alivie mais o seu estresse. Deus me livre está no lugar dela. Tomara que esperem as ruas esvaziarem para irem ao restaurante. Nossa, se minha amiga revisora soubesse o bem que me fez. Estar relaxado é uma sensação que não experimento há dias. Deveria ter falado com ela antes. Mas fiquei com vergonha. Deve estar uma guerra o trânsito. Todos estressados querendo chegar logo sem poder porque a coisa como um todo não flui. Verdadeiro inferno. E o pior é que mamãe nem foi atendida pela médica, todo esse deslocamento em vão. A bichinha ainda com o joelho ruim. Que urucubaca.

18h01. Ouvi “O Resto do Mundo” de Gabriel o Pensador. Às vezes me dá vontade de ser mendigo, largar tudo e viver na rua, mas não teria como conciliar isso com a escrita. Vivendo na rua a primeira coisa que me roubariam seria o computador. A não ser que fosse em um celular, que seria mais difícil de roubarem e extremamente mais difícil de digitar. Vi uma praça uma vez que concentrava dezenas de mendigos, queria muito voltar lá. Para ver qual é. Por que se aglomeram ali e coisas do gênero. Falo isso da boca para fora. Nunca abandonaria o meu quarto-ilha para morar numa praça abarrotada de gente levando chuva, sem ter banheiro, sem ter nada, só o celular para relatar a minha experiência. Seria um projeto interessante, passar sei lá, dois meses vivendo entre eles e escrevendo. Talvez fosse material para outro livro. Mas estou delirando aqui. Não teria coragem para tanto. Eu acho. Nem minha mãe como minha curadora me permitiria. E não abriria mão da curatela para viver essa experiência. E, cada vez mais, minha mãe precisa de mim. Não, são só devaneios. Mas é uma realidade que talvez seja pouco descrita, não sei. Acho que não em tempo real. No meio da coisa, devem haver livros de memórias sobre isso. Bom, nem publiquei o primeiro já quero me meter em outro. Ainda mais ozzy que o primeiro. Mas é tudo bravata, não tenho coragem de fazer isso. “Dirt” do Alice In Chains passa, acho que é a minha predileta deles. Viver sem música, sem comida, sem dinheiro, sem higiene, sem nada. Só com o celular e as roupas do corpo. Daria uma interessante narrativa, mas não acredito que fosse levá-la a cabo, para depois de satisfeito, abandonar aquelas pessoas e voltar para o meu castelo de conforto. É quase que fazer pouco deles, que não podem se desvencilhar da realidade miserável em que vivem. Deixa para lá. Arquivar esse projeto. É só mais um delírio da minha cabeça. Nunca ousaria, eu acho. Usaria a camisa que pintei com os dizeres “Quem eu serei?”. E esse seria o nome do livro. E a capa seria a foto da camisa imunda por ser a única roupa que eu usaria nesse experimento social e literário. Eita, até layout já tem! Minha insanidade não conhece limites. Hahaha. Acho que vou tomar banho para esse jantar. Nossa, do foco na miséria absoluta direto de volta para a minha realidade de burguês em uma frase. Chega me deu um choque, saber que enquanto naquela praça pessoas sem nenhuma expectativa se aglomeram ao relento, eu vou tomar um banho quente com total privacidade no meu banheiro para depois ir a um restaurante coreano, quando muitos não vão ter o que comer hoje. Eu sou muito abençoado. E não fiz nada para merecer isso, foi a seleção natural e social que me colocou onde agora estou, não foi mérito, foram as circunstâncias que me foram absolutamente favoráveis. E continuam sendo. Se bem que já estive num manicômio, já paguei partes dos meus pecados ali. E digo, o homem se acostuma a tudo. Eu me acostumei àquele lugar, por mais que quisesse sair. Vou tomar banho.

18h51. Cá estou devidamente banhado e perfumado pelo meu perfume importado, trazido de uma viagem à Europa, enquanto pessoas fedidas, imundas e encardidas, provavelmente de espírito mais nobre que eu, perambulam pela noite recifense que se torna tanto mais inóspita nesse período de chuva. Isso me perturba, pois o fato de eu estar aqui em vez de lá é mera obra do acaso/destino, não fui eu quem arquitetou isso para mim, se o foi, foi em parcela mínima. Eu amo o meu Hulk, mas no meu atual estado de espírito, o vejo como o cúmulo do supérfluo. Não que ele não tenha grande importância para mim, mas sobreviveria da mesma forma sem ele. E sem a maioria das coisas no meu quarto-ilha. Essa história dos mendigos me deixou meio encasquetado. Será que algum dia vou ter coragem de passar por isso em troca de uma outra obra? Acho que não, sou muito acomodado, comodista, preguiçoso, não teria as malandragens para as coisas da rua.


Será que teria coragem de me sentir uma coisa em busca de alguns trocados para sobreviver
e daí emergir com uma nova obra? Creio que não. 



19h05. Minha mãe chegou finalmente. Chegou chorando do estresse a que estava submetida na prisão do trânsito. Minha irmã PE ainda não chegou para que possamos ir ao restaurante. Espero que demore um pouco mais. Se bem que estou com fome. Não comi nada hoje. E já estou pronto. E não tenho muito o que dizer. Isso é que é ozzy na vida que levo, o tédio. Quando ataca é de lascar. Achei que o post de ontem ficou bom. Devo ter falado de Seu Raimundo, para variar, mas tem uma parte que fala da minha relação com a solidão que ficou interessante. Fora a descida até o que acho de mim. A conclusão dessa incursão foi que a vida é muito curta para ficar alimentando as minhas neuroses, é melhor jogar tudo para debaixo do tapete e aproveitar, pois a viagem pela existência é curta para desperdiçá-la com autoflagelação existencial. Se eu me acho um merda, não vou me focar nisso. Vou me focar no que há de bom em estar vivo. “Ciranda da Bailarina”. Essa é uma parte boa de estar vivo, essa música. Viver a vida que eu vivo é fantástico, principalmente se usar como contraponto a vida de um mendigo. É uma comparação radical, mas válida mesmo assim. E me constrange o tanto que tenho vendo por esse prisma. Nossa, como sou grato pela minha condição. Não há mais nada de material que deseje, afora o livro e o livro é muito mais uma realização que um objeto apenas, é algo repleto de significados para mim, significados positivos e negativos, mas quero crer que mais positivos. Ou preciso acreditar dessa forma. Não acredito que chegaremos no velho escritor uma vez mais.

19h34. Mandei mais uma mensagem para a minha amiga revisora explicando por que não faria o curso de Seu Raimundo. Tenho medo de que aconteça com escrita o que me aconteceu coma pintura quando me puseram para fazer um curso; peguei total aversão a pintar. Nunca mais pintei nada depois daquilo. Não quero que isso me aconteça com a coisa mais importante da minha vida, mesmo que ignore o que seja particípio passado ou adjunto adverbial. Para mim são palavras desprovidas de qualquer sentido. E não preciso delas para tecer o meu texto. Não preciso saber a lógica, as engrenagens, a metodologia da escrita. Basta-me ter palavras na cabeça para me dizer e dizer o que eu quiser. O resto é resto. Se for o caso, que nunca será o do blog, eu mando para incrível revisora consertar o meu paupérrimo português. Senão vai com a minha revisão capenga mesmo. Que já percebi mais de uma vez, deixa passar erros crassos. Perdoem-me os leitores, mas é o que tenho a oferecer e não quero oferecer nem mais nem menos. Me é suficiente por mais que não seja formalmente perfeito. É pelo menos sincero. E se tem uma coisa que sempre funcionou positivamente para mim foi a sinceridade. Sempre que me encontro numa situação difícil apelo para a sinceridade. E aqui da mesma forma, para que ficar mentindo sobre mim, o que eu ganharia com isso? Qual seria o prazer de me contar diferente do que me percebo, me vejo, me sinto? Fazer uma publicidade de mim, me transformar num produto a ser vendido? Não, desisti da publicidade há anos. Por mais que meu tio venha me pedindo esses favores que não sei como negar, mas que só farei até a consecução do meu livro. Se esta vier por intermédio dele. Vejo que ele não está tão interessado em me ajudar quanto está interessado na minha ajuda. Que seja, vamos ver em que isso vai dar. Se der tudo do jeito que sonho, será realmente um sonho realizado. O maior sonho como pessoa da minha vida, a maior realização pessoal e profissional. Só me restará um sonho, mas este é ainda mais impossível que o outro. E nesse caso também estou de mãos atadas, pouco me resta senão esperar. Um bocado de tempo por sinal. Mas para esse pelo menos eu tenho um prazo, o que falta ao meu sonho do livro. Tenho todo tempo do mundo e a esperança, esta não me falta. Pode ser em vão, pode ser que nada saia como espero. Pode ser que meu livro não saia nunca. Pode ser que a solidão seja a minha eterna companheira. Pelo menos tendo as palavras sempre abundantes, estou feliz. Vou sair para o jantar. 19h56.

22h14. Estou de volta ao quarto-ilha. Vou ter que preparar os remédios para tomar. Não sei se me demore aqui. A comida me deu sono. Não fomos ao restaurante coreano, mas a um rodízio japonês que fica aqui pertinho de casa. Não comi nem muito nem pouco, o suficiente. Talvez os remédios me deem fome ainda. Veremos.

22h20. Botei os remédios e tomei-os. Minha mãe está com o joelho muito ruim. Falava do futuro, mas o que tenho é apenas e sempre o agora. E neste momento, estou com um pouco de sono, mas não muito. Talvez dormisse se me deitasse, mas desobediente de mim que sou, ficarei aqui mais algum tempo. Ou talvez vá paragens outras, faz tempo que não frequento o Desabafos do Vate. Embora não tenha nada que queira por lá por ora. Obviamente não recebi nenhum e-mail nem agradecimento pelos serviços prestados. É, vamos ver se o meu pagamento virá na forma que eu intento. Mas tenho tempo, até ter a revisão definitiva e poder fazer a cobrança definitiva falta tempo. Novamente tenho a vida toda para esperar tais eventos. Só espero que a recompensa seja a devida e sonhada publicação. Se não for, confesso que ficarei muito frustrado para dizer o mínimo. Meu tio tem todas as cartas na manga para viabilizar o projeto, resta saber se fará uso delas. Eu o tenho ajudado. Bom, deixa ser pelo coração, se é loucura então melhor nem ter razão. Em Raimundo Carrero gostando, já me dou por realizado. E tento até uma produção independente. Mas certo seria meu tio viabilizar a publicação. Afinal o estou ajudando não é por interesse monetário, é para ter minha obra publicada por uma editora que tenha uma boa distribuição, aquela em que meu tio é do conselho para mim está de excelente tamanho. Nossa, bateu uma saudade agora. Não vejo minha mãe em condições de viajar. Vai dar mais trabalho que alegrias. Vai ser complicado. Não acho uma boa ideia de maneira nenhuma. Se nem conseguir levar as atividades cotidianas daqui ela está sendo capaz, que dirá pegar sete horas de voo sentada, andar por aqueles aeroportos enormes, subir as escadas da casa da minha irmã. Bom, deixa ser pelo coração...

22h55. Como o tempo voou desde que cheguei. E já escrevi demais aqui, entrei na oitava folha. Obrigado e xau. 

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