11h45. Acabei de acordar. Tico e Teco estão ainda se
reativando. Fumei um cigarro e coloquei uma xícara do café que mamãe fez. Já
tenho um post à espera de ser publicado e inicio mais um sem saber o que dizer.
Nada mudou de ontem para hoje. Nenhum e-mail chegou dos que poderiam despertar
assunto para cá. Sobre o WhatsApp preciso pegar o celular que deixei para
carregar de ontem para hoje para ver.
12h02. Nada de interessante do WhatsApp também. Peguei mais
uma xícara de café.
12h07. Calma que ainda estou engrenando. O despertar para
mim é um dos momentos mais difíceis do dia. Demoro muito para me tornar
efetivamente desperto. E também estou vazio de assuntos, então com o que
preencherei essas linhas e o meu dia, por conseguinte, é um mistério para mim.
Provavelmente revolverei a minha obsessão pelo livro. Mas não é do que quero
falar agora. Hoje é quarta-feira aquele dia em que não se está nem longe nem
perto do final de semana. Mas a partir do qual parece que já se passou a parte
mais difícil da dita semana. Pelo menos era assim que nos sentíamos onde
trabalhei. Mesmo que a sexta fosse o dia mais puxado da semana por causa dos
anúncios de final de semana. Acho que meu amigo redator está com ranço de falar
comigo por causa da boa relação que guardo com o chefe do meu ex-emprego. Só
posso supor isso, pois nunca mais me procurou. Suponho também que tenha se
separado da mulher. Mas isso é mera especulação tirada dos posts no Facebook,
que nada mencionam separação, diga-se de passagem. Mas, para bom entendedor uma
foto valorizando em demasia a presença dos filhos basta. Não nego que posso
estar a fantasiar, sou dado a fantasias, mas foi o que me pareceu. Não vou
fofocar da vida dos outros aqui. Fato é que nunca mais nos encontramos. A
bateria prateada do Vaporfi já descarregou e está esquentando muito. Não sei se
a substitua logo pela nova ou lhe dê mais uma chance. Acho que dar-lhe-ei outra
chance. Mas acho que será a última chance. Tenho medo de ela estourar nas
minhas mãos. Há lendas urbanas a esse respeito. Baterias de cigarro eletrônico
explodindo.
12h25. Entrei no Facebook e confesso que não tive paciência
de ir além do primeiro post. “Landlady” para começar o dia com um astral
superior. Vou dormir e acordo ouvindo esse disco do U2. Baixo o volume quando
vou dormir, claro, mas fica lá, passando baixinho. É quase uma lavagem cerebral
ao estilo de “Laranja Mecânica”. Que exagero. Hahaha. Mas ouço muito, muito
mesmo. Penso até passar a ouvir o anterior, “Songs of Innocence” para dar uma
variada. Porém, não estou com disposição de mudar agora. Eu que já não sou dado
a disposições, afora escrever, quando acordo sou menos ainda. Lembrei de um
afazer. Colocar um novo xampu no meu banheiro e me livrar das duas embalagens
vazias que estão no lá no chuveiro. Vou fazer isso.
12h33. Pronto agora tenho um Pantene Pro-V Brilho Extremo, o
que quer que isso signifique. Foi o único que achei na despensa. Promete
cabelos três vezes mais brilhantes e macios. Será que meus cabelos vão refletir
mais a luz ou acender no escuro? Hahaha.
12h37. Espero que a incrível revisora ajeite todos os
numerais, vi uma regra massa para numerações ontem num dos muitos editais que
olhei. Deveria ter salvo. Explicava todos os detalhes, mas perdi a página. Não
tenho saco de escavacar a internet a procura dele uma vez mais. Talvez, se me
bater o tédio, eu procure para ocupar o meu tempo. O que mais brilho agrega de
valor ao cabelo? Não faço a mínima ideia, mas pelo visto os(as)
consumidores(as) fazem, a ponto de transformar essa propriedade no diferencial
principal do produto. Curioso. O mundo dos cosméticos me é hermético e
misterioso e quero que continue assim. Os meus cosméticos são sabonete, xampu e
pasta de dente. Se é que estão na categoria de cosméticos. Bom é o que eu uso.
Além de desodorante e perfume. Pronto. Eis aí o que há em meu banheiro que uso.
Isso está parecendo o programa de Ana Maria Braga. Hahaha. Que ozzy. É a falta
de assunto. Queria escrever uma ficção, mas ficção para mim só surge muito
esporadicamente e em condições muito específicas. Posso me forçar a escrever
uma ficção, mas isso não me dá prazer como quando me vem espontaneamente.
Fiquemos sem ficção por ora. O meu quarto-ilha está na penumbra, as persianas
estão fechadas. Não gosto muito do aspecto dele assim, vou abrir as persianas.
12h52. Persianas abertas e alguns minutos perdidos no
Facebook. Já-já saio dele.
12h55. Mais três minutos de Facebook e algumas curtidas
depois, estou de volta. O Facebook tem um empuxo para a minha atenção que não
sei porque se dá, acho que porque sou meio voyeur. Adoro espiar as vidas dos
outros. Só pode ser isso. É para isso que o negócio serve para mim. Não vejo
outra utilidade, que não divulgar o meu blog nos canais de escritores e
leitores e bisbilhotar a felicidade alheia. Penso até em criar um canal desses
eu mesmo para ver o que acontece. A vantagem de fazer isso? Que como
administrador eu posso colocar cada novo post do meu blog afixado no topo da
página, o que pode me gerar mais leituras. Até por ser um post do administrador
o que, queira ou não queira, lhe empresta uma certa autoridade pelo ícone
diferenciado que faz a pessoa parecer de uma patente superior naquele universo.
Vou matutar mais sobre o tema. Não agora, ficará cozinhando no meu
subconsciente. Mas estou quase decidido a fazê-lo. Que nome eu daria? Talvez
“Leitores e Escritores Compulsivos” ou “Escrever e Ler”, vixe não me sai nada
melhor. Quero atrair leitores e escritores, se possível mais leitores que
escritores. Acho que vai no primeiro. Tem mais a ver comigo. Que escrevo
compulsivamente. Hahaha. Vou tentar criar.
13h22. Bom, criei. Tinha que adicionar pelo menos outro
membro, adicionei a incrível revisora. Espero que não se incomode. Está
carregando a foto que tirei da minha bancada e, como estivesse demorando muito,
resolvi passar o tempo deitando algumas palavras aqui. O título foi aquele
mesmo.
13h25. Que lenda para carregar a foto. Tudo bem que mandei
na resolução padrão do celular, que é alta, mas meu irmão, está demorando.
Tentei de novo. Vamos ver se agora vai. Aí vou calibrar uma coisa ou outra, com
o ícone e tal, colocar o meu último post como mensagem afixada e torcer para
que pessoas apareçam para fazer parte.
13h34. Reduzi o tamanho da imagem e apareceu. Não sei como
mudar o ícone do grupo. Nem como fazer nada. Acho que consigo pelo menos
colocar a postagem afixada no topo.
13h44. Pronto. Criei, ajustei e coloquei mais dois amigos no
grupo. Vamos ver o que acontece. Tem um negócio de vincular a outro grupo, mas
não sei como isso funciona, então nem mexi. Mas seria algo útil pois talvez
arrastasse leitores do outro grupo para o meu. Vou tentar isso mais tarde. Mais
tarde que eu digo é daqui a pouco. Acho que vou fumar o meu último cigarro com
café. Minha mãe não me deixou cigarro nenhum. Ozzy.
13h54. Fumei e cá estou de volta. Vou ver o que vincular
grupo significa.
13h56. Só posso vincular a grupos do qual sou administrador.
Não rola. Sim, o endereço do grupo é esse para quem se interessar: https://www.facebook.com/groups/293933507811287/
. Se interessem, por favor! Hahaha.
14h00. Pronto a brincadeirinha acabou o grupo está criado e
agora é esperar que afluam pessoas para ele. O que acho que não vai acontecer.
Como não aconteceu com os demais que criei, mas tudo é possível. Eu não vou
sair colocando os meus amigos, pois acho isso desrespeitoso. Coloquei dois que
já liam o meu blog e a incrível revisora, pois foi a primeira que meu veio à
cabeça e eu precisava de pelo menos mais um membro para poder criar o grupo. Se
ela quiser sai. Preciso até alertá-la disso.
14h14. Perdido entre o Facebook e pensamentos me lembrei da
terapia com Ju e como ela me ajudou a ficar mais decidido em relação à
publicação do livro, tendo como meta abrir o jogo com as meninas se elas me
perguntarem do livro. Antes mesmo de lançá-lo. O que é uma incógnita ainda na
minha cabeça. Se bem que hoje acordo com mais vontade de publicá-lo. Resta ver
a opinião da minha amiga revisora. Opinião tanto de amiga quanto de revisora.
Só de pensar nisso me dá um frio na barriga. Quero repartir os slogans com ela
e a ideia das tarjas em volta da capa do livro com os dizeres. Mas antes de
partir para uma produção própria, pretendo pleitear que alguma editora se
interesse. Enviei contato para duas e não recebi resposta. É cedo ainda, mas
não creio que receberei resposta. Até pelo que escrevi como descritivo do
livro. Mas, novamente, tudo é possível. Embora sinceramente não acredite nisso
nesse caso. Vou esperar a Companhia das Letras abrir para receber originais. Mas
antes de tudo, tenho que ficar satisfeito com o que escrevi. Se é que é
possível. Veremos depois da revisão da incrível revisora, quando me debruçarei
sobre a obra uma vez mais. A Garota da Noite aparentemente não vai mais acessar
as mensagens. E um dia desses foi que percebi que Garota da Noite é um como as
pessoas mais antiquadas chamam as prostitutas. E nada poderia estar mais longe
do que a Garota da Noite é e do que significa para mim. Embora hoje em dia já
não signifique muita coisa, apaixonado que me tornei e estou da minha solidão.
O negócio é desencanar e seguir em frente. Acho que perde mais ela do que eu.
Ou ninguém perde nada. Me lembrei de umas fotos dela numa viagem para o
exterior e me lembrei da minha próxima viagem. Como está relativamente longe,
não me aperreia muito. Hoje não me encontro ansioso com a viagem, que curioso.
Estou até a aceitando de bom grado. Se não quiser fazer nada, fico escrevendo
no computador. Já preparei a minha irmã para o fato. Tomarei Coca de cereja
alemã (muito melhor que a americana), comerei Manner, talvez dê um pulo no
centro da cidade. Ou não. Vou só para procurar o iPod. E quem sabe comprar o
meu perfume. “Landlady”. Vou ligar o ar, estou com calor. Incrível como já
produzi três páginas, não sei com o quê, mas elas existem. Vou pegar um café.
Provavelmente hoje terei que ir ao supermercado. Comprar Coca e iogurtes. Quem
sabe um Bono de morango. Se houver. Da última vez que fui não havia. Parece ser
o mais consumido, então não sou só eu que acho ele o melhor biscoito de morango
que tem. É o único biscoito de morango que gosto. Os outros não me dão prazer
gustativo. O Bono morango dá. Tornou-se o meu predileto da família Bono. Tendo
experimentado os biscoitos de chocolate alemães, não há nenhum aqui que me
apeteça, nem o Bono de chocolate.
15h14. Deu uma queda de energia e, como tiro a bateria do
meu notebook para poupá-la, meu computador desligou e perdi o que havia escrito
e nem me lembro mais do que tratava, pois afora isso ele ficou fazendo update do Windows. Bom lembro apenas que
iria postar o vídeo dos Ninja Boys feito para calhar de ser visto no meu
aniversário. Se não reparti ainda com vocês, reparto-o agora. É pura fofura. E
é bom ver em tela grande para ler as legendas, se você saca inglês. Aí vai.
15h18. Esta falta de luz unida à atualização do sistema me
roubaram do meu fluxo de palavras. Pelo menos o som e o notebook se entenderam.
O café acabou e terei que partir para a Coca dentro em breve. Minha mãe não se
conforma que eu só coma à noite, depois que vão dormir. É um hábito estranho,
admito, mas é quando me dá fome e me é a forma mais agradável de me alimentar.
Não acho graça em comer sem ter fome. Não vejo muito sentido, parece que como
para a engorda dessa forma. Do jeito que faço, pelo menos não ganho nem perco
peso. Estacionei. Estacionar é ótimo. Melhor seria perder, mas ainda não
cheguei nesse ponto. Nem estou disposto a mudar meus hábitos alimentares por
causa disso. Muito menos os meus hábitos sedentários. Hahaha. Não nasci para
cuidar do corpo, ele me serve muito bem da forma que está. É uma máquina
robusta esta que opero e controlo, já aguentou muito tranco, dei extrema sorte
em ter um corpo tão resistente apesar de todos os pesares estéticos que acho
que não trocaria pela minha saúde de ferro. Mas acredito que mencionei coisa
semelhante no post de ontem. Então mudarei de assunto. Meu peso continua o
mesmo de ontem e de anteontem e além. Se estivesse ganhando peso estaria mais
preocupado, mas em se mantendo, para mim está bom. Perder seria o ótimo.
Preciso ajustar só uma coisa na minha dieta. A salada do Mário. Já falei disso
aqui e até agora não tomei medida para solucionar o problema. O farei amanhã,
quando provavelmente será fabricada nova batelada de salada. Vou até comer um
pouco da salada para que possa dizer a mamãe que comi durante o dia e antes que
apodreça. Um momento.
15h41. Comi a salada, a tempero, pasme, com shoyu e mel de
abelha, um fio deste último. A salada tem abacaxi, então já é adocicada, coloco
mel, pois acho que é algo que faz bem à saúde e dá um contraste. “Landlady”.
Sou uma pessoa de hábitos estranhos, eu sei. E até me orgulho um pouco disso,
de não seguir a norma ou o padrão. Isso me parece tão chato, seguir as
convenções sociais. Não gosto de ir com a manada, tocada pelos interesses dos
mais poderosos. Estou um pouco à margem disso. Não sei nada de moda, embora
veja na repetição de estilos o que está na moda e algumas me agradam aos olhos
e aí falo das modas destinadas às mulheres. Outras acho aberrantes como a febre
das plataformas ou a mania de calça com o fundo bem dizer nos joelhos. Mas
esses microshorts de hoje me apetecem bastante. E é preciso ter pernas para
usá-los e geralmente as moças têm, à custa sabe-se lá de quantas horas de
academia. A imensa maioria das pessoas que eu conheço malha, é incrível. Me
sinto alienígena nesse aspecto e prefiro continuar no meu cada vez mais
solitário planeta. O que me incomoda mais esteticamente em mim é que estou
ficando curvado de tanto escrever, dessa postura debruçada sobre a bancada. Mas
nem isso me incomoda muito. Ossos do ofício. É um ofício quase desossado para
mim o meu, pois o faço com sincero prazer e contentamento. Ainda mais tendo uma
Coca gelada para bebericar. Eu deveria pleitear um patrocínio da Coca, pois
falo tanto nela aqui e a consumo com voracidade tão ímpar que a Coca podia me
oferecer um suplemento vitalício da bebida. Hahaha. Eu não reclamaria. A reação
da minha mãe eu não sei. Não sei o bolso falaria mais alto que sua preocupação
com a minha saúde. Se fosse para a Coca me fazer algum mal, já o teria feito há
muito tempo. Se não fez ainda, não mais fará. Nossa, como viajo no meu Hulk.
Talvez uma das melhores compras da minha vida. Certamente a mais cara. Valeu cada
centavo. E bote centavo nisso. É o principal sinalizador de que estou no meu
quarto-ilha. É a minha carranca à entrada do quarto para espantar os maus
espíritos. Hahaha. Eles podem entrar pela janela. Mas o Hulk está olhando para
ela. Então estou protegido. De ambos os lados. Hahaha. Sem bem que espíritos em
tese atravessam paredes. Bom, chega de conversa abestalhada e vamos a outras
conversas talvez tão abestalhadas quanto. Agora que o afã de ter criado o grupo
passou, já penso em apagá-lo. Mas vou dar tempo ao tempo para ver no que dá.
Quem sabe não vão se chegando mais e mais pessoas. Acho difícil, pois ver um
grupo com quatro membros apenas não estimula ninguém a entrar. Não tenho
coragem de inflacionar esse grupo colocando pessoas do meu círculo de amizades.
Poderia colocar um amigo meu que gosta de ler e escrever. Tenho vergonha,
entretanto, alguém tão culto. Vai que pega um dos meus posts para ler. Seria um
embaraço para mim. Deixa quieto. Saí inclusive do Facebook por ora. O dia está
fechado, perigando chover, mas a chuva permanece na barriga das nuvens. Talvez
caia à noite. Espero que não quando for ao supermercado comprar as Cocas e o
iogurte. Que não queria nem ir. Acho que preferia passar bebendo água. A
claridade está bastante diminuída para serem apenas 16h09 da tarde, está com
luz de 17h20. Muito pouca mesmo. Nenhuma das duas editoras me contatou. Saraiva
e Editora 34. Nem me contatarão. Não guardo esperanças a esse respeito.
Tentarei em outubro, quando provavelmente o livro vai estar completamente
revisado – se a viagem não atrapalhar o processo (mas existe internet para
isso) – e tentar a Companhia das Letras. Quando o prazo do concurso passar e eu
não ganhar, posso tentar a Cepe também. E mandar o livro revisado para o meu
tio, vai que ele... ele não vai fazer nada. Também não espero nada desse front.
Se nada disso funcionar, eu passo talvez a fase da produção independente. Não
sei. Não vou pleitear Funcultura, pois é necessário elaborar um projeto, parece
que é uma burocracia sem fim. Não gosto de burocracia. Não sei lidar com ela a
contento. Alguém teria que elaborar o projeto para mim ou comigo. Mas essa via,
como a produção independente, não empresta a minha obra o mérito de ser chamada
de livro. Para isso precisaria da aprovação de uma editora ou de Seu Raimundo.
Aí sim, me sentiria confiante, de que a minha obra é válida. Sem eles, faço
apenas por egolatria. Não que todo livro não seja um exercício de egolatria,
mas com o aval de uma editora ou de um escritor, seria uma realização da qual
de fato me orgulharia. Como queria que Seu Raimundo me respondesse. Estou com
vontade escrever um e-mail para ele. Mas não devo. Mas digo só escrever, não
digo enviar. Só para desopilar.
17h06. Tentei, mas ficou uma porcaria. Só me fez ficar mais
ansioso. Vi que o último e-mail que mandei para ele foi há quatro dias. Parece
que já se passaram vinte. Hahaha. O negócio é ter paciência. Se ele disse que
leria, talvez leia e talvez demore a responder. Preciso ter paciência. Meu
primo urbano disse que para ler uma obra do volume da minha, as pessoas
demorarão em média um ou dois meses. Então daqui a dois meses, volto a aperrear
Seu Raimundo, se ele não me contatar nesse ínterim. O negócio é deixar de
afobação e ir seguindo a minha vida. Ou seja, continuar escrevendo isso daqui.
Pois isso é a minha vida. Então, de volta a ela. Antes, um copo de Coca. Com
muito gelo.
17h19. Não sei se mande o endereço do meu blog para ele. Não
o farei. Não por enquanto. Está na vez de ele se comunicar. Não me comunicarei
antes de ele me dar algum sinal de vida. O meu sonho? Que ele veja a minha
escrita como algo novo, uma nova voz e que ache a narrativa cativante. Quero
pouco, hein? Queria pelo menos que ele me dissesse se é válido publicar ou não.
Queria uma resposta honesta. Queria uma resposta qualquer. Espero que venha.
Não responder é que é, me perdoem o palavreado, foda para caralho. Mas, como
disse, mandei um e-mail há menos de quatro dias. E enviei o livro há pouco mais
de uma semana, tem muito tempo ainda para que ache que ele desistiu da minha
sandice. Pobre da incrível revisora, lendo um texto merda como o meu. Deve
estar pensando, “meu deus, esse cara vai querer publicar isso?” Hahaha. O pior
é que eu e ela temos que trabalhar para que a coisa se torne a mais parecida
com um livro possível. Eita, desafio. Acho que ela vai estar esgotada ao final
do processo. E eu, que nem aguentar mais olhar para o livro, aguento? Vai ser
ozzy para ambos. Mas ela vai ter que me dar essa força. Sei que não cabe a ela
julgar a validade da obra. Mas mesmo assim vou perguntar. Ela vai me responder
que isso ela não pode me responder. Hahaha. E ficarei na mesma. Por que preciso
tão desesperadamente de uma aprovação? Porque não confio em mim mesmo. Por que
não ache que o que escrevi seja digno de publicação. Porque acho o texto uma
porcaria. Por causa da minha falta de autoconfiança e autoestima. Porque não
acredito no que escrevi. Não acho que a minha voz seja uma voz válida. Porque
acho que não há muito conteúdo ou conteúdo que engaje o leitor a ler o próximo
dia/capítulo. Porque meu tio leu e se calou sobre o assunto. Porque Seu
Raimundo não me respondeu. Por pura insegurança. Estou desanimado mais uma vez
com essa empreitada toda. Acho que muito por causa dos livros do meu avô que
imprimia todos os seus projetos por mais malucos que fossem. Não queria ser
como o meu avô, queria que meu livro fosse publicado não por minha vontade
apenas. Queria que fosse publicado porque meritório de ser impresso. Eu não
posso me outorgar tal qualidade. Eu não acredito no meu julgamento e, se fosse
acreditar, não publicaria. Porque não acredito em mim. Não acredito no que
faço. No que fiz. Acho que é por isso, por não acreditar em mim. Não me achar
um escritor digno de livro. Essa é a verdade. Não estou pensando nem na polêmica
que vai haver, isso é outra coisa que nem me passa pela cabeça agora e que
agora não me incomoda. Me incomoda a validade literária dos meus escritos. Será
que vou mesmo morrer na praia? Vou esperar pacientemente o parecer de Seu
Raimundo. Ele será o meu Grilo Falante. Se responder. Acho que só assim me
sentirei confiante. Ou se alguma editora se interessar. São as duas únicas
maneiras de achar que o que produzi é válido. A depender de mim somente, não
vai rolar. Vai ficar revisado, mas não será publicado. Está decidido. Se não
for por mérito, não será publicado. Eu consigo viver com isso. Não conseguiria
viver com as pessoas lendo e achando ridículo. Um desperdício de papel. E bote
papel nisso. Não, não e não. Posso mandar para o meu amigo escritor dar a sua
opinião. Uma vez revisado, claro. Mas não quero ser mais um dos inúmeros
escritores que se se publicam por narcisismo. Não quero. Quero mais que isso.
Quero uma aceitação prévia que dificilmente obterei. Ou seja, busco
praticamente o impossível. Vamos ver como a revisão se dá. Estou muito ansioso
novamente em relação a esse assunto. Mas, se só depender da minha vontade, não
será publicado. É uma razão muito esdrúxula para tanto. É narcisismo e
necessidade de autoafirmação e essas duas partes já são contempladas aqui.
“Landlady”. Não quero ganhar prêmios, não quero ser best-seller, quero ser
válido e essa validade tem que vir de fora de mim. De alguém que ache
competente de outorgá-la. Quero apenas tudo isso. E sei que não vou conseguir.
Ou vou, sei lá. Acho bastante improvável. A verdade é essa. Quando estiver com
o texto redondinho, ou da melhor forma que pode ser, mando para as editoras. E
vejo no que vai dar. Se Seu Raimundo responder antes e me der o aval, eu topo
uma publicação por mim mesmo. Quem sabe, se ele achar o livro válido, não
escreva um prefácio ou uma orelha ou coisa que o valha. Novamente começo a
sonhar. É melhor botar na cabeça que não vou publicar que o que vier é lucro.
Mando pelo menos para o meu amigo escritor dar uma olhada. Se ele achar que é
válido publicar talvez me arrisque. Mas ele vai ficar cheio de dedos para dizer
que ficou ruim. Não conta. Embora pense em enviar para ele mesmo assim. Maldita
hora em que fui descobrir o e-mail de Seu Raimundo! Além de descobrir como é difícil
chamar a atenção de uma grande editora para a obra de um autor desconhecido.
Não tem boquinha fácil para alcançar o que almejo. Seu Raimundo me parecia ser
essa tábua de salvação, mas não sei se ele vai me responder. Sua resposta é o
que mais almejo hoje em dia. Se ele soubesse... de nada adiantaria, né? O que
me resta é esperar e não desesperar. Se resposta houver, virá. Tudo a seu
tempo. Queria muito um cigarro para fumar. 18h20. Vou pegar um copo de Coca.
Essa ode à ansiedade e à insegurança me cansaram. Foi algo muito desgastante de
botar no papel, emocionalmente digo. Mas antes de ir pegar a Coca, reitero que
só publicarei se alguém me convencer de que é válido fazê-lo. Alguém que eu
considere que tenha envergadura para tal. O que talvez não encontre nunca na
minha vida. Não alcance isso. Não sei se o julgamento da minha amiga revisora
me valeria. Só se... não vou dizer.
18h27. Já tomei a Coca toda que coloquei, acho que vou pegar
mais. Por mais que não quisesse ir no supermercado hoje. Mas vou ter que ir,
pois minha mãe acaba de me ligar dizendo que está no caixa e quer que eu guarde
as compras no carro, pois se cortou com uma faca. História mais louca. Vou lá.
19h24. Estou de volta ao meu querido quarto-ilha. Ajudei no
que pude. Mais tarde, quando o movimento no elevador for menor, eu desço o
carrinho. Mantenho adamantina a minha decisão de só publicar com um aval prévio
de uma autoridade que eu reconheça como tal. O calor me incomoda, liguei o ar.
Não sei quem será essa autoridade será. Pode até ser o pai da minha amiga que
mora na Vila Edna. Talvez. Talvez tenha coragem de repartir com ele a versão
definitiva. Talvez elimine os dias que fiquei em casa, mas eles se refletem em
pensamentos posteriores, em outros dias, pelo que me lembro. Não sei. Tudo pode
ser editado e esses dias desaparecerem. Assim como a menção deles. Não sei se
isso é adulterar demais a realidade dos textos. Vou debater com a incrível
revisora sobre o assunto. Mas do que poderia falar que não do livro? Já estou
na sétima página, dessa não passo, o que quiser discutir discutirei em outras
paragens pois não quero encher mais a paciência do pobre leitor. Talvez uma das
pessoas a mandar seja o pai da minha amiga. Quem mais teria a mente aberta e o
distanciamento necessários para ler? Penso no meu amigo escritor e em outro
amigo que também escreve e ganha a vida, ao que me consta, ensinando outros a
escrever. Esse acho um pouco pernóstico, mas seriam opções. Ficou na minha
cabeça a ideia do meu primo de mandar para pelo menos três pessoas. Mas só
mando a versão final. Nossa, para de me assombrar, Seu Raimundo. Mundo, mundo,
vasto mundo, porque dentre todas as pessoas fui escolher Seu Raimundo? Ele
seria a solução. Sem a menor sombra de dúvida. Esperar sem esperança. A
esperança é que me aperta o peito e me deixa ansioso. Se conseguisse me livrar
dela, seria um alívio. Mas sei que as minhas esperanças são persistentes. Que
saco. É segurar a ansiedade, que não faz bem a ninguém e ir levando a vida até
o eventual dia que o livro tomar sua forma textual final. Quanto a isso não
tenho pressa alguma. Logo, não deveria também, dessa perspectiva, ter pressa em
relação a Seu Raimundo. Acho que já tinha me decidido isso, se tiver, reitero,
só mando um e-mail para Seu Raimundo quando tiver a obra definitiva. E tenho
dito. Espero que cumpra. Eu não sei como abordar as minhas amigas, mas acho que
só tenho coragem pelo grupo de WhatsApp da gente. Ao vivo me parece demais para
mim. Seria o mais correto a se fazer, mas acho que seria um climão danado. Pelo
WhatsApp é mais leve. E nem acho que seja coisa de outro mundo. Não sei. Só de
pensar, sinto um frio na barriga. Mas acho melhor que saibam antes do que
quando lerem. Se quem de direito considerar um livro publicável. Quem de
direito é a questão. Esperar e curtir o processo de revisão, de debate da obra
com a incrível revisora. Ter uma obra completamente formatada. Quem sabe eu não
acabe me agradando dela? Do jeito que está, está um lixo. Nossa, que sofrimento
é o parto de um livro. Pior que nem sei de onde vou achar paciência para
revisar tudo de novo e de novo. Mas vou ter que arrumar. É a única história
mais interessante de vida que tenho. Não tenho outra narrativa tão peculiar.
Pronto a página acabou. Vou para outro canto. E o pior que tenho outro post
para botar no ar antes desse. Eu definitivamente escrevo demais. Vou passar
dois dias sem escrever para o Profeta. Escrevo para os capilares. Decidido isso
também. Posto o post que tenho guardado amanhã e este na sexta. E este não
divulgo, pois está um estica e encolhe de um cara ansioso demais para o seu
próprio bem. Ou só divulgo no meu novo grupo. Hahaha. É isso que farei. Não
esse eu preciso divulgar nos demais grupos, pois assim divulgo o meu próprio grupo.
Maquiavélico nada. Vou lá, para outro lugar.
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