terça-feira, 29 de maio de 2018

VIDA DIFÍCIL?


16h06. A fisioterapeuta chegou. Essa foi a última informação que a existência me pronunciou antes de voltar para o quarto-ilha e para U2. Um dia uma fisioterapeuta chegará para me atender e não a mamãe. Não sei por que me lembrei de Jerry Lewis e sobre passar a vida se prestando a passar por papel de bobo para os outros rirem da sua cara. Se tornar um ícone disso. É uma escolha de vida interessante, tão pertinente quanto qualquer outra. Eu não sei se faria bem à minha autoestima. E aposto que muitos deviam pedir para ele fazer piadas na sua vida privada, deve ter sido um saco. Não sei se ainda é vivo, mas vi muitos filmes de Jerry Lewis quando era criança, só não me lembro de nenhum. Estou com café e sem muita inspiração. Tive uma noite agradabilíssima ontem escrevendo na piscina, foi especial. Estava no humor certo, no local certo, com os apetrechos certos. Estou com calor, dentro em breve vou ligar o ar. E vou fumar mais um cigarro. Tenho que maneirar nos cigarros. Se bem que como recebi cedo hoje, receberei cedo na quarta, posso esbanjar um pouco. O que me vem ao pensamento agora? O que a luz azul que fica piscando no meu celular quer me comunicar. Vou ver. Irrelevante, como era de se supor. Azul significando Facebook raramente é algo que me desperte. Só quando conta que alguém curtiu o meu post. Mas não sei se alertam essas mensagens, não me recordo, é um detalhe tão insignificante da existência que não memorizei os seus padrões de comportamento. São irrelevantes para mim, só que não gosto de coisas piscando, alarmando de alguma forma, me dá um senso de pressão e urgência que não combinam com a minha vida. Com como gosto de levá-la. Pelo menos as palavras estão me vindo e acho que o grande responsável é o café. O café realmente me deixa com outro humor e faz o meu cérebro trabalhar melhor. Nossa, adivinha quem já se insinuou na minha cabeça? Raimundo Carrero. Tenho que largar o osso que ele nunca vai me responder. Foi tudo uma ilusão que botei por terra com o meu e-mail da crise de ansiedade. Ali sepultei a possibilidade de ele ler o livro. Mas mandarei um e-mail quando a incrível revisora acabar a primeira revisão. Já disse e redisse isso aqui várias vezes. Não vou ficar me repetindo. O pessoal está especialmente ativo no WhatsApp hoje. Vou fumar o meu cigarro. Ontem senti profunda alegria na piscina. Um contentamento e satisfação maiores com a vida. Preciso agradecer o meu amigo da piscina. Agradeci pelo WhatsApp e vou fumar agora. Com café. Deixarei “Landlady” tocando para ninguém.

16h41. Tive um papo produtivo com a fantástica faxineira. Perguntei-lhe se ela imaginava quando pequena que a vida iria ser tão difícil, ela afirmou peremptoriamente que não, que às vezes se pega indagando a Deus por que tudo há de ser tão sofrido. Eu me confessei um abençoado. Por não trabalhar, escrever o que eu quero e ainda morar onde moro. E ainda por cima pagar uma fortuna por uma figura do Hulk. Voltei lá e ainda disse que eu era uma pessoa pior que ela e redargui porque, em sendo uma pessoa pior aos olhos de Deus, eu merecia ter mais do que ela? Ela então retrucou como eu sabia que era uma pessoa pior do que ela, eu disse que porque eu tinha o coração impuro. Ela entendeu puro. Aí meu amigo da piscina interfonou atrás de cigarro para fumar e eu não lhe pude negar. Negar cigarro é uma coisa que só em última instância faço. Prometi descer hoje para a piscina. Mas só se o elevador estiver funcionando. Não me arrisco a subir e descer 11 andares de escada. Espero que daqui para lá esteja consertado. A luz já fica pouca, o dia some do placo da vida em Recife. E desperta em outro lugar.

17h07. Nossa, o meu post está tendo uma visualização incrível hoje, já está com 24 hits. Como sei que o a elevador está quebrado? Por causa da fisioterapeuta mencionada no começo do post. Vou lá testar se já está de fato funcionando.

17h14. Aparentemente está. É possível ter papos profundos com as pessoas mais simples. Basta se fazer as perguntas certas. Essa é uma pergunta que pode ser feita a qualquer pessoa, quando você era menor, pensava que a vida seria tão difícil? Só não se aplica a mim que sou o cara de vida mais fácil que eu conheço. Ninguém que eu conheça faz menos esforço para existir. Eu só me esforço para me dizer aqui, mais nada, ou quase nada. Afora a solidão, tudo o mais na minha vida é fácil. Tão fácil que eu posso me livrar do calor que faz aqui apertando apenas um botão. E ainda posso pedir à fantástica faxineira, como se não soubesse que ela tem dezenas de afazeres, que limpe o filtro do ar, coisa que mamãe já tinha reivindicado, por isso não me senti tão mal a explorando dessa maneira. Acho que o fato de ter tirado os filtros fez o ar gelar melhor. Puxa, hoje o pessoal está comunicativo no WhatsApp.

17h28. Acho que 19h00 desço para encontrar com o meu amigo da piscina. É um bom horário. Pode ser que a fantástica faxineira já tenha tirado o gelo, outro de seus afazeres cotidianos para comigo, café e gelo, fora dar o grau no meu quarto e no banheiro. E cozinha e passar. Realmente é um monte de coisas que ela faz, por isso e por ser quem é, é que é a fantástica faxineira. Não apenas uma excelente profissional, mas um excelente ser humano. Me deu uma leve oscilação no ânimo agora, estranho e para baixo. Vai ver que é a culpa por fazer outro ser humano me servir. Poderia argumentar que o seu trabalho, seu papel social é esse, mas me sinto tão mesquinho e prepotente no momento que nenhuma justificativa me serve. E ela serve a mamãe, não a mim, a mim ela serve por cortesia, não pelo dinheiro que recebe. Ou, na cabeça dela, está incluso, sei lá. Sei que não peço muito, mas o pouco que peço já acho demais e mesmo assim, não quero abrir mão de tais regalias, o que, em tendo consciência de tudo isso me põe ainda mais mesquinho e egoísta e explorador. Me torno mais uma razão para ela se queixar a Deus da vida dura que leva. Enquanto isso, nos EUA meu irmão faz um sistema de coleta de chuva para tornar ainda mais limpa e sustentável a sua alma. Acho que teria extrema dificuldade, acho que lhe seria impossível até, carregar uma alma como a minha. Cheia de defeitos de caráter, brasileira, subdesenvolvida, corrupta em níveis quase alarmantes, nada limpa e pouco sustentável. A carrego porque é a que tenho. E não tenho a mínima disposição de diminuir a carga, o esforço para me fazer uma pessoa melhor é demais para que tente. E por mais que tente não chegarei ao patamar do meu irmão e nem quero. Dá trabalho demais, preocupação demais, sacrifício demais. Sacrifício do tempo livre da liberdade individual, mas se o preenche o que ele faz, se empresta sentido e direção à vida, que seja. O que dá direção a minha é escrever com a cuca cheia de café. É tão pouco perto de tanques para captação de água da chuva e hortas para utilização de tal água. Ainda mais em um lugar onde tudo se perde com o rigoroso inverno. É demais para mim, nunca faria isso para tornar o meu mundo interior melhor, fazendo um mundo exterior melhor. O que fiz ao invés disso, investi uma dinheirama num busto em tamanho real do Hulk. Algo que só agrada especificamente a mim, mas agrada a mim a quantidade que agradaria a uma família. Meu Hulk é uma das alegrias da minha vida, por mais que dar uma variada no cenário, ir para a piscina seja uma boa pedida para mudar de ares, o que, como dito, pretendo fazer logo mais. O mais incrível do meu irmão é que hoje é feriado e a forma que ele usou para aproveitar o dia foi construir os canteiros da horta pluvial dele. Meu irmão é superincrível, uma pessoa iluminada, merece tudo de bom que a vida pode oferecer. Ele retribui tudo de bom que recebe. Eu apenas transformo em palavras. Não é muito o que faço, mas é o que acho que me cabe. Me mantendo são e não atentando contra a minha própria vida acho que está de bom tamanho. Eu que já conheci o fundo do poço como espero que meu irmão nunca chegue a conhecer. Ou ninguém for that matter. Afinal o inferno que passei não o desejo a ninguém. Suportei, quase desisti, mas suportei e como prêmio, alcancei a vida que sempre sonhei. Não sabia que como brinde viria a mais completa solidão afetiva, mas é um peso menor que vale o bojo das minhas regalias. Não amar nunca mais. Amor recíproco, digo. Amor de amantes. É a vida. A vida que construí para mim. Ainda dá tempo de desfazer. Ou fazer de uma forma que isso caiba novamente para mim. Mas é um caminho que não ouso trilhar, deixo nas mãos do destino-acaso facilitar as coisas para mim. Não gosto de falar nesse tópico, é um assunto que varro para debaixo do tapete, pois não me agrada encará-lo. Por mais que o faça com uma frequência espantosa. Pelo menos deixei de falar no livro. Trago-o agora, mas nada tenho a acrescentar. É outro assunto que hoje varro para baixo do tapete. Vou pegar mais café.

18h11. Impressionante, com café as palavras não me faltam, o tédio não me alcança e parece que se pela só com o cheiro do negro líquido. Estou com vontade de descer. Mas vou esperar a fantástica faxineira tirar o gelo para poder ir. Mamãe disse para ela que está bom por hoje. Eu fui lá comunicar isso a ela, pois mamãe achou que a minha movimentação na cozinha fosse a fantástica faxineira. A fisioterapeuta já foi embora há cerca de uma hora. Mamãe e meu padrasto assistem televisão e mexem no celular na sala. Ainda bem que não tenho essa dependência de celular, mas sou completamente dependente do Word. Posso estar sendo tomado pela soberba aqui, mas acho escrever aqui mais digno do que escrever e ver o WhatsApp. Isso daqui tem um sentido de uma obra que construo diariamente. Que não sei quem vai ler, mas que vai se construindo mesmo que para ninguém. Já conta com mais de 500 posts, é uma história. Imensa. É a minha vida. Nem mais, nem menos. Mas é muita coisa, eu acho. Ninguém que eu conheça passa a vida a escrever sobre ela. É um comportamento peculiar para dizer o mínimo. E só possível por causa da tecnologia de hoje, senão seriam o que? Milhares e milhares de folhas de papel. E tantas mais serão enquanto me sentir tão motivado e disposto a preenchê-las. Com café eu vou longe. Em breve terei que parar de tomar. Em breve provavelmente vá descer. Levarei o computador, é claro. Escrever lá embaixo é astral. Estou sentindo leve ansiedade de encontrar o meu amigo da piscina. Isso não deveria ser assim. Essas ansiedades me maltratam à toa. E elas agora são comuns a quaisquer encontros com o social que venha a ter. Só me sinto realmente eu e relaxado na solidão. Não tenho ninguém com quem tenha intimidade suficiente para me sentir completamente confortável. Não mais. Passei tempo demais só comigo mesmo e desenvolvi uma intimidade tão irrestrita comigo que não sei como emular nas demais relações. Isso é problemático e me gera essas ansiedades. Hoje vou tirar uma foto da piscina para ilustrar esse post. Espero que a fantástica faxineira se vá antes das 19h00. Pois além de ser cruel ela passar tanto tempo assim trabalhando é, principalmente, a hora em que pretendo descer. Eu sou mesquinho e egoísta, como já disse. E dei provas. Se essas não foram suficientes, não sei mais que prova dar. É fato que não desrespeito a fantástica faxineira, a tenho na mais alta estima, mas peço-lhe favores que ela segue como ordens dadas por alguém que, naquele momento, tem autoridade sobre ela. Acho que vou pegar mais café. Última xícara do dia. E ver se há gelo para eu descer. 18h35.

18h37. A fantástica faxineira ainda passa roupas e nada de gelo. Peguei café e mamãe nem olhou para sim, senão certamente me repreenderia. Daqui a pouco vou me arrumar para descer. Vou pedir à fantástica faxineira que tire o gelo. Novamente mesquinhez e egoísmo.

18h50. Disse à fantástica faxineira para parar de passar roupa e descobri que o marido vai passar aqui para pegá-la. “Landlady” passa, tudo está correndo da melhor forma possível. Pedi para ela me avisar quando tirasse o gelo. O que ela falou que iria fazer sem que eu sequer pedisse. Mas pedi uma coisa a mais, que me avisasse quanto tivesse posto o gelo.

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16h38. A escrita na piscina deu origem a um novo post. Por isso encerro esse sem acrescentar o que lá foi escrito. De qualquer forma vai a prometida foto da piscina, por assim dizer.



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