13h06. Olá, seja bem-vindo. Cá estou de volta, depois de ter
revisado e postado o último texto. Mamãe descansa em seu quarto, eu tomo o meu
café e acho que vou fumar um cigarro.
13h15. Cigarro fumado, só tenho mais dois até as 17, 18h00,
então vou passar ao Vaporfi. Talvez minha mãe quando se levantar vá me mandar
para a tosa. Não queria ir, mas com o final de semana se aproximando, seria uma
boa pedida. Coloquei o iPod para carregar. Ele acusa já está todo carregado, no
entanto não consigo ligá-lo. Vou deixar uma hora conectado para ver o que
acontece. Talvez não saiba como ligar. Ou quebrou também e eu sou o amaldiçoado
dos iPods. Hahaha. Sei lá. Sei que estou aqui a sonhar com o quase impossível. No
mais continuo sendo quem eu era ontem, mas com menos ansiedade que ontem,
graças à incrível revisora. Ela me sugeriu fazer o curso do escritor, mas
declinei da ideia. Disse-me que teve que desistir do curso, que estava achando
bastante interessante, por conflito de horário com o estágio. Mas não quero que
se dê com a escrita o que se deu com a pintura, em que um curso me roubou todo
e qualquer prazer que eu tinha em pintar. Deus me livre, sem as palavras não
sou ninguém. Já sou ninguém com elas, mas pelo menos me sinto alguém para mim,
se perder isso me perderei por completo. Não tenho a mínima coragem de
arriscar. Como penso muito no danado do livro, me pego rememorando com
frequência a minha estadia de 2016 no Manicômio. É curioso que isso se dê, não
esperava por isso. Se houve algo em que pequei no livro é que não descrevi fisicamente
os seus personagens. Ao menos o leitor terá liberdade completa para pôr rostos neles.
A aparência não me importava tanto quanto suas ações, pois os via e não
imaginava que um possível leitor não os estivesse vendo. Ademais por muitas
vezes contar de atos duvidosos de tais personagens, acho melhor que não os
descreva fisicamente, pois não quero que sejam identificados. John Coltrane
passa no som. É uma música que amplia horizontes musicais, especialmente para
mim que só conheço, se muito, alguns standards do jazz.
13h39. Me perdi pelo Facebook. Uma amiga acaba de lançar um
livro, deve ser uma experiência extasiante. Não, não, não. Seu Raimundo Carrero
de novo não. Me focar em outra coisa. Minha amiga teve aprovação de alguém para
o seu livro, eu creio. Não tenho intimidade de perguntar detalhes a ela. É mais
uma conhecida que uma amiga. Mandei felicitações para ela pela realização. Não
sei se exagerei. Mas me senti motivado a fazer e fiz. Acho que nada é exagerado
nesse sentido. Escrever e ver publicado um livro é uma grande realização. Para
mim, a maior de todas. Pelo menos, com a vida que eu levo, que é dedicada tão somente
à escrita, é assim que vejo. É algo fundamental para a minha validação como ser
humano. Pode ser que esteja criando algo fantástico demais em relação ao ato de
ter uma obra publicada e que se porventura vier a ter a minha publicada, ache a
experiência decepcionante. Mas creio que não, tenho bem pesados os ônus e os bônus
da situação. Pensei que era meu padrasto agora, mas é apenas a TV. Hoje estou
sem conteúdo e também sem ansiedade, o que é ótimo. Cada vez sei menos de
tecnologia e o que sabia ando desaprendendo. O que significa que em breve
saberei só o básico do Word, Corel e Photoshop. E olha que já me aventurei até
pelo editor de filmes da Adobe. Não sei mais nem como transportar as fontes do
meu computador para outro. Mas acho que cutucando ainda consigo fazê-lo. Sinto
que quando vou me comunicar com a incrível revisora tento me esmerar no
português e nunca me agrado do que escrevi. Parece que assumo o perfeccionismo dela.
Hahaha. Interessante isso. Tal comportamento significa que outorgo a ela um
conhecimento da língua e, por consequência, uma autoridade a quem tenho que me
reportar da melhor forma que posso. Me deu vontade agora de postar uma foto do
Hulk num dos grupos de bonecos que eu frequentava, pedindo para que quem
tivesse a mesma figura, postasse uma foto da sua, para ver quantas pessoas
adquiriram a peça, dentro daquele universo fechado que é colecionismo de
figuras de pop art. Toda vez que ouço “Resto do Mundo” de Gabriel o Pensador me
lembro de quem me apresentou a música, o irmão do meio da minha primeira
namorada, menino ainda, às gargalhadas com a música que me calou tão
profundamente. É estranho como uma coisa pode causar reações tão diversas nas
pessoas. Ah, postei a imagem do Hulk no grupo de colecionadores. Até agora uma
foto apenas. Talvez mais surjam. E pouco se me dá. Um cara comentou que não viu
muitos desses Hulks pelos grupos. O que significa que talvez se torne um item
raro. Bom, o Facebook me notificará de qualquer nova inserção na postagem que
criei. Faz tempo, muito tempo que não escrevo no blog de bonecos. Meu inglês está
terrível pela falta de prática. E não tenho conteúdo para escrever, tenho
acompanhado muito à distância o maravilhoso mundo dos bonecos. Era até uma
coisa que me deslocaria o foco da neurose do livro. Mas sem ideia. O que
poderia dizer, que a nova linha da DC é bem superior à da Mavel? Mas isso cabe
numa frase. Não saberia como encher linguiça para transformar num post de blog.
Nem tenho disposição. A mim me basta ver quantos dos colecionadores têm o Hulk,
mas deveria ter feito essa postagem à noite quando as pessoas estão em casa e
não no trabalho, assim receberia mais respostas. Parece que o iPod está
funcionando corretamente agora. Desculpe pular de assuntos assim. Deveria pular
de parágrafo, mas foi tão rápido que nem me lembrei disso. Vou pegar café. Em
breve a fantástica faxineira vai vir limpar o meu quarto e terei de sair. Não
queria, pois não sei o que vou fazer nesse ínterim. Estou tão bem aqui no quarto-ilha
com as minhas palavras. Deveria ter postado o Hulk à noite realmente. Não me
passou pela cabeça que os seres humanos normais têm empregos. O meu “emprego”
realizo em casa mesmo, ao lado do meu Hulk. De onde, dentro em breve, terei que
sair. Mas posso levar o meu computador para a varanda com a bateria. Ótima
ideia. É o que farei quando a fantástica faxineira vier me sinalizar que vai
mexer no meu quarto. Eita, lembrei! Vou pedir para ela limpar a área para eu
procurar a fronha no último lugar onde imagino que ela possa estar.
14h49. Peguei café. Sempre bom. Cada vez vejo menos ponto em
escrever no Desabafos do Vate. Será que essa moda do colecionismo vai passar ou
só passou para mim que acho que já tenho bonecos demais? Que já tenho o meu
maior objeto de desejo nesse quesito que é o busto do Hulk (embora a Red Sonja
esteja a caminho, ela, sim, minha última aquisição; se bem que há a Harley
Quinn... deixemos o colecionismo de lado, é perigoso). A única figura das
dezenas que lançaram desde a minha última aquisição, que ainda estou pagando, é
uma incógnita. A pintura tem que ficar muito bem-feita para a figura funcionar.
Se a pintura ficar à altura do protótipo, posso aventar a possibilidade. Daí
seria a minha última aquisição mesmo. Não, tenho que parar na Red Sonja, pois
de última em última, não tem fim, é que nem saideira de bar. Hahaha. Tô fora.
Vontade de fumar um cigarro. Quando a fantástica faxineira vier arrumar o meu
quarto. Nos dias da fantástica faxineira, eu tomo café com força, em grande
quantidade, pena que o café seja mais fraco. Ou isso vem para o bem, senão
ficaria pilhadaço. Estou curioso em ir para a varanda. Não sei se vou me
concentrar com mamãe assistindo TV, mas se me concentrava no Manicômio, acho
que consigo. Espero que ela esteja vendo o seriado espanhol que costuma
assistir, aí fica mais fácil me desconectar da TV. Se estiver vendo algum
jornalístico fica mais difícil.
15h10. Pelo que vi, ela está assistindo jornalismo em
português, o que mais me desconcentra, mas vou levar o meu computador para lá
mesmo assim. Estou ouvindo Camelo, “Vida Doce”, e me identifiquei muito com os
primeiros versos da música.
“Eu deixo tudo sempre pra fazer mais tarde
E assim eu caminho no tempo que bem entender
Afinal faz parte de mim ser assim.”
Isso é uma descrição de como levo a vida, só falta me
aceitar tão bem quanto Camelo. Pois sinto que ser assim é algo equivocado. Ou
talvez por ser o que todos desejem e poucos o alcancem, eu me sinto demasiado
beneficiado pela existência. A única coisa que nunca deixo para depois são,
adivinhem, as palavras, obviamente. Às vezes é difícil logo ao acordar sentar
para escrever, mas com um café, dois cigarros e uma página em branco, eu
encaro. Exatamente como fiz hoje. Eu confesso que às vezes penso, “de novo?” e
me bate certo desânimo, mas é passageiro. Não há nada que possa conceber que
ocupe melhor as horas de que disponho. Mesmo em não havendo o reconhecimento
amplo que todo autor sonha, há as vinte e poucas pessoas que me dão a honrosa
preferência de despender um pouco de seus tempos aqui. Sou muito grato. Tal
presença empresta um significado maior e mais amplo a este ato solitário.
Alcançar alguém é fabuloso. Essa transmissão de pensamentos, quase uma telepatia,
saber que o que sai da minha mente vai parar em outra mente, que meus
pensamentos são transportados para outra cabeça que lhes emprestará outras
cores, outros significados, vão redesenhar e reconstruir tais pensamentos é uma
experiência fantástica. Essa troca entre autor/leitor acrescenta uma nova
dimensão ao que escrevo. Nem que seja apenas um(a) leitor(a). Acho fantástica
essa qualidade da escrita de mexer com a cabeça de outra pessoa, lhe emprestar
ideias que não são suas, mas das quais se apodera, mesmo assim; é quase um
superpoder. Me sinto o próprio Charles Xavier. Hahaha. Dentro em breve acho que
terei de migrar para a varanda. Vamos ver se a fantástica faxineira vai tirar as
coisas do lugar para que possamos procurar a fronha. Me lembrei de que tenho um
terceiro sonho, mas nem sonho muito com isso, tão satisfeito que estou com a
minha vida, mas seria ter o cérebro inimaginavelmente expandido pela
Singularidade Tecnológica. Não vou entrar nesse mérito porque não estou com
paciência, mas em tendo realizado o meu segundo sonho, não veria motivo para
abandonar minha vida em detrimento do terceiro. Imagina se eu for ter filho
depois dos 50 anos? Isso seria um acontecimento surpreendente e indesejado, pois
muito certamente não acompanharia a vida do meu filho até se firmar como homem
ou mulher independente. Não iria vê-lo ou vê-la se tornando dono(a) de si. Não
nego que preferiria uma menina. Por mais que o mundo seja mais hostil a elas.
Acredito, porém, que o empoderamento da mulher está na pauta do dia nas
políticas mundiais. Então o mundo está cada vez mais para elas...
16h11. Fui interrompido no meu raciocínio pela fantástica
faxineira. Procuramos a fronha e nada. O último reduto em que achava que
poderia estar, uma velha mochila vermelha não a escondia, então agora a dou
definitivamente por perdida. Só posso crer que mamãe jogou fora. O que é
deveras ozzy. Estou na varanda e mamãe parou de assistir TV para mexer no
computador, o que me dá paz e tranquilidade para me dizer aqui. A mesa é
redonda e pequena então não tenho onde apoiar o braço esquerdo, mas isso até o
momento não se mostrou um incômodo.
16h18. Fui interrompido para ver se eu resgatava uma imagem
perdida do celular da fantástica faxineira, mas não sei mexer no celular. Como
disse anteriormente estou desaprendendo tecnologia. Achei a pasta de imagens,
foi o máximo que consegui. Desapagar o que está apagado do celular, não faço a
mínima ideia de como fazer, nem se é possível. Não sei mexer no meu, que dirá
no dos outros. Bom, a fantástica faxineira foi limpar meus óculos (eu exploro a
bichinha, mas ela dá um grau muito legal nos óculos). Por falar em graus e
óculos, preciso marcar o oculista. Vou ver se faço isso na semana que vem. Não
estou com precisão de fazer agora, a não ser que os arranhões na lente se
comprovem. Não havia esses arranhões quando entreguei os óculos à fantástica
faxineira. Espero que seja apenas papel grudado. É muito chato escrever sem
óculos.
16h29. Pronto, já os tenho de volta e volto a enxergar como
me é de hábito, mas preciso marcar a oculista. Me esforçarei para fazer isso na
semana que vem. Por mais desmotivado que esteja no momento. Vou ver se corto o
cabelo e a barba amanhã também. Nossa, amar é bom, ainda mais quando se trata
de uma impossibilidade, pois daí não há frustração. Ou a frustração vem antes
da fantasia, não atrapalhando esta. Eis aí a forma que meu coração achou de
amar na solidão. Tenho medo de relacionamentos de fato. Me desacostumei a eles,
nesta década de solidão. Tenho receio de sair com os amigos, que dirá de uma
relação tão íntima como a de casal? Só em condições muito específicas e à minha
velocidade tal coisa se daria. Observar a tarde da varanda me dispersa. É
agradabilíssima a varanda. Pena que levantarão dois prédios bem em frente a ela
e muito próximos. Espero que demore bem muito essa obra, estão ainda fazendo os
alicerces, quem dera o condomínio tivesse entrado em entendimento e comprado o
terreno onde estão construindo os espigões. Houve movimento nesse sentido, mas
a ideia foi voto vencido. Não recebi comunicação do meu tio hoje. Acho que só
me chamará se tiver alguma demanda. Eu o chamarei quando tiver o meu livro
completamente revisado. Será a vez de cobrar pelos meus serviços. Acho que alterarei
uma parte do texto da Novíssima Religião e acrescentarei um detalhe ao Anexo
II. No mais é ver o que posso cortar da obra para lhe dar mais dinamismo. Fico
pensando aqui que posso cortar diversos eventos, mas acho que isso roubaria a
veracidade dos fatos tais quais se desenrolaram, então fico em dúvida. Terei
que conversar com a incrível revisora quando da entrega da primeira revisão. Ou
então Seu Raimundo me responderá e me dirá o que é preciso tirar, se algo. Mas
não vou falar do livro agora. Vou pegar café. 16h51.
16h52. Estou de volta. Minha mãe fala ao telefone, isso me
desconcentra, as vozes dos dois outros habitantes da casa sempre me desconcentram,
pois são vozes muito importantes na minha vida e por isso despertam invariavelmente
a atenção. Eu me isolava, me lembro agora, mesmo no trabalho, com o meu iPod. Para
não me desconcentrar com conversas alheias. Minha mãe desembestou a falar
agora. Foi só dizer e ela se calou. O que meu tio quer, fazer pagamentos
simbólicos pelos meus serviços, não é o tipo de pagamento que eu quero. Quero
que ele faça o livro ser publicado. A noite já se impõe sobre o dia. Em breve o
dominará. É um tanto melancólica essa parte do dia. Ainda mais quando não tem
um belo espetáculo do sol. Quando isso acontece é glorioso, imenso, espetacular.
Eu gosto muito do pôr-do-sol. Mas hoje não é um desses dias em que se apresenta
magnífico, acho que até porque ele já deve ter sumido no horizonte dada a pouca
claridade deste momento. Acredito que a fantástica faxineira já acabou a
limpeza e organização do meu quarto. Perguntarei a ela se posso voltar para lá.
Não quero estar aqui quando o meu padrasto chegar, pois posso baforar o Vaporfi
sem me dar conta e ele ficar muito indignado com isso. Afora que a conversa
dele com mamãe me perturba profundamente a concentração. Não sei por que o
ícone de bateria sumiu, isso é uma falha da interface imperdoável.
17h21. Já estou de volta ao quarto-ilha. Vou ligar o som.
Aliás, vou fumar o meu último cigarro.
17h37. “Pictures
of You – Extended Dub Mix” a versão original foi uma das músicas que mais
escutei na vida, faz parte do meu íntimo, do que sou.
17h44. Me perdi em meus próprios devaneios agora. Findei
olhando para o meu Switch e pensando quantos guris não desejariam ter um em
casa. E o meu parado. Qualquer um dos meus três videogames, com os jogos que eu
tenho, fariam a alegria de guris e adolescentes mil e não os jogo porque as
palavras se mostram muito mais convidativas e seu desafio muito mais empolgante
e familiar. Ainda darei algum dia mais uma chance ao Mario Odyssey, eu acho.
Estou com pouca Coca, não acho que vá ser suficiente para passar a noite. Não
será. Não acredito que terei que ir até o bendito Bompreço para comprar.
17h50. Fui trocar a bateria do Vaporfi. O que habita a minha
mente agora? Obviamente as duas coisas que me vêm à mente são os meus dois
maiores sonhos, até porque fortemente interligados, o que torna tudo mais
delicado para mim. Mas tenho que enfrentar isso se quiser que meu livro seja
publicado. O outro sonho é impossível e tanto mais se torna com a realização do
primeiro. É, o destino/acaso é bastante irônico ou a vida que construí para mim
é que é equivocada. Diria que é uma soma dos dois. Estaria mais tranquilo se
houvesse Coca aqui. Se bem que posso passar uma noite à água. Vou tentar relaxar
em relação a isso. E tanto vou relaxar que vou pegar outro copo de Coca.
18h01. Essa fragmentação toda no texto significa algum
aperreio, algum distúrbio da alma que não quer me ver parado aqui. Não estou
conseguindo me focar no texto. Quem me dera Mallu Magalhães viesse tocar em
Recife. Iria com certeza. Talvez até a minha mãe fosse comigo. Quem sabe até...
é, talvez, deixa para lá. Björk é que já desisti de ver ao vivo. Nem me
interessa tanto mais. Só se viesse a Recife, o que acho uma impossibilidade.
Está tocando Portishead de novo. A lista 6 se repete. 19 horas de música. Só
dão para um dia e uma noite. Estou com a cabeça vazia. Vou ver o que a mais nova
escritora pernambucana respondeu em relação ao comentário que a fiz.
18h17. Adorei o comentário dela. Me convidou para o
lançamento do livro. Pode até ser uma. Mas sei que vou me desmotivar antes. Ou
mesmo esquecer. Sei que provavelmente não irei. Embora haja uma ponta de mim
que queira estar lá. Estou realmente desconcentrado, não sei o que há. Queria
que meu amigo da piscina me chamasse para descer. Deu vontade de cometer uma
insanidade agora, mas não a farei. Os resultados podem ser e serão inesperados.
Por essa falta de controle, preciso escolher o dia de fazer isso a dedo. Imagens
que vi no YouTube perpassam a minha cabeça. Acho que estou alheio porque a
porta está aberta. Na verdade, não acho que seja isso, acho que é algo de mim
mesmo, aqui dentro que me rouba do texto. Mas o que seria? Em que penso? Penso
em aparecer no lançamento da minha amiga, aliás, conhecida, e comprar um
exemplar do seu livro. E pegar um autógrafo com a autora. Ela certamente
merece. Eu é que não sei se tenho disponibilidade para tanto. Avesso a eventos
sociais que me torno ou já sou. Nem sei ao certo se posso considerar uma
característica minha ou um a fase transitória. Se for uma fase está se
aproximando da parte mais aguda. E uma vez que chegue nela, ou seja, deixe de
sair, não saberei como retroceder. Mas espero que isso não ocorra, que meu
primo-irmão tenha programa para esse final de semana que me caiba para que saia
da minha toca.
18h45. Fui fumar o primeiro cigarro da nova carteira. Estou
com uma vontade de cometer a insanidade, mas não vou. Preciso parar com esses
imediatismos. Esse é o período das esperas em minha vida. Então o mais sensato
é esperar. Estou com a conhecida e seu livro na cabeça, as fotos do lançamento,
o vídeo do evento. Tudo me parece quase ansiado por mim. Mas preferia lançar o
livro sem esse oba-oba. Trocaria isso pelas tarjas a serem postas nos livros em
exposição. As cintas com frases provocantivas envolvendo o livro. Acho que isso
geraria mais vendas. Se bem que chamar os meus amigos geraria mais vendas
ainda. Mas por um momento apenas. Vou parar de sonhar porque o mais provável é
não haver tal publicação. Aliás, nem sei. Há uma probabilidade de isso
acontecer, mas ainda leva muito tempo. E tenho que ter paciência até todas as
engrenagens se alinharem.
Sabe o que eu pensei dizer ao meu tio? Estou me prostituindo
em troca do seu lobby para publicar o livro, não gosto de fazer layouts, não me
dão o mínimo prazer. Então ajudarei você até o final de 2018. Depois disso
estamos quites. Caso publicação haja. Se não for haver, por favor não me peça
mais nada.
19h19. Obviamente não direi algo tão cru e direto a ele, foi
mais um desabafo. Está passando a música tema de Aurora. Mas não vou tratar
disso ainda. Ainda não é tempo. Ainda não há espaço para isso. Nem nunca
haverá. A música me encanta e me põe a sonhar com um futuro que não virá. Mas
sonho, sonho grande, o maior que posso sonhar. E meu peito infla tal vela molhada
ao vento. E é só de vento que infla, pois não há nada para preenchê-lo. E assim
será talvez até o final dos meus dias. Mas a esperança há. Não há a
disponibilidade. Se eu não me ponho disponível, como posso receber? Eis aí a
questão. Me guardo. Me poupando do que é possível. Mas o destino/acaso é cheio
de misteriosas curvas. Sabe-se lá? Eu perdi quase todas as esperanças. E acho
que o problema reside em mim. Eu não me abro para o mundo. Eu me fecho cada vez
mais em mim. O que isso traz de bom para mim? Eu fico confortável e protegido
no conhecido, no familiar. Fiz o que podia com quem me apetecia dentre as
possibilidades, mas ela, a Garota da Noite, apenas me desprezou. Me deus dois
beijinhos e foi paquerar o meu amigo bonitão. Que posso eu fazer? Não me dar
mais a esse tipo de desfrute. O fato é que o meu histórico de vida depõe contra
mim. Eu tenho um histórico de vida no mínimo conturbado nos últimos 10 ou 15
anos. É um bocado de tempo e um bocado de merda. Se o livro for publicado,
deporá ainda mais contra mim. O que eu vou ganhar com o livro? Sei exatamente
tudo o que vou perder. Mas se Seu Raimundo se empolgar com a minha obra, eu
virarei escritor. E o que mais sonhei ser foi escritor. É o papel social que
sempre sonhei desempenhar. Sempre, não. Desde a minha epifania. Que já deve
fazer quase 20 anos. Então digamos que passei metade da vida sonhando em ser
escritor. Nunca estive tão perto disso, mas o destino/acaso fez com que eu
produzisse uma obra que só me compromete e talvez de forma irreversível para
várias pessoas, as mais próximas de mim especificamente. Mas se eu receber a
validação do escritor, o que não é de nenhuma forma algo certo, só o tempo irá
dizer se ele sequer leu o que escrevi. Não sei de nada. Se ele não me validar
como escritor talvez nem publique. Se bem que se passasse pelo conselho
editorial da editora, daria quase no mesmo. Ah, já estou eu a cismar com essa
porra do livro. E sobre suas nefastas consequências. Por causa de um detalhe
que é fundamental à obra. Não há como extirpá-lo e ser a mesma obra. Espero que
não cause o escândalo que acho que vá causar. Não quero dar spoliers aqui. E o que falava é que o
meu histórico de abuso de drogas e internações e depressões e tudo o mais não é
do tipo que salta aos olhos de uma garota. O que corrobora para a intuição que
passarei ainda longos anos de solidão. Até que passe pelo menos cinco anos
limpo, o que acredito diminuiria sensivelmente o receio da pretendente. Acho
que cinco anos são uma garantia de que o risco de recaída é baixo, mas aí terei
46 anos. E não gosto de coroas. Então, só me restará a solidão. Tenho que me
conformar que a minha vida vai ser entocado nesse quarto escrevendo. Assim me
parece realmente uma prisão. Parece algo muito mais sem graça do que poderia
ser. Mas eu já posso fazer diferente agora e não faço. Poderia ir até a praça
comer um pastel e uma coxinha com uma Coca Zero. Poderia...
21h19. Minha mãe me pediu/mandou eu acompanhar a fantástica
faxineira até a parada e ir ao Bompreço. Cá estou de volta e trago um
sentimento ruim no peito, acho que o que estava falando era negativo de alguma
forma, nem lembro, sei que eram delírios sobre o suposto livro. Mas não quero
falar nisso. O Bompreço estava vazio, graças. Comprei o Grego de frutas
vermelhas, biscoitos Bono e a Coca, apenas três. Dá para hoje e amanhã. Minha
mãe tem me achado com cara triste, disse para eu sair da obsessão do livro. Não
sei como me desvencilhar disso, mas vou tentar tratar de outra coisa. Parece
que o dólar está em alta, boa hora para internalizar parte do que tenho Paypal.
21h29. Pronto, fiz. Mas deixei a maior parte para ver se
somado ao que posso receber da Sideshow, eu consigo pagar a pintura das duas
bonecas que me restam lá no ateliê na China. Veremos. Acabou a lista 6 e não
estava gostando das sugestões então voltei para o “Songs of Experience” do U2.
Estou livre, sou livre, isso é o que importa, se estou usando a minha liberdade
para ficar “fritando” sobre o livro, o problema é meu, é uma escolha minha.
Claro que preferia ter assuntos outros e talvez algum me venha. Ia fofocar, mas
me contive. Não gosto, é porque estou vasculhando a minha mente para ver se
acho algum assunto diferente. Essa de ter perdido a fronha do Manicômio foi de
lascar. Era o meu maior troféu, iria bordar a marca de cabeça para baixo numa
camisa que comprei especialmente para isso. Será que minha mãe e meu padrasto
vão dormir cedo? E se não forem, que diferença isso faz? Dentro em breve mamãe
vai me chamar para colocar os remédios. Vou pegar mais Coca agora que tenho
bastante. Vontade danada de fumar outro cigarro. Preciso me conter. Vontade dá
e passa e tenho o Vaporfi aqui.
21h45. Peguei mais Coca. Pronto, cá estou de volta a serviço
das palavras. Mas elas estão me estranhando no momento, não me vêm com
facilidade. Ainda bem que estou na última página. Se quiser posso parar por
aqui, mas não quero. No meu imaginário parece que só habitam coisas correlatas
à minha obsessão. Será que um dia isso vai passar? Vai ter que passar porque um
belo dia, de uma forma ou de outra, vai ser passado. De uma das muitas formas
que isso pode resultar. Nem há tantas assim. Me vejo muito em alguém. Talvez
por isso a sintonia. Mas posso estar equivocado. E espero que vida não se
desdobre para essa pessoa como foi para mim. Ninguém merece. Eu gosto do lugar
em que estou, mas o que tive que passar para chegar aqui não recomendo a
ninguém. E a sorte foi minha amiga apesar de todos os pesares. Senão talvez nem
tivesse chegado tão longe. E me falta amor-próprio. Ou o manifesto de forma
completamente torta tecendo essa elegia sobre mim mesmo. “Landlady” toca. É uma
das músicas mais emblemáticas da minha vida, apesar de recente, e já ganhou
enorme significado para mim. A tenho muito entranhada em mim already. Me apareceu num momento de inconveniente
delírio e depois num momento de profunda sobriedade. Seguidos. Foi quando eu
percebi onde exatamente residia a minha liberdade e onde eram as prisões. Sei
que parece meio cifrado, o texto de hoje está mais misterioso que de costume,
mas prefiro ser misterioso hoje. É um exercício diferente, me dizer sem deixar
tudo evidente, claro. Mas não sei se irei exercer o tal mistério daqui para a
frente. Sei que voltando a uma das vacas frias, eu não tenho diferenciais ou
atrativos para agradar uma garota. Pelo contrário, possuo várias coisas que
contam contra mim. A suposta garota teria que gostar de alguém outsider, de
variedade diferente da que está acostumada. Teria que ter uma mente mais
aberta, com menos preconceitos acerca de um monte de coisas. E ainda ser gata.
E com, no máximo, trinta e pouquíssimos anos. Eu percebo que o meu limiar de
idade aceitável de garota acompanha a minha crescente idade, mas tem que ser,
no mínimo, dez anos mais jovem do que eu. Não quero uma coroa, me intimida e
não me atrai. Embora haja coroas lindas e saradésimas, mas não fazem a minha
cabeça. Prefiro a solidão. Quem tem a mente fechada e preconceituosa sou eu,
né? Hahaha. Mas são minhas preferências, há que se respeitá-las. Eu as
respeito. Hahaha. Mas parece que só um milagre para me tirar dessa solidão. Ela
encrustou em mim de uma maneira que nem sei. Mas se estou só, a culpa é quase
que exclusivamente minha. Embora tenha a esperança que haja um pote de ouro no
final do meu arco-íris. Ou não passe de vã ilusão. Que acho que é. Não existem
potes de ouro no final de arco-íris. Como é o plural de arco-íris? Não faço a
menor ideia. Nossa, que bom estar tratando de coisa outra. Chega dá uma arejada
na alma. Mesmo que esteja falando da solidão. Como disse em algum lugar,
enquanto as palavras não me faltarem não me incomodo com a solidão. Minha mãe
acabou de avisar que vai me acordar de 8h00 da manhã amanhã para ir com ela ao
médico. Por essa eu não esperava. Mas se ela precisa, eu irei. Vou botar o meu
celular para carregar para ter um passatempo. O ozzy nem é ir ao médico, mas acordar
nesse horário. Para mim é madrugada praticamente. Hahaha. Rindo para não
chorar. Acho que vou seguir minha vontade e fumar um cigarrinho. E tentar me
deitar de 23h00. Que daí durmo nove horas. Está de bom tamanho. Difícil é eu
pegar no sono tão cedo. Mas tentarei se não conseguir, volto para cá ou para um
novo arquivo. E sigo a minha rotina de sempre. Ao cigarro. 22h23.
22h30. Estou de volta, sem o mínimo sono ou a mínima fome.
Ah, comi o bolo que comprei para o aniversário do meu padrasto, deve ser isso,
deve ter aplacado o meu apetite ou a fome dos remédios ainda não bateu. Esqueci
de aumentar a temperatura do boiler pois tomarei banho logo hoje para não
precisar fazer isso amanhã. Nem acho que daria tempo. Espero que mamãe se
atrase, como é de seu costume e só me acorde às 9h00, já faria uma grande
diferença. Sim, botar o meu celular para carregar. Mas só depois do banho tenho
medo que o vapor e a umidade de um banho quente possam danificá-lo. Eu tirei
foto para hoje? Ah, tirei da varanda. Mas não postarei isso hoje pois não tenho
saco para revisar agora. Meu projeto de passar dois meses morando na rua me vem
à cabeça. Não tenho envergadura para tanto. E minha mãe iria achar que é surto
de mania meu. Deixa para lá. O Coisa, que me serviu de modelo para a foto do
meu post de ontem, olha para o nada um tanto melancólico.
22h40. Mais dez minutos vividos, dez minutos mais próximo da
morte. E nada de revolucionário aconteceu na minha vida, como geralmente não
acontece. Se bem que minto, há os projetos do livro e do meu amigo cineasta. Há
a entrada do meu tio na minha vida e sua promessa de publicar o livro. Há o
médico de mamãe amanhã que – e eu sei que isso é patético da minha parte –
queria que dissesse que a viagem para a Europa é um equívoco. Mas não vou ficar
agourando. Só sei que com esse joelho vai ser horrível para ela viajar. Vai
sofrer muito. Eu acho que não vale a pena, que ela tente mudar as passagens
para o ano que vem, qualquer coisa, menos viajar quase como uma aleijada. Que
se submeta a cirurgia logo e fique boa de uma vez por todas desse mal que só
faz piorar. O pós-operatório é bastante sofrido, mas vem para um bem maior. A
viagem, embora fosse alegrar a minha irmã e tudo, seria no mínimo difícil para
mamãe. Ela ainda não quer desistir, mas se precisa de mim até para carregar os
exames amanhã, que dirá na viagem? Mas isso sou eu fazendo propaganda contra.
Se ela quiser, nós vamos, mas duvido que ela aproveite e consiga participar do
congresso a contento. Vai ser mais um problema para ela que um lazer. Antes ficávamos
horrorizados quando numa prova de vestibular o estudante escrevia laser em vez
de lazer. Hoje devem rolar absurdos muito maiores. Esse é fichinha. Que pena
disso tudo. Mas é a minha percepção dos fatos, tanto em relação a mamãe quanto
à morte do português. Embora não tenha autoridade nenhuma para falar de
português, meu professor é o corretor do Word. Hahaha. 22h53 já? Acho que vou
adiar o meu horário de sono para a meia-noite. Estou gostando de me dizer, peguei
o embalo, esse post vai ficar maior do que os últimos, mas o blog é meu e eu
escrevo o quanto quiser. Deu branco, é só me dizer uma coisa que meu cérebro
age contra. Isso é ozzy. Não sei por que essa mania de me desobedecer. É uma
forma de reafirmar a minha liberdade, o meu livre-arbítrio, a possibilidade de
mudar de ideia. Nossa, odeio ideia sem agudo, mas se boto com agudo, o meu “professor”
reclama. Hahaha. Que seja, espero que não haja mais reformas enquanto eu
estiver vivo. Tenho falado muito do final da minha vida ultimamente. Aos poucos
acho que vou me apoderando da possibilidade da minha finitude cada vez mais
próxima. É algo que me ronda e começo a temer o meu fim. Mas não é possível que
venha antes da consecução do meu maior sonho pessoal. Aliás, tudo pode, mas
seria uma ironia muito grande do destino/acaso, quando eu quero mais viver vir
me roubar a vida. Não acho que isso se dará, acredito que verei o final dessa
novela antes do final da vida. Se bem que esse livro pode acabar com boa parte
dela. Não sei. Espero muito estar fazendo tempestade em copo d’água. Mas meu
tio se disse impactado pela leitura, espero que pela coisa toda, mas sei que há
uma parte fundamental que o chocou e que é o que vai chocar a todos. E que
reverberará tão mal para o meu lado. 23h02. Vou tomar banho logo e depois volto
a escrever, para dar tempo do meu cabelo secar. E eu não acordar com o penteado
de Robert Smith na minha cabeça. Hahaha. Seria uma homenagem muito válida ao
Cure, mas não estou disposto a rendê-la. Hahaha. Vou daqui a dez minutos. Fumo
mais um cigarro, mudo a temperatura do boiler. Não, melhor fumar o cigarro
depois do banho, acho mais salutar. Mas subir a temperatura do boiler eu vou. “Landlady”.
Quando acabar eu vou lá tomar banho. Enquanto isso fico com inveja boa da minha
amiga que publicou seu livro. Será que vou ficar com a data na cabeça para
talvez ir lá prestigiar o lançamento de seu livro? Não queria e queria ao mesmo
tempo, por mais que não leia. Isso não importa. Não sei qual o conteúdo dos
contos, mas a depender de quais sejam, eu poderia fazer uma coisa. Acabou a
música. Vou lá. Já-já estou de volta.
23h40. Tomei um longo e relaxante banho quente, que dádiva
da existência. Obrigado universo, mais uma que fico devendo. Os pequenos
prazeres da vida, só são pequenos se os enxergarmos assim. Para mim foi um
grande prazer e agora estou bem calminho e relaxado. Não estou com fome ainda.
De comer paçoca não, mas devoraria dois Grego de frutas vermelhas. O que acho
que farei antes de ir dormir. Encerro os meus trabalhos de hoje quando o gelo
que a fantástica faxineira tirou para mim acabarem, acho que só dá para mais um
copo de Coca, então vai ser por volta da meia-noite, não muito mais. Fiquei
pensando em fazer um convite ao meu amigo corretor para nos encontrarmos amanhã
na piscina, mas acho que ele já deve ter programação para a sexta à noite. Só
se fosse à tarde. Veremos. Queria vê-lo antes de partir, já que não tenho
certeza de que vá viajar mesmo a Portugal. Seria uma despedida. Faltam quatro
dias para a viagem dele. Em muito breve, três. Bom, mandei mensagens para ele
perguntando se iria sair amanhã à noite. Provavelmente irá. Aproveitar a vida
louca enquanto ainda pode. A fome está batendo. Acho que vou atacar essa
paçoca. 0h00.
0h29. Comi paçoca com feijão preto mais dois Grego de frutas
vermelhas. Vou me retirar.
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