Minha mãe me acordou dizendo que meu tio, aquele tio para
quem mandei o livro, havia ligado e que me ligaria daqui a uma hora. Ela
parecia bastante animada com a notícia, como se ele trouxesse boas novas. Não
estou com coragem de falar com ele. Preferia que não ligasse. Mas sabe-se lá.
Se ligar vou atender, claro.
11h45. Estava peruando pela internet. Que coisa mais curiosa
esse contato do meu tio. O que será que queria? Que quer? Bom, esse é um
contato que não fico ansioso em receber, como o estou em relação a Seu
Raimundo. Ainda bem que agora que acabo de acordar não guardo grandes
ansiedades comigo. Acho um saco ansiedade ontem fiz verdadeira ode à ansiedade
manifesta na incerteza de receber resposta de Seu Raimundo, ansiedade que
deveras sentia. Hoje estou mais tranquilo, talvez por ter investido tanta
energia nisso ontem. Tomara que não me acometa de novo. Deveria levar esse
assunto de livro com mais leveza. Vou tentar relaxar e deixar a vida me levar.
Tomara que consiga esse intento hoje. Meu juízo não aguenta tanta ansiedade
seguida. Hoje é sexta-feira, talvez haja saída com meu primo-irmão, melhor
seria se não tivesse. Não estou com vontade de sair da minha toca, meu
quarto-ilha. Hoje não queria nada que perturbasse o meu humor. Certamente não
queria que meu tio me ligasse pedindo mais layouts. Isso estaria entre as
últimas coisas que queria. Descobri que o aplicativo de celular Prisma agora é
pago, que droga, queria ver como o Hulk ficava com os seus fantásticos efeitos,
mas não vou pagar para isso. Nem acho que muitas pessoas pagariam pelo serviço
que oferecem, mas cada cabeça é um mundo. Meu Hulk é muito invocado, não canso
de babar. Com a luz do dia é que fica invocado mesmo. “Landlady” toca pela
primeira vez hoje. Se nada mudar dentro de mim ela ainda vai tocar várias
vezes. Ela mais que à liberdade, tem estado muito vinculada à expectativa de
resposta do grande escritor. Graças que uma boa noite de sono reduziu a minha
ansiedade. Que continue assim. Ontem elaborei um texto de doze páginas só
tratando e enfrentando a minha ansiedade da pior forma possível. Foi muito
exaustivo emocionalmente. Não gostei do dia de ontem. Há dias piores, mas
também há dias muito melhores, como esse se afigura até o momento. Não tenho
vontade de fazer nada que não escrever aqui, talvez porque Tico e Teco ainda
estejam se entendendo. Fato é que estou tranquilo e isso é o que importa. A
editora do concurso para onde mandei o meu texto ainda não me deu resposta e
pouco se me dá pois não há a mínima possibilidade de eu ganhar pelos critérios
avaliados. Tenho que tomar um banho hoje. Mas estou com preguiça de tudo no
momento. Preguicinha boa, vontade apenas de me dizer aqui. Quantos podem
usufruir de um momento de preguiça em plena sexta-feira, às 12h20, tendo 41 anos
de idade? E isso sem pressões externas? Sem prazo, sem estar desempregado, sem
estresse nenhum? Eu sou um abençoado e mais abençoado sou por ter as minhas
palavras. No texto de ontem, que não publiquei aqui, entrei no embate até com o
significado que estas palavras têm para mim. Foi uma coisa pesada comigo mesmo,
estava num astral muito ruim. Que bom que passou mais. Mas continuo
condicionando o meu livro à anuência de alguma autoridade que eu veja como
portadora da qualidade de julgar a obra meritória ou não. Em caso negativo, não
a publicarei, pois não vou enfrentar toda a dor de cabeça que a publicação vai
me causar por egolatria, egocentrismo, narcisismo. É muito pouco. É uma razão
fútil essa de agradar o meu próprio ego. Novamente penso em vovô que publicou
vários livros com esse intuito e não é o que projeto para mim. Ele estava pouco
se importando para a qualidade literária ou para qualquer coisa. Achava que
tinha uma boa história para contar – ou histórias – e mandava ver. Acho
admirável tal autoconfiança, mas não disponho dela. Preciso de mais. Da tal
aprovação de alguma autoridade ou entidade que eu respeite. Mas não vou remoer
esse assunto, não quero ansiedade hoje. Já me basta o que passei ontem e
anteontem e antes até. O problema é que me falta conteúdo, vivências novas.
Hoje eu poderia me focar em como tenho a vida que pedi a Deus. Primeiro, eu não
trabalho, ou melhor, trabalho no que me dá prazer e nenhuma renda que é
escrever. Escrever para mim não para os outros. Os outros são consequência e até
por isso sou lido por muito poucos, mas já me acostumei com esse fato. Afora
isso, a despensa está cheia de Cocas, vou receber minha carteira de cigarros
hoje, estou ouvindo o som que eu quero ouvir, no quarto que tanto amo, tendo o
Hulk como meu grande companheiro. Afora o Homem-Aranha Simbionte, a Rei
Ayanami, o Coisa e, mais acima, o Demolidor. Moro num bairro agradável que já
foi mais agradável antes da descontrolada e irresponsável verticalização da
área. O progresso às vezes se dá de forma mesquinha e desenfreada.
13h03. Minha mãe me adiantou o que meu tio quer de mim, mais
trabalhos de layout. Disse que perguntou do livro a ele e que ele disse que eu
“tenho jeito” e que há partes, não me lembro a palavra, mas algo entre tristes
e pesadas. Mencionou da festa do meu avô o que é bem no começo do livro, o que
para mim indica que não leu a obra completa. Acho essa uma parte chata do
livro, quando ainda alimento a falsa expectativa de ter alta o mais rápido
possível. Isso é na primeira semana de internação. Não acredito que vou ficar
fazendo layouts para o meu tio. É tudo o que não queria. Terei que saber dar
uma parada nisso quando eu sentir que está me fazendo mal. Um trabalho de
layout que me foi recompensador? A marca do Carnaval de Olinda que foi utilizada
dois anos seguidos. Deu um baita trabalho, mas me senti recompensado ao
imaginar os milhares de pessoas que a viram. É uma pena que não tenha
conseguido achar uma fonte adequada para ela. Mas é isso. Gostei de um ou outro
layout de lançamento de prédio que fiz, é o tipo de anúncio que é um
quebra-cabeças, há várias peças para encaixar de maneira informativa e
harmônica, de preferência chamativa e agradável aos olhos. Afora isso, não
consigo me lembrar de outros layouts que fiz que me marcaram. Não gosto de
fazer layouts, não sou diretor de arte. “Landlady” passa uma vez mais. Para
mim, meu tio não vai fazer nada para que meu livro seja publicado, se fosse
para publicar por esse meio, se ele intercedesse junto à Cepe, onde já
trabalhou em elevado cargo, não me importaria com a aceitação de ninguém, pois
teria o meu livro nas livrarias. De todo modo, ainda falta acabar a revisão.
Quando acabar, volto a mandar o livro para ele. De nada vai adiantar já sei.
Mas quem não arrisca não petisca. Usei essa expressão para o concurso, outra
via que acho tão infrutífera quanto esta. Acredito mais que a opinião de
Raimundo Carrero venha que meu tio venha me ajudar a publicar a obra. A vida
pode me mostrar equivocado também. Mas dizer que eu “tenho jeito” para a
escrita é muito pouco é quase dizer que eu sou medíocre. Mas não vou entrar de
novo sobre esse mérito da minha mediocridade senão entro na minha bad trip de ontem. Hoje quero um dia
mais astral para mim. Eu mereço. É sexta-feira, ontem passei 13 horas escrevendo
quase ininterruptamente. Foi exaustivo, por mais que o faça com prazer, mas
mergulhei fundo e não gostei nada do que vi. Hoje quero mais leveza, mais
frescor. Meu tio ainda não ligou. Ainda bem. Espero que não o faça. Talvez não
o faça, visto que é sexta-feira. Deixará para me ligar na segunda. E já me
pedir um novo layout. Espero que não vão subindo de complexidade, agora um
panfleto, depois um folder – odeio folders – então uma campanha e por aí vai.
Bom que o destino/acaso mostre a suas cartas. Confesso que tais cartas não as
queria ver hoje. A únicas coisas que gostaria que o destino/acaso me trouxesse
são uma comunicação do escritor ou da incrível revisora. Teimo em escrever
incrível colocando um acento agudo em cada “i”, ainda bem que o corretor
ortográfico elimina o primeiro automaticamente. Não tenho muito o que dizer. Vi
uma postagem da incrível revisora e penso no cuidado que teve para elaborar o
texto. Perfeccionista do jeito que é. E extremamente racional pelo que aferi do
texto. Não á à toa que tenha se dado tão bem com o meu primo urbano. Acho que
formam um casal harmônico e feliz. São companheiros da forma um tanto distante,
mas não muito. Na medida ideal para os dois. É uma coisa a qual estou
completamente desacostumado, sair com os amigos da namorada. E é uma coisa,
caso tenha uma namorada que inevitavelmente irá se dar. Mas no meu horizonte
ninguém se afigura para preencher esse papel que falta em minha vida. Mas não
falta muito não, enamorado que estou das palavras. E da solidão. Será que a
solidão será quebrada por algum evento noturno? Talvez no sábado? Meu primo
acho que tem interesse em comparecer ao forró da Casa Astral. Vou ver se é isso
mesmo.
13h55. Não era, era para o show de Cordel do Fogo Encantado.
Não sei se tenho disposição para tanto. Não gosto do som da banda – pode me
chamar de herege – e acho que vai ser uma aglomeração sem tamanho. Se bem que
seria um bom lugar para encontrar uma garota, quiçá a Garota da Noite. Mas essa
vai me evitar com absoluta certeza. Nem as minhas mensagens do Facebook se dá
mais ao trabalho de acessar. Caso perdido. E pouco se me dá. O desprezo às
vezes cansa. Dentro em breve tomarei um merecido banho. Falta-me disposição,
mas uma vez com a ideia na cabeça eu vou me aclimatando com ela até fazer o
movimento para a realização do ato. Mas isso só daqui a dois copos de Coca e um
cigarro. Tenho quatro cigarros, dá um por hora até as 18h00, quando mamãe
combinou de me dar a próxima carteira. Queria ir pegar Coca agora, mas com o
casal na cozinha, me sinto atrapalhando. Vou mesmo assim. Mamãe vai me convidar
a comer, dizendo que a costela ficou uma delícia etc.
14h11. Como supus, minha mãe me fez experimentar a costela.
A nova TV da casa chegou. E já foi convocado o rapaz para instalá-la. A medida
que vou ficando velho passo não mais a ver todos os adultos como homens ou
mulheres, só se forem mais velhos que eu, como há mais gente nova do que velha,
chamo-os rapazes ou moças. É uma condição peculiar ficar velho, uma que
particularmente não me agrada. Mas acho que a partir dos 60 uma década a mais
ou a menos não faz tanta diferença. Serei velho da mesma forma. Até os 50 ainda
sou coroa, a partir daí dou velho. Embora as crianças me achem velho já de
agora, eu creio. Vou fumar um cigarro.
14h23. “Landlady” começou assim que entrei no quarto. Acho
que muitos invejam a minha posição, sem trabalhar, recebendo mensalmente uma
pensão, todo o tempo livre do mundo. Mas o que fazer com esse tempo livre é a
questão. Muitos se pegariam sem saber com o que ocupá-lo, eu me descobri na
escrita senão me veria imerso num oceano sem fim de tédio. A escrita é a razão
de viver os meus dias. É ela que me livra do tédio, ela é a minha ocupação, o
que faço com prazer da minha vida. Mas já louvei tanto a escrita aqui – e tantas
mais louvarei, tenho certeza, pois sou eternamente grato a essa vocação, se
posso chamar assim – que não utilizarei mais palavras sobre o assunto por ora.
Mas ter tanto tempo livre e não ter outra coisa que me interesse fazer é uma
coisa que acho estranha, minha mãe mais ainda. Minha mãe outorgou ao meu tio o
direito de me explorar, ou seja, fazer layouts por uma recompensa mínima doada
a ela. E está orgulhosa de mim e animada com a ideia de que eu faça algo além
de escrever. Mesmo que seja uma coisa que não gosto de fazer e que não se
reverterá no meu principal intento, o livro publicado. Razão primeira e única
de ter entrado em contato com o meu tio. A vida prega cada peça, parece que a
Publicidade é um fantasma que nunca vai deixar de me assombrar. Há um mosquitinho
inconveniente no meu quarto. Não gosto de mosquitinhos inconvenientes no meu
quarto, mas gosto menos ainda de findar uma vida de um ser que tem o mesmo
direito de existir que eu. Mamãe usa o WhatsApp e fica apitando aqui no meu
computador. Não tiro vidas dos seres menos evoluídos, por mais que me alimente
deles e não tenha pudor em fazê-lo, mesmo sabendo das crueldades do mercado da
carne. Sou um animal onívoro. Não me satisfaria apenas de plantas. Não me vejo
tomando essa atitude nem tão cedo. Não me vejo a tomando nunca. Pode me achar
desumano nessa parte em que sou humano demais. Meu irmão abdicou dos prazeres
da carne, no sentido literal apenas, e tornou-se vegano. Mas meu irmão é uma
pessoa iluminada, não é o meu caso. Nunca será. Minha alma é cheia de máculas
que não há como remover. Não gosto de quem eu sou e não me esforço para ser uma
pessoa melhor, simplesmente porque gosto da vida que levo, da maneira que levo.
A culpa, essa incansável carrasca, já me açoitou tanto que me acostumei com as
suas chibatadas e as levo qual um boi de carga, sem reclamar, apenas seguindo
em frente carregando todo o peso de ser como sou. Não é peso demais nem de
menos, é a justa cruz que tenho que carregar. Não trocaria todas as regalias
que tenho por algumas gotas de dignidade, não me parece uma troca justa. Para
encher o meu poço de dignidade seriam precisos barris e barris de dignidade. E
um esforço moral que não ouso empreender. Me sinto falho, fracassado em quase
todos os âmbitos da minha vida, mas levo a vida que quero, que sempre sonhei.
Escrevendo. E parece que sonhei certo, pois não me canso de escrever e quanto
mais escrevo mais vontade tenho de me dizer como uma sede insaciável. Que
continue assim, pois é aqui que me protejo do fracasso, da culpa, da falta de dignidade,
de toda a aspereza do meu ser, mesmo que os revelando como faço agora. Há uma
sensação de expurgação de tais impurezas da alma na escrita. É como se me
confessasse e isso traz alívio, alento para alma combalida. Não é à toa que
estou sozinho e mais sozinho a cada dia me torno. Não vejo isso como
coincidência, mas como consequência do que sou e de como ajo. Tenho mais do que
mereço, mas não ouso abrir mão disso por uma causa maior, pois não vejo causa
maior que a minha própria. Ao menos, em não recaindo na minha droga de
preferência e tendo estabilizado meu transtorno bipolar, não faço mal a
ninguém, nem a um inconveniente mosquito que, por sinal, desapareceu, deve ter
saído pela janela aberta por onde entrou. Me vejo estagnado, alienado, cada vez
mais distante da sociedade. Isso me preocupa um pouco, mas já me preocupou
muito mais. Me preocupa deveras não ter mais condição de escrever, de ter algum
tipo de lesão por esforço repetitivo ou coisa que valha. De ficar senil e
perder meu eu. Isso me amedronta muito mais que o isolamento. É certo também
que não queria ficar de todo isolado. O contato humano ainda me é algo singular
e precioso, especialmente com pessoas queridas. Mas esses vem escasseando, a
vida vai nos distanciando como a expansão do universo vai distanciando os
corpos celestes. Foi-se o tempo da disposição e disponibilidade para os
encontros. Eu estou praticamente sempre disponível, mas convites são escassos,
para dizer o mínimo. Se eu mesmo não me convido, o que acho cada vez mais
inconveniente como o mosquito intrometido, é difícil que haja alguma interação
social para mim.
15h09. Minha mãe veio trazer o café de máquina para mim,
devidamente adoçado, uma regalia que só uma mãe que ama é capaz de
proporcionar. Me sinto amado nesses gestos e busco retribuir com carinho que é
a única moeda que tenho de troca e o qual distribuo com sincero prazer, coisa
que não acontecia antigamente. Antes era um movimento forçado e alienígena,
hoje é espontâneo e desejado. O tempo é realmente senhor de todas as coisas.
Não pensei jamais que me entenderia tão bem com a minha mãe quanto se dá hoje.
E os prospectos são ainda mais positivos. Ou assim quero crer, ambos
amadurecemos. E nos tornamos mais macios um com o outro. Um bom destino para a costela
que ela comprou seria uma farofa, comerei hoje como está, mas como a peça é
muito grande talvez, se eu sugerir, se converta em farofa o restante. Isso se
durar até a vinda da fantástica faxineira. A TV que meu padrasto comprou é de
impressionantes 65 polegadas. A caixa é enorme. O rapaz da instalação ainda não
chegou. Hoje, o passatempo do casal será explorar e desfrutar da TV. Espero que
dê tudo certo e que a tenham instalada e operacional hoje à noite. O aluno de
mamãe que viria à tarde não vem, então ela decidiu que vai dormir um pouco. Ou
um muito, quem sabe.
15h18. Voltando ao meu peculiar modo de vida, acredito que
só não caí ainda numa profunda depressão por conta em sua grande parte dos
medicamentos que a Doutora me receitou. Viver isolado escrevendo e cheio de
dilemas existenciais mal resolvidos me parecem a receita certa para uma
depressão. A escrita é a parcela restante que empresta sentido aos meus dias.
Sem a escrita não sei se os remédios seriam o suficiente. Mas na soma dos dois
se dá a receita para que vá levando a vida como levo. Me vi agora sem palavras
para dizer. Preciso me movimentar para o banho, mas não sinto o menor ímpeto de
fazê-lo agora. Minhas axilas já exalam o odor característico que me é um alerta
para tomar banho. Passarei desodorante dessa vez. Mas antes de ir quero me
deixar aqui mais um pouco. Queria tomar banho no cair da tarde, lá pelas 17h27.
Hahaha. É que, como já disse, gosto do número 27.
15h25. Daqui a duas horas e dois minutos vou tomar banho.
Seu Raimundo volta a me assombrar. A vontade de mandar-lhe um e-mail me assalta
o juízo. Novamente, tenho que me controlar e só mandar quanto a revisão
definitiva do livro ficar pronta. Quem sabe não me responda antes, mas acho tão
improvável que tal resposta venha. Não perco a esperança, entretanto. Acho que
ele é um homem de palavra, mas achou o meu texto tão ruim que não teve coragem
de me responder. Pelo menos é isso que acontece na minha fantasia. Não tenho
base factual nenhuma para apoiar minhas suspeitas, só o fato de terem se passado
11 dias desde que o enviei o texto. Mas esperarei e não mais matutarei sobre ao
assunto aqui (espero). Está entregue. Será entregue novamente se não receber
resposta do velho mestre. “Landlady” uma vez mais. E outras vezes virão. Nossa
como deposito esperanças gigantescas em Seu Raimundo Carrero. De validação da
minha obra como livro. Seu aval significaria que sou de fato um escritor. E
valeria pagar todo o custo social pesadíssimo que teria por conta do livro. De
outro modo não vale. Mas não vou entrar nessa seara uma vez mais. Toquemos no
assunto quando da revisão final. Duvido que consiga tal proeza, pois o
pensamento fica me rondando como um lobo esfomeado. Mas me esforçarei para
isso, pelo bem do leitor deste espaço. Ontem desabafei tudo o que queria e
podia sobre o assunto e cheguei à conclusão que eu sou uma pessoa medíocre, um
merda. Não foi dos textos mais agradáveis que produzi e por ser tão redundante
não coube aqui no Profeta, até por que tenho um post já na gaveta para
publicar. Esse está com cara de que vai para o Profeta também. Amanhã. Hoje
publicarei o anterior. Espero encontrar o vídeo no YouTube dos Ninja Boys para
colocar no post. Eu sei que isso é meio patético, mas gosto do cheiro que exala
das minhas axilas. Há algo de muito humano e masculino nele. Não é desagradável
talvez por ser meu cheiro, que a muito me lembra aos das axilas dos demais, só
que mais leve, mais brando. Mas acho que me agrada por ser meu. E só por esta
razão. De qualquer forma, o horário do banho vai se aproximando e não vou me
desobedecer, cumprirei o horário ao qual me dispus. Nossa, pensei no meu amigo
jurista agora e em como odiaria trabalhar usando a cabeça o dia todo para
chegar em casa e ter uma mulher e uma filha me esperando. Na minha casa, onde
eu pago as contas, onde tudo depende de mim. Isso me assusta. São
responsabilidades demais para quem está acostumado a não ter nenhuma a não ser
com a escrita. Ela me cobra muito menos, ela me diverte e me preenche. E não
preciso me preocupar com contas pois minha mãe e meu padrasto se apropriam
delas. Odeio as responsabilidades do mundo adulto. Até quando morei com a
Gatinha, eu delegava as contas a ela, que era a minha, bem dizer, gestora
financeira. O estresse com a TV começou. Passarei um bom tempo sem sair do quarto.
Até que esse assunto se resolva. Ou de 17h27 para tomar banho. E eu que queria
pegar um copo de Coca vou ficar querendo. É, o estresse está pesado. Meu
padrasto está muito agitado e vociferou há alguns instantes. Vai sobrar para a
minha mãe. Eu não quero me meter, não acho que devo, eles são um casal que se
entendam. Acho que dá para pegar Coca agora, só escuto silêncio.
15h58. Peguei um copo de Coca. O último da garrafa. Ainda
bem que há mais. Odeio quando o meu padrasto se exalta. Ele é muito grosso
nessas horas, bruto até, ainda bem que somente verbalmente. Fala alta, grita
até. É algo que me é profundamente estressante. Mas é a vida, nem tudo pode ser
bonito, nem tudo pode ser bacana.
16h05. Me perdi pela internet. Achei umas luzinhas que ficariam
massa para iluminar meus bonecos premium
format. Não sei vendem no Brasil, vi na propaganda de lançamento de uma
boneca num e-mail promocional.
16h10. Me deu um branco agora pensando na minha coleção e na
reforma do quarto que nem sei se vale a pena. Se for para durar mais 25 anos
vale a pena.
16h13. Ainda perdido em pensamentos, dessa vez sobre a mortandade.
É um caminho triste esse que leva à morte e, com a evolução da medicina, a
velhice hoje em dia é estendida enormemente. Se bem que a adolescência também
foi estendida, o que acho que compensa. Uma pena a infância ter ficado mais
curta. Eu não sei mais o que dizer. Mas algo me virá, algo sempre vem. Me
peguei pensando no meu amigo bailarino. Pois é, raro, mas tenho um amigo
bailarino, ganhou até uma bolsa para estudar dança na Itália, num dos lugares
mais tops que há. Encontrei com ele no aniversário da Gatinha, mês passado. É
jovem, bem mais jovem que eu, visto que bailarino. Eu não sei qual a vida útil
de um bailarino, mas essas coisas que têm o corpo como principal ferramenta
geralmente não duram muito além da juventude. Como disse a juventude foi
estendida, então, quem sabe aos 40 anos não esteja fazendo ainda o que ama
fazer? Tomara. Graças aos céus escrever requer muito pouco do corpo. E ao meu
amigo, quando o corpo não mais responder às demandas da dança, restará lecionar
o que aprendeu. Imagino que esse seja o destino da maioria dos bailarinos. Não
sei, nada entendo de dança. Posso estar falando só asneiras, o que não é
novidade para o leitor mais assíduo, se é que há alguém além de você, tia,
corajosa leitora dos meus caudalosos posts. Hahaha.
16h28. Cinquenta e nove minutos para o banho a tarde já caiu
bastante, acho que posso encarar o banho agora, não preciso esperar até as
17h27. É o que farei. Quem sabe não me surja novo assunto para essas páginas? O
pior que já estou na sexta folha e tenho me botado como metal não ultrapassar a
sétima ou parar no comecinho da oitava. Vou lá.
16h56. Tomei banho, passei desodorante e estou aqui sem a
mínima vontade de escrever. O cara da TV esteve aqui, tocou e ninguém atendeu,
então foi embora, razão da ira do meu padrasto. Estão vendo se arrumam quem o
substitua. Tivessem me deixado de sobreaviso eu teria atendido o rapaz e
chamado meu padrasto, mas pensei que estava tudo dentro dos conformes. Deu
errado. Bola para frente. O que posso dizer a mais? Acho que vou publicar o
post anterior, só para passar o tempo. Como eu disse o fardo de ter tanto tempo
livre é a eterna fuga do tédio.
17h02. Meu amigo da piscina, acaba de me chamar para descer.
Ótima pedida. Vai ser bom para mudar de ares. Já vou entrar na sétima página
desse post de hoje. Se bem que posso ficar na sexta mesmo. Começo outro. Vou
usar o tempo que me separa da descida para publicar o meu outro post. Grande
abraço.
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