3h09. Cheguei de uma noite ótima, com amigos e amigas
queridos e debatemos muito sobre relacionamentos e sobre como seduzir uma
garota. E como pôr tudo a perder. Isso me inspirou a escrever para você. É um
passatempo divertido que me faz esquecer um pouco dos meus dilemas existenciais,
que é sobre o que mais escrevo. É bom dar uma variada. Sobre como botar tudo a
perder, entendi que tudo o que lhe enviei até agora foi perda de tempo. Não que
isto também não seja. Mas como disse, passatempo. E escrever é o grande barato
da minha vida. Empatado com amar (e ser amado, obviamente). Obviamente também
não poderíamos estar mais distantes disso. Sou um sonhador realista. Hahaha.
Talvez você me tenha por algum tipo de weirdo,
o que não está muito distante da verdade. Um cara que passa os dias escrevendo
e tendo extremo prazer com isso é algo sui generis. Mais sui generis ainda um
cara que mal conhece você, ficar se dando ao trabalho de lhe escrever asneiras,
quando já ficou claro que você, embora leia, não dê o mínimo valor ou ache
ridículo e até estranho. Para tornar-me ainda mais weirdo, eu tenho um histórico de abuso de drogas. De toda forma,
creio que poucos homens na sua vida se dispuseram a tanto recebendo em troca tão pouco. Como disse, me diverte escrever para uma pessoa que acho encantadora
e que eu acredito que tenha algo na cabeça. Não é apenas um patricinha desmiolada.
Mas uma coisa eu aprendi hoje, e que foi muito ressaltada, é que não devo
colocar você – ou mulher nenhuma por quem venha me interessar – em um pedestal.
Você come, anda e caga como eu. E pensa, apesar de aparentemente bem diferente
de mim. De toda sorte, somos dois seres humanos adultos, logo bastante
semelhantes. Estranho seria eu me encantar por uma mariposa, o que de fato
aconteceu hoje no final do dia, pensando que ela não possuía as neuroses dos
homens e ainda podia voar. É um ser interessante. E seres interessantes, bem,
me interessam. Considero você um ser interessante. Acho um espécime belo de homo sapiens e tenho muita curiosidade
em saber o que se passa na sua cabeça. Se há pontos de interesse semelhantes, quais
as suas expectativas, seus sonhos, seus desejos, seus erros, até seus defeitos
me interessam. Tenho curiosidade que não sei bem como surgiu, acho que foi de
lhe olhar existindo num show de Os Caetanos. Aquilo me pareceu superiormente
interessante e, desde então, periodicamente, quando me dá no tino, weirdo que sou, escrevo para você. Não
vejo possibilidade de você me encarar com seriedade e mesmo assim é um gostoso
passatempo lhe passar algumas palavras. Porque desejo você, mas acho desejo
muito pouco, é algo meramente estético e sexual. Que aparentemente é o que você
procura no lidar com os homens. Não critico, cada um tem seus gostos. Eu gosto
de intimidade, acho uma commodity rara nos dias de hoje e, para mim, weirdo, uma das mais preciosas. Gostaria
de construir intimidade com você, já me reparti bastante contigo, então você já
possui certa intimidade comigo. A recíproca não é verdadeira nem nunca será
provavelmente, tendo em vista o nosso histórico, que aponta para você não
querer coabitar o mesmo espaço que eu, que dirá bater um papo. Não me resta
alternativa, que novamente digo ser muito divertida, senão fazer monólogos e enviar
os links para você. É um desperdício de palavras, mas tenho palavras de sobra
para gastar, não me farão falta. Você teria gostado do encontro de hoje, a
maioria era de psicólogos(as). É sempre curioso e informativo debater com eles
sobre a natureza humana. Outra coisa que disseram é para não ser muito pegajoso,
o que acho que você deve achar que eu sou. Mas está redondamente enganada. Eu
gosto da minha privacidade e gosto de ter meu tempo só para mim. Prezo isso
tanto quando arrumar uma companheira legal para construir uma relação. Eu – e isso
admito – tenho dificuldade de largar o osso. Eu já deveria ter mandado você à
merda e partido para outra. Fato é que não vi presença feminina mais
interessante que a sua. E o fato de praticamente fazermos parte do mesmo
círculo social, é uma coisa que tem um sabor de infundada esperança de que
possamos interagir algum dia desse, nalguma night
dessas em que nossos destinos resolverem se cruzar. Ah, outra coisa que aprendi
hoje sobre jogos de sedução é que se a garota rejeita dois convites, é melhor
dispensá-la. Eu só fiz um e acho que não farei o próximo. Nossa, como me acho
ridículo escrevendo isso para você. A palavra “babaca” solapa a minha
consciência. Que seja babaca, faço porque quero. Ninguém está me obrigando a
escrever para você. Eu o faço de livre e espontânea vontade, por mais que saiba
que não tirarei proveito disso a não ser o prazer da escrita em si. Que seja.
Mas até pensei no seu presente de aniversário, que não sei quando é, mas o
Facebook me alertará. E quando ele o fizer eu desfarei a nossa amizade na dita
rede social, lhe livrando de mim de uma vez por todas. Para que não fique
ciberneticamente chato para você, eu mesmo faço, não se preocupe, sei que lhe trará
alívio. Você deixará de ser um divertido passatempo para virar passado. Mais
uma lição da noite de hoje foi descobrir que eu sou um homem interessante,
diferenciado. Mas de nada adianta para olhos que não querem ver. Ou ver além do
estético. Sei que nessa parte fico devendo ao meu amigo cervejeiro e ao meu
amigo bonitão, mas não se pode ter tudo, não é? Pelo menos não tenho nenhuma
deformidade e algumas vezes posso ser formidável. Há mais uma lição que aprendi,
que mulher não gosta de homem romântico num primeiro momento. Gosta depois. Eu
que nada entendo de relacionamentos, aceitei a regra como uma revelação divina
e, por isso, o tom deste texto. Para falar a verdade, pouco se me dá a sua reação
a ele. Sei que ele não mudará em nada a postura distante e evitativa que você
tem em relação a mim. Que me ignore, que me evite, que fuja de qualquer lugar
onde estejamos. Não me incomoda. Você é um passatempo. Poderia ser muito mais
que isso. Mas não depende de mim. Eu já botei as minhas cartas todas na mesa.
Não há muito mais que possa fazer. Você sabe do meu interesse, sabe da minha
vida. Ah, há uma novidade, escrevi um livro. Só não tenho certeza de que vou
publicá-lo. Há várias pessoas interessadas em lê-lo, o que não deixa de ser
surpreendente. Já está sendo revisado. Não sei se darei o grande passo de
publicá-lo. Se for, lhe convido. Será o meu último convite. Chama-se “Diário do
Manicômio”, um título que eu acho bastante autoexplicativo. É isso. Que você
tenha uma vida, boa, honesta, próspera e feliz.
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