Mandei uma mensagem para o meu tio e a bateria arreou. Fui o
mais sincero que pude.
20h26. Entrei no Facebook, caso meu tio entre no aplicativo.
Me predispus a fazer mais layouts para ele. Não sei porque fiz isso, segui o
impulso que me empurrava no momento. Disse-lhe que o único pagamento que queria
era a publicação do meu livro, que discutiríamos sobre o livro quando a revisão
final estivesse feita. Mas avisei que quero que conste todas as minhas
verdades. Não sei se ele vai entrar no Facebook. De qualquer forma estou lá. E
de vez em quando dou uma olhada. Falei para a incrível revisora que se quiser
sair do grupo que criei pode sair, que só a coloquei porque foi a primeira
pessoa que me veio à cabeça.
20h52. Parece que meu primo-irmão não vai sair de casa em
pleno sábado. Impressive. Estava tão
sonolento quando fui à casa da minha tia-vizinha hoje pela manhã que nem
cumprimentei a galera direito. Ozzy. Fiquei superconstrangido, mas demoro muito
para pegar o embalo, ainda mais quando me acordam antes do tempo. E era a
celebração do aniversário dela. Eu estou ficando muito bicho-do-mato mesmo. Só
me liguei na data depois. O niver dela é amanhã. Amanhã apareço lá para dar os
parabéns. O meu amigo da piscina queria que eu contatasse ele, mas o meu
celular arreou antes. Talvez quando carregar ele ainda esteja acordado. Daí
falo com ele. Se ele quiser fumar um cigarro na escada, faço companhia. Tenho que
agradecer ele ter me mostrado o mundo bizarro das pegadinhas de João Kleber.
Realmente uma abominação social. E isso me agrada, sociologicamente falando,
por mais que não entenda nada de sociologia, mas é um fenômeno social singular.
Tanto que ficou na minha cabeça até hoje à noite. Realmente impressiona. Que
coisas mais díspares para me ocupar a mente, meu tio e as pegadinhas de João
Kleber. Por coincidência – ou não – ele me ligou quando estava assistindo as pegadinhas
e não tive coragem de atendê-lo. Muito bicho-do-mato mesmo. O meu post, tendo-o divulgado apenas no meu grupo que só tem quatro pessoas, já está com 13
visualizações. Espantoso. O que será que está acontecendo? Talvez tenha o
veiculado no horário certo. Boa pergunta. Ou o grupo automaticamente divulga
para os meus contatos. Sei lá. Sei que agora é tarde, se meus contatos lerem,
leram. Não há nada além de mim aqui, se comprometo alguém é a mim mesmo. Só não
acredito que vou voltar à escravidão dos layouts. Espero que sejam pedidos
esparsos e simples. Para falar a verdade me sinto intimidado quando penso em
fazer layouts, em não dar conta ou começar a pirar do cabeção. Mas antes de
pirar, paro. Certamente meu tio vai entender. Que droga, estou com as duas
baterias do Vaporfi descarregadas. E com pouquíssimos cigarros na carteira. E
tem que durar até amanhã às 18h00. E talvez, se for encontrar com o meu amigo
da piscina, terei que o ceder um. Vamos ver quando a bateria carregar.
Meu tio aparentemente viu algum significado no livro. Só o
achou muito íntimo. E em verdade é. Não escondi nada de mim, tudo o que eu fui
e senti durante o internamento está lá posto. Gostei que ele tenha achado
partes desagradáveis, que foram difíceis de ler. Viu muito sofrimento no livro,
o que acho interessante. Talvez então haja uma carga emocional no livro que
desconhecia. Talvez os meus slogans não estejam tão fora da realidade assim. O
feedback da obra é algo que me interessa sobremaneira. Até agora ele foi o
primeiro a ler. Quero que meu celular carregue logo.
22h04. Carregou. Mandei mensagens para o meu tio e meu amigo
da piscina.
22h17. Combinei com o meu tio que terça de 18h00 ele
passaria aqui para me pegar para produção de um piloto de programa de rádio. Acho
que vai querer conversar comigo depois. Não sei, sei que a ansiedade vai bater
pesada na terça, mas tenho que superá-la, encarar algumas coisas como homem que
sou. Adulto que sou. Por mais que não me considere. Promete ser interessante.
22h28. Estou sinceramente animado para o encontro. Espero
que esse sentimento perdure.
22h36. Meu amigo da piscina disse que hoje não rola encontro
pois vai sair para transar. Sorte dele. Meu tio não é uma pessoa intimidante,
pelo contrário. Espero que tudo transcorra naturalmente e afetuosamente. Espero
que eu não invente algum entrave social. Daqui a pouco vou detonar o resto da
bacalhoada que mamãe preparou para o almoço de confraternização do Dia das
Mães. Por falar nisso tenho que revisar e postar o texto do Dia das Mães que
fiz para ela. Mas isso depois de comer. Acho que vou lá. Quero dormir cedo
hoje.
23h19. Comi o resto da bacalhoada, que estava boa, e postei
o texto para a minha mãe. Agora só fazendo hora para o sono me pegar. Ele já
está chegando. Vou pegar o meu último copo de Coca.
23h27. Espero que não inventem nenhum programa de Dia das
Mães amanhã. Vai estar uma loucura total. Já coloquei o meu pijama. Será que
tenho muitos cacoetes? Queria muito não os ter, mas devo possuir. Algo que faça
costumeira e rotineiramente e que não me aperceba (além de escrever). Há ainda
um local não procurado onde a fronha que peguei do Manicômio pode estar. Quando
a fantástica faxineira vier outra vez aqui, iremos procurar. Ou até mesmo eu o
faça amanhã. Afora disso, fico pensando se o meu tio tem as influências
necessárias para o meu livro ser avaliado e publicado por uma editora. Tomara
que tenha. Tudo o que queria era o meu livro lançado por uma editora que o distribuísse
para as livrarias. A de que meu tio foi um grandão para mim estaria perfeita.
Quem me dera ele fizesse essa mágica por mim. Conseguisse enviar o livro para
avaliação com a sua indicação. Ou coisa do gênero, de alguma forma que fizesse
o livro ser publicado pela editora em questão. Não sei, meu livro vai de
encontro aos valores editoriais da dita editora, eu acho. Sei lá. Tudo isso são
especulações. Estou curioso por essa terça. Ainda bem que não me sinto
acanhado, mas motivado a ter esse encontro. Vai ser bom para ver a posição do
meu tio. Se ele faz muito lobby, o que parece ser uma das suas aptidões, possa
ser que faça esse por mim. Quando tiver a revisão final em mãos. Como meu tio
demorou esse tempo todo para ler, possa ser que Seu Raimundo esteja precisando
de tempo para acabar a leitura. Mas em me publicando por uma editora com
distribuição talvez nacional, já está melhor que encomenda. É o meu sonho
realizado. Se acrescentar a isso a cereja no bolo que seria o aval de Seu
Raimundo, eu ficaria completamente realizado profissionalmente. Mas, botando os
pés no chão, acho que nenhum vai rolar. Meu livro é medíocre. Tenho que colocar
isso na cabeça de uma vez por todas. E desistir da ideia. Vou dormir que é o
melhor que faço. Vou esperar dar meia noite para desejar feliz aniversário a
minha tia-vizinha.
0h00. Pronto mandei.
-x-x-x-x-
11h47. Acordei, por assim dizer. Tico e Teco ainda estão se
entendendo. Fui fumar o cigarro e congratulei mamãe pelo Dia das Mães. O Hulk
fica muito melhor de dia que com a luz de teto à noite.
12h04. Estava conversando com a minha mãe. Está com o joelho
bastante dolorido hoje. Parece que a coisa só piora. A impressão é que só com a
cirurgia vai ter jeito. Pobre da veia. E hoje é o dia comercial dela. Está pensando
em não mais viajar. Do jeito que está hoje não a vejo com a mínima condição de
ir. Seria penoso demais e se veria confinada à casa da minha irmã. Com o joelho
devidamente recuperado, disseram que poderá até correr. Se for assim é outra
história, mas não há mais tempo para operar e ficar boa até a viagem. Não sei o
que vai fazer. Ela mal pode andar pela casa que dirá viajar sei lá quantas
horas na mesma posição de avião. Bom, o que será, será. Espero que não inventem
de almoçar fora hoje. E espero mais ainda não ter que ajudar o meu padrasto a montar
a TV hoje. Se eu por acaso fizer algum vacilo, é um vacilo de milhares de reais.
Não estou nem um pouco a fim de arriscar, mas se for chamado, não terei como
dizer não. Não sei se o meu padrasto confia em mim a esse ponto. Veremos. Estou
com pena da minha mãe. Vou pegar um copo de Coca. Ah, e continuo com o mesmo
peso corporal, estacionei mesmo. Ainda bem. A estagnação da minha vida chegou
até ao meu peso. Hahaha.
12h30. Há agora, em vez dos originais sete leitores, treze
que acessam o meu blog sem que precise divulgá-lo, o que é muito bom. Estou um
pouco mais intimidado com o encontro com o meu tio hoje do que ontem, mas não
tão intimidado que me gere desconfortável ansiedade. É uma coisa que me espanta
e incomoda o quão ansioso me tornei. Vai ver que tenho mais genes da minha mãe
do que julgava ter.
12h41. Passei um tempo no buraco sem fundo do Facebook.
Desejando feliz aniversário para pessoas queridas e vendo alguns posts. Acho
que ter criado o grupo de alguma forma impulsiona os meus posts, isso é
curioso. Não imaginava esse efeito colateral. Se for, é de conhecidos lendo. Mas
que tenho a esconder deles? Tenho vergonha da mediocridade, mas se ela é o que
tenho a oferecer ao mundo, que seja. O mundo é dos medíocres, afinal é o que a
maioria do mundo é. Os que se destacam são far
and few. A maioria de nós não consegue tal proeza, o que não nos diminui um
pingo em relação ao resto da humanidade, sendo feliz honestamente já está de
bom tamanho. Pelo menos é assim que penso. E assumo a mediocridade que é nada
mais na menos que a normalidade, o que nos é destinado, humanos que não
nascemos com nenhum dom ou característica excepcionais. Somos levados pela
sociedade a sonhar que seremos destaques em alguma coisa, que viemos ao mundo
para marcá-lo de forma indelével, sonhamos com sermos grandes em alguma coisa.
Que sejamos estão grandes amigos, grandes companheiros, grandes familiares,
pessoas de alma grande. Não é preciso bater nenhum recorde ou inventar algo
miraculoso. Não é preciso ser rico ou famoso. Nada disso que nos tiraria da tal
mediocridade traz de fato felicidade. A felicidade é um estado interior de
satisfação com o mundo e com quem se é. Eu ainda luto com a segunda parte e
confesso que ainda sonho em ter um livro publicado por mérito, não por
egolatria e narcisismo como enunciei a meu tio. Ainda sonho com o impossível,
ter o feedback de Raimundo Carrero. Mas sonhar às vezes é bom. Uma pena que a
frase da canção “quem acredita sempre alcança” não seja verdade. Seja uma das
maiores mentiras que já ouvi. Visto que eu acredito muito e não alcanço. “Landlady”
toca pela segunda vez hoje. Pois é, não canso de ouvir. Estou um tanto curioso
e um tanto duvidoso do que vou ouvir do meu tio acerca do livro. Mas veremos.
Só descobrirei encontrando com ele. Esse livro é a obra da minha vida. É minha
primeira e única tentativa de ir um pouco além da mediocridade. Ah, abandonei a
bateria prateada do Vaporfi, acabo de colocar para carregar a última bateria da
qual disponho, outra preta. A vida útil da prateada se tornou curta demais e
estava esquentando, o que não ocorre com as demais. Então foi para fila de
depósito de baterias. Mamãe, em pleno Dia das Mães com o joelho ferrado disse
que iria fazer um café para mim e eu, desnaturado que sou, aceitei. Ela disse
que gostou do texto que escrevi para ela para o dia de hoje, que estava
preparado há alguns dias já. Escrevi quando a inclinação para tanto me veio.
Interessante é como me torno mais emotivo e mais sincero à medida que as horas
passam no texto. Eu me torno cada vez menos mente e mais coração; é o inverso do
que percebo nos meus demais escritos. Não sei aferir se é uma coisa boa ou ruim
esse distanciamento do sentir ou analisá-lo como se fosse um objeto de
apreciação e não algo a se apropriar com a alma. Não sei se exagero aqui, mas
acho que não, acho que a mania de me descrever me leva a observá-los de tal
maneira. Tenho três cigarros até as 18h00, se mamãe não for boazinha e me der a
carteira algumas horas antes. Tenho fumado bem menos, do cigarro normal, digo.
O que acho que seja bom. Mas hoje provavelmente vou encontrar com o meu amigo da
piscina e ele, como de praxe, me arregará alguns cigarros. Preciso ter carteira
nova para suprir essa demanda. Nossa, hoje não sai nada que se aproveite. Estão
fazendo alguma coisa que gera estresse na sala, não quero nem passar perto. Não
queria ter que ajudar com a TV, mas não vejo forma de o meu padrasto lidar com
o monstrengo sozinho. Vou pegar um copo de Coca. 13h40.
13h46. Soube que meu padrasto ainda não leu o manual de
instruções da TV e que vai falar com a família JP agora, então espero que TV só
depois de acordarem do cochilo da tarde. Coloquei a água no fogo para mamãe
fazer o café. Ela pediu, eu pelo menos dei um mínimo de ajuda.
13h48. Hoje é o Dia das Mães, uma genial jogada comercial, afinal
mãe é mãe e na imensa maioria dos casos isso é uma coisa boa ou algo que mereça
ao mínimo a lembrança. E tome lembrancinhas ou presentaços para as genitoras desse
mundão. O aniversário da minha mãe é daqui a 13 dias. Não sei mais o que
escrever ou dar-lhe de presente. Não sei do que ela precisa, o que deseja, a
não ser ficar boa do joelho, algo sobre o que não tenho o mínimo poder. O
encontro com o meu tio povoa a minha consciência como próximo grande evento da
minha vida. Nossa, como queria que Seu Raimundo me respondesse, mas se meu tio
só acabou de ler a obra agora, se é que a leu toda, então tenho que dar tempo a
Raimundo Carrero. Mas me confesso descrente da sua réplica. Seria para mim, caso
aceitasse a obra como válida e digna de publicação, com as devidas alterações, a
maior glória da minha vida, o que me faria sentir que fui além da mediocridade
em algo na minha vida, na coisa mais importante da minha vida para ser preciso.
Pois só faço escrever, logo ter minha escrita reconhecida por ele seria o
máximo que poderia almejar. Mas acho que não acontecerá. Não é tão fácil assim
sair da mediocridade. O seu empuxo é muito forte. Por mais que tenha dado o
máximo de mim, parece que não foi o suficiente. É frustrante quando o máximo
ainda não é o suficiente, mas é o que tenho a oferecer. A não ser que a
incrível revisora me ajude a fazer uma cirurgia no livro. No mínimo uma
lipoaspiração, não acredito que ela vá querer mudar as feições da obra. Sei que
quando cheguei ontem na casa da minha tia-vizinha, ela nem olhou para mim. Mas
não vou botar pulgas desnecessárias atrás da minha orelha. Ela falou legal
comigo no Facebook, então acho que tudo vai bem. Parece que Clementine voltou a
engordar, pelo menos um pouco. E pouco se me dá. Ou se me dá é muito pouco
mesmo. Graças a uma figura que defenestrou Clementine do pódio do meu ser. O que
não ajudou muita coisa por ser tão ou mais platônica que ela. Hahaha. É outra
coisa que me é medíocre, o coração. Desse, não quero nem comentar. Deixa esse
músculo involuntário – e bote involuntário nisso – para lá. Hahaha. Não estarei
tão risonho se minha obra vier a público. Queria muito, muito, muito a
apreciação de Raimundo Carrero. Queria muito a sua bênção. Aí me sentiria com
uma obra digna nas mãos. Ele está com a obra há pouco mais de dez dias. Morro
de vontade de lhe mandar um e-mail, mas me decidi só fazê-lo quando tiver a
revisão final em mãos. E eu que não sei onde está o precioso livro “The Form of
the Book” que descreve tudo sobre como melhor diagramar um texto para
publicação. Não sei nem se o separei para mim à época da morte de papai. Mas
creio que o tenha feito. Gostaria de saber se o meu livro entretém, embora não
tenha a métrica, a cadência, não siga as normas de desenvolvimento das narrativas
de sucesso. Mas é um diário real, não há como prever a existência e coordená-la
para caber em fórmulas narrativas. Narrei à medida que as coisas se davam. Como
faço aqui e como acho que sempre farei, pois é como me apetece escrever. Não
sou escritor de ficção, minhas ficções são fracas e pouco se desviam da
realidade, só o suficiente para serem irreais. Se bem que em um mundo em que
existem as pegadinhas de João Kleber, muito pouco é impossível. Hahaha. Fiquei
encasquetado mesmo com essas pegadinhas. Achei algo tão insano e deplorável que
beira o inacreditável. Meu amigo da piscina tem razão quando diz que se
fizessem isso para o exterior seria sucesso. É chocante, acho que as pessoas assistiriam.
Mas mandaria as brasileiras mesmo, não as reproduziria em outros países, pois
acho que não caberia. Talvez nos EUA coubesse. Mas não vejo alemães se
comportando como os brasileiros. Talvez fosse um programa até proibido por lá.
Mas acho que no Japão e nos EUA e no México rolaria. Sei lá, estou falando
besteira agora. E nem precisa exportar está tudo no YouTube.
15h09. Eita, esqueci a bateria conectada ao computador.
Agora que já está, fica porque acho que vou descer hoje de noite.
15h13. Me perdi por alguns minutos no Facebook, hoje é dia
movimentado. Dia das Mães. Muitas homenagens nas redes sociais.
15h19. Agora fui publicar uma mensagem de felicitação no
grupo da minha família paterna. Achei a mensagem um tanto estranha como eu. Hahaha.
Pelo menos fui sincero. O café me anima a fazer coisas que sem ele não seria
capaz. Mas não coisas ruins, só coisas ridículas. Não gosto de me passar por
ridículo e não sei me passei agora. Disse que ser mãe é um dos papeis sociais
mais complexos da humanidade. É o que eu acho e dou graças aos céus de não ter
nascido com esse dom. E, por isso, não sofrer a pressão social de forma tão
pungente de me reproduzir. Minha mãe nem quer que eu me reproduza, pois acha
que o(a) neto(a) vai sobrar para ela criar. Hahaha. Será que eu não mudaria um
pouco se sentisse amor paternal por um ser humano em botão? Não sei. Pelo menos
teria desculpa para dormir só de madrugada. Hahaha. Mas quem seria a louca que
me elegeria como pai de seu filho? Eis a questão. Hahaha. Já ouvi pessoas,
baseadas sei lá em quê, dizerem que eu seria um bom pai. Se fosse, eu seria um
bom tio, em primeiro lugar, o que já está provado por A mais B que não sou.
Logo, tais profecias acerca da minha paternidade são infundadas para dizer o
mínimo. Acho que vou fumar um dos meus três cigarros com uma xícara de café. É
isso. Este post é um daqueles que não merecem ser divulgados. Não fala de muita
coisa. Poderia voltar do cigarro falando sobre a mediocridade. É uma ideia, dar
como tema do post a mediocridade.
15h38. O que posso falar da mediocridade afora que ela é
equivalente à normalidade do mundo? Damos o que podemos dar, mas dificilmente
isso será o suficiente para nos destacarmos para muito além do nosso círculo
social. E ser um destaque aí já é suficiente. Para que aspirar mais, para que
querer a admiração de desconhecidos? O que a opinião deles nos importa de fato?
Será que vale a pena perder a privacidade para se tornar uma celebridade? Eu
acho que ser medíocre, como nome diz, é estar na média. Nem acima nem abaixo
dela. Acho uma posição confortável de estar, por mais que sonhe grande, sonhe
com uma obra que talvez nem venha a se dar. Se se der – nos meus termos,
diga-se de passagem – sairei da média tanto para cima quanto para baixo. Muitos
me condenarão. A imensa maioria me condenará, pois o que mostro de mim são os
meus piores momentos como ser humano. Serei um pária no meu círculo social, o
que é bem pior do que ser medíocre nele. E se alguém além do meu círculo social
ler, tanto mais serei execrado socialmente. O que também não é o tipo de
celebridade que alguém almeje. Mas é a minha verdade, dita com as minhas
próprias palavras. É a única obra que possuo e... já me distancio do meu tema
principal. Acho que ninguém é medíocre de fato, podemos estar na média, mas
somos todos únicos, portanto especiais à nossa própria maneira. Não há outro(a)
igual a você ou a mim. O destino/acaso nos fez cada um uma pessoa exclusiva, de
percepções, valores e visões de mundo diferentes. Só estou falando besteira.
Medíocre é um adjetivo pejorativo, ninguém o quer atrelado à sua pessoa. Todos
nós queremos nos sentir especiais de alguma forma. A cultura nos instiga a
isso, o mundo ordena que fujamos da mediocridade. Que estejamos e sejamos acima
da média. Ou mesmo abaixo desta desde que nos destaquemos de alguma forma. Esse
post está uma porcaria. A minha vontade é deixá-lo pela metade e começar outro.
Nossa, já estou na sexta página! Não acredito que já escrevi tanto hoje. Isso
não começa de ontem, não? Deixa eu ver.
15h55. Começa, ainda bem. Mas terminarei na sétima página e
começo um novo da piscina se piscina se der. Vou ligar um pouco o ar que o
calor pegou. Preciso dar uma tosada na barba e no cabelo. Irei essa semana, sem
falta. Talvez antes do encontro com o meu tio. Talvez não, parece até que vou
ao pet shop humano só por causa dele, o que não condiz com a verdade, mas
talvez o faça, só não irei na segunda, dia de Ju. Na terça há mais tempo. O
encontro é só às 18h00. Estou curioso acerca das impressões do meu tio sobre a
obra. Em verdade, agora estou um pouco temeroso. Mas preciso saber a impressão
de terceiros. Ainda mais alguém com a cultura dele. Vi que além do meu
tio-vizinho, o outro entrevistado de terça é um poeta e artista multimídia.
Será que ele se interessaria em ler a minha obra? Hahaha. Pela produção dele,
acho até que se interessaria. Hahaha. Deixar isso para lá, que é sonho besta,
sem raiz. O meu mundo gira em torno de Raimundo Carrero que parece não ter se
interessado pelos meus escritos. Achei interessante o meu tio achar que é um
livro sofrido. Eu que, aparte alguns momentos, tive uma permanência das mais
agradáveis possíveis no Manicômio. Mas talvez choque o conteúdo para quem nunca
esteve em um, sei lá. Não tenho senso crítico para tanto. Acho que há muita
coisa que pode ser tirada, por mais que a sensação que tenha é a de que tirei
tudo que podia. Foi assim que me pareceu quando entreguei o livro à incrível
revisora. Novamente, do alto da minha mediocridade, venho falar dessa obra
medíocre. Não queria almoçar com minha mãe e meu padrasto, mas acho que terei
que fazê-lo, minha mãe pediu, “pelo menos no Dia das Mães”. Não posso recusar.
Nem tenho muito o que fazer. Só sonhar com os destinos que o que escrevi possam
tomar. Novamente Seu Raimundo me vem à cabeça, mas parece que não tenho
literatura tanta para agradá-lo. Afinal não me respondeu até agora. No entanto,
espero com esperança. E saberei do meu tio o que acha. Ele achou muito íntimo.
Outro adjetivo que gostei. Se confessou impactado com o livro e que houve dias
que teve dificuldade de enfrentar. Tudo isso soa como música aos meus ouvidos.
Espero que não seja apenas por causa do meu mais bem guardado segredo. Espero
que seja por conta de acontecimentos outros também. Se for só por isso, será
muito sem graça. O que a incrível revisora está achando? É um mistério. Comecei
a sétima e última folha. Já é um post enorme para os padrões cibernéticos, mas
a preencherei, eu creio. Vivo sonhando esse sonho acordado de ter um livro
publicado por mérito literário. Não sei se acontecerá. Só sei que não vou me
publicar, com disse e redisse, por egolatria e narcisismo. Não vale o ônus
social que terei.
16h27. Minha mãe acabou de entrar avisando que em dez
minutos vai servir o almoço tardio ou jantar adiantado. A coragem de encontrar
meu tio parece que me escapa. A segurarei. Verei um programa de rádio. Será divertido.
Por mais que o tema seja xadrez. Mas duas personalidades importantes estarão
lá, além do meu tio que é ele mesmo uma figura de destaque no cenário
pernambucano.
16h42. Em breve serei chamado para carregar a bendita TV.
Estou apreensivo. Espero dar conta do recado. Espero que daqui a uma hora esse evento
já tenha chegado à sua conclusão. Saí da mesa antes de concluído o almoço, não
sei bem por quê. Acho que me sinto invadindo a privacidade do casal. Acredito
que eles discorram sobre seus assuntos com mais fluidez sem a minha presença. Sei
lá o que é. Perdi o hábito de me alimentar comunitariamente, vai ver.
16h51. Fiquei a cismar lembrando a princípio dos odiosos almoços
comunitários no Manicômio e depois do que descrevi de lá. Fico achando que não
pintei um retrato tão completo como poderia. Mas é uma vez na vida que se faz
isso e é muito raro ter um escriba lá dentro para narrar os acontecimentos.
Diria que a chance é uma em mil. Tanto é que só conheço de livros sobre o tema “Bicho
de Sete Cabeças”. E não foi escrito dentro do internamento, pelo que observei
do filme, mas depois de passado por lá. Então há um diferencial entre a minha
obra e essa. Sei lá, eu, como disse, perdi o senso crítico e a minha percepção
é muito peculiar porque vivi tudo aquilo, tudo tem contexto, cores, rostos,
cheiros, som e imagem, para os demais é um esforço da imaginação, visto que não
descrevo com muitos detalhes o ambiente ou as pessoas. Deveria ter me esforçado
mais para isso. Mas foi o que apreendi, o que me saltou aos olhos e que
consegui anotar. Me perdi novamente em lembranças do cárcere. Fiz o meu melhor,
se ele é meritório de publicação não sou eu quem vai decidir. Alguém que eu considere
válido(a) é que me dirá se é passível ou não de publicação. Se o meu tio achar
que é válido e encaminhar a quem direito com a sua recomendação, ou mesmo sem
esta, mas que faça chegar a mão de algum editor de alguma editora e esse quiser
publicar é a aprovação de que preciso. O que me faria definitivamente escritor
seria a bênção de Raimundo Carrero. Acho que quando completar um mês de envio
lhe mande outro e-mail. Não vamos começar com ansiedades, Mário. O mais
provável é Seu Raimundo nunca mais o contatar. Tenha isso em mente e comece a
fixar isso na sua cabeça sonhadora. Não adianta sonhar, a resposta já teria
vindo se tivesse que vir. Ou não. Esse “ou não” é que me mata na unha. Se ele
pelo menos me desse algum sinal de vida. Mas nada. Mas tem aquela história de que
o tempo é relativo à que lado da porta do banheiro você está. Eu estou
desesperado para entrar no banheiro enquanto Seu Raimundo lê tranquilamente o
seu jornal na privada. Hahaha. Tudo pode acontecer. Quando completar um mês,
não, quando estiver com a versão definitiva do texto, eu volto a me comunicar
com ele. Tenho que segurar essa ansiedade. Mas acho que se fosse para
responder, já o teria feito. Fico dividido entre a esperança e a desesperança. Dá
vontade de compartilhar o meu blog para ele ver como eu me sinto em relação a
ele. Ao contrário, não devo repartir senão ele não vai me responder é nunca.
Vai me ter por louco. Quando tudo o que tenho é uma mente vazia que se ocupa
dessas coisas como se fossem grandiosas. Eu acho que seria grandioso mesmo ter
a bênção de Raimundo Carrero. Acho que muitos achariam. Eu consegui chamar a
sua atenção e depois a perdi. Ou então ele está lendo o livro com muita
parcimônia. Ou achou que era um louco de verdade depois do e-mail sobre a crise
de ansiedade. Quatro dias depois de ter mandado o livro para ele. Depois disso
é muito capaz de ele não me responder. Bom, se meu tio tiver contatos que
possam apreciar o meu livro dá quase no mesmo.
17h49. Falei longamente – para os meus padrões – com a minha
irmã da Alemanha. Ela queria saber do livro e do projeto do meu amigo cineasta.
É incrível pensar que de repente a minha vida possa estar presente em livro e
audiovisual por duas razões completamente distintas. Como disse, pode-se ser
especial na mediocridade. Não faço nada acima da média, ou não creio que o
faça, mas há esses dois projetos rolando e talvez algum chegue aos finalmentes.
Já havia me esquecido da produção do meu amigo cineasta tão absorvido que estou
com a história do livro. Me sinto uma pessoa especial por causa desses dois
projetos. E acho que é isso, a gente tem que sentir especial dentro da gente e
com quem está em volta da gente, o resto é, bem, o resto apenas. Eu falo isso,
mas me sinto especial da pior maneira possível. Talvez porque guarde
expectativas altas demais a meu respeito, talvez porque esteja realmente abaixo
da média em vários aspectos. Não sei. Preciso gostar mais de mim, isso é fato. Queria
pelo menos me ver como escritor e não como blogueiro de meia tigela. Que é tudo
o que me considero agora. Eita, já entrei na oitava página. Acabo com uma dica
da minha irmã: se você tiver interesse de ver o novo dos Vingadores, “Infinity
War”, veja no cinema que vale a pena o dispendioso investimento. Ela até me
animou mais a ir, mesmo que sozinho. Veremos. Ou não veremos. Está bom. Fico
por aqui. Se meu amigo da piscina quiser descer, eu desço e inicio um post de
lá. Brigadú!
Mário, gostei muito de seu escrito. É corrido é agradável de ler. Faria, se fosse eu, (você não é obrigado a fazê-lo), umas correções no emprego do pronome o. Assim diria: Meu Post, tendo-o divulgado. Soa melhor que tendo o divulgado. Quando se emprega o verbo composto soa muito mais bonito e a maneira correta de escrever colocar o pronome antes ou depois do auxiliar e não antes do particípio. Fora daí seu escrito é perfeito. Gostei imenso.
ResponderExcluirObrigado pela dica e pelos elogios. São de suma importância para mim. Tentarei não repetir o erro nos próximos posts. Confesso que não entendi a parte do auxiliar e particípio, pois a Gramática ficou nos tempos de colégio. Escrevo instintivamente. Mas buscarei não incorrer mais no erro que você citou. Grande abraço.
ExcluirO verbo ter é auxiliar, no caso, do verbo divulgar. Ex: eu tenho divulgado. Pois, no caso verbos compostos o pronome o vem sempre antes ou depois do auxiliar com hífen. Ex: eu o tenho divulgado ou eu tenho-o divulgado. Jamais eu tenho o divulgado, além de gramaticalmente errado é eufonicamente feio. Soa ruim.
ResponderExcluirObrigado mais uma vez por ter clarificado para mim onde e como estava errando precisamente. Tomarei atenção a essa norma quando dos próximos escritos, que por sinal já estou produzindo. Os maiores elogios que posso receber são em relação à minha escrita pois ela é a parcela maior do que eu sou.
Excluir