Página em branco, sempre bom. Nunca intimidante, sempre
convidativa. Ouvindo Infected Mushroom alto. Só a fantástica empregada está em
casa, o que é uma raridade nos dias de hoje. O som está tão alto que rouba a
minha concentração. A fantástica empregada veio me dar um recado e me desculpei
pelo som alto, disse que estava aproveitando que não tinha ninguém em casa
(como se ela não fosse alguém). Ela retorquiu que “era bom que ela ouvia de
lá”. Ótimo, ela é fantástica mesmo. Hahahaha. Não estou gostando de desses
“Hahahas” cada vez mais frequentes no meu blog. Porque não são coisas
engraçadas para os demais, só para mim. Mas, e daí? Aqui eu posso tudo. Então
posso me rir comigo mesmo. Cada vez menos gente lê os meus posts. Venho
observando uma queda considerável no número de acessos. É difícil atualmente
chegar a 30 visualizações. Antes chegava aos 50 hits facilmente. Acho que a
novidade se esgotou para os grupos do Facebook onde divulgo isso. Fiquei
abismado que o meu amigo de Sampa tenha lido o meu blog. Ele disse que achou
por acaso pesquisando algo no Google no dia do meu aniversário. Pelo menos se
alguém digitar “jornal do profeta” no Google, o que é deveras improvável, o meu
blog é o primeiro resultado que aparece. Hoje acompanharei minha mãe à
radioterapia sem falta. Uma coisa que meu amigo de Sampa disse, por sinal,
acredito que nenhum dos quatro ontem tem mais pai, é que não adianta se
lamentar pelo que não foi dito ou feito pelo pai que já se foi, mas tentar não
repetir a mesma coisa com a mãe que está viva. Com o meu pai fiquei com a
consciência relativamente tranquila, pois no final de sua vida fiz um esforço
grande para me aproximar dele e redirecionar a nossa relação, para me aproximar
emocionalmente dele, o que não foi tarefa fácil, visto que ele era um homem
muito fechado. Mesmo assim obtive relativo sucesso. Ajudava o fato de que eu
bebia à época, nós bebíamos, saíamos para tomar uma cerveja e conversávamos
bastante. Aos poucos consegui me aproximar e penetrar nos seus bloqueios
emocionais, mesmo que raras vezes. Enfim, sei que antes dele morrer me esforcei
para um contato mais próximo com ele, então não guardei sentimento de que
deixei algo por ser feito. Fiz o possível. Se ele tivesse continuado vivo,
talvez evoluísse ainda mais nessa aproximação, mas, infelizmente, não foi
possível. Sobre conseguir fazer o mesmo pela minha mãe, como o meu amigo
sugeriu, isso para mim é muito mais complicado. Eu tenho muitas limitações com
a minha mãe. Acredito que a nossa relação seja adoecida e não tenho pista de
como torná-la saudável. Deposito todas as minhas esperanças na terapia que ela
se comprometeu a fazer. Espero que ela realmente vá e isso surta algum efeito
positivo na nossa relação. Não sendo assim, realmente me arrependerei bastante
de não ter feito o suficiente para melhorar a nossa relação. Minha mãe é uma
mulher difícil, principalmente em relação a mim. Tudo bem que já aprontei muito
com ela, com o meu abuso de drogas e com as minhas crises de depressão, mas o
nível de controle e repressão que impõe a mim, a constante desconfiança, as
insinuações e chantagens, tudo isso me incomoda muito. As psicólogas disseram
que eu preciso decidir quais são os limites que preciso impor e estabelecê-los através
de um diálogo franco e sereno, o que é muito difícil de eu e ela termos, pois
ela se exaspera logo e eu acabo me exasperando também. Ainda há dificuldade de
aceitar carinho vindo dela. Estou ouvindo “Abraçaço”, pois esse disco me lembra
o meu amigo de Sampa. Tenho mais facilidade em lhe dar carinho do que receber
carinho dela. Sinto um profundo estranhamento que beira o asco quando ela vem
me acarinhar. Não sei como reverter isso e isso é um problema meu, nada que ela
alcançar na terapia vai mudar uma questão que é minha. Em suma, acho que quando
ela morrer eu terei uma lista inumerável de arrependimentos e muitos “e se”,
que carregarei pelo resto dos meus dias. Ou não, consiga sublimá-los. Meu
cóccix já está querendo doer de novo. Tive uma crise forte durante a madrugada.
Proctalgia fulgax é provavelmente o nome clínico dessa dor que sinto e que é
bastante incômoda. E que não tem solução. Terei que conviver com ela até o fim
da minha vida. A não ser que seja uploaded
para a Singularidade e possa me livrar enfim de todas as dores e de tudo o que
me incomoda. “O ciúme é o estrume do amor”, canta Caetano. Ah, o amor, o amor.
Nem sei se me faz mais falta. Uma parte de mim grita que faz muita falta outra
parte fala mansamente que a vida está boa e que tem medo que novo amor venha a
desmantelar tudo. Odeio sentir ciúme. Verdade que com a minha quarta e última
namorada não senti ciúme que me lembre, éramos tão nossos, que não havia
necessidade ou causa de ciúme. Bela parceria. Queria, se houvesse novo
relacionamento, construir relação semelhante. Mas estou tão traumatizado com o
sexo, que isso me faz recuar frente a possibilidade de um amor. É outra questão
que preciso trabalhar. E ainda há o fato de que não quero filhos. Isso me
remete diretamente ao relato que ouvi ontem no grande encontro sobre o casal cuja
filha morreu de forma inexplicável no nono mês de gestação. Que situação
traumática. Ainda mais quando havia outro casal de amigos que engravidou na
mesma época e cuja filha nasceu sem problemas. Ambos os casais curtiram as
gravidezes juntos e o destino armou essa cilada fatal para um deles. 17h23. Não
sei direito o que estou escrevendo. Estou vomitando o que me vem à mente. Sobre
o documentário que meu amigo de Sampa planeja fazer sobre a minha pessoa não
sei o que pensar. Aliás, não tenho muita ideia de como seria a narrativa
visual, visto que a minha rotina é muito limitada, não apresenta a variedade
que faria o que é filmado ser interessante. Acho que meu amigo não tem a
dimensão de quão estéril é meu cotidiano e de quantas horas eu passo
escrevendo. 17h32. Dentro em breve terei que ir à radioterapia. “You don’t know
me, better never get to know me, you don’t know me at all”, canta Caetano agora
no Spotify e reflete o meu pensamento geral sobre o documentário. Mas, como
disse, exibicionista que sou, estou dentro do projeto, pode me filmar à
vontade. E a narrativa do áudio parece que será composta por trechos do blog,
trechos esses que não conhecerei previamente, que serão escolhidos por ele, só
sugeriria que a narração fosse feita por uma voz feminina, para que não achem
que a voz do narrador é a minha. Se tivermos nossa conversa para acertar os
ponteiros falarei sobre isso com ele. Quando ele disse que tinha um projeto
para mim, gelei, pensei que quisesse que eu fizesse algum layout ou marca ou
qualquer coisa de publicitária para ele, me pus imediatamente a pensar qual a
forma mais delicada de dizer que tenho completa ojeriza em relação a este tipo
de trabalho, que só de pensar me faz sentir mal. Quando soube do que de fato se
tratava, fiquei extremamente feliz e honrado. Acho que foi algo que sempre
desejei, esse tipo de exposição, digo.
17h51. Fui pegar Coca. Nossa, escrevi um parágrafo digno de
Proust. Em tamanho, digo. Hahahaha. Ainda guardo reminiscências positivas do
encontro de ontem. É o tipo de interação social que acho ideal. Com todos
podendo se focar e conversar e se ouvir, num ambiente tranquilo tendo música
dos anos 80 de fundo. Tudo conspirou para um encontro muito especial para mim.
Um momento muito precioso que espero levar na alma por muito tempo. Será que
imerso na Singularidade poderei ter encontros assim? Era bom poder tê-los, na
verdade, para mim, seria indispensável poder tê-los, pois são momentos assim
que fazem a vida valer a pena, que emprestam mais sentido a ela. Se conseguiria
viver sem eles? Conseguiria, como vinha conseguindo, mas acrescentá-los ao meu
cotidiano sem dúvida soma milhões à minha pacata e reclusa existência. Penso em
comprar uma câmera de filmar para mim, visto que meu amigo quer que eu
documente a minha viagem para a Alemanha. Isso sem dúvida é uma boa ideia,
visto que daria uma mudada na narrativa. Ele acha que tem uma câmera extra,
velha, mas não sabe se funciona. A tia da minha cunhada está nos EUA e voltará
em breve, ela talvez pudesse trazer a câmera para mim. Para isso precisaria
comprar o mais rápido possível, assim que o meu cartão de crédito chegar. Se o
limite do cartão permitir. Mas do que estou falando aqui? De devaneios. Duvido
que esse projeto vá para frente. Investir num negócio caro para nada é
idiotice. Não lembro se foi domingo que ele falou que vinha falar comigo para combinarmos
os detalhes, vamos ver.
18h18. Mas mudar de assunto, né? É porque é uma reviravolta
tão grande na minha vida que fica difícil escapar desse assunto. É quase como
acordar um dia sem bucho. Ou arrumar uma namorada do nada. É mais ou menos
assim que vejo esinto tal empreitada. E o meu blog seria conhecido de todos os
meus amigos, o que me deixaria constrangido, como ficaria constrangido de
soltar um peido enquanto dormisse com a minha namorada ou roncasse alto demais
na mesma situação. 18h24. Daqui a pouco minha mãe vai ter que ir à
radioterapia. Vou já ficar pronto.
18h29. Troquei de roupa e peguei mais um copo de Coca. Não
sei se assista mais um episódio de “The Walking Dead” hoje. Ou jogue um
Zeldinha. Vou acabar me refugiando nas palavras de novo. A média de acesso dos
últimos quatro posts do meu blog so far
é de 22 vizualizações, o que me entristece um pouco. É como se metade do meu
público tivesse sumido. Mas pelo menos 22 pessoas no mundo leem o que escrevo. Ver
pelo lado positivo. E quem sabe eu seja imortalizado em vídeo. Hahahahaha. Que
coisa mais louca. Nunca imaginaria uma dessas pra cima de mim. Mas é melhor
baixar o facho que isso não vai funcionar. Novamente, quero ver o que pensarão
amanhã no CAPS. Que onda. Vai ver que isso foi uma brincadeira do meu amigo que
levei a sério. Será que ele lê o meu blog mesmo? Tem isso como uma rotina
diária? Será que ele é um dos 22? Sei lá. Mas vamos mudar de assunto que foi o
que prometi fazer. Quem lê isso daqui sabe que eu quase nunca cumpro o que
prometo, então é bem provável que a história do documentário volte à baila
novamente. 18h45. Minha mãe já veio me convocar para a radioterapia. Já estou
pronto, então é só botar as Havaianas e ir. A minha é do modelo clássico branca
e azul. Já está bastante desgastada. Posso até tirar uma foto dela para
ilustrar esse post. Não sei. Salvei imagens de duas câmeras que vendem na Amazon
e acho que seriam mais ilustrativas do conteúdo desse post. Duas marcas – Go
Pro e Akaso – que tem equipamentos semelhantes por valores extremamente
diferentes. Enquanto uma é 400 dólares, a outra é menos de 100. Obviamente se
for mesmo investir nisso, comprarei a mais barata, mas consultarei o meu amigo
de Sampa primeiro. Se bem que a mais barata tem 4,5 estrelas, numa média dada
por mais de 4.000 consumidores. A mais cara tem 4,5 estrelas também, porém
dadas por 650 compradores. Preciso ler os reviews
para ver se não é o caso de uma nota “impulsionada” através da estratégia de
dar o produto de graça para a galera em troca de um review. Não verei agora porque minha mãe já-já me chama para
partirmos. Já estamos inclusive atrasados. Não sei mais o que dizer. O que
penso agora não posso compartilhar. É, não compartilho tudo aqui. Há coisas que
prefiro calar para mim. Todos têm seus segredos. Acho que não há esse. Acho que
minha mãe me chamou.
20h41. Acabamos de voltar do hospital. Foi rápido, o
trânsito estava particularmente bom. Tivemos uma conversa no carro sobre os
seus últimos comportamentos em relação a mim e minha mãe findou dizendo que
precisava urgentemente de um psicólogo. Ótimo. Tomara que isso seja sincero.
Pensei em perguntar a uma psicóloga específica das que fazem os grupos AD se
ela poderia ser a minha terapeuta. Isso se ela atender pelos arredores do CAPS.
Gostaria que o meu cartão de crédito chegasse amanhã. Não
sei quem terá que ativá-lo se eu ou minha mãe e liberá-lo para compras internacionais.
Faz tempo que prometi ir na agência em que trabalhei para uma visita, não sei
porque lembrei disso agora, mas minha o meu atual estado reclusivo reprime
qualquer motivação que tenha de fazê-lo. Acredito que, hoje, isso seria muito
mais uma cortesia social de ambas as partes que um reencontro entre amigos.
Posso estar com os pensamentos distorcidos pela minha verve antissocial atual,
mas não achei da mesma forma em relação ao encontro de ontem. Ainda bem! Nem
tudo está perdido. Hahahaha. A conversa com minha mãe me deixou com um misto de
irritação e baixo-astral, mas já está passando. Nossa é bom estar de volta ao
meu quarto-ilha. Aqui me sinto mais verdadeiramente eu, mais verdadeiramente
meu. E agora que a TV voltou a ligar, eu tenho o Zeldinha e o “TWD” para me
distrair, embora a vontade para ambos é pouca. Talvez acabe assistindo um
episódio do seriado, pois estou curioso com o que vai acontecer. Na verdade,
estou meio chatedao com o que aconteceu no final do episódio anterior, quando
tudo estava dando certo e uma variável decorrente da burrice alheia melou tudo.
Odeio quando usam esse recurso na história, sempre me dá um profundo sentimento
de frustração e até um pouco de raiva. Por esse parágrafo percebo que sinto
mais raiva do que costumava julgar ou tenho me tornado mais intolerante. Não
quero me tornar um ser humano intolerante e irritadiço, é um jeito muito ozzy
de ser. Não quero isso para mim. Mas foram duas situações muito pontuais, não
demonstram um padrão, mas, sinceramente, olhando em retrospecto, percebo que
hoje meu pavio é mais curto que antigamente. Não gosto disso e não sei como
reverter. A vontade que tenho é ter o poder de ordenar a todos que me deixem
sossegado no meu quarto-ilha que quando eu quiser sair eu saio. Mas, pronto, já
há uma viagem para a Alemanha no meio do caminho e talvez uma para os EUA no
final do ano, no meio da maior neve. É fato que nunca vi muita neve, mas é fato
também que isso para mim perdeu o encanto depois de ouvir os relatos de como é
chato e excessivamente frio esse período do ano lá para as bandas de onde o meu
irmão mora. Será que serei obrigado a viver no porão do meu irmão o final dos
meus dias? Olhando pelo lado bom, eu definitivamente viveria isolado de tudo.
Olhando pelo lado ruim, eu não teria socialização nenhuma, a não ser com os
habitantes da casa, visto que tudo é longe de lá. Se bem que há um trem, não
sei a que distância, que me levaria, como leva o meu irmão, diretamente para
Boston, então quando quisesse ver o mundão, poderia pegar esse trem e vagar
pela cidade. O isolamento no quarto-ilha só tem razão de ser se houver algo que
eu possa fazer nele que preencha o meu tempo e me preencha. Senão será só tédio
e deste à depressão. Vamos ver o que a vida me reservará. Pode ser que isso nem
aconteça, que meu irmão volte para o Brasil antes. Tudo dependerá de quando
acontecerá a mudança de curador. Não sei nem se a legislação permite que eu
receba a pensão vivendo em outro país. Vou espantar os pensamentos sobre isso,
pois são pensamentos incômodos que não valem a preocupação tão antecipada. É
dar uma de peru e morrer de véspera. Então, xô, pensamentos sobre o futuro. O
que tenho é o aqui e agora, no meu querido quarto-ilha, com saudade dos meus
amigos que revi ontem e a possibilidade de assistir “TWD” mais tarde. Há ainda
a possibilidade do documentário. Parece que meu amigo de Sampa conversou com o
meu primo que morou aqui no meu prédio sobre o assunto e ele achou uma ideia
interessante. Não sei se isso é fato. Lembro que ele mencionou meu primo em
relação a algum de seus projetos. E disse que me mandaria por e-mail o link de
alguns curtas que realizou. Mas ele não tem o meu e-mail. Talvez tudo isso seja
visto no nosso próximo e último encontro antes de seu retorno a São Paulo. De
tanto permanecer em silêncio e, suspeito, por causa de fumar (Vaporfi e
cigarro) minha voz vem falhando. É como carro velho, precisa esquentar primeiro
até funcionar normalmente. Ah, se eu pudesse falar aqui de um assunto, mas não
posso e não devo. É ruim e difícil ter que calar para mim que sou tão
boquirroto. Mas sou um pouco menos imprudente hoje em dia também, então ganha o
bom-senso nesse caso. Há um segundo caso proibido que me vem à mente que me faz
pensar se não é hora de escrever um pouco no Desabafos do Vate. Acho que vou para
lá um pouquinho. 21h32.
22h08. Foi bom ter escrito no Desabafos do Vate, me sinto
melhor e acho que desvendei o mistério da minha irascibilidade. Amanhã é o
aniversário da minha mãe. Eu não comprei nada para ela, não tive acesso a
dinheiro nem teria criatividade para dar-lhe algo. Cearemos amanhã no Café São
Braz próximo à casa da minha avó a partir das 18h00. É o tipo de evento que já
vou querendo voltar. Odeio aniversários. Odeio o trânsito e não gosto do Café
São Braz, que provavelmente não terá lugar para abrigar todos os convidados.
Senti saudade do meu avô agora. A última vez que fui ao Café São Braz foi com
ele e ele ainda estava lúcido, o Alzheimer não tinha se manifestado
perceptivelmente. Hoje é um cadáver apodrecido no cemitério. Um dia será a minha
vez. E está mais perto que longe. A não ser novamente que o advento da
Singularidade seja algo parecido com o que previ. Mas não vou criar falsas
expectativas numa teoria que, embora tenha um embasamento factual, está longe
de ser uma garantia. Hoje estou escrevendo de um modo diferente, eu percebo
isso. Estou mais seco e direto. Acho que não estou de bom humor. Mas gosto do
meu estilo assim. Me parece até mais autêntico que meu estilo habitual. Amanhã
tenho CAPS e não estou com a preguiça que sempre me acomete na véspera. Acho
que por causa da história do documentário. Não sei como o meu amigo de Sampa
achou que continuo a mesma pessoa de outrora, me sinto completamente outro,
priorado, mas, ao mesmo tempo, mais dono de mim. Acho que deveria estar fazendo
companhia à minha mãe na cozinha enquanto ela prepara uma farofa de calabresa
para mim. Estou me sentindo descortês e desnaturado estando aqui enquanto ela
trabalha lá por mim. Vou pegar Coca e, se ela não estiver se ocupando do
celular, fico com ela lá até a feitura da refeição.
22h37. Ela já tinha acabado quando eu cheguei, que pena.
Perdi de fazer uma boa ação filial que estava sinceramente disposto a fazer.
23h18. Senti urgência de acrescentar algo ao post do
Desabafos do Vate e a outro projeto que toco. Sinto uma grande gratidão e amor
por minha mãe agora. Isso é tão raro. Não deveria ser. Queria que esse
sentimento me fosse mais presente e tão espontâneo como agora. A vontade que
tenho é dar-lhe um beijo e talvez até um abraço. Vou à sala ou não? Queria não
a encontrar. Seria mais fácil para mim.
23h23. Ela ainda estava lá e dei dois beijos em sua cabeça.
Foi o que consegui fazer, mas o fiz com amor e sinceramente, o que não é uma
coisa muito comum para mim. Não sei se isso tem a ver com o que coloquei no
Desabafos do Vate. Mas acho que não. Acho que é um sentimento que começa e se
encerra na minha mãe. O que meu amigo de Sampa falou sobre valorizar quem ainda
está por aqui calou profundamente em mim. Gostaria que isso fosse o estopim de
uma nova postura com a minha mãe, desde que espontânea. Veremos. Vários
pensamentos colidem dentro de mim, não sei o que escrever ou se necessito
escrever. Talvez seja necessário só calar um pouco as palavras e cismar. Não
sei, só estou parcialmente aqui neste texto, o resto de mim se avoa por outros
confins. Perdi minha poesia. Ganhei em transparência e talvez em coerência e
clareza. Não sei se é uma troca justa ou válida, mas é o que tenho agora.
Aposto que se lesse alguma poesia me inspiraria. Sabe de uma coisa? Vou tentar escrever
uma poesia agora. Não acredito que a poesia em mim haja desaparecido por
completo.
És tudo o que não posso
E, no entanto, é tudo o que mais quero
Fazer desse só meu nosso
Eu sei que seria tudo encantado
Pura fantasia do ser
E eu sei que sou só eu me enganando
Mas essa farsa que vivo
É em si uma razão de viver
Gostaria de ter palavras tão belas
Quanto as lembranças que guardo de ti
Mas não há tintas ou aquarelas
Que possam pintar o que sinto e senti
Sem ti
É assim que vivo
É assim que provavelmente viverei
Até o final dos meus dias
À espera do que nunca vai chegar
Um amor de uma mão só
De um coração só
Só e dorido
No meu mundo escolhido
Tu reinarias simples
23h49. Que merda! Hahahaha. Eu, hein? Preciso dar uma lida
em Fernando Pessoa. Vou ficar por aqui, minha cabeça não está para escrever
hoje.
-x-x-x-x-
11h46. Voltei do CAPS. Fiquei só para o grupo AD, que hoje é
logo o primeiro. Cheguei primeiro que os demais membros do grupo, então contei
a história do documentário apenas para as psicólogas, o que achei até melhor e
mais pertinente. Elas, como sempre, incentivaram a empreitada, mesmo quando
afirmei que meu cotidiano é muito limitado em termos de atividades, que só faço
escrever e ir ao CAPS. Mesmo assim, elas acharam que algo interessante poderia
sair daí, o que é o que eu não sei. Hahahahaha. Estou ficando corcunda de tanto
ficar sentado no computador, posso perceber isso na minha postura, geralmente
pendendo para a frente. Não queria ficar corcunda de fato, mas acho que isso
vai ser meio inevitável. Nesse exato momento estou tentando escrever com a
coluna mais ereta, porém tenho certeza que com o tempo vou me esquecer e
relaxar na postura retomando a que me é habitual. Acho legal o suporte que as
psicólogas do CAPS dão aos meus projetos. Não mencionei que ando citando a
Singularidade com completa liberdade e tranquilidade nos meus posts
ultimamente. Como se fosse algo pertencente ao meu cotidiano de ideias, que
assumi minha postura “singularitariana”. E há a parte que não faz parte da
hipótese da Singularidade, em que vou além e menciono meu prognóstico para o
futuro muito mais distante até a formação da Suprainteligência Universal,
inteligência que é soma de todas as Singularidades existentes e acessíveis no
universo e que terá a capacidade de criar a si mesma, ou seja, de criar este universo
de onde ela inevitavelmente derivará, mandando do futuro, para o passado mais
distante, o espaço-tempo zero, o estímulo que o fará desabrochar no Big Bang
com todas as suas leis e componentes necessários à fomentação de seres
inteligentes capazes de gerar tecnologias e Singularidades Tecnológicas que
descambaram na inteligência criadora de tudo o que há. Não sei como consegui
tomar banho hoje de manhã, fiz meio no automático, mas que bom que o fiz. Acho
que este post já está bastante extenso, então vou ficando por aqui. É um saco
saber que em menos de cinco horas, provavelmente, estarei saindo do meu
quarto-ilha para o Café São Braz para uma obrigação social chata, mas
inevitável e necessária. Afinal não posso faltar a celebração do aniversário da
minha mãe. Não é que eu não ame a minha mãe ou desgoste da família materna, é
apenas a vontade de ficar recluso que é mais forte. Percebi que alguém – e quando
digo alguém suspeito da cozinheira, visto que meu padrasto e minha mãe não
bebem Coca – tomou uma parte da última Coca que há aqui em casa. Espero que
minha mãe encomende mais ou compre, visto que a cozinheira acima mencionada disse
que ela passaria no supermercado agora pela manhã. Sim, sou movido a Coca Zero
e fumaça. São duas coisas que não podem faltar na minha vida, principalmente a
fumaça. Sem fumaça entro em desespero. Já havia descansado da minha postura
ereta, retomei-a agora, mas sei que logo mais, relaxarei de novo, pois é uma
postura forçada, não-natural, necessita de um esforço consciente para ser
mantida. Minha amiga que foi ao grande encontro disse que precisamos fazer isso
mais vezes. Eu respondi “Yes!”. Preciso,
entretanto, do cartão de crédito para reativar o meu Uber. Vou pegar Coca e
colocar um ponto final definitivo aqui.
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