sexta-feira, 26 de maio de 2017

PÁGINA EM BRANCO



Página em branco, sempre bom. Nunca intimidante, sempre convidativa. Ouvindo Infected Mushroom alto. Só a fantástica empregada está em casa, o que é uma raridade nos dias de hoje. O som está tão alto que rouba a minha concentração. A fantástica empregada veio me dar um recado e me desculpei pelo som alto, disse que estava aproveitando que não tinha ninguém em casa (como se ela não fosse alguém). Ela retorquiu que “era bom que ela ouvia de lá”. Ótimo, ela é fantástica mesmo. Hahahaha. Não estou gostando de desses “Hahahas” cada vez mais frequentes no meu blog. Porque não são coisas engraçadas para os demais, só para mim. Mas, e daí? Aqui eu posso tudo. Então posso me rir comigo mesmo. Cada vez menos gente lê os meus posts. Venho observando uma queda considerável no número de acessos. É difícil atualmente chegar a 30 visualizações. Antes chegava aos 50 hits facilmente. Acho que a novidade se esgotou para os grupos do Facebook onde divulgo isso. Fiquei abismado que o meu amigo de Sampa tenha lido o meu blog. Ele disse que achou por acaso pesquisando algo no Google no dia do meu aniversário. Pelo menos se alguém digitar “jornal do profeta” no Google, o que é deveras improvável, o meu blog é o primeiro resultado que aparece. Hoje acompanharei minha mãe à radioterapia sem falta. Uma coisa que meu amigo de Sampa disse, por sinal, acredito que nenhum dos quatro ontem tem mais pai, é que não adianta se lamentar pelo que não foi dito ou feito pelo pai que já se foi, mas tentar não repetir a mesma coisa com a mãe que está viva. Com o meu pai fiquei com a consciência relativamente tranquila, pois no final de sua vida fiz um esforço grande para me aproximar dele e redirecionar a nossa relação, para me aproximar emocionalmente dele, o que não foi tarefa fácil, visto que ele era um homem muito fechado. Mesmo assim obtive relativo sucesso. Ajudava o fato de que eu bebia à época, nós bebíamos, saíamos para tomar uma cerveja e conversávamos bastante. Aos poucos consegui me aproximar e penetrar nos seus bloqueios emocionais, mesmo que raras vezes. Enfim, sei que antes dele morrer me esforcei para um contato mais próximo com ele, então não guardei sentimento de que deixei algo por ser feito. Fiz o possível. Se ele tivesse continuado vivo, talvez evoluísse ainda mais nessa aproximação, mas, infelizmente, não foi possível. Sobre conseguir fazer o mesmo pela minha mãe, como o meu amigo sugeriu, isso para mim é muito mais complicado. Eu tenho muitas limitações com a minha mãe. Acredito que a nossa relação seja adoecida e não tenho pista de como torná-la saudável. Deposito todas as minhas esperanças na terapia que ela se comprometeu a fazer. Espero que ela realmente vá e isso surta algum efeito positivo na nossa relação. Não sendo assim, realmente me arrependerei bastante de não ter feito o suficiente para melhorar a nossa relação. Minha mãe é uma mulher difícil, principalmente em relação a mim. Tudo bem que já aprontei muito com ela, com o meu abuso de drogas e com as minhas crises de depressão, mas o nível de controle e repressão que impõe a mim, a constante desconfiança, as insinuações e chantagens, tudo isso me incomoda muito. As psicólogas disseram que eu preciso decidir quais são os limites que preciso impor e estabelecê-los através de um diálogo franco e sereno, o que é muito difícil de eu e ela termos, pois ela se exaspera logo e eu acabo me exasperando também. Ainda há dificuldade de aceitar carinho vindo dela. Estou ouvindo “Abraçaço”, pois esse disco me lembra o meu amigo de Sampa. Tenho mais facilidade em lhe dar carinho do que receber carinho dela. Sinto um profundo estranhamento que beira o asco quando ela vem me acarinhar. Não sei como reverter isso e isso é um problema meu, nada que ela alcançar na terapia vai mudar uma questão que é minha. Em suma, acho que quando ela morrer eu terei uma lista inumerável de arrependimentos e muitos “e se”, que carregarei pelo resto dos meus dias. Ou não, consiga sublimá-los. Meu cóccix já está querendo doer de novo. Tive uma crise forte durante a madrugada. Proctalgia fulgax é provavelmente o nome clínico dessa dor que sinto e que é bastante incômoda. E que não tem solução. Terei que conviver com ela até o fim da minha vida. A não ser que seja uploaded para a Singularidade e possa me livrar enfim de todas as dores e de tudo o que me incomoda. “O ciúme é o estrume do amor”, canta Caetano. Ah, o amor, o amor. Nem sei se me faz mais falta. Uma parte de mim grita que faz muita falta outra parte fala mansamente que a vida está boa e que tem medo que novo amor venha a desmantelar tudo. Odeio sentir ciúme. Verdade que com a minha quarta e última namorada não senti ciúme que me lembre, éramos tão nossos, que não havia necessidade ou causa de ciúme. Bela parceria. Queria, se houvesse novo relacionamento, construir relação semelhante. Mas estou tão traumatizado com o sexo, que isso me faz recuar frente a possibilidade de um amor. É outra questão que preciso trabalhar. E ainda há o fato de que não quero filhos. Isso me remete diretamente ao relato que ouvi ontem no grande encontro sobre o casal cuja filha morreu de forma inexplicável no nono mês de gestação. Que situação traumática. Ainda mais quando havia outro casal de amigos que engravidou na mesma época e cuja filha nasceu sem problemas. Ambos os casais curtiram as gravidezes juntos e o destino armou essa cilada fatal para um deles. 17h23. Não sei direito o que estou escrevendo. Estou vomitando o que me vem à mente. Sobre o documentário que meu amigo de Sampa planeja fazer sobre a minha pessoa não sei o que pensar. Aliás, não tenho muita ideia de como seria a narrativa visual, visto que a minha rotina é muito limitada, não apresenta a variedade que faria o que é filmado ser interessante. Acho que meu amigo não tem a dimensão de quão estéril é meu cotidiano e de quantas horas eu passo escrevendo. 17h32. Dentro em breve terei que ir à radioterapia. “You don’t know me, better never get to know me, you don’t know me at all”, canta Caetano agora no Spotify e reflete o meu pensamento geral sobre o documentário. Mas, como disse, exibicionista que sou, estou dentro do projeto, pode me filmar à vontade. E a narrativa do áudio parece que será composta por trechos do blog, trechos esses que não conhecerei previamente, que serão escolhidos por ele, só sugeriria que a narração fosse feita por uma voz feminina, para que não achem que a voz do narrador é a minha. Se tivermos nossa conversa para acertar os ponteiros falarei sobre isso com ele. Quando ele disse que tinha um projeto para mim, gelei, pensei que quisesse que eu fizesse algum layout ou marca ou qualquer coisa de publicitária para ele, me pus imediatamente a pensar qual a forma mais delicada de dizer que tenho completa ojeriza em relação a este tipo de trabalho, que só de pensar me faz sentir mal. Quando soube do que de fato se tratava, fiquei extremamente feliz e honrado. Acho que foi algo que sempre desejei, esse tipo de exposição, digo.

17h51. Fui pegar Coca. Nossa, escrevi um parágrafo digno de Proust. Em tamanho, digo. Hahahaha. Ainda guardo reminiscências positivas do encontro de ontem. É o tipo de interação social que acho ideal. Com todos podendo se focar e conversar e se ouvir, num ambiente tranquilo tendo música dos anos 80 de fundo. Tudo conspirou para um encontro muito especial para mim. Um momento muito precioso que espero levar na alma por muito tempo. Será que imerso na Singularidade poderei ter encontros assim? Era bom poder tê-los, na verdade, para mim, seria indispensável poder tê-los, pois são momentos assim que fazem a vida valer a pena, que emprestam mais sentido a ela. Se conseguiria viver sem eles? Conseguiria, como vinha conseguindo, mas acrescentá-los ao meu cotidiano sem dúvida soma milhões à minha pacata e reclusa existência. Penso em comprar uma câmera de filmar para mim, visto que meu amigo quer que eu documente a minha viagem para a Alemanha. Isso sem dúvida é uma boa ideia, visto que daria uma mudada na narrativa. Ele acha que tem uma câmera extra, velha, mas não sabe se funciona. A tia da minha cunhada está nos EUA e voltará em breve, ela talvez pudesse trazer a câmera para mim. Para isso precisaria comprar o mais rápido possível, assim que o meu cartão de crédito chegar. Se o limite do cartão permitir. Mas do que estou falando aqui? De devaneios. Duvido que esse projeto vá para frente. Investir num negócio caro para nada é idiotice. Não lembro se foi domingo que ele falou que vinha falar comigo para combinarmos os detalhes, vamos ver.

18h18. Mas mudar de assunto, né? É porque é uma reviravolta tão grande na minha vida que fica difícil escapar desse assunto. É quase como acordar um dia sem bucho. Ou arrumar uma namorada do nada. É mais ou menos assim que vejo esinto tal empreitada. E o meu blog seria conhecido de todos os meus amigos, o que me deixaria constrangido, como ficaria constrangido de soltar um peido enquanto dormisse com a minha namorada ou roncasse alto demais na mesma situação. 18h24. Daqui a pouco minha mãe vai ter que ir à radioterapia. Vou já ficar pronto.

18h29. Troquei de roupa e peguei mais um copo de Coca. Não sei se assista mais um episódio de “The Walking Dead” hoje. Ou jogue um Zeldinha. Vou acabar me refugiando nas palavras de novo. A média de acesso dos últimos quatro posts do meu blog so far é de 22 vizualizações, o que me entristece um pouco. É como se metade do meu público tivesse sumido. Mas pelo menos 22 pessoas no mundo leem o que escrevo. Ver pelo lado positivo. E quem sabe eu seja imortalizado em vídeo. Hahahahaha. Que coisa mais louca. Nunca imaginaria uma dessas pra cima de mim. Mas é melhor baixar o facho que isso não vai funcionar. Novamente, quero ver o que pensarão amanhã no CAPS. Que onda. Vai ver que isso foi uma brincadeira do meu amigo que levei a sério. Será que ele lê o meu blog mesmo? Tem isso como uma rotina diária? Será que ele é um dos 22? Sei lá. Mas vamos mudar de assunto que foi o que prometi fazer. Quem lê isso daqui sabe que eu quase nunca cumpro o que prometo, então é bem provável que a história do documentário volte à baila novamente. 18h45. Minha mãe já veio me convocar para a radioterapia. Já estou pronto, então é só botar as Havaianas e ir. A minha é do modelo clássico branca e azul. Já está bastante desgastada. Posso até tirar uma foto dela para ilustrar esse post. Não sei. Salvei imagens de duas câmeras que vendem na Amazon e acho que seriam mais ilustrativas do conteúdo desse post. Duas marcas – Go Pro e Akaso – que tem equipamentos semelhantes por valores extremamente diferentes. Enquanto uma é 400 dólares, a outra é menos de 100. Obviamente se for mesmo investir nisso, comprarei a mais barata, mas consultarei o meu amigo de Sampa primeiro. Se bem que a mais barata tem 4,5 estrelas, numa média dada por mais de 4.000 consumidores. A mais cara tem 4,5 estrelas também, porém dadas por 650 compradores. Preciso ler os reviews para ver se não é o caso de uma nota “impulsionada” através da estratégia de dar o produto de graça para a galera em troca de um review. Não verei agora porque minha mãe já-já me chama para partirmos. Já estamos inclusive atrasados. Não sei mais o que dizer. O que penso agora não posso compartilhar. É, não compartilho tudo aqui. Há coisas que prefiro calar para mim. Todos têm seus segredos. Acho que não há esse. Acho que minha mãe me chamou.

20h41. Acabamos de voltar do hospital. Foi rápido, o trânsito estava particularmente bom. Tivemos uma conversa no carro sobre os seus últimos comportamentos em relação a mim e minha mãe findou dizendo que precisava urgentemente de um psicólogo. Ótimo. Tomara que isso seja sincero. Pensei em perguntar a uma psicóloga específica das que fazem os grupos AD se ela poderia ser a minha terapeuta. Isso se ela atender pelos arredores do CAPS.

Gostaria que o meu cartão de crédito chegasse amanhã. Não sei quem terá que ativá-lo se eu ou minha mãe e liberá-lo para compras internacionais. Faz tempo que prometi ir na agência em que trabalhei para uma visita, não sei porque lembrei disso agora, mas minha o meu atual estado reclusivo reprime qualquer motivação que tenha de fazê-lo. Acredito que, hoje, isso seria muito mais uma cortesia social de ambas as partes que um reencontro entre amigos. Posso estar com os pensamentos distorcidos pela minha verve antissocial atual, mas não achei da mesma forma em relação ao encontro de ontem. Ainda bem! Nem tudo está perdido. Hahahaha. A conversa com minha mãe me deixou com um misto de irritação e baixo-astral, mas já está passando. Nossa é bom estar de volta ao meu quarto-ilha. Aqui me sinto mais verdadeiramente eu, mais verdadeiramente meu. E agora que a TV voltou a ligar, eu tenho o Zeldinha e o “TWD” para me distrair, embora a vontade para ambos é pouca. Talvez acabe assistindo um episódio do seriado, pois estou curioso com o que vai acontecer. Na verdade, estou meio chatedao com o que aconteceu no final do episódio anterior, quando tudo estava dando certo e uma variável decorrente da burrice alheia melou tudo. Odeio quando usam esse recurso na história, sempre me dá um profundo sentimento de frustração e até um pouco de raiva. Por esse parágrafo percebo que sinto mais raiva do que costumava julgar ou tenho me tornado mais intolerante. Não quero me tornar um ser humano intolerante e irritadiço, é um jeito muito ozzy de ser. Não quero isso para mim. Mas foram duas situações muito pontuais, não demonstram um padrão, mas, sinceramente, olhando em retrospecto, percebo que hoje meu pavio é mais curto que antigamente. Não gosto disso e não sei como reverter. A vontade que tenho é ter o poder de ordenar a todos que me deixem sossegado no meu quarto-ilha que quando eu quiser sair eu saio. Mas, pronto, já há uma viagem para a Alemanha no meio do caminho e talvez uma para os EUA no final do ano, no meio da maior neve. É fato que nunca vi muita neve, mas é fato também que isso para mim perdeu o encanto depois de ouvir os relatos de como é chato e excessivamente frio esse período do ano lá para as bandas de onde o meu irmão mora. Será que serei obrigado a viver no porão do meu irmão o final dos meus dias? Olhando pelo lado bom, eu definitivamente viveria isolado de tudo. Olhando pelo lado ruim, eu não teria socialização nenhuma, a não ser com os habitantes da casa, visto que tudo é longe de lá. Se bem que há um trem, não sei a que distância, que me levaria, como leva o meu irmão, diretamente para Boston, então quando quisesse ver o mundão, poderia pegar esse trem e vagar pela cidade. O isolamento no quarto-ilha só tem razão de ser se houver algo que eu possa fazer nele que preencha o meu tempo e me preencha. Senão será só tédio e deste à depressão. Vamos ver o que a vida me reservará. Pode ser que isso nem aconteça, que meu irmão volte para o Brasil antes. Tudo dependerá de quando acontecerá a mudança de curador. Não sei nem se a legislação permite que eu receba a pensão vivendo em outro país. Vou espantar os pensamentos sobre isso, pois são pensamentos incômodos que não valem a preocupação tão antecipada. É dar uma de peru e morrer de véspera. Então, xô, pensamentos sobre o futuro. O que tenho é o aqui e agora, no meu querido quarto-ilha, com saudade dos meus amigos que revi ontem e a possibilidade de assistir “TWD” mais tarde. Há ainda a possibilidade do documentário. Parece que meu amigo de Sampa conversou com o meu primo que morou aqui no meu prédio sobre o assunto e ele achou uma ideia interessante. Não sei se isso é fato. Lembro que ele mencionou meu primo em relação a algum de seus projetos. E disse que me mandaria por e-mail o link de alguns curtas que realizou. Mas ele não tem o meu e-mail. Talvez tudo isso seja visto no nosso próximo e último encontro antes de seu retorno a São Paulo. De tanto permanecer em silêncio e, suspeito, por causa de fumar (Vaporfi e cigarro) minha voz vem falhando. É como carro velho, precisa esquentar primeiro até funcionar normalmente. Ah, se eu pudesse falar aqui de um assunto, mas não posso e não devo. É ruim e difícil ter que calar para mim que sou tão boquirroto. Mas sou um pouco menos imprudente hoje em dia também, então ganha o bom-senso nesse caso. Há um segundo caso proibido que me vem à mente que me faz pensar se não é hora de escrever um pouco no Desabafos do Vate. Acho que vou para lá um pouquinho. 21h32.

22h08. Foi bom ter escrito no Desabafos do Vate, me sinto melhor e acho que desvendei o mistério da minha irascibilidade. Amanhã é o aniversário da minha mãe. Eu não comprei nada para ela, não tive acesso a dinheiro nem teria criatividade para dar-lhe algo. Cearemos amanhã no Café São Braz próximo à casa da minha avó a partir das 18h00. É o tipo de evento que já vou querendo voltar. Odeio aniversários. Odeio o trânsito e não gosto do Café São Braz, que provavelmente não terá lugar para abrigar todos os convidados. Senti saudade do meu avô agora. A última vez que fui ao Café São Braz foi com ele e ele ainda estava lúcido, o Alzheimer não tinha se manifestado perceptivelmente. Hoje é um cadáver apodrecido no cemitério. Um dia será a minha vez. E está mais perto que longe. A não ser novamente que o advento da Singularidade seja algo parecido com o que previ. Mas não vou criar falsas expectativas numa teoria que, embora tenha um embasamento factual, está longe de ser uma garantia. Hoje estou escrevendo de um modo diferente, eu percebo isso. Estou mais seco e direto. Acho que não estou de bom humor. Mas gosto do meu estilo assim. Me parece até mais autêntico que meu estilo habitual. Amanhã tenho CAPS e não estou com a preguiça que sempre me acomete na véspera. Acho que por causa da história do documentário. Não sei como o meu amigo de Sampa achou que continuo a mesma pessoa de outrora, me sinto completamente outro, priorado, mas, ao mesmo tempo, mais dono de mim. Acho que deveria estar fazendo companhia à minha mãe na cozinha enquanto ela prepara uma farofa de calabresa para mim. Estou me sentindo descortês e desnaturado estando aqui enquanto ela trabalha lá por mim. Vou pegar Coca e, se ela não estiver se ocupando do celular, fico com ela lá até a feitura da refeição.

22h37. Ela já tinha acabado quando eu cheguei, que pena. Perdi de fazer uma boa ação filial que estava sinceramente disposto a fazer.

23h18. Senti urgência de acrescentar algo ao post do Desabafos do Vate e a outro projeto que toco. Sinto uma grande gratidão e amor por minha mãe agora. Isso é tão raro. Não deveria ser. Queria que esse sentimento me fosse mais presente e tão espontâneo como agora. A vontade que tenho é dar-lhe um beijo e talvez até um abraço. Vou à sala ou não? Queria não a encontrar. Seria mais fácil para mim.

23h23. Ela ainda estava lá e dei dois beijos em sua cabeça. Foi o que consegui fazer, mas o fiz com amor e sinceramente, o que não é uma coisa muito comum para mim. Não sei se isso tem a ver com o que coloquei no Desabafos do Vate. Mas acho que não. Acho que é um sentimento que começa e se encerra na minha mãe. O que meu amigo de Sampa falou sobre valorizar quem ainda está por aqui calou profundamente em mim. Gostaria que isso fosse o estopim de uma nova postura com a minha mãe, desde que espontânea. Veremos. Vários pensamentos colidem dentro de mim, não sei o que escrever ou se necessito escrever. Talvez seja necessário só calar um pouco as palavras e cismar. Não sei, só estou parcialmente aqui neste texto, o resto de mim se avoa por outros confins. Perdi minha poesia. Ganhei em transparência e talvez em coerência e clareza. Não sei se é uma troca justa ou válida, mas é o que tenho agora. Aposto que se lesse alguma poesia me inspiraria. Sabe de uma coisa? Vou tentar escrever uma poesia agora. Não acredito que a poesia em mim haja desaparecido por completo.

És tudo o que não posso
E, no entanto, é tudo o que mais quero
Fazer desse só meu nosso
Eu sei que seria tudo encantado
Pura fantasia do ser
E eu sei que sou só eu me enganando
Mas essa farsa que vivo
É em si uma razão de viver
Gostaria de ter palavras tão belas
Quanto as lembranças que guardo de ti
Mas não há tintas ou aquarelas
Que possam pintar o que sinto e senti
Sem ti
É assim que vivo
É assim que provavelmente viverei
Até o final dos meus dias
À espera do que nunca vai chegar
Um amor de uma mão só
De um coração só
Só e dorido
No meu mundo escolhido
Tu reinarias simples

23h49. Que merda! Hahahaha. Eu, hein? Preciso dar uma lida em Fernando Pessoa. Vou ficar por aqui, minha cabeça não está para escrever hoje.

-x-x-x-x-


11h46. Voltei do CAPS. Fiquei só para o grupo AD, que hoje é logo o primeiro. Cheguei primeiro que os demais membros do grupo, então contei a história do documentário apenas para as psicólogas, o que achei até melhor e mais pertinente. Elas, como sempre, incentivaram a empreitada, mesmo quando afirmei que meu cotidiano é muito limitado em termos de atividades, que só faço escrever e ir ao CAPS. Mesmo assim, elas acharam que algo interessante poderia sair daí, o que é o que eu não sei. Hahahahaha. Estou ficando corcunda de tanto ficar sentado no computador, posso perceber isso na minha postura, geralmente pendendo para a frente. Não queria ficar corcunda de fato, mas acho que isso vai ser meio inevitável. Nesse exato momento estou tentando escrever com a coluna mais ereta, porém tenho certeza que com o tempo vou me esquecer e relaxar na postura retomando a que me é habitual. Acho legal o suporte que as psicólogas do CAPS dão aos meus projetos. Não mencionei que ando citando a Singularidade com completa liberdade e tranquilidade nos meus posts ultimamente. Como se fosse algo pertencente ao meu cotidiano de ideias, que assumi minha postura “singularitariana”. E há a parte que não faz parte da hipótese da Singularidade, em que vou além e menciono meu prognóstico para o futuro muito mais distante até a formação da Suprainteligência Universal, inteligência que é soma de todas as Singularidades existentes e acessíveis no universo e que terá a capacidade de criar a si mesma, ou seja, de criar este universo de onde ela inevitavelmente derivará, mandando do futuro, para o passado mais distante, o espaço-tempo zero, o estímulo que o fará desabrochar no Big Bang com todas as suas leis e componentes necessários à fomentação de seres inteligentes capazes de gerar tecnologias e Singularidades Tecnológicas que descambaram na inteligência criadora de tudo o que há. Não sei como consegui tomar banho hoje de manhã, fiz meio no automático, mas que bom que o fiz. Acho que este post já está bastante extenso, então vou ficando por aqui. É um saco saber que em menos de cinco horas, provavelmente, estarei saindo do meu quarto-ilha para o Café São Braz para uma obrigação social chata, mas inevitável e necessária. Afinal não posso faltar a celebração do aniversário da minha mãe. Não é que eu não ame a minha mãe ou desgoste da família materna, é apenas a vontade de ficar recluso que é mais forte. Percebi que alguém – e quando digo alguém suspeito da cozinheira, visto que meu padrasto e minha mãe não bebem Coca – tomou uma parte da última Coca que há aqui em casa. Espero que minha mãe encomende mais ou compre, visto que a cozinheira acima mencionada disse que ela passaria no supermercado agora pela manhã. Sim, sou movido a Coca Zero e fumaça. São duas coisas que não podem faltar na minha vida, principalmente a fumaça. Sem fumaça entro em desespero. Já havia descansado da minha postura ereta, retomei-a agora, mas sei que logo mais, relaxarei de novo, pois é uma postura forçada, não-natural, necessita de um esforço consciente para ser mantida. Minha amiga que foi ao grande encontro disse que precisamos fazer isso mais vezes. Eu respondi “Yes!”.  Preciso, entretanto, do cartão de crédito para reativar o meu Uber. Vou pegar Coca e colocar um ponto final definitivo aqui. 

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