Trem de fazer fantasmas. |
1) Mário, supondo que nós somos naturalmente seres sociais, nascidos para conviver em sociedade, por que, então, é tão difícil a tarefa de viver em sociedade?
Não acho uma tarefa difícil viver em sociedade, por mais que
esteja me distanciando cada vez mais dela e me tornando um tipo de ermitão
urbanoide, o que é bastante contraditório. Acho que o que pode atrapalhar é o
desrespeito ao que é ou pertence ao próximo, ou seja, o egoísmo descontrolado
ou a falta de civilidade e o desconhecimento dos direitos e deveres de cada um.
Se fossem ensinados princípios de ética e moral nas escolas, os direitos de
deveres do cidadão conforme a Constituição ou a DUDH – pois é, infelizmente a
escola tomando o papel dos pais – talvez formássemos jovens mais conscientes e
essa dificuldade que você menciona fosse diminuída. No entanto, quando preciso
ir para o mundão, me armo de gentileza e de um bem-querer ao próximo que
facilitam bastante as coisas no âmbito social macro. Meu problema está em
gerenciar o núcleo familiar, pois nele, no seio do lar, é que as pessoas se
despem mais de suas máscaras e mostram mais os seus espinhos, portanto tenho
uma relação meio tumultuada em casa. Especialmente com a minha mãe. Nesse caso,
acho que só terapia, da minha parte e da dela resolve. Mas voltando à pergunta,
varia de cultura para cultura, eu acho, e até de subculturas locais, a forma
como lida-se um com o outro, mas se não fôssemos seres sociais, já teríamos nos
exterminado há algum tempo, pois temos ogivas nucleares e sabe mais que bombas
que poderiam acabar com a vida na Terra várias vezes. Se temos o poder de nos
destruirmos e não o fazemos é porque o ser social em nós prevalece, apesar dos
pesares. Finalizando, reitero que não tenho muito problema com a sociedade. Há
babacas, há estressados, há grosseiros, de ambos os sexos, mas eles são a
minoria. Há ainda os corruptos. A sede por poder tem grande capacidade de
corromper. Há os viciados em poder e como qualquer viciado, fazem de tudo para
ter mais, seja poder econômico, seja político, hierárquico. Mas, na sua maioria,
a civilização mundial é pacata e cordial. O difícil mesmo para mim, na
sociedade, está sendo arrumar uma gatinha, esse é o meu entrave, mas desencanei
dele, já me acostumei com a minha solidão. Se acontecer, acontecerá sem que eu
force nenhuma situação. Se não acontecer, paciência. Já tive o meu quinhão de
amor nessa vida. E ter a solidão como companheira é algo ao que cada dia estou
mais acostumado. Enfim, apesar do meu gradativo isolamento, sou um otimista em
relação à sociedade. Acho que melhoramos muito ao longo dos séculos.
Adendo:
Há pessoas, e isto não deve ser ignorado, que possuem
dificuldade de conviver em sociedade por impedimentos próprios, que tendem a se
isolar, como vem sendo o meu caso, mas essas são raras e esparsas, ou seja,
muito mais exceções do que regras na sociedade, pontos fora da curva
estatística, por conta de algum distúrbio de formação, experiências sociais
traumáticas, por patologias ou por algum movimento interior que as tornam aversas
a estarem em sociedade ou as deixam incompatíveis com a sociedade em questão.
2. Tudo certo?
Na minha vida, eu diria que está tudo certo, por mais que
esteja passando por um momento de certo isolamento social voluntário, como aventado
na questão anterior. Estou sozinho afetivamente, mas resolvi deixar o acaso
resolver isso por mim. Em suma, eu gosto de viver a minha vida como ela está
agora. Gosto de acordar todos os dias e de encará-los. Gosto da zona de
conforto que criei para mim. Gosto até demais. Isso é parte do problema de isolamento.
Que para mim não é um problema. Mas a sociedade vê como tal. Quando quiser
sair, eu saio, oras. Estou feliz, gosto de viver e aprecio os pequenos e belos
momentos da vida, só não gosto de sair muito da minha zona de conforto. Ah, e
não aprendi a gostar de mim, mas já aprendi a me suportar, estou a um passo da
autoaceitação. Um grande passo, mas a caminhada foi muito mais longa para
chegar até aqui. Então posso dizer com firmeza que está tudo certo, tudo
tranquilo e favorável. Minha mãe aparentemente está curada do câncer de mama,
meus familiares e amigos até onde sei estão bem. Então, tudo certo.
3. Videogame é arte?
Não só é arte, é uma conjunção de formas de arte, de artes
plásticas até arquitetura, música, as novas artes que emergiram com a novas
tecnologias, como modelagem em 3D, desenho e pintura digitais, desenvolvimento
de IAs e por aí vai. Eu acho que é o meio de expressão humana que congrega mais
formas de criação atualmente na terra. Suplanta inclusive o cinema, por mais
que o cinema esteja perto no que concerne a congregação de vários tipos de
arte. Por isso os vejo cada vez mais próximos.
4. Que momento em um
jogo mais marcou sua vida? E qual o pior momento?
Quando vi pela primeira vez de Wind Waker rodando no meu
GameCube em 2002. Fiquei completamente deslumbrado. Foi a primeira vez que
achei com sinceridade que videogame era arte. Miyamoto disse que quando
imaginou esse Zelda, queria que os pais quando vissem, achassem que os seus filhos estavam
controlando um cartoon. Ele foi extremamente
bem-sucedido nesse intento. O pior momento está sendo este agora que tenho
dezenas de jogos para jogar e não tenho tesão real de jogar nenhum. Ainda bem
que comecei a jogar o Wind Waker (HD) no Wii U e estou tendo um tempo divertido
com ele. No mais, estou sem saco de jogar nenhum jogo, com exceção do novo
Zelda, e isso tem me preocupado. Não quero abandonar os videogames quando eu tenho
a nata do PS3 e do Wii U para jogar. Nunca tive tantos jogos bons para jogar e
nunca estive mais desmotivado para jogá-los. Esse momento atual de crise com os
videogames tem me aperreado bastante, a ponto de gerar moderada angústia em
mim, logo esse período tem sido o pior na minha vida como gamer.
5. Um trem
descarrilado segue sem controle numa ferrovia. Para para-lo, você precisa mexer
uma manivela. Se for pra frente, matará uma criança. Se para trás, um senhor de
60 anos. Se nada fizer, vai ser na sorte. O que você faz?
Vamos aumentar as apostas do jogo, se o velho fosse a minha
mãe e a criança fosse meu filho. Mesmo assim, por mais que acredite que o lado
paternal falasse mais alto e eu desejasse salvar o meu filho – pelo menos é a
decisão mais sensata evolutivamente falando, para garantir a preservação da
minha linhagem –, eu acho que deixaria a escolha ao acaso. Talvez nunca ninguém
me perdoasse, nem minha mãe, se fosse ele a sobreviver. É uma escolha difícil.
Se fossem dois desconhecidos, aí é que deixaria a cargo do acaso mesmo. É uma
situação perde-perde e eu não quero decidir qual a perda mais relevante. Cada
um tem valores diferentes. Acredito que a maioria prefira matar o velho nessa
questão, simplesmente porque viveu mais que a criança. Eu deixo ao acaso. Não
acho isso uma justificativa suficientemente forte para me obrigar a tirar a
vida de alguém.
6. Imagine que um
suspeito de terrorismo é capturado, e você tem certeza, por vários meios, que
ele sabe a localização de um próximo ataque, que matará centenas. Você autorizaria
sua tortura como forma de obter a informação?
Cara, eu não gosto de fazer com os outros o que não gosto
que façam comigo. Há formas de tortura bastante cruéis, sádicas. Não sei.
Talvez ameaçaria deportar a família da pessoa para uma zona de guerra, mas
infligir dores inimagináveis à pessoa, não sei se seria capaz. Eu tentaria
obter através de interrogatório e no máximo torturas psicológicas. Ou
renunciaria ao meu cargo por não ter o sangue frio necessário para exercê-lo.
É, acho que faria isso, renunciaria a um cargo que me pusesse numa situação tão
extrema a ponto de violar as leis do meu próprio pais em nome do próprio país.
7. Você é juiz, e
precisa decidir o valor de indenização por uma morte. Que fatores leva em
conta?
Não faço a mínima ideia. Não sei quais as circunstâncias da
morte. Essa pergunta é jurídica demais para mim. Foi mal, mas essa vou pular,
pois sequer sei quem será o indenizado numa situação de morte, mas acredito que
a família nuclear – esposa/marido e filhos – devam receber cada um a mesma
percentagem da indenização e do restante do espólio do falecido. Mas estou só
jogando o que rolou com a morte do meu pai. Não houve indenização pela morte
pois não foi aberto nenhum litígio a respeito disso. Eu iria processar quem, a
Ambev? Ele bebia e misturava com remédios porque queria.
8. Como você
resolveria, se tivesse acesso a todos os meios, a crise da humanidade?
Primeiramente um governo mundial, com a participação de
todos os países. A constituição mundial seria a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e o governo mundial teria como meta garantir a todos os
cidadãos da Terra o acesso a esses direitos ao qual acrescentaria uso
irrestrito à internet. Desenvolveria um sistema em que houvesse apenas um
documento de identificação universal, poderia ser a retina, DNA, biométrico de
alguma forma, para diminuir a burocracia e todas as informações seriam
digitais. As legislações dos países teriam que ser adaptadas e simplificadas,
respeitando as particularidades de cada cultura, mas respeitando todas as
diretrizes da DUDH. Paralelamente, investiria pesado em inteligências artificiais
profundas. Pois acredito que fomentar a Singularidade Tecnológica seja algo que
é um dever do ser humano para com o universo e traria imensas benesses para a
humanidade. Uma vez surgida a Sigularidade e se mostrando amigável, o que acho
inevitável, ela seria a grande conselheira (além de uma porção de coisas mais)
da humanidade do nível global ao pessoal. O governo mundial desmontaria a
indústria bélica, nenhum tostão do cidadão seria gasto mais com fabricação de
armas. Esse dinheiro todo seria redirecionado para sanar os problemas mais prementes
da sociedade global. A partir da Singularidade, eu não precisaria fazer mais
nada. Ela faria e fará por si só. E vai ser inacreditável. Na melhor acepção da
palavra. Espero estar vivo para ver este momento iluminado da evolução humana. Da
evolução universal.
Esqueci de mencionar, através do sistema mundial unificado
de identificação, cidadãos aptos a votar poderiam votar sobre desde que rua
deva ser pavimentada primeiro no seu bairro até a legalização mundial do
aborto, em uma palavra, a população seria um quarto poder e sua opinião seria
aferida através de estatísticas e poderia influenciar na tomada de decisões dos
líderes locais aos líderes globais.
9. No corredor da
morte, qual seria sua última refeição?
Eu faria um churrasco na piscina das Ubaias com todos os que
ainda gostassem de mim, mesmo depois do hediondo crime que cometi para estar no
corredor da morte, e assim curtiria um dia com as pessoas que realmente me amam,
dia este que seria regado a cerveja e maconha e Coca Zero com muito gelo e
Malrboros vermelhos! Tomaria de tudo nesse dia, já que estaria condenado à
morte mesmo. Hahahaha.
10. Quais perguntas
você gostaria que lhe fizessem?
Não sei. Essas estão bastante interessantes. Tentei me
entrevistar, mas não deu muito certo, então as perguntas que eu faço a mim
mesmo não me servem, não sei bem por quê.
11. O que te
assustaria mais? Ver um ET ou um fantasma?
Não sei qual me assustaria mais em termos de me dar um
susto, mas o que mexeria mais comigo seria ver um fantasma, pois acredito que
ETs sejam possíveis, não acredito que nós sejamos os únicos seres inteligentes
nesse velho e vasto estranho reino que é o universo. Agora a alma de alguém já
morto materializada de alguma forma na minha frente seria uma mudança muito
grande de paradigma para mim que não acredito em existência após a morte. Seria
muito chocante mesmo. Eu entraria em conflito com as minhas próprias crenças. E
certamente, eu gostaria de conversar muito mais com um fantasma, para tirar
todas as dúvidas a respeito do pós-morte. Claro que gostaria de conversar com o
ET também, mas o fantasma ganha em termos da radical mudança de visão de mundo
que ele me acarretaria. Sairia transformado de tal encontro. Para o bem ou para
o mal. Mas sei que nenhum deles vai acontecer mesmo. Por mais que um amigo meu
jure de pés juntos que viu um óvni no céu quando era bem mais jovem numa
ocasião em que estavam meu primo e o meu irmão. Preciso perguntar aos outros
dois se viram também.
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