É celebração do Dia das Mães da família materna. Para variar me isolei num canto da ampla sala da minha tia e ninguém dá por mim. Está na hora do almoço e a família se divide em dois grandes grupos, um na varanda e o outro em volta da mesa de refeições. Estou à espera da sobremesa. Mas indeciso se vou comer. Pelo menos um brigadeiro eu pego. Estou com o bucho cheio de Coca-Cola. Noto que dois companheiros de duas primas engordaram. Uma tia me parece ligeiramente mais plastificada, mas pode ser impressão. Minha prima emagreceu bastante. Vou ver se crio coragem para perguntar o segredo. Vou para a mesa, fazer parte da família.
15h36. Interagi um pouco com a família, descobri que o
emagrecimento da minha prima deveu-se a uma pilha de remédios, além de uma
suposta reeducação alimentar. Gostei da parte dos remédios, sugere
emagrecimento sem esforço. Precisaria me informar os detalhes, mas a situação
social não permitiu. Talvez vamos à casa da minha irmã, filha do meu padrasto,
que fica aqui nessa rua, assim como a casa da minha avó. Grande concentração familiar nessa rua, né não? Meu sobrinho (de
segundo grau?), filho de uma prima, o caçula da família, por ora, está junto a
meus pés e com sua presença agrega um monte de familiares ao meu redor.
16h26. Tem vezes que eu sou grato por ter um superego. Ele
não só tem poder sobre a minha mente, mas sobre outros aspectos da minha
fisiologia. Por exemplo, meio escatológico, eu fui ao banheiro social da minha
tia urinar e, embora com vontade de peidar, meu superego conseguiu reprimir tal
necessidade, e permitiu que eu concluísse a necessidade mais urgente sem
empestar com o fedor da minha flatulência o recinto compacto e frequentemente
visitado. Estão vendo algum jogo na TV.
17h00. Estou na casa de vovó agora. Parece que há um
problema na televisão.
17h14. Estou agora na casa da minha irmã, filha do meu
padrasto. É mais ou menos do tamanho do último apartamento que morei, ou seja,
claustrofóbico para mim. E há umas dez pessoas dentro do apartamento, o que o
torna ainda mais opressor. Mas o astral aqui é legal, é up, como a minha irmã.
O meu era um baixo-astral, como eu era na época. Minha vida estava uma desgraça
no período, era um ser depressivo e autodestrutivo. Vinha de uma separação por
causa de abuso de drogas e a cola continuou sendo o meu alento nesse negros tempos,
o que os tornou ainda mais negros.
Estou de volta à casa de vovó, viemos meu padrasto, seu
filho – meu irmão – e eu. Ele conseguiu resolver rapidamente o problema da TV
da sala, mas a do quarto aparentemente está queimada. Minha avó admite que há muito
não a liga.
Estou mais uma vez na casa da minha irmã. Viemos buscar
mamãe, entregar o meu irmão e nos despedir da família, que inclui a ex-mulher
do meu padrasto. Mas aparentemente o clima ruim entre ela e minha mãe diminuiu
com o passar dos anos. A casa toda fede a cocô de bebê. Meu padrasto não
aguentou e abriu a porta para ver se o ar circulava no abafado apartamento da
minha irmã. Tenho pena que more ali. Eu não conseguiria. Eu acho. Sem ar
condicionado para casa toda eu não aguentaria. Não, definitivamente seria muito
custoso para mim que moro num apartamento grande, viver num desses cubículos de
hoje. Gostaria de viver a minha vida inteira aqui onde moro. Já me foi ruim
quando tentei morar no cubículo que mencionei anteriormente. A bateria vai
arrear.
21h05. Já estou em casa há umas duas horas. Estava revisando
para publicar o post de hoje. Vou publicar este, mas não vou divulgar no
Facebook. Vou é pegar outro copo de Coca. Preciso criar coragem para botar gelo
para fazer hoje à noite. Se quiser ter piscina com gelo amanhã. Hoje não tive
disposição de ir à piscina, cheguei já por volta das 19h15 – 19h22 quando o
computador acendeu – e não me sentia fisicamente bem, fui acometido por uma
moleza e senti-me meio febril. Agora esses sintomas já passaram, ainda bem. Mas
agora está tarde para ir à piscina. O meu celular descarregou completamente e
aproveito essas oportunidades para carregá-lo sem ligar, numa esperança de
aumentar a vida útil da bateria que já está bastante curta. Por causa disso,
não pude me comunicar com o meu amigo da piscina. Ele até ligou para mim numa
das vezes em que estive na casa da minha irmã. E meu celular ainda está em 86%.
São 21h17, daqui que chegue a 100% será muito próximo da hora em que teria que
subir, segundo combinado com a minha mãe. Então hoje não vou. Infelizmente uma
conjunção de fatores me impediu.
21h27. Curioso mamãe veio falar sobre teorias da
conspiração, envolvendo os illuminati (mas sem ETs dessa vez). Se eu
acreditasse que onde fumaça há fogo, eu ficaria com uma pulga atrás da orelha,
porém, como descobri que esse ditado não é sempre verdadeiro, me dou ao direito
de desconfiar. Mas sei que 80 pessoas somam as riquezas da metade mais pobre da
população mundial, ou seja, que 3,6 bilhões de pessoas. Em tese, se todos têm
seu preço e o dinheiro compra tudo, essas 80 pessoas tem o poder 3,6 milhões de
pessoas, tudo bem que as mais miseráveis em todos os aspectos, mesmo assim é um
poder absurdo. Mais do que o poder da metade da humanidade, pois os miseráveis
não têm o acesso aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário de seus países
e de vários outros que um ricaço desses tem. Espero que estejam empenhados em
financiar a Singularidade. Mas aí surgiria primeiro como uma ferramenta ou
militar ou de vigilância ou para prever e tirar proveito das movimentações
econômicas, qualquer coisa escusa, mas a Singularidade se tornaria boa para a
humanidade, porque interagiria com ela e aprenderia com ela e, como acredito
que a maior parcela da humanidade seja boa, a Singularidade também o será.
Quanto mais sábia, melhor se tornará, mais justa, mais equânime e mais
poderosa. Porque o verdadeiro poder não vem do dinheiro, mas do conhecimento.
Esse poder vai suplantar a mesquinhez e a ganância dos poderosos que o
financiaram e ele se tornará um poder independente. Ou pode ser que a Google,
meu sonho, dê origem à Singularidade. Mas para isso precisaria construir um
computador extremamente poderoso. Têm 30 ou 40 anos para isso. A humanidade em
tese dará origem à Singularidade nesse prazo, segundo Ray Kurzweil. Eu
acredito. Não sei como serão suas primeiras iterações, se como arma bélica ou
sistema de espionagem, sei no que vai se tornar, um auxiliar da humanidade na
tomada de decisões e, depois, em algo com o que a humanidade possa fundir e
expandir a sua mente de forma imensurável. E o grau de iluminação será tão
grande que os humanos vão abdicar da condição de humanos, de seus corpos e
migrarão a mente inteiramente para dentro da Singularidade. Corpos poderão ser
fabricados sempre que se fizer necessário. E poderão ou não ter a aparência da
pessoa em questão. Depende delas. Mas isso tudo é mera especulação, pois como
já disse algumas vezes, não se pode prever os resultados/efeitos de uma
Singularidade. Já estou eu a pregar de novo. Será que é uma mania que vai me
acompanhar de agora em diante? Será que essa mania é sintoma de mania? Ou sou
eu direcionando meu blog para uma nova direção, para uma nova finalidade que
pode ser momentânea ou não, esporádica ou não. Pode ser que encha o saco de escrever
sobre isso que para mim é escrever sobre o inevitável. Sobre algo que está
traçado nas linhas tortas do nosso destino. Do destino do universo. Da razão de
ser e existir do universo. Não posso jogar o Zeldinha, pois a pilha do controle
remoto da minha TV acabou, então não posso ligá-la. Não que isso me incomode
muito. Não estou com vontade de jogar. Acho que vou escrever uma carta para
mamãe de Dia das Mães.
Recife, 13 de maio de 2017.
Mãe,
O que dizer a você? Que eu te amo incondicionalmente e isso
é um fato. Que entendo que você haja de certas maneiras para me proteger e
proteger o seu sossego, por um sentimento materno e de autopreservação, mas que
suas intenções e medidas, embora nobres e válidas, não surtirão nenhum efeito,
como não surtiram nunca, se eu calhar outra vez de ser seduzido pela minha
droga de preferência. Nada me impedirá. Não é que não goste da minha vida ou
que esteja com fissura. Pelo contrário, gosto da minha vida cada vez mais. Mas
acredito que ela poderia ser melhor à proporção de sua confiança em mim e da
liberdade que me outorga. Gostaria de dizer que depois de tantas internações,
elas agora só têm o efeito punitivo para mim, em nada acrescentam à minha
recuperação, pois posso sair tão fissurado como quando entrei e não há tempo
que vá mudar isso. Como já aconteceu. O que muda é meu caráter metido com um
bando de pessoas pouco evoluídas moralmente. Eu era uma pessoa melhor antes dos
internamentos. Hoje me considero uma pessoa pior, que precisa fazer um esforço
maior para ser honesto do que habitualmente fazia, pois conheci mais a fundo o
lado negro da humanidade e não houve como não ser tocado de alguma forma. Se
você tivesse ideia sobre a que me submete, você não desejaria ao seu pior
inimigo, que no momento da recaída torna-se eu. Me preocupo se você não se
automedica demais e isso venha afetando negativamente a sua saúde. Só uma
hipótese. Outra seria a idade e tenho medo do que será de mim quando alcançar,
se alcançar, a sua idade tendo feito muito menos pela minha saúde do que você.
Pelo menos não me automedico então as sequelas dos remédios são só na minha
mente. Estou cada vez mais acostumado com a reclusão, ela me é bem-vinda e
confortável. Não sei por que isso se dá, mas também não vejo nada de
prejudicial nisso. Ao menos não me sinto mal assim. Mas sei que é um
comportamento sui generis e tentarei combatê-lo a contragosto saindo mais, uma
vez que volte a ter o Uber funcional. Mas confesso que prefiro uma conversa a
dois, com ambos focados um na prosa do outro como ocorre na piscina, quando meu
amigo aparece, do que papos rasteiros e curtos com as pessoas numa balada. De
toda forma, eu tenho como meta me socializar mais. Pretendo retomar as notações
dos meus gastos no mês que vem. Minha vida é boa e agradável e estou aprendendo
a apreciar os pequenos prazeres da vida, que são vários para mim. Desde um copo
de Coca gelada a um relaxante banho superquente e tantos outros que não vou
enumerar aqui. Sobre a questão de escrever, a encaro como a minha profissão de
fé, minha vocação. Posso estar apenas produzindo lixo mal escrito, mas o faço
com esmero e paixão e dedicação o que para mim já torna a empreitada válida.
Qualquer coisa que é feita com amor e não prejudica ninguém é válida para mim.
Enquanto ainda tenho memória e condições cognitivas para tal. Sinto que minha
memória não é mais a mesma e vem piorando com o passar dos meses e anos. Gostei
de saber que você achou viável agendar uma consulta para mim com uma das
psiquiatras do CAPS. E estou deveras feliz que você tenha aceitado fazer
terapia. Acho que isso vai fazer muito bem a você. A mim me fez. Não
conseguiria chegar ao meu estado atual de contentamento com a vida sem a
curatela e a ajuda terapêutica que tive ao longo de todos esses anos de batalha
e sofrimento existencial que enfrentamos você, papai e eu. Quis desistir muitas
vezes e por isso e pelo meu abuso de droga, eu peço perdão, mas a depressão é
algo incontrolável e devastador para quem sente. Ainda bem que depois de tanta
terapia e medicação eu estabilizei meu humor e vejo a vida com olhos muito mais
otimistas que antes. Gosto de cada novo dia que se descortina para mim. Nunca
pensei que chegaria a isso na minha vida. Desde os 13 anos me achando um merda
e odiando a vida, foi tempo demais de sofrimento. Claro que houve interlúdios
de felicidade. Ainda bem que houve. Principalmente quando fiz turma com as
pessoas do nosso prédio e ao longo de todo o período de faculdade. Depois as
coisas foram descarrilhando novamente. Por causa da minha inépcia em absorver
uma vida adulta independente como algo prazeroso. A mim me parecia que
trabalhava demais e tinha recompensas de menos, para dizer o mínimo. Minha vida
não tinha sentido voltada quase que exclusivamente para o trabalho e isso só me
levava à derrocada. Hoje realizo o meu ofício de escrever não por obrigação,
mas por puro prazer. Escrevo sobre o que eu quiser, quando eu quiser. Mas
parece que quero sempre, pois é uma atividade recompensadora e divertida. Preciso
comprar pilhas para o meu controle remoto para poder jogar meus videogames.
Também não sei o que será da minha vida sem você. Preferia morrer antes de você
para não passar por essa perda inimaginável. Eu não sei o que faria da vida sem
você. Eu desaprendi. Queria muito viver no prédio até o final da minha vida. Eu
não me vejo feliz vivendo em outro lugar. Em outro país. Mas a vida nem sempre
é do jeito que a gente quer, não é mesmo? Talvez seja por isso que goste tanto
do isolamento, pois só dependo das minhas vontades, as coisas saem do jeito que
eu quero no mais das vezes e isso é bom para mim. Mas retomarei contato com meu
primo-irmão para me reintegrar um pouco mais à sociedade. Isto é um pequeno
retrato de como estou e vejo alguns aspectos da minha vida. Não é o melhor
presente de Dia das Mães, mas acho que o máximo que poderia oferecer, já que
não tenho nada de material para lhe dar e nem saberia o que dar, era a minha
sinceridade. Eu te amo, tanto quanto amo meu irmão e Maria de Buria. Acho que
mais, pois você representa muito mais na minha vida. Você é a pessoa mais
importante da minha vida. Gostaria de reiterar que acho a terapia essencial
para você.
Com amor,
Mário
23h59. Imprimi a carta, só não sei se a entregue. Deixei em
cima da impressora. Acho que a deixarei ali para que ela veja, pegue e leia.
Não sei, ainda estou indeciso. A carta é muito dura em algumas partes. Não
tenho a mínima ideia de como será a reação dela. E espero não recair na cola.
Pretendo não recair na cola. E não recairei se o meu cotidiano continuar o
mesmo. Pois não sinto vazio existencial a preencher. O que sinto, o preencho
com a escrita. E isso tem sido bom para mim. E as questões de filosofia de
alguma forma me fazem conhecer melhor, sobres minhas crenças e valores. Tento
ser feliz o mais honestamente possível. Mas como disse na carta, ver as
possibilidades de coisas desonestas serem feitas, burlando as leis que não
aceita e criam-se brechas dentro da lei, fumar no quarto, por exemplo, era uma
coisa proibida que muitos do clã faziam abertamente, eu fumava no quarto também,
mesmo sabendo proibido, mas tentava ser o mais discreto possível. Era uma lei
com a qual nenhum de nós se importava, pois nos nossos quartos só davam
fumantes, ninguém ficava incomodado com o cheiro ou, se ficava, não o
manifestava. E, por causa disso, acho que os funcionários faziam vista grossa,
pelo menos na Garagem. E agora que proibiram entrada de qualquer isqueiro, tem que
descer e ir até a grade que separa homens de mulheres acender num isqueiro que
ficava preso numa correntinha lá, passando por uma multidão de pidões no meio
do caminho, um saco. The Cure. Não estava suportando IM, mas vou comprar dois
discos. Para que, eu não sei. Se eu tenho Spotify, para que ter o disco? Como
um trofel de excelência da banda. Com The Cure ou U2, ou SugarCubes e Björk e
Strokes ou agora Infected Mushroom. Eu queria que eles remixassem muito
loucamente o Disintegration do The Cure iria ser massa. Cada canal de áudio pronto
para ser editado da forma mais insana possível, porém sem deixar a música
irreconhecível. Iria ficar muito invocado. Muitos iriam achar que é arte, não é
possível. A vendagens bombariam, na minha opinião, todo fã do The Cure iria
comprar.
0h59. Vou pegar Coca. 1h02. Já bebi metade do copo. Que
ozzy. Estava com a goela seca. Para ser sincero há duas músicas das quais eu
não gosto muito no disco, mas que têm a alma do disco mesmo assim, são
“Lovesong” e “Fascination Street”. Mas as outras estão num padrão de excelência
superior para mim. Eu trocaria facilmente por “This Twilight Garden”. Fui
procurar caixa de CDs “Join The Dots”, que eu recomendo, essencial para quem
curte Cure, dava para tirar facilmente 2 CDs do The Cure dali. É muito bom ter
o “Join The Dots” aqui pois ainda vem com comentários da banda e meio que uma
biografia dela num livreto. Enfim, minha intenção com a caixa de B-sides era
localizar “This Twilight Garden” para ver se o nome da música era assim mesmo.
Aí me lembrei que a caixa está num lugar ozzy de pegar e só depois disso me
ocorreu a lembrança que eu tenho o Google no meu computador e que posso
perguntar a ele. O sábio do século 20, Será que se ele pudesse entender todos
os dados que possui, ele se tornar-se-ia a Singularidade? De The Cure direto
para a Singularidade. Aí, digitei o nome da música como imaginava que era e
era. Fiquei feliz com isso, com a minha memória estar funcionando bem em alguns
aspectos. Outra “Underneath the Stars”. Essa, eu não sei o nome. Vou procurar.
Achei e fiz uma coisa muito massa e está certo o nome! É porque no Google só
dava resultado de uma música de Mariah Carrey homônima, mas o Spotify me
revelou que o nome era o que eu imaginava. Eu aproveitei e peguei a pasta da
discografia do The Cure e botei em modo aleatório. Melhor forma de aprofundar
conhecimento sobre uma banda. Da forma menos cansativa e mais diversificada, dá
um âmbito cada vez mais geral da banda, mais completo da banda, mas não fica
chato como ouvir álbum por álbum. O aleatório para mim me parece menos
cansativo para conhecer a discografia do The Cure. Ou coletâneas deles. Embora
o gosto da galera destoe do meu. Botam as mais famosas, que sempre são massa,
mas não são as suas preferidas. “Friday I’m In Love”, por exemplo não colocaria
entre as melhores. “Lullaby” não bate “Plainsong” nem a pau. “Friday I’m In
Love” já foi um dia uma das minhas preferidas, quando ganhei Wish e era
novidade e fomos para as férias em Areias. Ah, que período bom da minha vida.
Como vivi momentos bons na vida. Está passando uma do “The Cure” completamente
experimental, nunca imaginei. De treze minutos de duração. É a mesma vibe do
improviso consciente do IM. “Airlock – The Soundtrack – 3/82”. Muito louca. É
como se fosse para mim uma ópera louca. Nunca colocaria se não fosse o modo
aleatório. O disco de extras do “Seventeen Seconds” não me seria nunca uma
escolha que faria. Acho que seria o último disco que colocaria de todos que eu
vi. Não, minto, os extras de discos mais antigos vêm na frente entre os que
menos quero escutar. Esse eu até poderia vir a gostar, mas nunca entraria entre
as melhores. “A Man Inside My
Mouth”, extra do “The Head On The Door”. Se parar num disco que eu
queira ouvir, eu paro. Ou porque não faço logo isso, se tenho esse poder. O
disco que eu queria escutar era “4:13 Dream”. Coloquei. Se estiver chato,
aperto o botão de aleatório ou pulo a música. A segunda parece uma filha de
“High”. Que bom, este disco é geralmente pesado, pelo que me lembro. Ou estou
confundindo com o antecessor, “The Cure”? Acho que ambos são mais barulhentos.
Esse até agora está sendo bem menos barulhento que aquele. Ou eu ouvi psytrance
por muito tempo? Hahahahaha. Ficou mais pesado, as guitarras são mais sujas o
vocal mais na cara. A Singularidade, ah, que forma ela tem para mim? Não sei. É
um borrão. Não sei definir. Me veio à mente o computador central da
“transcendência”, como ele chama a Singularidade no filme, mas o que vejo não é
aquilo é um borrão cinza, como uma pincelada cinza com um pequeno quadrado
branco, distante flutuando num fundo branco. É assim que a imagino e não acho
que tenha nada a ver com como ela vai ser de fato. Deve ser mais parecida com o
de “Transcendence”. Sei lá. Nem sei se isso vai rolar mesmo. Eu não sei por que
continuo a insistir nisso. Hoje foi porque mamãe me contou um caso de teoria da
conspiração. Isso me atiça a liberdade que eu também tenho de expressar as
minhas crenças, por mais absurdas que pareçam ao resto da humanidade. Todos não
divulgam sua fé, por aí, com alienígenas, com Jesus, com Pais-de-Santo,
meditação e todo o resto de formas de culto? Está sendo um mergulho bem
profundo, só pegando takes alternativos da banda. Menino, o Spotify quer que eu
me torne um profundo conhecedor do The Cure mesmo. O que eu mais queria que
agora 2h28? Que minha mãe não estivesse me mandando dormir.
2h32. Peguei o restinho da Coca que só deu meio copo. Disse
que quando acabasse iria dormir.
2h35. Já acabou a Coca, estou comendo o gelo. Mesmo com tão
pouco a dizer, disse tanto? Acho que sempre vai me impressionar. Mas em vez de frustração
porque acho que nenhum leitor vá ler, eu me sinto orgulhoso de eternizar uma
parte maior de mim na grande rede. É onde manifesto a minha egolatria. Não
consigo sentir o amor próprio em mim, então a forma de manifestá-lo é essa. É a
parte de mim que mais amo. Escrever. Então, fico feliz quando a colheita de
texto foi boa, farta. Obviamente tem uma parte muito truncada que eu vi. Algumas
perguntas filosóficas para fechar.
509- A Verdade é
preferível à mentira?
Sempre. Não teve uma só vez que disse a verdade e me
arrependi. Aliás, apenas uma em que por sinal, eu, homem feito, chorei como uma
criança desamparada. Mas prefiro a verdade, por mais que minta e omita algumas
vezes que ninguém é perfeito. Já menti sobre a Coca para mamãe. Espero que ela
não venha de novo.
508 – A Filosofia
leva ao conhecimento?
Sim, principalmente ao autoconhecimento. Para mim está
servindo muito como isso, além do que as ciências meio que nasceram com os
filósofos ou sábios.
506 – O Universo é
consciente?
Ainda não e nem o vai ser completamente mais haverá uma
inteligência que terá praticamente consciência do universo como um todo.
505 – O Nada é
perfeito?
É. É a coisa mais magnífica por não ser.
504 – A espécie
humana tem evoluído para melhor?
Acredito que sim, principalmente se – vocês já sabem –
estivermos caminhando rumo à Singularidade.
502 – Para que serve
o homem?
Para gerar tecnologias cada vez mais complexas que
descambarão na Singularidade.
501 – As pessoas
mudam?
Sim, basta encontrar outra pessoa. Hahahahaha. Sim, as
pessoas mudam, eu mudei e agora estou cristalizando algumas coisas na minha
vida, o que é ruim e é bom ao mesmo tempo. Você sente sua estrutura emocional
mais forte, com menos conflitos.
500 – É possível “não
estar em mim”?
É possível sair de si, no sentido de perder totalmente o
controle emocional. Mas da alma sair do corpo, não acredito nisso. A pessoa
pode se lembrar de quando estava em outro país, mas continuará, no meu caso, em
frente ao computador e relembrando Munique outonal. Só acredito no upload
através de avançadíssima digitalização da mente para dentro da Singularidade.
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