Não, os internos não participaram do evento, apenas “adictos
em recuperação” (são os termos utilizados para gente como eu) e seus parentes.
Havia cerca de vinte ou trinta pessoas. E, me parece que ao contrário das
outras vezes, a voz foi dada aos adictos e cada um contou um pouco (ou um
muito) sobre o seu estado atual e a trajetória até ficarem “limpos” (outro
jargão entre nós). Não houve nenhum momento de maior comoção que eu tenha
percebido, mas os parentes ficavam sempre felizes ao ouvir os depoimentos de
seus pares. Esta me pareceu a parte mais positiva do encontro, ver a esperança,
a confiança, retornando ao coração de pais, esposas e maridos. Minha mãe disse
que adorou o que falei, mesmo que eu tenha sido o de fala mais curta.
Para a surpresa de todos, a chefona do manicômio compareceu
à reunião e comandou o evento para o espanto e deleite de todos. Como foi minha
primeira reunião deste tipo, não me espantei com nada, pois tudo era novo para
mim. Quando interno ficava recluso e nunca via o que acontecia ou quem
participava. Aliás, por uma fresta de porta era possível olhar fragmentos da
reunião. E vi minha mãe (achei que era ela) um dia lá o que me deixou muito
feliz.
Depois houve uma troca de presentes num ligeiro amigo
secreto e os comes e bebes. Para fechar a noite todos deram-se as mãos e juntos
repetiram em uníssono uma versão adaptada da Oração da Serenidade do AA (Alcólicos Anônimos) e do NA (Narcóticos
Anônimos). A maioria dos usuários era adepta dos 12 Passos dessas instituições. Infelizmente eu não consegui por
causa da história do Poder Superior.
E eu não acredito nele. Simplesmente não acredito, então nunca passaria do Terceiro Passo.
Eu ganhei um chaveirinho com aquele olho que espanta mal
olhado. Minha mãe disse para eu guardá-lo para colocar minhas chaves quando ela
tiver confiança suficiente em mim para tal feito.
Em resumo foi isso. Ah, dentre os usuários em recuperação
que estavam lá havia dois que ficaram internos comigo: uma no manicômio (onde a
beijei de língua com piercing [o último beijo de língua que dei na vida, no ano
passado]) e um no albergue de drogados. Os dois pareciam muito melhores que nos
dias idos. Ainda bem. Taí uma coisa que me fez bem lá.
-X-X-X-
Nada a ver com o tema acima, mas não poderia deixar de
postar.
Veja o profeta, magnânimo, no La Greca (com camisa de Tio
Benito!): http://www.facebook.com/photo.php?fbid=297301333720679&set=a.297301110387368.70748.258750157575797&type=1&ref=nf
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