quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Natal no Manicômio





Não, os internos não participaram do evento, apenas “adictos em recuperação” (são os termos utilizados para gente como eu) e seus parentes. Havia cerca de vinte ou trinta pessoas. E, me parece que ao contrário das outras vezes, a voz foi dada aos adictos e cada um contou um pouco (ou um muito) sobre o seu estado atual e a trajetória até ficarem “limpos” (outro jargão entre nós). Não houve nenhum momento de maior comoção que eu tenha percebido, mas os parentes ficavam sempre felizes ao ouvir os depoimentos de seus pares. Esta me pareceu a parte mais positiva do encontro, ver a esperança, a confiança, retornando ao coração de pais, esposas e maridos. Minha mãe disse que adorou o que falei, mesmo que eu tenha sido o de fala mais curta.

Para a surpresa de todos, a chefona do manicômio compareceu à reunião e comandou o evento para o espanto e deleite de todos. Como foi minha primeira reunião deste tipo, não me espantei com nada, pois tudo era novo para mim. Quando interno ficava recluso e nunca via o que acontecia ou quem participava. Aliás, por uma fresta de porta era possível olhar fragmentos da reunião. E vi minha mãe (achei que era ela) um dia lá o que me deixou muito feliz.

Depois houve uma troca de presentes num ligeiro amigo secreto e os comes e bebes. Para fechar a noite todos deram-se as mãos e juntos repetiram em uníssono uma versão adaptada da Oração da Serenidade do AA (Alcólicos Anônimos) e do NA (Narcóticos Anônimos). A maioria dos usuários era adepta dos 12 Passos dessas instituições. Infelizmente eu não consegui por causa da história do Poder Superior. E eu não acredito nele. Simplesmente não acredito, então nunca passaria do Terceiro Passo.

Eu ganhei um chaveirinho com aquele olho que espanta mal olhado. Minha mãe disse para eu guardá-lo para colocar minhas chaves quando ela tiver confiança suficiente em mim para tal feito.

Em resumo foi isso. Ah, dentre os usuários em recuperação que estavam lá havia dois que ficaram internos comigo: uma no manicômio (onde a beijei de língua com piercing [o último beijo de língua que dei na vida, no ano passado]) e um no albergue de drogados. Os dois pareciam muito melhores que nos dias idos. Ainda bem. Taí uma coisa que me fez bem lá.

-X-X-X-

Nada a ver com o tema acima, mas não poderia deixar de postar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário