Desculpem-me os ilustres navegantes deste site por não ter
dado as caras ontem. O fato é que ontem, para um vagabundo, tive o dia cheio.
Pela manhã fui à minha psiquiatra para um atendimento rápido e frígido – como de
costume – onde ela reduziu as medicações e as pôs todas para a noite. O
Dalmadorm passou a ser “se necessário”, em caso de insônia. Eu não tenho
insônia só durmo tarde e acordo mais tarde ainda. Nova consulta em sessenta
dias. Pronto. Ah, pediu que eu arrumasse um(a) psicólogo(a), quando reafirmei
meu desejo de me tornar dependente do Imposto de Renda de mamãe. Depois fomos
fazer o exame das carótidas, achei as imagens bem interessantes, o fluxo do
sangue me pareceu muito mais caótico do que julgava ser. Até aí tudo bem,
minhas carótidas vertebrais e artérias dos membros inferiores estão todas na
limpeza. O problema se deu hoje e não diria que é um problema pequeno. Fui
fazer a Espirometria, aferição da capacidade pulmonar. Enquanto o normal é esta
capacidade ficar entre 80 e 100%, a minha ficou em 58,6%, abaixo de 50% eu vou
ter que andar com aqueles tubos de oxigênio e vou me cansar para fazer qualquer
coisa. O pior não é isso, é que eu nunca mais vou ter 80-100% de capacidade
pulmonar, o máximo que ela pode melhorar é 9,1% o que me deixa, se parar de
fumar agora, com mais ou menos 64% de capacidade pulmonar máxima, ou seja, meu
pulmão tá fodido por causa dentre outras coisas, mas principalmente, por causa
do cigarro. Já tem uma parcela grande dele que não funciona nem funcionará
mais. Imaginem que minha mãe estava na sala do médico ouvindo tudo. Tô fodido. Por
isso fica o aviso: NÃO FUMEM E SE FUMAM, DEIXEM DE FUMAR O MAIS RÁPIDO
POSSÍVEL, senão acabarão como o velho profeta aqui. 13h50. Vou fumar.
-X-X-X-
No mais saímos do médico do pulmão para ir fazer exames de
sangue. Porém, ironia das ironias, passei tempo em jejum demais então não pude
fazer os exames. Ficaram para as 6h30 da segunda, de onde seguirei para o Santa
Joana para fazer as 8h radiografia do tórax e ultrassom da tireoide e, se der,
do abdômen completo com Doppler colorido, o que quer que isso signifique. Preciso
até ligar para lá para marcar esse ultrassom do abdômen, pois foi passado
depois, pela minha psiquiatra. Vou fazer isso agora. 14h02.
-X-X-X-
14h56. Acabou que além de marcar (dia 21 de dezembro com
direito a laxante e luftal), fiquei conversando com Nice (que conseguiu uma sedas do meu primo para mim), tomando
quatro xícaras de café e fumado cinco cigarros. Assim não dá. Disse a ela que
ia me embora escrever senão acabava com a carteira toda. Meu Deus, se minha mãe
resolver parar de comprar cigarros o que vai ser de mim? Certamente ela vai
repartir o meu quadro com meu padrasto e ele – antitabagista e adepto de uma
vida supersaudável como é – vai querer fazer a cabeça da minha mãe para isso.
Estou muito ferrado. Já sei que a primeira medida da minha mãe vai ser, pelo
menos, cortar de duas para uma carteira ao dia, o que já vai me ferrar. Meu
Deus, Meu Deus, me ajude. Vou ter que
usar toda a minha lábia, falar do CAPS, de ir devagar com o andor, que
assim eu vou pirar... e acho que não vai dar em nada. Os números a
impressionaram bastante. Impressionaram até a mim, imagine ela. Ela que também
odeia cigarros e odeia principalmente que eu fume. Muita água vai rolar debaixo
desta ponte ainda. E tudo leva a crer que estas águas rolarão em direção a um
profeta ex-fumante. Mas não vai ser fácil, não. Espero que eles – minha mãe
abertamente e meu padrasto à boca miúda – não esperem resultados imediatos.
Drásticos. Eu tenho medo de, sem cigarros, voltar a sentir fissura de cola. O
que menos quero. Vamos ver. Fico imaginando o meu pai, que reação teria diante
do resultado desses exames? Acho que ficaria igualmente preocupado, mas não sei
se cortaria meu fornecimento de cigarros. Ele que dizia, se você quiser se
matar que se mate. Ele que bebia e que não queria que ninguém se metesse entre
ele e suas cervejas. E que morreu, acredito eu, em decorrência delas. Se me
arrependo de não tê-lo alertado para o consumo excessivo? Não. Ele era adulto,
tinha juízo e podia fazer o que quisesse da vida, posto que não fazia mal a
ninguém com seus porres, eram sua libertação de uma rotina que considerava
excruciante, de uma existência que considerava excruciante, em que julgava
carregar o mundo nas costas. Considero que eu e minhas recaídas tenhamos
contribuído para tornar sua existência ainda mais desgostosa. Mas considero
também que, de certa forma, eu era o seu grande e único amigo, com quem ele
realmente se abria enquanto abria as latinhas de cerveja e ia desfiando o seu
rosário de lamentações. Não havia máscaras, ele as tirava todas para mim. Eu
estava começando a fazer o mesmo, a época da sua morte. Isso é algo que me
deixa feliz, eu tentei me mostrar sem máscaras para ele também, tratá-lo como
um amigo, um igual e não como o ser supremo, mais inteligente do planeta que
tudo sabe com o poder de me tratar como um verme, me reduzir a pó (como tantas
vezes fez impiedosamente) enquanto eu engolia tudo calado por ele ser melhor
que eu em tudo. E acho que houve progresso nessa relação transparente nos meses
finais de sua vida. Ele passou a considerar minhas opiniões, nós passamos a ter
um diálogo em termos mais iguais e muitas vezes me senti como se conversasse
com um amigo numa mesa de bar. Chegamos a dar boas risadas, sempre com tiradas
inteligentes, pois nisso ambos éramos bons. Geralmente eram crueldades com a
humanidade ao nosso redor. Pequenas ou gigantescas ironias. Foi bom enquanto
durou. Pena ter durado tão pouco. Mas, voltando ao cigarro, acho que ele iria
se mexer também no intuito de eu diminuir senão parar de fumar. Não sei se de
forma impiedosa: não compro mais cigarros, não quero ver você morto. Ou de
forma mais branda: trabalhe isso com a psicóloga, eu compro os adesivos de
nicotina, você vai diminuindo aos poucos. Não sei e nunca saberei qual seria a
reação dele. É uma pena. 15h24. Vou encher o refil de Coca Zero e tomar um café
com cigarro. Rolando All Star com
Cássia Eller.
-X-X-X-
15h47. Acabei fumando dois cigarros. Ou foram três? Não sei,
só sei que a minha única alternativa é convencer minha mãe que a melhor
estratégia para mim é o desmame gradual. Passo de duas carteiras para uma
carteira e meia, depois só para uma, depois só para meia, depois vou tirando um
por mês até zerar. Isso tudo num intervalo de um ano. Se ela cortar de vez, eu
piro. Não dá nem pra conceber. E ela tem esse poder porque eu não ganho
dinheiro nenhum, não tenho um centavo sequer. Vixe, quero nem pensar. Meninos e
meninas não fumem ou parem de fumar antes de se viciarem. Sejam mais espertos
que o profeta aqui. Vocês vão ser igualmente lindos e atraentes e charmosos sem
fumar, a beleza está em vocês, não na porra de um cigarro. Eu, por exemplo,
fumo sem charme algum, por pura compulsão. Não caiam nessa. É dar uma de otário
tanto quanto fumar crack. O profeta é um grande otário que caiu nessa e agora
está nessa roubada, quase 40% do pulmão não servirá mais para nada, virou carne
morta, nunca mais vou ter o pique que tinha. Por favor reflitam sobre isso.
Pronto, agora vou mudar de assunto mesmo. Pelo menos, eu
acho que vou. Sabe-se lá onde minha cabeça com essa paranoia vai me levar. Fragile Tension, do Depeche Mode.
-X-X-X-
Acho que quando virar velhinho (algo que provavelmente não
vai acontecer porque vou morrer de enfisema pulmonar), vou ficar circulando em
volta da Católica sacando as gatinhas e achando minhas Clementines do dia. Que ideia
idiota. Eu tenho é que arrumar uma namorada. Minha própria e privativa
Clementine. Alguém para eu me dedicar e trocar carinho e experiências (desde que
não envolvam subir escadas ou exercícios físicos aeróbicos de alto impacto,
pois o que resta do pulmão pode não aguentar!). The Killing Moon, do Echo & The Bunnymen. Queria
ouvir essa música com alguém que amo. Queria ainda mais que a pessoa em questão
amasse também. Já pensou se ela fosse fã do Cure? Ou se tornasse fã do Cure por
minha causa. Não consegui isso com a Clementine com quem vivi. Também não ouvia
muito Cure. Ouvia mais o Cê de
Caetano e o First Impressions of Earth
dos Strokes. E o DVD de Fafá de Belém, por incrível que pareça (a gente achava
o bicho, tinha uma hora que ela vinha com uma roupa que parecia o Hipopocaré).
Para falar a verdade, nessa época a gente não ouvia muita música, não, pelo que
me lembro. Eu adorava quando Clementine cantava aquela música “Tu és divina e
graciosa, estátua majestosa do amor por Deus esculturada...” e outra, que era
uma cantiga de roda que agora me foge à memória. Bons tempos, excelentes tempos
aqueles. Obrigado Clementine. Você foi e é uma parte muito importante de mim.
Tanto quanto “a” Clementine. Só que de uma forma sadia. Não fora a cola (que
deve ter contribuído para a destruição dos meus alvéolos pulmonares), o que
poderia ter sido ou estar sendo de nós? Não sei. A vida – eu – não quis assim.
Me deixei dominar pelo paraíso onírico da cola até que você se cansou de ter
outra – a cola – mais importante em minha vida que você. Você foi mais do que
justa. Por isso não guardo rancores nem mágoas, só lembranças felizes. Se bem
que meu coração não é de guardar mágoas. É uma das (poucas) vantagens de ser
eu. Eu não guardo mágoas. Mas também não guardo muita coisa, minha memória é
uma merda...
-X-X-X-
16h14. Minha Tia está me ligando do Skype pedindo ajuda com
o Avast e o Flash Player e conversando. 16h47. Pronto acabamos, vou fumar com
um cafezinho.
-X-X-X-
17h11. Depois de duas xicarazonas de café (era o que
restava) e um copázio de Coca Zero repleto de gelo acompanhados, cada um, de um
cigarro, estou de volta. Café com cigarro. Coca completamente cheia de gelo com
cigarro. Por quanto tempo terei acesso a esses prazeres para mim tão preciosos?
Isso me preocupa profundamente. É parte intrínseca do meu cotidiano, do meu
ser, como Clementine. Por favor, Deus dos deuses, não os faça cortar o cigarro de
uma vez. Esse papo está me dando vontade de fumar mais um, mas preciso
economizar, minha mãe disse que iria demorar e eu já não tenho, obviamente,
tantos cigarros assim na carteira. Certo, tá bom, esse papo já encheu
definitivamente. Vamos passar para outro. Vou checar meus e-mails para ver se
alguém respondeu algo sobre Algo. E entrar no Facebook para ver se encontro meu
primo e descubro qual é a boa da noite. 17h18. Autotune Autoerótico, com Gal, rolando.
-X-X-X-
Ouxe, Deu que outra pessoa está acessando minha conta de
e-mail. Tentei recuperar e falhei duas vezes, então só poderei tentar novamente
em 24 horas. Será que isso é por causa dos e-mails loucos que mandei para
divulgar ou será a Clementine com quem vivi, que tem a senha, bisbilhotando? Muito
estranho... 17h36. Vou ver se pelo menos no Facebook eu posso entrar...
Sinistro... |
-X-X-X-
17h44. No Face eu consegui entrar e resolvi abolir meu alter
ego de lá, Boto de Gatas, decidi me assumir, quem quiser que me adicione como
Mário Barros. Pablito, amigo de duras quebradas já me adicionou e participará
do Desafio Escrito X – Fé. Vou preparar já seu espaço no post. Minha
amiga Xanda me fez pensar três vezes sobre a crítica que fiz ao Dia da ConsciênciaNegra. Me fez ver o quão ignorante sobre o assunto eu sou. Em vez de ler o
post, não perca seu tempo, por favor, vá direto aos comentários dela abaixo do
post. Perfeição, da Legião, rolando.
Nada mais apropriado.
Postei o texto de Pablito no Desafio Escrito (incrível como
ele produz rápido). Agora vou me dar ao luxo de um cigarro com Coca Zero.
18h03. 18h03? Como assim, já anoiteceu? Putz, nem percebi de novo. Vou lá.
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18h28. Fumei três dos oito cigarros que tinha. Estou com
cinco e minha mãe disse que vai demorar a chegar. A situação é, no mínimo,
periclitante. Vou escrever baboseiras aqui para ver se dá tempo de ela chegar.
Vi que Luís Fernando Veríssimo está na UTI. Isto é Ozzy, foi um dos caras que
mais li na vida. Espero que ele saia dessa. Seja só um susto. Estou na verdade
pensando em sexo. Minhas fantasias sexuais... queiram nem saber. Nem deixaria
que soubessem. São só minhas. Uso único e exclusivo. Brand New Star, do Little Joy. Acho que é a banda cujo nome mais se
reflete no som. É uma diversão descompromissada ouvi-la. Uma pequena alegria
literalmente. Vai ter Praia do La Greca este fds. Estou nessa, sem dúvida. É
domingo no Museu La Greca, a partir de umas 10h00 e vai até umas 22h00. Mas
quero é saber de hoje. Para onde irei hoje. Sem dúvida vou usar parte da grana
para comprar cigarros já com medo de alguma retaliação. E porque nunca dá mesmo,
a carteira que recebo à noite nunca é suficiente. Meu primo-irmão (ou seria
primo-guardião?) não entra no Facebook e o cel dele eu não tenho de cabeça,
está gravado na agenda do cel da minha mãe. Droga. Vontade de fumar da porra.
Já to vendo como a coisa vai ser. O sofrimento. Tô até a fim de tirar os resultados
de cima da mesa da sala para ver se mamãe esquece de mostrar ao meu padrasto. É
exatamente o que vou fazer agora!
18h41. Pronto, botei embaixo do laptop dela que é um local
onde ela colocaria, onde já colocou, mas fora do alcance direto dos olhos de
quem cruza a sala. É, estou noiado. Balançando a perna aqui de ansiedade. E, só
porque não posso, louco para fumar. Que Ozzy. Que Ozzy!!! Nem o Ozzy seria tão Ozzy
quanto isso. Porra, vou fumar, qualquer coisa, ligo para ela dizendo que vou
pegar minha carteira da noite no armário dela, porque o meu acabou etc. e tal.
Fumar. 18h44. Mas só vou fumar, no máximo, dois.
-X-X-X-
Eita, este post já está com cinco páginas, vou postar logo,
assim ganho alguns minutos.
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