terça-feira, 28 de março de 2017

GUARDO O MEU PAI NO ARMÁRIO

Recife, 25 de março de 2017.

Guardo as cinzas e os restos de osso carbonizados e triturados do meu pai num saco plástico no meu armário. Não é uma coisa que me agrada, mas também não é uma coisa que me incomoda como pensei primeiramente ser o caso. Acho que isso fala bastante da relação que eu tenho com cadáveres e com a morte. Para mim, quando a vida se vai do corpo, o corpo deixa de ser uma pessoa, vira carne em decomposição. Por mais que retenha o aspecto físico de quem animava o corpo, esta que é a parte essencial, que é a pessoa de fato, não está mais lá. Não guardo, entretanto, os restos mortais do meu pai no armário por escolha, ou alguma fixação mórbida, mas sim por força das circunstâncias. Aguardo a oportunidade de ir a Macau, terra natal dele, para jogar as cinzas na maré em frente à sua casa, por ser um desejo manifesto e reiterado seu de que seu corpo fosse jogado lá. Provavelmente só conseguirei levar a cabo este intento quando o meu irmão vier dos EUA nesse final de ano. Acredito que ele seja o único da família com sangue frio para realizar comigo o que para os demais membros da família parece ser uma missão funesta demais. Ou pelo menos é assim que percebo. Já eu vejo tal ato como uma reverência à lembrança do meu pai, a tudo o que ele significou e a tudo que Macau significou para ele. Entendo o seu desejo pois ouvia as suas histórias de nostalgia dos tempos de mocidade vividos lá e de como foram importantes tais tempos para a sua formação de caráter, para o bem ou para o mal. Mas acredito que mais para o bem. Descrevia os tempos em que lia histórias em quadrinhos à luz de candeeiro, ou das coleções de “cédulas” de carteiras de cigarro, ou do comércio informal de revistas que fazia em frente à loja do seu pai, meu avô (obviamente). Falava das madrugadas em que tinha que acordar às 4h30 para levar um copo de água com limão para vovô na loja, ou dos discursos e recitais que, cheio de vergonha, era obrigado a fazer para homenagear convidados ilustres de vovô. Ou dos solitários e meditativos momentos de paz nas demoradas pescarias que fazia na maré onde planejamos jogar as cinzas, momentos que ele tinha em alta conta, como muito preciosos em sua vida.

0h41. Mas fui dar uma olhada no Facebook e nas janelas abertas no browser como um todo e, para variar, perdi o fio da meada. Sei apenas que acredito que estejamos tomando a decisão adequada em relação ao destino a se dar ao que um dia foi meu pai. No mais, como fui dormir tarde, acordei igualmente tarde e emendei logo com compras com a minha mãe, que são verdadeiros momentos de tortura, pois ela nunca segue as listas de compras que elabora e precisa percorrer todos os corredores do supermercado e olhar tudo, pegando várias coisas que não estão na lista, aliás, a maioria das coisas que ela acaba levando não estão na lista, o que é bastante enfadonho para quem acompanha, ainda mais se for uma pessoa mais prática e objetiva como eu. Vi o som que queria comprar lá, a versão com menos Watts, mas quando o vendedor colocou o pen drive e começou a aumentar o som, achei bastante alto. Vamos ver como ele se sai com um CD meu. E se o Bluetooth funciona com o Spotify de mamãe. Mamãe ficou de voltar lá comigo amanhã. E comparar os preços com o do Hiper. Seria supermassa se no Hiper tivesse a versão com 440 Watts por um preço camarada. Achei o de 440 Watts pelo mesmo preço do de 220 no extra, só que só na modalidade “retirada em loja” sem entrega pelos Correios. Vi que o Walmart também tem o som e parece que o Walmart, segundo mamãe, tem uma política de preços de cobrir qualquer oferta da concorrência. Tanto é que já imprimi a página do site do Extra com o preço promocional para levarmos amanhã, se ela estiver mesmo disposta a fazer isso. Como não achei os CDs da coletânea do REM, levarei os da coletânea do Radiohead que apresentaram o mesmo problema no meu som, além da “Nona Sinfonia” de Beethoven, para ver como o som se comporta com ela.

2h33. Passei esse tempo todo pesquisando e viajando no som na internet. Mas só compro depois de testar o drive de CD. Vou dormir agora. Por mais que quisesse continuar escrevendo. Mas não sobre sons. Também não tenho muito o que dizer. Talvez voltar a falar da morte. Depois de perder meu tio-herói e meu pai eu meio que me empederni em relação a mortes, acho difícil outras me gerarem o mesmo impacto. Embora fique chocado em como a minha mãe esteja envelhecida tanto física quanto psicologicamente. A impressão que eu tenho é a de que ela não vá chegar à idade da minha avó. Não inteira como a minha avó está. Eu já acho a minha avó mais disposta fisicamente que a minha mãe hoje, que dirá daqui a 20 anos? Isso me preocupa. Perder minha mãe me preocupa, há um laço muito forte entre mim e ela. Um laço que eu acho que ela joga para me enlaçar e eu me permito ser preso nesse laço. Apesar de todo esse enlace emocional, não sei se me abalaria a morte dela. Acho que nenhuma morte me abala mais. Talvez a do meu irmão. É interessante que mamãe é de uma geração teoricamente mais saudável e preocupada com o corpo e que tem a disposição todo um aparato médico que meus avós não tiveram à época e mesmo assim ela me parece mais deficiente pela idade que sua própria mãe. Acompanhar a decadência física e mental da minha mãe é como viver um luto prévio. Acho que para ela, como para vovô, seu pai, a morte quando chegar vai ser um alívio, uma libertação, tanto para ela e quanto para os que a cercam. Esse tipo de perda é o mais fácil de lidar. Bem mais fácil que uma morte inesperada, como foi o caso do meu pai. A hora mais difícil para mim, no caso do funeral do meu pai, foi o enterro. Ele ficou no “andar” mais baixo do jazigo triplo que meu tio tem no Morada da Paz e o fechamento da cova foi bem demorado e, para mim, claustrofóbico. O que selou para mim qualquer possibilidade de vida naquele corpo que parecia dormir. Outra coisa que me causou extrema impressão foi ver uma formiga caminhando desenvoltamente pelo seu rosto, coisa que qualquer pessoa viva meteria a mão para tirar, por causa do incômodo das perninhas cutucando a pele da face, mas ele, morto, cadáver, nada fazia e a formiga caminhava livremente pela sua fronte. Foi outra confirmação de aquilo ali dentro do caixão não era meu pai. Minha estratégia em funerais é não ficar olhando muito para o caixão, para que a ilusão de que a pessoa está apenas dormindo não crie pernas e braços na minha cabeça. Se bem que depois de observar quatro corpos de pessoas queridas em menos de dez anos, eu meio que me acostumei com a perda oriunda da morte. Novamente, se fosse a morte do meu irmão e talvez da minha mãe – a depender das circunstâncias – eu me emocionasse. Graças aos céus, acredito que meu irmão vá depois de mim, é mais jovem e não abusa nem nunca abusou do corpo dele, embora abuse da mente, o que também é danoso, mas meu padrasto abusa de sua mente e está aí inteiríssimo. Talvez eu é que tenha hipersensibilidade ao estresse – e esse é um dos sintomas da minha condição de bipolar, eu acho –, mas não suportaria a carga de pressão que meu irmão e meu padrasto e até minha irmã incidem sobre si próprios. Mas o pior de todos acho que é o meu irmão, pois ele não descarrega o estresse em ninguém, ele o acumula não sei onde nem de que forma. Eu me estresso facilmente hoje em dia, alguma coisa fez com que meus nervos ficassem mais à flor da pele com o passar dos anos. Acho que meu isolamento na minha bolha que é minha zona de conforto e o fato de ela ser raramente perturbada, torna qualquer saída dela um momento de estresse e moderada angústia. A vontade que tenho é a de gritar “me deixem em paz! Façam isso por mim”. Mas esse é um pedido egoísta e que me empurra mais fundo para o meu isolamento. Se por acaso minha mãe morrer e eu ficar sob guarda do meu irmão, acho que não sairei mais do porão de sua casa, onde será o meu provável quarto. Lá onde ele mora, tudo é longe e tudo se faz de carro. Não tenho paciência para passeios com os meus sobrinhos, que acho que é a principal razão de saída para a minha cunhada durante a semana. Não terei amigos, será um tédio infinito. Embora ache Munique mais aprazível, pois tudo é perto e a tudo se vai de transporte público, lá, provavelmente, eu acabaria viciado em heroína e meu destino seria ainda mais trágico. Mas preciso dormir. 3h19. Amanhã continuo mais um post sem pé nem cabeça.

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16h50. Minha mãe foi descansar, mas já confirmou que vai ver o som no Carrefour e no Hiper comigo hoje. Deveria estar mais excitado com isso, mas confesso que não estou nem um pouco. Separei os CDs da “Nona Sinfonia”, da coletânea do Radiohead (visto que não encontrei a coletânea do REM) e o de Sandy, que ficava pulando no meu som atual. Com esses três acho que terei uma ideia abrangente da qualidade do toca-CDs do aparelho e da qualidade de som. Fora isso, testar o Spotify de mamãe no Bluetooth.

17h00. Não estou com saco nenhum de ir. Acho que em parte isso se dê porque o CD do U2 que venho ouvindo cotidiana e repetidamente não pula. Mas a maior parte é simples e pura preguiça. Acordei agora há pouco. Almocei, o que me dá preguiça e sono, e o banho foi morno, logo, relaxante e não estimulante como um banho gelado. Odeio banhos gelados, embora seja uma questão de costume. Já morei em dois apartamentos que só dispunham de banho gelado e me acostumei com o incômodo choque térmico e por vezes, quando vinha andando e o verão estava a pino, até achava o efeito de uma prazerosa refrescância. Tive de tomar recentemente um banho gelado aqui em casa, especificamente quando fui me aprontar para ir à CiBrew com o meu primo e o gás do prédio ainda não havia sido religado (nosso sistema de aquecimento de água é um boiler a gás).

17h30. Passei o endereço do meu blog para a ex do meu amigo e o primeiro post que aparece é justamente o da ida a CiBrew que relata o meu encontro com ela. Não sei o que achou e se leu. Acabei de perguntar. Não sei se ela me responderá mais, caso tenha lido. Há uma grande probabilidade de não fazê-lo. Muitas vezes assusto as mulheres por meu coração pular etapas. Acho que é o que vai se dar aqui. Mas eu sou do tipo que ladra e não morde. Puxei papo com uma amiga, a que eu achei que estava meio que dando bola de leve para o meu lado no dia da CiBrew, mas não estamos falando de nada relacionado a afeto. Não quero entrar nessa seara. Nem quero que saiba que pensei isso dela, pois devo estar redondamente enganado. E essa minha percepção distorcida, se descoberta por ela, pode causar um clima chato entre nós.

18h00. Mamãe já acordou e fala ao telefone. Acho que não demora agora para a ida ao Carrefour. Se bem que ela precisa se arrumar e não vai fazer isso enquanto o meu padrasto ainda dorme, acredito. Estou com mania de dar longos suspiros quando algo me desagrada, isso é muito chato para quem está interagindo comigo. E o pior é que é um cacoete meio automático. Acabei de dar um longo suspiro ao pensar nessa hipotética ida aos dois supermercados. Espero que estejam menos lotados que ontem, mas tenho as minhas dúvidas. Não conheço do comportamento de manada em relação a supermercados do recifense. Só sei que quando recebem dinheiro é quando geralmente vão. Só quero ir no Hiper por causa da promessa de cobrir qualquer preço da concorrência e ter o som de 440 W que encontrei por 650 reias na internet. Apenas 50 reais a mais que o som que de 220 W no Carrefour. Seria uma baita barganha se isso se desse. Por isso, vale a investida no Hiper. Só por isso. Pode ser que nem tenha esse som lá. Espero que sejamos práticos e objetivos nessa saída.

18h27. Fui pegar Coca e descobri que mamãe estava falando com o meu irmão, ela me obrigou a falar com ele, mesmo não havendo nada de novo a acrescentar de ambos os lados. Tanto é que nos falamos por dez, quinze segundos, no máximo. Constatamos a falta de assunto, rimos disso, e foi esta a nossa conversa. Não estou com disposição para escrever. Mamãe ligou para vovó e acabou agora, 18h35, a ligação. Meu padrasto acordou. Acho que vamos nos preparar para levantar velas rumo aos supermercados. Provavelmente acabarei ficando com o som do Carrefour, seria uma pequena loteria achar o som de 400 W no Hiper e aceitarem o desconto bastante substancial da oferta que imprimi da internet. É pagar para ver. Só espero que mamãe não vá ver outras coisas nos supermercados. O Vaporfi já está com gosto de queimado. Em breve terei de substituir mais um atomizer. Espero que não pegue outro defeituoso. É de abismar como o meu padrasto fala de forma autoritária, ríspida, alta e professoral, mesmo coisas bestas. É como se estivesse em sala de aula o tempo inteiro. Salvo raras exceções, esse é o seu tom cotidiano de comunicação. Talvez ele dissuada minha mãe de ir em busca do som. 18h48. Se os supermercados fecharem mesmo às 20h hoje, o tempo começa a ficar exíguo. Agora que estou com a minha alma preparada para ir, só falta a coisa toda dar para trás. Não tenho cara de pressionar a minha mãe. Ainda mais ela estando sob tutela do meu padrasto. 18h55. Uma hora até as lojas fecharem, segundo estimativa de mamãe. Como meu ânimo mudou e estou com vontade de ir em busca do som, começa a me enervar que minha mãe, sob comando do meu padrasto, esteja vendo televisão e que o tempo esteja escasseando para realizar nosso intento sonoro hoje.

19h14. Pesquisei na internet e descobri que tanto o Hiper quanto o Carrefour fecham às 22h hoje. Espero que esta informação esteja correta. Vou esperar até meu celular carregar 100% e perguntar se mamãe vai. Ele está em 83% da carga. Creio que em mais 20 minutos chegue aos 100%.  Eita post chato. Mais um que não vou divulgar nas redes sociais. Se bem que tem todo aquele papo sobre morte que acho que vale esse post. Pode ser também que consiga comprar o som, o que daria um desfecho positivo a essa parte chata da postagem. Vou pegar Coca porque necessito e para dar uma pressãozinha em mamãe com a minha presença.

19h22. Funcionou. Ela se sentiu pressionada e disse que eu esperasse um pouco que já-já ela vai.

19h50. Passei de mais uma fase do Yoshi e minha mãe nada. Daqui a pouco o tempo vai ficar curto até para as 22h.

22h32. Som de 400 W devidamente comprado e instalado e passando, via Bluetooth, o “Sim” de Sandy do Spotify de mamãe. Estou muito impressionado com a qualidade do som do aparelho. Em comparação com o antigo, este tem um som mais nítido e com mais profundidade, mais rico de forma geral, mesmo que não esteja alto. Foi bom tem comprado um som mais potente, pois eu acho que as caixas, mesmo tocando baixo, tem melhor resolução. Pode ser só impressão, coisa da minha cabeça, mas acho que há um pouco de verdade nisso. Nunca tive um som tão potente na minha vida e, para mim, é uma verdadeira revolução. Meu padrasto não quer dar o braço a torcer mas acho que o CD tem mais nitidez que o Spotify, pelo menos na velocidade de conexão que eu ouvi. Não sei se mp3 pode se equiparar a qualidade de um CD, talvez sim, mas eu percebi uma certa diferença e não sou lá esse prodígio em audição. Não era uma diferença gritante, só achei o som do CD mais limpo e nítido. Em uma palavra, estou muito feliz com a aquisição. É interessante as diferenças de comportamento dos públicos de Sandy, ao menos. O show que ouço agora, gravado em Niterói, até onde sei, tem um público que acompanha muito mais com palmas do que o público de Recife fez aqui, mesmo a pedido da cantora. O de Recife, entretanto foi muito mais efusivo nos aplausos após cada canção e ao identificar qual música iria ser cantada. Só uma curiosidade inútil. Com um som tão bom – para as minhas condições financeiras – é um bom momento para se estar vivo. Sei que é uma felicidade material e consumista, mas ouvir músicas com mais qualidade e mais potência é um deleite para mim. Seria uma pena ter que voltar ao meu padrão antigo. Por falar nisso, tenho que testar o CD de Caetano nesse som para ver se ele não pula, mesmo estando relativamente arranhado. No som da loja não pulou em nenhum momento. Não espero nada de diferente no meu. Mas vou aproveitar que estou com o celular da minha mãe para ouvir Sandy e Nirvana, e seguirei me utilizando de seu celular enquanto não tiver oportunidade de comprar os respectivos CDs. Mas acho que chega de música. A ex do meu amigo disse que quando tivesse acesso a um computador leria o meu blog. Enquanto não o fizer não postarei nada. Afinal quero que ela leia o primeiro post que aparece, pois trata justamente, em parte significativa, dela. Quero saber como reage a minha visão de sua pessoa, tanto estética quanto emocional. Esta última certamente gerará ruído na nossa relação. Talvez a invalidando, inclusive. 23h11. Tenho que começar a pensar em parar a minha farra literário-musical e ir dormir, pois amanhã tenho CAPS, com grupo AD logo no primeiro horário, aliás, no segundo. O som só tem dois poréns: é muito grande e muito feio. Mais feio do que grande, mesmo assim é bem maior que o anterior, que, por comparação, tinha ou tem, já que não cessou de existir, 150 W. Penso em colocá-lo no brechó para venda. Minha vontade maior era dá-lo a alguém que não tem som. Pensei na Gatinha. Se bem que acho que, como eu, ela só teria raiva com o som. Ah, e ela tem Spotify e uma caixa Bluetooth. Está bem servida de música. Não precisa de um som “normal”. Pensei também e primeiramente nas empregadas aqui de casa, mas perdi a antena AM/FM do som. Um som com toca-CD defeituoso e sem antena AM/FM é praticamente um som inútil. A parte mais útil é a entrada de Audio In para que a pessoa possa plugar um celular, ou outro dispositivo com saída para headphones e tocar músicas a partir dele. Bom, não sei o que fazer com o som. Acho que vai para o brechó mesmo. O gelo da geladeira está acabando. A garrafa de Coca também. A garota que quero que leia o blog com quem encontrei e falei pouco, disse que detestava refrigerante e que fazia muito mal. Mal sabe ela que é uma compensação minha por não estar bebendo nada alcoólico. E também que sou viciado na “água negra do imperialismo”, como meu pai costumava chamar a Coca-Cola. Dos males o menor. Melhor a Coca-Cola que a coca ou a cola. Por mais que nunca tenha tido problemas com o primeiro, só usei três vezes na vida e não senti nada de relevante. A cola, por outro lado, já me levou a um estado de alteração mental que considero “o nirvana”, quando senti que eu e o universo éramos uma coisa só. Foi um dos momentos de maior prazer e iluminação da minha vida. Então não posso menosprezar o poder e o papel que a cola tem na minha vida. E que, se bebo Coca e não uso cola, estou num lucro absurdo. A cola é muito mais danosa que qualquer refrigerante. Isso sem mencionar o crack, que é a desgraça em forma de droga. Ainda bem que com o crack eu só pus um pé do outro lado da linha que separa o uso recreativo do vício. Se tivesse entrado com os dois pés, certamente estaria numa situação muito pior e não teria dúvidas sobre que destino dar ao som antigo: trocar por pedras. Ainda bem que não entrei nessa. Meu mergulho não foi de cabeça, por mais que tenha insistido na história. Mas a vontade de usar só me dá quando bebo algo alcoólico. Álcool sem dúvida me puxa para o crack. Novamente entre Coca e crack, fico com a primeira, sem pestanejar. Crack é a droga mais sem futuro que já experimentei. Só dá fissura e a necessidade pungente de saciar a fissura. Eu já dava um “tiro” pensando no próximo. Coisa horrível, devastadora. E muito cara. 23h58. Começou Nirvana. “In Utero”. A mensagem que eu capto do disco é uma só: fuck the system. Estou com sono, acho que são os remédios, mas é só eu deitar na cama que começo num levanta e deita muito chato. Vou pegar mais Coca. 0h03.

0h09. Não me controlei e comi quatro pedacinhos do Suflair que comprei ontem para mim. Adoro a sensação táctil na língua das bolinhas de ar. Sei que em tese estou comprando ar por preço de chocolate mais esta sensação deliciosa compensa. Percebo também que os meus dentes estão mais sensíveis a coisas doces. Eles ficaram e ainda estão meio doloridos depois de comer o chocolate. Talvez seja a Coca corroendo minha arcada dentária. Não duvido. Pode ser a idade também. Pode não ser nada disso. Sei lá. E não intendo descobrir. 0h17. Fui checar o Facebook para ver se já havia resposta da figura sobre o meu blog, mas até agora nada. Acho que ela vai cortar relações comigo. Nada de surpreendente nisso, mas não deixa de ser desagradável. Não gosto de climas ruins. Mas que estímulo estava eu querendo criar repartindo o texto com ela? Eu bem sei o que queria criar, mas já o sabia inviável. Acho que inconscientemente quis destruir a relação. Sei lá, de novo. Minha cabeça é tão complicada. Conscientemente, eu gostaria de construir uma relação, mas agora nem sei mais se quero. Fique muito encantado com a sua presença na CiBrew, mesmo assim não acredito que ela seja alguém que vá se encantar por mim. Ainda bem que a minha fantasia com ela é muito embrionária, então fácil de ser extirpada. Não será uma grande frustração se ela decidir que não devamos mais nos falar pelo Facebook ou por qualquer outro meio. 0h27. Não estou inspirado para escrever. Não adianta ficar falando da garota, isso não mudará nada. O que mudará é minha postura, muito embora não saiba que postura tomar. Ora, claro que sei! Eu tenho que tomar apenas a postura de amigo. Bom, vou digitar um pouco dos diários. 0h49. Já?! Não. Então vou acabar de tomar o copo de Coca e ir me deitar. Coloquei o disco de Caetano, “Livro”, que está meio arranhado para ver se não pula e estou impressionado como consigo ouvir com clareza todos os instrumentos e perceber a riqueza dos arranjos do disco. E já está na terceira música e nenhuma pulo. Acho que vou dormir ouvindo o disco. Segundo li, o som se desliga após 20 minutos sem utilização. O meu antigo som também tinha essa função. Parece que nesse ela pode ser desativada, mas não quero fazer isso. Prefiro que fique ativa. Incrível a diferença de um som para o outro. Nunca ouvi esse disco com tamanha clareza e profundidade de som, e eu já ouvi bastante, diga-se de passagem. Este é realmente um dia feliz para ser eu. Amanhã vou testar o disco de Mallu Magalhães, o “Pitanga”, que é cheio de barulhinhos também. E “Blackstar”! Há tantos a serem degustados no novo som que nem sei. 1h00. Hora de ir para a caminha. Vou ligar logo o ar para esfriar a cama. O som do ar atrapalha um pouco a audição das músicas. Que pena. Amanhã tenho que digitar os diários sem falta. Quero acabar logo para mandar revisar e publicar na Amazon para Kindle. Uma grande pena que o aplicativo da Amazon que converte para formato Kindle não pegue no Windows 10. Tenho que me confiar em outros aplicativos e sites da internet. Bem, preciso digitar primeiro e organizar os textos em um só arquivo, criar um sumário com hyperlinks para cada dia de cada diário. Vai dar um trabalhão. Mas é a obra que tenho para publicar. É isso. Dou por terminado este post. Mas só o publicarei depois da resposta da garota. Talvez acrescente aqui sua percepção sobre o texto. Ou os textos. Não sei se lerá mais de um (o que acho difícil). 1h25. Vou me deitar. Fumar, tomar o restinho da Coca e voltar para o perrengue que é tentar dormir tendo acordado de 15h. Mas fui dormir de mais de 3h. E ainda tenho que revisar essa porcaria toda. Pelo menos farei isso ouvindo música num som decente. Hahahaha.

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12h58. Voltei do CAPS. Como estou num bom astral, muito por causa do meu som novo, a composição do cartão postal e o texto no primeiro grupo foram alegres e leves (ainda mais tendo como inspiração a música “Felicidade” de Marcelo Jeneci). O postal saiu assim:





Depois fomos convidados a escolher duas ou três palavras dentre inúmeras recortadas. Escolhi “acreditar”, “consistente” e “diferente”. E o texto que elaborei baseado no postal e nas palavras foi o seguinte:

“Felicidade independe de classe social. É mais uma questão de postura, de acreditar que a vida é boa e merece ser vivida. A felicidade é diferente de pessoa para pessoa e embora a felicidade não esteja presente todos os dias e a todas as horas, para quem enxerga o lado bom da vida, ela é bastante consistente.”

No grupo AD, mencionei o episódio frustrante do brownie e ia falar do som, mas ainda bem que não falei, fui interrompido e minha fala, porque uma das minhas companheiras de grupo havia gastado o que não podia com bebida e outra estava pagando como promessa, da quaresma, se não me engano, de não comprar nada, pois tem compulsão por compras, então falar da aquisição de um item que não é barato pegaria supermal dentro desses contextos, na minha opinião. Eu ficaria muito embaraçado de contar sobre o som e depois ouvir esses dois depoimentos. Dei sorte de ter sido interrompido. Espero que a maré de bons acontecimentos ou pelo menos a ausência de acontecimentos maus, persevere por mais algum tempo. Por falar em bons e maus acontecimentos, a garota, ex do meu amigo, não respondeu sobre o post, logo não leu, nem sei se lerá. Serei otimista e aceitar de forma positiva qualquer que seja o resultado desse ímpeto meu de repartir o texto com ela. O deadline para ela ler será hoje. Pronto está dado. Amanhã publico esse post.

Estou ouvindo “Livro” de Caetano de novo, um pouco mais alto, pois agora é de manhã, e percebo ainda mais a riqueza dos arranjos. Com limpidez fantástica. Ih, já deu o primeiro pulo no CD. Será que estou amaldiçoado ou o CD está muito arranhado? De qualquer forma, não trocaria esse som, que acho que tem bons graves (nos quais posso ainda posso dar um boost apertando botão “bass blast”), mas não sinto necessidade disso. Quando acabar este disco. Vou ouvir do U2 e depois provavelmente o de Mallu. Mas acho que já falei isso lá em cima.

Acho que posso falar um pouco de morte, visto que foi o tópico que iniciou esse post. Não senti praticamente nada no funeral do meu avô, o mais recente de todos. O médico nos preparou muito bem para a iminente perda. Então a morte não veio como surpresa. Nem tão dolorosa, pois já estava velho e com Alzheimer relativamente avançado. Não tanto quanto o da minha avó paterna, mas estava quase alheio a tudo. Quase. Minha avó, por seu lado, estava totalmente alheia à realidade e sua morte também não me trouxe nenhum sentimento significativo, a não ser que foi um alívio para ela e principalmente para as minhas tias que cuidavam dela. O funeral de vovó foi, no entanto, mais marcante que o de vovô, pois passei a noite toda acordado “velando” o corpo para não deixá-lo só, apenas ficaram lá, o irmão dela e sua esposa, um frágil e disposto casal de idosos, e meu tio mais novo (entre os vivos), que mora em Macau, além de mim. Não estava com sono e achei que podia fazer esse esforço para acompanhar os resistentes e com meu tio impor uma presença masculina que afastasse qualquer engraçadinho de roubar qualquer coisa lá do local. Foi uma aventura interessante e me fez descobrir que o verso dos Titãs, “as flores têm cheiro de morte”, é muito verdadeiro, pois passar a noite inteira junto a um cadáver sentido o triste perfume das flores cria uma relação macabra com o odor. O disco do U2 não apresenta diferença do que ouvia no outro som, pois todos os instrumentos são muito “na cara”, não há muita sutileza, é como se tudo fosse equalizado no máximo. Embora tenha percebido barulhinhos agora numa das músicas que nunca tinha ouvido. Acho que este post já está gigantesco demais. Vou parar por aqui e revisá-lo. E começar outro. Aliás, digitar os diários, como havia me prometido à noite.


19h44. Digitei dois dias dos diários. Me dou por satisfeito por hoje. Vou começar outro post. A única coisa que posso acrescentar aqui é se a garota responder o que achou do post. E se nada comentar, nada mais comentarei dela, acho que não faz sentido. Aliás, vou dar uma pausa na escrita para desopilar. Jogar um Yoshi.

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