quarta-feira, 15 de março de 2017

A GATINHA VEM ME VISITAR

Recife, 14 de março de 2017.

A Gatinha vem hoje para conversarmos. Ela disse que precisa desanuviar a cabeça. Que queria alguém das antigas para fazer isso e, para minha honra e orgulho, me escolheu. Ela deve sair do trabalho umas 17h, 17h30. São 16h34. Quando der 17h vou tomar banho para me arrumar. Queria muito ir na Cultura, mas acho que nem a Gatinha, nem minha mãe irão querer. Tudo bem, já estou meio conformado com isso. De qualquer forma vai ser bom hoje. Encontrar a Gatinha sempre é bom. Acho que faz bem a ambos. Vamos ver o que ela vai achar do meu cabelo. Estou curioso. 16h44. Mais 16 minutos para o banho. Realmente não tenho muito a dizer. Minha noite seria perfeita se fôssemos na Cultura e eu comprasse os CDs de Sandy e o do Nirvana. Depois podíamos dar um rolé no Recife Antigo e tomar umas Cocas e, se ela quiser, umas cervejas por lá. Estou me tornando disléxico, estou engolindo palavras, talvez seja porque os pensamentos vêm aos borbotões na minha cabeça fantasiando essa ida ao Antigo. Mas acho que é uma mudança radical de planos para a Gatinha, que já deve ter bem cristalizado que iremos ao barzinho aqui perto de casa. E ela já está estressada. Uma mudança de planos só a estressaria mais, eu creio. De qualquer forma sugerirei. 16h53. Sete minutos. Acho que vou botar a camisa do Sai Dessa Noia hoje. Preciso botar uma camisa branca por causa da caspa. Queria saber como me livrar da caspa se os xampus anticaspa não funcionam. Ou não os estou usando corretamente. 16h57. Três minutos. Essa pressão de tempo me lembra à Publicidade. Não gosto. 16h59. Vou tomar banho logo.

17h32. Tomei banho, me aprontei e até agora nenhum contato da Gatinha. Ela deve estar largando do trabalho por volta desse horário. Falei com mamãe da minha ideia de ir na Cultura comprar os CDs e ela foi contra. A pirangagem chegou ali e ficou. Por mais que a pensão seja minha. Isso me deixou razoavelmente frustrado. Ela disse que eu posso ouvir do celular dela pelo Spotfy. Ligado a uma caixa JBL porradona que meu padrasto a deu de presente. É uma solução, mas sou um velho dinossauro que gosta de ter a mídia física, o CD, não sou tão dinossauro a ponto de comprar vinis, como o nosso amigo fã de música e de cerveja – que encontramos na Cibrew – que investe em vinis, a preços exorbitantes, porque acha que os graves e a “profundidade” do som são maiores na velha-nova mídia. Não tenho ouvido tão afinado para perceber isso. Ou é um luxo que não experimentei e, nesse caso, a ignorância é realmente uma bênção. Para o meu bolso. Por falar em música coloquei “Blackstar” de Bowie para ouvir. A Gatinha ligou já de dentro do Uber e está a caminho. Disse que chegaria dentro de 40 minutos. Talvez antes, mas a hora do rush em Recife é infernal. 17h50. Não vou nem ligar o Yoshi, pois não vou ter tempo para passar de fase. Incrível como esse disco de Bowie me lembra o período em que escrevia no blog de bonecos. Uma coisa ficou bem ligada à outra. E toda vez que ouço, me dá vontade de voltar a escrever sobre bonecos. Por falar nisso, tenho que fazer umas alterações no dito blog pois algumas informações estão desatualizadas. 18h02. Fiz uma das alterações. A Gatinha deve estar chegando. Tenho que parar de carregar o meu celular sem ele ter descarregado por completo. Isso vai ferrar a bateria dele. Obviamente minha mãe falou do Spotfy, mas, como ela não desgruda do celular, não terei oportunidade de ouvir as músicas de Sandy, só se for depois que ela for dormir. O pior que não sei nem usar Spotfy. Mas deixa para lá, um dia compro o CD, se me aprouver. Meu repertório de palavras está muito limitado. Aí só com mais leitura eu poderia resolver isso. Mas talvez começasse a usar termos que não são cotidianos aos possíveis leitores e eles ficassem sem entender. 18h11 e nada da Gatinha.

21h59. A Gatinha acabou de partir. Ela está paranoica com a violência. Mas acho que toda mulher deve estar. Conversamos bastante. Ela falando mais e eu ouvindo, afinal o intuito da vinda para cá era que ela descomprimisse um pouco a panela de pressão que estava a sua cuca. Espero ter ajudado. Ela afirmou que estava mais tranquila quando estava partindo. Espero que estivesse sendo sincera. De toda forma, disse a ela que, se achasse que fosse surtar mesmo, tomasse o remédio que tomava em momentos de crise. Sou contra automedicação, mas a grana dela é contada e não sei se ela teria como pagar uma psiquiatra. E ela foi aconselhada a tomar o remédio sempre que sentisse os sintomas tomando conta da sua alma. Não, ela não é doida como eu, mas já teve uma crise de pânico e obviamente não quer ter outra, por isso a aconselhei a tomar o remédio se sentir que o bicho está pegando. É, eu confio muito nos remédios, para ser sincero, eu deposito a minha sanidade na conta deles. Não sei – e nem quero descobrir – se conseguiria manter o relativo equilíbrio agora que estou aposentado e sem maiores estresses. Talvez até conseguisse, mas o temor de voltar ao inferno é mais forte do que a vontade de fazer o experimento de me privar dos remédios. Acredito também que os remédios produzem efeitos colaterais no meu cérebro, principalmente no que condiz à memória. Tento me enganar, talvez, dizendo que foram os eletrochoques que destruíram minha memória, mas o fato é que faz anos que me submeti a tais procedimentos e me esqueço de coisas do presente e passado recente, que nada têm a ver com os eletrochoques. Talvez seja um mal de família que se manifesta já em mim, visto que Alzheimer é um mal que ataca ambos os braços da minha família, então a probabilidade é grande, como acho que é grande a possibilidade de que a ciência ache uma cura para a doença antes que essa me ponha completamente demente. Mas não quero falar de mau agouros aqui. Eu e a Gatinha arriscamos ir no bar do caranguejo que costumávamos ir com a amiga dela, mas ela já ficou reticente, com razão, porque havia dois carros da polícia estacionados praticamente em frente ao bar com as luzes ligadas, o que para ela sugeriu logo que uma ocorrência havia acontecido no local. Chegamos lá e o garçom disse que nada havia se passado, entretanto o bar estava vazio. Esses dois fatores a puseram bastante desconfortável com o lugar e ela tomou apenas um caldinho enquanto eu bebia duas Cocas e retornamos para o prédio, onde passamos a maior parte do nosso encontro. Estava havendo a reunião de condomínio e aproveitei para escrever um bilhete para o síndico requerendo a geladeira da piscina de volta. Gostaria muito de ser atendido. Acho que à medida que o tempo passa eu passo a escrever de forma mais rebuscada. Não sei se isso é uma coisa boa ou ruim. Certamente é uma coisa mais chata para o leitor (que nem sei se há). Mas é uma coisa meio incontrolável e ocorre naturalmente, não me esforço para isso, as construções se me apresentam dessa forma e eu apenas as descrevo. Estou ouvindo “How to Desmantle an Atomic Bomb” do U2. Ouvi esse disco numa fase relativamente má da minha vida, sofrendo de depressão. E o disco me lembra o jogo “Halo” que joguei no PC do meu falecido pai, quando morava com ele. Jogo muito bom, muito divertido e que, no parco conhecimento de FPS que tinha à época, considerei inovador. Isso me lembra que tenho Half-Life 2 para jogar aqui e esse é um jogo que quero sinceramente jogar. Mais do que “Assassin’s Creed IV” ou qualquer outro da Nintendo. Acho que quando e se zerar o Yoshi, eu mergulhe nele. Este, mais do que “Halo”, foi considerado um jogo altamente inovador à época, quase 20 anos atrás. Era um boneco que gostaria de ter, o do protagonista de Half-Life, mas hoje acho que é edição esgotada e deve custar uma nota. Então, não o terei. Tenho um robozinho da 3A que faz uma homenagem ao jogo e está de bom tamanho. É uma homenagem sutil, só os entendidos em games a captarão, mas não importa, eu entendo e foi por esta razão que comprei o bonequinho do robô em primeiro lugar. O disco acabou. Vou ver se acho "No Line On The Horizon” também do U2. É um disco mais estranho do U2, com muitos coros do próprios integrantes e me deu curiosidade e vontade de ouvi-lo agora para descobrir minha percepção do disco atualmente. Difícil é achar. 22h55. Não achei. Botei outro que há muito tempo não ouço: “Songs Of Faith And Devotion” do Depeche Mode. Me espantei que o disco seja de 1993, 24 anos atrás. O tempo realmente voa. Meu deus, estou ficando realmente velho. Comprei quando tinha 16 anos. Namorava V ou I. Namorava, enfim. Coisa que há muito não faço. Namorei com a ficante que me pegou há um ou dois anos durante duas noites em que fui um desastre sexual. Eu satisfiz a minha parte, que era ter uma relação afetiva, com conversa e troca de carinhos, abraços, beijos, mas não satisfiz a parte dela que era ter um orgasmo. Shame on me. Boto estas expressões em Inglês porque elas me vêm mais fáceis e mais adequadas do que qualquer coisa que conjurasse em Português, eis a verdade. Mas pode me achar pernóstico também, não me importo. Como digo lá abaixo do título do blog, “aqui eu posso tudo”. Bem, quase tudo. Ainda há uma autocensura que me impede de me expor por completo, mas acho o retrato já deveras transparente. Mais do que isso seria pedir para ser crucificado, pois há recônditos da alma que não devem ser revelados por prudência e por autopreservação. Se bem que, se um dia publicar os diários, toda a verdade sobre mim vai ser posta às claras. Como duvido que tal evento aconteça, por enquanto estou seguro. Mas seguirei digitando o diário. Por sinal, acho que vou fazê-lo agora. Um pouco. Até a meia-noite ou uma da manhã. Se não encher o saco antes. Está tocando uma música que não me lembrava do disco. Não é das melhores, mas também não é ruim. Ela me é vagamente familiar, mas só vagamente. É quase uma música nova do Depeche Mode para mim. Interessante. Vou lá digitar o diário. Quem sabe não volte aqui para expor mais alguma coisa quando me encher da digitação?


0h21. Acabei de digitar o dia em que estava e comecei a digitar o comecinho do novo dia. Mas estou achando o texto um saco. Muita repetição. Coloquei – pasme – Maurício Manieri para tocar. A fome do remédio caiu matando e comi um pratázio de paçoca com feijão verde com muita manteiga do sertão. Ainda comi uns cinco Bono de morango. Estou sonado. Vou fechar o computador e ficar só fumando e tomando Coca.

P.S.: A Gatinha nada falou sobre o meu cabelo. Falou do dela. Hahahahaha.

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