quinta-feira, 9 de março de 2017

BLOGANDO DO CAPS III E PENSAMENTOS DESCONEXOS

Fiquei tanto tempo lá fora fumando que perdi a hora do grupo, que já começou e ao qual não estava com a mínima vontade de ir. Estou na minha ilha portátil: iPod e celular. Vi X de relance hoje, partindo para a UFPE, segundo ela. Não me pareceu intrigada comigo, talvez porque não tenha lido, talvez porque tenha lido e não tenha lhe causado impacto maior, talvez por nossa interação ter sido tão rápida. Não adianta criar hipóteses, tem que haver uma conversa para poder aferir. Mas se fosse apostar, diria que ela não leu. Nem sei se lerá, especialmente daqui para sexta. Uma das psicólogas de maior escalão veio me perguntar por que não havia entrado nos grupos. Pelo menos foi o que deduzi de sua presença ao meu lado, pois não a ouvi devido ao iPod. De qualquer forma, respondi que estava escrevendo o meu blog e aparentemente ela achou uma atividade válida e me deixou estar. Mesmo assim me sinto desconfortável em estar fora do grupo, mas já são 9:50, muito tarde para entrar, pois as pessoas já receberam os comandos para a atividade e já devem estar executando as produções. Não consigo ver direito daqui. Pessoas da Casa Girassol estão aqui hoje. A Casa Girassol abriga pessoas com distúrbios mais "alienantes", digamos assim, que os daqui da Casa Jasmim. Estou escrevendo mais para passar o tempo do que por qualquer necessidade real de dizer algo. Mas, se fosse dizer algo, diria que o meu astral está melhor hoje em comparação com ontem, se bem que só de imaginar que vou voltar pra casa, para a minha ilha de fato, me causa angústia. Talvez comece a assistir Sherlock, como me foi sugerido por X, para que o tempo passe mais rápido. Talvez assista "Doutor Estranho" primeiro, pois é com o mesmo ator que protagoniza Sherlock, para que eu não ficar pensando "olha o Sherlock fazendo o Doutor Estranho", o que certamente aconteceria se assistisse na ordem inversa. Estragaria um pouco o filme se o visse assim. Por isso o filme primeiro, depois o seriado. De preferência em 3D na TV da sala com a minha mãe. Vamos ver se rola, senão vejo 2D no meu quarto mesmo. Ou até arrisque o meu 3D passivo, quem sabe. Decidirei quando voltar para casa, o que ainda vai demorar bastante, graças. Para ser sincero ainda me sinto incomodado em estar no mundo de forma geral, até aqui no CAPS. Isso não é lá muito divertido, essa sensação de peixe fora d'água, de não pertencimento. Vou fumar um cigarro. 10:17.

Conversei com uma estagiária (que tem grande potencial para se tornar uma excelente psicóloga) sobre a sensação de pertencimento e discorremos até sobre coisas como o meu desconforto/apreensão em relação ao sexo. Ela me perguntou se eu estava fazendo terapia individual e disse-lhe que não, que a terapia que eu fazia eram as conversas particulares que eu tinha aqui com as psicólogas e psicólogos aqui no CAPS, o que lhe causou certo espanto. Ela deixou claro que acha que eu tenho impreterivelmente que fazer terapia.

12:23. Fiz um grupo de técnicas de desenho que muito me lembrou o curso de pintura traumático do qual participei há alguns anos e que me fez tão mal que desde então nunca mais pintei ou desenhei nada que não fosse para grupos terapêuticos. Resultado: não participarei nunca mais desse grupo. Não me faz bem, então não há razão em insistir em algo que me gera desconforto. Pode ser que X esteja aqui nesses dias e possa me acolher. Senão, uso do expediente do blog. Qualquer coisa que não bordado ou técnicas de desenho. Para minha sorte, parece que o grupo de bordado está lotado e eu tenho uma desculpa válida para não participar do de desenho. Não que não queira participar de grupos, aliás, quer dizer exatamente isso. Prefiro conversar com uma psicóloga do que participar de grupos. Às vezes participo, pois há grupos com os quais me identifico. Afora os grupos AD, digo, aos quais religiosamente compareço. Não posso, entretanto, nas quartas só participar do grupo AD e passar a manhã inteira sem ir a grupo. Terei que participar de algum dos primeiros grupos e decididamente não participar dos segundos.

Um colega AD está cantando aqui no meu pé de ouvido e fica difícil me concentrar para escrever. Ele canta a plenos pulmões. Fica chato eu sair daqui, fica parecendo desfeita. É dessa diplomacia social que venho perdendo o traquejo. Ou a paciência. De qualquer maneira, é algo socialmente negativo para mim. Tenho que ter mais tolerância social, saber que convívio é também ceder.

19h23. Esperando mamãe ver o episódio de “Vikings” para assistir “Doctor Strange” 3D lá na sala. Fui tomado por um grande mal-estar emocional quando cheguei ao meu quarto depois do CAPS, acho que até para fugir dele, dormi. Agora já não o sinto, já me aclimatei de novo à minha realidade. Não posso sentir angústia da minha ilha, senão o que farei da vida? Esta questão me incomoda, mas acredito que seja um mal passageiro.

21h37. Acabei de ver “Doctor Strange”. Estou impressionado quão tarde já é. O que acho bom, menos tempo acordado. Ainda não me livrei da pequena deprê dos últimos dias. Agora estou pronto para ver “Sherlock”, mas não estou animado para isso. Estou mais animado para jogar a terceira fase do Yoshi, mas também não tão animado a ponto de fazê-lo. Estou é com calor. Vou ligar o ar. Amanhã vou explorar a nossa querida faxineira em mais uma missão especial: abrir a caixa do Wolverine para ver se ele veio todo ok, nada quebrado, para que eu possa comunicar à galera que fez o boneco que recebi a minha estátua sã e salva. Amanhã também cortarei meu cabelo e apararei a barba. Me arrependi ou mudei de ideia sobre a opinião que tinha de X em relação ao estágio. Tanto que cortei esta parte do texto. Pois é, existe uma certa autocensura aqui no Jornal do Profeta. Eu fui praticamente insultuoso no meu julgamento e não gosto se fazer críticas sem fundamento concreto, portanto, resolvi cortar a parte em questão. Estou com fome. Não comi nada pela manhã e, durante todo o dia comi apenas duas fatias de bolo de chocolate e uma caneca de sopa. Ah, e um copo de leite logo que acordei. Não estou nem um pouco inspirado para escrever. Não tenho obrigação nenhuma de fazê-lo todos os dias. Tenho que fazer quando e se me der vontade. Morro de medo de perder a vontade de escrever, pois iria aí metade da minha vida – ou mais do que isso – embora e não saberia como preencher esse vazio. 22h12. O que gostaria de fazer? Eu que tenho a dádiva do tempo livre por não ter emprego? Será que em vez do Yoshi, eu recomeçasse a jogar “The Wind Waker HD” eu seria mais feliz? Não sei e não o farei. Comecei o Yoshi tenho que zerá-lo. Eis aí o cerne da questão: encarar os games como obrigação, não como diversão. Isso rouba deles sua própria natureza. Eu deveria jogar o que estou a fim de jogar. E o que estou mais inclinado a jogar é “Assassin’s Creed IV Black Flag”, mas mesmo assim não muito. Deve ser um jogo imenso – como “Wind Waker” é – e não sei se teria paciência de explorá-lo todo. O que eu adoro fazer. Ou adorava. Explorar cada recôndito do mundo virtual em que estou imerso. Posso assistir outro filme. Não, isso também não. O negócio então é continuar aqui conversando água. Não quero digitar o diário tampouco. Não quero fazer nada. Se tivesse um botão para chorar eu o apertaria. Mas tirando filmes, poucas coisas me fazem chorar. Ou mais nenhuma. Um desamor já me fez chorar muito.  Não sei se me faria de novo. A couraça endurece. Não sei nem o que estou escrevendo. Fui pegar Coca. Estou perdido em pensamentos. Vou botar “Debut” de Björk para rolar. Queria assistir o DVD do acústico MTV dela, mas o meu Blu-Ray player está desconectado, o Wii U tomou o seu lugar. E não vou fazer toda essa troca agora. O PS3 toca Blu-Rays e DVDs, mas quando pus o do DVD do U2, ele ficou pulando e não tocou todas as faixas. Não sei, não quero assistir pelo PS3. Estou chato hoje. Não quero nada. Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Se leitora há, obrigado por existir. Para um ser humano macho como eu, um ser humano fêmea é a criação mais maravilhosa do universo, a mais bela manifestação da existência. Por razões poético-fisiológicas. Hahahahaha. Essa foi a pior homenagem à mulher que já vi. Eu mereço! Hahahahahaha. Ainda bem que escrevi esta besteira, pelo menos levantou o meu astral. Me declaro oficialmente como o detentor da pior homenagem ao Dia Internacional da Mulher de todos os tempos e de todos os povos. Hahahahahaha. Preciso reler Fernando Pessoa para assimilar um pouco de sua poesia. Gosto muito das poesias filosóficas dele, quando discorre sobre a natureza do ser. Mas isso não tem nada a ver com o Dia da Mulher. Aliás este texto não tem nada a ver com nada. Perdoem-me, não estou no meu dia mais inspirado. Ser e ter consciência de ser é uma manifestação muito sui generis do universo. Muitas vezes renego essa propriedade em mim, julgando ser mais feliz o passarinho que pouca noção tem de que é, muito embora eu ache que alguma noção deva ter, senão não procuraria sua segurança levantando vôo quando algo ameaçador como um humano se aproxima. Hoje estou meio complicado do juízo. Imagina se tivesse fumado unzinho. Hahahahaha. Aí seria o ápice do nonsense. Pelo menos esta besteirada toda está me divertindo. Nem parece que sou eu quem está escrevendo. Não vejo nexo nenhum no que escrevo. “Eu me sinto mole como uma luva” isto é uma frase de “Like Someone In Love” de Björk. Achei a frase uma graça e superimprovável de fazer parte de uma canção de amor e, mesmo assim, superpertinente. Eu amo Björk. Ela tem um papel grande na minha vida, mal sabe ela. Como deve se dar com várias pessoas ao redor do mundo. Robert Smith é outro que me é preciosíssimo, eu não seria o mesmo se não houvesse The Cure no mundo. O cigarro faz parte da minha vida, mas não acho que me defina ou acrescente algo ao meu ser. É um companheiro, não resta dúvida. Um grande companheiro, seja eletrônico ou normal, não consigo viver sem ele, mas em não havendo cigarros no mundo isso não afetaria a minha personalidade de forma tão definitiva quanto Renato Russo ou Chico Buarque. Mesmo assim, longe de mim um mundo sem cigarros! Eu acho que se de uma hora para outra todos os cigarros desaparecessem da face da Terra eu passaria por péssimos bocados. Por bastante tempo. Acredito que nunca me recuperaria totalmente de sua abstinência. Acredito que, no futuro, possa haver um plebiscito mundial sobre o banimento do cigarro e que esse possa realmente ser banido da humanidade. Mas, do fundo do meu coração, espero que isso não aconteça. Se acontecer, o cigarro será comercializado ilegalmente. Como o álcool na época da máfia nos EUA. Acho que rolou isso, mas não tenho certeza. Pode ser que esteja falando asneira aqui. Não tem problema. Eu só falo isso mesmo. Principalmente hoje, que parece que perdi mais um parafuso da minha caixola. É a falta de e a vontade de escrever. Escrevendo mais no automático que o normal, acho eu. A minha cabeça não está boa. Como disse, espero que isso melhore daqui para o final de semana. Estou com medo. Medo de entrar em depressão. De não me recuperar. Mas vou. Ainda bem que não sofro as agruras do luto. Talvez as sofra com a perda da minha mãe. Há tantas pessoas que eu amo ainda vivas. Isso é ótimo. O que é ruim é que muitas delas podem partir antes de mim. E causar dor. Não queria cair em luto profundo. Um luto que leva a depressão profunda. Não queria isso para mim, como vejo e já vi uma outra vez acontecer com duas usuárias do CAPS que perderam suas mães. 23h23. Coloquei o disco para tocar uma vez mais. Estou considerando sinceramente ir para o show de Sandy, dia 17 no Teatro Guararapes. Preciso comprar logo o meu ingresso. Quero ficar o mais perto possível do palco, embora ache o preço para lá de extorsivo. Mas a pensão serve também para o curatelado ter acesso a diversão e cultura. Uma vez na vida. Nunca mais fui a um show. Em teatro, sentado. O último que fui foi justamente o de Sandy há mais de cinco anos atrás. Meu pai ainda era vivo. Morreu no dia seguinte, se não me engano. Não é lá a melhor correlação, mas acho que não farei esse paralelo se for ao novo show. Quero também comprar os CDs novos. Mas isso acho que só conseguirei fazer depois do show. Quero vê-la bem de perto, por isso tenho que me apressar. Vou ver com mamãe se compro amanhã. Depois de cortar o cabelo. 23h53. Não sei mais o que escrever. Quantas vezes digo isso e sigo escrevendo? É essa mania de me desobedecer. Mas desta vez parece que estou vazio mesmo. Não gosto dessa sensação de vacuidade de conteúdo. Me incomoda. Acho que vou dormir quando o CD de Björk acabar. Já é quase meia-noite. 

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