Fiquei tanto tempo lá fora fumando que perdi a hora do
grupo, que já começou e ao qual não estava com a mínima vontade de ir. Estou na
minha ilha portátil: iPod e celular. Vi X de relance hoje, partindo para a
UFPE, segundo ela. Não me pareceu intrigada comigo, talvez porque não tenha
lido, talvez porque tenha lido e não tenha lhe causado impacto maior, talvez
por nossa interação ter sido tão rápida. Não adianta criar hipóteses, tem que
haver uma conversa para poder aferir. Mas se fosse apostar, diria que ela não
leu. Nem sei se lerá, especialmente daqui para sexta. Uma das psicólogas de
maior escalão veio me perguntar por que não havia entrado nos grupos. Pelo
menos foi o que deduzi de sua presença ao meu lado, pois não a ouvi devido ao
iPod. De qualquer forma, respondi que estava escrevendo o meu blog e
aparentemente ela achou uma atividade válida e me deixou estar. Mesmo assim me
sinto desconfortável em estar fora do grupo, mas já são 9:50, muito tarde para
entrar, pois as pessoas já receberam os comandos para a atividade e já devem
estar executando as produções. Não consigo ver direito daqui. Pessoas da Casa
Girassol estão aqui hoje. A Casa Girassol abriga pessoas com distúrbios mais
"alienantes", digamos assim, que os daqui da Casa Jasmim. Estou
escrevendo mais para passar o tempo do que por qualquer necessidade real de
dizer algo. Mas, se fosse dizer algo, diria que o meu astral está melhor hoje
em comparação com ontem, se bem que só de imaginar que vou voltar pra casa,
para a minha ilha de fato, me causa angústia. Talvez comece a assistir
Sherlock, como me foi sugerido por X, para que o tempo passe mais rápido.
Talvez assista "Doutor Estranho" primeiro, pois é com o mesmo ator
que protagoniza Sherlock, para que eu não ficar pensando "olha o Sherlock
fazendo o Doutor Estranho", o que certamente aconteceria se assistisse na
ordem inversa. Estragaria um pouco o filme se o visse assim. Por isso o filme
primeiro, depois o seriado. De preferência em 3D na TV da sala com a minha mãe.
Vamos ver se rola, senão vejo 2D no meu quarto mesmo. Ou até arrisque o meu 3D
passivo, quem sabe. Decidirei quando voltar para casa, o que ainda vai demorar
bastante, graças. Para ser sincero ainda me sinto incomodado em estar no mundo
de forma geral, até aqui no CAPS. Isso não é lá muito divertido, essa sensação
de peixe fora d'água, de não pertencimento. Vou fumar um cigarro. 10:17.
Conversei com uma estagiária (que tem grande potencial para
se tornar uma excelente psicóloga) sobre a sensação de pertencimento e
discorremos até sobre coisas como o meu desconforto/apreensão em relação ao
sexo. Ela me perguntou se eu estava fazendo terapia individual e disse-lhe que
não, que a terapia que eu fazia eram as conversas particulares que eu tinha
aqui com as psicólogas e psicólogos aqui no CAPS, o que lhe causou certo
espanto. Ela deixou claro que acha que eu tenho impreterivelmente que fazer
terapia.
12:23. Fiz um grupo de técnicas de desenho que muito me
lembrou o curso de pintura traumático do qual participei há alguns anos e que
me fez tão mal que desde então nunca mais pintei ou desenhei nada que não fosse
para grupos terapêuticos. Resultado: não participarei nunca mais desse grupo.
Não me faz bem, então não há razão em insistir em algo que me gera desconforto.
Pode ser que X esteja aqui nesses dias e possa me acolher. Senão, uso do
expediente do blog. Qualquer coisa que não bordado ou técnicas de desenho. Para
minha sorte, parece que o grupo de bordado está lotado e eu tenho uma desculpa
válida para não participar do de desenho. Não que não queira participar de
grupos, aliás, quer dizer exatamente isso. Prefiro conversar com uma psicóloga
do que participar de grupos. Às vezes participo, pois há grupos com os quais me
identifico. Afora os grupos AD, digo, aos quais religiosamente compareço. Não
posso, entretanto, nas quartas só participar do grupo AD e passar a manhã
inteira sem ir a grupo. Terei que participar de algum dos primeiros grupos e
decididamente não participar dos segundos.
Um colega AD está cantando aqui no meu pé de ouvido e fica
difícil me concentrar para escrever. Ele canta a plenos pulmões. Fica chato eu
sair daqui, fica parecendo desfeita. É dessa diplomacia social que venho
perdendo o traquejo. Ou a paciência. De qualquer maneira, é algo socialmente
negativo para mim. Tenho que ter mais tolerância social, saber que convívio é
também ceder.
19h23. Esperando mamãe ver o episódio de “Vikings” para
assistir “Doctor Strange” 3D lá na sala. Fui tomado por um grande mal-estar
emocional quando cheguei ao meu quarto depois do CAPS, acho que até para fugir
dele, dormi. Agora já não o sinto, já me aclimatei de novo à minha realidade.
Não posso sentir angústia da minha ilha, senão o que farei da vida? Esta
questão me incomoda, mas acredito que seja um mal passageiro.
21h37. Acabei de ver “Doctor Strange”. Estou impressionado
quão tarde já é. O que acho bom, menos tempo acordado. Ainda não me livrei da
pequena deprê dos últimos dias. Agora estou pronto para ver “Sherlock”, mas não
estou animado para isso. Estou mais animado para jogar a terceira fase do
Yoshi, mas também não tão animado a ponto de fazê-lo. Estou é com calor. Vou
ligar o ar. Amanhã vou explorar a nossa querida faxineira em mais uma missão
especial: abrir a caixa do Wolverine para ver se ele veio todo ok, nada
quebrado, para que eu possa comunicar à galera que fez o boneco que recebi a
minha estátua sã e salva. Amanhã também cortarei meu cabelo e apararei a barba.
Me arrependi ou mudei de ideia sobre a opinião que tinha de X em relação ao
estágio. Tanto que cortei esta parte do texto. Pois é, existe uma certa
autocensura aqui no Jornal do Profeta. Eu fui praticamente insultuoso no meu
julgamento e não gosto se fazer críticas sem fundamento concreto, portanto,
resolvi cortar a parte em questão. Estou com fome. Não comi nada pela manhã e,
durante todo o dia comi apenas duas fatias de bolo de chocolate e uma caneca de
sopa. Ah, e um copo de leite logo que acordei. Não estou nem um pouco inspirado
para escrever. Não tenho obrigação nenhuma de fazê-lo todos os dias. Tenho que
fazer quando e se me der vontade. Morro de medo de perder a vontade de escrever,
pois iria aí metade da minha vida – ou mais do que isso – embora e não saberia
como preencher esse vazio. 22h12. O que gostaria de fazer? Eu que tenho a
dádiva do tempo livre por não ter emprego? Será que em vez do Yoshi, eu
recomeçasse a jogar “The Wind Waker HD” eu seria mais feliz? Não sei e não o
farei. Comecei o Yoshi tenho que zerá-lo. Eis aí o cerne da questão: encarar os
games como obrigação, não como diversão. Isso rouba deles sua própria natureza.
Eu deveria jogar o que estou a fim de jogar. E o que estou mais inclinado a
jogar é “Assassin’s Creed IV Black Flag”, mas mesmo assim não muito. Deve ser
um jogo imenso – como “Wind Waker” é – e não sei se teria paciência de
explorá-lo todo. O que eu adoro fazer. Ou adorava. Explorar cada recôndito do
mundo virtual em que estou imerso. Posso assistir outro filme. Não, isso também
não. O negócio então é continuar aqui conversando água. Não quero digitar o
diário tampouco. Não quero fazer nada. Se tivesse um botão para chorar eu o
apertaria. Mas tirando filmes, poucas coisas me fazem chorar. Ou mais nenhuma.
Um desamor já me fez chorar muito. Não
sei se me faria de novo. A couraça endurece. Não sei nem o que estou
escrevendo. Fui pegar Coca. Estou perdido em pensamentos. Vou botar “Debut” de
Björk para rolar. Queria assistir o DVD do acústico MTV dela, mas o meu Blu-Ray
player está desconectado, o Wii U tomou o seu lugar. E não vou fazer toda essa
troca agora. O PS3 toca Blu-Rays e DVDs, mas quando pus o do DVD do U2, ele
ficou pulando e não tocou todas as faixas. Não sei, não quero assistir pelo
PS3. Estou chato hoje. Não quero nada. Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Se
leitora há, obrigado por existir. Para um ser humano macho como eu, um ser
humano fêmea é a criação mais maravilhosa do universo, a mais bela manifestação
da existência. Por razões poético-fisiológicas. Hahahahaha. Essa foi a pior
homenagem à mulher que já vi. Eu mereço! Hahahahahaha. Ainda bem que escrevi
esta besteira, pelo menos levantou o meu astral. Me declaro oficialmente como o
detentor da pior homenagem ao Dia Internacional da Mulher de todos os tempos e
de todos os povos. Hahahahahaha. Preciso reler Fernando Pessoa para assimilar
um pouco de sua poesia. Gosto muito das poesias filosóficas dele, quando
discorre sobre a natureza do ser. Mas isso não tem nada a ver com o Dia da Mulher.
Aliás este texto não tem nada a ver com nada. Perdoem-me, não estou no meu dia
mais inspirado. Ser e ter consciência de ser é uma manifestação muito sui
generis do universo. Muitas vezes renego essa propriedade em mim, julgando ser
mais feliz o passarinho que pouca noção tem de que é, muito embora eu ache que
alguma noção deva ter, senão não procuraria sua segurança levantando vôo quando
algo ameaçador como um humano se aproxima. Hoje estou meio complicado do juízo.
Imagina se tivesse fumado unzinho. Hahahahaha. Aí seria o ápice do nonsense.
Pelo menos esta besteirada toda está me divertindo. Nem parece que sou eu quem
está escrevendo. Não vejo nexo nenhum no que escrevo. “Eu me sinto mole como
uma luva” isto é uma frase de “Like Someone In Love” de Björk. Achei a frase
uma graça e superimprovável de fazer parte de uma canção de amor e, mesmo
assim, superpertinente. Eu amo Björk. Ela tem um papel grande na minha vida,
mal sabe ela. Como deve se dar com várias pessoas ao redor do mundo. Robert
Smith é outro que me é preciosíssimo, eu não seria o mesmo se não houvesse The
Cure no mundo. O cigarro faz parte da minha vida, mas não acho que me defina ou
acrescente algo ao meu ser. É um companheiro, não resta dúvida. Um grande
companheiro, seja eletrônico ou normal, não consigo viver sem ele, mas em não
havendo cigarros no mundo isso não afetaria a minha personalidade de forma tão
definitiva quanto Renato Russo ou Chico Buarque. Mesmo assim, longe de mim um
mundo sem cigarros! Eu acho que se de uma hora para outra todos os cigarros desaparecessem
da face da Terra eu passaria por péssimos bocados. Por bastante tempo. Acredito
que nunca me recuperaria totalmente de sua abstinência. Acredito que, no
futuro, possa haver um plebiscito mundial sobre o banimento do cigarro e que
esse possa realmente ser banido da humanidade. Mas, do fundo do meu coração,
espero que isso não aconteça. Se acontecer, o cigarro será comercializado
ilegalmente. Como o álcool na época da máfia nos EUA. Acho que rolou isso, mas
não tenho certeza. Pode ser que esteja falando asneira aqui. Não tem problema.
Eu só falo isso mesmo. Principalmente hoje, que parece que perdi mais um
parafuso da minha caixola. É a falta de e a vontade de escrever. Escrevendo
mais no automático que o normal, acho eu. A minha cabeça não está boa. Como
disse, espero que isso melhore daqui para o final de semana. Estou com medo.
Medo de entrar em depressão. De não me recuperar. Mas vou. Ainda bem que não
sofro as agruras do luto. Talvez as sofra com a perda da minha mãe. Há tantas
pessoas que eu amo ainda vivas. Isso é ótimo. O que é ruim é que muitas delas
podem partir antes de mim. E causar dor. Não queria cair em luto profundo. Um
luto que leva a depressão profunda. Não queria isso para mim, como vejo e já vi
uma outra vez acontecer com duas usuárias do CAPS que perderam suas mães. 23h23.
Coloquei o disco para tocar uma vez mais. Estou considerando sinceramente ir
para o show de Sandy, dia 17 no Teatro Guararapes. Preciso comprar logo o meu
ingresso. Quero ficar o mais perto possível do palco, embora ache o preço para
lá de extorsivo. Mas a pensão serve também para o curatelado ter acesso a
diversão e cultura. Uma vez na vida. Nunca mais fui a um show. Em teatro,
sentado. O último que fui foi justamente o de Sandy há mais de cinco anos
atrás. Meu pai ainda era vivo. Morreu no dia seguinte, se não me engano. Não é
lá a melhor correlação, mas acho que não farei esse paralelo se for ao novo
show. Quero também comprar os CDs novos. Mas isso acho que só conseguirei fazer
depois do show. Quero vê-la bem de perto, por isso tenho que me apressar. Vou
ver com mamãe se compro amanhã. Depois de cortar o cabelo. 23h53. Não sei mais
o que escrever. Quantas vezes digo isso e sigo escrevendo? É essa mania de me
desobedecer. Mas desta vez parece que estou vazio mesmo. Não gosto dessa
sensação de vacuidade de conteúdo. Me incomoda. Acho que vou dormir quando o CD
de Björk acabar. Já é quase meia-noite.
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